Carla Gruzman e Adriana M. de Assumpção
- carlag@coc.fiocruz.br; assumpcao@coc.fiocruz.br - Museu da Vida / Casa
de Oswaldo Cruz / FIOCRUZ
Antes de serem escritores, fundadores de um espaço
próprio, herdeiros dos lavradores de outrora, porém, no
solo da linguagem, escavadores de poços e construtores de casas,
os leitores são viajantes; circulam pelas terras alheias, nômades
caçando furtivamente pelos campos que não escreveram...
Michel de Certeau
A Leitura é sempre apropriação, invenção,
produção de significados
Roger Chartier
I – Introdução
O que podemos dizer das cidades? A cidade pode ser retratada
de diferentes maneiras. Numa primeira concepção podemos
identificar o conjunto de habitantes, suas edificações na
delimitação de tempo/espaço e as relações
sociais e econômicas tecidas entre eles. Na contemporaneidade compreende
ainda, uma complexa rede de interações formada pela diversidade
da vida social e cultural, lugar de circulação de saberes
e poderes, além de servir como cenário para o surgimento
de sonhos e conflitos. A cidade é também das crianças
e dos jovens. Daquelas e daqueles que moram em bairros ou em comunidades;
que andam em bandos e precisam estar atentos a fronteiras invisíveis;
crianças que brincam sozinhas em casa e outras que se divertem
com os mais diferentes artefatos presentes no seu cotidiano; crianças
e jovens que calam e outras que se manifestam nas escritas por aí
– nas paredes da cidade. Em meio às intensas mudanças
que estão ocorrendo no mundo, onde a idéia de globalização
vem sendo apresentada como uma maior oportunidade de participação
dos indivíduos na sociedade, observamos a convivência de
realidades diversas, expressão da pluralidade social e cultural.
Por tudo isso, pensar na Rosa de Hiroxima, poesia de Vinícius de
Moraes, é também refletir sobre a necessidade de confrontar
conhecimentos produzidos na cidade e que aparecem nas atuais antinomias,
tais como: particular/global, acolhimento/distanciamento, esperança/desespero,
pertencimento/exclusão, apropriação/mudez.
Deixamos marcas na cidade. Sinais que revelam a estreita ligação
dos dias atuais com a história. No livro intitulado As Cidades
Invisíveis o escritor Ítalo Calvino (2002) nos traz o fascínio
que sente pelo simbolismo da cidade. Aborda a singularidade de cada uma
delas aos olhos do viajante Marco Pólo que, por sua vez, ocupa-se
em apresentá-las situando-as no imenso império do conquistador
mongol Kublai Khan. Zaíra é a escolhida para falar sobre
As Cidades e a Memória. O viajante afirma ser inútil descrevê-la.
Continua sua narrativa ponderando que se para uns a cidade constitui-se
de ruas, pórticos, tetos recobertos de zinco e palácios,
no seu entendimento a cidade é feita das relações
entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado:
a distância do solo até um lampião e os pés
pendentes de um usurpador enforcado, o fio esticado do lampião
à balaustrada em frente e os festões que empavesavam o percurso
do cortejo nupcial da rainha... os rasgos nas redes de pesca e os três
velhos remendando as redes, que, sentados no molhe, contam pela milésima
vez a história da canhoneira do usurpador, que dizem ser o filho
ilegítimo da rainha abandonado de cueiro ali sobre o molhe. Assim,
por meio de diferentes textos, Calvino expõe a dificuldade de retratar
a complexidade das cidades apresentando somente as suas linhas geométricas.
Em sua narrativa evidencia as alegrias e tristezas, as diferentes épocas,
os símbolos, as várias histórias presentes em cada
canto e nos objetos, os conflitos e esperanças, a relação
entre os grupos, enfim, as intrincadas relações humanas
que se fazem presente.
Se a literatura nos evoca a reflexão por meio da imaginação,
as considerações do geógrafo Milton Santos (2000)
sobre a dimensão histórica do desenvolvimento das cidades
nos levam por outros caminhos. O autor entende que o atual processo de
globalização é excludente e esclarece que a distorção
da noção de tempo e espaço criou uma falsa impressão
de igualdade, onde os indivíduos teriam a mesma oportunidade de
participação como se todos tivessem acesso aos avanços
da ciência e da técnica. Argumenta ainda que somente a partir
de uma outra percepção deste universalismo, que admita a
instabilidade do momento atual, as mudanças permanentes, o enfeixe
das contradições presentes na realidade e que contenha as
condições de transformações ainda não
previstas, será possível iluminar o caminho para a disseminação
de ideais mais democráticos e participativos.
Por outro lado, a cidade também se constitui de bens culturais,
concretos e simbólicos, que originam o patrimônio cultural
de determinada localidade. Como um fluxo dinâmico, orientado por
determinados valores e interpretações, a cada época
a compreensão de patrimônio cultural é redefinida.
