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ALFABETIZAR
E LETRAR NOS LIVROS DIDÁTICOS “RECOMENDADOS COM RESSALVAS”
PELO PNLD/2004
Ana Catarina dos Santos Pereira Cabral - Universidade
Federal de Pernambuco- UFPE
Artur Gomes de Morais - Universidade Federal de Pernambuco- UFPE
Fundamentando-se na teoria da Psicogênese da Língua
Escrita, nos estudos sobre Letramento e nas pesquisas sobre Consciência
Fonológica, este trabalho teve como objetivo analisar quais aspectos
eram priorizados nas atividades de ensino do sistema de notação
alfabética (SNA) de livros didáticos (LDs) “Recomendados
com Ressalvas” pelo MEC-PNLD 2004. Três livros foram analisados:
ALP, LEP e Alegria de Saber. Constatamos uma dificuldade dos autores em
realizar atividades que levassem à reflexão sobre a estrutura
fonológica das palavras e sua relação com a notação
escrita. Apesar dos LDs apresentarem muitos textos, alguns não
tinham destinatário e objetivo definido.
INTRODUÇÂO
Livros didáticos conservadores, livros que veiculam informações
errôneas e preconceituosas, livros desatualizados, livros que limitam
a atuação do aluno e que funcionam para o professor como
uma muleta. Livro de alfabetização que contêm pseudotextos,
cartilhas que destroem a língua, reduzindo, equivocadamente, a
iniciação no mundo da escrita às tarefas de codificar
e decodificar palavras tolas ou estranhas, sem qualquer propósito
comunicativo.
Se na década de 60 o aluno era apontado como principal responsável
pelo fracasso escolar, mais de vinte anos depois diversos estudos parecem
apontar os materiais e as práticas de ensino do professor como
mantenedores de uma pedagogia tradicional, promotora de exclusão.
Ao lado dessa constatação, assistimos, mais recentemente,
a uma política de avaliação dos livros didáticos
adquiridos para as redes públicas brasileiras. Buscando promover
a qualificação daqueles materiais, a partir da instituição
do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), a SEF-MEC tem atribuído
à pesquisadores, professores de instituições universitárias,
a tarefa de estabelecer critérios, julgar a qualidade e recomendar
/ excluir os manuais didáticos a serem usados no ensino fundamental,
aí incluídos os livros de alfabetização, substitutos
das cartilhas tradicionais.
Neste contexto, a forma de pensar sobre a alfabetização
tomou novos caminhos com a colaboração de pesquisas realizadas.
Essas propunham novas discussões e propostas que tinham como objetivo
possibilitar mudanças nas práticas até então
adotadas. Procuramos assim, investigar como os autores dos livros didáticos,
Recomendado com Ressalvas, estão transpondo as novas perspectivas
de ensino, a fim de complementar e melhorar a prática pedagógica
dos professores em sala de aula.
A teoria da psicogênese da língua escrita de Emília
Ferreiro e Ana Teberosky proporcionou uma reflexão no que concerne
os primeiros registros produzidos pelas crianças. As pesquisadoras,
ao analisarem a escrita das crianças em processo de alfabetização,
perceberam a importância desses documentos como fonte de pesquisa,
de acordo com Ferreiro (2001, p.16) “Quando uma criança escreve
tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo conjunto de palavras,
está nos oferecendo um valioso documento que necessita ser interpretado
para poder ser avaliado”.
Esses estudos, colocaram em questão a escrita concebida como um
código de transcrição gráfica das unidades
sonoras em que essas já estão predeterminadas, como também
estão as regras de transcrição.
Nessa concepção, bastaria apenas que o sujeito tivesse o
conhecimento das letras do alfabeto e fizesse associação
das sílabas. Como afirma (TEBEROSKY, 2003, p.60)
“... sob o ponto de vista da aprendizagem, as unidades
- os sons - já estariam estabelecidos para o aprendiz, e apenas
lhe faltaria transportar tais unidades do meio sonoro ao meio gráfico.
O transporte consistiria em uma relação de codificação”.
Emília Ferreiro e Ana Teberosky defendem a escrita como representação
da linguagem onde a criança tem que compreender: o que a escrita
representa, como é construída, e quais são os seus
princípios. Essas autoras passaram a perceber a escrita como algo
historicamente construído. Para isto, sistematizaram o processo
de aquisição da linguagem escrita em fases: pré-silábica,
silábica, silábico-alfabética e alfabética.
