OS
MÚLTIPLOS SENTIDOS DA LEITURA E DA ESCRITA
Carmen
Maria Aguiar - Instituição: DEF/IB/UNESP
O intuito
deste trabalho é abordar questões sobre práticas
de escrita e de leitura. Partindo da idéia de que ler e de escrever
é uma possibilidade de comunicação com o outro,
aqui considerando leitores e escritores que tenham recebido pouca ou
nenhuma instrução escolar formal. Aqueles que se apropriam
singularmente da leitura e da escrita, para enviar suas mensagens. Utilizando
sentidos e formas diversificadas, interrogando paradigmas consagrados
como o de ser ou não analfabeto.
O propósito
deste texto é expor situações em que a leitura
e a escrita se mostram entrelaçadas aos afazeres diários
na vida dos sujeitos em seus contextos socioculturais. Diferentemente
do que ocorre na escola, a sociedade produz uma leitura e uma a escrita
com o intuito principal de comunicar, ou seja, elas são veículos
de comunicação.
As informações contempladas neste texto revelam, ao mesmo
tempo, particularidades de leitura e de escrita através de fontes
materiais que representam diversas práticas culturais e sociais.
Foram destacados alguns exemplos, em cenários distintos, com
pessoas com baixa escolaridade e bastante peculiares. Trata-se de cenários
com eventos que permitem destacar fontes materiais importantes, que
abrigam uma inversão de concepções teóricas
tradicionais no campo da história da educação.
Nesse sentido essas fontes impõem a aceitação de
alterações em formulações e modelos consagrados
e preestabelecidos. Quando se aceita tais proposições
é necessário aceitar e buscar novas concepções
teóricas, perseguir aquelas que permitam ultrapassar limites
e que sejam capazes de possibilitar outras interpretações
e recortes, rumo à produção historiográfica
no campo da educação e das fontes.
Refletir sobre tais fontes envolve pelo menos duas situações
que parecem paradoxais, quais sejam, as práticas discursivas,
institucionais no campo da história, e as fontes materiais localizadas
e compreendidas como possibilidades de reflexão, que podem suscitar
novas formas de concepção do saber no campo do conhecimento.
Trata-se de um exercício de refinamento do olhar para os limites
tênues em que se encontram as fronteiras que demarcam o saber
e o não saber.
O enfoque nos objetos materiais, entendidos como fundadores das fontes
materiais da pesquisa em parte abordada neste texto, foi um caminho
buscado para discutir e refletir sobre os eventos, considerando-se que
estes envolvem uma rede de relações e de significados,
que revelam uma teia de interdependências. (Elias, 1995) Como
fonte, abarca os objetos materiais, os suportes que os carregam, os
sujeitos que os produzem e que deles se utilizam, os instrumentos e
as táticas a que recorrem para produzi-los, os modos de utilização
e o contexto em que são produzidos.
Ao enfocar os objetos materiais como “veículos” de
eventos que “carregam” práticas sociais que são
elaboradas, circulam e se articulam a processos educativos e culturais,
constituindo e sendo constituído pela rede de relações
e significados, compomos um objeto de estudo e construímos a
possibilidade de estender essa teia para outros contextos, abrindo espaço
para outras interpretações.
Os objetos, os sujeitos que os produzem, percorrem diversos campos e
áreas de atuação ao se apresentar no contexto em
que são encontrados, sempre carregados de significados que se
ancoram em diferentes fontes cotidianas – aqui referindo-se aos
suportes, recursos, instrumentos a que os “fazedores” recorrem
– que lhes servem de inspiração. Muitas vezes envolvem
adultos, crianças, traduzem sonhos, idéias, sentimentos,
modos de ver e de interpretar o mundo, quase sempre transmitindo informações,
realizando registros historiográficos, lidando com linguagens
diversas, exibindo informações também diversas.
