“O homem vestia um terno que os mais antigos ainda
chamam de fatiota. A ocasião não permitia menos: era casamento,
e o homem era testemunha da parte civil. Neste dia, eu estava no cartório
de Itapuã, zona rural de Viamão, onde faria uma consulta
ao tabelião e aguardava a vez na sala de espera, que fica nos fundos
da casa do cartório, no momento em que o homem entrou. Estava sozinho,
surgiu rápido e quase furtivo. Dirigiu-se à funcionária,
sacou do bolso interno do casaco alguma coisa que não distingui
bem, mas que parecia uma caderneta. Mostrou à moça e perguntou:
para ser testemunha, pode ser uma assinatura assim? e mostrou, pelo pouco
que pude discernir, uma carteira do trabalho. A moça olhou e respondeu
que podia. Não convencido, pediu confirmação: Mesmo
desse jeito assim... pode ser? Ela confirmou mais enfática: Pode!
Então, ele guardou o documento no bolso e saiu com a mesma rapidez
com que entrara. Toda a cena não durou mais do que trinta segundos,
mas aquilo que tanto o constrangeria no seu grupo de amigos e principalmente
no ápice da cerimônia de casamento - sua dificuldade com
o alfabeto - ficou claro para nós, que, pelo menos, éramos
desconhecidos com quem ele talvez nunca mais viesse a cruzar.”
“O senhor Egídio, no dia 6 de outubro de 2002, acordou às
cinco horas da manhã para garantir o seu lugar na fila de votação
para eleição do Presidente da República, Governador,
Senador e Deputados. O lugar onde mora em Itapuã dista mais ou
menos vinte quilômetros de Belém Novo, bairro da zona sul
de Porto Alegre, local de sua sessão eleitoral. Ele conhecia o
horário da passagem do caminhão que busca leite no tambo,
que o levaria de carona até a estrada, e, nela, esperaria o ônibus
de linha. Conseguiu chegar tão cedo ao local de votação
que foi o primeiro da fila. Estava ansioso, mas feliz porque iria votar
para o cargo mais alto da nação e tinha certeza de que o
candidato, com cuja origem se identificava, seria eleito presidente da
República. Na véspera havia ensaiado os números que
teclaria na urna e não cansava de elogiar o novo sistema eletrônico
que já lhe facilitara tanto o voto em eleições passadas.
Quando, pontualmente, o presidente da mesa iniciou os procedimentos e
mandou que entrasse o primeiro da fila, seu Egídio penetrou humildemente
na sala, mas foi surpreendido pelo comentário do mesário
quando este pegou a sua identidade: começar justo com um analfabeto!
A observação foi tão grosseira que suscitou a indignação
dos demais mesários, o que garantiu que o próprio seu Egídio
reagisse: meu patrão que é um homem importante nunca me
tratou de analfabeto! “
As duas citações são extratos de
um estudo maior, do qual este texto é parte. Em ambos, se revela
a importância social do saber ler e escrever e o estigma que incide
sobre quem não lê e/ou não escreve. Ambas as histórias
testemunhadas ocorreram com pessoas do Distrito de Itapuã.
De bela e isolada a bela e atrativa
Se retomarmos a pequena história da região de Itapuã
(pertencente a Viamão / Rio Grande do Sul), veremos que os tempos
remotos encontraram uma região marcada pela beleza da paisagem,
numa época em que os caminhos fluviais lhe conferiam uma localização
estratégica. Ali viveram índios guaranis e por ali passaram
os casais açorianos antes de se estabelecerem e darem origem a
Porto Alegre. Os casais não ficaram, mas logo a seguir a divisão
em sesmarias garantiu donos às terras devolutas. O povoamento iniciou
timidamente na região do porto, um porto relativamente importante.
Uma rede hoteleira foi se instalando em razão da necessidade de
pernoite dos viajantes e também de sua condição de
balneário. Uma estação de água mineral movimentou
a insipiente economia local, até que uma famosa enchente, em 1941,
fizesse desaparecer para sempre o veio da água.
Com a retração do transporte fluvial e o incremento do rodoviário,
restou uma condição da região: o isolamento, um lugar
que não dá passagem a nenhum outro, o extremo sul da Grande
Porto Alegre, limitada pelas águas do maior lago e da maior laguna
do Rio Grande do Sul, conhecidos como Rio Guaíba e Lagoa dos Patos,
uma estrada de chão batido em péssimas condições.
Itapuã, bela e isolada. Eis que tal dupla condição
acabou atraindo “investimentos” no lugar. Lamentavelmente,
investimentos pela exclusão: uma mini-cidade para que leprosos
ali aguardassem o seu fim inaugurada na década de 40, logo a seguir
a instalação de imigrantes japoneses, vindos em situação
de pobreza para serem colonos no Brasil, uma experiência de Reforma
Agrária, da década de 60, mal planejada e mais bem entendida
se alinhada aos outros “depósitos” de populações
na região.
