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PRODUÇÃO
DO CONHECIMENTO VIA ESTRATÉGIAS FORMATIVAS: INTEGRAÇÃO
ENTRE A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES
Maria Antonia Ramos de Azevedo - Unifra /RS antonia@unifra.br
doutoranda USP
Maria de Fátima Ramos de Andrade - Faculdades Integradas Campos
Salles/SP doutoranda PUC/SP mfrda@uol.com.br
Este trabalho tem o intuito de apresentar um estudo introdutório
sobre algumas experiências nacionais e internacionais pela busca
da interação entre Universidade e as Escolas visando a qualificação
da Formação Inicial e a Formação Continuada
dos Professores. Para isso, este estudo apresenta algumas reflexões
sobre os desafios e perspectivas que envolvem a formação
inicial e a articulação dos alunos com a realidade escolar
via ação docente dos professores formadores provenientes
das universidades e os professores em serviço.
Para este estudo bibliográfico, foram utilizados artigos provenientes
dos periódicos científicos, textos, trabalhos desenvolvidos
e artigos apresentados nos últimos anos sobre esta temática.
Já existem experiências significativas referentes aos programas
de formação continuada de professores (FURIÓ, 1994;;
FURIÓ & GIL, 1999; FURIÓ & JÉSUS, 2002) que
norteiam o ensino como processo investigativo envolvidos em grupos cooperativos
mediante tutorias.
Mudanças significativas com o trabalho docente só ocorrerão,
segundo Furió & Jésus (2002), quando os próprios
professores incorporarem tarefas de inovação e investigação
sobre os problemas de ensino, por meio de conexão, integração,
colaboração com equipes de professores universitários
e em serviço criando, assim, o que os autores elencaram de “redes
de investigadores e professores associados”.
O professor passa de consumidor da investigação de outros,
para produtor das suas próprias investigações. Desse
modo, acaba gerando mudanças epistemológicas relacionadas
à ciência e ao seu ensino; alterações atitudinais
via investigação didática e mudanças metodológicas,
promovendo alterações relacionadas a ação
docente.
A temática envolvendo a formação de professores vem
merecendo atenção no cenário nacional e internacional,
pois é consenso geral que a formação é mal
trabalhada e a formação pedagógica dos futuros professores
não é considerada como um componente importante para a qualidade
dos Cursos de Licenciatura. Para os professores universitários,
em geral, os Cursos de Formação de professores desfrutam
de um “status” inferior aos Cursos de Bacharelado e Pós-Graduação.
(AZEVEDO, 1997). Portanto, o fortalecimento dos Cursos de Licenciaturas
nos parece uma ação primeira na construção
da cidadania e da qualificação da Educação
Básica.
Segundo IMBERNÓN (2000, p. 39):
O processo de formação deve adotar os professores de conhecimentos,
habilidades e atitudes para desenvolver profissionais reflexivos ou investigadores.
Nesta linha, o eixo fundamental do currículo de formação
de professores é o desenvolvimento da capacidade de refletir sobre
a própria prática docente, com o objetivo de aprender a
interpretar, compreender e refletir sobre a realidade social e a docência.
.
É preciso, então, que o currículo formativo assimile
um conhecimento profissional básico, que promova experiências
interdisciplinares para que o futuro professor possa integrar os conhecimentos
e os procedimentos das diversas disciplinas com uma nova visão.
A metodologia deve exercitar os processos reflexivos sobre a educação
e a realidade social por meio de diferentes experiências. Por isso,
é preciso derrubar o predomínio do ensino simbólico
e promover um ensino mais direto, introduzindo na formação
inicial um processo de aprendizagem na reflexão educativa, onde
esteja vinculada a teoria e a prática constantemente.
O contato com prática pedagógica enriquece o conhecimento
profissional com outros âmbitos: moral, ético e tomada de
decisões, como discernimento sobre o que deve ser feito em determinadas
situações: disciplina, avaliação, seleção.