A relevância em dar visibilidade a esses objetos – compostos
como fontes de pesquisa – está em percebê-los como
sendo carregados de eventos, alertando/monitorando as conexões,
as teias que o contexto possibilita. Assim vistos, transpõem
a condição de objetos simples ou isolados e impõem
outros procedimentos investigativos e/ou metodológicos.
No presente trabalho ressaltam-se objetos materiais que realçam
eventos recorrentes e comuns em universos culturais que carregam juntos
sujeitos, usuários, criadores, beneficiários e produtores,
que entrelaçam diversas ocorrências que, misturadas, desencadeiam
processos socioculturais e educativos.
Para Chartier (1992, p. 214) “a experiência mostra que ler
não significa apenas submissão ao mecanismo textual. Seja
lá o que for, ler é uma prática criativa que inventa
significados e conteúdos singulares, não redutíveis
às intenções dos autores dos textos ou dos produtores
dos livros. Ler é uma resposta, um trabalho, ou, como diz Michel
de Certeau, “um ato de caçar em propriedade alheia”
(branconnage). Mas como podemos dar sentido a essa experiência
viva, pessoal e surpreendente? Se cada leitura realizada por cada leitor
é, na verdade, uma criação secreta e singular,
será ainda possível organizar essa pluralidade indistinguível
de atos individuais com base em regularidade comuns? Será até
mesmo possível imaginar algo correto a respeito disso? Como poderemos
considerar, ao mesmo tempo, a irredutível liberdade dos leitores
e as coerções que têm por objetivo reprimir essa
liberdade.”
Em O Ofício do Historiador (Bloch, 2001, p. 81) notam-se apontamentos
que nos falam de distintas linguagens, da importância ou da necessidade
de usarmos diversas ferramentas, dos limites que cada uma delas carregam,
e que não temos alternativas que não admitir essa mistura
como um futuro para a ciência. Nunes e Carvalho (1993, p. 32)
também destacam a riqueza existente no diálogo das fontes
com as teorias. Uma mediação que possibilita problematizar
tanto uma quanto a outra.
Os exemplos registrados neste texto podem permitir reflexões
importantes, pautadas por conceitos da modernidade e da pós-modernidade,
instigando ideários daqueles que não concordam ou não
conseguem se adequar às condições que o mundo coloca.
Descartando, portanto, certas ideologias – hierarquia de valores
que apontam para uma percepção de mundo – que servem
a tipos normativos e que regulamentam ações da comunidade
humana.
Trata-se de situações que, para assumir equivalência
entre os diferentes tipos de vida humana, todas elas contém ingredientes
que traçam linhas tênues entre o que pode ser considerado
correto ou não, com ou sem virtudes. Estes elementos podem estar,
basicamente, compondo um cenário que se poderia considerar como
sendo pós-modernismo, quando se refere à visão
de mundo que surge, muito freqüentemente mas não exclusiva
e necessariamente, da condição pós-moderna. Um
tipo de condição humana exemplar numa pós-modernidade.
(Bauman, 1990)
Estas bases, aparentemente contraditórias, da vida moderna permitem
o surgimento de modos de vida humana que vem, cada vez mais, aparecendo
em contexto, às vezes, à nossa volta, despontando situações
humanas que marcam e revelam os limites impostos pela desigualdade socioeconômica.
Trata-se de pessoas que, em muitos sentidos, vivem à margem da
sociedade, mas que descobrem meios que as permitem participar dela –
quase fora, ou quase dentro, dependendo do observador –, utilizando-se
de mecanismos ‘furtivos’ e curiosos, desprovidos de tradição.
Pessoas desvinculadas de antigas ilusões, distante de perspectivas
que prometem respostas seguras e certeiras para necessidades e perguntas
sem respostas preestabelecidas, mas não necessariamente destituídas
de esperança.
Diferentemente do que pregava a modernidade quando desejava fazer crer
que deveria restaurar a vida com vistas a melhorias e voltar a ter solidez.
