Suzete de Paula Bornatto - Escola Anjo da Guarda
– Curitiba (PR)
Em pesquisa realizada para o mestrado em Educação,
com foco na história das disciplinas, foi “rastreada”
a obra de alguns autores representativos da literatura brasileira, freqüentes
nos livros didáticos - Monteiro Lobato, Mário de Andrade,
Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade - , em
busca de suas reflexões e posicionamentos sobre a questão
da língua (e da norma lingüística) no Brasil. Foi então
analisada uma amostra de 14 livros didáticos (para níveis
equivalentes aos de 5a. a 8a. séries e Ensino Médio atuais)
utilizados entre 1940 e 1980, em que se observou como a obra desses escritores
era apresentada/citada, que questões eram formuladas em torno de
seus textos e a relação entre as idéias dos escritores
e a concepção de língua oferecida nos livros escolares.
A LÍNGUA DO BRASIL EM DEBATE
Lobato e a paranóia gramatiqueira
Os intelectuais, à época do Modernismo,
estiveram divididos em diferentes facções ideológicas,
e sua postura diante da questão do idioma nacional foi da defesa
da existência da língua brasileira (e de tentativas de sistematizá-la)
à condenação do distanciamento do padrão local
em relação ao português europeu.
Edith PINTO (1994) estuda a posição de Lobato diante dos
problemas de língua e de linguagem, recolhendo opiniões
explícitas e dados inseridos em seus escritos, com o intuito de
verificar a coerência entre a posição teórica
e sua prática de escritor. Segundo ela, da abundância de
documentos ressalta o "repúdio ao absolutismo das regras gramaticais,
impostas, não só ao ensino, mas também à prática
da língua, escrita e até oral" (p. 51). Mas se destaca,
ao mesmo tempo, a preocupação com o "escrever bem",
de forma gramaticalmente correta e fazendo jus à herança
dos clássicos portugueses. Um fato de caráter lingüístico
que, segundo PINTO (idem, p. 56), permaneceu estável é a
sátira à gramática, "fato estranho, à
primeira vista, num grande sabedor dela". Lembra, porém, que
a sátira se voltava contra os excessos, a mania, a "gramatiquice",
sobretudo quanto a pontos de minúcia, como a colocação
pronominal, como no conto “O colocador de pronomes” (publicado
em 1920, escrito em 1917, conforme cartas desse ano ao amigo Rangel, numa
das quais explica que na composição da personagem central
entrava 'meia dúzia de gramaticantes cá de São Paulo'
(apud PINTO, idem, ibidem).
Na análise de Edith PINTO (1994, p. 58), os pronomes de Lobato
não escapam ao eixo das regras, "prova de que, no devido tempo,
ele tinha sido empanturrado delas", e sua rebeldia era "possivelmente
marca dolorosa, nunca resolvida, de uma reprovação em português,
ainda no curso secundário". A tese da reprovação
escolar como motivo para o ataque aos gramáticos é de larga
aceitação entre os biógrafos (e cara aos professores
normativistas), mas certamente é insuficiente para sustentar todo
o repertório crítico do escritor sobre a língua.
A compreensão da importância intelectual do autor passa pela
análise dessa aparente contradição entre, de um lado,
a clareza quanto à diversidade lingüística, suas origens
e sua propriedade, e o desejo de mudança (ou de reforma), e de
outro a conformação às normas gramaticais, a exigência
de obediência ao padrão .
Em resenha de 1921, Lobato elogia a "Gramática Brasileira"
de Firmino Costa como "um bom passo à frente para a criação
da gramática brasileira":
Inúmeras peculiaridades do nosso falar, que as
gramáticas anteriores, rigorosamente portuguesas, consignavam condenando
como crimes horríveis, F.C. consigna inocentando-os, isto é,
registrando-os como fatos consumados da língua. (...) E se gramática
é o estudo dos fatos da língua, a gramática que nos
convém é a que estude os fatos da língua pátria.
(apud PINTO, 1978, v. II, p. 54)
Em 1922, aponta no livro "Dialeto caipira", de Amadeu Amaral,
a primeira gramática da língua brasileira: O estudo único
em matéria filológica que nos cumpria fazer, não
o fazíamos. Era esse da língua nova, a língua que
ao país inteiro interessa: o estudo, o retrato fiel da Brasilina
arisca que atende às necessidades de expressão dos 25 milhões
de jecas que somos. (idem, p. 56). No mesmo ano, trata de "O Dicionário
brasileiro", de Assis Cintra, aludindo à vitória da
"sintaxe tupi". Reconhece que mesmo no uso das classes cultas
a diferenciação lingüística é percebida
e cita, como arcaísmo luso ressuscitado por elas, o emprego do
pronome pessoal "ele" como complemento direto, o que por alguns
fora considerado brasileirismo:
O fato é que no país todo, na linguagem falada, o ele e
o ela desbancaram o o e o a; apesar da resistência dos letrados
e da resistência da língua escrita. Não nos consta
que algum escritor de mérito usasse (...) essa forma. Mas dia virá
em que se romperá essa barreira, porque as correntes glóssicas
são irresistíveis, os gramáticos não são
donos da língua, e esta não é uma criação
lógica. (idem, p.59)
Adiante diz de alguns dicionaristas: "E são papões
da língua! Dão-nos em cima de palmatória e ensinam-nos
o que se não deve dizer, esquecidos de que não se deve dizer,
sobretudo, asneiras." (idem, p. 61) Em artigo de 1926 para o Diário
da Noite , “O nosso dualismo”, Lobato faz críticas
jocosas à escrita de Oswald de Andrade, que trata como “futurista”.
Condena a “atrapalhação” dos valores e regras
(a gramática, a justa medida, a clareza; cita especificamente o
uso do pronome reflexo “me” em início de período),
todavia afirma que a “brincadeira de crianças inteligentes”
(o movimento “futurista”) iria desempenhar “uma função
muito séria em nossas letras”:
Vai forçar-nos a uma atenta revisão de valores
e apressar o abandono de duas coisas a que andamos aferrados: o espírito
da literatura francesa e a língua portuguesa de Portugal. (...)
a tarefa do escritor de um determinado país é levantar um
monumento que reflita as coisas e a mentalidade desse país por
meio da língua falada nesse país. (CULT, 52, p. 61)
Para o autor, era preciso acabar com o dualismo de mentalidade e língua,
já que o povo “fala brasileiro e os próprios escritores
que escrevem em português não o falam em família.
