Renata da Silva Vieira - Instituto Superior de
Educação Uirapuru – ISEU
Thaís Bragatto - Instituto Superior de Educação Uirapuru
– ISEU
Vera Lúcia Merbach Vila Keppler - Instituto Superior de Educação
Uirapuru – ISEU
Em finais da década de 70 (que coincidiam com a
deterioração do governo militar instalado desde 1964), os
ventos transformadores atingiram também a literatura infantil.Toda
liberdade criadora que havia sido impedida no período após
Monteiro Lobato voltava a fecundar a criação destinada às
crianças. Desvinculada a qualquer compromisso pedagógico,
a nova literatura infantil/juvenil obedece às novas palavras de
ordem: criatividade, consciência da linguagem e consciência
crítica.Palavras decorrentes de uma nova concepção
de mundo onde o homem passa a ser entendido como “ser histórico
e criador da história”.
Um dos aspectos mais importantes dessa nova criação literária
é a fusão de linguagens, ritmos e perspectivas que singularizam
o novo livro infantil.As pesquisas da psicanálise ligada à
pedagogia provaram ser a linguagem-das-imagens um dos mediadores mais
eficazes para estabelecer relações de prazer, de descoberta
e de conhecimento entre as crianças e o mundo-das-formas que a
rodeia e que ela começa a explorar desde que abre os olhos para
o mundo.Neste momento surgem livros-sem-texto ou narrativas-por-imagens
destinadas aos pré-leitores (Eva Furnari, Gian Calvi, Eliardo França,
Ângela Lago,...).O objetivo central agora é atrair o pequeno
leitor para o processo de descoberta do mundo.É levá-lo
a participar dinamicamente do ato de leitura, entendida como o prolongamento
do ato de viver, em toda a sua abrangência.
Todas essas posturas diferentes podem ser detectadas em linhas narrativas
como o do realismo cotidiano (registrado de modo crítico, lúdico
ou documental) e a do realismo mágico (no qual a realidade concreta
e o imaginário se misturam).Em diferentes estilos, formas e linguagem
(principalmente a da imagem, a visual), a transformação
literária nos anos 70-80 passa a oferecer ao pequeno leitor histórias
vivas e bem-humoradas que buscam diverti-las e ao mesmo tempo torna-las
conscientes de si mesmas e do mundo com que devem entrar em relação
dinâmica e afetiva.
Pela criatividade, ludismo e consciência crítica latente
ou patente em suas obras, Ziraldo é dos autores que se destacam
pela suas formas e estilos peculiares que transformaram culturalmente
o mundo.Segundo Nely Novaes(2000, p.132) entre todos eles estão
fatores comuns que os levaram a essa transformação de mundo
pensante:
• A concepção de literatura como fenômeno de
linguagem, resultado de uma experiência existencial/social/política/cultural;
• A consciência do poder da palavra, não só
como representativa da realidade, mas principalmente como nomeadora ou
ordenadora do real (isto é, consciência de que é a
palavra que permite aos seres, coisas, emoções, percepções,
etc, tornando-se existentes e comunicantes, ou melhor, reais);
• A consciência de que é no leitor que o texto literário
se completa ou encontra seu significado final (daí o recurso à
metalinguagem e a voga atual da estética da recepção);
• A compreensão da escrita como ato-fruto da leitura assimilada
e/ou da criatividade estimulada por influxos culturais;
• A certeza de que a esfera da literatura é a da placa liberdade
interior, sem a qual não há realização fecunda;
• A valorização da imagem ou da ilustração
como linguagem altamente sedutora e essencialmente formadora da consciência-de-mundo
das crianças, porque estimula o “olhar de descoberta”
e o pensar – fundamentais para a descoberta e conhecimento-de-mundo.
Entre os bestsellrs para crianças e jovens nos anos 70/80 Ziraldo
se destaca com “O menino maluquinho”.
