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KIT
LITERATURA EM MINHA CASA: A DIVERSIDADE TEXTUAL E O TRABALHO PEDAGÓGICO
Daniela Cristina Corte - Faculdade de Ciências
e Tecnologia/FCT – UNESP
Olívia Maria dos Santos - Faculdade de Ciências e Tecnologia/FCT
– UNESP
Marinês Eugênia Alfredo - Faculdade de Ciências e Tecnologia/FCT
– UNESP
Renata Junqueira de Souza - Faculdade de Ciências e Tecnologia/FCT
– UNESP
Atualmente a leitura tem tomado espaço considerável
na educação e na mídia brasileira. Em 2003, o Brasil
obteve desempenho insatisfatório em duas grandes pesquisas: uma
de âmbito nacional – Instituto Paulo Montenegro divulgou que
72% de jovens são alfabetos funcionais, ou seja, não sabem
ler e escrever. Em outra, internacional, o PISA – Programa Internacional
para Avaliação de Estudantes, o país ocupou o 37º.
lugar em letramento de leitura. Acanhadas ações têm
tentado mobilizar escolas, professores, diretores e sociedade para mudar
este quadro: PNLD – Programa Nacional do Livro Didático através
dos módulos literários, PNBE – Programa Nacional Biblioteca
na Escola, campanhas como “Tempo de leitura” e “Literatura
em minha casa”, entre outras. Estas iniciativas mostram algo em
comum: a utilização de textos literários e a proposta
do uso de diversos tipos de textos nas ações voltadas para
o ensino da leitura. No entanto, nota-se que as instituições
de ensino não estão sabendo fazer uso da literatura como
objeto para o ensino da leitura. Neste contexto, propõe-se este
estudo com intuito de contribuir para a investigação do
seguinte problema de pesquisa: Como se ensina a ler através do
Programa de leitura Kit Literatura em Minha Casa? Para tanto, propõe-se
realizar esta pesquisa por meio da concepção socio-cognitiva
de leitura, na Escola Pedro Furquim de Presidente Prudente. Espera-se
assim, selecionar atividades de leitura que possam auxiliar seu ensino
no Brasil e conseqüentemente adequar o uso de programas como PNLD,
PNBE e Literatura em Minha Casa em escolas do Ensino Fundamental onde
atua o grupo de pesquisa “Formação de professores
e as relações entre as práticas educativas em leitura,
literatura e avaliação do texto literário”
do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências
e Tecnologia da UNESP de Presidente Prudente.
I. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Este trabalho é um desdobramento de duas pesquisas: a primeira,
do pós-doutoramento desenvolvido em 2001 na Universidade de British
Columbia (UBC), Vancouver, Canadá, financiada pela FAPESP, e, a
segunda, de atividades desenvolvidas no grupo de pesquisa “Formação
de professores e as relações entre as práticas educativas
em leitura, literatura e avaliação do texto literário”
cadastrado junto ao CNPq.
O grupo de pesquisa analisa toda a produção infantil literária
publicada no Brasil anualmente. O líder do grupo é votante
da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ)
responsável pela seleção dos livros altamente recomendáveis
que, posteriormente, fazem parte das listas de livros do Ministério
da Educação e Cultura (MEC). Através destas análises
é possível estabelecer relações entre o lugar
do livro infantil na escola e conseqüentemente os modos de ler e
de produzir textos nas instituições escolares.
Neste sentido, o grupo se empenhou nos últimos dois anos, 2002
e 2003, em analisar os materiais de leitura oferecidos pelo MEC como o
Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e os Kits Literatura em
Minha Casa – livros infantis distribuídos para as escolas
públicas brasileiras. Após a análise, oferecemos
cursos de formação continuada para docentes do Ensino Fundamental
onde sintetizamos nossos estudos e orientamos o ensino da leitura, produção
de textos e uso do texto literário na escola.
Com algumas preocupações semelhantes à pesquisa “Poesia
na educação: contribuições na formação
do educador de séries iniciais” desenvolvida na UBC em 2001,
tratou da formação de professores para o uso do texto poético
em salas de séries iniciais. Para tanto, passamos um semestre freqüentando
a disciplina Poesia na Educação e posteriormente observamos
alunos e professores em serviço no ensino da poesia em instituições
de ensino canadenses. Algumas entrevistas com professores de séries
iniciais nos levaram a ler os documentos oficiais, principalmente, os
parâmetros curriculares de educação da província
de British Columbia, o The Primary Program – A Framework for Teaching
(Programa Primário – uma estrutura para o ensino). Esses
documentos orientam professores do Ensino Fundamental no uso de um Programa
de leitura fundamentado na literatura, chamado Literature Based Reading
Program.