Em casa, de pijama, só se dirigem à esposa, aos filhos e
aos criados em língua da terra, brasileiríssima” (idem,
p. 62). Em entrevista à “Folha da Manhã”, em
1941, tratando das transformações da língua portuguesa
no Brasil e perguntado sobre se a literatura influi para a constituição
do “brasileiro”, responde: “Não. Existem, em
todos os países, duas línguas: a falada e a escrita. A língua
falada é a verdadeira. É o que vive, e que se transforma.”
(idem, p.77-78).
A distinção oralidade/escrita está presente também
em texto de 1943, o Prefácio para “Éramos seis”,
de Maria José Dupré. Na voz do personagem Manuel Neto, explica:
A língua escrita veio depois, e é coisa
restritíssima. Todas as criaturas humanas jogam com a língua
falada, e quantas com a escrita? ...
- A correção da língua é um artificialismo,
(...) Note que a gramática só se atreve a meter o bico quando
escrevemos (...) Na linguagem falada, a não ser na boca dum sujeito
que conheço, o verbo concorda ou não com o sujeito –
à vontade (e repetir a frase para restaurar uma concordância
é pedantismo) (idem, p.79).
HALLEWELL (1985) dedica um capítulo de “O
livro no Brasil (sua história)” a Monteiro Lobato e afirma
que “em linguagem, pelo menos, Lobato não era rebelde”
(pois até pedira a um amigo que corrigisse a colocação
de pronomes para a 2a. edição de “Urupês”)
e nisso se afastaria dos modernistas. No entanto, talvez se possa afirmar
que, além do elemento nacionalista, também na preocupação
com o tema da linguagem, a ser encarado por uma perspectiva mais científica,
menos arbitrária e menos autoritária, Lobato se aproximou
deles. Considerando o raio de influência que o escritor, crítico
e editor conseguiu traçar, sua contribuição não
é nada desprezível.
Oswald, lança afiada
No caso de Oswald de Andrade, a clareza de que os erros
compõem a língua, a recusa dos formalismos, do beletrismo,
o respeito pela língua popular são aspectos que evidenciam
sua tomada de posição no debate sobre a linguagem. O escritor
foi responsável por dois manifestos: o Manifesto da Poesia Pau-Brasil,
de 1924, e o Manifesto Antropófago, de 1928. O primeiro, publicado
em 1924, não tem meias palavras: "A língua sem arcaísmos,
sem erudição. Natural e neológica. A contribuição
milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos." No
ano anterior, Oswald publicara um artigo na Revista do Brasil (que havia
sido comprada por Monteiro Lobato em 1918), “O esforço intelectual
do Brasil contemporâneo”, em que declarava:
Estamos assistindo ao esforço científico
da criação de uma língua independente, por sua evolução,
da língua portuguesa da Europa. Recebemos como benefício
todos os erros de sintaxe do romancista José de Alencar, do poeta
Castro Alves, (...) Enquanto o sr. João Ribeiro tratava de fundar,
em trinta e duas notáveis lições, uma língua
nacional, o sr. Amadeu Amaral construía a nossa primeira gramática
regionalista. A obra dos dois ilustres acadêmicos esqueceu, entretanto,
a contribuição do jargão das grandes cidades brasileiras,
onde começa a brotar, em São Paulo principalmente, uma surpreendente
literatura de novos imigrantes (PINTO, 1978, v. II, p. 200).
É difícil entender que “um esforço científico”
fosse aplicado à criação do português brasileiro;
no entanto, o destaque para a cientificidade tinha provavelmente a intenção
de se mostrar argumento irrefutável, imune a julgamentos baseados
em critérios pessoais, no sentido de evidenciar e consubstanciar
a língua do Brasil. De todo modo, o reconhecimento dos trabalhos
de Ribeiro e Amaral reitera as opiniões de Lobato sobre ambos.
No livro "Pau-Brasil" (1924) está um poema que, nos dias
de hoje, costuma aparecer na parte dos livros escolares reservada à
literatura – mas não acompanha os conteúdos gramaticais:
“Pronominais”. No debate sobre a colocação de
pronomes, a concisão poética diz mais do que extensos arrolados
pseudo-científicos. A gramática é a da escola, a
regra é lusitana, mas a Nação Brasileira, todos os
dias, fala diferentemente do recomendado.
Outro poema de 1925 alude aos brasileiros que dizem “teiado”,
mas seguem em frente fazendo telhados, construindo as cidades. São
os operários, que ocupariam lugar importante na ficção
posterior de Oswald. Nas gramáticas escolares, “vícios
de linguagem” são aqueles usos arraigados na língua
mas condenados pelo purismo. Oswald registra a pronúncia real de
um grupo cuja fala é condenada socialmente, mas que está
construindo o Brasil concretamente:
Paulo Prado, no Prefácio a “Pau-Brasil”, diz ver na
poesia do livro "a reabilitação do nosso falar cotidiano,
sermo plebeius que o pedantismo dos gramáticos tem querido eliminar
da língua escrita". Isso porque Oswald inova, ao escrever,
não apenas no nível do léxico (como Lobato), mas
no nível da sintaxe, da organização estrutural do
texto, motivo pelo qual seria admirado por, entre outros, seu contemporâneo
Mário de Andrade.
Oswald de Andrade, além de transpor a fala para o poema, a tematiza
(promove duplamente a realidade lingüística – enquanto
forma e enquanto conteúdo). Em sua revisão da história
do Brasil, recupera novamente a pronúncia brasileira: “farinha
de Suruí/Pinga de Parati/Fumo de Baependi/É comê,
bebê, pitá e caí” (em “Relicário”).
Além das condições materiais, o senso de humor, a
mordacidade, bem como as opções políticas e ideológicas
de Oswald podem ter sido responsáveis pelo isolamento social e
intelectual em que se viu no final da vida. Enquanto sua produção
poética foi resgatada e revalorizada dentro do cânone literário,
suas reflexões sobre a língua foram guardadas no baú
das curiosidades e ditos engraçados.
Moderno Mário de Andrade
Mário de Andrade é reconhecido como mentor
e papa do Modernismo brasileiro. Intelectual de múltiplos interesses,
desenvolveu, além de importantes pesquisas nas áreas de
música e cultura popular, estudos sobre a língua brasileira,
tema sobre o qual debateu com seus contemporâneos . No “Prefácio
interessantíssimo” que abre “Paulicéia Desvairada”
(1922), apresentava sua convicção: “A gramática
apareceu depois de organizadas as línguas.(...) Pronomes? Escrevo
brasileiro. Si uso ortografia portuguesa é porque, não alterando
o resultado, dá-lhe uma ortografia”. (PINTO, 1978, v. II,
p.133).
