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ALFABETIZAÇÃO
– A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE UMA PROFESSORA ALFABETIZADORA
Juliana Maria Lima Coelho - Universidade Federal
de Pernambuco – UFPE
Andréa Tereza de Brito - Universidade Federal de Pernambuco –
UFPE
Eliana Borges Correia de Albuquerque - Universidade Federal de Pernambuco
– UFPE
Resumo
Essa pesquisa teve como objetivo analisar as mudanças
ocorridas nas práticas de alfabetização de uma professora
da Rede Municipal da cidade do Recife e o uso que ela faz do livro didático
adotado na referida rede. Para isso, realizamos observações
semanais das aulas da professora e percebemos que a mesma concentrava
sua prática pedagógica em atividades de leitura e interpretação
de textos e os exercícios que possibilitariam que os alunos se
apropriassem da escrita alfabética eram pouco realizados. No que
concerne ao uso do livro didático, este não foi observado
no decorrer da investigação.
Introdução
As discussões mais recentes sobre a aquisição
do sistema de Escrita Alfabética têm influenciado uma série
de mudanças que, de certo modo, têm sido incorporadas aos
novos livros de alfabetização. Com isso, os autores dos
livros didáticos vêm promovendo tais alterações
visando atender às exigências do Plano Nacional do Livro
Didático (PNLD).
Para investigar os resultados dessas modificações, presentes
nos livros didáticos de alfabetização e na prática
docente, é que este trabalho buscou analisar a prática pedagógica
de uma professora alfabetizadora mediante o uso desse importante instrumento
de apoio pedagógico.
A pesquisa se inscreve no que podemos chamar de estudo de caso, o qual
buscou conhecer o trabalho que uma professora de alfabetização,
da rede municipal da cidade do Recife, desenvolvia com o livro didático,
adotado por esta rede de ensino. Vale ressaltar que o livro didático
adotado pela rede é o livro Português - Uma proposta para
o letramento de autoria de Gladys Rocha.
A pesquisa se constituiu de dois momentos: o primeiro foi dedicado ao
estudo e análise das atividades propostas no livro de ROCHA, onde
foi priorizado como foco de estudo, as atividades de apropriação
do Sistema de Escrita Alfabética. O segundo momento foi direcionado
à análise da prática pedagógica da professora
alfabetizadora com o uso do livro adotado pela rede.
Para analisar a prática de uso do livro pela professora, utilizamos
uma tabela de análise com diversas atividades, pois percebemos
que muitos dos exercícios que a alfabetizadora propôs, durante
as aulas observadas, eram sem a utilização do livro. Porém,
elas tinham semelhanças com as tarefas que apareciam também
no livro didático analisado.
Desse modo, foi possível, por meio da análise dos dados,
oriundos deste estudo, refletir sobre a prática dos professores
alfabetizadores, no sentido de entender como eles estão modificando,
ou não, as suas práticas, a partir das atividades que são
propostas pelos livros didáticos. Ou seja, entender até
que ponto as alterações presentes nos novos livros didáticos
estão motivando as alterações necessárias
à prática de alfabetização, a fim de atender
às novas concepções didático-pedagógicas,
deste nível de ensino.
Vale ressaltar que, cada aula observada da professora alfabetizadora foi
categorizada segundo a proposição das atividades. No entanto,
será exposto, nesse trabalho, um quadro de atividades relativo
à prática predominante da professora alfabetizadora, o que
proporcionará uma visão geral acerca do trabalho desenvolvido
pela alfabetizadora, em parceria com o instrumento de trabalho - o livro
didático.
Essa pesquisa se integra a um grande projeto intitulado: “Mudanças
didáticas e pedagógicas nas práticas de alfabetização:
O que sugerem os novos livros didáticos? O que dizem/fazem os professores?”.
A participação no referido projeto nos proporcionou uma
visão mais ampla a respeito das mudanças nos materiais de
apoio didático do professor e conseqüentemente na prática
pedagógica do mesmo.
A pesquisa integrada envolveu a observação de dez professoras
que lecionavam na rede Municipal de ensino da cidade do Recife, ou seja,
no total, foram observadas dez aulas de cada professora alfabetizadora.
Como também, foram realizados encontros pedagógicos (grupos
focais), nos quais as professoras participavam relatando e discutindo
sobre as suas práticas pedagógicas.
Neste trabalho, especificamente, trataremos da prática de uso do
livro didático de apenas uma das professoras do projeto.