Ao tratar da herança cultural de diferentes lugares em todo o mundo,
a Organização das Nações Unidas para a Educação
e Cultura – UNESCO – destacou, em relatório da Assembléia
Geral das Nações Unidas (2001), a importância de proteger
e promover, tanto os aspectos tangíveis quanto os intangíveis
dos povos. Referindo-se não somente aos aspectos físicos/materiais,
como também às manifestações contidas nas
tradições, nos saberes, nas línguas, nas festas,
enfim, em várias formas de conhecimento transmitidas, recriadas
coletivamente e modificadas ao longo do tempo. Com esta declaração
ampliou as possibilidades de resguardar e dar continuidade às manifestações
de determinadas comunidades e promover a re-ligação destas
com a sua história e identidade.
O acesso aos bens culturais diz respeito a todos nós educadores.
Com relação ao acesso à leitura e à escrita,
podemos dizer que durante milhares de anos estes bens culturais foram
monopolizados pelas elites e inalcançáveis para a grande
maioria da população. A apropriação da leitura
e da escrita se dá no contato permanente com o material escrito
e de qualidade; na variedade dos modos de ler; na compreensão e
familiaridade com os suportes utilizados; e no usufruto dos lugares dedicados
à leitura, que por sua vez, vão sendo modificados e reinventados
de acordo com o contexto histórico e social em que se inserem.
O foco deste trabalho volta-se para as práticas de leitura, mais
especificamente para as ações que envolvem a leitura literária
e a formação de leitores no âmbito de um espaço
não-formal de educação – o museu de ciências.
Apresenta a constituição do Programa Leitura e Ciência
no contexto do Museu da Vida – seus objetivos, metodologia e organização
–, assim como busca destacar algumas das narrativas, que integram
o momento do debate do evento mensal, onde participam pesquisadores, o
grupo de contadores de histórias e o público visitante.
II – Práticas de Leitura e Educação
Não-Formal
A preocupação com a leitura e a formação
do leitor tem sido expressa ao longo dos últimos anos, tanto no
âmbito escolar, a partir de diferentes ações que integram
professores, pais e alunos, quanto na esfera da educação
não-formal, onde iniciativas preciosas buscam alcançar leitores
de diferentes faixas etárias, grupos com interesses específicos
e comunidades de um modo geral.
No campo da educação formal os estudos abordam os saberes
envolvidos no cotidiano do ensinar e aprender, as múltiplas linguagens
que permeiam as práticas de leitura e as diferentes dimensões
que atuam na difusão da literatura e formação do
seu público, entre outros (Lajolo, 2002; Paiva, 2003; Soares, 2003).
Em outra esfera de ação, iniciativas preciosas de incentivo
à leitura promovidas pela Fundação Nacional do Livro
Infantil e Juvenil/FNLIJ e PROLER/Biblioteca Nacional, buscam alcançar
leitores de diferentes faixas etárias, grupos com interesses específicos
e comunidades de um modo geral (Serra, 1999).
Agenciais internacionais como a UNESCO também tem contribuído
com estas reflexões. Novos delineamentos do campo da educação
discutem ferramentas e conteúdos essenciais para a aprendizagem,
assim como os valores e atitudes para viver e desenvolver a capacidade
humana no mundo atual. As diretrizes e recomendações geradas
por estas organizações apontam não somente para a
erradicação do analfabetismo como prioridade máxima,
mas também buscam garantir principalmente a educação
continuada para todos e por toda a vida (Delors, 1998; Morin, 2000).
A relevância do ato de ler não está relacionada somente
à capacidade de reconhecer palavras e decodificar determinados
caracteres. Muito além dessa possibilidade, a leitura se relaciona
à capacidade de atribuir sentido aquilo que se lê. Numa visão
mais ampla, ler é compreender e interpretar o ambiente que nos
cerca, o mundo em que vivemos, a partir das informações
obtidas ou diante dos acontecimentos do dia-a-dia e com isso participar
de forma mais crítica e plena na sociedade (Freire, 1983). Estes
atributos relacionam a formação do leitor ao exercício
da cidadania. Assim, promover a leitura é poder compartilhar com
o outro não somente os aspectos estéticos e afetivos do
gosto pela leitura, que deixam nossos olhos brilhando, mas também
agir de maneira ativa no desenvolvimento dos aspectos cognitivos que se
relacionam ao conhecimento, possibilitando o desenvolvimento da capacidade
de análise e de crítica.
A partir deste contexto surgem algumas questões: a quem cabe a
tarefa de promover a leitura? Que contribuições um museu
de ciências pode trazer para este debate? Que ações
podem favorecer o gosto pela leitura? Como potencializar o diálogo
entre a literatura e a ciência? Será o museu um local próprio
para estas reflexões?
O museu é atualmente reconhecido por sua missão cultural,
que une as funções de preservar, conservar, pesquisar e
expor, às práticas educativas. O compromisso de colocar-se
a serviço de uma sociedade em constante transformação
orienta os trabalhos desenvolvidos, a fim de sensibilizar os indivíduos
sobre o seu patrimônio cultural, universal e local e empreender
um diálogo constante com os diferentes públicos que o freqüentam.
