Cristina de Andrade Ferreira Silveira (Prefeitura
Municipal de Valinhos e Faculdades de Valinhos – FAV);
Rosely Palermo Brenelli (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP)
O trabalho, aqui apresentado, é fruto das discussões
e considerações da pesquisa de mestrado, defendida em agosto
de 2004, na Universidade Estadual de Campinas, com o título: “Os
processos inferenciais via jogo de regras na compreensão da leitura”.
O presente estudo fundamenta-se na perspectiva dialética do jogo
de regras, voltado ao desenvolvimento de conexões lógicas,
a fim de responder ao problema colocado “se há correspondência
entre os diferentes níveis de compreensão de leitura de
texto, inspirados na técnica Cloze e as condutas dos sujeitos no
jogo “Descubra o Animal”. A justificativa de buscar esta correspondência
se deve ao fato de o jogo exigir, para se obter sucesso, a presença
de um raciocínio classificatório, portanto de processos
inferenciais, os quais acreditamos também estarem presentes nas
relações entre parte e todo do texto em cloze, para a descoberta
da palavra oculta.
Nossos objetivos foram verificar se a presença ou não de
um sistema de relações entre predicados, conceitos, juízos
e inferências no jogo Descubra o Animal se relaciona aos níveis
de compreensão de leitura em textos com lacunas; procuramos, também,
analisar a viabilidade do jogo “Descubra o Animal” em fornecer
indícios para diagnosticar as lacunas quanto à compreensão
de leitura, em crianças do ensino fundamental I.
Estudamos vinte e quatro sujeitos, classificados em três grupos,
segundo a compreensão de leitura do texto com lacunas: nível
de frustração, nível de instrução e
nível independente, mediante a escala elaborada por Bormuth (apud
Alliende et al., 1994). Á cada participante, individualmente aplicaram-se
os procedimentos do jogo e os da leitura em cloze.
Realizamos cinco etapas de análise dos resultados para atender
aos objetivos propostos: a caracterização do jogo, de acordo
com os níveis adotados por Piaget (1996); a análise das
condutas do jogo, de acordo com os protocolos; análise das respostas
dos sujeitos quanto às questões postas na entrevista relativa
ao texto em cloze, segundo o protocolo de observação proposto;
a relação entre o jogo e a compreensão de leitura
e a análise estatística.
Os resultados nos mostram haver uma similitude entre os níveis
de compreensão de leitura e o jogo Descubra o Animal. Assim, as
condutas dos sujeitos no jogo têm relação com as condutas
adotadas por eles para compreender o que lêem. A presença
de inferências ou de um sistema inferencial é fundamental
no jogo e na compreensão de leitura. Nesse sentido, os dados nos
revelam que o jogo fornece indícios para diagnosticar as lacunas
quanto à compreensão de leitura pois, ele espelha que os
sistemas inferenciais são necessários à compreensão
do jogo e da leitura.
Na análise quanto à caracterização do jogo,
de acordo com os níveis adotados por Piaget (1996), pudemos constatar
que todos os sujeitos se encontravam no Nível II. Entretanto, encontramos
condutas diferentes nesse grupo de sujeitos, pois alguns usaram o conceito
genérico, mais por influência de conhecimentos escolares,
por aprendizagem, que por uma organização dos mesmos, no
plano operatório. No que se refere aos progressos das interdependências
entre predicados, conceitos, juízos e inferências, foi possível
observar que eles se constituem passo a passo, sem nenhuma consciência
inicial da totalidade dessas interdependências.
Discutiremos, de forma geral, os dados referentes à análise
das condutas do jogo, de acordo com o prptocolo de observação,
priorizando as categorias: qualidade das perguntas e juízos e inferências
nos três níveis de compreensão de leitura, a fim de
revermos alguns aspectos importantes.