Na década de 80 surgem novos escritores e ilustradores, muitos
deles já nomes consagrados em outra área de criação,
que foram atraídos também para a literatura infantil.Em
meio a esta efervescência criativa multiplicam-se os livros de poesia
e aumenta o espaço que vem sendo ocupado pela ilustração,
ou melhor, pela imagem, que se transforma em nova narrativa.A visualidade
imaginística (através de desenhos, pinturas, colagens, montagem,
fotografia, etc) ganha igual, ou maior, importância do que o texto.Ou
melhor, o “texto” passa a ser a fusão de palavras e
imagens que desafia o olhar e a atenção criativa do leitor
para a decodificação da leitura.
Mais um novo caminho se abre para a invenção da literatura
destinada às crianças.Grandes artistas do desenho, cartuns,
etc, criam livros infantis que são pequenas obras de arte.
Mais uma vez Ziraldo também se destaca como bestsellers dessa área
híbrica de criação (a de fusão das multilinguagens:
literatura, desenhos, pintura, artes gráficas, informática),
destacando-se: “Flicts” e “O menino quadradinho”.
As obras de literatura infantil, segundo Marilena Loss Bier servem não
só para instruir como para divertir, além de dar prazer
e modificar a consciência do leitor, sensibilizando-o e abrindo
horizontes para a diversidade das áreas do conhecimento.
De acordo com a obra de Maria Antonieta Antunes Cunha, existe atualmente
um desinteresse por parte dos estudantes no que se refere à leitura,
seja por descuido familiar (não se cria o hábito, até
pelo exemplo de desinteresse dos próprios pais), seja pela decadência
do ensino aliada ao excesso de facilidades na vida escolar, ou ainda pelas
muitas formas de diversão existentes no mundo hoje. A verdade é
que nossas crianças não gostam de ler. Antes da leitura
prevalece o interesse pela televisão, cinema, esporte, jogos eletrônicos
e outros. Entre livros e revistas, eles preferem as últimas, talvez
pela linguagem mais fácil de ser entendida se torne mais divertida.
Além disso, não têm o costume de freqüentar bibliotecas
e muito menos possuem livros em casa. Parece que o lúdico, o imaginário,
estão sendo esquecidos e substituídos por jogos individualistas
que levam à falta de diálogo, de conversa, ou seja, do desenvolvimento
da oralidade.
Os professores, por sua vez, não costumam fazer seus alunos lerem
obras literárias e quando o fazem, avaliam a leitura através
de provas ou fichas que não fazem o menor sentido para as crianças,
além de não se preocuparem com a sua preferência.
Aliado a isso, está o pouco investimento das escolas, especialmente
as públicas, com livros, pois lutam com a falta de verbas. Junta-se
a isso o fato do educador ter um número assustador de atividades
e excesso de aulas, o que não lhe permite um espaço para
a leitura.
É comum a idéia de que a literatura infantil é uma
subliteratura, um gênero menor, sendo que os próprios escritores
do gênero sentem-se menos importantes que os que escrevem para adultos.
É preciso considerar ainda, a sua tendência à pedagogia.
Não se desprendendo do discurso pedagógico, a literatura
infantil torna-se mais uma matéria do currículo escolar,
desvinculando-a do caráter de obra literária.
Outra característica observada é o tipo de representação
existente nos livros, demonstrando como o adulto manipula a forma da criança
enxergar o mundo, de maneira fantástica e utópica, aliada
ao tom moralizador, pressupondo uma criança incapaz de chegar às
suas próprias conclusões.
Através do ato da leitura, dá-se o conhecimento da consciência
de mundo, sendo imprescindível orientar as crianças para
que consigam estabelecer relações entre o livro e seu mundo
interior, seu dia-a-dia e que possam intervir nele com autonomia. Conforme
nos fala Vygotsky, criar uma situação imaginária
é a primeira manifestação de emancipação
da criança quanto às restrições situacionais.