Desta maneira, o museu volta-se também para a diversidade de expressões
culturais no interior de cada comunidade, orientando suas ações
visando um mundo plural.
A profissionalização do museu e as práticas museológicas
que se firmaram no decorrer do desenvolvimento destas instituições
impulsionaram uma série de iniciativas de âmbito internacional
para a constituição de órgãos que dispõem
sobre as suas atividades: o Conselho Internacional de Museus – ICOM
– está entre eles. Sua finalidade é norteada para
a promoção e desenvolvimento tanto institucional como da
profissão museal, conduzindo as suas ações a partir
de uma museologia pautada no desenvolvimento social.
Os debates mais recentes do ICOM mostram que suas preocupações
não se restringem às funções e organicidade
da instituição museal. Suas atenções voltam-se,
também, para os conceitos com os quais o museu vem trabalhando,
visando uma maior interação com o contexto social e com
o patrimônio cultural (Studart et al, 2002).
Caminhando neste mesmo sentido, as conferencias anuais do Comitê
Internacional para Ação Educativa e Cultura – CECA/ICOM
– constituem-se como importantes fóruns de discussão,
estratégia de atualização e intercâmbio profissional.
Segundo o texto elaborado pelo CECA/Brasil para a Conferência Anual
na cidade de Nairobi, no Quênia em 2002, destaca-se a preocupação
com o binômio inclusão-exclusão social no que diz
respeito à instituição museal: como organização
cultural, tanto pode executar um papel numa rede de elementos excludentes
ou, por oposição, servir de ferramenta para a inclusão
social. Neste sentido, postula que o espaço museal deve se voltar
para a participação ativa dos indivíduos e para o
compromisso de uma ação educativa transformadora (Studart
et al apud Aidar, 2002).
No Brasil, um importante passo foi dado ao se aprovar em 2003 as bases
para uma Política Nacional de Museus. De acordo com o documento
sua implementação deve ter como premissa a democratização
do acesso aos bens culturais produzidos, bem como a democratização
dos dispositivos de estímulo e incentivo à dinâmica
de produção de bens culturais representativos de diferentes
grupos sociais e étnicos, de diferentes regiões e localidades
existentes no País (Departamento de Museus e Centros Culturais,
2005).
No cumprimento desta missão, os museus buscam oferecer um variado
leque de oportunidades para explorar suas exposições e espaços
museográficos, propondo à audiência atividades para
os diferentes públicos que o freqüentam (estudantes, professores,
famílias, especialistas, pesquisadores, comunidades etc.). Reconhecidos
como espaços de educação não-formal, os museus
são considerados como locus privilegiado para a aproximação
entre os aspectos afetivos, cognitivos, sensoriais, do conhecimento concreto
e abstrato, bem como da produção de saberes.
A educação não-formal, tal qual a educação
formal, tem como função a socialização do
indivíduo, mas se diferencia desta última na forma como
são aplicados seus objetivos. Atualmente, no museu de ciência,
as ações educativas visam oferecer distintas formas de comunicação,
colocam à disposição informações sobre
o patrimônio cultural, favorecem a relação de diálogo
entre educador/educando, buscam instigar a curiosidade e o deleite do
público visitante e almejam o debate sobre ciência e cotidiano.
Neste sentido, várias práticas direcionadas à educação
e à divulgação científica vêm sendo
empreendidas junto ao público infanto-juvenil - a articulação
entre leitura, literatura e ciência pode estar entre elas.
III – O Museu da Vida
O Museu da Vida integra a Fundação Oswaldo
Cruz – FIOCRUZ -, instituição vinculada ao Ministério
da Saúde do Brasil, que desenvolve ações na área
da ciência e tecnologia em saúde.
O Museu da Vida tem por objetivo informar e educar em ciência, saúde
e tecnologia de forma lúdica e criativa, garantindo o acesso do
público a seus espaços museológicos, por meio de
exposições temporárias e itinerantes, atividades
culturais, multimídias, teatro, vídeo, jogos etc. Visa ainda
o desenvolvimento de atividades de ensino, formação e capacitação
de recursos humanos e atividades de pesquisa em suas áreas de competência.
Por ser um Departamento da Casa de Oswaldo Cruz , o Museu assume características
únicas, refletindo a cultura, a missão e o compromisso social
da instituição. Seus temas centrais são a vida enquanto
objeto do conhecimento, saúde como qualidade de vida e a intervenção
do homem sobre a vida.
Localizado no campus da FIOCRUZ no bairro de Manguinhos – Zona Norte
do município do Rio de Janeiro, o Museu situa-se numa área
verde às margens da Avenida Brasil. Esta região é
rodeada por bairros populares que formam o Complexo de Manguinhos e o
Complexo da Maré. Área densamente habitada e conhecida por
sua situação de alto risco social, concentra ainda grande
número de escolas públicas que atendem ao ensino fundamental
e médio, subordinadas às Secretarias Municipal e Estadual
de Educação.
