Edna Mara Alexandre Boschini – São
Carlos
Mairy Josiane Alexandre Boschini - Cascavel
PROJETO DE LITERATURA
I – JUSTIFICATIVA
Alunos da 1ª série e Educação
Infantil vivem momentos marcantes nas descobertas do mundo letrado, descobrir
as palavras dentro de um contexto significativo tem por maior aliado a
literatura infantil que abre as suas portas de maneira criativa e envolvente,
despertando a imaginação e o gosto pela leitura de uma forma
muito lúdica, contribuindo na formação de leitores
desenvoltos, atuantes e críticos.
II – OBJETIVO GERAL
Oportunizar as crianças o contato com diferentes
obras literárias através das diversas abordagens de leituras
proporcionando momentos que motivem os leitores à recepção
dos variados temas promovendo um clima de liberdade, favoráveis
aos debates dos assuntos e das idéias veiculadas nos textos, apurando
assim, o seu senso crítico e um valor de leitura totalmente comprometido
com a zona real da aprendizagem contextualizada.
III – CRONOGRAMA
1 – ATIVIDADES PEDAGÓGICAS
a) Envio de uma carta pela professora Edna Mara, de São
Carlos, para a sua irmã e professora Mairy, de Cascavel.
b) Ler as cartas recebidas e responder as mesmas indicando leituras de
alguns livros lidos pelos alunos.
c) Trocar correspondência durante o ano de 2004.
d) Buscar na biblioteca os livros que forem sugeridos nas cartas.
e) Executar as idéias que forem sugeridas pelas crianças
no decorrer do projeto.
INTRODUÇÃO
O ser humano retém seus conhecimentos quando troca
informações orais e quando os registra. Registrar marca
o aprender com o passado e com as relações do presente.
Descobertas são socializadas, conhecimentos são reestruturados.
Os símbolos ganham vida. Ler é mais que decodificar símbolos
pré-estabelecidos, é ver o mundo, os interesses e as oportunidades
a partir do olhar de cada ser humano.
Este projeto relata o trabalho de leitura desenvolvido com alunos das
cidades de Cascavel e São Carlos por meio de correspondência
onde foram feitas indicações de leituras pelas professoras
e alunos de ambas as cidades.
Nos envelopes dos correios surgiram mais que indicações
surgiram crianças apaixonadas por leituras que tiveram significados
especiais em suas vidas e que foram compartilhadas com outras crianças.
Clássicos, rimas, ditos populares, poesias e outros gêneros
encantaram e despertaram o prazer que a leitura proporciona quando descoberta
na sua essência.
Com a literatura sentimentos são levados à tona e passados
de geração para geração num espaço
de tempo que sempre transforma o ontem, o hoje e o amanhã em sentimentos
da expressão e imaginação da vida humana.
Não só ler, mas indicar leituras contextualizou toda uma
forma real de significação para um ato que deixou de ser
mecânico, um ato onde foram rompidos obstáculos de distância
e nível escolar que provocaram mudanças no trajeto de crianças
que estavam iniciando sua caminhada no mundo da leitura.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Tendo como cúmplice o velho amigo Mar e como testemunhas
o caloroso Sol e a Areia macia, nós: Edna Mara e Mairy, começamos
a trocar idéias de trabalharmos a leitura com nossos alunos de
uma forma que realmente correspondesse as expectativas das crianças
e assim fizesse com que se apaixonassem por ler.
Surgiu então o rascunho do projeto Amigos da leitura: “Aqui
e Lá”. Trocaríamos cartas entre nós e nossos
alunos, onde registraríamos como é bom ler e indicaríamos
várias leituras para as crianças.
Apesar das férias estarem ótimas, não pensávamos
em outra coisa a não ser no brilho dos olhos dos nossos futuros
alunos ao receberem a primeira carta! Vibrávamos só de pensar
em qual seria a reação de todos e que não poderíamos
deixar de registrar nada.
Achávamos que tínhamos um caminho bem traçado, mas
para nossa alegria o olhar e falas significativas que cada criança
deu ao percorrer este caminho, fizeram com que percebêssemos o quanto
eles participaram da construção de caminhos alternativos
com textos poéticos, rimas, folclore, enfim, caminhos que foram
direcionados, redirecionados, enfeitados, asfaltados e traçados:
hora com grandes retas, hora com muitas curvas, cheios de altos e baixos.
Hoje quando pegamos todos os documentos de registro ficamos emocionadas
ao ver o quanto aumentou a nossa paixão pela literatura e como
crescemos com as crianças.
Pedimos perdão aos pais e amigos por termos compartilhados somente
alguns desses momentos que vivemos em nossas escolas e nos envelopes que
o correio transportou.
Os frutos desse projeto serão colhidos ao longo dos próximos
anos na mente e no coração de cada criança que estudou
em 2004 nas escolas: EMEI Professora Maria Lucia Aparecida Marrara, Colégio
Objetivo Júnior e Colégio Marista de Cascavel e com as professoras/irmãs
Edna Mara e Mairy.
RELATÓRIOS REFLEXIVOS DO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
AMIGOS DA LEITURA: “AQUI E LÁ”
Relatório Reflexivo 23/03/04 – Mairy - Cascavel
Finalmente chegou a primeira carta de minha irmã, Edna, e assim
poderíamos começar o nosso tão planejado “Projeto
de leitura”. A carta chegou de manhã. Eu não via a
hora de almoçar, ir à escola, ler a carta para os alunos
e ver qual seria a reação deles.
As crianças entraram na sala, nos cumprimentamos, copiaram a tarefa,
e logo fui dizendo que havia acontecido uma coisa muito legal! Minha irmã
que mora em São Carlos e que é professora também,
havia enviado uma carta pelo correio falando de seus alunos e perguntando
como eu estava com a turminha de 1ª série.
Enquanto a carta ia sendo lida, as crianças quase que pararam totalmente
o que estavam fazendo e ficaram espantadas e curiosas para saber como
era receber uma carta e o que continha nela. Hoje em dia as pessoas quase
não escrevem cartas, pois usam muito o telefone, o e-mail e tudo
fica muito retido na tecnologia como um meio de comunicação.