A formação permanente deve ajudar o professor a desenvolver
um conhecimento profissional que lhe permita avaliar a necessária
potencialidade e a qualidade da inovação educativa que deve
ser introduzida constantemente nas instituições. Isto pode
se tornar viável por meio de desenvolvimento de processos de pesquisa
colaborativa nas organizações escolares, bem como envolvendo
as pessoas na comunidade escolar que estão vinculadas.
IMBERNÓN (2000, p. 82): Identifica quatro fases para a formação
permanente do professor:
1.Preparação: inclui o começo da experiência
e a negociação sobre a participação e o controle;
2.Revisão: inclui o planejamento, instrumentação,
mobilização de meios, obtenção de informação,
conclusões etc.
3.Desenvolvimento: planeja-se e implementa-se;
4.Institucionalização ou manutenção a inovação.
Partindo desse enfoque a formação de professores converte-se
em processo de autodeterminação, baseado no diálogo,
na medida em que se implanta um tipo de compreensão compartilhada
pelos participantes, sobre as tarefas profissionais e os meios para melhorá-las.
Deve-se analisar elementos desqualificadores no processo de formação,
partindo dos próprios grupos de professores, estabelecendo mecanismos
de reajuste profissional, para que suas atuações, não
se limitem apenas às classes e às escolas, mas sim em diversos
âmbitos (sociais, educacionais e culturais).
Atualmente, o Ministério da Educação e Cultura –
MEC tem apontado, via documentos oficiais, a valoração quanto
ao estabelecimento de parcerias entre Universidade/Escola, mas não
explicita como o governo irá garantir as condições
mínimas para implementação dessas importantes mudanças.
Analisando textos oficiais (MEC/CNE 2002a e 2002b; MEC 2003), o enfoque
volta-se para necessária parceria, definição e implementação
de políticas de formação inicial e continuada dos
profissionais de ensino.
É pertinente acrescentar que os trabalhos que visam promover possíveis
encaminhamentos sobre as parcerias entre as Instituições
de Ensino podem propor, segundo Foresté (2003):
• esforço interinstitucional na construção
da profissionalização de professores do ensino básico;
• introdução de outros espaços institucionais
na formação de professores;
• valorização de diferentes saberes na colaboração
de novos sujeitos para discussão;
• implementação e avaliação de projetos
voltados para a formação de profissionais do ensino.
Assim, apresentaremos a seguir algumas experiências nacionais e
internacionais que apresentam a importância da qualificação
do trabalho que envolve os estágios supervisionados na Formação
Inicial de professores; e também experiências envolvendo
os professores formadores da universidade com a realidade escolar, e conseqüentemente
com os professores em serviço provenientes das escolas que em muitos
casos são chamados de professores/tutores.
Apresentamos a seguir experiências brasileiras e estrangeiras no
âmbito da Formação Inicial e Continuada de professores
destacando a contribuição das mesmas para o desencadeamento
de um processo reflexivo sobre a ação profissional destes
professores.
No caso brasileiro destacamos o trabalho desenvolvido pela professora
Maria Lúcia Vital dos Santos Abib da Universidade de São
Paulo na Faculdade de Educação, no atendimento aos estagiários
do Curso de Licenciatura em Física desta universidade.
Segundo ela, a realização do estágio está
intimamente relacionada com a organização do trabalho mediante
investigação orientada. Os estagiários são
estimulados a desenvolverem um processo de reflexividade acerca do trabalho
docente desenvolvido mediante o processo de ensinar. Com isto, os alunos
ficam frente a frente com as dificuldades, limitações, indagações,
e potencialidades que precisam ser investigadas e postas à prova.
A idéia é promover um ambiente de investigação-ação
participativa que para Zeichner e Noffke (2001) configura-se como uma
pesquisa-ação em espiral onde os alunos planejam, agem e
refletem sob orientação de seu professor de estágio.
