|
MUDANÇAS
DIDÁTICAS E PEDAGÓGICAS NAS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO:
OS NOVOS LIVROS DIDÁTICOS RECOMENDADOS PELO MEC-PNLD 2004 E SEU USO.
Ana Paula Campos Cavalcanti - Universidade Federal
de Pernambuco – UFPE
Artur Gomes de Morais - Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
Nessa pesquisa analisamos a influência das teorias
da Psicogênese da Língua Escrita, da Consciência fonológica
e do Letramento nas propostas de livros didáticos de alfabetização
(LDAs) “recomendados” pelo PNLD 2004, assim como, a natureza
das mudanças didáticas e pedagógicas nas práticas
de alfabetizadoras que atuavam em escolas públicas da Rede Municipal
do Recife. Desta forma, constatamos que os três LDAs analisados
parecem ter avançado no pólo do letramento, embora apresentassem
lacunas nas atividades voltadas à apropriação do
SNA. Quanto ao uso dos novos LDAs pelas professoras analisadas, percebemos
que seguiam as instruções apresentadas no livro, como acrescentava
e modificava outras atividades, para adequá-las aos seus objetivos
e ao nível dos alunos.
INTRODUÇÃO
Fundamentação teórica
Assistimos, mais recentemente, a uma política de avaliação
dos livros didáticos adquiridos para as redes públicas brasileiras.
Buscando promover a qualificação daqueles materiais, a partir
da instituição do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático),
a SEF-MEC tem atribuído a pesquisadores, professores de instituição
universitárias, a tarefa de estabelecer critérios, julgar
a qualidade e recomendar / excluir os manuais didáticos a serem
usados no ensino fundamental, aí incluídos os livros didáticos
recomendados de alfabetização, substitutos das cartilhas
tradicionais. Portanto, o presente trabalho analisa o processo de didatização
proposto por “textos do saber” mais especificamente os livros
didáticos recomendados de alfabetização.
Salientamos, também, que a leitura e a escrita, enquanto objetos
de ensino da alfabetização, sofreram alterações
no decorrer da história, alterações relacionadas
a diferentes aspectos. Para analisarmos as práticas específicas
de ensino do sistema de escrita alfabética nos livros didáticos
recomendados de alfabetização, tomaremos como eixos os seguintes
pressupostos teórico-metodológicos: a psicogênese
da escrita, o letramento e os estudos sobre ao desenvolvimento da consciência
fonológica.
De acordo com as contribuições dos estudos sobre a psicogênese
da língua escrita, desenvolvidos por Emília FERREIRO e Ana
TEBEROSKY (1984) a escrita é um sistema notacional que descreve
os fonemas da língua e que possui propriedades particulares quanto
ao tipo de relação que estabelece com aqueles fonemas (Ferreiro,
1985).
Durante a apropriação do S. N. A. o aprendiz elabora vários
conhecimentos sobre o funcionamento desse, como: que é preciso
haver uma variedade interna nas grafias que usamos numa palavra; que as
letras representam partes sonoras das palavras que falamos, partes menores
que a sílaba, que são os fonemas; quais os valores sonoros
que as letras podem assumir na nossa escrita e etc (Ferreiro, 1985).
Um dos mais importantes desafios para a compreensão do princípio
alfabético pelos aprendizes é o de perceber que as palavras
escritas contêm combinações (letras ou combinações
de letras), as quais se relacionam com as unidades sonoras das palavras
(fonemas).
De acordo com essas autoras, os aprendizes passam por estágios
evolutivos durante o processo de aquisição da notação
escrita, antes de chegar a compreender, de fato, o S.N.A. Ao todo são
quatro hipóteses, as quais se voltam para a relação
que o aprendiz estabelece entre a linguagem falada e escrita. São
elas: a) Hipótese Pré-silábica = nessa os grafismos
são alheios a toda busca de correspondência entre letra e
som; b) Hipótese Silábica = nessa há uma tentativa
de se atribuir um valor sonoro de modo que, ao final do estágio,
cada uma das letras que compõem a escrita, passa a valer por uma
sílaba. O aprendiz começa a perceber que a escrita representa
as partes sonoras da fala; c) Hipótese Silábico–Alfabética
= fase de transição entre a hipótese silábica
e a alfabética. Caracteriza-se pelo fato do aprendiz descobrir
a necessidade de se fazer uma análise que vá além
da sílaba; d) Hipótese Alfabética = nessa o aprendiz
já compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde
a valores sonoros menores que a sílaba, realizando, assim, uma
correspondência entre grafema e fonema.