As outras cidades da Grande Porto Alegre ao longo do século XX
cresciam, inchavam, assistiam à chegada do “progresso”
(ainda que pela sua pior face, alimentando bolsões de miséria,
ou se aglomerando como cidades-dormitório da mão-de-obra
mal paga), eram iluminadas, asfaltadas, povoadas, enquanto o Distrito
de Itapuã, como alteração, apenas assistia à
venda das grandes propriedades rurais originais ou o parcelamento das
terras ao serem assumidas pelos herdeiros. Foram aparecendo os pequenos
sítios, comprados por pessoas de fora, ou, se mantidos na família,
diminuídos na sua produção, fazendo com que os provedores
buscassem outras fontes de renda que não a própria terra,
empregando-se na extração predatória do granito rosa
ou nas fazendas que restavam. De pequena monta econômica, sobrava
como atrativo a região de mata atlântica, limítrofe
às águas do Guaíba e Lagoa dos Patos, onde se construíam
modestas casas de veranistas, próximas às casas dos pescadores.
Na década de 70, um grupo de ecologistas porto-alegrenses fez um
manifesto, deitando-se em pedras que seriam dinamitadas por extratores.
Desse protesto, resultou uma medida por parte do Estado que transformou
uma área de mais de cinco mil hectares no Parque Estadual de Itapuã.
Após este período, o Parque teve sua área fechada
para conservação, o que pareceu naquele momento consolidar
o destino do lugar, fadado sempre a perdas. A forma arbitrária
como foi vedado o acesso da população, como as casas foram
desapropriadas e destruídas, os pescadores expulsos, serviram para
firmar o sentimento: não bastassem os excluídos serem mandados
para lá, os próprios itapuenses são expulsos de um
território que sempre foi seu. Mas como ali, a acomodação
sempre é questão de tempo, passada a revolta inicial, ficou
uma mágoa, e a vida prosseguiu. Sem explosão imobiliária,
até porque a terra seguiu sendo cara. Sem “progresso”.
Talvez tudo ficasse assim por muito tempo mais. Entretanto, os planos
do governo não eram deixar o Parque fechado para sempre, nem abandonado.
Na década de 90, houve investimento na infra-estrutura que o transformou
numa atração turística e foi reaberto à visitação
pública controlada. Nesta mesma época, o asfalto avançou.
A partir daí, a importância do Parque finalmente se consolida,
e ele é um primeiro investimento que traz positividade à
Itapuã. Ainda que tenha que pagar para passar o dia no “seu”
Parque, a existência, o modo como se implementou cercado de cuidados,
instruções de uso, mudaram a visão do itapuense.
Além disso, o Parque deu empregos, tornou-se fonte de prestígio
e orgulho, trouxe consigo, além do asfalto que rompeu o isolamento,
um novo discurso a respeito da natureza em geral e de Itapuã como
um lugar exemplar. O Parque e o asfalto integraram Itapuã no mapa
dos lugares realmente existentes e não mais local de depósito,
de expurgo. Programas de TV do centro do país, notícias
em jornais do estado, pesquisadores vindos cada vez de mais longe, todos
interessados e exaltando as características louváveis da
região. Já não se pragueja mais pela ausência
de “progresso” e desenvolvimento, agora o discurso é
ecológico.
A vila de Itapuã
Uma rua principal muito comprida, calçada com paralelepípedos,
que começa na RS 118 e termina na praia, somada aos seus arredores,
demarca a vila. É nela que se evidenciam alguns remanescentes traços
da cultura açoriana, seja nas ruas estreitas e compridas, ou estampados
na arquitetura rústica das casas, junto às calçadas,
sem pátio na frente, a igreja voltada para o rio, de costas para
o povoado.
A região é rural, com uma economia agropecuária (sobretudo
leiteira), que mantém os itapuenses ligados às tradições
do campo, mas também sobreviveu da pesca por longos períodos,
a qual acontece até hoje, só que agora de forma controlada
e fora do Parque. Localizam-se bem próximos, na região da
vila, o Salão Reverência de Tradições Gaúchas
e a Colônia Z4 de pescadores. Na rua dos Pescadores, pode-se encontrar
um homem de poncho e bombacha tecendo sua rede de pesca.
Muitos moradores da parte urbana são proprietários de sítios,
e estes sítios estão largados e à venda, sendo os
preços geralmente muito altos. Uma primeira impressão de
quem anda pelas estradas internas é de que todas as terras estão
à venda. Mas é um jeito “típico” de vender:
as placas apodrecem, os telefones mal podem ser distinguidos e não
tiveram os prefixos atualizados. Não têm por que se desfazer
de um bem, com o qual não contam para sua modesta sobrevivência,
a não ser que a venda lhes traga muito proveito.