Os olhos das crianças brilhavam à medida que ia explicando
que toda carta começa com o nome da cidade da pessoa que está
escrevendo, a data e logo em seguida com uma saudação bem
informal, carinhosa para a pessoa a qual está escrevendo.
O fato de serem duas irmãs e as duas professoras também,
foi de grande empolgação por parte das crianças.
Como estão em uma fase que gostam muito de escutar histórias
contidas nos livros, imediatamente se envolveram com os livros que foram
sugeridos pela professora Edna, falaram que iriam ver se havia os temas
sugeridos na biblioteca do colégio.
A professora comentou que “Menina bonita do laço de fita”
já conhecia o livro e que realmente era muito bonito. Todos se
empolgaram e ficaram curiosos para conhecer a história. O outro
livro “Ana e Ana” já trouxe outro comentário
que foi muito interessante: Giulia e Giorgia, que são gêmeas,
falaram: _ “Devem ser gêmeas, pois é Ana e Ana!”
Algumas crianças concordaram: _ “É deve ser pois é
Ana e Ana duas vezes por isso devem ser irmãs iguais.”
As expectativas ficaram no ar e o grupo resolveu escrever, no fim de semana,
para a professora Edna para também sugerir alguns livros que eles
leram e que recomendam porque acham legais.
Deu para sentir nesse momento que o Projeto de Leitura seria algo muito
especial em nossas vidas. Valeu esperar as férias terminarem !
26/03/2004: Algumas crianças vieram com a carta
escrita. As outras só se lembraram ao ver as crianças entregarem
para a professora por no correio. Pediram que esperasse mais um dia, pois
trariam no dia seguinte a carta. Assim foi feito.
A professora leu a sua carta em voz alta para toda a classe e as que os
colegas haviam escrito.
27/03/2004: Alguns esqueceram novamente e pediram outra
chance; só que a turma que já havia escrito não concordou
e deram a idéia de escreverem ali em sala de aula. Todos concordaram.
A professora distribuiu sulfite para que pudessem escrever. Conforme iam
escrevendo e entregando a carta para a professora, esta lia em voz alta
para que toda a classe ouvisse o que o amigo escreveu.
O interessante foi que à medida que iam escutando a leitura das
cartas dos amigos, os que estavam escrevendo colocavam algumas idéias
que haviam gostado, outros não alteravam em nada sua carta.
O Matheus Zordan Colocou o seguinte: _“Prof, deve ser muito legal
receber a resposta da resposta de uma carta!”
A maioria da turma escreveu usando a nomenclatura de uma carta.
Relatório reflexivo: Amigos da leitura: “Aqui
e Lá” 04/05/2004 – Edna Mara – São Carlos
Recebi a tão esperada resposta da carta enviada para minha irmã
Mairy, grande surpresa foram às cartinhas das Crianças da
primeira série D que sentiram vontade de escreverem individualmente.
Essa foi a primeira experiência desse gênero de comunicação
que essas crianças praticaram, onde expressaram seus sentimentos
e desejos, fizeram agrados como colocar pirulitos e adesivos. O desenho
foi utilizado como meio de comunicação juntamente com a
escrita convencional.
Fica registrado o interesse dessas crianças pela escrita e a troca
de sugestões de leituras. Cada criança encontrou a forma
de comunicarem-se, mesmo os que ainda não dominam a escrita convencional.
“Sentir-se capaz de escrever mesmo sem estar alfabetizado demonstra
o trabalho positivo e incentivador que as crianças podem vivenciar
em nossas escolas”. (Edna Mara, 2004)
Entre as cartas encontrei com alegria histórias reescritas por
alguns alunos, eles optaram por escrever textos conhecidos por eles, esse
tipo de iniciativa deve ser estimulada pela escola, contribuindo na formação
de novos escritores criativos e felizes.
Reuni meus alunos em grupos para socializar as cartas, manusearam e fizeram
a seguinte observação – Professora é difícil
ler as letras das crianças, você pode nos ajudar? Percebi
que a dificuldade estava na leitura das cartas escritas com letra cursiva,
pois as outras com letra de imprensa fizeram a leitura com mais facilidade.
Logo após fizemos em uma grande roda onde reli as cartas e fomos
anotando os títulos das histórias sugeridas pelos amigos
de Cascavel, quando estas sugestões se repetiam marcávamos
com pauzinhos, organizando para montar o gráfico das histórias
indicadas para a leitura.
Organizamos os livros sugeridos e todos os dias nos deliciamos com eles,
as crianças pediram que eu seguisse a ordem do gráfico para
a leitura, e que lesse todas as histórias até as já
conhecidas por eles.
Relatório Reflexivo 20/04/04 – Mairy - Cascavel
Os alunos da 1ª D estavam em aula de educação física
quando chegou a carta resposta da Edna Mara. Ao entrarem na sala a professora
Mairy pegou o envelope e disse: - Adivinhem o que chegou? Todos responderam
prontamente: _ “A carta da Edna Mara!”.
Sentaram-se rapidamente e ficaram atentos para escutarem a leitura da
mesma. Os olhinhos brilhavam e o coração de cada um batia
mais forte. Saboreavam cada palavra escrita, parecia que não havia
crianças na sala de aula e que estavam entrando em um mundo cheio
de novidades! Sentiam-se orgulhosos em saber que as crianças de
São Carlos haviam adorado as indicações dos livros
e que já estavam lendo alguns.
Quando foi mostrado o livro das rimas que os alunos de lá fizeram,
a euforia foi enorme, não conseguia contê-los, riam, conversavam,
repetiam algumas rimas e já inventavam outras. As crianças
fizeram um comparativo da quantidade de alunos da nossa sala de aula que
são 33 e da Edna Mara que são 10 (no Objetivo). Acharam
que por serem alunos de JIII, escreveram muito bem e tiveram muita imaginação
ao fazerem as rimas.