O nível de frustração foi o que apresentou diferentes
características entre os sujeitos. Observamos que suas questões
oscilavam entre conceitos genéricos e objetos conceituais, apresentavam
conceitos genéricos sem indícios de inclusão e um
sujeito demonstrou possuir conceitos genéricos com indícios
de inclusão; esses aspectos demonstram que, nesse nível,
aparecem contradições, lacunas de conhecimento e os sujeitos
se prendem à última pergunta feita. Quanto aos juízos
e inferências, podemos dizer que suas justificativas estão
baseadas nas partes, não conseguem ampliar a coordenação
parte e todo para descobrir o animal oculto. Assim sendo, podemos dizer,
segundo Piaget (1976), que os sujeitos não conseguem chegar a um
conhecimento claro de suas próprias ações, senão
através de seus resultados sobre os objetos. Como esse nível
fica preso aos observáveis do objeto, a compreensão por
meio de inferências das coordenações dos objetos e
coordenações do sujeito fica incompleta.
No nível de instrução, por exemplo, a inferência
não se encontra subsidiada por coordenações operatórias,
fato que também gerou algumas contradições. As perguntas
buscavam fundamentação nos dados observáveis. Os
sujeitos apresentaram condutas que oscilavam entre conceitos genéricos
e objetos conceituais e predomínio de conceitos genéricos
com indícios de inclusão. As justificativas foram coerentes
com as perguntas, embora tenhamos encontrado sujeitos que não consideraram
a negação, fato que pode ter gerado desequilíbrios,
pois a negação se opõe a um observável. Esses
sujeitos apresentaram uma pausa no momento da justificativa e uma conduta
diferente dos colegas do nível de frustração. Podemos
inferir que, nesse momento, estivessem entrando em desequilíbrio,
buscando uma abstração reflexionante – coordenação
das ações e não mais a abstração empírica,
que está pautada na informação, a partir do objeto.
O nível independente demonstrou conhecer um pouco mais sobre o
conceito de classes, a qualidade de suas perguntas se baseava em conceitos
genéricos com indícios de inclusão. Conseguiam reunir
classes baseados nos observáveis e nos conhecimentos adquiridos
na escola, consideravam a negação fato que ajudava nas exclusões
para descoberta do animal oculto. Observamos também que há
uma construção com maior estabilidade do pensamento lógico
quanto ao raciocínio classificatório. Assim sendo, os juízos
e inferências são mais elaborados, no sentido de se considerar
as classes.
As respostas dos sujeitos às questões postas na entrevista
relativa ao texto em cloze também demonstraram diferenças
entre os níveis de compreensão de leitura, no que se refere
à leitura em voz alta, a reconstituição oral do texto
e a justificativa da escolha da palavra. A partir dessas respostas, pudemos
observar a correspondência entre o jogo e a compreensão de
leitura.
Cabe aqui destacar aspectos referentes à justificativa da escolha
da palavra, nos três níveis de compreensão de leitura.
No nível de frustração, as justificativas versaram
segundo Garrod (1985), sobre “pseudo-inferências”, ou
seja, baseavam-se apenas na interpretação inicial da frase.
Assim sendo, os juízos apresentados foram incoerentes ou centrados
no texto, não conseguiam estabelecer relações entre
as partes e o todo do texto.
Os sujeitos em nível de instrução demonstraram uma
boa habilidade em leitura; suas justificativas, ainda que centradas, eram
mais abrangentes que as dos colegas do nível de frustração.
Realizaram uma ativação dos conhecimentos prévios
para justificar suas respostas. Mesmo não usando os termos gramaticais,
que representavam as palavras escolhidas, eles usavam a lógica
para argumentar suas hipóteses quanto à palavra oculta.
As características do nível independente se ampliam em relação
aos demais níveis e a presença de justificativas coerentes
se dá graças à presença do tempo. Para Piaget
(1983) “o desenvolvimento da criança é um processo
temporal por excelência”. O autor afirma que o tempo determina
a duração do desenvolvimento. Existe o desenvolvimento biológico
e psicológico, este entendido como desenvolvimento da inteligência,
o qual permite que a criança aprenda, por si mesma o que não
lhe foi ensinado, mas que ela deve descobrir sozinha. Esse desenvolvimento
espontâneo leva tempo. Portanto, ele constitui-se condição
preliminar e necessária para o desenvolvimento escolar.
A cognição depende das estruturas cognitivas que o sujeito
possui. Piaget (1979) afirma que “sem as estruturas operatórias
concretas, de natureza lógico-matemática a criança
não aprende nada do que a escola lhe ensinar.”(p.55) A escola
deve atentar-se para as relações entre a construção
de estruturas operatórias e a capacidade de aprendizagem.