Em seu artigo intitulado “A contribuição dos estágios
na formação de professores de Física”, A professora
Maria Lúcia (2002), apresenta eixos norteadores que impulsionem
os alunos a desenvolverem as competências, habilidades e atitudes
necessárias para o exercício da docência, quais sejam:
• Enfocar por meio da problematização, as atividades
que estão sendo desenvolvidas pelos alunos estagiários;
• Analisar os problemas e busca de encaminhamentos via discussões
e teorizações realizadas;
• Manter a perspectiva do contexto escolar e social onde os alunos
estão atuando, analisando-a de forma permanente e sistemática;
• Impulsionar trocas mútuas baseadas em trabalho coletivo
e responsável.
As atividades de estágio organizadas pela professora
Maria Lúcia estão configuradas por três fases:
a) I: ênfase na observação;
b) II: ênfase na observação participante;
c) III: ênfase à intervenção em sala de aula
È
solicitado que durante todo o processo de realização do
estágio, os alunos realizem o registro e a análise de todas
as atividades desenvolvidas, visando auto-reflexão.
O diário como instrumento da prática docente torna-se importante
aliado no processo de aprendizagem e gestão dos conhecimentos adquiridos
e ressignificados por todos e por cada um, de forma única e principalmente
autônoma.
Outra experiência brasileira foi desenvolvida no Instituto de Geociências
da UNICAMP por meio de um projeto intitulado “Geociências
e a Formação Continuada de Professores em exercício
no Ensino Fundamental dos anos finais no período de 1997 a 2000
por meio de uma pesquisa-ação”.
Segundo Campiani, Figuerôa e Newerla (1999) o projeto “prioriza
a atividade do professor na sala de aula envolvendo a educação
continuada de professores segundo duas vertentes complementares entre
si: a formação do professor pesquisador em exercício
e orientação construtivista do processo de ensino-aprendizagem”
pág. 1.
Este projeto possuía 3 eixos norteadores:
• Investigar a Formação de professores em serviço,
• A vivência formativa dos professores em serviço,
• A análise e reflexão do exercício da docência
destes professores em suas respectivas escolas.
A idéia
central foi o desenvolvimento profissional dos professores de diferentes
áreas de conhecimento dos anos finais do Ensino Fundamental com
acompanhamento sistemático da ação docente por meio
de pesquisa ação de cunho investigativo e reflexivo.
As professoras Ethell (2000) da Universidade de Otgan, (Nova Zelândia)
e a Professora McMeniman (2000) da Griffith Universidade (Australiana)
apresentaram idéias centrais sobre o intercâmbio entre a
Universidade e a escola em cursos que formam professores. por meio de
um programa de Formação de Professores intitulado “Student
Teachers as Reflective Practitioners (STRP) Program”. Este programa
esta dividido em quatro estágios:
O 1o. Há a exploração e explicitação
dos participantes sobre as crenças e concepção dos
professores sobre o ensino;
• O 2o. Organiza um bloco de 4 semanas práticas em escolas.
É Proposto um processo de reflexivo sobre a teoria e a Prática
de Ensino;
• O 3o. Convívio e trabalho dos estagiários com professores
experientes por meio do acesso aos pensamentos e análises das práticas
exercidas por estes professores no exercício da docência;
O 4o. Organiza um bloco de 4 semanas em escolas secundárias . Estrutura
reflexiva com uma prática, intitulada “Jornal sobre Ensino
e Aprendizagem”.
Os Futuros Professores durante seus processos formativos participam intensamente
de dois contextos de aprendizagens distintos. Um destes momentos ocorre,
segundo as autoras, dentro do Campus por meio de atividades na sala de
aula que envolvam os alunos nas Teorias Educacionais, Currículo,
Psicologia de Ensino e da Aprendizagem, Estágios de Ensino, etc.
É um período destinado às experiências práticas
onde os futuros professores observam professores experientes no exercício
da ação docente.
As variações destas experiências formativas frente
à realidade brasileira são as diferentes situações
de aprendizagem que vão se desenrolando durante estes momentos
de interação e interlocução dos estagiários
com o trabalho desenvolvido pelos seus próprios professores formadores
e dos professores em serviço nas escolas frente às práticas
de sala de aula nas realidades escolares.