Nos idos da década de 1990, a comunidade da FIOCRUZ deliberou a
favor da criação de um museu de ciência e tecnologia
a ser implementado no campus de Manguinhos. Tal iniciativa foi respaldada
pelo conjunto de atividades que a instituição já
vinha desenvolvendo no campo da divulgação e educação
em ciências. De modo que a idéia central desta resolução
foi sistematizar e ampliar as diferentes ações empreendidas,
buscando estruturá-las e organizá-las em torno de um espaço
museológico. (Fundação Oswaldo Cruz, 1994).
A aprovação do projeto do Espaço Museu da Vida (como
foi nomeado inicialmente) deu início ao desenvolvimento de seus
espaços museográficos, constituído por áreas
temáticas, visando à integração de diferentes
campos do conhecimento. A inauguração do Museu da Vida ocorreu
em 25 de Maio de 1999, data na qual a Fundação Oswaldo Cruz
iniciou as comemorações de seu centenário (1900-2000).
Atualmente, o circuito de visitação do Museu da Vida integra
o Centro de Recepção, destinado a informar e orientar o
visitante, e quatro áreas de exposição permanente:
a Biodescoberta, que aborda o conhecimento científico a respeito
da vida e da biodiversidade; o Parque da Ciência, que discute a
energia, a comunicação e a organização dos
fenômenos vitais; o Ciência em Cena, dedicado à articulação
entre os campos da arte e ciência e o Espaço Passado e Presente,
voltado para a história institucional e para a arquitetura do Castelo
Mourisco – parte do conjunto de construções históricas
da FIOCRUZ. Compreendendo um total de 25.000m2, ocupa diferentes edificações
e espaços do campus de Manguinhos.
No que tange aos aspectos pedagógicos, as atividades do Museu tomam
por base os trabalhos do Centro de Educação em Ciências
- CEC. Mesmo antes da inauguração de seus espaços
expositivos, o Museu da Vida já contava com o setor. Concebido
como área de articulação de saberes da pedagogia
museal, contribui para promover a integração dos diferentes
espaços temáticos do Museu da Vida na realização
de suas atividades.
Inicialmente responsável pela construção da unidade
pedagógica do Museu e por atividades de educação
continuada para professores e alunos do curso de formação
de professores , o Centro de Educação em Ciências
hoje tem como missão (Fundação Oswaldo Cruz, 2002):
1) Implementar, subsidiar e avaliar as diretrizes pedagógicas
do Museu da Vida, atuando como promotor de intercâmbio e reflexão
conjunta entre os diversos espaços e áreas do museu, contribuindo
para a formulação, a realização e a avaliação
de suas atividades educativas;
2) Formar e capacitar quadros, no âmbito de suas competências,
para a atuação neste Museu;
3) Desenvolver a articulação com o sistema formal de educação,
propondo, implementando e avaliando as atividades e produtos destinados
ao público docente e discente;
4) Produzir conhecimento na sua área de competência;
Além destas atribuições, o Centro
de Educação em Ciências também é responsável
pela condução e desenvolvimento da Biblioteca do Museu.
IV – O Programa Leitura e Ciência
A proposta do Programa Leitura e Ciência surge da
iniciativa do Centro de Educação em Ciências do Museu
da Vida em sensibilizar e fundamentar a sua equipe de profissionais para
o desenvolvimento de atividades voltadas à promoção
da leitura, a partir da literatura.
A intenção de entrelaçar as práticas de leitura
e, mais especificamente, o texto literário com as temáticas
da ciência e da saúde, implica em desfrutar com outros a
convivência com textos variados, e, ainda, trazer para a discussão
temas de interesse geral do público que necessitam ser questionados
para serem melhor compreendidos. Ler e contar histórias instiga
a imaginação e a curiosidade, agrega pessoas e suscita uma
gama de emoções em quem as ouve ou as lê. No decorrer
do encontro, desperta interesses, favorece a troca de idéias, permite
identificar questões relevantes e contribui para melhor compreender
o mundo que nos cerca, base para a formação de um leitor.
No Museu de Ciências, este processo busca fomentar o debate sobre
ciência e cotidiano com os visitantes. Ancorado nas atividades voltadas
à divulgação e educação em ciências
propostas pela instituição, transforma-se numa estratégia
educativa. (Gruzman et al, 2004)
Este Programa integra um dos eixos de atuação do Centro
de Educação em Ciências designado como Linguagens,
Processos e Produtos e direcionado, mais especificamente, para a elaboração,
desenvolvimento e acompanhamento de atividades centradas na mediação
cultural. O Programa estrutura-se em três linhas de ação:
1) Participação da equipe de Contadores de Histórias
nas atividades do Museu da Vida; 2) Formação e capacitação
de mediadores em leitura; 3) Pesquisa sobre leitura e ciência em
contextos de educação não-formal. Sua proposta de
trabalho baseia-se na articulação entre literatura infanto-juvenil
e ciência a partir das temáticas relacionadas à saúde
e ambiente contempladas pelo Museu e pela Fiocruz.