Imediatamente começaram a procurar palavras que rimassem com o
nome deles. Rafael já veio à frente e disse: -Rafael comeu
um pastel com papel no hotel.
O agito foi tão grande que o assistente de alunos, Silvane, entrou
na sala para dar uns avisos e fez a seguinte observação:
_ “Nossa! A sua sala está parecendo uma granja!” Pedimos
que entrasse e mostramos o livro das rimas e ele entendeu toda a euforia
e adorou o livro; ficando admirado ao saber que eram crianças de
JIII.
Para poder acalmar a turma foi preciso pegar o aparelho de som, colocar
uma música de relaxamento e propor que fossem lanchar pois já
havia batido o sinal para saírem para o recreio.
Durante o recreio as crianças vinham a cada pouco falar de uma
rima que combinava com o nome deles e não conseguiam falar de outra
coisa a não ser nas rimas. O entusiasmo era muito grande, mas não
tínhamos tempo para fazer as rimas no mesmo dia pois tínhamos
que desenvolver algumas atividades que estavam previstas para o dia. Acalmaram-se
um pouco mas virava e mexia tinha um e outro falando de uma nova rima.
No final da aula ficou combinado que pensariam mais um pouco sobre as
palavras que rimavam com o nome deles para também fazerem um livro
de rimas e mandarem para as crianças de São Carlos.
22/05/04: Foi proposto aos alunos que entrassem no Portal
Marista, durante a aula, no laboratório de informática,
e deixassem um recadinho para os amigos de lá. Prontamente concordaram
e já foram distribuídas tiras de papel para que escrevessem
na sala e depois digitassem no computador para ser mais rápido.
Assim foi explicada a estrutura de um recado. Nem todos os alunos conseguiram
deixar o recado registrado, pois era a primeira vez que entraram no mural
para deixar um recado e muitos se perderam ao dar o comando de enviar.
O único que conseguiu enviar foi o Matheus Zordan que valeu por
toda a turma pois deu para ver o quanto estavam empolgados com as correspondência
e com o livrinho das rimas.
Iremos retomar a digitação de recados no mural para que
as crianças também se comuniquem pela Internet.
Relatório Reflexivo 24/05/04 – Mairy - Cascavel
Começamos a aula falando sobre o recadinho no mural a Edna Mara
respondeu para o Matheus Zordan neste final de semana. Eles abririam o
portal em casa para ler.
Mal começou a aula e já queriam fazer o livro das rimas.
A maioria tinha as rimas na ponta da língua e alguns não
estavam conseguindo, o que não foi problema, pois a turma propôs
ajudar os que não haviam conseguido. Conforme iam falando as rimas,
a professora ia escrevendo no quadro. Alguns complementavam as rimas de
outros, davam outras idéias, criavam e ousavam muito sem ter medo
de errar. Foi uma aula muito produtiva! Como foi gostoso olhar para o
quadro e ler todas as rimas feitas pelo grupo!
O que pode ser notado é que as crianças da 1ª série
fizeram mais rimas com um nome só. Aí dá para ver
a caminhada de um ano para o outro. Eles não se contentaram com
uma rima, faziam de três a cinco rimas por nome. Hoje podemos pegar
os dois livros, do JII e da 1ª série, e ver o quanto amadurecem
com a leitura e com a produção espontânea! Devemos
sempre investir na leitura de diversos gêneros literários
para as nossas crianças. “Quando envoltas de interesses reais,
as crianças caminham a passos largos”. (Mairy, 2004).
Relatório reflexivo: Amigos da leitura: “Aqui
e Lá” 18/06/2004 – Edna Mara – São Carlos
Em nossa última carta para os amigos de Cascavel, os alunos do
Marrara escreveram-na coletivamente e os alunos do Colégio Objetivo
Júnior enviaram um livrinho de rimas utilizando os seus nomes,
as turmas fizeram as suas indicações de historinhas que
gostariam que os amigos lessem.
A correspondência foi enviada pelo grupo do Objetivo utilizando
o envelope timbrado do mesmo, isto foi um combinado feito com as duas
turmas, com a minha intermediação.
Chegou a resposta desta correspondência no endereço do Colégio
Objetivo Júnior, foi motivo de muita euforia e divertimento, as
crianças ficaram felizes em receber o livrinho de rimas dos alunos
da primeira série D do Colégio Marista, eles estranharam
o número de alunos, pois compararam com a nossa turma que é
pequena, apenas dez.
Levei a carta para o Marrara e compartilhamos a leitura das rimas uma
a uma, alegraram-se em saber que alguns possuem o mesmo nome que eles,
gostaram de poder conhecê-los por foto, assumi o compromisso de
fotografá-los para enviar na próxima correspondência.
Coube-nos a tarefa de desenhar os monstros idealizados pelos amigos de
Cascavel, combinamos que faríamos a leitura dos textos e que iríamos
ilustrá-los interpretando a característica de cada monstro,
parte por parte.
Os alunos que já lêem ajudam os que ainda não dominam
a leitura e o trabalho em duplas ajuda bastante.
As duas turmas se empenharam e fizeram o trabalho com responsabilidade
e dedicação, a troca de opiniões e sugestões
para resolverem os problemas que surgiam com a interpretação
da leitura foram resolvidos com a preocupação de desenharem
o monstro respeitando o que estava escrito, para que ficasse o mais parecido
possível com o idealizado pelo escritor.
Trabalhamos também com a leitura do panfleto sobre “Dicas
para Festas Juninas” enviadas pelos amigos de Cascavel, as crianças
estão lendo e trocando, não só histórias como
tínhamos planejado, mas também panfletos, cartinhas e textos
escritos por eles, tudo isto faz parte da vida desses jovens leitores.
Percebo a influencia positiva dessa troca de experiência onde os
alunos têm muito para dar, sinto-os estimulados, curiosos e participativos.