Fundamentação Teórica
Com os estudos de Ferreiro & Teberosky (1982), direcionados
à aquisição do Sistema de Escrita Alfabética,
percebemos que para a apropriação do sistema, pelo o indivíduo,
passa por vários processos que representam diferentes fases e que,
cada uma delas é caracterizada pelas aprendizagens adquiridas em
cada etapa.
A partir das pesquisas aplicadas no início da década de
80 por Ferreiro & Teberosky foi divulgada a teoria da psicogênese
da Língua Escrita (Ferreiro & Teberosky, 1982), estudo que
possibilitou muitas reflexões acerca da prática pedagógica
– e também sobre o instrumento de suporte didático
do professor - o livro didático.
Entende-se que o trabalho desenvolvido pelo educador está relacionado
ao seu instrumento de apoio pedagógico, o que inclui o livro didático.
Diante disso, percebemos a necessidade de repensar as atividades propostas
nos livros de alfabetização.
Concomitantemente às alterações sugeridas para atender
às exigências das mudanças didáticas e pedagógicas,
nos novos livros de alfabetização, vêm se intensificando
uma discussão sobre as práticas sociais da leitura e escrita.
Na década de 90 ganhou força uma corrente de pensamento
que já havia se consolidado na Europa e em alguns países
da América do Norte, durante a Segunda Guerra Mundial, a questão
da função social da leitura e da escrita, o qual foi denominado
de “literacy” que significa “estado ou condição
que assume aquele que aprende a ler e a escrever”(Borges & Morais
p. 63). Em português o termo literacy seria traduzido para a palavra
letramento, que segundo o dicionário Houaiss (2001), é definido
como sendo “o conjunto de práticas que denotam a capacidade
de uso de diferentes tipos de material escrito”. (Houaiss Apud Borges
& Morais p. 63).
Estudiosos dividem suas opiniões quanto à utilização
dos termos alfabetizar e letrar. SOARES (2003) faz distinção
entre os dois termos alfabetização e letramento. Para a
autora, alfabetizar “corresponde ao processo pelo qual se adquire
uma tecnologia, a escrita alfabética e as habilidades de utilizá-la
para ler e para escrever. Já o letramento relaciona-se ao exercício
efetivo e competente da tecnologia da escrita. Segundo a autora alfabetizar
e letrar são duas ações distintas, mas não
inseparáveis”. (SOARES, 1998 a, 47).
Sabe-se que, para atender às novas exigências colocadas pelo
PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), buscou-se modificar
a estrutura das proposições de atividades dos livros didáticos
a fim de contemplar os conhecimentos prévios dos alunos e introduzir
atividades que colocassem os alunos em contato com uma diversidade de
gêneros textuais, promovendo assim, o letramento, uma vez que o
aluno passa a sistematizar os conhecimentos sobre a prática social
da escrita.
Um aspecto destacado por SOARES, em seu livro Letramento um tema em três
gêneros, diz respeito às condições para o letramento.
A autora, acima citada, coloca que o ambiente desfavorável (poucas
bibliotecas, livros revistas e outros materiais impressos disponíveis)
é um fator que dificulta os alunos o acesso à leitura, tornando
ainda mais deficiente o contato dos aprendizes com a leitura e a escrita.
Assim, a autora considera que as condições para o letramento,
ou seja, o acesso à leitura, é de extrema importância
para que o indivíduo possa ser inserido nas práticas sociais
de leitura e escrita.
Com isso, acredita-se que a função do livro didático
seja promover a aquisição do Sistema de Escrita Alfabética
associado às práticas do letramento, o que torna ainda mais
evidente que os livros didáticos estão sujeitos às
mudanças para atender a essas novas concepções de
alfabetização.
Objetivo geral
•
Analisar a natureza das mudanças didáticas presentes na
prática de uso dos livros de alfabetização de uma
professora alfabetizadora que atua em uma escola pública da cidade
do Recife.
Objetos específicos
- Investigar
o uso que a professora faz de livros de alfabetização;
- Refletir
sobre como a professora (re) constrói sua prática de ensino
de alfabetização a partir das experiências as quais
teve acesso (leituras diversas, cursos de capacitação, formação
etc).
- Analisar a natureza das atividades de ensino de leitura e escrita presentes
na sala de aula da professora, e como elas se relacionam com as abordagens
teóricas sobre alfabetização discutidas nas duas
últimas décadas;
Metodologia
A pesquisa
abrangeu duas etapas: a primeira etapa da pesquisa foi constituída
de uma análise documental, na qual foi analisado o livro didático
de alfabetização adotado pela rede municipal da cidade do
Recife: Português – Uma proposta para o letramento - ROCHA,
Gladys.