Participação da Equipe de Contadores de Histórias
nas Atividades do Museu da Vida
O Programa Leitura e Ciência, hoje, conjuga as demandas
identificadas pelo Circuito de Visitação do Museu à
orientação pedagógica do Centro de Educação
em Ciências, reunindo os seguintes grupos de atividades:
? Histórias no Fim de Semana – integram o conjunto de atividades
que abordam arte e ciência previstas para ocorrer a cada terceiro
sábado do mês. O fio condutor da atividade está pautado
na possibilidade de articular literatura, ciência e cotidiano a
partir de temáticas que se relacionam aos conteúdos gerais
de nossa instituição – ciência, saúde
e tecnologia. Sua concepção consiste na formação
e atuação de um grupo de contadores de histórias
que aborda o tema em destaque; a contribuição de um pesquisador
que traz o depoimento sobre o seu trabalho cotidiano; seguido de um momento
de debate com o público e a presença de todos os participantes.
? Eventos Especiais – os contadores de histórias participam
de eventos na própria FIOCRUZ como o Dia D de Combate à
Dengue, Dia das Crianças no Museu, Paixão de Ler, Fiocruz
prá você, Aniversário do Museu, Dia do Meio Ambiente,
Alimentação Saudável, Genes no Parque, Aniversário
do Instituto Fernandes Figueira, etc. O público desses eventos
é composto principalmente por moradores das comunidades do entorno
da FIOCRUZ. Além de eventos externos como Tudo ao mesmo tempo no
Rio (4ª CRE/ Prefeitura do Rio), Natal no Hospital Geral de Bonsucesso.
? Atuação nas Exposições Itinerantes –
em algumas exposições a equipe do Programa Leitura e Ciência
é solicitada a elaborar uma estratégia pedagógica,
com a participação dos contadores de histórias, visando
a temática central da exposição. Em 2003 os Contadores
participaram da Exposição Dengue (inaugurada no Centro Cultural
da Saúde), além de realizar um mini – curso para mediadores
em leitura oferecido aos monitores da exposição. No mesmo
ano, com a exposição Baleia à Vista a participação
da equipe do Programa deu-se em dois momentos: primeiro na concepção
de um módulo interativo (composto por dois expositores interativos
de poesia) visando a articulação de textos literários
com a temática da exposição e depois com uma programação
dos Contadores de Histórias – Na Onda das Baleias –
destinada a tratar do tema e com apresentações durante o
período de quatro meses.
Projetos em fase de implementação
? Era uma vez – programa de rádio que irá ao ar pela
Rádio Maré-Manguinhos (ainda em caráter experimental)
transmitindo para as comunidades da Maré e Manguinhos histórias
selecionadas para integrarem os eventos dos Contadores de Histórias
do Museu da Vida.
? Biblioteca Móvel – A idéia de uma Biblioteca Móvel
nasceu do desejo de facilitar o acesso aos livros de literatura infanto-juvenil
para o público que participa da programação dos Contadores
de Histórias do Museu da Vida. Esta iniciativa irá contemplar
tanto os eventos que acontecem no campus de Manguinhos, quanto àqueles
realizados em parceria com outras instituições. A Biblioteca
Móvel compõe-se de um armário para guarda, exposição
e transporte de livros e jogos.
Encontro de Narrativas
Interessa-nos aqui abordar um dos eixos de atuação
do Programa Leitura e Ciência, que caracteriza-se pela atuação
do Grupo de Contadores de Histórias do Museu da Vida no evento
mensal de final de semana. Algumas questões nortearam a elaboração
e desenvolvimento da proposta do trabalho: Qual seria o fio condutor da
atividade? Como se daria a identificação do repertório
de histórias a ser selecionado? Como viabilizar a comunicação
com o público no intuito de propiciar um espaço para o diálogo?
No planejamento anual dos Contadores de Histórias no Museu da Vida
realizado pelo Centro de Educação em Ciências, buscamos
apontar as temáticas a serem desenvolvidas no período, assim
como os possíveis pesquisadores-colaboradores. Contudo, a construção
da agenda é feita com certa flexibilidade, a fim de permitir a
incorporação de novos temas identificados pelo Museu ou
sinalizados pela própria Fiocruz no decorrer do ano.
A cada mês, a equipe responsável planeja, produz, e avalia
as atividades. Num primeiro momento, buscamos, na literatura, uma variada
gama de textos (contos, poesias, lendas, cordel, crônicas etc.)
que se relacionam com o tema do mês. Estes são lidos, saboreados
e analisados, de maneira a focalizar os principais aspectos abordados.
Em uma ação coordenada, voltamos nossos esforços
para identificar e contactar os pesquisadores que venham a contribuir
no evento. Somente após a definição do pesquisador
e sua área de atuação é que escolhemos o grupo
de histórias a serem contadas.