Todos os dias têm o momento da leitura, agora às crianças
participam com maior intensidade, trazem de casa livros, textos, piadinhas,
charadinhas que querem compartilhar a leitura com seus colegas. “A
vida de um leitor tem um brilho e sabor especial, quando o prazer de ler
é cultivado em suas experiências diárias”. (Edna
Mara, 2004)
Relatório Reflexivo 20/06/04 – Mairy - Cascavel
Chegou mais uma carta de São Carlos e, esta contém fotos
dos amigos de lá. Colocamos no mural para que todos pudessem ver
as fotos. Continha também cartas das crianças com desenhos
e indicações de livros para que fossem lidos por nós.
Fizemos uma lista dos livros e colocamos no mural da sala para que fossem
até a biblioteca e pegassem os mesmos. Foi ótimo! As crianças
iam e vinham com os livros indicados.
Ah! Neste tempo todo, estávamos aguardando a chegada do livro “Ana
e Ana”. Quase todos os dias as crianças iam até a
biblioteca ver se havia chegado e também confirmar o nome na lista
de espera para pegar o livro.
Voltando as cartinhas dos amigos de lá, as crianças daqui
gostaram muito dos desenhos deles. Comentavam que eles desenhavam com
muita perfeição e ficavam orgulhosos em ver que já
não escreviam mais como crianças de JIII. Agora suas escritas
eram mais completas e mais legíveis. Esta análise foi muito
boa, pois comentaram o quanto se cresce de um ano para o outro: “Profe,
como aprendemos na escola!” “A escola só se torna interessante
quando é uma criança que diz o que aprendeu ao freqüentá-la”
( Mairy, 2004).
Foi proposto pela professora que cada um escrevesse uma história
e mandássemos para que os alunos de São Carlos fizessem
as ilustrações das histórias, já que eles
são alunos de JIII e que estamos estudando sobre característica
dos personagens, autor e ilustrador.
Todos adoraram a idéia e começaram a fazer as contas de
quantas histórias dariam para cada aluno ilustrar. Feitas as contas
chegaram a conclusão que dariam 3 histórias para cada aluno
e 3 histórias para a Edna Mara. O Daniel lembrou que não
era só a turma do Objetivo, que tinha os alunos do Marrara e que
iriam faltar histórias se somássemos todos os alunos das
duas escolas. A solução encontrada foi de alguns fazerem
dois textos ao invés de um. Muita euforia, muito trabalho e muita
produção! Que gostoso ver a turma envolvida, animada e ansiosa
pelo amanhã que certamente traria novidades pelo correio! Enquanto
esperavam por novas notícias, liam, liam, liam, liam........
Relatório Reflexivo 20/06/04 – Mairy - Cascavel
Que delícia olhar para as cartinhas das crianças do JIII
do MARRARA e ver como estavam empolgadas com as nossas correspondências
e com as leituras! Não só indicavam leituras como também
demonstravam a vontade de nos conhecer. Algumas já tinham os símbolos
da escrita padrão bem definidos e outras não se intimidavam
e colocavam no papel a sua escrita. “Um começo muito válido
quando o erro não marca a criança negativamente, mas sim
positivamente, valorizando as suas hipóteses e tentativas.”
Mairy, 2004)
As crianças de Cascavel ficaram encantadas com os desenhos das
crianças de São Carlos e isso foi um ponto muito positivo,
pois passaram a desenhar com mais detalhes. A Julia pegou um caderno só
para desenhar. Como eram lindos seus desenhos!
As crianças também se achavam o máximo por terem
passado pela fase da tentativa de escrita e agora já escreverem
convencionalmente. Riam e olhavam para mim com os olhos brilhando quando
lhes falava que no ano passado escreviam assim, mas que agora estavam
na 1ª série e eram mais mocinhos. A Luana fez a seguinte observação:
_ “Puxa profe, como nós aprendemos com os anos de escola!”
O Guilherme falou: _ “É, precisamos agora ajudar os nossos
amiguinhos de São Carlos para irem bem espertinhos para a 1ª
série.” “Quando a criança pára e reflete
o quanto ela pode colaborar com as pessoas, fica fácil mostrar
a importância de aprender” (Mairy, 2004)
Os livros indicados pelas crianças do marrara foram: Dona Pata
e os Duedes, Urso Guloso, Miquinho e o realejo, Os Três Porquinhos,
O Sonho da Leiteira, Peninha, O Pintassilgo Guloso, Ani o Coelho, A Pastora
de gansos, O Urso Curioso, Cinderela, O sonho do Abacaxi, Dona Pata, Aladim,
O pequeno Urso, Branca de Neve, Pula-pula de Casa Nova, Abóbora,
a Remadora.
Relatório Reflexivo 06/07/04
Estamos trabalhando um texto que fala de monstro e uma das atividades
proposta pelo autor é que cada um crie o seu monstro. Imediatamente
pensamos nos amigos de São Carlos assim, resolvemos escrever as
características dos nossos monstros e mandarmos para que eles os
desenhem e depois nos mandem de volta para vermos se ficou como havíamos
imaginado. Li as características de alguns monstros e não
sei se os amigos de lá vão conseguir desenhar tantas pernas,
cabeças e até mesmo braços.
Relatório Reflexivo 06/07/04 – Mairy - Cascavel
Que legal! Os monstros chegaram! Puxa, os amigos entenderam direitinho
o que havíamos escrito e os nossos monstros ficaram demais! Conseguiram
colocar todas as pernas, cabeças, braços e outras coisinhas
mais. As crianças amaram os desenhos e deram a idéia de
escrevermos historinhas para que eles ilustrem: _ “Profe, seremos
os autores e eles os ilustradores”. Como estou me realizando com
esse projeto! Não preciso propor atividades para as crianças,
elas mesmas vão decidindo o que fazer.
A produção de histórias envolveu toda a turma e em
momento algum tive reclamações. O capricho era visível,
pois tinham a preocupação ao escrever para que os amigos
de lá entendessem bem. Liam, reliam e buscavam ajuda para escrever
algumas palavras. Quando a mãe do Affonso viu o conteúdo
e o capricho do texto de seu filho não acreditava que era dele
e disse: _ “Danadinho, em casa tenho que ficar brigando para que
capriche nas atividades!”.
