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LINGUAGEM ESPECÍFICA E COMUNICAÇÃO INSTANTÂNEA Graziele Alves de Souza Morelli / Centro Universitário Barão de Mauá Carmen Maria Aguiar / Unesp – RC Este trabalho tem como objetivo relatar
algumas práticas de escrita e de leitura utilizadas por pessoas de comunidades
tradicionais ou não, em localidades onde recebem visitantes. Para o
entendimento entre o morador local e o forasteiro há a necessidade de
uma forma específica de linguagem, estabelecida entre envolvidos que
é determinada pela necessidade instantânea de comunicação. As limitações
da língua no contato com os estrangeiros não é o único determinante
desses procedimentos, mesmo quando se fala o idioma do visitante os
critérios utilizados são muito semelhantes demonstrando os interesses
dos envolvidos, bem como os valores da linguagem, confirmando as contradições
sociais e culturais existentes nos contextos dessa relação. Desenvolvimento Apesar de alguns autores (KRIPPENDORF, 2001; BARRETO, 2003) considerarem
o turismo um ramo das ciências sociais, é nas ciências econômicas dentro
dos resultados financeiros obtidos que se baseia o que se entende por
sucesso nessa área. Por conta dos recursos financeiros obtidos na atividade
turística, muitas comunidades sejam elas tradicionais ou não, tem criado
meios para receberem visitantes. Mamede
(2003, p. 33) confirma o aspecto que motiva as comunidades a enxergarem
o turismo como fonte de recurso financeiros que antes, apenas com as
atividades que já se dedicavam, não seriam possíveis: “O
problema básico que ora se coloca refere-se ao princípio da eqüidade
ou justiça e à questão de como hoje as populações receptoras podem obter
o máximo de benefícios derivados do turismo, como atividade mecanicamente
econômica, concentrando-se apenas nos dados monetários e em outras informações
financeiras, leva à negligência de outros fatores, freqüentemente mais
importantes, tais como fatores socioculturais, psicológico, ambientais
e do próprio bem-estar social.” Os prejuízos na relação entre o homem nativo e o forasteiro,
não é um privilegio dos dias atuais ou do turismo, desde a colonização
a cultura dominante contribui com esse aspecto. A apropriação indevida
de terras desde a descoberta do Brasil tem acarretado diversos impactos
na vida das pessoas. Apropriação onde a cultura do homem branco predomina
e dissemina a cultura do outro, quer seja o índio, o negro ou qualquer
mistura proveniente desta miscigenação. “O turismo contemporâneo é um grande consumidor da natureza
(...) todos os espaços com recursos de beleza considerável vem sendo
literalmente “invadidos” nas temporadas de férias por turistas ávidos
para usufruir seu tempo livre da forma mais gratificante possível, sem
considerar os riscos que sua presença (em massa) e seu comportamento
individualista trazem não só para os recursos naturais, mas também para
as populações autóctones e para o patrimônio histórico-cultural.” RUSCHMANN
(1997, p.9). Dentro do comportamento individualista que RUSCHMANN retrata na citação acima, está a imposição de um modo de vida muito diferente do lugar visitado, gerando assim uma padronização no que diz respeito aos serviços prestados pelas comunidades e o distanciamento dos hábitos locais. São perdas significativas para os dois lados que deixam de compartilhar experiências que agregam valor as formas de visualizar e entender o mundo e a cultura em que vivem. “Porto Seguro é outro exemplo que demonstra as perdas que sofre as atividades Turísticas e pessoas envolvidas nesse processo. O turismo de massa dissemina culturas e proporciona a perda de identidade dos envolvidos.” (Morelli & Aguiar, 2004) É a busca pela alta lucratividade que
determina o tipo de visitante e os impactos que serão gerados no turismo,
torna a atividade muito pobre no que diz respeito às trocas culturais,
o imediatismo limita o contato ao que é extremamente necessário, informações
simples que contemplem a necessidade. RUSCHMANN (1997, p.46) afirma que: “...a experiência tem demonstrado que o interesse pela cultura da população visitada é muito fraco, e pode-se dizer que o contato do visitante com as pessoas, com seus costumes e hábitos é ‘periférico’ (superficial) e externa-se na compra de objetos típicos como souvenir.” No Brasil a atividade
turística está muito ligada as áreas naturais, as comunidades que recebem
o visitante geralmente estão dentro de um belo cenário paisagístico,
mas longe dos centros urbanos, quando em centros urbanos os envolvidos
estão do mesmo modo sub-empregados, aspectos que dificultam o acesso
a recursos como a escola. Diante deste fato a possibilidade do morador
de uma localidade turística receber o ensino formal da escola, por tempo
que seja suficiente para que ele desenvolva suas habilidades de leitura
e escrita, é muito pequena. Com dificuldades de leitura e escrita
e ainda traços específicos na fala (como erros gramaticais, sotaque
e ainda particularidades regionais), a comunicação é comprometida seja
ela por falta de conhecimento ou preconceito. Isso afasta os dois lados
envolvidos na relação do turismo (visitante e morador local). Um exemplo
de exclusão social muitas vezes não percebida ou camuflada, confirmando
as diferenças sociais através da linguagem. A comunicação dos dois lados aqui discutidos
se limitam as informações necessárias, como por exemplo a identificação
de valores dos produtos ou serviços prestados, em placas que deixam
claro e especificam a informação como nas fotos que seguem abaixo. Na foto 1 é possível ver o valor impresso
no barco que atravessa turistas pelo rio e os leva até a praia, detalhe
na foto ao lado. O distanciamento entre o prestador de serviços (o barqueiro)
e o visitante é evidente, durante o todo o trajeto e só depois de muita
insistência o barqueiro solta algumas poucas palavras, parece não estar
acostumado a grandes conversas durante o trabalho, nota-se um distanciamento
dos dois lados, como se cada um tivesse seu papel especifico na situação.