Rumos perdidos, alguns, talvez muitos, buscam caminhos por trilhas alternativas
vivendo todo o dia sem se prender a promessas, receitas e garantias,
que parecem estar sendo descartadas. Há práticas culturais
e sociais que se revestem do que é temporário, não
permanente, como sugere Bauman; o que antes se avocava ser sólido
é agora líquido. A rapidez com que as coisas se alteram
tira a capacidade de se manterem na mesma forma; antes de se transformar
em costume, hábito, receita e verdades, tudo volatiliza.
Sem raízes fortes a modernidade deixou abertas brechas em muitas
áreas e direções. Espaços que, desocupados,
se transformaram em buracos e alojamento do desregulado ou do flexível.
É curioso pensar que as perspectivas, de longo prazo, parecem
perder o sentido. Antes mesmo de se conhecer, tratar, responder as demandas
humanas.
Circunstâncias e contextos sociais parecem deixar de inspirar
questões sobre como a lógica humana funcionará
nesta formatação da sociedade. A lógica tende a
mudar logo que aparecer outro molde social. A crise se estende para
todas as direções e parece apontar para a necessidade
de ações que visam a eliminação da certeza
ou para algo que possa evitar os riscos da rigidez.
À
Margem do Sistema Sociocultural e Socioeducativo
O contexto
em que vive cada ator dos exemplos aqui abordados revela, cada um a
seu modo, formas como a escrita e a leitura estão presentes nas
tarefas diárias das pessoas, ao mesmo tempo em que denota sua
identidade com formas, pouco convencionais, encontradas para organizar
a vida, dentro de universos modelados por circunstâncias imprevistas.
A leitura e a escrita ocorrem entremeadas por situações
que fogem ao tradicional na maneira como são utilizadas.
Para melhor ilustrar tais situações/contexto utilizou-se
também o recurso da fotografia. Como nas fotos dos exemplos a
seguir, em que pode-se notar a criação de mecanismos para
anunciar produtos, à venda, ao consumidor, turista, visitante
que passa pelo local.

O exemplo a seguir é
muito marcante por ocorrer em uma localidade economicamente expressiva
no Brasil. A região Sudeste e particularmente o Estado de São
Paulo são considerados locais em que as condições
econômicas e de vida da população são, comparativamente
a outras regiões, melhores, mais favoráveis. Entretanto,
apesar de exibir uma economia desenvolvida, considerada repleta de recursos
materiais e tecnológicos, estes são, como em todo o Brasil,
mal distribuídos.
O cenário é de um município, desenvolvido e rico,
do Estado de São Paulo, localizado numa região recortada
por estradas asfaltadas, com hospitais, escolas, casas de veraneio,
grandes áreas para a pesca, uma rede considerável de desenvolvimento
turístico, grandes fazendas, com pastagens amplas para gado,
algumas partes ocupadas pela cultura de cana-de-açúcar.
Uma área visivelmente rica, desenvolvida.
Ao se percorrer tal região, à margem das estradas, longos
trechos com represas, rios e lagos embelezam a paisagem. Muitas pontes
beneficiando as estradas, sinal de boa infra-estrutura. Como ocorre
em todo o país, vários moradores constroem casas na beira
de rios, fazem plantação onde deveria estar a mata ciliar.
Em uma dessas pontes chama a atenção uma grande copa de
uma mangueira, florida na época da pesquisa no local, tendo seu
caule escondido entre o barranco do rio e a estrutura da ponte. Numa
posição tal que só é possível enxergar
as folhas e as flores da planta que aparecem por cima do nível
do asfalto. Poderia ser apenas uma cena comum, se considerarmos as proezas
da natureza, mas uma observação mais cuidadosa e atenta
vai revelando um mundo social que se encontra próximo a esta
mangueira, na verdade, entre o rio e a ponte.