Sendo assim, quando ela é sujeito da história infantil desenvolve
suas funções afetivas, emocionais e cognitivas preparando-se,
assim para tornar-se um adulto crítico e ciente de suas decisões.
É nesse sentido que trabalhar com a obra de Ziraldo significa uma
proposta que se divide entre a seriedade da obra educativa, porém
sem o cunho moralizador ou pedagógico e o humor característico
de suas histórias, passando pela magia da infância ao revelar
o quão divertido é ser criança e tornando-se perfeita
para desenvolver nela o gosto pela leitura e o hábito de ler.
O autor tem facilidade em dialogar diretamente com o imaginário
infantil respeitando a perspectiva do leitor e estimulando nele interesses
que agem sobre seu intelectual através da imaginação
e o censo estético despertados, contribuindo para a evolução
psíquica da criança.
Ziraldo é, indiscutivelmente, um dos melhores representantes da
literatura infantil contemporânea com uma obra vasta e eclética
capaz de lidar com o humor aliado à imagem e ao texto, através
de palavras e formas, com um modo só dele de sensibilizar adultos
e crianças. Brincando com os detalhes que acrescenta, com os comentários
que faz sobre os personagens lugares e épocas, propicia a descoberta
pelo leitor infantil de referências que os permitem interagir com
a sua obra.
De acordo com o próprio Ziraldo (2001) “o livro deve deixar
a criança apaixonada para ela aprender a conviver com o livro por
toda a vida. Não adianta querer fazer civismo com literatura infantil,
nem se deve dar lições de moral, tentar tornar o livro “útil”
a criança não gosta e vai abominar o hábito de ler
”. Para ele ler é mais importante que estudar.
O que encanta em Ziraldo é justamente o fato de escrever sem a
pretensão de ensinar, mas ensinando, pois fala à criança
do ponto de vista dela, com o olhar de criança. Essa forma de ensinar
fica clara em seu livro “Uma professora muito maluquinha”
(1995) no qual mostra uma forma diferente de ensinar, através da
professora que traz propostas educacionais modernas para a época
em questão (anos 40), contrapondo-se ao ensino tradicional e apresentando-se
como uma verdadeira mediadora na construção do conhecimento
e, portanto, facilitadora da aprendizagem, proposta pedagógica
arrojada para a época e também para os nossos dias.
Ao escrever esse livro, Ziraldo preocupou-se constantemente com o respeito
pela arte de ler e escrever. A professora muito maluquinha não
é uma educadora qualquer, mas sim especial para os olhos dos educandos,
pois é ela quem ensina os alunos a entender o mundo que os cerca.
Para que as crianças sentissem vontade de ler, ela sempre deixava
recadinhos escritos na lousa como:
“Quem, até o fim da aula, tiver lido com
cuidado esta frase e tiver prestado bastante atenção nela,
vai escrever um bilhetinho para mim e deixar sobre a minha mesa com o
seu nome. Neste bilete o aluno vai dizer qual foi à palavra que
escrevi errada”.(Ziraldo, 1995,p.28)
Com essa atitude a professora pretendia despertar nas
crianças o interesse pela leitura através de um desafio,
tornando-as curiosas a respeito do texto. Dessa forma elas estariam treinando
a leitura sem perceber. Além disso, trabalhava com o erro de maneira
a torná-lo um fato comum tanto para professora como para aluno,
desmitificando-o e aproveitando, ainda, para treinar a ortografia como
se fosse uma brincadeira.