Em 1924, compõe o “Noturno de Belo Horizonte” (publicado
em “Clã do Jabuti”, 1927, p. 178-189): 406 versos (entre
o 246º e o 292º estão os 46 versos que falam da “Serra
do Rola-Moça”, trecho que se transformou em um poema “independente”
pelas mãos dos autores de livros didáticos”.
Em 1925, é procurado para uma entrevista para o que seria chamado
“Mês Futurista” do jornal “A Noite”. Rejeita
o rótulo de “futurista”, que é alterado para
“modernista” e, a fim de evitar que os jornalistas lhe modifiquem
o português, corrigindo o que, como “passadistas”, considerariam
solecismos (erros de gramática), datilografa as respostas:
Moléstia-de-Nabuco é isso de vocês andarem sentindo
saudade dos cais do Sena em plena Quinta da Boa Vista e é isso
de você falar de um jeito e escrever covardemente colocando o pronome
carolinamichaelismente. (...) Tradicionalizar o Brasil consistirá
em viver-lhe a realidade atual com a nossa sensibilidade tal como é
e não como a gente quer que ela seja, e referindo a esse presente
nossos costumes, língua, nosso destino e também nosso passado.(idem,
p.135)
No mesmo ano, em carta a Carlos Drummond de Andrade,
elogia o verso “chega na estação” (do poema
“Nota social“). Como este responde que, percebido o “erro”,
corrigiu-o, Mário é enfático:
Foi uma ignomínia a substituição
do na estação por à estação só
porque em Portugal paisinho desimportante pra nós se diz assim.
(...) Em Portugal tem uma gente corajosa que em vez de ir assuntando como
é que se dizia na Roma latina e materna, fez uma gramática
pelo que se falava em Portugal mesmo. Mas no Brasil o sr. Carlos Drummond
diz “cheguei em casa” “fui na farmácia”
“vou no cinema” e quando escreve veste um fraque debruado
de galego, telefona pra Lisboa e pergunta pro ilustre Figueiredo: - Como
é que se está dizendo agora (...)?
Veja bem, Drummond, que eu não digo pra você que se meta
na aventura que me meti de estilizar o brasileiro vulgar. Mas refugir
de certas modalidades nossas e perfeitamente humanas como o chegar na
estação (...) é preconceito muito pouco viril. Quem
como você mostrou a coragem de reconhecer a evolução
das artes até a atualização delas põe-se com
isso em manifesta contradição consigo mesmo. (...) O povo
não é estúpido quando diz “vou na escola”,
“me deixe”, “futebol”. É antes inteligentíssimo...
(idem, p. 153)
Mário afirma a Bandeira não pretender que
o estilo de linguagem por ele adotado venha a ser a língua (“o
brasileiro”). Explica estar escrevendo sistematicamente o verbo
ter em lugar de haver, salvo em alguns casos, e defende-se dos que vêem
afetação em sua atitude: "Mas também não
foi afetação que fez a gente policiar a sua escrita e pôr
o pronome aqui porque Camões o botara aqui? Foi. (...) Depois e
por isso a afetação ficou geral e mudou de nome" (idem,
p. 139).
Depois de discorrer sobre o resultado de suas pesquisas em torno da colocação
pronominal, contestando observação de Bandeira, reconhece
ter empobrecido conscientemente seus meios de expressão e passado
a usar lugares-comuns brasileiros para “humanizar” sua escrita.
Concordando com algumas críticas e se indignando com outras, Mário
revela o alcance e a profundidade de seu interesse pela pesquisa e a sistematização
de um padrão brasileiro:
Não sei qual será num século ou 50
anos a língua brasileira. Sou um fenômeno individual, e sempre
falei, (...), que trazia a minha contribuição pessoal para
um fenômeno que só pode ser coletivíssimo. A principal
função minha não está nas minhas “invenções”
pois que sei lealmente quanto elas não são minhas, mas no
trazer o problema, pros que me lêem, como uma realidade permanente
(idem, p. 151).
Em 1935, respondendo a Sousa da Silveira, o escritor reconhece ter “forçado
a nota” em seus primeiros textos. Porém, reafirma e justifica
preferências:
Alguns me objetam que teria de levar o “pra”
às suas últimas conseqüências lógicas,
e escrever também “pruns” (para uns) e “praqueles”
(para aqueles) etc. Como si a língua fosse uma criação
de lógica intelectual, e não houvesse outras lógicas
predeterminando o ser pequenamente humano...(idem, p.159).
Sobre as frases iniciadas por pronomes oblíquos, divergirá
de Silveira - para quem “pessoas duma determinada instrução”
jamais as utilizariam - alegando encontrá-las em todas as camadas
da população. Ao final de outra missiva no mesmo ano, entretanto,
o autor de “Macunaíma” diz ter usado e abusado muito
do “desleixo muito brasileiro” de empregar uma preposição
por outra (como em “ir na cidade”, em vez de “à
cidade”) mas afirma: “Já atualmente sinto precisão
de ser mais discreto e já estou sendo” (idem, p.164).
Essa necessidade de discrição depois de tanta insistência
parece incompreensível, mas não se pode deixar de considerar
que o escritor tinha necessidade de ser aceito por determinado círculo
de leitores, sob risco de perder completamente a interlocução
com seus contemporâneos. Em artigo de 1940 sobre a língua
radiofônica, Mário escreve com clareza uma fórmula
que hoje parece redigida por lingüistas:
A língua, no seu sentido, digamos, abstrato, é
uma propriedade de todo o corpo social que a emprega. Mas isto é
uma mera abstração, essa língua não existe.
O tempo, os acidentes regionais, as profissões se encarregam de
transformar essa língua abstrata numa quantidade de linguagens
concretas diversas (idem, p.170).