Alguns carros estacionados no acostamento, à margem do rio em
um ponto em que converge grande quantidade de água, formando
um bom local para pescaria, utilizado também por eventuais turistas,
mas principalmente servindo de base para uma peculiar organização
econômica e social local. O que logo chama a atenção
é que, por baixo da cabeceira da ponte, tanto em uma margem do
rio quanto na outra, existe uma moradia de pescadores. Uma delas é
destinada para uso temporário, mas encontra-se relativamente
estruturada, tendo até um quintal, com um pé de manga
que debruçou sua copa, fartamente recoberta por folhas e flores,
por cima da estrada, no asfalto, alcançando até a parte
de chegada à ponte. Afixada à ponte e ao solo do barranco
sob a ponte, essa casa foi construída em alvenaria, pintada de
azul, com janelas, varanda, portas trancadas com chave, encontrando-se
em seu interior divisões para quarto e cozinha, com uma série
de utensílios domésticos e outros objetos, tais como móveis,
que são utilizados pelos proprietários, freqüentadores,
mais ou menos, esporádicos. Entre as pedras que recobrem o barranco
muito lixo é depositado, assim como no espaço em que fica
o quintal.
Na outra margem do rio, há uma espécie de um conjunto
de grandes gaiolas de madeira suspensas acima do rio. Trata-se, na verdade,
de uma residência onde vive uma família inteira. Esta ‘casa’
completa vai-se mostrando aos poucos, conforme observada por diferentes
ângulos, e mais detalhes se somam à descrição
e aos esclarecimentos feitos pelo vizinho da outra margem, também
pescador, proprietário da casa de alvenaria, e que se encontrava
por ali num dia de pesquisa no local. As gaiolas de madeira parecem
camuflagem, em uma paisagem atenuada por pedras no chão, plantas
e objetos no ‘quintal’.
Nesse dia, a casa estava movimentada, cheia de gente, com visitas circulando
pelo lado de fora e de dentro. O fato de estar cheia de gente dava a
essa residência um ar mais ‘real’, de abrigo para
uma família inteira, com todos os recursos de uma casa com conforto
e estrutura. Trata-se, de fato, de uma residência totalmente mobiliada
e com vários eletrodomésticos, dispondo de energia elétrica
e água encanada, com varanda e sacada, quartos, sala, cozinha,
banheiro e instalação sanitária, tendo, como em
muitas residências brasileiras, o seu esgoto despejado diretamente
no rio.
A construção foi feita totalmente suspensa sobre o leito
do rio, presa à estrutura (ao ‘teto’da parte de baixo)
de concreto da ponte. Uma parte do barranco serve de ligação
com a margem do rio, formando a entrada da casa e também uma
área de lazer, com direito a um quintal planejado, com canteiro
e pomar com diversos tipos de plantas, como um pé de limão,
um pé de goiaba e um pé de boldo. O quintal é cercado,
tem varal e área de serviço, tem uma parede de pedra e
uma escada que serve de acesso ao rio. A larga valeta de cimento, feita
para o escoamento da água das chuvas que desce da estrada asfaltada,
serve como caminho de acesso, para chegada e saída, das casas
em ambas as margens do rio.

O ‘proprietário’
dessa casa trabalha como um ‘empresário’ da pesca,
que utiliza a leitura e a escrita, basicamente de números, para
organização de sua vida profissional e social, na qual
seus negócios convivem entrelaçados. Um comerciante de
peixe, esse é o seu produto, que vem das águas do rio,
para sustentar a vida de sua família. A poucos metros de onde
mora, dentro do próprio rio, numa canoa, ele vai ‘para
cima e para baixo’, comprando peixe de pescadores. Ele tem um
espaço que lhe serve e funciona como uma espécie de escritório
sobre as águas, flutuante, num barco, uma canoa a motor, em que
se encontra tudo o que ele necessita para seus negócios: caderneta,
caneta, papel, gelo, isopor, facas, balança. Seu negócio
é realizado em horários regulares e baseado em uma série
de regras acertadas entre o comprador e os vendedores.