Na esteira desta discussão, observamos que na década de
1990, uma outra discussão ganhou força: a da consideração
do ensino da leitura e da escrita como práticas de letramento.
SOARES (1998) faz uma distinção entre os termos alfabetização
e letramento no qual o primeiro corresponde à ação
de ensinar/aprender a ler e a escrever, enquanto o segundo é o
estado ou condição de quem não apenas sabe ler e
escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita.
De acordo com a autora, alfabetizar e letrar são duas ações
distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o
ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no
contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo
que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.”
Mas o que seria alfabetizar letrando? Essa expressão foi utilizada
inicialmente pela professora Magda Soares (1998), que defendeu a distinção
entre alfabetização e letramento. Para Soares (1998) “a
alfabetização é a ação de ensinar /
aprender a ler e escrever”, já o conceito de letramento diz
respeito ao“estado ou condição de quem não
apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais
que usam a escrita”.
Portanto, alfabetizar letrando seria “ensinar a ler e escrever no
contexto das práticas sociais da leitura e da escrita de modo que
o indivíduo se tornasse ao mesmo tempo alfabetizado e letrado”
(Soares, 1998). Desta forma, a produção de texto deve ocorrer
dentro de um contexto motivador, com finalidades específicas. Não
deve servir apenas para atender apenas as exigências escolares.
Outro importante eixo teórico a ser discutido neste trabalho refere-se
a contribuição dos estudos sobre o papel das habilidades
de análise fonológica na alfabetização e as
evidencias e problemas de transposição didática.
A consciência fonológica é um tipo de conhecimento
metalingüístico (linguagem que serve para descrever ou falar
sobre uma outra linguagem), o qual tem por característica o fato
do indivíduo pensar sobre a linguagem e operar com ela, considerando
os segmentos sonoros internos às palavras. Tal conhecimento decorre
da capacidade do ser humano de poder se debruçar sobre a linguagem
de maneira consciente, permitindo a reflexão sobre os sons da fala
(Cardoso-Martins, 1991).
Ainda de acordo este autor, a consciência fonológica deve
ser considerada como uma habilidade para executar operações
mentais sobre a fala, habilidade esta que permite ao indivíduo
o julgamento e a manipulação da estrutura sonora das palavras.
Os sujeitos que desenvolvem a consciência fonológica reconhecem
que as palavras podem rimar, bem como começar e terminar com o
mesmo som e que são compostas por fonemas que podem ser utilizados
para formar novas palavras. Assim, o termo Consciência Fonológica
deve ser entendido como a consciência dos indivíduos de que
as palavras são formadas por diferentes sons ou grupos de sons
e que elas podem ser segmentadas em unidades menores.
Os trabalhos de um número cada vez maior de pesquisadores têm
investigado as relações entre a capacidade de reflexão
metalingüística da criança e seu desempenho no aprendizado
da leitura e escrita. Essas pesquisas vêm estudando a relação
entre a consciência fonológica e o aprendizado do S. N. A.
A maioria delas concorda que aquela constitui um importante fator no aprendizado
da leitura e escrita alfabética. Elas enfatizam que o treino da
consciência fonológica, quando associado à correspondência
grafema-fonema, exerce um efeito positivo sobre o aprendizado da leitura
e da escrita (cf. Morais e Lima, 1989; Cardoso-Martins, 1991, 1995b; Maluf
e Barrera, 1997; Menezes, 1999a; Capovilla e Capovilla, 1998a, 2000).
Mudanças nos LDAs de alfabetização:
Como os professores têm usado “os novos livros didáticos
recomendados da alfabetização”?