Em meados da década de oitenta, as preocupações acerca
da alfabetização começaram a voltar-se para um novo
conceito, o de letramento. Nessa perspectiva, não basta o indivíduo
aprender a ler e escrever. Este precisa apropriar-se da leitura e da escrita
e fazer uso real destas, ou seja, o sujeito aprende de forma significativa
o uso e as funções da escrita,
Letramento é a tradução de um termo da língua
inglesa Literacy, que significa “estado ou condição
que assume aquele que aprende ler e escrever” (SOARES, 1998: p.17).Segundo
a autora em questão, letramento é:
“pois, o resultado da ação de ensinar
ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição
que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência
de ter se apropriado da escrita” (SOARES, 1998: p.?).
O que não significa que apenas é letrado
o indivíduo alfabetizado, mas aqueles que se utilizam práticas
de leitura e escrita. Por isso, é importante que o professor-alfabetizador
considere que, embora os sujeitos não saibam ler e escrever, esses
já possuem conhecimentos prévios das funções
da escrita e das características dos diversos gêneros textuais
presentes no seu cotidiano. Como afirma SOARES 1998: p.39:
“Ter-se apropriado da escrita é diferente
de ter aprendido a ler e escrever: aprender a ler e escrever significa
adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e de
decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é
tornar a escrita própria, ou seja, é assumir com sua propriedade”.
Outro estudo que contribui no aprendizado da leitura e
da escrita é o de Consciência fonológica, ou seja,
a consciência dos sons que compõem a fala.Várias pesquisas
(Morais, Briant e Bradley, Martins) apontam que levar o sujeito a refletir
sobre os processos cognitivos de: contar, segmentar, adicionar, subtrair,
identificar e produzir rimas e aliterações, sobre as partes
das palavras em diferentes posições, auxiliam de forma significativa
o progresso na aprendizagem da leitura e da escrita.
Logo, como afirma MORAIS (s/d), o sujeito que desenvolve habilidades de
analisar fonologicamente as palavras da sua língua, lança
mão de tais habilidades para compreender como funciona o sistema
de notação alfabética.
Todas essas abordagens orientaram o nosso projeto e serviram de base para
investigar as mudanças didáticas na alfabetização.
Pretendemos contribuir, assim, para uma melhor discussão e compreensão
do tratamento formulado pelos autores dos livros didáticos no momento
de transpor essas novas teorias.
Por isso, tivemos como objetivo analisar quais aspectos eram priorizados
nas atividades de ensino do sistema de notação alfabética
(SNA) de livros didáticos (LDs) Recomendado com Ressalvas pelo
MEC-PNLD 2004. Buscamos também, identificar e analisar as estratégias
de articulação entre as atividades voltadas ao ensino do
SNA e as ligadas a práticas de leitura e produção
de textos. Para isso, utilizamos uma análise de conteúdo
temática (BARDIN,1977). Classificamos as atividades em onze grandes
categorias temáticas, que consideravam o tipo de atividade cognitiva
do aluno, a unidade de linguagem sobre a qual trabalhava, a ocorrência
ou não de ajuda por colegas/professora. Ao final, tínhamos
as seguintes categorias: Leitura, comparação, identificação,
contagem, partição, formação, exploração,
cópia, escrita, produção de textos e desenhos. Essas
estavam compostas por novas subcategorias.
Durante a análise, houve também uma preocupação
de verificarmos a distribuição dos exercícios, já
classificados, no decorrer das unidades. Tal preocupação
decorreu da necessidade de ter uma visão geral de como e em quais
momentos determinada atividade cognitiva, ligada à aprendizagem
do SEA, foi explorada pelo LD. Além disso, a análise foi
realizada qualitativamente e quantitativamente, o que consistiu na investigação
da distribuição dos exercícios, no que se refere
às tarefas solicitadas na resolução desses, bem como,
a observação da natureza destas operações.
Paralelamente, analisávamos a articulação das atividades
de ensino do SNA com as atividades envolvendo práticas de leitura
e produção textual: relação entre o repertório
de textos (selecionados para leitura e produção) e o universo
de palavras focalizadas como objeto de reflexão para o aprendizado
do SNA; critérios para a ocorrência (ou não) de reflexão
sobre palavras nas situações de leitura e produções
textuais ou fora daquelas situações, e o ajuste do LD à
heterogeneidade de concepções dos aprendizes e avaliação
de seus progressos: estímulo à produção de
escritas espontâneas pelos alunos; proposição de atividades
que permitam a produção de escritas espontâneas pelos
alunos; proposição de atividades que permitam a produção,
pelos alunos, tanto de escritas convencionais, como não convencionais;
presença ou não de orientações, ao professor,
para a observação dos avanços registrados pelos alunos
na apropriação do SNA; presença ou não de
atividade que auxiliem o professor a, sistematicamente, observar os progressos
dos alunos na apropriação do SNA; coerência entre
as concepções declaradas (no manual do professor) e o tratamento
dado à avaliação dos alfabetizandos ao longo do livro.