Para realizar a análise do livro didático foram criadas
categorias que estavam relacionadas às atividades de alfabetização,
principalmente no que se refere à apropriação do
Sistema de Escrita Alfabética. A segunda etapa da pesquisa foi
o estudo de caso da prática de uma professora alfabetizadora. Foram
realizadas observações de aulas durante seis meses do ano
letivo, que foram iniciadas em abril e se estenderam até dezembro
do ano de 2004, contabilizando um total de nove observações.
Todas as aulas observadas foram gravadas para que não fossem perdidos
dados relevantes para análise dos resultados. Para realizar a análise
da prática pedagógica da alfabetizadora, foi mantida a categorização
das atividades do livro didático analisado, uma vez que algumas
das atividades propostas pela professora possuíam a estrutura muito
parecida com os exercícios propostos no livro didático utilizado
pela professora.
A alfabetizadora que teve as suas aulas observadas era formada em Pedagogia
e lecionava na rede estadual de ensino e ainda na rede municipal da cidade
do Recife. A professora ensinava em turmas de alfabetização
há mais de dez anos.
Resultados
A partir
das observações de aula da professora alfabetizadora, alguns
aspectos que foram relevantes em sua prática, uma vez que compõem
a sua rotina de trabalho:
A aula tinha início com a leitura, de um texto que era sempre realizada
pela alfabetizadora. Em seguida, a professora promovia uma discussão
com os alunos explorando o assunto central do texto e depois fazia perguntas
que envolviam interpretação textual.
No que concerne à Apropriação do Sistema de Escrita
Alfabética, as atividades propostas pela alfabetizadora priorizavam
a escrita de letras para completar palavras, a escrita de palavras que
começassem com a letra X. Houve ainda momentos em que a alfabetizadora
propôs atividades de partição oral de palavras em
sílabas.
A produção de texto individual foi um fator de menor destaque
na prática da professora, uma vez que esse exercício não
foi realizado com regularidade nas aulas que foram observadas. No decorrer
da pesquisa, percebeu-se um trabalho mais sistematizado referente à
produção de texto coletivo. Nesse exercício, a alfabetizadora
atuava como escriba, isto é, a professora registrava na lousa as
idéias que eram colocadas oralmente pelos alunos. Vale ressaltar
ainda, em relação às atividades de Apropriação
do Sistema de Escrita Alfabética, que a alfabetizadora, que teve
as suas aulas observadas, sugeria muitos exercícios que solicitavam
dos alunos a produção de desenho. Assim, nessas atividades
que envolviam o desenho, a alfabetizadora solicitava que o aluno desenhasse
e em seguida, escrevesse sobre o que havia desenhado.
Percebemos também a preocupação da professora em
diferenciar as atividades para os alunos que se encontram menos avançados
no processo de aquisição, em relação à
maioria dos colegas da classe. Essa preocupação foi demonstrada
nos momentos em que a professora solicitou que os alunos pré-silábicos
se utilizassem do alfabeto móvel para formar as palavras.
Todos os textos trazidos pela alfabetizadora foram lidos pela mesma. Em
algumas situações, a professora leu os textos em parceria
com os alunos. No entanto, não houve, no decorrer das aulas observadas
leituras individuais por parte dos alunos.
Outro exercício também enfatizado pela professora era o
de completar. Em alguns casos completar palavras usando letras e em outros,
completar palavras se utilizando de sílabas.
Diante dessa exposição a respeito da prática pedagógica
da alfabetizadora, percebemos algumas características próprias
de seu trabalho. Pudemos perceber que a rotina das aulas da professora
não era estável, pois, as modificações na
seqüência das atividades eram constantes. Assim, observamos
que a alfabetizadora seguia um planejamento de aula, ou seja, as atividades
que a mesma planejava para apresentar aos alunos nem sempre seguia uma
freqüência diária ou semanal.
Diante disso, supomos que a professora planejava a aula e o seguimento
do planejamento dependia, em parte, da aceitação dos alunos
às propostas de atividades trazidas pela alfabetizadora.
Um aspecto que deve ser ressaltado na prática da professora é
a freqüência da solicitação dos desenhos, ou
seja, os alunos, durante todas as nove observações de aula
da professora, realizaram alguma atividade que envolvia a produção
de um desenho.
As atividades
propostas pela professora aparecem distribuídas na tabela abaixo.