Logo em seguida vem um trecho cuja afirmação
inicial é citada em alguns estudos sobre a linguagem do Modernismo:
Deus me livre negar a existência de uma língua
“culta”. Mas esta é exclusiva apenas de um dos grupinhos
do grande grupo social. Esta é a língua escrita, por excelência,
tradicionalista por vício, conservadora por cacoete específico
de cultismo. Ou de classe. Mas já está mais que observado
que os mesmos indivíduos que escrevem nessa língua culta,
muitas vezes se esquecem dela quando falam. Essa língua escrita
não é a mesma que a linguagem da classe burguesa, que é
falada e não tem pretensões aristocráticas de bem
falar. (idem, p.171)
Para quem tem interesse em defender o ensino da “norma
culta” sem lhe questionar o status, a afirmação inicial,
descontextualizada, é de fato, apropriada, assim como outros trechos
do segundo artigo de Mário sobre a linguagem radiofônica,
em que ele indica as razões da vitalidade da língua culta
(dos colégios, dos clássicos, da tradição),
mas o próprio escritor esclarece:
parecerá que me coloco em enorme contradição
comigo mesmo, pois sempre tenho sido (...) um destruidor dessa linguagem
culta, com meus insuportáveis “erros” de português.
(...)O fato da linguagem culta se assemelhar a uma língua morta
e manifestar tendências, algumas falsas e algumas utilitárias
(...), é apenas uma verdade fácil e preliminar. Outras verificações
se ajuntam a essa verdade preliminar que, à revelia dos indivíduos,
obrigam a linguagem culta a ir se modificando com os tempos (idem, p.174).
Conclui, então, em outro trecho prestigiado pelos
estudiosos que preferem ver conservadorismo em sua obra, que nenhuma de
suas ousadias justifica a ignorância e que o escritor precisa conhecer
a linguagem para, então, ir além das convenções.
É ainda de 1940 um texto recuperado por Sonia Sachs (ANDRADE, M.,
1993), que traz uma avaliação positiva da então recente
produção filológica brasileira:
Já não são mais estudos de português,
mas incontestavelmente de língua nacional. Talvez a maioria dos
filólogos de 1920 morresse de estupor vendo um professor do Pedro
II, como o sr. Nascentes, afirmar calmamente que a exigência de
colocação de pronomes à portuguesa, é coisa
para nós relegada ao domínio das bizantinices anacrônicas.
Vencemos uma formidável etapa. Agora só nos falta o passo
definitivo, que será ver tais e tão doutos filólogos
‘errarem’ também a colocação dos seus
pronomes. ‘Me parece’ que nada mais poderíamos desejar
então...(p.177-178, grifo meu).
Finalmente, em 1942, o autor produz um balanço
desanimado e desiludido do movimento modernista:
O estandarte mais colorido dessa radicação
à pátria foi a pesquisa da “língua brasileira”.
Mas foi talvez boato falso. Na verdade, apesar das aparências e
da bulha que fazem agora certas santidades de última hora, nós
estamos ainda atualmente tão escravos da gramática lusa
como qualquer português.
(...)E hoje, como normalidade de língua culta e escrita, estamos
em situação inferior à de cem anos atrás (...).
Teve também os que, desaconselhados pela preguiça, resolveram
se despreocupar do problema. (...) empregam anglicismos e galicismos dos
mais abusivos mas repudiam qualquer “me parece” por artificial!
(idem, p.183)
Mário trata ainda das “garças brancas
do individualismo” que, reconhecendo a legitimidade da língua
nacional, se recusam a colocar brasileiramente um pronome. E acrescenta:
“A tudo isto se juntava quase decisório, o interesse econômico
de revistas, jornais e editores intimidados com alguma carta rara de leitor
gramatiquento ameaçando não comprar, que se opõem
à pesquisa lingüística e chegam ao desplante de corrigir
artigos assinados” (idem, p. 184).
Avaliando que muitas tentativas de “escrever naturalmente”
resultaram artificiais, reclama de seus pares, dos filólogos -
que não se debruçaram sobre as tendências e constâncias
da expressão lingüística nacional – e, por fim,
repudia sua própria tentativa, que teria contribuído - devido
aos exageros em que incorreu – para “tornar para sempre odiosa
a língua brasileira”. Reafirmando que a linguagem brasileira
tem natureza característica, lança uma possibilidade: “Mas
isso decerto ficará para outro futuro movimento modernista, amigo
José de Alencar, meu irmão.”(idem, p.185). Aparentemente,
o desgosto revelado pelo escritor convenceu muitos contemporâneos
seus de que o Modernismo tinha fracassado. Isso é perceptível
na análise de materiais didáticos das décadas de
40 a 60.
Sua recusa ao elitismo e sua percepção alargada da dinâmica
cultural estabelecem o distanciamento entre o que é defendido por
Mário e os ideários de seus contemporâneos. Nesse
sentido, apesar de ter sido Oswald o "ponta de lança",
o agitador cultural, é Mário quem apresenta a maior ousadia
intelectual, fundamentada em pesquisa, em termos do que se poderia chamar
hoje de "política lingüística". Nem mesmo
Manuel Bandeira, com quem o autor manteve correspondência por mais
de vinte anos, conseguiu aceitar completamente sua postura.
O Professor Bandeira
Em relação à linguagem cotidiana,
Bandeira assina diversos textos em que deixa clara uma postura a favor
da forma(ó) brasileira. Em 1925, colaborando na seção
"O mês modernista" do jornal paulista "A noite",
publicou o seguinte:
DIALETO BRASILEIRO
- Não há nada mais gostoso do que mim sujeito de verbo no
infinito, Pra mim brincar. As cariocas que não sabem gramática
falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas
que não sabem gramática.
- O erro mais feio de brasileiro é a contração dos
pronomes me, te, lhe, nos, vos com os pronomes o, a, os, as. Ele já
mo deu.
- As palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá,
alhures e miúde. (apud PINTO, 1978, vol 2, p. 209)
A respeito da seção “Mês modernista”,
o poeta esclarece, em suas memórias literárias (“Itinerário
de Pasárgada”, 1957, p. 82-83) que se divertiu ganhando cinqüenta
mil réis por semana, o primeiro dinheiro que lhe rendeu a literatura.
No ano seguinte, 1926, em resenha sobre o livro "Estudinhos de português",
de José de Assis, que condenara o emprego do verbo carecer no sentido
de precisar, em nome da filologia moderna, embora tivessem perpetrado
esse uso escritores “de primeira água”, Bandeira argumenta:
“Ora, o emprego generalizado e a adoção por escritores
de primeira água não bastam para legitimar uma expressão?
O contrário é pura gramatiquice”(BANDEIRA, 1978, p.
269).