Junto com os desenhos dos monstros veio um livro de “Coisas que
o povo diz”. Os alunos se deliciaram com as frases e o que elas
queriam dizer realmente. Mais um gênero literário estava
à nossa frente e mais uma vez as crianças buscavam no seu
dia-a-dia as vivências. Relembravam frases que seus pais, tios,
avós falavam e que agora faziam sentido para elas. Fomos buscando
uma a uma. O mais interessante é que as crianças começaram
a repetir esses ditos quando queriam fazer alguma colocação.
Estou aqui escrevendo sobre esses momentos e ao mesmo tempo me divertindo
com a alegria das crianças a cada descoberta nova. “Alfabetizar
em um contexto de letramento é muito prazeroso! É como estarmos
no meio de um rio onde as crianças ajudam a remar o tempo todo.”
(Mairy, 2004)
As crianças não falaram em fazer um livro de frases, mas
só o fato de usarem os provérbios já conta muito.
Creio que também é porque estamos envolvidos com o projeto
sobre Festa Junina “Pintando com a educação”.
Este projeto será colocado no final deste livro. Posso adiantar
que foi ótimo e que nos integramos com os alunos do JIII D do nosso
colégio (Marista – Cascavel). Trocamos muitas informações,
visitas e apresentamos o projeto para eles.
Os alunos do Objetivo Júnior nos mandaram alguns desenhos e também
demonstraram o quanto querem nos conhecer. Nas suas tentativas de escritas
estavam envolvidos com as nossas trocas e, conversavam conosco como amigos
íntimos, falando sobre o seu dia-a-dia. Queriam nos contar tudo
o que faziam, se havia sido legal, divertido, o que iriam fazer em seguida,
do que gostávamos de comer, quantos anos tínhamos, se o
nosso colégio era bonito, etc..Tudo era importante para eles e
também para nós. Que vontade que dava de organizar uma excursão
e irmos conhecer pessoalmente os amigos de lá!
Vamos entrar de recesso e vou poder ir para São Carlos conversar
pessoalmente com minha irmã. Não vejo a hora, temos tantas
idéias para trocar! Vou poder conhecer alguns aluninhos dela pessoalmente,
pois moram perto de sua casa.
Relatório Reflexivo 27/07/04 – Mairy –
Cascavel
Voltei de São Carlos com mil planos para o 2º semestre do
ano. A Edna mostrou um livro de poesias que deu de presente para si mesma;
contou-me como foi que fez para apresentar o livro para as crianças
e resolvi fazer o mesmo. Corri na biblioteca para ver se tínhamos
o livro, e não é que tínhamos! O Sergio (diretor
educacional) havia indicado o livro para que a bibliotecária o
comprasse; amei, pois não precisaria desembolsar CR$ 75,00. Loquei
o livro e o levei para casa. Peguei uma caixa bem bonita, coloquei o livro,
coloquei papéis de seda em volta e por cima, tampei a caixa e a
embrulhei com um papel muito lindo. No dia seguinte cheguei com o embrulho
na mão, o que despertou a curiosidade de muitas pessoas e principalmente
das crianças. Na sala de aula falei que era uma coisa muito especial
e que a Edna tinha comprado para ela e que quando eu pudesse compraria
para mim. Começaram os chutes: Roupa, livro, sapato, cd, jogo,
etc. A maioria no final tinha certeza de que era um livro porque eu e
minha irmã gostávamos muito de livros. Pedi que uma criança
viesse tirar a fita, outra o primeiro papel, outra abrisse a caixa, outra
tirasse os papéis de dentro da caixa e que a última levantasse
o que tinha dentro. Todos demonstraram muito orgulho ao ver que era um
livro e já solicitaram que eu o lesse para eles. Disse que esse
livro era muito lindo e que as ilustrações pareciam telas
de verdade e que as poesias que estavam escritas ali, ficavam mais lindas
ainda por causa das ilustrações. Nos apaixonamos pelo livro
e a biblioteca só o viu novamente no final do ano. Passava de aluno
para aluno e não nos cansávamos de ler suas poesias e admirar
suas ilustrações.
Relatório Reflexivo 03/08/04 – Mairy –
Cascavel
Na semana seguinte a Luisa apareceu com uma poesia e pediu para que eu
a deixasse ler para os amigos, pois adorava ler poesias e já havia
participado de uma amostra de poesias no seu antigo colégio. Quando
vi que era “A rosa de Hiroxima”, lembrei-me que tinha um cd
com a música intitulada “Hiroxima”. Combinamos de logo
após o recreio falar sobre o que aconteceu em Hiroxima para que
as crianças pudessem entender melhor e se emocionarem mais ao escutarem
a poesia ao som da música que tinha uma balada muito triste. Dito
e feito, Luisa leu a poesia com tanta emoção que algumas
crianças estavam com os olhos cheios de lágrimas e odiando
a guerra. Vários comentários foram tecidos com relação
às atrocidades da guerra e foi um bom momento para discutirmos
como é importante a paz. O Daniel levantou o braço e disse
que tinha um tio que era poeta e que se quiséssemos ele poderia
vir mostrar nos algumas poesias. As crianças adoraram a idéia
e já agendamos uma data para conhecer o poeta cascavelense “Jorge
Linzmeier”. Surgiu aí mais um projeto.
Relatório Reflexivo 18/08/04 – Mairy - Cascavel
Que surpresa agradável o Marcos veio nos trazer! Chegou o livro
“Ana e Ana”! Paramos tudo para ler a cartinha que a Mariana
nos mandou acompanhada de um embrulho. As crianças estavam curiosas,
aproveitei e dei mais suspense ainda, fui descobrindo o livro bem devagarzinho
e a cada pouco parava para perguntar alguma coisa como: Como vocês
imaginam que é a capa? Do que será que trata a história?
Será que fala de duas gêmeas mesmo? Será que é
uma história legal? Quantos anos vocês imaginam que tenham
as meninas? Quais as características delas?