Observe a tabela para visualizar a freqüência das atividades
sugeridas pela alfabetizadora:
Categorias |
Ocorrência
das atividades |
l.
Cópia de tarefa de casa/
classe |
6 |
2.
Correção de tarefa de casa/
classe |
1 |
3.
Escrita de letra |
2 |
4.
Escrita de sílaba (inicial, medial e final) de palavra |
3 |
5.
Identificação de palavras que possuam a letra X (em posição X -inicial,
medial e final) |
2 |
6.
Formação de palavras com o uso do alfabeto móvel |
1 |
7.
Exploração dos diferentes tipos de letras |
2 |
8. Leitura do texto pela professora |
4 |
9.
Leitura de texto com auxílio |
1 |
10.
Produção de texto |
1 |
11.
Produção de texto coletivo |
2 |
12.
Desenho gratuito |
3 |
13.
Desenho demonstrando leitura |
5 |
Análise
dos Resultados
Ao analisar
a prática da professora alfabetizadora, pudemos traçar o
perfil do trabalho pedagógico da mesma. Acreditamos que a alfabetizadora
concentrava a sua prática em dois eixos de enfoque: o primeiro
eixo seria representado pela leitura, na qual a alfabetização
demonstra conduzir a sua atuação, uma vez que a leitura
aparecia acompanhada de questionamentos que norteiam a interpretação
textual. O segundo eixo de trabalho da professora, em sala de aula, foi
a produção de desenho. Percebemos, no decorrer das aulas,
que a professora introduziu o desenho em quase todos os exercícios.
No entanto, em alguns momentos o comando para a produção
do desenho surgia com um fim explícito, por exemplo, ao colocar
um exercício para o aluno em que ele precisava ler para descobrir
o objeto que estava lá e para depois desenhar.
A função do desenho não aparecia com consistência
no momento em que a professora solicitava que a partir do desenho, por
exemplo, do curupira, o aluno deveria escrever um texto. Nesse caso, torna-se
perceptível a idéia da alfabetizadora de que o aluno, para
produzir um texto, necessita de um apoio visual.
No que concerne ao trabalho realizado com cada aprendiz em processo de
alfabetização, percebemos uma preocupação
da alfabetizadora em atender, com atividades diferenciadas aos alunos
que apresentam ainda maiores dificuldades no processo de Aquisição
do Sistema de Escrita Alfabética. Porém, no caso dos alunos
pré-silábicos, a professora se utilizou das práticas
que enfatizam o trabalho com as famílias silábicas. Todavia,
como a professora mesmo coloca: “são as que dão certo”.
Por outro lado, algo que pode ser tratado com uma reflexão da educadora
que se reverte em mudanças em sua prática e ainda referentes,
a seu trabalho com as dificuldades de cada aluno, pode ser colocado no
momento em que a alfabetizadora recorre ao uso do alfabeto móvel
para que os alunos pré-silábicos tentem formar algumas palavras
ditadas por ela.
A freqüência da atividade de produção de texto
coletivo também expressa a tentativa da alfabetizadora em adequar
a sua prática às inovações propostas pelos
livros didáticos. Essa atividade de produção de texto
coletivo era realizada pela professora considerando a diversidade de linguagens
utilizadas pelos alunos no momento da produção oral do texto.
Porém, ao término da exposição das idéias
dos alunos, a professora acordava com eles as modificações
necessárias para tornar o texto mais coeso. Com isso, eram realizadas,
pequenas mudanças, uma vez que a estrutura do texto permanecia
a mesma, pois, as palavras muitas vezes eram substituídas por expressões
sugeridas pelos próprios alunos.
As atividades de apropriação do Sistema de Escrita Alfabética
estavam concentradas, basicamente, na identificação de letras
iniciais em palavras e ainda completar palavras se utilizando para isso
de letras ou sílabas. Nesses casos os aluno tinham o apoio da figura.
Acreditamos que essas atividades são importantes para a aquisição
do Sistema de Escrita Alfabética, uma vez que proporciona para
o indivíduo, respectivamente a percepção do som inicial
da palavra e ainda a reflexão acerca das unidades menores que compõem
a palavra (letras e sílabas).
No que concerne ao uso do livro didático, esse aspecto não
foi observado nas aulas gravadas. Ao discutir a questão do não
uso do livro didático adotado pela rede, a alfabetizadora justificou
que, ao utilizar o livro didático na sala de aula, percebeu que,
para fazer as atividades, os alunos copiavam uns dos outros. E expôs
ainda que “fazer as atividades sem compreensão não
valia a pena”.