Segundo Becker (2001), essa relação tem um aspecto negativo:
“não adianta ensinar para quem não tem estrutura de
assimilação” (p.45). O aspecto positivo é que
a estrutura abre muitas e amplas possibilidades. Dessa forma, a aprendizagem
deve ser organizada para a construção das estruturas. Sendo
assim, os conteúdos devem contribuir no processo. Os conteúdos
agiriam como construtores de estruturas. Portanto, o ensino, afirma o
autor, deve organizar-se primeiramente no sentido do conhecimento-estrutura
e posteriormente do conhecimento-conteúdo.
Desse modo, é possível percebermos a importância da
aprendizagem, segundo Piaget (1974), em sentido estrito, pautada na experiência
(aquisição de conteúdos externos ao sujeito), aprimorada
com o tempo e a aprendizagem, no sentido amplo, que engloba a de sentido
estrito e o processo de equilibração, que se efetiva quando
o sujeito se apropria das suas próprias ações interiorizadas
ou das coordenações de suas ações.
A relação entre o jogo e a compreensão de leitura
pode ser percebida nessa breve retomada das características de
cada etapa de análise dos resultados. Em resumo, essa relação
variou em qualidade entre os níveis de compreensão de leitura,
uma vez que todos os sujeitos se encontravam no nível II do jogo.
Observamos, ainda, que o processo inferencial presente tanto no jogo quanto
na compreensão de leitura está se aprimorando.
Tanto a análise qualitativa como quantitativa confirmaram nossos
objetivos, indicando uma relação entre as condutas para
a descoberta do animal oculto, no jogo, e da palavra oculta, no texto.
Nossos resultados revelam a importância das atividades com o jogo
como forma de desenvolver a operatoriedade, nas crianças, por exigir
coordenações inferenciais que são necessárias
para a descoberta do animal oculto ou da palavra, seguidas de suas justificativas.
É importante relembrar que Piaget (1973), ao abordar as operações
concretas, estabelece uma correspondência, em linhas gerais, entre
a distinção lingüística dos substantivos e adjetivos
e a distinção lógica de classes e predicados. O autor
afirma que qualquer linguagem comporta classificações elaboradas
que se constituem em encaixamento hierárquico de classes –
uma classificação. À princípio, fazem classificações
aditivas, mas quando estabelecem relações “ao mesmo
tempo”, por exemplo um leão é um mamífero e
um animal, ao mesmo tempo, terrestre, passam a fazer classificações
multiplicativas. Observamos um indício desse tipo de classificação
no nível independente da compreensão de leitura.
Piaget (ibid.) distingue dois problemas de psicolingüística.
Vamos nos deter no primeiro, que a linguagem pode constituir uma condição
necessária à realização de operações
lógico-matemáticas, mas não suficiente. Para tanto,
o autor levanta algumas hipóteses sobre as raízes dessas
operações; sobre a formação do pensamento
e sobre a transmissão verbal.
Sabe-se que um esquema é o que é generalizável numa
determinada ação, enquanto tal os esquemas constituem-se
em espécies de classificação. As classes comportam
uma “compreensão” do ponto de vista do sujeito, que
são um conjunto de qualidades comuns sobre os quais a generalização
se fundamenta, e uma “extensão”, entendida como o conjunto
de situações a que ela se aplica, sem que o sujeito tenha
consciência e seja capaz de representá-la. Piaget (1973),
quanto às raízes das operações, conclui que
antes de elas serem formuladas pela linguagem, existe uma espécie
de lógica das coordenações de ações
que comporta as relações de ordem e da parte com o todo.
Observamos, em nosso estudo, que em diferentes níveis de compreensão
de leitura os sujeitos expressaram esse tipo de coordenação,
sendo que no nível de frustração, as operações
parecem estar nos primórdios.
A formação do pensamento como representação
conceitual tem relação com a aquisição da
linguagem, ambos são processos solidários de um processo
mais abrangente – constituição da função
simbólica. Os participantes dessa pesquisa, mais precisamente os
de nível de frustração, apresentaram dificuldades
em realizar as diferenciações entre os significantes e os
significados, tanto no jogo quanto na leitura.