Parece existir um acerto tácito entre os envolvidos, que estabelece
prioridade de venda do pescado a esse empresário. O peixe é
pesado em uma balança que fica dentro de sua canoa, e o gelo,
mantido em caixas de isopor, é também de sua responsabilidade.
Tudo é acertado por meio de pagamentos e débitos preestabelecidos
e aceitos entre as partes. O vendedor/pescador parece satisfeito e concorda
em proceder conforme tais regras e combinação locais.
O comprador/empresário vende, em seguida, peixe fresco ou frito
naquelas imediações, muitas vezes na beira da estrada,
ao lado mesmo da ponte, ou leva para vender em peixaria na cidade, bem
próxima dali.
Muitas vezes sem sair do barco, o empresário compra e vende,
paga, recebe e faz vales e, em seguida, vai para sua casa, que fica
ali mesmo, quase dentro do rio, com um até amanhã para
os outros envolvidos. Tranqüilos, cada um segue seu caminho, e
o comerciante de peixes quer voltar para sua casa para almoçar
com os familiares que vieram fazer uma visita. Todos os envolvidos voltarão
a se encontrar no dia seguinte para negociar no rio.
Os filhos do comerciante estudam em escola da cidade próxima;
e quando alguma rara correspondência porventura é enviada,
o carteiro sabe como proceder para que ela chegue ao destinatário.
Os dois vizinhos de margens opostas do rio afirmam que funcionários
do Detran (Departamento de Trânsito) conhecem o local e já
fizeram várias visitas, mas que não tomaram nenhuma providência
contrária a sua permanência ali. Um deles, o comerciante
de peixes, mora já há muitos anos no local, e o outro
comprou, de um terceiro, o ‘direito adquirido’. Este morador
esporádico está aos poucos avançando a sua construção
em direção ao meio da ponte, fixando-a por baixo dela,
suspensa sobre o rio, utilizando-se do modelo e da ‘tecnologia’
desenvolvidos pelo vizinho.
A sociedade moderna, que avoca a si o poder de organização
e de dominação, de um controle que deseja e pensa exercer
sobre todos os seus membros, não consegue esconder suas falhas.
A exclusão e a desigualdade criam e revelam contradições
que acabam por expor de forma contundente os direitos negados.
Considerações Finais
O intuito
desta parte da pesquisa foi o de fazer um apanhado geral de informações,
coletadas em algumas regiões brasileiras, sobre práticas
sociais. Práticas em que seus produtores se apropriam de técnicas,
procedimentos, saberes e espaços, comumente ocupados por profissionais
especializados, para executar papéis semelhantes. Realizando
tarefas que, embora parecidas, fogem aos padrões tradicionalmente
conhecidos, muitas vezes surpreendendo pela ousadia e pelos resultados
conseguidos, através de processos criados e organizados à
margem do convencional, que seriam as chamadas técnicas de produção
sociocultural. (Certeau, 1994, p. 41)
Neste texto destacam-se formas de fazer, apontando técnicas e
táticas que se desenham no detalhe dos saberes e dos recursos
encontrados em contextos específicos. O cotidiano, vivido por
esses criadores, permite que os mesmos alterem o funcionamento padrão,
conhecido, e passem a utilizar possibilidades não previstas pelo
sistema estruturado. Trata-se de criações dispersas que
são inventadas e que obedecem a regras desprovidas de tradição
que obedeça a uma lógica preestabelecida.
Este é um recorte em que se destacam algumas formas alternativas
de reorganização do espaço e do tempo dentro da
vida social. Onde pessoas e famílias encontram meios inéditos
de fazer, de morar, de trabalhar, de sobreviver, de negociar e de viver
em situações e condições em que estão
ao mesmo tempo fora e dentro do sistema social e cultural do mundo moderno
ou pós-moderno.