“No dia seguinte, antes da sineta tocar para o inicio
das aulas, nós todos já estávamos amontoados em frente
à porta da sala. Foi só ela se abrir que todos entraram
sala adentro como invasores bárbaros. Uns bárbaros que já
sabiam ler”.(Ziraldo, 1995,p.28)
“Esta festa foi repetida várias vezes. Havia
sempre uma frase diferente e um prêmio novo para quem a lesse mais
depressa. E a cada dia líamos com mais rapidez, pois descobrimos
que ler era uma alegria”.(Ziraldo,1995,p.28)
É dessa forma que Ziraldo nos mostra um jeito gostoso
de ensinar os alunos a ler, através de uma narrativa bem humorada,
característica do autor, bem como por meio da ilustração
alegre e divertida fazendo com que o leitor acabe considerando a tal professora
como a “professora ideal” pela sua forma de conduzir o aprendizado
dos educandos, mostrando os caminhos, respeitando as diferenças,
motivando-os para construir seu próprio conhecimento. Alerta, ainda,
para o fracasso do tradicionalismo da educação nos dias
de hoje.
Outra forma de ensinar é o modo como sua obra aborda a infância,
através de histórias como a do “Menino maluquinho”,
“Vovó delícia”, “Um amor de família”,
“Tia te amo” e várias outras que falam com ternura
dessa época da vida, fazendo o leitor refletir sobre valores que
estão esquecidos ultimamente, como a família, o respeito
pelos mais velhos, os bons hábitos do “por favor”,
“com licença”, enfim, a valorização das
relações familiares, sem que se torne uma obra moralista
e piegas.
Através de sua linguagem peculiar, permite ao leitor a construção
de novos conceitos e posturas diante da vida, quebrando preconceitos e
tabus que possam cercear a educação, além de valorizar
o estudo, o livro e o saber. Sabe aproveitar os fonemas para dar ritmo
e efeitos expressivos como ruídos, mensagens específicas,
sentimentos, etc...
A maneira de colocar personagens bastante comuns no cotidiano de qualquer
criança, sem um nome próprio, porém com características
muito peculiares, faz com que o leitor se identifique com eles, penetre
na história e interaja com ela, como se fosse ele próprio.
Dessa forma consegue que o leitor continue a leitura como se estivesse
brincando com o texto, de forma lúdica e prazerosa, demonstrando
sua preocupação em formar leitores apaixonados e competentes
e em conquistar seu público alvo que é a criança.
Segundo Marilena, a literatura infantil é um modo de representação
do real, sendo o texto um meio de reelaborar a realidade sob forma de
ficção.A auto-identificação a ajuda a aceitar
situações e resolver conflitos, dando-lhes um lampejo de
esperança.Nesse sentido, a obra de Ziraldo tem o poder de envolver
magnificamente o leitor e o personagem, sem que o mesmo perca o sentido
crítico, fazendo com que o leitor se transporte do real para o
imaginário e participe da ação de forma que o texto
e leitor se misturem.
Os temas escolhidos pelo autor conquistam os leitores infantis na medida
que fazem parte da realidade de suas vidas.Ziraldo aborda temas polêmicos
e delicados, porém reais e significativos no cotidiano infantil
como o mistério da criação, a morte, o corpo, a família,
as diferenças, a ecologia entre outros, além de utilizar
o mítico e o simbólico, a fantasia e a realidade, a cor
(por exemplo, na obra de “ Flicts”, como personagem principal)
com a intenção de despertar os sentimentos, as emoções.
Em Flicts, seu primeiro livro infantil, relata a história de uma
cor que não encontrava seu lugar no mundo. Explora as sensações
provocadas pelas cores, intensificado-as por meio de um mínimo
de palavras. “Não tinha a força do vermelho, não
tinha a imensidão do amarelo nem a paz do azul. Era apenas o frágil
e feio e aflito Flicts”(Ziraldo,1969).
Outra característica de Ziraldo é descrever seus personagens
mostrando o que eles não são, permitindo, assim, ao leitor
imaginar como ele é ou seria e induzindo-o a continuar a leitura
a partir da curiosidade despertada em torno do personagem enigmático.