Diante disso, percebemos que a professora ainda apresenta resistência
ao uso dos novos livros didáticos de alfabetização.
Essa resistência é perceptível até no discurso
da professora ao colocar que preferiam utilizar outros livros para alfabetizar,
livros estes que possuem uma estrutura de organização das
atividades que muito lembram antigas cartilhas de alfabetização.
Supomos que a resistência ao uso dos novos livros didáticos
esteja relacionada à prioridade expostas nesses livros que é
a de colocar o aluno em contato com uma ampla variedade de gêneros
textuais, ou seja, valorizando a proposta do letramento. Todavia, o trabalho
com as atividades de Apropriação do Sistema de Escrita Alfabética
parece estar sendo secundarizado.
Conclusões
As aulas
observadas nos mostram que a prática da alfabetizadora, nesse caso
está em um momento de reflexões e já de introdução
de posturas e atitudes mais voltadas para as inovações das
práticas pedagógicas, um reflexo das mudanças sobre
a sua concepção de ensino - aprendizagem.
Contudo, devemos atentar para os resquícios das práticas
que ainda são realizadas de forma descontextualizada, pois isso
pode ser resultado da tentativa de incorporar algumas atividades que os
professores consideram importantes para a apropriação do
Sistema de Escrita Alfabética, porém que estão pouco
contempladas nos novos livros didáticos.
Percebemos que a participação da alfabetizadora nos encontros
pedagógicos viabilizou algumas alterações na sua
prática, um exemplo dessas modificações pode ser
citada como a tentativa da professora estabelecer uma rotina de trabalho
pedagógico, aspecto que ela expressa de forma sistemática
em uma de suas aulas.
Vale salientar que a prática da professora alfabetizadora, estava
direcionada a atividades envolvendo a leitura, produção
de texto coletivo com exercícios envolvendo a produção
de desenho. Porém, nas atividades de leitura, a figura central
era a professora que lia em todos os momentos, o que pressupõe
que a mesma acreditava ser indispensável a atuação
de um leitor fluente para realizar as atividades de leitura.
A ênfase nos exercícios acima destacados pode refletir as
prioridades colocadas pelos novos livros didáticos, pois a professora
utiliza, com mais freqüência, atividades que enfatizam a leitura
e a produção de texto coletivo frente aos exercícios
que trabalham mais a Apropriação do Sistema de Escrita Alfabética.
Todavia, acreditamos que as aulas observadas constituem uma amostra do
trabalho desenvolvido pela professora. Nesse período de observação
o livro didático não foi um recurso utilizado na sala de
aula. O que foi explicado pela alfabetizadora, para ela: usando o livro
didático os alunos copiavam uns dos outros e fazer as atividades
sem compreensão não valia a pena. Esse discurso demonstra
a tentativa da mesma em trazer as atividades do livro para o cotidiano
dos alunos.
Diante das características colocadas da prática da alfabetizadora
podemos avaliar a influência do livro didático na estrutura
e organização de sua prática em sala de aula. Portanto,
o livro didático servirá como suporte para o trabalho a
ser desenvolvido pelo educador, isso decidirá os enfoques que esses
darão em seu trabalho pedagógico.
Ao analisar a prática da professora que leciona em turmas de alfabetização
há mais de dez anos obtemos dados que representam a tentativa de
mudança da prática, a partir das reflexões oriundas
das discussões que vêm ocorrendo desde a década de
80 e que vêm se refletindo nos livros didáticos. Espera-se
que essas mudanças ocorram de forma sistematizada a fim de obter
resultados mais significativos na prática pedagógica desses
professores.
Referências
Bibliográficas
MORAIS, Artur,
Gomes e BORGES, Eliana Correia de Albuquerque. Em FERRAZ, Telma (org)
A alfabetização de jovens e adultos em uma perspectiva de
letramento. Belo Horizonte: Autêntica. . p. 59 –76. 2005.
CHARTIER, Anne-Marie. Réussite, échec et ambivalence de
l’innovation pédagogique: le cas de l’enseignement
de
la lecture. Recherche et Formation pour les professions de l’éducation.
Innovation et réseaux sociaux, INRP, n. 34,
p. 41-56, 2000.
FERREIRO, Emília E TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua
escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998a.
SOARES, Magda. Concepções de linguagem e o ensino da Língua
Portuguesa. Em BASTOS, Neusa Barbosa (org.). Língua Portuguesa:
História, Perspectivas, Ensino. São Paulo: EDUC, 1998b.