Embora os exemplos sejam diferentes um do outro, bem como o modo como
a leitura e a escrita participam de suas vidas, nota-se a presença
de elementos que marcam algumas semelhanças, quais sejam, modos
inusitados e criativos que traduzem o esforço em lidar, por exemplo,
com a exclusão. Todos afirmam ter passado por essa experiência.
Os sujeitos acreditam que, na realidade de suas vidas, na época
em que tentaram freqüentar a escola, sofreram principalmente com
dificuldades criadas pela própria escola.
Apontam questões circunstanciais, tais como: dificuldade de adaptação
ao tipo de ensino oferecido; falta de equilíbrio entre os saberes
que os alunos trazem e o conhecimento que a escola pode oferecer; e
dificuldades econômicas, tanto por parte dos alunos quanto do
próprio sistema de ensino. Enfim, para se manter nos bancos escolares
é exigida do aluno uma série de requisitos que, muitas
vezes, impede sua permanência na escola. Nessas condições
a escola é visivelmente pouco conhecida de seus usuários.
Ter uma clientela mais envolvida, compreendendo e olhando de perto o
que a escola é, tem e precisa, poderia ser um caminho para se
criar chances para que a escola viesse a ser domesticada, cuidada, defendida
e adequada.
Bibliografia
AGUIAR, C. M. 1994. Educação, Cultura e Criança.
Campinas: Ed. Papirus.
AGUIAR,
C. M. e CAMARGO, M. R. R. M. 2002. “Registros Alternativos de
Saberes Culturais”. Revista Educação: Teoria e Prática,
Rio Claro: DE/IB/Unesp, v. 10, n. 18 (jan/jun) e 19 (jul/dez).
BAKHTIN,
M. S/d. El problema de los géneros discursivos. Col. Estética
de la creación verbal. México: Siglo Veintiuno Editores,
2ª. Edição.
BARTHES,
R. 2000. O Grau Zero da Escrita. São Paulo: Ed. Martins Fontes.
BAUMAN,
Zygmunt. 1990. “O Mal Estar da Pós-Modernidade”.
In: FEATHERSTONE, M. (org.) Global Culture. Londres: Editora Sage
BLOCH,
M. 2001. Apologia da História ou o Ofício de Historiador.
Rio de Janeiro: Ed. Zahar.
CHARTIER.
R. 1992. “Textos, Impressões e Leituras”. In: HUNT,
L. (org.) Nova História Cultural. São Paulo: Ed. Martins
Fontes.
CERTEAU,
M. 1994. A Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Vozes.
FOUCAULT,
M. 1984. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes.
FREIRE,
P. 1967. Educação Como Prática de Liberdade. Rio
de Janeiro: Ed. Paz e Terra.
HAVELOCK,
E. A. 1996. A Revolução da Escrita na Grécia. São
Paulo: Ed. Unesp.
JANUZZI,
G. M. 1979. Confronto Pedagógico: Paulo Freire e Mobral. São
Paulo: Ed. Cortez e Moraes.
LUZURIAGA,
L. 1978. História da Educação e da Pedagogia. São
Paulo: Ed. Nacional.
MACHADO,
S. M. 1992. “Grafismo Indígena e Pintura Corporal Kayapó”.
Col. Educação Ambiental Ciência Kayapó. Instituto
de Etnobiologia da Amazônia – INEA. Projeto Kayapó.
Belém: Editora Universitária UFPA.
MORTATTI,
M. do R. L. 2000. Os Sentidos da Alfabetização. São
Paulo: Ed. Unesp.
ELIAS,
N. 1995. A Sociedade de Corte. Lisboa - Pt.: Ed. Estampa.
MARIN,
L. 1996. Ler um quadro. Uma carta de Poussin em 1639. In: CHARTIER,
R. (org) Práticas da Leitura. São Paulo: Estação
Liberdade.
NUNES,
C. e CARVALHO, M. M. C. 1993. Historiografia da Educação
e Fontes. In: Cadernos ANPEd no. 5, set. Caxambu.