O livro didático vem se constituindo em um material de regulação
de muitos aspectos da prática do professor: os conteúdos
a serem ensinados, a ordem em que eles deveriam ser trabalhados, as atividades
a serem desenvolvidas, os textos a serem lidos, a forma de correção
dos exercícios. Na década de 1980 vimos surgir um forte
discurso contrário à utilização de livros
didáticos. O uso desse material passou a ser vinculado a uma prática
tradicional de ensino, que precisaria ser ultrapassada.
Por um lado, essa utilização foi apontada como vinculada
à desqualificação profissional de professores: “os
livros didáticos criariam uma dissociação entre aqueles
que executam o trabalho pedagógico – os docentes –
e aqueles que o concebem, planejam e estabelecem suas finalidades –
os autores de livros didáticos e as grandes editoras –, e
a principal conseqüência dessa dissociação consistiria
numa diminuição das exigências de formação
e preparo docente” (BATISTA, 2000, p. 538).
Por outro, os livros passaram a ser criticados por apresentarem erros
conceituais e por se constituírem em um campo da ideologia e das
lutas simbólicas, revelando um ponto de vista parcial e comprometido
sobre a sociedade. No que diz respeito às cartilhas especificamente,
estas receberam fortes críticas por se basearem em métodos
tradicionais de alfabetização e apresentarem textos forjados.
Nesse período, novas concepções relacionadas ao ensino
de Língua Portuguesa passaram a ser divulgadas/produzidas no Brasil,
concepções estas desenvolvidas em diferentes áreas:
Língüística, Psicolingüística, Análise
do Discurso, etc. Mudanças nas práticas dos professores
passaram a ser exigidas e, para que estas fossem efetivadas, seria necessário
que os mestres parassem de organizar seus trabalhos a partir da utilização
de um livro baseado em orientações teórico-metodológicas
consideradas ultrapassadas.
Compreendendo a importância do livro didático na organização
da prática pedagógica do professor e reconhecendo que muitos
deles se distanciavam das propostas curriculares e dos projetos elaborados
pelas Secretarias de Educação, além de serem desatualizados
e apresentarem erros inaceitáveis, o MEC passou a desenvolver,
desde 1995, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Os livros
inscritos no programa vêm sendo submetidos a um trabalho de análise
e avaliação pedagógica que resulta na publicação
de um Guia de Livros Didáticos, que traz informações
sobre esses livros, constituindo-se em um material que orienta a escolha
do livro didático pelo professor.
Objetivos
Assim sendo, referente trabalho possui os seguintes objetivos:
• Analisar as concepções dos autores de livros didáticos
de alfabetização (LDAs) recomendados sobre o sistema de
notação alfabética (SNA) enquanto objeto de conhecimento
e sobre como crianças dele se apropriam;
• Analisar a influência das teorizações hoje
disponíveis (advindas dos estudos sobre letramento, sobre a psicogênese
da escrita, sobre “análise fonológica” ou outras)
na seleção e estruturação de seqüências
didáticas voltadas ao ensino do SNA;
• Identificar nos livros didáticos as estratégias
de articulação entre as atividades voltadas ao ensino do
SNA e as práticas de leitura e produção textuais;
• Analisar a avaliação emitida por especialistas do
PNLD sobre o tratamento didático dado ao sistema de notação
alfabética nos LDAs.
• Analisar o processo de transposição das discussões
didáticas sobre alfabetização presentes nos livros
didáticos e nos textos oficiais para as práticas de ensino
dos professores;
• Investigar o uso que os professores fazem dos livros didáticos
de alfabetização;
• Buscar identificar outras mudanças pedagógicas presentes
nas práticas de ensino dos professores.
Metodologia
Esta pesquisa adotou como estratégia metodológica básica
a análise documental, envolvendo duas fontes: livros didáticos
recomendados de alfabetização e os documentos (resenhas
e pareceres) elaborados pela equipe de avaliadores do PNLD-2003/2004 sobre
os mesmos LDAs.
Foram analisados livros recomendados de alfabetização pelo
Guia de Livros Didáticos do PNLD 2003/2004, livros de fato selecionados
por redes públicas municipais da região metropolitana do
Recife.