Destacamos aqui algumas destas experiências:
• Situações cognitivas: exige a criação
de oportunidades capazes de garantir ao estudante que o mesmo estabeleça
conexões estruturadas entre os conhecimentos existentes e as novas
estruturas de conhecimento por meio de processos autênticos de aprendizagem;
• Estudos Teóricos e Práticos: estagiários
terão acesso ao pensamento e ação de um professor
experiente devendo refletir e analisar estas observações.
Serão utilizados vídeos e anotações do professor
experiente servindo como material rico de experiência docente para
ser discutido por meio de Oficinas Pedagógicas estruturadas por
meio de 4 fases:
o Observação e interferência: configura-se com um
momento de imersão de inúmeros perguntas e questionamentos;
o Explicitação das teorias empregadas: teorização
das práticas exercidas;
o Reflexão dos professores experientes sobre o trabalho desenvolvido
por eles.
o Contraste de análises e reflexões entre os estagiários
e os professores experientes.
• Utilização de vídeo para análise de
trabalho pedagógico desenvolvido antes e durante o desenvolvimento
das atividades de ensino (planejamento, organização do material...).
Nos Estados Unidos, seguindo o intuito de descrever a importância
do desenvolvimento do pensamento critico e buscando interconexões
entre a Formação Inicial e Continuada dos professores mediante
as experiências formativas, destacamos Collier (1999) da Universidade
de Georgia que apresenta outras situações de aprendizagem
intituladas por ela de “Metodologias para operacionalizar o pensamento
Reflexivo”.
Collier apresenta então quatro caminhos básicos para envolverem
os futuros professores/estagiários no processo reflexivo, quais
sejam:
1). Resenhas analíticas provenientes de pesquisa científica
na área e das atividades que desenvolverem no decorrer do processo
formativo (conferências, observações dos pares, seminários...);
2) Observações com reflexões escritas sobre tudo
que for visto. Questionamento, dúvidas, afirmações
sobre o trabalho pedagógico do professor experiente;
3) Visitas dos estagiários aos seus próprios pares/colegas
apresentando relatórios escritos, contendo comentários das
aulas (planejamento, relação professor-aluno, organização
do trabalho docente, atitude do professor-estagiário...).
4) Seminários em pequenos grupos, pois se caracteriza como componente
fundamental para a colaboração reflexiva entre os pares.
Os temas dos seminários devem ser frutos das análises vivenciadas
durante o processo formativo:
a. Pensamento reflexivo (jornais, artigos).
b. Percepção e efeito do ensino dos futuros professores;
c. Desmistificação das experiências vindas culminando
com reflexão existente.
É importante ressaltar a necessidade de conceber a formação
de professores como um “continum”. Apesar de terem fases diferentes
do ponto de vista curricular, a formação de professores
é um processo que tem que manter princípios éticos,
didáticos e pedagógicos comuns, independentemente do nível
de formação de cada professor.
Neste sentido, a indagação reflexiva pode ser uma estratégia
que os futuros professores podem vir a utilizar no exercício da
docência, facilitando uma tomada de consciência dos desafios
e perspectivas frente ao trabalho pedagógico.
A reflexão é por sua vez, na atualidade, um dos conceitos
mais utilizados por investigadores, formadores de professores e educadores
diversos.
É importante, então, que na Formação do Professor
haja o estabelecimento de estratégias de pensamento, de percepção,
de estímulos que centram a tomada de decisões para processar,
sistematizar, comunicar e refletir o conhecimento.
Yost, Sentner e Forlenza-Bailey (2000) da Universidade La Salle e Hartford
acreditam na idéia da construção do pensamento crítico
nos Cursos de Formação de Professores, por meio da correlação
da Instituição Formadora com a realidade que se apresenta,
por meio da construção de situações de ensino
criativas, integrando a teoria e pratica. Em função disto,
o uso do diálogo, da pesquisa-ação (por meio de projetos),
e a análise metódica e cientifica da realidade vivida tornam-se
estratégias formativas que possibilitam o desenvolvimento do pensamento
reflexivo e crítico e, ao mesmo tempo, podem contribuir para o
estabelecimento de parcerias envolvendo a universidade e a escola.