As principais fontes de pesquisa foram os livros didáticos ALP,
LEP e Alegria de Saber bem como os documentos - resenhas e pareceres-
elaborados pelos avaliadores do PNLD 2004. Categorizamos as atividades
dos LDs a partir de seus enunciados e com base nos processos cognitivos
envolvidos na resolução dos mesmos e analisamos os manuais
do professor para verificar a coerência entre as concepções
de língua e aprendizagem, adotadas pelos autores e as atividades
propostas ao longo dos LDs.
O que encontramos:
Os três LDs eram bastante diferentes na forma de
organizar-se. O ALP estava dividido em unidades. Em cada lição,
tinha um texto principal seguido de atividades de interpretação
textual, realizadas oralmente pelo aprendiz e o colega. O conjunto de
textos apresentados pelo livro, incluía poemas, receitas, cartas,
bilhetes e contos. Por outro lado, há uma presença mínima
de textos da nossa cultura, como parlendas, cantigas de roda e trava-línguas.
Já o LEP estava dividido em unidades temáticas que procuravam
relacionar os conteúdos trabalhados às situações
de vida cotidiana do aprendiz. Cada unidade tinha uma média de
dois a cinco textos que se dividiam em: poemas, receitas, cartas, bilhetes
e contos. O Alegria de Saber estava subdividido em lições.
As primeiras lições trabalhavam com as vogais, os encontros
vocálicos, os sons nasais das vogais e os sons aberto e fechado.
Em seguida, começou-se a trabalhar o alfabeto a partir de padrões
silábicos. Cada lição, neste momento, iniciava-se
com um pequeno texto: que trabalhava a letra, a sílaba e a palavra.
Essas ficavam grifadas de cores diferentes para dar maior destaque e vinham
acompanhadas por uma figura que tinha relação com o padrão
silábico trabalhado. Sua organização se assemelhava
muito com as das cartilhas tradicionais.
No final dos três livros encontrava-se um alfabeto móvel
e o Manual do Professor. No LEP e no Alegria de Saber acompanhava também
um silabário.
LEITURA
A categoria leitura foi uma das categorias que apareceu com maior incidência
(ver tabela 1). Porém, havia uma ênfase na leitura de palavra,
o que pode indicar ausência de reflexão sobre as unidades
que a compõem. No caso do Alegria de Saber o aluno lia a palavra
sempre no início de cada lição e assim, a partir
da palavra era inserida a letra e a sílaba. Por isso, observamos
uma alta freqüência neste livro das subcategorias leitura de
letra e leitura de sílaba.
Tanto no ALP quanto no LEP, os alunos lêem poucos textos. No ALP
nas três primeiras unidades o aluno lê texto com auxílio
e só na quarta ele é convidado a ler sozinho. Já
o LEP o aluno lê desde as primeiras unidades, porém está
leitura se faz a partir de textos curtos- parlendas, trava-línguas
e cantigas. No Alegria de Saber os alunos lêem textos desconexos,
adaptados, criados pelo autor, textos curtos sempre no início de
cada lição com o objetivo de introduzir a sílaba,
a palavra e a letra. Daí, o aparecimento da subcategoria leitura
de texto cartilhado.
Tabela 1- Distribuição dos Exercícios Leitura
Categorias
(Leitura de) |
ALP
(1995) |
LEP
(2001) |
Alegria
de Saber (2001) |
1.
letras / alfabeto com auxílio |
0
(0%) |
01
(1,5%) |
0
(0%) |
2.
letras / alfabeto sem auxílio |
01
(1,8%) |
0
(0%) |
32
(9,7%) |
3.