Ainda em 26 o poeta escreve para a mesma seção:
TRADUÇÃO PARA CAÇANJE PRECEDIDA DE
COMENTÁRIOS
Pois, minha gente, um dia, faz muito tempo, vi o (Carlos de) Laet pedir
para o bilheteiro do Jardim Botânico:
- Me dá uma ida e volta ?
Eu, que então andava aprendendo com o Dr. Silva Ramos a arte degradante
de colocar os pronomes, senti uma confusão danada. Todas as minhas
idéias puristas se atrapalharam. (...) Mas eu não tinha
nem força nem lucidez para pensar, como penso hoje, que é
bobagem chamar de errada a linguagem de que espontaneamente se serve a
gente bem educada de um país. É caçanje começar
a oração com pronome oblíquo? usar impessoalmente
o verbo "ter"? Então o caçanje é o idioma
nacional dos brasileiros (apud PINTO, op. cit., p. 209).
Em outra resenha no mesmo ano, o poeta analisa uma monografia
que defende a subjetividade do pronome 'se'. Retoma a lição
do filólogo Sousa da Silveira, segundo o qual o pronome "se"
tem a função de deixar completamente indeterminado o sujeito
da oração: “É isto precisamente o que faz a
beleza ideológica do seu emprego. E dizer-se que o condenam os
gramáticos!"
É de 1930 a publicação de Libertinagem, de que fazem
parte os poemas "Poética" e "Evocação
do Recife", em que se lê: “Abaixo os puristas”
e ainda “A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros/Vinha
da boca do povo na língua errada do povo/Língua certa do
povo”.
O verso “Abaixo os puristas” poderia ter sido provocação
suficiente para indispor os tais puristas, que na época compunham
os conselhos editoriais de algumas revistas sobre o tema, assim como poderia
agregar Bandeira e Oswald na postura irreverente, o que não ocorre.
Legitimar a língua certa do povo (errada na perspectiva lusitana),
o falar “gostoso” (de novo, como em “DIALETO BRASILEIRO”),
denominar a língua como “português do Brasil”
são escolhas que irão perdendo força com o passar
do tempo.
Em resenha crítica do livro “A língua nacional”,
de Cândido Jucá Filho, Bandeira explicita, em 1937, alguns
pontos de vista. Reconhecendo em Jucá um dos que negam a existência
de língua brasileira ou de dialeto brasileiro de caráter
geral, acusa os portugueses e lusófilos de não aceitarem
como português as diferenciações ocorridas no Brasil,
como, por exemplo, “um pronome colocado à revelia das regras
peninsulares”. Diz que está nessa recusa a gênese da
idéia de língua brasileira e cita, como exemplo, o julgamento
do português Gonçalves Viana de que não há
formação mais bárbara do que uma expressão
como “Onde você mora?”, tão natural no Brasil.
Conclui que:
Se os portugueses querem chamar portuguesa a linguagem
que falamos, têm de aceitar também os fatos lingüísticos
ocorrentes entre nós não em analfabetos boçais mas
em escritores e gente de boa sociedade. (...) Acho que a língua
continua a ser, por enquanto, portuguesa. Mas o nome pouco importa: o
essencial é que neste, como em outros pontos, falemos e escrevamos
como a gente instruída fala. Tenhamos a coragem de falar e escrever
“errado” (BANDEIRA, 1978, p. 266).
De qualquer modo, a distinção que estabelece
entre a linguagem dos “analfabetos boçais” e dos “escritores
e gente de boa sociedade” remete aos cuidados de Monteiro Lobato
e de escritores do século XIX: a língua dos ignorantes não
tem prestígio e não pode se confundir com o português
“oficial” do Brasil.
No “Itinerário de Pasárgada”, Bandeira avalia
alguns posicionamentos e “explica” algumas produções
. Afirma ter satirizado, com “Os sapos”, o poeta Goulart de
Andrade. Sobre o verso “Abaixo os puristas!”, fica-se sabendo
que originalmente fora escrito: “Abaixo a Revista da Língua
Portuguesa”, periódico que reunia as contribuições
de filólogos e gramáticos.. A respeito do “Dialeto
brasileiro”, dirá que era um “poema-piada”, gênero
que deu “má fama” ao Modernismo.
Sobre “Evocação do Recife”, no entanto, esclarece
os versos “Capiberibe/Capibaribe” registravam, respectivamente,
a forma como um professor insistia que ele pronunciasse o nome do rio
e a forma como ele aprendera a falar. Note-se que a segunda se impõe
à primeira, assim como se impõe a idéia de “língua
certa do povo” à de “língua errada do povo”
na Poética.
Drummond e o mistério da língua
Logo no início de sua carreira literária,
Drummond conhece Mário de Andrade e passa a ser mais um escritor
com quem Mário troca cartas. Por meio dessas cartas, compiladas
e anotadas pelo poeta mineiro em “A lição do amigo”
(1982), é possível acompanhar algumas orientações
e interferências de Mário, mas também os pontos de
vista e as insistências de Drummond.
Em 1924, Mário elogia o poema “No meio do caminho”
como “formidável”, mas informa que não o encaminha
para publicação na revista “Estética”
porque tem medo de que ninguém goste dele. De fato, o texto só
vem a público em 1930; e causa tanta repercussão que termina
objeto de outro livro: “Uma pedra no meio do caminho (Biografia
de um poema)” . Dilema filosófico para qualquer intelectual,
mas problema para os gramáticos, que não aceitam que o verbo
ter, no sentido de existir, seja elevado ao patamar literário,
“culto”. Há ainda a regência variada de “esquecer-se”
(“desse acontecimento”, como reza a gramática, mas
“que no meio do caminho”, sem a preposição “de”).
Na mesma carta de 1924, Mário elogia o primeiro verso de “Nota
social” (O poeta chega na estação): "na estação
gostei da regência. Bravo!”; e censura um “acolá”:
Que palavra horrível! Só se emprega em livros didáticos.
Deixemos isso para Portugal.” Drummond retruca que é “pela
correção”, mas diante da lição de Mário,
não corrige o verso e mantém a regência próxima
do uso brasileiro. E nesse fato aparentemente menor reside uma evidência
da importância de Mário de Andrade, que obrigou alguém
para quem a correção gramatical era valor inquestionável
a rever sua concepção de linguagem e de norma e a conservar,
por força dessa revisão, uma expressão que já
tinha, de início, feição de língua “brasileira”.
Em 1977, Drummond publica “Discurso de primavera”, livro que
no ano seguinte ganha nova edição como “Discurso de
primavera e algumas sombras” e que só é retomado parcialmente
na antologia “Nova reunião”, de 1983. Um dos poemas
excluídos nessa seleção é o longo “Exorcismo”.