Para a análise dos livros didáticos recomendados de alfabetização
utilizamos os seguintes LDs:
• Vivência & Construção – Alfabetização.
MIRANDA, Cláudia, LOPES, Angélica, RODRIGUES, Vera Lúcia.
Editora Ática, 1ª Edição, São Paulo SP,
2003.
• Novo Letra Viva – SETÚBAL, Alice Maria, LOMONÂCO,
Beatriz BRUSIZIAN, Izabel. Editora Formato, 1ª Edição,
Belo Horizonte MG, 2001.
• Português – uma proposta para o letramento alfabetização
- ROCHA, Gladys. (Livro adotado pela prefeitura municipal da cidade do
Recife).
A análise destes livros didáticos recomendados consistiu
na elaboração de categorias relacionada a aprendizagem do
sistema de notação alfabético, contemplando os seguintes
eixos: leitura, produção textual e apropriação
do sistema de escrita. Sendo assim, observamos nestes livros, os tipos
de atividades de apropriação do SNA, a presença de
diversidade de gêneros, orientações para o professor.
Além da análise documental, essa pesquisa também
adotou observações etnográficas em salas de aula
de um grupo de professores de alfabetização da Secretaria
de Educação da Cidade do Recife. Escolhemos um grupo de
professores que tinha apresentado, em seus discursos, aspectos diferenciados
relacionados a mudanças didáticas e pedagógicas em
suas práticas de alfabetização. Fizemos, então,
um acompanhamento de suas aulas durante um ano. As observações
eram realizadas quinzenalmente e buscamos analisar todo o material utilizado
pelos docentes para o ensino da leitura e da escrita, principalmente os
livros didáticos utilizados e os cadernos dos alunos.
DESENVOLVIMENTO
Análise dos livros didáticos recomendados pelo PNLD
Os livros didáticos recomendados de alfabetização
foram analisados considerando, sobretudo, a operação cognitiva
necessária para os aprendizes executarem as atividades e os comandos
do livro. Além disso, procuramos investigar nos manuais do professor
o referencial teórico dos autores dos livros didáticos,
realizando, desta forma, uma comparação entre os pressupostos
teórico-metodológicos dos autores e as atividades presentes
nos livors.
Como já havíamos dito, foi criado um compêndio de
categorias (ver glossário de categorias no Apêndice), que
envolviam os seguintes blocos de atividades: Leitura, Identificação,
Comparação, Contagem, Partição, Formação,
Exploração, Cópia, Escrita e Produção
de Texto.
Alguns livros analisados eram divididos em unidades temáticas.
No que concerne as bases teóricas, os livros estavam baseados no
sócioconstrutivismo que podia ser observado na valorização
os conhecimentos prévios dos alunos e estimulação
da interação entre os alunos e entre eles e o professor,
nas atividades.
No pólo do letramento os três livros recomendados avançaram,
na medida que ofereciam as crianças um contato, desde as primeiras
unidades, com uma variedade de gênero textual ampla. De acordo com
a tabela abaixo, observamos que os alunos a ler, principalmente, palavras.
Verificamos também que as unidades menores da palavra, como sílaba
e palavra, são pouco enfatizadas na leitura. A leitura de texto
é também explorada, assim como a leitura de palavras, sendo
o livro vivência o que mais proporciona este tipo de atividade aos
aprendizes.