Pode parecer curioso tratar por urbano um espaço com as características
da Vila de Itapuã. Em que contexto pode-se considerar urbano tal
espaço? Em relação à vida rural - cujas características
principais são o isolamento geográfico decorrente das grandes
distâncias entre as moradias dos grupos familiares, a ausência
de serviços públicos do tipo urbano (iluminação
pública, coleta de lixo, tratamento de esgotos, etc), dificuldades
de acesso aos dispositivos urbanos (bancos, comércios, prefeitura,
igreja, posto de saúde, locais de lazer, etc) - a Vila de Itapuã,
em que pese a pequena estatura, a menor complexidade e a pouca diversidade,
pode ser reconhecida como o centro urbano da região: é para
onde acorrem as pessoas na busca dos serviços e na busca de uma
socialidade típica de cidade.
Na vila, acontecem os negócios que movimentam a economia local,
são encontrados os profissionais liberais, os prestadores de determinados
serviços, o sistema religioso e judiciário, as festas etc.
Portanto, na comparação com o formato da vida nas propriedades
rurais, a Vila de Itapuã é o espaço urbano.
A vila tem um comércio pequeno. Na parte antiga da rua principal,
em uma modesta construção de esquina, na fachada, lê-se
simplesmente: loja. Na outra face, loja de confecções. Os
outros lugares têm nomes: o armazém das Três Meninas,
o armazém dos Gringos e na faixa, o supermercado Lunardelli, a
correaria Coxilha Verde. Taxi, há o do seu Moacir, com ponto fixo
em frente ao cartório. O meio de transporte bastante usual do itapuense
é o cavalo, como montaria ou em charrete e carroça. Na região,
há centros de treinamento para eqüinos e hospedarias, mas
o cavalo do morador é um matungo trabalhador, magro e cansado.
Perto da praia, um camping inscreve um estilo próprio ao seu redor,
que se traduz por um comércio, conhecido por “o shopping”,
parte dele direcionado para os veranistas e para os campistas, jovens
que andam em grupos, com aparência e comportamentos facilmente diferenciáveis
dos jovens moradores. São os turistas ocasionais ou os veranistas,
que têm casa de praia em Itapuã (além dos sitiantes),
que instauram o confronto silencioso entre o tradicional e o moderno na
época de verão.
Silenciosas também são as convivências do fogão
a lenha com o telefone celular. O cavalo com a moto-serra. O analfabeto
e o pós-graduado em Ciências Biológicas. Nada disso
é surpreendente, principalmente se pensarmos na proximidade de
Itapuã com a capital do estado. O que surpreende na sua forma de
identidade cultural é que essa convivência não tenha
como ponto de convergência apenas o fato da cidade, mas sim a real
proximidade e a convivência, e a par de ambas, a sobrevivência
das formas tradicionais. O encontro e a convivência do tradicional
e do moderno, de certa forma, provocam-nos um fascínio, pois vemos
neles a possibilidade de resgate de sensações e sentimentos
que nos fazem nostálgicos, sem implicar a ausência de conforto
e de comunicação ágil. Entretanto, essa é
uma perspectiva unilateral, a daqueles que, nesta situação,
usufruiriam o melhor de cada estilo.
Para as camadas pobres, o encontro do tradicional com o moderno implica
algum conforto, mas sobretudo amplia o horizonte das metas quase inatingíveis,
seja o consumo de bens e serviços, sejam os referentes à
qualificação como mão de obra e/ou a educação.
Quando um entrevistado diz: sim, temos luz, mas temos que pagar por ela,
ele ressalta literalmente o preço do conforto e, de certo modo,
o relativiza. Foi possível, até bem pouco tempo, viver sem
esses itens de comodidade, o que significava também viver com pouco
dinheiro. Para usufruir dela, coisa que o moderno tornou inevitável,
iniciou-se uma escala de providências que passam pela qualificação
da mão de obra, que por sua vez obriga ao investimento na educação.
Daí que o ensino fundamental é razoavelmente bem oferecido
à criança itapuense.
Embora o gradiente entre os mais pobres (desempregados, biscateiros, agricultores,
aposentados) e os mais ricos (proprietários de terras e comerciantes)
economicamente seja considerável, a vida cotidiana e a divisão
dos espaços de sociabilidade tornam-nos todos partícipes
de uma mesma forma de viver, uma comunidade.