A plasticidade da obra de Ziraldo, no que se refere à ilustração
criativa, faz com que seus livros sejam uma verdadeira produção
de arte. A partir dela a professora pode trabalhar diversas atividades
como desenhos, dramatizações, confecção de
personagens com materiais diversos, tornando-se uma obra divertida e ao
mesmo tempo educativa.
Fanny Abramovich coloca que o humor, tanto na literatura quanto na vida,
não se resume em contar piadas, fazer gracinhas ou comentários
bobocas, pois isso é fazer humor de forma explícita, e o
explícito não tem tanta graça quanto à suposição,
ou seja, deixar por conta do leitor a conclusão engraçada.Como
diz o humorista Millôr Fernandes: “Como em todo meu humor
não procurei fazer gracinhas, adotei apenas, acho!, uma forma completamente
desinibida e descondicionada de ver as coisas”.
São autores como Ziraldo que conseguem levar o leitor a perceber
a graça escondida nos detalhes que apresenta, nas entrelinhas de
suas observações, nas notas ao pé-da-página.
Segundo Fanny autores infantis que conseguem esse tipo de visão
faz com que seu leitor perceba velhas coisas sem preconceitos, sem estereótipos,
sem repetir o já sabido e assim o surpreende de maneira criativa
fazendo-o sorrir, pensar, rir, refletir, rever idéias, posições,
enfim olhar o mundo de maneira bem humorada.
Um exemplo bem claro disso é seu célebre personagem “O
menino maluquinho” que neste ano estará completando 25 anos
de vida. Segundo Ziraldo (1997) “criança não é
adulto em miniatura. É outra raça.Mas parece que os adultos
– que foram crianças – se esqueceram disto”.Desde
as crianças menores até os adultos, todos alcançam
entendimento do universo literário que os cercam, pois a leitura
da literatura lhes possibilita a experiência através de gestos,
dos exemplos dos personagens.É através da imagem que a criança
estabelece relações com os símbolos e dela com os
outros. O autor manipula muito bem esta técnica mista na qual se
fundem palavras, seqüência, atmosfera e mensagem. Recupera
a experiência e a visão de mundo de seu leitor, para assim
aproximar-se da criança, através do diálogo aberto
cativando-a, pelo prazer da leitura, conseguindo através da identificação
com o personagem. O menino maluquinho insere-se na direção
do realismo cotidiano, pelo tratamento dos temas. No que se refere à
linguagem, explora ao máximo os recursos pictóricos, gráficos
e verbais, tornando-se um livro que expressa um aspecto de comportamento
infantil de nossos tempos.
Seus textos são construídos com concisão como, por
exemplo, o livro “O Pensamento Vivo do Menino Maluquinho (1997)”
onde suas frases são curtas, nas quais os termos das orações
estão limitados ao essencial (sujeito, predicado e circunstância)
e determinados por um certo ritmo narrativo que seduz o ouvido infantil,
além é claro, da dose de humor que causa prazer.
“Se eu não gostar de ler agora, que sou criança,
não vou gostar de ler nunca. A escola e eu temos que inventar um
jeito de eu gostar de ler. A escola dos meus sonhos primeiro me ensinaria
a ler e depois me ensinaria a gostar de ler. Tem gente que nasce gostando
de ler como quem nasce pintor, poeta ou craque de futebol. Pura vocação.
Já quem não nasce gostando, pode até aprender. É
só o pessoal aí não transformar ler numa obrigação.
(Ziraldo, 1997,p.67,68,69,70).
Como podemos perceber as frases estão centradas em situações
motivadoras, retiradas da realidade cotidiana e compreensível pela
mente da criança, o tema permite uma leitura rica e democrática.