Leitura de sílabas |
0
(0%) |
0
(0%) |
44
(13,3%) |
4.
palavras
|
13
(22,8%) |
20
(29,3%) |
110
(33,2%) |
5.palavras
com auxílio |
03
(5,3%) |
02
(3%) |
02
(0,6%) |
6.
descoberta de palavras |
0
(0%) |
04
(4%) |
00(0%) |
7.
frases
|
05
(8,8%) |
07
(10,3%) |
43
(13%) |
7a.frases
com auxílio
|
01
(1,8%) |
0
(0%) |
00
(0%) |
8.
texto
|
18
(31,5%) |
07
(10,3%) |
58
(17,5%) |
9.
texto com auxílio
|
16
(28%) |
27
(39,6%) |
12
(3,6%) |
10.
texto cartilhados
|
0
(0%) |
0% |
30
(9,1%) |
Total: |
57
(13,7%) |
68
(15.3%) |
331(43,32%) |
IDENTIFICAÇÃO
A categoria identificação foi pouco explorado nos
três livros (ver tabela 2). Isso demonstra que não houve uma preocupação
por parte dos autores dos LDs, com a reflexão das unidades da palavra-
letra e sílaba e com a reflexão sonora- aliteração e rima. Houve uma priorização
do trabalho com a palavra em detrimento do trabalho com a sílaba e a letra.
Tabela
2- Distribuição dos Exercícios Identificação
Categoria
(Identificação de) |
ALP(1995) |
LEP(2001) |
Alegria
de Saber (2001) |
11.
Diferenciação de letras/ palavras/ números/ outros |
01
(3%) |
03
(7,1%) |
1
(1,09%) |
12.
letras em posição X
(inicial, medial, final) |
07
(20,5%) |
04
(9,5%) |
4
(4,4%) |
12.a
letras (iguais/diferentes) em palavras |
02
(6%) |
01 (2,4%) |
9
(9,9%)
|
12.b
letras (iguais/diferentes) em sílabas
|
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
12.c
letras X na posição X
|
0
(0%) |
0
(0%) |
01(1,09%) |
13.
sílabas (em
posição X -inicial,
medial, final) com correspondência escrita |
0
(0%) |
03
(7,1%) |
25
(27,6%) |
14.
sílabas (em
posição X - inicial, medial, final) sem correspondência
escrita |
0
(0%) |
0
(0%) |
01
(1,09%) |
15.
“palavras “outros” |
7
(20,5%) |
09
(21,4%) |
13
(14,3%) |
16.
palavras que possua a letra X (em posição X
-inicial, medial e final) |
14
(41%) |
18
(42,9%) |
17
(18,7%) |
17.
palavras que possua a sílaba X |
0
(0%) |
02
(4,8%) |
10
(11%) |
18.
rima com correspondência escrita |
02
(6%) |
01
(2,4%) |
4
(4,4%) |
19.
rima sem correspondência escrita |
1
(3%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
20.
aliteração com correspondência escrita |
0
(0%) |
01
(2,4%) |
4
(4,4%) |
21.
aliteração sem correspondência escrita |
0
(0%) |
0
(0%) |
2
(2%) |
Total: |
34
(8,2%) |
42
(9,5%) |
91
(11,9%) |
COMPARAÇÃO
Bem
como Identificação, a categoria Comparação quase não foi explorada nos
três LDs (ver tabela 3). No LEP a subcategoria de comparação de palavras
quanto à presença de letras iguais/ diferentes foi a que apresentou maior
distribuição. Percebemos assim, a priorização do trabalho com letras.
Contudo, é importante mencionar que esse trabalho não é acompanhado de
uma reflexão sobre os sons das letras, ou mesmo da palavra. Parece que
esta não foi percebida enquanto segmento sonoro.
A
exploração das sílabas foi quase inexistente nos três livros, o que demonstra
a idéia de que não houve também reflexão sobre a estrutura da palavra.
Tabela 3- Distribuição dos Exercícios Comparação
Categorias
(Comparação de) |
ALP
(1995) |
LEP
(2001) |
Alegria
de Saber (2001) |
22.
sílabas quanto à disposição de letras |
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
23.
palavras quanto à disposição de letras |
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
24.
sílabas quanto ao número de letras |
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
25.palavras
quanto ao número de letras |
01
(25%) |
02
(15,3%) |
0
(0%) |
26.palavras
quanto ao número de sílabas |
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
27.palavras
quanto à presença de letras iguais / diferentes |
01
(25%) |
08
(61,7%) |
0
(0%) |
28.palavras
quanto à presença de sílabas iguais / diferentes |
01
(25%) |
02
(15,3%) |
0
(0%) |
29.
com escrita convencional para auto-avaliação |
01
(25%) |
01
(7,7%) |
0
(0%) |
Total: |
04
(1%) |
13
(2,9%) |
0
(0%) |
CONTAGEM
A distribuição da categoria contagem foi baixa nos três LDs
(ver tabela 4). Estes exploraram a subcategoria contagem de letra de palavra.