Chegou um certo momento em que não se agüentavam mais de curiosidade
e, quando finalmente mostrei o livro, ouvi um grande suspiro. Acharam
linda a capa e diziam: São duas meninas gêmeas mesmo! Como
elas são bonitas! Parecem ter nossa idade! Acho que a história
deve ser legal mesmo! Como gostaria que muitos educadores e pais estivessem
na sala para ver como é gostoso brincar com a imaginação
das crianças e como pequenos detalhes fazem da literatura algo
muito prazeroso. Não fiz nada de mais a não ser apresentar
um livro de forma diferente, mas o resultado foi muito bom pois as crianças
me fizeram ler o livro quatro vezes seguidas e depois um por um leu o
novamente.
Durante alguns dias o interesse era para saber com quem estava o livro
Ana e Ana. Não se cansavam de dizer como a história era
legal! Aproveitavam e comentavam que gêmeos eram bem assim mesmo,
só eram iguais por fora e que cada um tinha a sua identidade. Procuravam
confirmar suas conclusões com a Giulia e a Giorgia que era as gêmeas
da nossa turma. Pudemos amarrar bem com os conteúdos de história
e ensino religioso que trabalhavam o eu e a identidade própria.
Todos conheciam a história de cor e salteado, mas liam o livro
várias vezes. “Quando real, o prazer pela leitura não
precisa de grandes metodologias para ser despertado”. (Mairy, 2004).
Adoro literatura infantil e mais que as crianças, estava muito
realizada e feliz com todo o interesse que meus alunos tinham por ler
livros. Senti naqueles dias que já havia atingido o grande objetivo
de despertar nos alfabetizando o “ler” porque crescemos muito
e porque é bom.
Relatório Reflexivo 24/08/04 – Mairy - Cascavel
Não esperava que o poeta tocasse tanto as crianças! Sua
palestra foi muito boa, pena que não filmei, pois poderia mostrá-la
para meus futuros alunos e assim despertar em seu coração
esse olhar para a vida com sentimentos que só nossa alma entende.
Quando Jorge falou sobre os anjos que cruzam os nossos caminhos, algo
muito especial tocou nossos alunos, deu para notar nos ensaios de poesias
que depois colocaram no papel. Suas vidas haviam se modificado, os sentimentos
estavam a flor da pele e não tiveram receio de se expressarem com
palavras e atitudes. Como foi bom trabalhar poesia! Adorávamos
ler os grandes poetas e os pequenos também. Giórgia se encontrou
com as poesias e quase todos os dias escrevia e lia para nós suas
produções. “Quando somos tocados espiritualmente,
algo intocável mexe com nossos sentimentos” (Mairy, 2004).
O poeta Jorge traçou e depois percorreu “O caminho dos poetas”.
Mostrou slides para as crianças e foi deixando que sua alma falasse
sobre essa experiência solitária, mas ao mesmo tempo tão
cheia de anjos. Em alguns momentos parava de falar e recitava uma poesia
sua. Não estou conseguindo por no papel como foi esse momento com
o poeta, o que posso dizer é que leiam os ensaios de poesias das
crianças e naveguem com suas palavras pelo rio de sentimentos que
se deixaram levar.
Relatório reflexivo: Amigos da leitura: “Aqui e Lá”
15/09/04 – Edna Mara - São Carlos
Com as nossas trocas de leituras percebi que as crianças estão
envolvidas com o gênero literário poético; resolvi
lhes propor a participação de um projeto de poesias assim,
poderemos enriquecer nossas leituras e indicá-las para os nossos
amigos de Cascavel.
Com este envolvimento vai ser cem por cento.
Lápis e papel na mão soam como canção.
Sala de aula, criança, poesia, cantoria e muita euforia para o
projeto poesia.
É isto que senti. Planejei, busquei, apliquei, avaliei, refleti
e refletirei ainda mais.
Convidei minha turma para nos reunirmos em uma roda no canto da sala para
conversarmos sobre o projeto. Não precisei dizer mais nada, foi
só ouvir, anotar e coordenar as falas; não faltaram opiniões
e sugestões. Eis algumas dessas falas: ¬_ Geovana: Idéias
boas sempre acontecem. _ Andreza: Isso deixa a gente feliz. _ Matheus:
Professora, eu gosto muito de ler._ Larissa: Poesia é quando as
pessoas escrevem palavras bonitas. _ Charles: Tem poesias divertidas.
_ Mirela: Às vezes elas são tristes e dá um aperto
no coração, mas é legal. Estas falas foram me contagiando
e perguntei se ainda se lembravam das poesias que já li para eles.
A emoção brotou no meu coração ao olhar aqueles
rostinhos vibrantes, olhos vivos, dizerem que se lembravam e foram citando
uma a uma que ficou na lembrança de cada um. Acho que eu não
acreditava, com tanta convicção, que a poesia já
fazia parte do gosto dessas crianças. Fiquei emocionada e com a
certeza de que o papel do professor é mais do que nunca insubstituível
e a sua responsabilidade é grande: “Planejar é preciso”.
Perguntei o que poderíamos fazer além de ler as poesias;
falei que achava que era preciso registrar para não esquecer, e
perguntei como poderíamos fazer isso. Idéias é que
não faltaram: vamos escrever, vamos fazer um livro, apresentar
as poesias para as outras crianças da escola... O próprio
tema sugere essas situações e na foi preciso o professor
dizer o que fazer. É só dar voz e vez as crianças
e tudo acontece e surpreende.
Com essas falas o projeto foi se estruturando, as crianças participando.
Decisões importantes foram tomadas:
• A professora irá encarregar-se de reunir e trazer para
a sala de aula vários livros de poesias. Textos poéticos
e CD com poesias musicalizadas.
• Combinamos de fazer um bilhete para os pais explicando o nosso
projeto e convidando-os a nos ajudarem.
• Teremos um espaço durante as aulas para quem quiser recitar
uma poesia ou versinho que sabe de cor, que aprendeu com a família,
com alguém que conhece; ou ler uma poesia que aprecie.