Na
foto A limitação para os recursos como moradia,
saneamento básico, transporte, telefone e principalmente as dificuldade
de acesso a escolarização, comprometem a formação especifica para o
atendimento ao turismo que fica ainda mais distante da realidade dessas
pessoas dificultando, por exemplo, acesso ao conhecimento de outros
idiomas para um melhor atendimento ao receber estrangeiros, que não
raro são os que valorizam a cultura local. Localidades que recebem turistas estrangeiros
se valem de procedimentos específicos para comunicação, o Rio de Janeiro
é um exemplo, com pouca instrução os ambulantes vendedores dos mais
variados produtos aprendem algumas poucas palavras no idioma do estrangeiro,
o grande número de nacionalidades em picos como o reveillon e o carnaval
estreitam ainda mais a comunicação. Escrever na areia o valor do produto
a ser vendido foi a forma que encontraram para se comunicar. Comunicação
instantânea apagada pela onda do mar em questão de segundos, valida
somente para a troca especifica. Considerações
Finais Como em todos os processos onde há o
encontro de culturas consideradas superiores com culturas consideradas
inferiores, a falta de troca cultural é evidente, o que predomina é
o gosto, os desejos e o modo de falar da cultura dominante, o turismo
é um exemplo sobre a minimização da cultura local, onde o modo de pensar,
agir e falar do mais fraco, portanto do morador da localidade que recebe
os visitantes, deve ser desconsiderada ou no mínimo parece não ter valor.
Fato que evidencia as diferenças sociais desse contexto. KRIPPENDORF (2001, p.136), defende o fim humanístico da atividade: O turismo só terá futuro se caminhar na direção de um humanismo maior.
O importante é reconhecer que o turismo deve servir ao homem, e não
o contrário. Qualquer evolução, inclusive a do turismo, deve inclinar-se
para o desenvolvimento do ser humano, e não dos bens materiais. O desabrochar
humano deve ser prioridade absoluta. É preciso voltar ao ser humano,
às virtudes humanas, às atitudes sociais e a ética frente a vida. Diante
da falta de tantos recursos e ainda encarando as diferenças sociais
durante tanto tempo, as pessoas desse contexto criaram seu próprio modo
de se comunicar, placas com o as indicações e informações que são necessárias
para troca, demonstram exatamente o tipo de relação existente no processo
de receber visitantes nas comunidades aqui relatadas, trata-se de uma
linguagem especifica e uma comunicação instantânea, que serve apenas
para aquele grupo e para aquele momento. Bibliografia AGUIAR,
Carmem Maria. Educação, Cultura e Criança. Campinas. Papirus. 1994. ________
Educação, Natureza e Cultura Um Modo de Ensinar. 1998. BARRETO,
Margarita et. al. Turismo, políticas públicas e relações internacionais.
Campinas. Papirus. 2003 DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo.
5ª ed. DIAS,
Reinaldo. Sociologia do Turismo. São Paulo. Atlas. 2003. FONTES,
Ednice Oliveira; LAGE, Creuza Santos. Apropriação do espaço pelo turismo
em Sauípe e seu impacto no desenvolvimento
Local. In: COROLIANO, Luiza Neide; Lima, Luiz Cruz (orgs). Turismo
Comunitário e Responsabilidade Social. Fortaleza. EDUECE, 2003.p 92-101. KRIPPENDORF,
Jost. Sociologia do turismo: para uma nova compreeensão do lazer
e das viagens. 2.ed. São Paulo: Aleph,2 001. LUCHIARI,
Maria Tereza Duarte Paes. Caiçaras, Migrantes e Turistas: a trajetória
da apropriação da natureza no Litoral Norte Paulista (São Sebastião
– Distrito de Maresias). 1992, Dissertação (mestrado em
Sociologia). Unicamp. Campinas. MAMEDE,
Vera S. de M. Dourado. Participação e desenvolvimento do turismo local.
In: MARTINS, Clerton. (org). Turismo, Cultura e identidade. Roca, 2003.
p.31-38. MORELLI,
Graziele Alves de Souza ; AGUIAR, Carmen Maria . As Relações do Turismo
e da Educação. In: Encontro Nacional de Turismo com Base Local, 2004,
Curitiba, 2004. RUSCHMANN,
Doris van de M. Turismo e Planejamento Sustentável. A
Proteção do Meio Ambiente.
TÖNNIES (In: FERNANDES, 1973:122-123 apud AGUIAR, 1998) “Comunidade
é um termo que aplicamos a um povoamento de pioneiros, a uma nação.
Onde quer que os membros de qualquer grupo, pequeno ou grande, vivam
juntos e de modo tal que partilhem não deste ou daquele interesse,
mas das condições básicas de uma vida em comum, chamamos a esse grupo
de comunidade. O que caracteriza uma comunidade é que a vida de alguém
pode ser totalmente vivida dentro dela. (...) As comunidades não necessitam
ser auto suficientes. (...) A comunidade é (...) uma área de vida
social assinalada por um certo grau de coesão social. As bases (...)
são localidades e sentimento da comunidade. (...) A importância da
concepção de comunidade está, em grande medida, em ela salientar a
relação existente entre coesão social e área geográfica.” Picos
se referem a sazonalidade do turismo, segundo DIAS (2003), relativo
a períodos específicos de tempo. No âmbito do turismo, é a concentração
temporal e espacial de turistas em determinado lugar, durante um determinado
período. |
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