Porém, o trabalho com a letra não pressupõe necessariamente a exploração
da estrutura da palavra. Mais uma vez a letra não foi trabalhada junto
às sílabas e a palavra não foi trabalhada enquanto segmento sonoro. Dessa
forma, também não houve reflexão sonora.
No caso do ALP, houve atividades que envolveram a subcategoria
contagem de sílaba de palavras, duas ou uma em cada unidade. Entretanto,
percebemos que a contagem parecia ser vista como um processo secundário.
O aluno, quando o fazia, apenas contava para refletir sobre a segmentação
de palavras, para contar quantas letras tinham a palavra ou quantas vezes
palavras iguais se repetiam. O aprendiz não era solicitado a comparar
às partes contadas e tampouco identificar semelhanças entre essas partes.
Tabela 4- Distribuição dos Exercícios Contagem
Categorias
(Contagem de) |
ALP
(1995) |
LEP
(2001) |
Alegria
de Saber (2001)
|
30.
letras de sílabas |
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
31.
letras de palavras |
07
(54%) |
07
(100%) |
2
(66,6%) |
32. sílabas de palavras |
05
(38,4%) |
0
(0%) |
1
(33,4%) |
33.
palavras |
01
(7,6%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
Total: |
13
(3,1%) |
07
( 2,6%) |
03
(0,39%) |
PARTIÇÃO
Os
Exercícios de partição foram pouco explorados nos LDs (ver tabela 5).
Dentro da categoria é percebido o trabalho com sílabas. Este, porém é
realizado de forma arbitrária, sem levantar qualquer tipo de reflexão.
No LEP e no Alegria de Saber a quantidade de sílabas já está determinada.
A
ausência ou baixa freqüência dos processos cognitivos de contagem, comparação,
identificação e partição demonstra a desvalorização do trabalho de reflexão
sobre as unidades da palavra. Logo, fica evidente que os alunos foram
pouco ajudados a refletir sobre o fato de que as palavras que têm o mesmo
número de letras não necessariamente têm o mesmo número de sílabas.
Tabela 5- Distribuição dos Exercícios
Partição
Categorias
(Partição) |
ALP
(1995) |
LEP
(2001) |
Alegria
de Saber (2001) |
34.
oral de palavras em sílabas
|
04
(66,7%) |
0
(0%) |
3
(21,4%) |
35.
escrita de palavra em letras |
02
(33,3%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
36.
escrita de palavra em sílabas |
0
(0%) |
02
(100%) |
11
(78,6%) |
37.
escrita de frase em palavras |
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
Total:
|
06
(1,5%) |
02
(0,4%) |
14
(1,8%) |
FORMAÇÃO
A
categoria formação apresentou baixa freqüência (ver tabela 6). A subcategoria
formação de palavra a partir de letras dadas foi a que mais apareceu nos
LDs. As atividades relacionadas a essa categoria, apareciam pedindo que
o aluno, a partir de um repertório de letras - as letras do nome de um
colega da sala - formasse novas palavras.
A
subcategoria formação de palavras outros foi apresentada no ALP e no LEP.
No primeiro a maioria das atividades consistia em adivinhações, essas
se concentraram no final do LD. Com isso, o aluno só seria solicitado
a descobrir novas palavras no final do livro. No caso do LEP, o autor
sugeria a troca de letras ou acréscimo de letras para a formação de novas
palavras. Porém, esses exercícios não vieram acompanhados de reflexão
sonora.
Não
houve exercícios envolvendo as subcategorias: formação de palavras com
uso do alfabeto móvel e formação de palavras com uso do silabário, apesar
dos autores dos LDs sugerirem o uso de um dos instrumentos.
No
Alegria de Saber a formação de palavras a partir de sílabas dadas apareceu
com grande incidência, porém esta formação estava relacionada aos padrões
silábicos trabalhados em cada lição. O autor trabalhou com a sílaba, mas
essas atividades não vinham aglutinadas a outros processos cognitivos.
Tabela 6- Distribuição dos Exercícios Formação
Categorias
(Formação de) |
ALP
(1995) |
LEP
(2001) |
Alegria
de Saber (2001) |
38.
palavras a partir de letras dadas |
07
(54%) |
03
(25%) |
4
(21%) |
38ª.
palavras com uso do alfabeto móvel. |
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
39.
palavras a partir de sílabas dadas |
0
(0%) |
05
(41,7%) |
15
(79%) |
40.
palavras “outros” |
06
(46%) |
04
(33,3%) |
0
(0%) |
Total: |
13
(3,1%) |
12
(2,7%) |
19
(2,5%) |
EXPLORAÇÃO
A categoria exploração possui uma distribuição
média de exercícios na maioria dos LDs (ver tabela 7).