Segundo a metodologia desenvolvida no Programa Leitura e Ciência,
as histórias contextualizam a temática, favorecendo a inclusão
de diferentes olhares e pensamentos sobre o assunto. Por exemplo, quando
organizamos a temática Águas de Março, para falar
da importância do saneamento básico, nos permitimos trazer
Enchente de Cecília Meireles para abrir a programação
– quando a tempestade se forma no céu, o coração
da gente fica apertado de preocupação com as crianças
e familiares que ainda estão na rua. A sensibilidade da poetisa
nos coloca no clima do aguaceiro. A Prova D´água de Moacyr
Scliar, fala de forma bem humorada sobre aquela fase do garoto em que
odeia tomar banho. Aproveita também para contar como o banho surge
em determinado período como símbolo de status, possibilitando
ao pesquisador relacionar a história à sua prática
profissional.
Em seguida apresentamos Gotuchinha, conto de Carolina Salles (integrante
do grupo e bolsista de graduação) e Um Pipi Choveu Aqui,
de Sylvia Orthof. Ambas as histórias vão tratar do ciclo
da água. O ritmo leve, trazendo a perspectiva do aluno na aula
de ciências, faz com que o texto de Orthof seja muito bem acolhido
por ouvintes de todas as idades. Ao final, oferecemos um contraponto ao
tema com o ABC do Nordeste Flagelado, onde o cordel de Patativa do Assaré
evoca nossa imaginação descrevendo as dificuldades da vida
no sertão nordestino.
A experiência de contar com a participação de pesquisadores
de diferentes Unidades da Fundação Oswaldo Cruz tem sido
bastante enriquecedora para todos. Especialistas em sua área de
atuação possuem vasta experiência profissional no
tema indicado. Alguns trabalham ou já trabalharam com grande público,
mas todos buscaram uma forma particular de aproximação no
relato de sua experiência, seja trazendo imagens ilustrativas, objetos,
folders explicativos, música ou mesmo dramatizando situações.
Muitas vezes o próprio pesquisador traça algumas relações
entre as histórias contadas e o seu campo de atuação,
de maneira a estabelecer um diálogo inicial entre fantasia e realidade,
sublinhar os impasses apresentados ou destacar aspectos de um personagem.
O depoimento sobre o exercício de sua prática cotidiana
tem contribuído para ampliar o diálogo sobre os aspectos
da ciência e cotidiano, colaborando também com a democratização
do saber científico.
Em todos os eventos que o grupo de Contadores de Histórias realiza,
os livros estão sempre presentes. Não somente aqueles que
integram o conjunto de histórias contadas, mas outros livros que
podem despertar interesse entre os diferentes assuntos abordados. Acreditamos
que esta é uma forma de ampliar o contato com livros variados,
e permitir também que o público participante busque por
estes ou outros livros nos diferentes espaços dedicados à
leitura. Em alguns relatos observamos tanto o interesse do público,
quanto o pouco conhecimento da literatura a respeito de determinada temática.
Outras vezes colhemos depoimentos afetivos declarando como pode ser prazeroso
ouvir alguém ler uma história, um poema, um conto ou uma
crônica. Percebe-se a importância do uso do livro como principal
componente do ato de contar histórias. Aqui o livro representa
o elemento de grande importância nesse processo e isso é
ressaltado a partir de uma leitura dramatizada e, não de teatralização
do texto. Tão importante quanto ler um texto corretamente, segundo
as regras gramaticais, é preciso senti-lo verdadeiramente, para
que esse ato passe de simples leitura para um ato de “saborear”
cada palavra do texto lido.
Elaboramos também uma filipeta informativa que é entregue
ao público. Nela consta o tema do mês, as histórias
com seus respectivos autores, o nome de cada mediador de leitura, a identificação
do pesquisador convidado e o seu tema específico. Esta apresentação
permite que, ao final do debate, todos possam encontrar nos livros disponíveis
as histórias de maior interesse.
O público nos finais de semana é composto principalmente
de famílias com filhos, crianças ou jovens. Recebemos também
alguns grupos organizados de escolas, grupos de turismo, grupos religiosos
e grupos de idosos. As intervenções durante o debate partem
tanto do público infantil quanto dos adultos. A partir das gravações
dos debates e das observações realizadas durante os eventos,
podemos perceber que a participação do público acontece
de maneira muito espontânea e, inúmeras vezes, registramos
o interesse das crianças presentes, tanto quanto dos jovens e adultos,
dependendo do assunto tratado.
Uma conversa recorrente entre os pesquisadores e o público diz
respeito à curiosidade que as pessoas têm a respeito do Castelo
Mourisco, que pode ser visto da Avenida Brasil. Algumas relatam que descobriram
há pouco tempo que o Castelo é aberto à visitação
e se constitui também numa das áreas temáticas do
Museu da Vida. Assim afirmam que, num primeiro momento, vem conhecer o
Museu levados pela curiosidade em torno do Castelo, com um misto de encantamento
e curiosidade devido a mitificação em torno desse prédio
– representado como símbolo da ciência e lugar de importantes
pesquisadores.