GRUPO ATUANTE DE MULHERES DE ITAPUÃ
Mantêm-se paralelamente, e às vezes em contradição
com o discurso ecológico instaurado no lugar, a valorização
das tradições gaúchas, a marca da identidade campeira,
a hospitalidade, os rituais, as práticas, o papel do gaúcho
macho, lutador e “da rua”, o papel da prenda (prendada), faceira
e “da casa”. Como conseqüência, um movimento de
emancipação da Vila em relação à sede,
Viamão, toma força. A história do Rio Grande do Sul,
não esquecem, passou por Itapuã, onde as tropas de Bento
Gonçalves tocaiaram as embarcações do exército
imperial. Depois foram dizimadas ali no morro que ficou conhecido como
Morro da Fortaleza no interior do Parque. Como toda história tradicional,
é uma história de feitos e de homens.
Com perfil muito diferente da prenda, um grupo de mulheres que empunha
a bandeira ecológica com ação concreta (separação
do lixo, que nem a sede do município faz) só consegue espaço,
ou até mesmo decorre, de uma mudança cultural em curso.
Diferenciam-se dos outros grupos de mulheres desde a presença no
nome da qualificação de “atuante”, Grupo Atuante
de Mulheres de Itapuã. A coordenadora conseguiu ter um programa
na rádio FM Itapuã, uma rádio dita comunitária,
o “programa do GAMI”. O grupo, além da separação
do lixo, instituiu um curso de alfabetização de adultos,
sem qualquer apoio externo, de governos ou entidades.
O GAMI não surge do nada, nem deve ter provindo isoladamente da
experiência de sua coordenadora de trabalhar na capital. Ele surge
embalado por um novo contexto, e esse, a nosso ver, seria a penetração
de uma nova forma de ver o mundo e de expressão, trazida pela abertura
do Parque de Conservação e pelo asfalto. Foi-se criando
ali uma necessidade de relacionamento com as formas de pensar típicas
do mundo letrado.
A alfabetização começa modesta, e em pouco tempo,
pelo crescimento da procura, abre duas turmas para diferentes níveis,
é freqüentada por mulheres, mas também por homens,
que vêm de todas as partes. Nada parece causar desânimo nos
alunos, que estudam e se socializam nas trocas. Precisaram dessa motivação
para persistirem sem as mínimas condições materiais,
itinerando sem sede, ora num salão congelado, ora numa sala apertada
sem ventilação como ocorria nos primeiros anos. Mais recentemente,
com apoio de uma empresa do pólo petroquímico, conseguiram
construir um galpão novo para reciclagem e junto dele, uma sala
de aula para a alfabetização.
Nesta pesquisa, a alfabetização (talvez devendo ser tomada
aqui como categoria êmica) é entendida como um mote para
a compreensão dos fenômenos recentes e das transformações
por que passa a Vila de Itapuã. Entretanto, a noção
central para o entendimento dessas transformações, a partir
das quais o surgimento de uma classe de alfabetização de
adultos é apenas uma manifestação, é a noção
de letramento, tomada como referência a concepção
de Leda Tfouni (1988, 1997). Os alunos do curso recorreram a ele em busca
da "alfabetização", o curso se diz de alfabetização,
a professora se define como alfabetizadora. Nas entrevistas, os pesquisados
explicaram seu entendimento do conceito de alfabetização
por expressões como "saber ler e escrever", "ler
de tudo" e variações muito próximas. Entretanto,
a alfabetização ou o que diz dela o senso comum, é
apenas a ponta do fenômeno e a forma que ele toma para se tornar
manifesto.
Este sentido conferido ao mundo letrado é o precursor da ambiência
que dará condições para a origem do grupo de mulheres,
que, por sua vez, criou uma experiência de alfabetização
de adultos. Uma outra maneira de pensar o mundo toma forma na região
a partir da perspectiva instaurada pelo Parque e da ligação
a Porto Alegre, razão por que passo a chamar a chegada do asfalto
e a abertura do Parque de “eventos de letramento”
Tais fatos, Parque e asfalto, em outros contextos, poderiam ter outro
sentido ou serem apenas fatos. Neste contexto marcado por uma história
particular, por uma conformação geográfica particular
e por sua própria constituição (como apresentadas
antes), podem ali ser considerados eventos de letramento, quando talvez
não o fossem em outros contextos. Talvez se possa considerá-los
frutos de uma modernidade tardia, permeada por um discurso progressista
ecológico, não necessariamente genuíno, mas que passou
a fazer sentido como um discurso alternativo, no amálgama que se
produziu quando esse discurso se encontrou com as pré-condições
do lugar. Com ele, o itapuense faz frente à ex-condição
de lugar renegado.
A esse percurso da comunidade, não linear, não isento de
contradições que estamos chamando de letramento.