Schulman (1987) destaca, então, a importância dos futuros
professores desenvolverem, na formação inicial e continuada,
diferentes tipos de conhecimentos para poderem fazer escolhas e agirem
com responsabilidade e competência profissional.
A concepção de Schummann se baseia na idéia de que
os professores devem ter como conhecimento básico, o conhecimento
do conteúdo, do material pedagógico e das estruturas do
conhecimento pedagógico compreendendo a educação,
o ensino e a aprendizagem ao desenvolverem o conhecimento que vem da prática.
Para Schumann (1992) as estratégias formativas que devem emergir
dos Cursos de Formação de professores provem de uma análise
profunda das diferentes situações educativas intitulado
por ele de “casos.”.
O importante na delimitação de um caso é a possibilidade
do mesmo ser escrito, trabalhado, discutido e refletido por todas as pessoas
envolvidas com o processo formativo: professores formadores, os professores
provenientes das escolas e também pelos próprios alunos
estagiários. Logo, esta estratégia formativa pode ser utilizada
na Formação inicial em consonância com a Formação
Continuada dos professores.
Schulman (1992) estabelece, neste sentido, um paralelo a construção
de um caso, a uma peça de teatro contendo 3 grandes atos:
1o. Ato: planejamento e definição do objetivo;
2o. Ato: A ação realizada;
3o. Ato: A resolução dos conflitos, a revisão, a
análise e a reflexão;
As estratégias de formação, segundo Schumann (1992)
que se baseiam em casos, enquadram-se em abordagens do tipo reflexivo
hoje valorizadas, e que não são alheias as influências
do movimento da psicologia cognitiva.
Infante, Silvia e Alarcão (1996) no artigo intitulado “Descrição
e Análise Interpretativa de Ensino: Os Casos como Estratégia
de Supervisão Reflexiva” enfocam que os “casos”
devam ser distinguidos, pois para eles o estudo de caso deve ser utilizado
como estratégia de investigação e a análise
de casos como estratégia de formação; pois as análises
dos casos constitui-se como história escrita que busca retratar
o processo analítico e reflexivo do conhecimento do professor.
Os casos possibilitam o desenvolvimento de inúmeras habilidades
teóricas e também práticas, pois ao partir da resolução
de problemas abre-se um leque de possíveis configurações
que necessitam ser analisadas e refletidas.
Reforçando ainda mais estas idéias das estratégias
formativas, Cardoso, Peixoto Serrano e Moreira (1996) no artigo “O
Movimento de Autonomia do Aluno: Repercussões a Nível de
Supervisão “ apresentam a necessária mudança
de paradigma na Formação de Professores, para que haja a
promoção da autonomia de pensar e do fazer crítico
dos formadores, dos professores em serviço e dos futuros docentes.
Para tanto, os autores são categóricos em afirmar que são
necessárias metodologias formativas que ensinem a pensar. O ensinar
a pensar exige que haja um processo reflexivo sobre o que está
sendo pensado de forma sistemática.
É necessário, então na visão dos autores,
que os cursos invistam no desenvolvimento do pensamento metacognitivo,
pois enquanto os processos formativos que envolvem os futuros professores
e os professores em serviço continuarem a limitar o processo do
pensar sobre o conhecimento, a realidade, e o Homem, a Educação
continuará também limitada uma ação reprodutora
de conhecimento.
Cardoso et al (1996) ao apresentar algumas estratégias que podem
vir a contribuir consideravelmente para a conexão entre a Formação
Inicial e Formação Continuada, por meio do pensamento crítico
reflexivo, enfatiza o valor e a importância da resolução
de problemas e do trabalho com projetos, de forma a unir as diferentes
estâncias formativas e promover a qualificação do
ensino e da aprendizagem nestes ambientes formativos. Estas estratégias
por meio de projetos e de resolução de problemas podem se
configurar dentro das Práticas de Ensino e dos Estágios
Supervisionados.