Em 2001, foi possível perceber o significado do programa superficialmente,
pois nosso objeto de pesquisa era outro. Para alguns autores como: Tompkins,
1993, Galda, 1998 e Huck e Hickman, 2001 o programa basicamente, propõe
o ensino da leitura através da literatura. Segundo eles, a idéia,
não é nova, e tem ressurgido com maior intensidade na América
do Norte por dois motivos: “professores desencantandos com a prática
tradicional de leitura e a quantidade de livros infantis estéticos
publicada a cada ano" (Tompkins, 1993, p.53). Os professores que
adotam o programa reconhecem a importância do uso da literatura.
Eles adaptam o plano de ensino de acordo com as necessidades culturais,
lingüísticas e sociais de seus alunos. Inicialmente, as crianças
lêem literatura por entretenimento, como uma experiência estética
que “ilumina a condição humana" (Tompkins, 1993,
p. 54). Outros benefícios do programa incluem um conhecimento estético,
desenvolvimento da linguagem oral, da leitura, da escrita e o desenvolvimento
cognitivo-sociológico.
A literatura não é oferecida como atividade isolada; ao
contrário, o estudo literário é integrado com outras
linguagens. Nas salas de aula onde o programa de leitura baseado em literatura
é adotado crianças e professores praticam atividades de
leitura todos os dias, num período mínimo de 20 minutos.
O professor escolhe uma história que pode ou não estar relacionada
com matéria do currículo escolar. A seguir escolhe uma maneira
de ler. Entre variadas técnicas para o incentivo da leitura e a
fomentação do gosto podemos mencionar: técnicas para
leitura em voz alta (read aloud), teatro da leitura (reader’s theatre),
contar histórias (storytelling), conte e desenhe (tell and draw),
participação de fantoches (puppetry), círculos literários
(literature circle), leitura com amigo (buddy reading), leitura de poesia
e planejamento de uma unidade poética (poetry unit), entre as mais
usadas. A escolha por uma destas técnicas leva em consideração
o desenvolvimento, interesse e faixa etária das crianças.
A seleção do tipo de texto a ser lido também considera
a diversidade: livros de imagem (wordless books), poesia (poetry), cantigas
infantis (nursery songs), parlendas (nursery rhymes), livros infantis
(picture books), folclore (folktales), fábulas (fables), contos
de fada (fairy tale), ficção histórica (historical
fiction), ficção realística (realistic fiction),
não ficção ou livros informativos (nonfiction) e
biografias (biography).
Ao exercitar a leitura, os alunos fazem uso da linguagem oral, falam sobre
a história, aprendem a ouvir, lêem em voz alta, dramatizam
o texto e fazem uso da escrita para expressar o entendimento do texto
lido. Mostram o conhecimento das estruturas literárias e da linguagem
através de processos de escrita mais formais como a composição
de poemas, de textos jornalísticos e textos em prosa.
Segundo Tompkins (1993), ao adotar os moldes do programa de leitura o
professor deve integrar a leitura e a escrita. Ou seja, ao ler uma história
utilizando maneiras e tipos de textos diversificados, o aluno também
registrará em forma de texto seus sentimentos e compreensão
do que foi lido. Assim, a criança é estimulada através
do professor para atividades que desenvolvem as habilidades de compreensão
literal e pragmática do texto literário.
Sobre a escrita, Tompkins (1993) afirma que os alunos escrevem informalmente
para explorar o que aprenderam e usam o processo de escrita formal para
compartilhar o que aprenderam. A escrita informal deve ser entendida como
um exercício de exploração: frases, pensamentos ou
parágrafos rápidos relacionados com o livro que podem ser
escritos antes, durante ou depois da leitura. Já as atividades
de escrita formais estão relacionadas com o processo de aprendizagem,
compreensão e produção do texto: narrativa, carta,
poema, ensaio, reportagem, etc.