Observamos as condutas do jogo, as respostas na entrevista sobre o texto
e concordamos com Piaget (ibid.) quanto à transmissão verbal:
ela só é assimilada nos níveis em que as estruturas
são elaboradas, no terreno das ações ou das operações
(ações interiorizadas). Ele acrescenta que, se a linguagem
favorece essa interiorização , não cria nem transmite
as estruturas, prontas e acabadas, somente pela lingüística.
Entendemos a leitura e sua compreensão como parte do conjunto de
instrumentos simbólicos que vão além da linguagem.
Para compreender um texto com lacunas, concordamos com Garrido (1979)
que afirma ser necessário estar atento ao texto e ao leitor, pois
deles dependerá a maior ou menor probabilidade de inferir as palavras
ocultas. As respostas referentes à compreensão das regras
do jogo ou do texto dependem também das perguntas feitas tanto
pelo leitor quanto pelo experimentador.
Quando não há a compreensão, podemos relacionar esse
fato às “defasagens” entre a aquisição
do nome genérico e a construção lógica do
conceito. Este foi um aspecto observado nos níveis de frustração
e de instrução. As dificuldades de compreensão do
jogo e da escolha da palavra no texto expressaram essas “defasagens”.
A importância do enriquecimento do vocabulário apareceu nesse
estudo. Os participantes de nível independente, embora apresentassem
boas condutas no jogo, ainda assim sentiram dificuldades em lidar com
as extensões do conceito, quando solicitado a efetuar classificações,
através da organização das figuras ou da qualidade
das perguntas, por exemplo.
Ler é, de forma bem simples, reconhecer códigos escritos;
compreender é envolver-se num processo contínuo de inferências,
é integrar informações num todo coerente. Voltamos
a reafirmar a função do jogo de regras como desencadeador
da operatoriedade. Por meio dessa forma lúdica, podemos contribuir
para o desenvolvimento das coordenações das ações,
as quais envolvem inferências que vão além dos observáveis,
por meio dessas inferências é possível construir novas
relações, compreender.
Quanto aos observáveis, é possível, segundo Piaget
(1976), distinguirmos aqueles constatados pelo sujeito, em suas próprias
ações e os observáveis registrados nos objetos. É
importante se ressaltar as interações entre o sujeito e
o objeto. É dessas interações que irão aparecer
condutas mais elevadas ou não, como vimos nos diferentes níveis
de compreensão de leitura. Se fizermos uma observação
errônea, a coordenação resultante pode gerar uma constatação
falsa, como aconteceu no nível de frustração, com
muitas coordenações lacunares.
As características da equilibração presente nos níveis
de compreensão de leitura apresentaram a seguinte ordem: o nível
de frustração partiu de desequilíbrios devido à
falta de simetria entre as afirmações e negações,
uma vez que os sujeitos permaneceram centrados nos dados perceptivos do
objeto. Os dois outros níveis à medida em que conseguiam
lidar passo a passo com as negações, foram aprimorando seu
estado de equilíbrio.
Observamos que os sujeitos de nível de frustração
não apresentaram regulações porque suas condutas
no jogo evidenciaram a repetição da ação.
Já os sujeitos de nível de instrução e independente
apresentaram regulações por feedback negativo e feedback
positivo. Dessa forma, as perturbações que dificultam a
assimilação geraram erros devido às resistências
do objeto. Ou quando o esquema de assimilação está
ativado e a regulação mantém essa atividade assimiladora,
prolongando-a pelo feedback positivo.
Outro fato que desencadeia uma “ampliação” de
conhecimentos é quando o experimentador coloca situações
que geram dúvidas e a criança entra em conflito cognitivo,
voltando-se a rever seus conceitos, procurando responder adequadamente
à situação conflitante ou geradora de desequilíbrio.
Como, por exemplo, na dúvida, se a vaca tinha bigode ou se a galinha
voa.
Algumas considerações e reflexões podemos fazer sobre
a pesquisa em seus diversos momentos.