Nele, o autor arrola nomes e conceitos introduzidos pelas mais diversas
teorias de análise lingüística e literária em
voga nos anos 70, repetindo sarcasticamente uma ladainha religiosa: “Da
clitização pronominal obrigatória (...)/Libera nos,
Domine”.
As regras de colocação de pronomes oblíquos prescritas
nas gramáticas já haviam alimentado tantas discussões
desde o final do século XIX, mas continuavam (continuam!) sendo
objeto de fiscalização normativista. Nessa mesma obra aparece
o poema que um ou outro lingüista preocupado com a educação
cita como argumento: “Aula de português”, em que o aluno
Drummond se considera atropelado, aturdido e seqüestrado pelas figuras
de gramática. O poema distingue claramente a linguagem vista e
cobrada pela escola da linguagem conhecida, do dia-a-dia. O aluno se sente
diminuído, porque sua ignorância parece amazônica (como
devem se sentir ainda muitos alunos nas aulas de português). A conclusão
simples é de que o português são dois – mas
o poeta assume um deles, este do dia-a-dia, a língua utilizada,
enquanto o outro (das aulas) permanece mistério na superfície
inatingível das letras.
O DEBATE AUSENTE
Aldrovando Lobato
Em “COMUNICAÇÃO – atividades
de linguagem”, uma das coleções assinadas pelo campeão
de vendas Reinaldo Mathias FERREIRA (1979), aparece, no volume para a
7a.série, a história d’“O colocador de pronomes”,
de Lobato. Mas não se trata da história toda, apenas do
trecho em que o escrevente, pai de Aldrovando Cantagalo, por conta do
pronome escolhido para um bilhete (“Amo-lhe”), é destinado
ao casamento com a irmã mais velha de sua amada.
Os exercícios exploram a seqüência da narrativa. Um
deles indaga se o argumento do pai das moças para provar que o
escrevente se declarara à pessoa errada é válido,
o que, indiretamente, exige aplicação de conhecimento sobre
o uso dos pronomes: amo-te, para a 2a. pessoa; amo-a, para a 3a.
Solicita-se um resumo do texto e a solução de uma lista
de situações (comparar o namoro de antigamente com o atual,
explicar como agiria se estivesse no lugar do personagem, arrolar as qualidades
do cônjuge ideal...). Depois, algumas expressões do texto
são “traduzidas” e pede-se a construção
de frases com determinada palavra; há também um caça-palavras
(recurso “lúdico”) para a localização
de sinônimos. No final da unidade se lê:
O conto ‘O colocador de pronomes’ não
termina com a benção do coronel Triburtino. Leia-o até
o fim para resolver estas questões: 1) O escrevente se casou...?
2) Quem era Aldrovando...? 3) Que pensava Aldrovando da Língua
Portuguesa? 4) Que explicação o ferreiro deu para o erro
da placa da oficina? 5) Que tem o título do conto a ver...? 6)
Qual foi a causa da morte...? (p.56)
Ora, o aluno não tem o texto integral do conto
no livro, terá de procurá-lo, o que, por um lado, é
bom porque pode levá-lo à biblioteca, a ler mais alguma
coisa; por outro, pode significar simplesmente que isso não é
tão importante, por isso não está no livro didático.
Interessa aqui destacar a grande diferença que faz citar apenas
a história do escrevente em vez da trágica experiência
de Aldrovando: a primeira evidencia o problema trazido pelo uso “errado”
do “lhe” – então, serve para ensinar o uso “correto”;
a segunda apresenta o exagero purista que transforma Cantagalo numa caricatura,
um retrato disfarçado dos puristas reais.
O livro escolar fica com a anedota e sugere a leitura do texto integral
– a qual deve permitir a localização de determinadas
informações. É claro que estudantes que eventualmente
tenham realizado a tarefa podem ter tirado conclusões bastante
pessoais sobre a questão lingüística, mas o roteiro
não favoreceu a leitura crítica, não focou o objeto
da ironia lobatiana. Mesmo quando pergunta a explicação
do ferreiro para o erro da placa (assume-se que era erro, portanto, escrever
“ferra-se cavalos”), pode ensejar unicamente a constatação
de que o ferreiro (e talvez o pintor de placas) era ignorante –
e a questão do “se” como índice de impessoalidade
também morre no final.
Mathias FERREIRA foi, conforme MUNAKATA (1997, p. 109) o pioneiro de uma
transformação decisiva no formato do livro didático
brasileiro, com seu “Estudo dirigido de Português”.
Na capa das primeiras edições pode-se ler: “contém:
anedotas, palavras cruzadas, charadas, quebra-cabeças, curiosidades,
exercícios”. O autor, então professor da Universidade
Estadual de Londrina, compartilhava a autoria, a princípio, com
quatro professoras. Mas logo a co-autoria desaparece e Mathias vira sinônimo
de livro de português bem sucedido. Os volumes de “Estudo
dirigido” são reeditados até a década de 80.
O que um autor tão importante informa aos alunos sobre Monteiro
Lobato, já na virada para a década de 80? Que tem “estilo
vibrante, expressivo” e que, não tendo se filiado ao Modernismo,
“até o combateu”. Nesse “até” parece
residir a intenção de dizer: era boa pessoa, bem que tentou
combater o Modernismo. Conforme apontado no capítulo 2 deste trabalho,
as relações entre Lobato e os modernistas não eram
tão hostis nem seus propósitos tão antagônicos
– e ele admirava Mário de Andrade a ponto de perdoar-lhe
ironias e sarcasmos.
Mário de Andrade morro abaixo
Conforme já comentado, o poema mais freqüente
de Mário de Andrade nos livros didáticos do período
pesquisado é o trecho do “Noturno de Belo Horizonte”
sobre a “Serra do Rola-Moça”. O outro trecho do poema
que fala das diferenças de pronúncia pelo Brasil não
aparece nenhuma vez. Mas em FERREIRA (1967) é citado um texto em
prosa (p. 61-62): “Excerto de Belasarte”. No final dos dados
biobibliográficos sobre o escritor, há a informação
de que o trecho escolhido, sobre um violinista que se passava por maestro
e enriqueceu com uma escola de música, é parte do conto
“Menina de olho no fundo”, do livro “Belasarte”.