Sobre o Programa de Leitura pouco nos aprofundamos, mas entendemos que
é este tipo de ação que proporciona um ensino de
leitura diferenciado por sugerir o uso de diversos tipos de textos literários
e modos de estimular o ato de ler. O programa adotado no Canadá
e nos Estados Unidos talvez seja o responsável pelos excelentes
índices destes países no PISA – Programa Internacional
para Avaliação de Estudantes.
Em contrapartida, o Brasil de um último lugar em 2001, passou para
37º em 2003 entre os 40 países participantes. O PISA (2003),
baseia-se em um modelo dinâmico de aprendizagem, no qual novos conhecimentos
e habilidades necessários para a adaptação bem sucedida
de um mundo em transformação são continuamente adquiridos
no decorrer da vida. O PISA não avalia só o conhecimento
dos estudantes, mas examina também sua capacidade de refletir sobre
o conhecimento e a experiência, e de aplicar esse conhecimento e
experiência em questões do mundo real. (p. 14)
Com relação às habilidades de leitura,
o programa define o letramento em leitura como “a capacidade de
compreender textos escritos, usá-los e refletir sobre eles de forma
a alcançar objetivos próprios, desenvolver os próprios
conhecimentos e o próprio potencial e participar ativamente da
sociedade" (p.20). Tal definição mostra uma leitura
muito mais do que o simples decodificar de materiais escritos e compreensão
literal destes, incorpora compreensão, interpretação
e reflexão sobre os textos.
Outro índice insatisfatório em leitura foi o do Instituto
Paulo Montenegro que em 2001 realizou a primeira pesquisa nacional sobre
as habilidades de leitura e escrita da população brasileira.
Essas habilidades foram verificadas por meio da aplicação
de um teste e entrevistas que detalharam informações sobre
os usos da leitura em diversos contextos. O INAF – Indicador Nacional
de Alfabetismo Funcional, com base nos resultados do teste de leitura
aplicado à amostra apurou que “9% da população
entre quinze e 64 anos encontram-se na situação de analfabetismo
absoluto, 31% foram classificados no nível 1 de alfabetismo, 34%
no nível 2 e 26% no nível 3.” (Ribeiro, 2003, p. 18)
Notamos, pois, algo em comum nas duas avaliações: o uso
de diversos tipos de textos. Se verificarmos, todavia, os textos que circulam
na escola perceberemos que predominam àqueles presentes no livro
didático. São raras as escolas em que o professor prepara
o seu próprio material didático.
O texto do livro didático, no entanto, segundo Souza (2000), apresenta
alguns problemas. As unidades didáticas seguem uma mesma seqüência,
com poucas alterações: texto, vocabulário, interpretação
do texto, gramática e ortografia, proposta de redação.
Algumas unidades apresentam textos complementares, incluindo poemas ou
cantigas de roda, a autora afirma que o intuito é de ilustrar,
preencher tempo ou espaço em branco do livro editado.
Diante deste quadro, a pesquisa da autora analisa manuais didáticos
para verificar como os textos são trabalhados. Souza (2000) constatou
os seguintes fatores:
a) uma dissociação entre o discurso de apresentação
do autor da coleção didática e a prática,
isto é, esses livros apresentam um programa teórico que
se contradiz na medida em que seus pressupostos não se concretizam
nas atividades propostas;
b) geralmente, o manual didático não apresenta uma coesão
interna à própria unidade, entre as unidades de um mesmo
volume e entre uma série e outra de uma coleção,
em termos de gradação de dificuldades e de seleção
de tópicos a serem estudados; a marca é a fragmentação
de conteúdos ou a repetição de conteúdos de
uma série para outra;
c) uma estrutura comum permeia todas as unidades que se abrem sempre com
um texto, que é seguido pelo estudo do vocabulário, etc.
d) os livros didáticos são elaborados de forma a serem um
material auto-suficiente para o estudo da língua e literatura,
pois não incitam a consulta de outros materiais como dicionários,
gramáticas, antologias, obras integrais, etc.;
e) nessa linha de auto-suficiência, os textos são produzidos
ou adaptados pelos autores do manual com intuito facilitador, principalmente
para as séries iniciais; para as mais avançadas são
preparados fragmentos (nem sempre os trechos mais significativos da obra
do autor) que, muitas vezes, retirados inadequadamente do contexto original,
prejudicam a interação aluno-leitor-texto;
f) a abordagem textual se marca pela “mesmice” dos questionários,
que apresentam padrão comum a qualquer texto, ignorando as especificidades
de tipo e gênero. (p.96)
Outro elemento a se levar em conta, tratando-se do manual
didático, é sua ligação com o pedagogismo.