Na alfabetização, precisamos dar voz às crianças,
o jogo pode estimular essa prática. Especificamente o jogo “Descubra
o Animal” possibilitou que os sujeitos demonstrassem seus conhecimentos
de forma descontraída, sem a “obrigação”
de fazer , mas interessados em conhecer mais, descobrir novas possibilidades
de aprender. Acreditamos que o papel do jogo na escola tem implicações
pedagógicas, deve continuar a ser difundido, estimulado pelos educadores
e praticado pelos alunos.
Observamos que os resultados nos mostram que as condutas no jogo e na
compreensão de leitura se relacionam e se aprimoram entre os níveis.
O jogo possibilitou mudanças em alguns sujeitos, foi importante
o procedimento que adotamos, primeiro jogar com as crianças, depois
solicitar os procedimentos com o texto em cloze. Acreditamos que a ludicidade
“quebrou o gelo” que por vezes a leitura e sua forma de compreensão
transmitem.
A categoria analisada, a qualidade das respostas, na troca de papéis,
demonstram a diferença entre os processos inferenciais que o sujeito
possui em “confronto” com o do experimentador. Dessa forma,
representa, além das coordenações entre o processo
inferencial, as condutas dos sujeitos quanto à consciência
das regras: a criança não deve dar respostas incorretas
às perguntas do experimentador, simplesmente porque quer que seja
assim, como é possível verificar no caso de FAB –
nível de instrução.
Essa interação entre sujeito e experimentador pode contribuir
para a integração de estruturas cognitivas anteriores e
propiciar a tomada de consciência das regras nos níveis de
frustração e de instrução da compreensão
de leitura, por exemplo.
Assis (1987) confirma a importância das interações
sociais entre crianças e entre estas e o adulto, pois elas são
fontes de conflitos cognitivos que provocam, dentre outros aspectos, a
ultrapassagem do pensamento egocêntrico.
Não se trata aqui de traçar um paralelo entre os quatro
estágios de práticas de regras citados por Piaget (1994),
mas é interessante observar que, antes de aprender a ler, a criança
levanta hipóteses sobre o que isso significa, faz imitações
de leitores, até que começa a reconhecer letras, palavras
e vai se aprimorando quanto à leitura e suas regras. Portanto,
a leitura e a prática das regras dependem da socialização.
Podemos inferir que quanto mais o sujeito conhece o objeto, maior será
seu comprometimento com a relação que se estabelece entre
eles.
As categorias abordadas no jogo são importantes na leitura e podem
contribuir para diagnosticar “lacunas” no processo de ensino
aprendizagem, quanto às queixas de dificuldades de aprendizagem.
Como, por exemplo, a ênfase dada pela escola aos aspectos observáveis;
muitas crianças ficam presas à leitura de textos em busca
de respostas fechadas, não se pode estabelecer relação
com o que se sabe. Ou, propostas que ultrapassam o texto, sem considerá-lo
adequadamente, fazem divagações que podem gerar justaposição
ou sincretismo. Nós, educadores, temos que buscar objetivos claros
e alcançáveis. Observando e registrando as características
e necessidades dos alunos, poderemos propor atividades que desencadeiem
mudanças de conduta frente à leitura.
Quando há a presença de um sistema de relações
entre predicados, conceitos, juízos e inferências no jogo
“Descubra o Animal” mais fácil pode ser a compreensão,
pois na leitura os sujeitos também elaboram um sistema de relações
entre as partes e o todo, por exemplo.
Assis (2001) afirma que os procedimentos de planejamento, execução
e avaliação são necessários aos professores,
desde a pré-escola, para propiciar o desenvolvimento da criança.
A aprendizagem, segunda a mesma autora (1987), se influencia pelo meio,
“disso pode decorrer que o ritmo da sucessão dos estágios
sofra acelerações ou atrasos que dependem do meio em que
o sujeito vive.” (p.11)
Dessa forma, as situações vivenciadas na pré-escola
são semelhantes às da vida cotidiana da criança e
estas se tornam situações educativas. Mesmo no ensino fundamental,
devemos aproveitar essas situações para estimular a leitura,
o raciocínio lógico-matemático. Uma vez que esse
estudo nos mostrou como os conteúdos escolares exercem influência
nos argumentos dos alunos, embora alguns lêem para cumprir exigências
escolares, é necessário, e concordamos com Lerner (2002),
fazer da escola uma comunidade de leitores capazes de recorrerem aos textos
interessados em solucionar problemas, encontrando informações
para compreender melhor algum aspecto que os preocupa. Transformar a escola
em um ambiente de leitura e de escrita como práticas vivas e vitais.