ANEXO 1
Categorias |
Ocorrência
das atividades |
a.
Música |
|
b.
Oração |
|
c.
Calendário |
|
d.
Contagem de alunos |
|
e.
Ajudante |
|
f.
Jogo entre atividades |
|
g.
Leitura de “livrinhos” entre atividades |
|
h.
Lanche |
|
i.
Jogos pós-lanche |
|
j.
Recreio |
|
l.
Cópia de tarefa de casa/ classe |
|
m.
Correção de tarefa de casa/ classe |
|
|
|
1.
Leitura de letras / alfabeto com auxílio |
|
2.
Leitura de letras / alfabeto sem auxílio |
|
3.
Leitura de sílabas |
|
4.
Leitura de palavras |
|
5.
Leitura de palavras com auxílio |
|
6.
Leitura / descoberta de palavras |
|
7.
Leitura de frases |
|
7a. Leitura de frases com auxílio |
|
50.
Escrita de letra |
|
51.
Escrita de sílaba (inicial, medial e final) de palavra |
|
52.
Escrita de palavra |
|
52a.
Escrita de palavras a partir de letra/ sílaba dada |
|
53.
Escrita de palavra como souber |
|
54.
Escrita de palavra com auxílio do professor |
|
55.
Escrita de palavra com aliteração |
|
56.
Escrita de palavra com rima |
|
57. Escrita de frase |
|
57ª Escrita de frase como
souber |
|
45. Cópia de letra |
|
46. Cópia de sílaba |
|
47. Cópia de palavra |
|
48. Cópia de frase |
|
30. Contagem de letras de
sílabas |
|
31.
Contagem de letras de palavras |
|
32.
Contagem de sílabas de palavras |
|
33.
Contagem de palavras |
|
34.
Partição oral de palavras em sílabas |
|
35.
Partição escrita de palavra em letras |
|
36.
Partição escrita de palavra em sílabas |
|
37.
Partição escrita de frase em palavras |
|
11.
Diferenciação de letras/ palavras/
números/ outros |
|
12.
Identificação de letras em posição X (inicial, medial e final) |
|
12a.
Identificação de letras (iguais) em palavras |
|
12b.
Identificação de letras (iguais) em sílabas |
|
12c.
Identificação de letras |
|
13.
Identificação de sílabas (em posição X - inicial, medial e final)
com correspondência escrita |
|
14.
Identificação de sílabas em (posição X - -inicial, medial e final)
sem correspondência escrita |
|
15.
Identificação de palavras “outros” |
|
16.
Identificação de palavras que possuam a letra X (em posição X -inicial,
medial e final) |
|
17.
Identificação de palavras que possuam a sílaba X |
|
n. Identificação de rima/ aliteração com correspondência escrita
|
|
o. Identificação de rima/ aliteração sem correspondência escrita |
|
p. Produção de rima/ aliteração com correspondência escrita |
|
q. Produção de rima/ aliteração sem correspondência escrita |
|
24.
Comparação de sílabas quanto ao número de letras |
|
25.
Comparação de palavras quanto ao número de letras |
|
26.
Comparação de palavras quanto ao número de sílabas |
|
27.
Comparação de palavras quanto à presença de letras iguais / diferentes |
|
28.
Comparação de palavras quanto à presença de sílabas iguais / diferentes |
|
29.
Comparação com escrita convencional para auto-avaliação |
|
38.
Formação de palavras a partir de letras dadas |
|
38a.
Formação de palavras com o uso do alfabeto móvel |
|
39.
Formação de palavras a partir de sílabas dadas |
|
40.
Formação de palavras “outros” |
|
41.
Exploração dos diferentes tipos de letras |
|
42.
Exploração da ordem alfabética |
|
43.
Exploração da segmentação das palavras |
|
43a.
Exploração da relação som/ grafia |
|
44.
Exploração da pontuação |
|
r. Professora lê o texto para turma |
|
s. Professora lê o texto e os alunos vão complementando |
|
t. Interpretação/ reconstituição do texto |
|
8.
Leitura de texto |
|
9.
Leitura de texto com auxílio |
|
u. Hora de relatos/ vivências/ novidades |
|
v. Professora conta história para turma |
|
58.
Produção de texto como souber |
|
59.
Produção de texto com auxílio do professor |
|
60.
Produção de texto |
|
60a.
Produção de texto coletivo |
|
x. Desenho gratuito |
|
z. Desenho demonstrando leitura |
|
Outros |
|
|
|