No ALP, a exploração dos diferentes tipos de letras
foi a subcategoria que correspondeu a um maior número de atividades. Porém,
em todas as atividades, o livro didático só trabalhou com dois tipos de
letras: a cursiva e imprensa maiúscula – as atividades pediam para que
os alunos passassem frases ou palavras, escritas em letras de imprensa,
para letras cursivas. Já no LEP e no Alegria de Saber, essa subcategoria
foi pouco explorada. Talvez a exploração de letras devesse ser melhor
explorada, tendo em vista que, nesses livros, e no cotidiano do sujeito
os vários traçados das letras estão presentes.
Tabela 7- Distribuição dos Exercícios Exploração
Categorias
(Exploração) |
ALP
(1995) |
LEP
(2001) |
Alegria
de Saber (2001) |
41.
dos diferentes tipos de letras |
08
(66,7%) |
02
(7,7%) |
2
(66,7%) |
42.
da ordem alfabética |
0
(0%) |
04
(15,4%) |
1
(33,3%) |
43.
da segmentação das palavras |
03
(25%) |
01
(3,8%) |
0
(0%) |
43.a
da relação som/ grafia
|
01
(8,3%) |
15 (57,7%) |
0
(0%) |
44.
da pontuação
|
0
(0%) |
04
(15,4%) |
0
(0%) |
Total: |
12
(2,9%) |
26
(5,9%) |
03
(0,39%) |
CÓPIA
A
categoria Cópia teve uma das mais altas distribuições nos LDs (ver tabela
8). A subcategoria cópia de palavra foi a mais freqüente.
Mais
uma vez, foi percebido a opção de priorizar o trabalho com palavras. Isso
pode está relacionado à ausência de um trabalho sistemático de reflexão
sobre a estrutura da palavra através de processos como comparação, contagem,
partição e identificação
No
ALP e Alegria de Saber, os exercícios de cópias não representaram um processo
mecânico, uma vez que, a maioria dos exercícios, associava-se a outros
processos cognitivos, envolvendo estratégia de leitura de localização
de informações, ordenação de palavras, produção de textos, leitura de
palavra. Dessa forma, a cópia foi geralmente inserida em contextos significativos,
o que distingue a cópia desses LDs das cópias das cartilhas tradicionais.
Já
no Alegria de Saber, a cópia era o processo central, quando não único,
do exercício. O aluno não era solicitado a refletir, bastava copiar grafema
de acordo com o modelo previamente exposto.
Tabela 8- Distribuição dos Exercícios Cópia
Categorias
(Cópia de) |
ALP
(1995) |
LEP
(2001) |
Alegria
de Saber (2001) |
45
letra
|
09
(14%) |
08
(9,3%) |
31
(23,5%) |
46.
sílaba
|
0
(0%) |
03
(3,5%) |
16
(12,1%) |
47.
palavra
|
40
(62,5%) |
61
(71%) |
51
(38,6%) |
48 frase
|
14
(21,9%) |
12
(14%) |
29
(22,1%) |
49.
texto
|
01
(1,6%) |
02
(2,2%) |
5
(3,7%) |
Total: |
64
(15,4%) |
86
(19,3%) |
132
(17,4%) |
ESCRITA
A categoria Escrita também apresentou uma alta
distribuição (ver tabela 9). Entre as subcategorias a escrita de palavra,
apresenta a distribuição mais elevada. No ALP e no LEP, os exercícios
que envolviam escrita de palavra foram trabalhados de forma sistemática,
desde a primeira unidade. Nesta, percebe-se o trabalho intenso com a escrita
de nomes. Nesses livros, a escrita de palavra foi também encontrada na
realização de ditados, cruzadinhas. No Alegria de Saber, o trabalho com
a escrita de nomes foi pouco enfatizado. Em geral, nos três livros, a
escrita de palavras foi requisitada na nomeação de figuras trazidas pelo
próprio livro ou de desenhos feitos pela própria criança.
Outra subcategoria de freqüência bastante significativa
foi à escrita de frases. Nos livros, essa escrita foi realizada a partir
da solicitação de determinadas respostas, acompanhando o trabalho com
textos.