Novais e Cruz (1989) apresentam cinco componentes por onde perpassaria
o processo de resolução de Problemas quais sejam:
• identificação do problema,
• definição do que será analisado,
• exploração de possíveis encaminhamentos ,
• ação propriamente dita ,
• observação criteriosa e analítica de que
for vivenciado e aprendido de fato.
O trabalho envolvendo projetos que buscam desenvolver o processo de pensar
de forma analítica; a metacognição, poderá
reestruturar os próprios Cursos de Formação de Professores,
tanto inicial como continuada, pois, aborda e provoca a autonomia tanto
dos futuros professores, como dos professores em serviço.
O ensino é encarado como um processo investigativo, onde as experiências
do professor são valorizadas e revistas por meio de uma prática
reflexiva sistemática e permanente do fenômeno educacional.
Nesse sentido, torna-se importante que os cursos de Formação
de Professores repensem, dentre outros aspectos, as matrizes estruturais,
conceituais e operacionais dos seus currículos, tendo claro o tipo
de profissional que desejam formar, estabelecendo reais parcerias com
as Escolas e se apropriando de estratégias formativas que potencializem
o processo reflexivo e metacognitivo dos professores.
Na Espanha, Villar (1987) sugere, para a consolidação de
algumas estratégias formativas, da construção de
uma relação dialógica envolvendo futuros professores
com seus tutores/professores por meio do:
a) Dizer e escutar: as idéias/conhecimentos importantes que o tutor
apresentar devem ser contextualizadas no próprio ambiente em que
o aluno está operando, estando atento, também, àquilo
que o aluno diz, escutando-o e enxergando nos seus desenhos/situações
problematizadores os seus questionamentos e anseios. O processo de dizer
e escutar acabam por exigir do tutor que, ao discorrer sobre as idéias/conhecimentos,
reflita sobre elas constantemente, compreendendo inclusive as dificuldades
e os caminhos que o aluno vai percorrer para compreendê-las.
b) Demonstrar e imitar: o tutor faz demonstrações e age,
interagindo no contexto e auxiliando o aluno na compreensão daquilo
que ele necessita aprender. O aluno observa, examina atentamente o fazer
do tutor na situação problematizada, construindo seletivamente
na imitação, a possibilidade de novos encaminhamentos.
Esses processos (dizer-escutar/demonstrar-imitir) combinados facilitam
a compreensão e inserção dos alunos na realidade,
contribuindo para possíveis canais de comunicação
verbal e não-verbal de seus tutores/professores e colegas.
Essa interação propicia uma “supervisão reflexiva”
num clima de crescimento conjunto e trabalho coletivo em que o diálogo
favorece a interação e o próprio entendimento dos
problemas que são, por assim dizer, desenhados/alinhavados. A supervisão
tem, pois, o papel de propiciar a parceria, o trabalho coletivo/mútuo
entre os envolvidos, não se resumindo apenas em uma atitude de
distanciamento e cobrança. Para facilitar esse clima de supervisão
reflexiva, Schön (1992) utiliza uma metodologia baseada na premissa
de que o "aprender fazendo" deve ser conjugado com diferentes
estratégias formativas, que pode ocorrer de três maneiras
mutuamente não excludentes: siga-me (imitação, processo
de construção seletiva), experiência compartilhada
(trabalho coletivo) e sala de espelhos (reorganização virtual
dos marcos conceituais), onde eles poderão modificar o contexto
conhecendo-o, inicialmente, para intervir nele e transformá-lo
por meio da análise dos fenômenos que o compõem.
Modifica-se o referencial das próprias pessoas que interagem nessa
realidade como os tutores e alunos que não mais se vêem distanciados
dos problemas concretos do dia-a-dia, mas agora fazendo parte deles, tendo
papel decisivo, refletindo seus pensamentos e atitudes e sabendo, assim,
que ambos modificam o quadro social/educacional de que fazem parte.