• A professora lerá para as crianças uma poesia por
dia de diversos autores.
• Seleção das poesias preferidas da turma para a produção
de um livro de coletânea de poesias e produções poéticas
dos alunos.
• Lançamento do livro para as outras salas de aula com sarau.
Terminado os combinados os alunos pediram que eu relesse as poesias: “Este
pequeno mundo” e “Irmão menor”, de Pedro Bandeira.
Li para eles também a poesia de uma autora de São Carlos:
“A anta Samanta”. De Célia Aparecida Luiz.
Pediram mais e assim ainda li: “A lagarta”, “O lápis
de Ladislau” e “Soldadinho raso”. Entreguei os dois
livros que continham essas poesias para eles manusearem, lerem e apreciarem.
No outro dia já tivemos uma surpresa agradável: a Geovana
recitou um versinho que aprendeu com a sua bisavó pernambucana;
serviu de aquecimento e estímulo para escrevermos o bilhete para
os pais. Os alunos viram nessa atividade as possibilidades de descobrirem
coisas lindas com a família e imaginam que irão aparecer
poesias bem diferentes. O bilhete foi elaborado por eles; anotei na lousa,
li e convidei-os para fazermos a revisão do texto, pois este deve
ficar bem escrito para os pais entenderem o que iremos fazer.
Preparei uma surpresa: levei para a sala de aula um pacote de presente
bem bonito, disse que eu havia me presenteado, que esse presente iria
ser dividido com eles e que eu nem havia dormido direito pensando naquele
momento. Quando abri o pacote eles exclamaram com alegria: _ Oh! Que lindo
professora! Eram livros lindos de poesias, cada um com seu tom, sua cor
e seu esplendor. Abri o primeiro e li “Leilão de jardim”
(Cecília Meireles). Ao terminar a leitura o Matheus disse: _ Professora,
a senhora já leu essa poesia; tem ela no nosso caderno. Andreza:
_ Tia, ela ficou mais bonita com esse desenho. Gabrielle: _ Até
parece que é outra poesia diferente daquela que a senhora leu antes
para nós. Que alegria ouvir isso e sentir a importância do
livro que, com sua organização, ilustração
e encadernação, encanta a todos. Li também de outros
livros: “Amarelinha” (Hardy Guedes Alcoforado Filho), “Camelô”
(Cyro de Mattos), “Boca de forno” (Manuel Bandeira). Além
dos livros contidos nesse pacote de presente, coloquei à disposição
da classe muitos outros para os alunos “se deliciarem”. Acho
que usei o termo correto, pois é isso que senti: eles se deliciaram
com os livros. Circulei entre as crianças; umas devoravam as poesias
com a leitura; outras folheavam e apontavam, indicando fazer a leitura;
outras observavam as letras e a ilustração como que querendo
adivinhar o que estava escrito. O Caio pediu que eu lesse para ele. Vivemos
momentos especiais de prazer, riso, espanto, emoção, curiosidade
e aprendizagem.
Vale a pena citar que os alunos se agruparam nesse momento de acordo com
suas afinidades; não foi solicitado agrupamentos; a consigna era
que eles deveriam entrar em contato com os livros. É, nada melhor
que trabalhar em equipe _ ou podemos concluir: “A união faz
a força”. Eles já se habituaram ao trabalho em duplas
ou equipe e com a contribuição do colega; vejo esta atitude
como uma conquista e avanço em nosso trabalho: o que cada um sabe
pode ser dividido, compartilhado com o companheiro. Quando planejei as
atividades estava muito entusiasmada e as expectativas estão sendo
superadas além do esperado.
As leituras de poesias têm sido diárias e as crianças
têm pedido que isso aconteça com freqüência; assim,
criamos um espaço diário para leitura ou para declamar de
memória. Elas declamam versinhos, quadrinhas simples, mas o mais
importante é o interesse pelo texto poético e confiança
na capacidade pessoal de participar. Andreza pediu para recitar e quando
terminou os colegas logo disseram: _Andreza, essa poesia foi você
quem inventou; então você é a autora. Ela sorridente,
respondeu que sim. Perguntei se gostariam de escrever um poema ou um verso
e disse-lhes que havia escrito um poema para eles; e que, apesar de não
ser poeta, eu estava feliz com o que produzi. Li para os alunos, e quando
terminei o Matheus disse: _ Isso é mais do que poeta, professora;
eu gostei muito.
Pediram que eu os ajudasse a escrever uma poesia para os amigos de Cascavel,
com o qual mantemos correspondência e trocamos sugestões
de leitura. Sugeri que pensássemos em algumas rimas, ou seja, em
palavras que rimam com Cascavel. Fui anotando as palavras no quadro e,
inicialmente escrevemos três versinhos. Nos outros dias da semana
nos envolvemos em terminar de escrever a poesia, ilustrá-la para
que ficasse bem bonita e assim pudéssemos fazer uma bela surpresa
para os nossos “Amigos de Cascavel”.
Relatório Reflexivo 26/10/04 – Mairy
Estávamos tão mergulhados em nossas poesias que esquecemos
dos nossos amigos de lá, mas veja que sintonia, eles também
estavam desenvolvendo um projeto de poesias e assim que terminassem de
ilustrar um livro com algumas poesias de poetas brasileiros, nos mandariam.
Ficamos super felizes e já resolvemos que iríamos mandar
nossos ensaios de poesias.
12/11/04: Quando li a carta da Edna, parei em uma parte e disse que não
poderia ler um parágrafo e que só mais tarde contaria para
eles o que estava escrito. As crianças ficaram super curiosas,
mas era isso que eu e a Edna tínhamos planejado e previsto. Queríamos
comprovar se as crianças iriam propor imediatamente que fizéssemos
uma poesia coletiva para os amigos de São Carlos e que o título
seria Amigos do Marrara, assim que eu apresentasse a poesia feita pelas
crianças do Marrara no retro projetor. Não deu outra! Cheguei
um dia na sala e falei que iria colocar uma surpresa no retroprojetor.