Tema do Evento: Castelos e suas Histórias (em 15.05.04)
– Pesquisador L. T – Quando eu era pequeno, quando eu ia com
meu pai na cidade, eu passava pela Avenida Brasil e via de longe e perguntava
pro meu pai o que era aquele castelo. E ele respondia: - Não sei,
é um castelo. E eu ficava curioso. (....) Em 1904 Oswaldo Cruz
mandou construir o castelo onde ele iria trabalhar. Na época em
que o castelo começou a ser construído o tipo de arquitetura
era diferente da de hoje. Ele se chama Castelo Mourisco, porque ele tem
uma arquitetura típica de uma região da Espanha onde os
árabes, quando passaram pela Espanha, deixaram aquele tipo de arquitetura.
Ele é muito parecido com um castelo espanhol chamado Alhambra.
– H. 42 anos – Eu vim aqui por que meus filhos vieram com
a escola e gostaram, então eu voltei aqui hoje. Eu queria saber
por que vocês não fazem uma divulgação para
abrir para o público. Por que é super interessante, a paisagem
é linda, porque não divulgam mais para o público?
Observamos que o momento de apresentação
para o público cria grande expectativa no pesquisador. Inicialmente
alguns pensam em se apresentar como palestrantes, mas após os encontros
com a equipe, se estruturam para uma apresentação mais informal.
Em várias ocasiões os convidados optaram por se apresentar
falando um pouco sobre sua trajetória pessoal e o que o levou a
seguir tal carreira ou como trilhou seu caminho até ali.
Tema do Evento: Águas de Março (em 20.03.04)
– Pesquisadora R. – Eu nasci em Pindamonhangaba, acho que
as crianças ouvem essa palavra em programas de comédia,
mas eu nasci em Pindamonhangaba, que fica no Vale do Paraíba. Nasci
às margens de um rio que na época que eu nasci, em 1959,
era um rio que ainda não estava contaminado. Quer dizer, a água
sempre esteve muito presente na minha vida e eu entre 5 ou 6 anos de idade
eu fui morar em Mato Grosso, numa cidade chamada Aquidauana, que fica
no Pantanal. Sempre estive rodeada de água, e de água limpa.
Nunca durante essa vivência minha toda, apesar de vir de uma família
humilde, eu nunca tive necessidade de pensar sobre viver sem água.
Pra mim a água estava presente na minha vida, então pensar
que as pessoas podem não ter água e que isso é uma
necessidade fundamental para ter saúde foi o que me mobilizou a
fazer as pesquisas que faço hoje. Atualmente trabalho no Departamento
de Endemias Samuel Pessoa, que pesquisa as doenças transmissíveis
(...) O meu papel é buscar entender a relação que
existe entre a ausência de água de boa qualidade, a ausência
de serviços para a população e o fato de estar ocorrendo
determinadas doenças.
Surgiram inúmeras perguntas:
– Quem manda a chuva? (G., menino de 5 anos)
– Como a chuva vira gelo? (M., menino de 5 anos)
– O que acontece com a sujeira dos esgotos? (M., menino de10 anos)
– Como surgiu a idéia de que antigamente a água penetrava
no homem e causava aquela doença? (G., menino de 11 anos)
– Gostaria de saber se os poluentes retidos com as nuvens, quando
cai a chuva, se eles são devolvidos a nós? (S., 30 anos)
– Eu queria saber como a gotinha foi parar no oceano de novo. Porque
quando agente faz pipi, a gotinha ela fica no vaso, como ela voltou para
o oceano? Eu queria saber isso. (A. C., menina de 10 anos)
As perguntas e o interesse do público também
podem variar segundo o tema escolhido. Algumas temáticas suscitam
muitas perguntas por estarem aparecendo na mídia, outras por afinidade
com problemas comuns a muitas pessoas. A maneira pela qual determinados
assuntos são abordados possibilita ao público uma percepção
mais clara das relações entre ciência e cotidiano.
A utilização de exemplos bem contextualizados e/ ou relacionados
a fatos que aconteceram recentemente também é um dos artifícios
utilizados pelos pesquisadores para que seu discurso seja mais compreensível.
Tema do Evento: Curiosidade leva aonde? (em 17.07.04)
– Professor S .O.– Pediram que eu contasse algumas coisas
aqui para vocês, embora eu prefira o diálogo, prefiro que
vocês perguntem coisas e eu respondo. Mas se eu fosse vocês,
uma das perguntas que eu faria era como é que eu comecei a trabalhar
com insetos. (...) eu queria contar umas duas ou três curiosidades
sobre os insetos, e uma delas é a seguinte: algum de vocês
viu o programa da tv Globo, ou Faustão ou Fantástico, que
trouxe uma notícia que na cidade de Nova York estavam aparecendo
milhares de cigarras? Eram milhares de insetos que estavam assustando
o pessoal, invadindo as casas, aquela coisa toda... Essa cigarra que existe
no EUA, tem o nome popular de “Cigarra dos 17 anos”. Sabem
porquê? Por que ela só aparece de 17 em 17 anos.