Esses momentos, que acabam sendo estratégias formativas de ação,
utilizadas entre professor/tutor e aluno, buscam aproximá-los em
atividades altamente reflexivas, mediante estratégias de tutoramento
pautadas nas idéias de se “aprender fazendo”, num diálogo
mútuo entre eles.
Siga-me é uma modalidade em que o professor/tutor vai demonstrando
determinado assunto refletindo sobre o mesmo: “o formador demonstra,
descreve o que demonstra, reflete sobre o que faz e o que descreve. De
igual modo procede ao formando, ao interrogar-se sobre o sentido da ação
observada e descrita” (ALARCÃO, 1996, p. 20).
O aluno consegue, dessa forma, compreender a maneira como o tutor estabelece
relações ou cria conhecimentos para interpretar e construir
a realidade.
A experiência compartilhada retrata a possibilidade de o trabalho
ocorrer de forma coletiva onde, por meio da resolução de
um determinado problema, formador e formando (lado a lado) buscam resolvê-lo.
Já na sala de espelhos, o formando e o formador reavaliam posicionamentos
e idéias, refletindo sobre as mesmas: “formando e o formador
movem-se em registros homólogos: o registro da prática propriamente
dita e o registro da aprendizagem como preparação para a
atuação profissional (...)” (ALARCÃO, 1996,
p.2).
Na sala de espelhos ocorre a integração entre os pontos
de vista internos e externos da prática anterior do aluno com a
nova prática que acaba de aprender e visualizar reflexivamente.
Ele acaba por se deparar com as posturas adotadas anteriormente e, ao
mesmo tempo, consegue enxergar outras abordagens que se fazem presentes,
tendo condições de visualizar o caminho escolhido, modificando-o
posteriormente.
O professor/ tutor esforça-se para ir ao encontro do aluno e entender
o seu próprio processo de conhecimento, ajudando-o a articulá-lo
na realidade do curso de formação e na realidade escolar,
prestando atenção na maneira como o aluno compreende o conhecimento
e os seus diferentes graus de dificuldades.
Conforme Schön (1992), esta interação propicia o conhecimento
do pensamento e raciocínio do aluno exigindo, assim, que o professor
busque mapear o processo metacognitivo vivenciado ao:
a) surpreender se pelo que o aluno faz e reflete sobre esse fato;
b) pensar sobre aquilo que o aluno disse ou fez e, simultaneamente, procurar
compreender a razão por que foi surpreendido;
c) reformular o problema suscitado pela situação;
d) efetuar uma experiência para testar sua nova hipótese
que formulou sobre o modo de pensar do aluno;
e) trabalhar com as representações múltiplas (figurativas
e fixas) com que o aluno se depara na escola.
As representações figurativas são agrupamentos situacionais
contextualizados que retratam as relações estabelecidas
na maior proximidade possível das experiências cotidianas.
Já as representações formais implicam o saber escolar,
retratando linhas, escalas, mapas, medidas, etc.
O trabalho que o professor realiza com o aluno frente às diferentes
representações acima citadas deve voltar-se para a associação
de ambas, evitando considerá-las de maior ou menor valor.
O professor, ao utilizar estratégias formativas, pode modificar
sua prática pedagógica, investigando-a. "Nesta perspectiva,
a formação inicial e continuada de professores centradas
na investigação envolve esforços no sentido de encorajar
e apoiar as pesquisas dos professores a partir de suas próprias
práticas" (ZEICHNER, 1992, p.126).
Schön e Zeichner (1992) descrevem diferentes formas de estimular
o professor a utilizar o ensino como forma de investigação.
O ensino é encarado como um processo investigativo, onde as experiências
do professor são valorizadas e revistas por meio de uma prática
reflexiva sistemática e permanente do fenômeno educacional.
Nesse sentido, torna-se importante que os cursos de Formação
de Professores repensem, dentre outros aspectos, as matrizes estruturais,
conceituais e operacionais dos seus currículos, tendo claro o tipo
de profissional que desejam formar, estabelecendo reais parcerias com
as Escolas e se apropriando de estratégias formativas, que potencializem
o processo reflexivo e metacognitivo dos professores.
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