Queriam adivinhar o que era e não demorou muito e o Marcelo falou:
_ Profe, é aquela surpresa que você não leu na carta
da sua Irmã! O agito foi total, mas logo se aquietaram e ficaram
de olho no clarão do quadro. Os olhos nem piscavam, foram enchendo
de brilho quando descobriram que era uma poesia para eles feita pelos
amigos de lá! “Profe, os amigos de Cascavel somos nós!”
“Que legal! Uma poesia para nós” “Eles são
poetas também!”
Desliguei o retroprojetor e adivinhem o que a Luana falou? _ “Profe,
vamos fazer uma poesia para eles. A turma toda adorou! João Pedro
Konrad propôs que fosse coletiva, Nara propôs que tivesse
o título “Amigos do Marrara”. Matheus Antonio torceu
o nariz e disse: _ “Profe, eu não sou pastel de banana com
mel!” Todos rimos e começamos a discutir o que eles quiseram
falar com essas palavras. Relemos a poesia e fomos conversando sobre o
verdadeiro sentido das palavras escritas nela. Pegamos papel, lápis,
giz e mãos a obra. Todos davam idéias de palavras que poderiam
ser colocadas na poesia e quais as palavras que rimavam com elas. Depois
que terminamos nossa poesia, lemos várias vezes e sentimos um orgulho
enorme. Nossa poesia ficou demais! Éramos uns poetas de primeira
linha! Nossos amigos iriam adorar! “A auto- estima quando em alta
é uma grande colaboradora para a aprendizagem significativa.”
(Mairy, 2004).
Relatório reflexivo: Amigos da leitura: “Aqui e Lá”
22/11/2004 – Edna Mara – São Carlos
O tempo
O tempo é agora
O tempo foi ontem
O tempo passa
O tempo é vivido
O tempo é desperdiçado
O tempo é aproveitado
O tempo vale ouro
O tempo quem faz é a gente
(Edna Mara, 2004)
Hoje parei para pensar no tempo vivido em dois mil e quatro com meus alunos,
nos grandes momentos que dedicamos ao nosso projeto de leitura. Senti
com a chegada da carta da professora Mairy uma ponta de saudade do que
vivemos, do que fizemos e do que agora está se encerrando. As correspondências
partiram carregadas de desejos vividos para serem repartidos, quanta riqueza
as crianças compartilharam, com certeza seus corações
carregarão a magia que os livros lhes trouxeram, a energia das
letras grifadas pelos amigos de Cascavel fazendo-nos indicações
de leituras que apreciaram e com carinho dividiram conosco.
Assim como os alunos da professora Mairy os meus disputaram a vez para
manusear e ler o livro de histórias criadas pelos amigos de Cascavel
baseadas nos desenhos produzidos pelos alunos do Marrara.
Na reunião de pais apresentamos os livros, de Cascavel e o de coletâneas
de poesias produzidas por nós. As crianças sentaram com
seus pais e os livros foram passando de mãos em mãos, pais
e filhos desfrutaram encantados do trabalho realizado pelas crianças.
Este encantamento é resultado da participação dos
pais e das crianças, pois vivenciamos o projeto em equipe e acreditamos
na importância desta união.
Relatório Reflexivo 30/11/04 – Mairy - Cascavel
O ano está terminando e não conseguimos mais escrever para
os nossos amigos de lá. Recebemos algumas mensagens pelo portal
do Marista e deu uma tristezinha em saber que o tempo foi muito curto
e deixamos de fazer várias coisas que havíamos planejado,
mas que infelizmente ficaram só no pensamento. Por outro lado olhávamos
para as fotos de nossos amigos e tínhamos certeza de que nada apagaria
esses momentos únicos que vivemos dentro dos envelopes que o correio
transportou de Cascavel para São Carlos e de São Carlos
para Cascavel.
“Paulo Freire, você que falava tanto em utopia, que sonhava
com uma educação libertadora e que muito contribuiu para
mudanças significativas, ficaria orgulhoso em saber que uma criança
de 1ª série, por conta própria, resolveu ler o livro
Dom Quixote”.
Estávamos na fila e Lucas veio todo saltitante para meu lado, abriu
a mochila, tirou um livro e mostrou dizendo: “Profe, olha o livro
que estou lendo! Dom Quixote.” Não acreditei no que estava
acontecendo e meus olhos se encheram de lágrimas. Perguntei se
era ele mesmo que havia resolvido ler? Se estava entendendo? Como fazia
com as palavras que eram difíceis de entender? Como fazia para
ler um livro tão grosso? Lucas me respondeu prontamente: “Fui
eu quem quis ler. Vou levando as palavras que não entendo. Algumas
partes não entendo muito bem, mas continuo lendo e a maioria entendo
depois. Leio uma hora por dia. Acho que vou conseguir. Tirei fotos, pois
este fato tinha que ser registrado. Lucas não entendeu porque fiquei
tão admirada, para ele era apenas um livro que havia resolvido
ler”.
CONCLUSÃO
Olhar para o ontem nos faz ter orgulho do hoje e esperança no amanhã
por sabermos que nossas expectativas foram superadas pelo envolvimento
de cada aluno no decorrer deste projeto e, em saber que as leituras foram
vivenciadas com grande intensidade, pois o ato de refletir esteve presente
em todas as ações que foram envoltas de imaginação
que criaram corpo e se transformaram em realidade.
Nossos alunos leram mais, visitaram a biblioteca constantemente buscando
novas leituras. O prazer deixou de lado a obrigação e encantou
mentes que descobriram nas páginas dos livros tesouros, fantasias,
alegrias, magias e sentimentos que alimentaram a alma e a mente.
Quanto a nós educadoras, acreditamos que dar vez e voz aos nossos
alunos foi o diferencial de uma educação que deve ser realizada
em um patamar onde todos somos aprendizes e temos muito para compartilhar.
Planejamento, reflexões, mudanças de rumos e registros nortearam
o desenvolvimento deste projeto garantindo a realização
do mesmo para a superação do objetivo planejado.