Tabela 1: Freqüência de atividades de leitura
por livro
Categorias (leitura de ...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
1. letras /
alfabeto com auxílio |
00
|
01
|
01
|
2. letras /
alfabeto sem auxílio |
00 |
01 |
00
|
3. sílabas |
01
|
02
|
02
|
4. palavras |
24
|
22
|
31
|
5. palavras
com auxílio |
00 |
07
|
10
|
6. Leitura / descoberta de palavras |
02
|
03
|
01
|
7. frases |
05 |
02
|
21 |
7a. frases com
auxílio |
00 |
00
|
13
|
8. texto |
38 |
14
|
28
|
9. texto com
auxílio |
00 |
07
|
23
|
10. texto cartilhado |
00 |
00
|
00
|
Total: |
70 |
59 |
130 |
O bloco identificação
aparece com bastante freqüência nos três livros, principalmente
a subcategoria identificação de palavras outros, como podemos
observar na tabela abaixo. Possivelmente, a freqüência desta
subcategoria está relacionada ao fato de se tratar de uma atividade,
na qual os aprendizes são solicitados a encontrar determinadas
palavras dentro dos textos, bastante explorados nestes livros. Entretanto,
salientamos a quase ausência nos três livros as subcategorias
identificação de rima com e sem correspondência escrita
e identificação de aliteração com e sem correspondência
escrita. Consideramos tais atividades essenciais no desenvolvimento das
habilidades de análise e semelhança fonológica. Tal
dado evidencia, a falha destes livros em não enfatizar estas operações
cognitivas.
Tabela 2:
Freqüência de atividades de identificação por livro
Categorias (identificação de...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
11. letras/ palavras/ números/ outros |
09 |
01 |
01
|
12. letras
em posição X (inicial, medial, final) |
15 |
06
|
07
|
12.a letras
(iguais) em palavras |
02 |
00
|
08
|
12.b letras
(iguais) em sílabas
|
00 |
00
|
01
|
12.c letras
X na posição X
|
00 |
00
|
07
|
13. sílabas
(em posição X -inicial,
medial, final) com correspondência escrita |
00 |
03
|
12
|
14. sílabas
(em posição X - inicial, medial, final) sem correspondência escrita |
00 |
01 |
00
|
15. palavras
“outros” |
08 |
06
|
14
|
16. palavras
que possua a letra X (em posição X -inicial, medial e final) |
02 |
09
|
08
|
17. palavras
que possua a sílaba X |
01 |
02
|
02
|
18. rima com
correspondência escrita |
02 |
03
|
05
|
19. rima sem
correspondência escrita |
00 |
00
|
00
|
20. aliteração
com correspondência escrita |
02 |
00
|
01
|
21. aliteração
sem correspondência escrita |
00 |
00
|
00
|
Total:
|
41 |
31 |
66 |
No
tocante às atividades de comparação nos livros didáticos recomendados,
consideramos o bloco pouco explorado, já que possibilita ao aprendiz manipular
e comparar as unidades menores da palavra. Entretanto, o livro Português
– uma proposta para o letramento (PORPROLET) a comparação foi mais enfatizada,
sobretudo na subcategoria comparação de palavras quanto ao número de letras
e comparação de palavras quanto à presença de letras iguais / diferentes,
o mesmo correu nos livros Novo Letra Viva (NOLEVI) e Vivência & Construção
(VIVÊNCIA) têm quantidade de exercícios parecidos.
Tabela 3:
Freqüência de atividades de comparação por livro
Categorias (Comparação de...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
22.
sílabas quanto à disposição de letras |
00
|
00
|
00
|
23.
palavras quanto à disposição de letras |
00
|
00
|
00
|
24.
sílabas quanto ao número de letras |
00
|
03
|
00
|
25.
palavras quanto ao número de letras |
05
|
05
|
05
|
26.
palavras quanto ao número de sílabas |
00
|
06
|
00
|
27.
palavras quanto à presença de letras iguais / diferentes |
04
|
05
|
06
|
28.
palavras quanto à presença de sílabas iguais / diferentes |
02
|
02
|
01
|
29.
Comparação com escrita convencional para auto-avaliação |
00
|
01
|
00
|
Total: |
11 |
22 |
12 |
O bloco de categoria contagem estiveram mais enfaticamente presentes
no livro PORPOLET, sobretudo nas subcategorias contagem de letras em palavras
e contagem de sílabas em palavras. A incidência desta categoria foi pouca
nos livros NOLEVI e VIVÊNCIA , o que podemos concluir que os aprendizes
foram pouco convidados a contarem as unidades menores das palavras.