Eventos de Letramento: Parque e Asfalto
Morador do Beco do Cemitério, onde vive com a família extensa,
o jovem Toró um dia foi prestar pequenos serviços na casa
de um excêntrico novo morador do Centro de Itapuã. A relação
com ele criou um circuito centro-cemitério. Isso porque, inconformado
em morar num lugar na proximidade física e no nome associado ao
cemitério, Toró entendeu que pelo menos o último
poderia ser diferente. Decidiu por sua iniciativa que a rua mais pobre
de Itapuã deveria ter outro nome e a batizou de Beco do Amor. Na
outra ponta, Noé, o novo morador, vindo da zona sul de Porto Alegre
para se estabelecer em Itapuã, resolveu adiantar o futuro e construir
seu próprio túmulo no cemitério. Da associação
dos dois desejos, surgiu o referido túmulo, pintado de preto e
amarelo, que Toró ajudou a construir, e surgiram pela vila placas
que anunciam a "nova rua", igualmente em preto e amarelo, que
Noé ajudou a pintar.
Há coisas interessantes demais nessa história, que, como
tantas outras de Itapuã, por si já resultariam em um estudo
de caso antropológico. O que mais chama atenção,
para efeitos do nosso argumento, é a relação estabelecida
entre o morador do Cemitério e o morador do Centro da Vila. O primeiro
manifesta o desejo, e o segundo o auxilia na forma de plasmar a intenção
de alterar o nome estigmatizante: pintando as placas, uma vez que apenas
afirmar a existência do novo nome oralmente não lhes pareceu
bastar. Se a mudança de uma rua numa cidade regulamentada implica
um processo burocratizado e por vezes lento, ali se planejou de forma
individual (mas certamente com o apoio do grupo de moradores) e se concretizou
rapidamente por meio da divulgação. Interessou aqui que
a divulgação se deu pela escrita, a forma reconhecida pelos
"legisladores da rua” – muitos deles analfabetos - como
capaz de "oficializar" a mudança. E o responsável
pela parte que coube à escrita foi o novo morador da vila, futuro
morador do cemitério, o agente da cultura letrada entre eles.
Este fato, retirado do fluxo da vida cotidiana, destacado para análise
e associado aos papéis dos diferentes atores, pode ser considerado
um evento com múltiplas conotações: a tentativa de
Toró e seu grupo de valorizar o local de moradia, a importância
do nome nessa relação com o valor do local, o sentido do
próprio nome escolhido (amor), o estigma do cemitério e
da morte, ao mesmo tempo contestado pela iniciativa de Noé e seu
túmulo antecipado e alegre, e por fim, o que interessou aqui destacar,
o uso da escrita como a forma encontrada para marcar a nova posição.
Essa relevância que a escrita assumiu no processo pode permitir
que se considere todo o "fato social" aqui apresentado como
um evento de letramento, isto é, um acontecimento em que a escrita
desempenha um papel crucial, vinculado a uma história e a uma concepção
social.
É com esse conceito de letramento como processo sócio-histórico,
que por conseguinte permeia os indivíduos de uma dada sociedade,
atingindo a todo o grupo, mesmo aos que não sofreram o processo
de alfabetização e/ou de escolarização, que
procuramos entender o momento atual da Vila de Itapuã. Ao não
conceber o letramento como um conceito neutro - entendendo, portanto,
que ele é dependente do contexto, em alguma medida, pontuado pela
ideologia, pelas normas culturais locais, pelo sistema de valores locais
(Lankshear e Lawler, 1987) - uma etnografia do local visou compreender
o intrincado processo que se dá entre esses elementos locais que
devem ser reconhecidos e interpretados e sua relação com
o letramento. E, ao vincular letramento e os contextos de sua produção,
aceitamos que não há letramento, mas letramentos.
Aqui é preciso apresentar uma breve explicação sobre
os New Literacy Studies (Novos Estudos de Letramento), a fim de que as
críticas a eles possam fazer sentido e a sua relação
com o presente estudo fique clara. NLS pode ser considerada uma escola,
relativamente recente, constituída por pensadores de língua
inglesa do campo da lingüística e da antropologia, mas também
da semiótica e da história. Alguns deles são Heath
(1983), Street (1984, 1993, 1995), Gee (1996), Barton (1994, Barton e
Hamilton (1998), e todos se incluem numa perspectiva chamada de "abordagem
sócio-cultural". Eles examinam minuciosamente os contextos
locais em que se dão eventos e práticas de letramento (conceitos
que discutem), na defesa do postulado de que o letramento não é
um conceito homogêneo e de que existem letramentos locais, ou seja,
tais pesquisadores tomam letramento como práticas sociais de leitura
e escrita, decorrentes dos contextos em que são produzidas. Por
esta razão, os estudos são feitos com método etnográfico
e em comunidades.
Para os NLS, a forma como lemos e escrevemos depende do contexto em que
o fazemos. E tudo isso, por sua vez, implica conseqüências
para o meio social, ou o local, como diriam. Decisões que precisamos
tomar a todo instante quando estamos envolvidos nos processos de leitura
e de escrita são dependentes do contexto: as intenções
que temos, as condições em que nos movemos, a forma como
o fazemos. Por isso os New Literacy Studies se preocupam em entender ao
máximo o contexto das práticas de letramento: como as pessoas
participam dos eventos de leitura e escrita, com que recursos contam para
isso, que práticas são mais conhecidas e empregadas e, principalmente,
que sentidos específicos encontram na escrita e na leitura. Não
deixam de examinar também o conteúdo ideológico do
letramento e as implicações decorrentes das suas especificidades.