Sobre o autor, afirma-se que: “Foi músico, crítico
literário, poeta e contista. Suas obras revelam nacionalismo exuberante.
Utiliza-se de linguagem brasileirista.” Após as questões
em torno do texto, do vocabulário, identificação
do tipo de composição (descrição, narração
ou dissertação?) e recapitulação gramatical,
vem um exercício de linguagem oral (explicar as qualidades que
deve ter um professor de música) e um exercício escrito:
“Você notou que o texto retrata a linguagem popular. Você
vai transformá-lo, substituindo as expressões populares
por expressões cultas, dando melhor colocação às
palavras, acertando a pontuação” (p. 64, grifo meu).
Ê carvoero ignorante!
Os poemas “Meninos Carvoeiros” e “Balõezinhos”
são, depois de “Profundamente”, os textos de Manuel
Bandeira que mais aparecem nas coleções. Ambos tematizam
a condição dos meninos pobres: no primeiro, os meninos vendem
carvão pelas ruas e não têm tempo de brincar; no segundo,
cobiçam os balões coloridos pelos quais não podem
pagar. No 3º volume de “Estudo dirigido de Português”,
de FERREIRA (1973, p. 59) pode-se acompanhar o aproveitamento didático
do texto. No tópico I, “Estudo das idéias”,
há seis perguntas, das quais três se referem ao verso “-
Eh, carvoero!”: “Os meninos carvoeiros/ passam a caminho da
cidade./ - Eh, carvoero!/ E vão tocando os animais com um relho
enorme.”
A expressão aparece mais duas vezes, como um refrão, ao
longo do poema. As duas questões iniciais pedem que o aluno identifique
quem fala “Eh, carvoero!” (há quatro opções
de resposta) e qual a finalidade dessa fala (pergunta aberta). A terceira
tem o seguinte enunciado: “No título do poema está
escrito carvoeiros e no poema aparece carvoero (sem ‘i’).
A que conclusão pode você chegar a respeito de quem exclama
‘Eh, carvoero!’?” É uma pergunta aberta. O que
se espera como resposta? Talvez que o verso reproduz a fala dos meninos,
enquanto o título traz a palavra grafada como prevê o dicionário.
Mas isto não levaria a uma conclusão a respeito dos meninos,
uma vez que, na fala do dia-a-dia, muita gente diria “carvoero”
(como diz “pedrero”, “cartero”, etc.).
Os tópicos seguintes tratam de “Estudo do vocabulário
e das expressões”, “Estudo da composição”,
“Recapitulação gramatical”. Nesse item, pede-se,
por exemplo, identificação de adjetivos, classificação
de substantivo (sobrecomum? epiceno? comum de dois gêneros?), reescrita
de um trecho com alteração de tempo verbal e número
dos substantivos, ou ainda: “No verso 9, temos um caso de ênclise
com verbo no gerúndio. Isso é correto ou não? Por
quê?”, “No texto aparece um exemplo de adjunto adverbial
de instrumento: (qual é?)”, etc. A recapitulação
gramatical, portanto, é, basicamente, o uso do texto para aplicação
da nomenclatura, com exceção da reescrita. A resposta sobre
a “ênclise” depende da memorização de
uma regra de colocação de pronomes oblíquos.
A comparação deste volume com o da coleção
“reformulada” (cuja data de 1ª edição não
foi localizada) revela alterações no padrão editorial:
formato maior, mais cores, desenhos e recursos que lembram revistas de
recreação. A redação das perguntas sobre os
meninos carvoeiros permanece inalterada, mas algumas são suprimidas
(não se pergunta o que é um “burrinho descadeirado”,
nem “alimária”), outras incluídas (“escolha
uma palavra ou expressão (...) e empregue-a em uma frase”).
Na parte gramatical, as respostas são facilitadas por esquemas,
a questão sobre a ênclise desaparece e entra um exercício
de fixação de ortografia, que pode ser corrigido pelo aluno
“ludicamente”.
O exemplar da edição “reformulada” consultado
na Biblioteca Pública do Paraná é um “livro
do professor”. E a leitura das respostas oferecidas pelo autor esclarece
o objetivo da pergunta do primeiro tópico sobre a distinção
carvoero/carvoeiro: “Essa diferença se deve à falta
de cultura dos meninos, que pronunciam mal a palavra”. Assim, o
que poderia ser reconhecimento da oralidade vira ocasião para dizer
que os carvoeirinhos, além de pobres e sem infância, também
não têm cultura e falam errado.
É interessante notar que, nos dados biobliográficos sobre
Bandeira, consta que foi um dos primeiros a escrever poemas modernistas,
mas também a informação de que se negou a participar
da Semana de Arte Moderna. Diz-se também que “é considerado
o poeta mais ilustre da literatura brasileira”.
Mesmo tendo se recusado a participar da Semana de Arte Moderna, seu escrachado
poema “Os sapos” foi declamado no Municipal, e apesar da postura
conservadora no final da carreira, Manuel Bandeira não merecia
que o “estudo das idéias” de poema tão singelo
como “Meninos carvoeiros” supusesse em seus versos o preconceito
lingüístico.
O enterro lúdico
Além do trecho intitulado “O enterro”,
na coleção didática de CRETELLA, Oswald de Andrade
vai aparecer de forma inédita na coleção “Comunicação
em língua nacional”, de BENEMANN e (Myrian) ELIA (6a. série,
9a. ed., 1977, p. 77) com um poema “criptografado”.O texto
precisa ser decodificado pelo aluno, que chega ao seguinte:
Meu pai
papai vinha de tarde
da faina de labutar
eu esperava na calçada
papai era gerente
do banco popular
eu aprendia com ele
os nomes dos negócios
juros hipotecas
prazo amortização
papai era gerente
do banco popular
mas descontava cheques
no guichê do coração
O título "Meu pai” foi dado pelos autores
do livro didático, que, por alguma razão inexplicável,
eliminaram o original: "Meus sete anos" (rico por aludir ao
antológico "Meus oito anos", de Casimiro de Abreu). Na
codificação, o poema perde a estrofação original
e as maiúsculas em "Banco Popular". Das seis questões
de "compreensão", quatro checam a leitura, pedindo a
identificação direta de respostas no texto; as duas últimas
pedem que o aluno identifique se o gerente do Banco Popular era:
a. ( ) muito bom para todos;
b. ( ) indiferente com as pessoas;
c. ( ) excessivamente orgulhoso
A carga poética do poema, que mistura a aridez
dos termos técnicos do mundo financeiro com a percepção
afetiva do menino avaliando o pai (de forma que marcaria seus sete anos)
se perde, em prol do ensino do vocabulário referente a transações
bancárias e comerciais. Propõe-se a resolução
de palavras cruzadas em que, por exemplo, a primeira palavra a ser escrita
corresponde a “ordem de pagamento à pessoa em favor de quem
se emite esse documento ou a qualquer portador dele”. Diante de
tal clareza, talvez o aluno achasse mais fácil decodificar o poema.