Suas obras foram traduzidas em várias línguas, adaptado
para o teatro e para a televisão, sendo reeditado inúmeras
vezes onde acabou se tornando personagem universal dando origem a uma
série de outros livros sendo personagem principal de histórias
em quadrinhos como em 2002 a Publifolha lançou a coleção
O melhor do menino maluquinho, de campanhas em nível nacional como
a da merenda escolar em 2004 e ao filme “O Menino Maluquinho”
que pode nos dar base a um estudo diferenciado da história e geografia,
nos deslocando para ambientes familiares e práticas ou hábitos
do cotidiano do período atual e comparando-as com o tempo de nossos
pais ou avós.Com a simplicidade e o humor, Ziraldo aproveita o
espaço gráfico da página de modo a tornar a leitura
mais dinâmica e o texto mais expressivo.Há momentos em que
o recurso da poesia enfatiza em como o escritor vê a infância
e espontânea.
Ziraldo, em “O menino maluquinho”( 1980) narra a vida de um
moleque sabido, irrequieto, sempre em movimento e em ebulição...poetando,
aparentemente descuidado com os objetos e roupas, explosivo em seus comentários,
inventor constante de alegria, da brincadeira (pra família, pros
amigos...), beijoqueiro e encantador com as namoradas mil, ótimo
jogador de futebol, aluno inteligente, mas não de tudo o que a
vida oferece...mas é claro, que também chora, também
se entristece, também precisa de seus momentos de solidão,
de se trancar no quarto por muito tempo até ter clareza da situação
ou das aflições.Protótipo de criança feliz.
Este livro faz referência a uma criança muito amada, contente,
que sabe crescer, que se interessa por muita gente, por muitas atividades,
que sabe estar consigo e com os outros e que sobretudo, sabe viver (sem
achar que isso significa um campo florido, em eterna primavera, onde só
acontecem coisas boas, calmas e onde nada se altera,...)Não, tudo
se altera, e, como ele sabe encarar as diferentes situações
da vida, consegue crescer e perceber o quanto tinha sido feliz, em sua
meninice vibrante e cheia de vida.Esta obra lhe deixa marcado como “pai”
do menino maluquinho e o consagra como autor infantil, na Bienal do Livro
de São Paulo, com seu lançamento, transformando-se no maior
sucesso editorial da feira e ganhando o Prêmio Jabuti da Câmara
Brasileira do Livro.A obra foi adaptada para o teatro, cinema e web além
de ópera infantil.
Na turma em que
ele andava
ele era
o menorzinho
o mais espertinho
o mais
maluquinho.
Era tantas coisas
Terminadas em inho
Que os colegas não entendiam
Como é que ele podia ser
Um companheirão.(Ziraldo,1980,p.20,21,22)
Conforme podemos perceber no trecho transcrito, o herói
não é um supermenino, é o menorzinho que lidera com
afeto e esperteza. O diminutivo afetivo é extremamente bem empregado
para contrapor o tamanho do menino à quantidade de amizade que
dedica aos colegas –companheirão.
“O tempo era assim para ele:
fazia horas a mais.
E o menino maluquinho
era um menino tão querido
era um menino tão amado
que quando deu de acontecer
de o papai ir para um lado
e a mamãe para o outro
ele achou de inventar
(pois tinha aprendido a criar)
a Teoria dos lados!”“.
“Todo lado tem seu lado
E posso viver ao lado
Do seu lado, que era meu” (Ziraldo,1980,p.83,84,85)
Desta vez, Ziraldo, trata do assunto de divórcio.
Percebemos que este não é o tema central, porém com
o crescimento do menino, o pai toma um rumo e a mãe outro, e ele
inventa a teoria dos lados e descobre que pode viver ao lado, do lado
– de cada um deles -, naquele lado que era o seu... sente que não
é fácil, porém aprende a conviver com a saudade e
acaba compreendendo que a ausência também faz parte da vida.
Sabemos o quanto é importante que as crianças se identifiquem
com as histórias, pois também vivem estas mesmas situações
para que, possam sonhar, chorar e reagir perante elas. Não podemos
fazer de conta que estes problemas familiares não existem, pois
são muito freqüentes na sociedade em que vivemos. Assim Ziraldo
cria situações problemas para o menino maluquinho em que
as crianças se identificam e superam estes problemas com o mesmo
humor e inteligência do personagem.