– Porque a cigarra canta? (R.,menina de, 9 anos)
– Professor S .O.– É uma boa pergunta. Quem canta é
o macho. O macho está atraindo a fêmea, então ele
canta para dar a posição de onde ele está, assim
a fêmea voa até onde ele está.
– R. 38 anos – Prazer em conhecê-lo... na minha infância
eu morei na roça e brinquei com muita cigarra e ficava curioso,
pois de vez em quando eu via uma cigarra encascada na árvore e
eu nunca tive uma explicação o porquê... algumas vezes
já me disseram que ela encascava pra poder voltar, voltar a vida
numa outra vida sei lá eu... não entendia muito bem.
– Porque o vaga-lume acende? (F., menina de 4 anos)
– Na minha escola meus colegas dizem que o grilo muda de cor. É
verdade? (R., menino de 9anos)
Tema do Evento: Confabulando com Saúde (em 16/08/2003)
– Pesquisadora M.B. – Vocês entendem o que é
estresse? Já ouviram falar ? Hoje as pessoas estão mais
interessadas em ver a doença, mas há doenças que
não põem ser vistas, doenças do psíquico,
da alma. Dizem que a pessoa deu piti ou mesmo que está doente dos
nervos. Hoje as pessoas sofrem por problemas como a falta de trabalho
e dinheiro, o que acaba por influenciar diversas situações
do cotidiano.
– Criança tem estresse quando briga com o irmão...
(menina da platéia).
No momento do debate, algumas pessoas aproveitam para
tratar de questões relacionadas à sua experiência
pessoal com a leitura, outros para discutir com o (a) pesquisador (a)
questões polêmicas relacionadas à leitura. Nesse sentido,
sempre surgem questionamentos a respeito do estímulo à leitura
por parte dos pais e da família, a maneira como a leitura é
tratada na escola e como nós, do Museu da Vida, buscamos apoiar
e realizar ações de promoção à leitura.
Outra questão recorrente é a dificuldade em fazer com que
crianças e jovens leiam, quando existem tantos outros estímulos
relacionados com recursos da mídia e da tecnologia.
Tema do Evento: Rachel com Vida (Semana do Paixão de Ler em 20.11.04)
– Pofissional de Museu, A. P. Eu tenho vários sobrinhos e
eu escuto muito por aí, que menino não gosta de ler, não
gosta de histórias, porque as histórias são só
sobre princesas ou sobre natureza, mas têm todo tipo de histórias:
histórias de princesa, de natureza, história de monstros,
cada um tem que descobrir o tipo de história que gosta e o tipo
que gosta de escrever ou contar, seja uma história de princesa,
de monstro, o importante é você descobrir o tipo de história
que você quer ler ou contar.
Em nossas avaliações relacionamos comentários
sobre as histórias, dúvidas sobre a postura de personagens,
posicionamentos afetivos, questões sobre o trabalho do pesquisador,
perguntas sobre situações-problema, informações
em geral. Buscamos no momento do debate relacionar cultura, ciência
e cotidiano a partir das questões levantadas, a fim de favorecer
a troca de conhecimentos entre os participantes.
V – Considerações Finais
Este estudo apresenta a leitura a partir de uma visão
ampliada, que vai além da decodificação de palavras,
encontrando nas experiências cotidianas a sua principal significação.
Neste sentido, o ato de ler propicia uma ação criadora,
pois permite a crianças e jovens relacionar fantasia e realidade.
A leitura crítica implica numa participação ativa
dos sujeitos que, num movimento constante, atribuem novos significados
ao ambiente e a si próprios, favorecendo a sua participação
no contexto social.
A proposta de elaboração do evento do grupo de Contadores
de Histórias no Museu da Vida vem ao encontro destas proposições.
A organização das atividades a partir de temas facilitou
a convergência dos debates e potencializou a troca de idéias
entre o público, pesquisadores e os contadores de histórias.
Desta forma, ressaltamos o papel do Museu da Vida como espaço singular
para o desenvolvimento de programas voltados para a promoção
da leitura e da educação em ciência.
Os museus de ciência podem se caracterizar como importante espaço
para as práticas de promoção à leitura, instigando
a curiosidade, a reflexão do público visitante e colaborando
também com a democratização do saber científico.
Se entendemos com Chartier (1999) que leitura é apropriação,
invenção, produção de significados, esperamos
que esses leitores, possam se “apropriar” dos diferentes temas
da literatura e da ciência, de modo a favorecer a sua participação
nas discussões que envolvam ciência e cotidiano. Que possam
ser caçadores que percorrem terras alheias (Chartier apud Certeau,
1999) a fim de encontrar suas próprias respostas, mesmo que cercados
por limitações impostas pela sociedade.
VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Paulo: Companhia das Letras
CAVALLO, G. & CHARTIER, R. 1999. História da Leitura no Mundo
Ocidental. São Paulo: Ática, 1999.
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São Paulo: UNESP.
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para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação
para o século XXI. São Paulo: UNESCO/MEC/Cortez.
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