O texto didático é segundo Azevedo (1999), “um texto
utilitário (foi feito para atingir um fim determinado), escrito
na linguagem mais clara possível, cuja pretensão é
transmitir informações objetivas e ensinar coisas. Isto
significa que ele carrega uma mensagem clara, única, líquida
e certa" (p. 21).
O texto didático limita o leitor em termos de interpretação.
Os textos literários são veículos de arte, utilizam-se
da ficção, da linguagem poética, ambígua,
tendo como preocupação fundamental a motivação
estética. E, segundo vários pesquisadores da teoria da literatura,
são os textos arte, as obras abertas que proporcionarão
ao leitor uma forma de conhecimento na tentativa de compreender a vida
e o mundo. Pois, ainda na perspectiva teórica de Azevedo (1999),
estes textos estão vinculados a noções como a fantasia,
o maravilhoso, o sublime, a analogia, a emoção, o riso,
a metáfora, o desconhecido, etc. Enquanto no livro didático
fala-se em informações, em conceitos gerais, leis e regras,
noções consensuais e oficiais, o texto literário
apresenta sempre um ponto de vista subjetivo, afetivo e particular sobre
os assuntos que aborda.
No entanto, a literatura não tem feito parte dos textos trabalhados
em salas de aula. Dois motivos nos chamam a atenção: a falta
de formação conceptual dos professores responsáveis
pelo ensino da leitura e a carência de materiais de leitura, ou
seja, livros infantis e juvenis.
Este último tem sido motivo de preocupação dos órgãos
responsáveis pelo ensino da leitura: Ministério da Educação,
Secretarias Estaduais de Educação, Secretarias Municipais,
entre outros. Vimos nos últimos anos um acanhado, mas contínuo
investimento em livros literários diversos.
Em 1997, o MEC criou o PNBE – Programa Nacional Biblioteca da Escola
com o objetivo de promover a leitura e o conhecimento de obras literárias
entre professores e alunos e equipar as escolas públicas com um
acervo básico formado por obras “principalmente em relação
à literatura brasileira, de referência e de outros materiais
de apoio.” (MEC, 2004) Foram cerca de 120 livros distribuídos
em mais de 36 mil escolas. Os livros infantis são escolhidos pela
Fundação Nacional do Livro Infanto-juvenil – FNLIJ.
Em 2001, o MEC lançou a campanha “Tempo de Leitura”
com um objetivo semelhante: incentivar e popularizar o hábito de
leitura no Brasil. O tema da ação era “Ler um livro
para os alunos. Ler um livro com os alunos. E fazer o Brasil um País
de leitores.” Em 2002, o tema da campanha foi “Literatura
em minha casa” cuja palavra-chave era “leitura compartilhada”.
Esta campanha continua e alunos de séries iniciais, 4as. séries
receberam consecutivamente em 2002, 2003 e 2004 um Kit, conhecido como
“Kit Literatura em Minha Casa”. Em 2002, no primeiro ano do
programa, alunos de 5as. séries também receberam tais livros,
e, em 2004, além das 4as. séries o MEC decidiu contemplar
também 8as. séries e as salas de EJA – Educação
de Jovens e Adultos.
Trata-se de uma coleção composta por cinco livros literários
de gêneros diferentes: poesia, conto, narrativa, clássico
e obra teatral ou folclore. São seis kits (de várias editoras),
cada criança recebe um e é incentivada à leitura
e à troca dos livros entre os colegas de sala. O objetivo é
“intensificar atividades voltadas à prática da leitura
dentro e fora das salas de aula.” (MEC, 2004)
Outro programa que recentemente incluiu a literatura em suas ações
foi o PNLD – Programa Nacional do Livro Didático. Há
anos o governo federal mantém o PNLD responsável pela aquisição
e distribuição gratuita de livros didáticos. Cabe,
aos diretores e professores, analisar, escolher e selecionar quais manuais
didáticos serão utilizados por suas respectivas instituições
de ensino. Nos últimos anos, a partir de 1998, as Instituições
de ensino puderam optar entre livros didáticos ou módulos
de paradidáticos (módulos literários, obras de ficção
e obras multidisciplinares).