O trabalho com a letra e sílaba não foi valorizado,
o que pode ser verificado nas distribuições das subcategorias de escrita
de letra e escrita de sílaba. Da mesma forma, as subcategorias que envolvem
escrita de aliteração ou rima apresentaram nenhuma ou baixa distribuição,
evidenciando, mais uma vez, a não priorização da reflexão sonora.
Tabela 9- Distribuição dos Exercícios Escrita
Categorias
(Escrita de) |
ALP
(1995) |
LEP
(2001) |
Alegria
de Saber (2001) |
50.
letra
|
10
(7,8%) |
05
(4%) |
2
(2,2%) |
51.
sílaba (inicial, medial e final) de palavra |
0
(0%) |
0
(0%) |
1
(1,1%) |
52.
palavra
|
67
(52,3%) |
55
(44,8%) |
37
(41,6%) |
52.a
palavras a partir de letra/ sílaba dada |
06
(4,7%) |
17 (13,8%) |
0
(0%) |
53.
palavra como souber |
10
(7,8%) |
02
(1,6%) |
0
(0%) |
54.
palavra com auxílio
|
02
(1,6%) |
01
(0,8%) |
0
(0%) |
55.
palavra com aliteração |
0
(0%) |
0
(0%) |
01
(1,1%) |
56.
palavra com rima |
03 (2,3%) |
04 (3,3%) |
01 (1,1%) |
57. frase |
21
(16,5%) |
39
(31,7%) |
47
(52,9%) |
57.a
frase como souber
|
9
(7%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
Total: |
128 (30,7%) |
123 (27,6%) |
89 (11,6%) |
PRODUÇÃO
A categoria produção de texto teve uma freqüência
média na distribuição dos exercícios (ver tabela 10).
A produção de texto foi a subcategoria que
apareceu com mais ênfase nesses livros. Mas, o contexto de produção não
foi o mesmo nos livros.
O ALP proporcionou a produção de diversos
gêneros que circulam na sociedade tais como: bilhetes, contos, notícias,
cartas, receitas e histórias em quadrinhos. Proporcionando
aos sujeitos à produção de textos que não aparecem apenas no âmbito escolar.
Já no LEP e no Alegria de Saber, o momento de produção não partia de finalidades
reais, ou seja, o autor pede para as crianças imaginarem um contexto e
inventarem uma história.
A outra subcategoria apresentada foi àprodução
de texto coletivo. Nesse caso, a professora sempre deveria escrever no
quadro e os alunos copiariam.
Tabela
10- Distribuição dos Exercícios Produção
Categorias (Produção de) |
ALP (1995) |
LEP (2001) |
Alegria de Saber (2001) |
58.
texto como souber |
0
(0%) |
01
(4,1%) |
0
(0%) |
59.
texto com auxílio do professor |
0
(0%) |
0
(0%) |
0
(0%) |
60.
texto |
16
(80%) |
21
(87,7%) |
21
(87,5%) |
60.a
texto coletivo
|
04
(20%) |
02
(8,2%) |
03
(12,5%) |
Total: |
20 (4,8%) |
24 (5,3%) |
24 (3,1%) |
DESENHO
A categoria desenho possuiu uma freqüência
média na distribuição dos exercícios (ver tabela 11).
As atividades de desenho geralmente vinham
acompanhadas de atividades de escrita, seja ela de palavra ou de frase,
ou como produto de uma atividade de leitura.
Tabela
11- Distribuição dos Exercícios Desenho
Categorias (Desenho) |
ALP (1995) |
LEP (2001) |
Alegria de Saber (2001) |
Total: |
22 (5,2%) |
26
(5,9%) |
22 (2,9%) |
CONCLUSÃO
No ALP, os
pressupostos teóricos, indicados no manual do professor, partiam
de uma perspectiva sócio-construtivista, entretanto, nem sempre
esta concepção estava por trás das atividades do
LD. O livro apresentou um bom conjunto de textos a serem trabalhados pelo
professor, no entanto, alguns textos não indicavam quem eram os
autores. E nas atividades de leitura percebemos uma exploração
significativa da estratégia de localização de informações.
Um outro ponto constatado foi o trabalho desenvolvido pelo livro com a
produção de textos. Ele apresentou como proposta uma boa
variedade de gêneros textuais, contudo, algumas vezes não
indicava para que ou para quem os alunos escreviam.
Ressaltamos, porém, que para um trabalho mais eficiente do professor
com o sistema de notação alfabética, o livro didático
analisado deveria apresentar propostas de atividades com a exploração
das relações parte-todo, som - grafia, uma vez que estas
são fundamentais no processo inicial da aquisição
do nosso sistema de escrita.