Para concluir as atividades sobre o texto, sugere-se a redação
de um pedido de empréstimo em que a praça da cidade é
dada como garantia, “em hipoteca” (afinal, o importante é
o vocabulário).
Geraldo MATTOS, no 2o. volume do “Curso da língua atual”
(1969), cita três textos de Oswald: o primeiro é a crônica
“Arte e imitação”, que identifica os parnasianos
como “máquinas de fazer versos”; o segundo é
o poema “Relicário”. A teoria que acompanha o primeiro
trata dos “tipos de significante” e após a apresentação
do segundo, faz-se a comparação entre ambos: “As diferenças
são profundas: 1. O primeiro ocupa toda a extensão da linha,
enquanto o segundo desperdiça espaço. 2. O segundo está
dividido em pequenas porções, ...” É uma explicação
sobre prosa e verso, que conclui (p. 30): "o texto se torna poesia
quando o seu conteúdo é extremamente emotivo, como neste
exemplo de Oswald de Andrade":
Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi
Não é tão fácil ver conteúdo
“extremamente emotivo” nos versos de “Relicário”:
“Pinga de Parati/Fumo de Baependi/ É comê bebê
pitá e caí”. Seria preciso levar muito a sério
a blague oswaldiana sobre o período colonial. E quanto à
pronúncia dos verbos, transcrita da oralidade? E a contribuição
milionária de todos os erros? Nenhuma palavra.
Havia um Drummond?
MATTOS, no 3o. volume da mesma coleção ("Curso
da língua atual", p. 181), trata da poesia da 2a. fase do
Modernismo e propõe a leitura de “No meio do caminho”,
de Drummond de Andrade. A primeira pergunta sobre o texto é:
Assinale o que pertence à língua popular:
( ) No meio do caminho tinha uma pedra.
( ) Nunca me esquecerei desse acontecimento.
Espera-se que o aluno assinale a primeira alternativa,
reforçando a regra de que não se deve usar “ter”
no lugar de “haver”, para expressar o sentido de “existir”.
No item seguinte, “Contexto”, lê-se: “Este texto
causou polêmica, porque muitos pensaram que era apenas uma brincadeira
do poeta. Anos mais tarde, o poeta compôs um soneto, que parece
aludir a esse poema:...”
De fato, o soneto “Legado” (p. 182) termina com o verso “uma
pedra que havia em meio do caminho”. A intenção de
sua inclusão após “No meio do caminho” parece
ter sido a de deixar claro que o próprio Drummond "corrigiu"
seu “tinha” para “havia”, atitude em que deveria
ser seguido pelos estudantes.
No volume da 7a. série ("Nossa língua", 2a. ed.,
1972), está a crônica “Netinho”, de Drummond.
Trata-se de um texto em que o narrador está às voltas com
o neto: "Se tivesse mais dois anos, chamá-lo-ia mentiroso.
No seu verdor, é apenas um ser a quem a imaginação
comanda, e que, com isso, dispõe de todos os filtros da poesia."
(p. 10). Depois de um estudo do "vocabulário" e da "mensagem",
ensina-se no tópico “Estilo” a diferença entre
linguagem coloquial e adloquial a partir da colocação pronominal
do menino:
Em nossa linguagem coloquial fica tão meigo e delicado colocar
o pronome no início do período! E é o que diz o netinho.
Entretanto, a linguagem adloquial não admite variante do pronome
no início de período. É como se tivéssemos
que andar, os homens sempre de colarinho duro e gravata, as mulheres de
maxissaia.
Linguagem coloquial: “Me dá esse lápis??”
Linguagem adloquial: “Dá-me esse lápis??”
Notou como ficou uma pergunta mais fria, mais distante, mais solene??
Então, cuidado, quando usar linguagem adloquial:
Coloquial: “Me empresta??”
Adloquial: “Empresta-me??”
Sob a fachada de “estilo” está o alerta:
cuidado para não começar com “me” em linguagem
“adloquial” (termo não encontrável em muitos
dicionários, mas que substitui "norma culta"). Meiguice
e delicadeza eram associadas à colocação pronominal
proclítica já por outros autores. A lição
que atravessa pelo menos quatro décadas é a de que é
preciso desculpar o povo em sua meiguice e cuidar para não imitá-lo
em situações sérias.
Confirma essa perspectiva a explicação de um autor de diversas
coleções didáticas bem sucedidas comercialmente,
Domingos CEGALLA, no prefácio de livro para a 5a. série
(1976, p. 10):
A língua popular ou familiar você já
a conhece bastante. Na escola estuda-se a língua culta, usada pelas
pessoas eruditas, a mesma que você ouve no rádio e na televisão
e vê escrita nos jornais, nos livros e nas revistas. É um
pouco diferente da que usamos na conversação familiar, por
ser mais rica, disciplinada e correta.
Ponha, portanto, toda a sua boa vontade no estudo desse maravilhoso instrumento
de comunicação que é a nossa língua.
A "nossa" língua, "maravilhoso instrumento",
que precisa ser estudada, não é, portanto, a popular, mas
a "culta". Ou ainda, a língua popular não é
(não pode ser identificada como) nossa língua, porque pobre,
indisciplinada e incorreta. Também Magda SOARES publica uma coleção
em 1968, "Português através de textos", em que
frases soltas de crônicas de Drummond servem para a identificação
de orações subordinadas; obrigada a adequar-se à
nova LDB (1971), escreve outra coleção, "Comunicação
em língua portuguesa", onde os textos continuam servindo à
explicação gramatical. O mesmo procedimento é realizado
por Mathias FERREIRA: novas coleções, a mesma concepção.
Tendo em vista esses exemplos, fica-se tentado a parodiar Manuel Bandeira:
Havia rumor, fogueiras, vozes. Hoje já não se ouvem mais
as vozes daquele tempo. Os escritores discutindo a linguagem, onde estão?
Estão todos dormindo. Dormindo. Profundamente!
REFERÊNCIAS:
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