Em recente pesquisa, (Goda, 2004) indica a predileção de
docentes de séries iniciais na adoção do livro didático.
Segundo a autora, os professores sentem-se inseguros diante de tamanha
diversidade textual e afirmam não terem recebido formação
específica para o trabalho com estes textos.
Vejamos, se as avaliações sobre leitura têm se utilizado
de diversos tipos de textos: literários (conto, novelas, crônicas,
poesia, obra teatral, clássicos, etc.); jornalísticos (notícia,
artigos de opinião, entrevistas, etc.); instrucionais (receita,
instrutivo, etc.); epistolares (cartas em geral); publicitários
(cartazes, avisos, propagandas, entre outros); se o livro didático
limita a criança ao contato com este tipo de material de leitura;
se as instituições de ensino adotam manuais didáticos
em detrimento ao texto literário; se os docentes de séries
iniciais declaram-se inseguros e mal formados para o trabalho com os textos
literários diversos e principalmente, se a América do Norte
adota o Programa de leitura fundamentado na literatura, responsável
por formar alunos leitores de diversos tipos de textos, esta pesquisa
propõe definir, entender, analisar e verificar como o ensino de
leitura acontece através do Kit Literatura em Minha Casa.
Neste sentido, ao estudar o Kit , estaríamos criando e vislumbrando
um ensino de leitura e literatura diferencial em que os professores estabelecem
uma “comunidade de leitores” (cf. Hepler,1991). Nesta comunidade,
as crianças escolhem seus próprios caminhos literários,
mas lêem com prazer, tornando-se assim, leitoras.
Um outro resultado esperado com esta pesquisa é o de poder melhorar
o ensino de leitura no Brasil e conseqüentemente adequar o uso de
programas como PNLD, PNBE e “Literatura em Minha Casa” em
escolas do Ensino Fundamental onde atua o grupo de pesquisa “Formação
de professores e as relações entre as práticas educativas
em leitura, literatura e avaliação do texto literário”
do Departamento de Educação da Faculdade de Ciência
e Tecnologia da UNESP de Presidente Prudente.
II. OBJETIVOS
Dado o exposto, o presente projeto tem como objetivos:
1. aprofundamento da definição do Kit Literatura em Minha
Casa, verificando as tipologias textuais e as atividades abordadas no
ensino da leitura;
1.1. através de pesquisa bibliográfica em fontes atuais,
especialmente as norte- americanas, nas quais o esforço de sistematização
do uso da literatura infantil para o ensino da leitura no ensino fundamental
é reconhecidamente profícuo;
1.2. através de entrevistas com docentes de séries iniciais
sobre o programa e suas vantagens e desvantagens no ensino da leitura;
2. tratamento interpretativo do material coletado;
3. redação de relatório sobre os resultados da pesquisa;
4. apresentação dos resultados da pesquisa em eventos de
Iniciação Científica.
III. METODOLOGIA
O presente projeto de pesquisa pretende estudar o ensino da leitura através
do Kit Literatura em Minha Casa. Para tanto, adotamos a pesquisa qualitativa
para analisar os conteúdos, o método e os materiais didáticos
de tal programa.
Trevizan (1995) apresenta duas formas de organização do
método: a “formal” e a “conceptual”. Reconhecendo
a metodologia como “uma prática social e interativa”,
a autora enfatiza a importância da natureza conceptual do método,
afirmando que toda metodologia deve implicar, “além de uma
organização meramente formal do trabalho, ou seja, um processo
de ordenação de passos seqüenciados para se chegar
a um fim, também uma prévia concepção epistemológica
do objeto de estudo”. (p.32) Assim sendo, para estudar o ensino
da leitura no contexto do Kit Literatura em Minha Casa, optamos na “organização
conceptual” da metodologia da pesquisa, pela abordagem qualitativa;
é nossa intenção saber como o programa funciona em
salas de aula norte-americanas. Bogdan e Biklen (apud Ludke, 1986) apontam
como características básicas da pesquisa qualitativa: o
contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação
que estão sendo investigados; o material obtido na pesquisa é
rico nas descrições de pessoas, situações
e acontecimentos; a preocupação com o processo é
maior do que com o produto; o pesquisador considera e atribui significados
aos diferentes pontos de vista dos participantes; a análise dos
dados tende a seguir um processo indutivo. Entre as várias formas
pelas quais se pode assumir a pesquisa qualitativa, destacam-se a pesquisa
do tipo etnográfico e o estudo de caso.