Street, no texto What's 'new' in New Literacy Studies? Critical approaches
to literacy in theory and practice, tem dois objetivos, no mínimo.
O mais importante objetivo do texto de Street é partir das críticas
que receberam os NLS, críticas essas que apontaram que pode ser
uma perspectiva limitada e limitante aquela que se detém na análise
do "local" que teria sido supervalorizada pelos NLS. Na fase
atual, que seria o que haveria de novo nos "Novos Estudos de Letramento",
esse tipo de pressão além de enriquecer o debate, leva os
NLS a ampliar seu campo de estudo, restabelecendo o elo do letramento
local com o "distante”.
Defendemos que a chegada do asfalto e a implementação do
Parque Estadual, unidade de conservação da biodiversidade
local, representam em Itapuã a chegada de uma determinada “modernização”.
Essa modernização (que não acontece sem conflitos
e contradições e nem linearmente) criou condições
de possibilidade para eventos de letramento, e esses, ao aumentar o grau
de letramento local, vêm favorecendo algumas alterações
no panorama do lugar, dentre as quais, a própria gênese do
GAMI e, a partir dele, a classe de alfabetização. Queremos
evitar, porém, a relação direta entre alfabetização
e letramento, mas entendê-los por meio da compreensão desse
jogo, como ao mesmo tempo distintos e intercambiáveis, isto é,
“processos interligados, porém separados enquanto abrangência
e natureza” (Tfouni, 1997, p. 24-5).
Os alfabetizandos do GAMI parecem buscar inserir-se socialmente sobretudo
neste momento. Alfabetizar-se parece ser a estratégia pela qual
os sujeitos passam a fazer parte da cultura escrita que começa
a tomar forma, na medida em que o valor paraíso ecológico
é um valor da cultura letrada e passou a ser o atrativo (assumido)
do local para alcançar um destaque positivo na comparação
com outras cidades da Grande Porto Alegre, mais urbanizadas e industrializadas.
Esse momento acabou por servir de motivação para se inserirem
num projeto de alfabetização quando a escrita vai assumindo
papéis crescentes na vida local e sendo reconhecida como algo que
dá "autoridade", a exemplo das placas do Beco do Amor.
A proximidade que se tornou maior com a capital a partir do asfalto trouxe
novos moradores, fazendo maior uso da escrita e com uma oralidade diferenciada,
porque mais permeada pela cultura escrita.
Vejo, então, a classe de alfabetização como uma das
medidas resultantes dos valores que passaram a circular na Vila, na medida
em que se torna mais letrada do que era antes dos eventos de letramento
(em sentido amplo): a chegada do asfalto e a consolidação
do Parque de Itapuã. Os alunos reconhecem essa diferença.
O outro objetivo de Street no já mencionado artigo é apontar
o estado da arte dos NLS, assim como historiar o surgimento de novos termos
e expressões, reveladores de diferentes nuanças em literacies
(dando por óbvia a aceitação nos meios acadêmicos
da existência de múltiplos(as) literacies). Ele afirma que
o modelo ideológico (alternativo ao modelo autônomo) oferece
pontos de vista mais culturalmente apropriados ao reconhecimento das práticas
de letramento. Antes defende que o modelo ideológico parte de diferentes
premissas em relação ao autônomo, isto é, ele
postula que o letramento não é simplesmente uma habilidade
neutra ou uma técnica, mas uma prática social. Entende que
as maneiras pelas quais as pessoas ingressam na escrita e na leitura estão
enraizadas em concepções de conhecimento, identidade e de
ser. Assim também os efeitos do ingresso na leitura e na escrita
dependem dos contextos específicos em que tais pessoas estão
imersas.
Então Street apresenta a distinção entre "eventos
de letramento" e "práticas de letramento", pois,
como afirma, os pesquisadores dos NLS se recusam a ter como objeto simplesmente
o termo letramento, dada a variedade de acepções possíveis,
uma vez que correspondem a diferentes contextos. Daí o uso de termos
alternativos que, colocados no lugar de simplesmente letramento, dariam
conta da idéia de variação: eventos de letramento
e práticas de letramento seriam úteis para isso.
Eventos de letramento seria a locução usada primeiramente
por Anderson (1980) e seriam definidos como “a ocasião durante
a qual uma pessoa tenta compreender signos gráficos”. Shirley
Brice Heath, depois, caracterizaria eventos de letramento como "qualquer
ocasião na qual a escrita cumprisse um papel dominante na natureza
da interação entre participantes e seus processos interpretativos".