Tal afirmação pode ser evidenciada quando analisadas as
atividades que envolvem partição oral de palavras em sílabas,
identificação de rima e aliteração, importantes
atividades cognitivas para o desenvolvimento da Consciência Fonológica,
uma vez que o desenvolvimento das habilidades de análise fonológica
constitui uma condição necessária para aquisição
de uma escrita alfabética (Morais e Lima, 1989).
Pôde-se destacar no LEP, a dificuldade do LD em realizar reflexões,
sejam elas sobre os sons ou sobre a estrutura da palavra. O quantitativo
de exercícios que envolviam rima e aliteração foi
reduzido e a palavra não foi explorada enquanto seqüência
sonora. Da mesma forma, os exercícios que envolviam identificação,
comparação, partição e contagem de unidades
não foram valorizados.
O trabalho diretamente com os textos foi reduzido, uma vez que as crianças,
em vários momentos, até mesmo nas últimas unidades,
eram convidadas a acompanhar a leitura, principalmente quando se tratava
de textos longos. Os textos lidos por elas eram curtos e de conteúdo
mais simples.
Nesse sentido, pôde-se perceber um controle característico
das cartilhas tradicionais de alfabetização. Esse controle
foi expresso através de uma tentativa constante de evitar do erro.
Além de reservar os processos mais complexos para as últimas
unidades do livro, em alguns momentos o autor pareceu atrelá-los
a uma necessidade de seguir padrões convencionais, quer seja de
escrita, produção textual, etc.
É importante levantar que essa concepção de erro
está presente nos paradigmas mais tradicionais de aprendizagem.
Ao enfatizar apenas o produto, as respostas, o erro se estabelece como
algo a ser evitado, extinto. Tal paradigma se contrapõe ao pressuposto
interacionista proposto pelo autor no manual.
No Alegria de Saber as várias vertentes teóricas expressas
no manual do professor minimizaram-se num LD muito semelhante às
antigas cartilhas, claramente filiadas ao método silábico.
O aprendiz assumia uma atitude de copista das palavras que eram apresentadas.
A ausência de reflexão fonológica e de atividades
para escrita espontânea, demonstram uma clara concepção
empirista/associacionista de aprendizagem.
Diante da análise realizada, nos três livros, pôde-se
destacar a dificuldade dos LDs em realizar reflexões, seja ela
sobre os sons ou sobre a estrutura da palavra. Parecia existir um interesse
de não usar a sílaba como unidades nos exercícios,
talvez a fim de diferenciar-se das antigas cartilhas.
O quantitativo de exercícios que envolviam rima e aliteração
foi reduzido e a palavra não foi explorada enquanto segmento sonoro.
Da mesma forma, exercícios que envolviam identificação,
comparação, partição e contagem não
foram valorizados. Isso parece um ponto preocupante, já que sabemos
o quanto esses exercícios são essenciais para a apropriação
do SEA.
Da mesma forma, os LDs também exploraram pouco os textos curtos
(como trava-línguas, parlendas e quadrinhas que são adequados
para os exercícios de consciência fonológica e que,
por serem facilmente memorizados, ajudam o aluno a refletir sobre as relações
entre partes escritas e faladas.
Os LDs também não proporcionaram atividades que lidassem
de forma enfática com a heterogeneidade dos alunos. Alguns dos
LDs quase não estimularam a produção de escrita espontânea,
através de tarefas onde os alunos (que ainda não desenvolveram
uma hipótese alfabética nem dominaram as convenções
som-grafia) pudessem revelar seus níveis de psicogênese de
escrita, o que pressupõe a produção de escritas únicas
e corretas.
BIBLIOGRAFIA
FERREIRO,
Emília. Reflexões Sobre Alfabetização. 24.ª
ed. Atualizada, São Paulo, Cortez, 2001.
TEBEROSKY, Ana & COLOMER, Teresa. Aprender a Ler e a Escrever: uma
proposta construtivista. Porto Alegre, ArtMed, 2003.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed.
, 5. reimp. – Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
MORAIS, A. G. Consciência Fonológica e Alfabetização
(no prelo).
MORAIS, A. G. & LIMA, N. C. Análise fonológica e compreensão
da escrita alfabética: um estudo com crianças da escola
pública”. Anais do Simpósio Latino-Americano de Psicologia
e Desenvolvimento. Recife, pp. 51-54,1989. |
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