Tabela 4:
Freqüência de atividades de contagem por livro
Categorias
(Contagem de ...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
30. letras de sílabas |
00 |
03 |
00 |
31. letras de palavras |
05 |
14
|
06 |
32. sílabas de palavras |
00 |
16 |
04 |
33. palavras |
07 |
11 |
04 |
Total: |
12
|
44
|
14
|
Partição foi um bloco de categorias que foi pouco explorado nos
LDs recomendados e analisados. O livro NOLEVI expressa bem essa afirmativa,
pois traz apenas duas atividades de comparação, a saber: partição oral
de palavras em sílabas e partição escrtia de palavrass em sílabas. Diferentemente,
no VIVÊNCIA e PORPROLET a subcategoria de maior ocorrência foi a partição de palavras em letras. Isto pode representar
a ausência de outro tipo de atividade importantíssima no desenvolvimento
das habilidades fonológicas, na medida que a partição oral de palavras
em sílabas é quase ausente nos três livros didáticos recomendados de alfabetização.
Tabela 5:
Freqüência de atividades de partição por livro
Categorias (partição de ...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
34.
oral de palavras em
sílabas |
00 |
02
|
01
|
35.
palavra em letras |
08 |
06
|
00
|
36.
palavra em sílabas |
05 |
03
|
01
|
37.
frase em palavras |
00 |
01
|
00 |
Total: |
13 |
12 |
02 |
O
bloco de categorias formação foi relativamente explorado nos três livros
de forma homogênea. A subcategoria formação de palavras outros, como podemos
observar na tabela abaixo, foi mais explorada que as demais nos livros
didáticos analisados. Tal subcategoria consistia na formação de palavras
a partir de enigmas, relevante para o processo de aquisição de do SNA,
entretanto, fazemos uma ressalva para a baixa ocorrência da subcategoria
formação de palavras com uso do alfabeto móvel, considerada uma atividade
imprescindível para a reflexão das unidades menores da palavra, presente,
apenas, no NOLEVI.
Tabela 6:
Freqüência de atividades de formação por livro
Categorias (formação de...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
38.
palavras a partir de letras dadas |
08
|
04
|
02
|
38ª.
palavras com uso do alfabeto móvel. |
00
|
00
|
05
|
39.
palavras a partir de sílabas dadas |
02
|
03
|
04
|
40.
palavras “outros” |
11
|
12
|
06
|
Total |
21 |
19 |
17 |
As atividades envolvendo a exploração ocorre freqüentemente
no NOLEVI (ver tabela abaixo), e menos incidente no VIVÊNCIA e PORPROLET.
Fazemos, entretanto, uma ressalva a quase ausência da subcategoria exploração
da relação som grafia, considerada uma importante reflexão fonológica
essencial no processo de apropriação do SNA.
Tabela 7:
Freqüência de atividades de exploração por livro
Categorias (exploração de...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
41.
dos diferentes tipos de letras |
07
|
16
|
22 |
42.
da ordem alfabética |
08
|
04
|
06
|
43.
da segmentação das palavras |
08
|
06
|
02
|
43.a
da relação som/ grafia
|
01 |
01
|
05
|
44.
da pontuação
|
0
|
00
|
04
|
Total |
24 |
27 |
39 |
O
bloco de categoria cópia envolvia uma incidência maior de atividades nos
livros didáticos É válido ressaltar que a natureza das cópias destes livros
didáticos diferenciava-se dos exercícios de cópia presentes nas antigas
cartilhas. Estes apresentavam como processo central a cópia, sendo o aprendiz
levado a registrar inúmeras vezes, por exemplo, a família silábica estudada
na lição, ou palavras e frases envolvendo tais sílabas.
Nesta
perspectiva, constamos que nestes Livros Didáticos a cópia não é um processo
mecânico, uma vez que, na maioria dos exercícios, apresentava-se acompanhada
por atividades requerendo diferentes processos cognitivos. Assim, foi
comum esses exercícios virem acompanhados pelo processo de identificação
e contagem, por exemplo.
Porém,
as atividades envolvendo a cópia de palavra aparecem, nos LDs, em um número
maior que as demais subcategorias, como se observa na tabela 8. Outra
subcategoria de destaque foi a cópia de letras. Em suma, os três livros
exploram o bloco cópia com finalidades específicas diferente das antigas
cartilhas.