Procuramos, com esse trabalho, contribuir com os educadores, sugerindo
uma forma de acesso às antecipações e inferências
que as crianças fazem ao tentar ler um texto com lacunas inspirados
na técnica cloze. Sabemos que a leitura é uma ação
em busca de significado. Trata-se de constituir uma rede de enunciados
compatíveis, as relações que as palavras mantêm
entre si. Acreditamos que a escola pode propiciar várias situações
de boa leitura e de escrita.
Concordamos com Assis (1987) que acredita na intervenção
necessária da professora, tendo em vista que suas estimulações
façam a criança refletir sobre suas próprias ações
e conseguir explicar os fatos que observa e assim caminhar rumo à
estruturação do conhecimento.
Portanto, cabe aos professores planejar situações significativas
de leitura, com jogos que envolvam a turma e a deixem preparada para solucionar
problemas, atuar como leitores ativos, diante de qualquer texto, ativar
mecanismos para agilizar a compreensão de leitura, pois só
assim será possível ler na escola.
É interessante pesquisar a respeito de como uma intervenção
pode aprimorar os conhecimentos de leitura que os sujeitos possuem. As
idéias expressas aqui não estão fechadas, elas podem
ser ampliadas e melhoradas com mais estudos que envolvam a leitura e o
uso de jogos, no diagnóstico pedagógico e psicopedagógico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLIENDE, F. et al. Compreensão de leitura I. Trad.
Jonas P. dos Santos, Campinas: Editorial Psy II, 1994.
ASSIS, O . Z. M. de Uma nova metodologia de educação pré
escolar. São Paulo: Pioneira, 1987.
__________________ Planejamento, execução e avaliação,
In: Anais do XVIII Encontro Nacional de professores do PROEPRE, Campinas,
SP: R. Vieira, 2001.
BECKER, F. Nova aprendizagem, novo ensino. In: : Anais do XVIII Encontro
Nacional de professores do PROEPRE, Campinas, SP: R. Vieira, 2001.
BRENELLI, R. P. Jogos de regras em sala de aula: um espaço para
a construção operatória In: Sisto, F.F. (org.) O
cognitivo, o social e o afetivo no cotidiano escola. Campinas, SP: Papirus,
1999.
_______________ Espaço lúdico e diagnóstico em dificuldades
de aprendizagem: contribuições do jogo de regras In: Sisto,
F.F. et al. Dificuldade de aprendizagem no contexto psicopedagógico.
Petrópolis:RJ:Vozes, 2001.
GARRIDO, E. A técnica “cloze” e a compreensão
da leitura. Tese (Mestrado), Faculdade de Educação, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1979.
GARROD, S. C. Incremental Pragmatic interpretation versus occasional inferencing
during fluent reading. In: Rickheit, G., Strohner, H. (editors), Inferences
in Text Processing, Elsevier Science Publishers B.V. – North Holland,
1985
LERNER,D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário
Porto Alegre: Artmed, 2002.
PIAGET, J. Problemas de psicolinguística, São Paulo: Mestre
Jou, 1973.
__________. Aprendizagem e conhecimento, Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1974.
__________Equilibração das estruturas cognitivas: Problema
central do desenvolvimento Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
PIAGET, J. La psychogenèse des connaissances et as signification
épistémologique In: Piattelli-Palmarini , M. (org.) Theories
du language, theories de l’apprentissage: le débat entre
Jean Piaget te Noan Chomsky Paris: Seuil, 1979.
__________ A epistemologia genética; Sabedoria e ilusões
da filosofia; Problemas de Psicologia Genética.
São Paulo: Abril Cultural: Os pensadores, 1983.
__________ O juízo moral na criança, São Paulo: Summus,
1994.
__________. As formas elementares da dialética São Paulo:Casa
do Psicólogo, 1996
SILVEIRA, C. A. F. Os processos inferenciais via jogo de regras na compreensão
da leitura Dissertação de mestrado Faculdade de Educação:
Universidade Estadual de Campinas, SP, 2004.