Para a presente pesquisa o estudo de caso nos pareceu mais conveniente,
pois, “se destaca por construir uma unidade dentro de um sistema
mais amplo" (Lüdke, 1986, p.17). Assim, estaremos considerando
como unidade o ensino da leitura, e como sistema os documentos que discutem
e orientam tal ensino através do Kit Literatura em Minha Casa.
Segundo Merriam (1988), o estudo de caso em uma pesquisa qualitativa é
ideal para entender e interpretar observações do campo educacional.
O estudo de caso, então, apresenta características próprias:
a)“o estudo de caso enfatiza a interpretação do contexto”
(Lüdke, 1986, p.18) – isto é, para analisarmos o ensino
da leitura nos documentos oficiais devemos relacionar diferentes fatores
significativos: as matrizes curriculares, as concepções
e modos de ensino sugeridas nos documentos, os materiais e atividades
discutidas também nestes documentos, entre outros.
b) “o estudo de caso busca retratar a realidade de forma completa
e profunda.” (op. cit., p.19)
c) “o estudo de caso busca uma variedade de fontes de informação.”
(op. cit., p.19)
Embora pouco explorada, a análise documental pode ser uma técnica
valiosa na pesquisa qualitativa, completando informações
ou revelando novos aspectos do problema ou tema. São considerados
documentos “quaisquer materiais escritos que possam ser usados como
fonte de informação sobre o comportamento humano" (Phillips,
1974, p. 187). Grande parte de nossa pesquisa será embasada na
análise documental. No entanto, pretendemos também entrevistar
professores de séries iniciais sobre o Kit e suas vantagens e desvantagens
no ensino da leitura.
IV. FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS
Analisar os dados na pesquisa qualitativa “significa trabalhar todo
o material obtido durante a pesquisa, ou seja, as análises de documentos
e as informações disponíveis" (Lüdke, 1986,
p.45).
A análise dos resultados da pesquisa é um processo cíclico
integrado a todas as fases. A tarefa de análise de dados de uma
pesquisa qualitativa implica, primeiramente, a organização
de todo o material, dividindo-o em partes e procurando identificar, nele,
tendências e padrões relevantes. Num segundo momento, estas
tendências e padrões são reavaliados, buscando relações
e interferências num nível de abstração mais
elevado.
No decorrer da pesquisa, estaremos analisando os documentos, as propostas
curriculares, as atividades sugeridas no programa de leitura, as opiniões
dos docentes envolvidos na pesquisa, as vantagens e desvantagens do Kit
e as possíveis relações deste com o ensino da leitura
no Brasil. Categorizar e ordenar este material são o primeiro passo
segundo Sherman (1988) para construir conhecimentos e comparar teorias.
A pesquisa bibliográfica será fortemente direcionada para
as necessidades de análise e interpretação do material,
e será aprofundada através da participação
em seminários e reuniões com o grupo de pesquisa.
Além disso, espera-se que, ao final do trabalho, seja produzido
artigos e relatório, os quais serão apresentados em eventos
da área do ensino da leitura e da literatura.
V. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE SUA EXECUÇÃO
Inicialmente, faremos o levantamento bibliográfico sobre o ensino
da leitura através do Programa Kit Literatura em Minha Casa. Na
pesquisa de pós-doutorado realizada em 2001 muitos títulos
e autores já foram coletados. A leitura destes e outros livros
faz parte de nosso plano de trabalho.
Os Parâmetros para o ensino da língua são documentos
oficiais que planejam orientar professores no seu fazer pedagógico.
Assim, pretendemos ler os documentos oficiais, traçar seu perfil
metodológico, selecionar as matrizes curriculares que orientam
o ensino da leitura do texto literário e verificar as atividades
e tipos de textos sugeridos para tal ensino.
A seguir, analisaremos as entrevistas com docentes, discutindo as vantagens
e desvantagens do Kit. A elaboração e apresentação
de um artigo com os resultados da pesquisa são parte final de nosso
trabalho.
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Pesquisa bibliográfica |
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Análise documental |
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Entrevista com docentes |
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Tratamento do material coletado |
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Participações em seminários |
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Reuniões de trabalho com bolsistas |
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Elaboração de artigos |
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Apresentação de artigos |
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