Street a seguir diz que para ele as práticas de letramento seriam
práticas sociais e concepções de escrita e leitura,
porém mais tarde criou o termo para dar conta dos eventos de Heath
e dos modelos sociais de letramento em que participantes interagem com
a leitura e escrita.
Estamos utilizando aqui a idéia de “eventos de letramento”
concebendo evento numa dimensão mais macro do que a concepção
utilizada por Kleiman que chama de evento de letramento, por exemplo,
a leitura de histórias infantis para as crianças dormirem
(Kleiman, 1995, p. 18). A expressão “eventos de letramento”
tem em Heath (1983) sentido semelhante, isto é, seriam atividades
específicas em que a escrita e a leitura desempenham um papel.
Para Heath, os eventos seriam constituídos pelas ocasiões
concretas nas quais a língua escrita está vinculada à
natureza das intervenções dos participantes, suas estratégias
e seus processos interpretativos. Pensamos que melhor do que o termo “eventos”,
a idéia de “situações” parece mais apropriada
a estas descrições. Street (1993, p. 40) exemplifica eventos
de letramento utilizando o caso de uma exposição oral, em
que o apresentador fala, mas também lê algumas de suas anotações,
mostra outras no projetor, enquanto a assistência seleciona dados
e os anota, olha um pouco para o projetor depois abaixa a cabeça,
escreve, lê suas próprias anotações, volta
a ouvir, a ler o que está projetado, enfim, todo um cenário
em que a leitura e a escrita cumprem um papel central.
Entretanto, embora entendendo que essa é uma noção
útil, a que pretendemos utilizar nessa pesquisa ultrapassa tal
dimensão concreta do papel da leitura e da escrita. Pretendemos
direcionar a idéia de eventos de letramento rumo a um nível
maior de abstração, razão pela qual gostaríamos
de dar-lhes um significado mais próximo ao que Street (1995) confere
ao que chama de “práticas de letramento”, que inclui
modelos sociais e culturais que dão sentido aos usos da leitura
e/ou da escrita, que ajudam a dar forma ao modo como os comportamentos
e os significados que os acompanham são relacionados ao uso da
leitura e da escrita (Street, 1995, p. 2).
Evento no dicionário Houaiss (2002, p. 1277) tem os seguintes significados:
1. acontecimento ger. observável; fenômeno 2. B acontecimento
(...) 7. LING fato, processo, expressos por um verbo ou por um substantivo
verbal que denota ação. ETIM lat. Eventus, us ‘acontecimento,
sucesso,...
Utilizaremos a locução eventos de letramento num sentido
que remete a fatos ou acontecimentos que concorrem para o letramento,
e neste caso, caberia no conceito de eventos de letramento qualquer acontecimento
que interfira nos contextos locais na direção de elevar
níveis de letramento ou antes de conferir determinado sentido à
leitura e à escrita.
Parque + asfalto ?grau de letramento (ecologia/proximidade com a capital)
? GAMI ? classe de alfabetização
(Eventos de letramento)
O que significaria o esquema anterior, com suas flechinhas que sugerem
relação direta de causa e efeito? Também já
foi dito aqui que o Parque representou finalmente uma ação
que trouxe alguma positividade à Vila, depois de uma longa história
de ações do poder público que sempre supunham Itapuã
como um local de depósito, despejo ou de abandono. A primeira relação
com a área de Parque, quando seus moradores tradicionais foram
expulsos e acabou um certo turismo de verão, foi de indignação.
Só quase uma década depois desse fato é que o Parque,
ao ser aberto com boa infra-estrutura e capacidade de gerar empregos locais,
foi reclassificado no pensamento itapuense. Além disso tudo, foi
ele o grande impulso para o avanço do asfalto.
Voltando à questão das flechinhas, se poderia perguntar:
sempre que tivermos abertura de parques ambientais ou asfaltamentos, teremos
ampliação de letramento? Naturalmente que a resposta a isso
é “não necessariamente”. Com isso, queremos
reforçar a idéia de que não se devem considerar relações
de causa e efeito no esquema acima.
Determinados eventos são mediados ou conseqüentes da cultura
escrita, do texto (ainda que aparentemente pouco ou nada relacionados
de maneira direta com ela), e deles decorrem as práticas de letramento.
Neste caso, é que se torna possível considerar o Parque
e a chegada do asfalto como eventos que de alguma forma se relacionam
com a cultura escrita ou são por ela atravessados. O que significaria
isso? Que toda a movimentação em torno do Parque gerou um
novo universo de preocupações, de novidades, de reversão
de idéias até então sedimentadas, de penetração
gradual na comunidade de outras formas de pensar o mundo, diferentes das
que eles tinham até então. A relação que o
itapuense mantinha com a natureza era de exploração no sentido
da extração de pedra, da derrubada de árvores, das
queimadas, do derramamento de óleo dos barcos nas águas,
de descaso com o lixo, da pesca e da caça sem regulação.