Percebemos assim que o autor em suas obras relata “problemas”
em que as crianças vivenciam em seu cotidiano, como por exemplo,
a amizade sincera e a separação dos pais em “O menino
Maluquinho”, a diferenças de raça em “Menino
Marrom”, a morte com “Menina Nina - Duas Razões para
Não Chorar”,os desequilíbrios ecológicos, as
injustiças sociais – ao par da realidade exterior e objetiva
“O Menino e O Rio” vislumbra um mergulho na alma humana, nas
reações psicológicas do menino, na linha da introspecção
e da cultura que cerca a população ribeirinha -, retrata
a autenticidade da relação do menino com seu meio, entre
outras.
Segundo o psicólogo infantil Bruno Bettelheim (1980) “quando
o cantador dá tempo às crianças de refletir sobre
as histórias, para que mergulhem na atmosfera que as histórias,
para que mergulhem na atmosfera que a audição cria, e quando
são encorajadas a falar sobre o assunto, então a conversação
posterior revela que a estória tem muito a oferecer emocional e
intelectualmente, pelo menos para algumas crianças”.
Com isso, o ato de escutar histórias e refletir sobre elas, abre
um novo caminho para a criança tornar-se um leitor, inventor, escritor
e criador, despertando o prazer pela leitura, desvendando novas palavras,
expressões, oralidade, música, ritmo e tantas outras formas
interdisciplinares de socialização e aprendizado.
O objetivo de qualquer educador, seja ele pai ou professor, quando oferece
um livro à criança, é de criar o hábito da
leitura. Porém, muitos, na ânsia da obrigatoriedade de se
ligar a criança ao livro como se fosse um remédio ruim,
mas necessário, impõem leituras disfarçadas por jogos
ou outra atividade atrativa, fazendo-a engoli-las, transformando o ato
de ler em um sacrifício sem fim. Essa criança se sente coagida
tendo que ler algo que nada lhe diz e ainda ser avaliada por isso.
Em contra posição a obra de Ziraldo incentiva a pratica
da leitura de forma a conquistar leitores que o farão por prazer,
tecendo um diálogo com o livro ao deixar que sua imaginação
viaje por ele, desenvolvendo a capacidade de ler, alem das palavras e
o mundo que o cerca.
Referências Bibliográficas
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil gostosuras e bobices.
São Paulo: Scipione, 1994.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1980.
COELHO, Nelly Novaes. Teoria, Análise, Didática: Literatura
Infantil. São Paulo: Ática 6. ed, 1997.
¬¬______. A literatura Infantil.São Paulo: Moderna 7.ed,
2000.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes.Literatura infantil: teoria
e prática, série educação. São Paulo:
Ática, 1997.
DRAGO, Rogério. História Infantil: contribuições
para uma prática pedagógica socializadora. Revista do Professor,
Porto Alegre, v.14, nº56, p.9-11.Out/dez, 1998.
FARIA, Maria Alice.Como usar a literatura infantil na sala de aula. São
Paulo: Contexto, 2004.
ROMEU, Gabriela. O pai do maluquinho. Folha de São Paulo. São
Paulo, p. F4, F5, F6. Jan/2005
ZIRALDO.O menino maluquinho. São Paulo: Melhoramento, 1980.
ZIRALDO. Flicts. São Paulo: Melhoramentos, 1989.
ZIRALDO. O pensamento vivo do menino maluquinho. Rio de Janeiro: Ediouro,
1997.
ZIRALDO. Uma professora muito maluquinha. São Paulo: Melhoramentos
17.ed, 2003.
www.busca.unisul.br
www.educacional.com.br
www.meninomaluquinho.com.br
www.planetaeducação.com.br
www.ziraldo.com.br