O fechamento do Parque impôs, num primeiro momento de forma arbitrária,
um padrão de relação com a natureza diametralmente
oposto ao que se costumava ter em Itapuã. Depois, as equipes de
implementação se renovaram e, sem abrir mão dos preceitos
ecológicos, foram incluindo os moradores na missão de conservação
do Parque, chegando a ponto de treiná-los e empregá-los
na defesa da natureza do Parque na condição de condutores
locais. Na época de sua abertura, o Parque chegou a ser o segundo
empregador da região, só perdendo para uma empresa criadora
de frangos. Enquanto isso, internamente as diferentes correntes de ecologistas
disputaram ferrenhamente suas posições, cujo ponto de conflito
maior era se o Parque deveria ser de preservação ou conservação.
Em sendo de conservação, as possibilidades de abertura a
visitação seriam muito mais restritas. Preponderou a ecologia
mais moderada.
Comentamos esse fato porque os itapuenses foram expectadores destas e
de outras discussões. Mas foram expectadores de mais informações.
A área de influência dos condutores empregados no Parque
era grande. Se contarmos parentes e vizinhos, praticamente toda a vila
se viu envolvida na questão ecológica que pautava a discussão
sobre a sua maior área verde pública. Grupos de ecologistas
decidiram fazer trabalhos de conscientização ambiental em
escolas da região. Enfim, um sem número de iniciativas acabaram
pulverizando sobre a vila diferentes entendimentos em relação
à natureza.
Essa forma de relação com a natureza parte de típicos
representantes da cultura letrada: técnicos, universitários,
professores. Itapuã foi notícia em periódicos de
vários lugares do país. Tudo contribuiu para que o discurso
ecológico fosse penetrando gradativamente até ser em definitivo
incorporado no discurso do morador. Como já dito e até mostrado
aqui, mesmo que a prática não o reflita de forma plena,
o itapuense sabe falar sobre a ecologia e gosta de falar sobre a natureza,
que agora defende.
O asfalto tem um outro componente: ele facilita a ida a Porto Alegre,
uma capital em que a presença da escrita é considerável.
E facilita a vinda a Itapuã dos porto-alegrenses que criam diferentes
demandas e trazem novos discursos. Enfim, a soma e a combinação
desses eventos de letramento se poderiam considerar como uma conjuntura
de letramento.
Nos depoimentos de alguns dos alfabetizandos do GAMI, encontramos a sua
percepção dessas formas de expressão dos mais letrados.
Sucede que de forma não automática, não visível,
não explícita, tentamos mostrar que a alfabetização
do GAMI não surge do nada, mas brota de um tal contexto, assim
como o desejo pela alfabetização dos seus alunos também
se vincula a esse contexto. O que quero dizer é que:
1. consideramos a iniciativa de alfabetização do GAMI bem
sucedida, tanto porque a grande maioria dos alunos está lendo e
escrevendo, como porque
2. os poucos que não estão lendo e escrevendo nem por isso
pretendem desistir, e seus tempos de permanência atestam que não
desanimam,
3. e, por fim, a sala de aula da alfabetização é
o ambiente letrado que eles querem freqüentar.
Atribuímos esse sucesso a uma concepção de alfabetização
que está vinculada a um contexto de aumento de letramento visto
na sua natureza sócio-histórica, ao fato de que o curso
não foi instituído por uma iniciativa de alguém que
decidiu alfabetizar, mas foi instituído por uma pessoa que percebeu
a demanda do curso, ou seja, ele não vem de cima para baixo.
O sentido dessa pesquisa foi justamente mostrar a relação
entre os dois conceitos, alfabetização e letramento, quando
entendemos que a alfabetização, essa prática individual,
pode ser mais bem sucedida se estiver associada a um contexto de letramento,
referenciado no modelo ideológico, que aqui chamamos de conjuntura
de letramento, dado que a conjuntura diria respeito à soma e combinação
de eventos de letramento. Que não precisam ser estes eventos encontrados
em Itapuã... que até mesmo possam ser eventos menos espontâneos,
desde que não faltem às pessoas uma mínima imersão
na cultura letrada e as demandas que ela traz.
De outro lado, alfabetizar pessoas não inseridas nessa cultura
letrada equivale a alfabetizar por alfabetizar, ou alfabetizar para obter
índices de desenvolvimento ou alfabetizar para defender posições
políticas. Claro está que numa sociedade como a nossa ninguém
deixa de se beneficiar particularmente se puder ler e escrever. Entretanto,
como manter lendo e escrevendo quem não vir, por si próprio,
sentido em ler e escrever?
Referências
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