Tabela 8:
Freqüência de atividades de cópia por livro
Categorias
(cópia de...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
45. letra |
25
|
07
|
08
|
46. sílaba |
01
|
03
|
02
|
47. palavra |
34 |
34 |
51 |
48. frase |
00 |
04 |
19 |
49. Cópia texto |
00
|
01
|
06
|
Total: |
60
|
49
|
86
|
A escrita de palavras foi a subcategoria de maior freqüência nos
livros didáticos recomendados, dentro do bloco escrita. Entretanto, o
aluno foi pouco convidado nos três livros para a escrita de palavra com
aliteração e escrita de palavra com rima, sendo a primeira ausente no
livro PORPROLET. Mais uma vez os autores dos livros didáticos analisados
desconsideram a importância das atividades de análise e semelhança fonológica,
como operação cognitiva importante no processo de aquisição da leitura
e escrita.
Tabela
9: Freqüência de atividades de escrita por livro
Categorias (escrita de...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
50. letra |
00
|
01
|
02
|
51.
sílaba (inicial, medial e final) de palavra |
00
|
01
|
02
|
52. palavra |
61 |
18 |
66 |
52.a
palavras a partir de letra/sílaba dada |
00 |
00 |
03 |
53.
palavra como souber |
01 |
06 |
13 |
54.
palavra com auxílio do professor |
05 |
01 |
02 |
55.
palavra com aliteração |
01 |
00 |
02 |
56.
palavra com rima |
02 |
02 |
02 |
57.
frase |
10 |
02 |
19 |
57.a
frase como souber |
00 |
00 |
00 |
Total |
80 |
31 |
111 |
Referente
ao bloco produção observamos que o aluno foi pouco convidado a realizar
atividades de produção textual. No livro VIVÊNCIA as subcategorias produção
de texto como souber e produção de texto com auxílio do professor não
foram contempladas. É importante observar, também que nos três livros
o aluno produz mais individualmente o texto do que coletivamente. Destacamos,
a ênfase de atividades de produção de texto (individual) no livro NOLEVI.
Tabela 10:
Freqüência de atividades de produção por livro
Categorias (produção de...) |
VIVÊNCIA |
PORPLET |
NOLEVI |
58. texto como
souber |
00 |
03 |
06 |
59. texto com
auxílio do professor |
00 |
01 |
01 |
60. texto |
09 |
08 |
18 |
61. texto coletivo |
03 |
00 |
09 |
Total: |
12 |
12 |
36 |
Análise
do uso de um LDA recomendado na prática de duas professoras
A título de exemplo, vejamos como a professora Cláudia de
Vasconcelos utilizou, numa de suas aulas, o livro didático adotado
na rede (Português: uma proposta para o letramento, de Gladys Rocha,
Ed. Moderna, recomendado no Guia do Livro Didático 2004). Ela realizou
as seguintes atividades:
• Primeiro a professora fez a leitura do texto “A cigarra
e a formiga”, e solicitou que os alunos acompanhassem em seus livros,
conforme instrução da autora do livro.
• Depois fez uma atividade de interpretação oral com
base nas questões sugeridas no livro:
P.: Por que a formiga pediu ajuda?
A.: Porque ela tava com fome.
P.: Vocês acham certo ela ter ajudado a cigarra?
A.: Não.
P.: Enquanto a cigarra estava cantando, a formiga estava fazendo o quê?
A.: Trabalhando.
P.: A formiga deveria fazer o quê?
A.: Deixar ela entrar.
P.: Se você fosse a formiga o que faria?
A.: Deixava.
P.: É correto dizer que a cigarra estava trabalhando?
A.: É.
P.: A cigarra tava cantando, não era? E vocês acham que cantar
para a cigarra é fazer nada?
A.: Não.
P.: Não, a cigarra tava fazendo o trabalho dela.
P.: A formiga falou então para a cigarra: ‘Você cantava,
agora dança”. O que dançar significa aqui? A formiga
quis dizer o quê?
A.: Que ela ia passar fome.
P.: Vocês acham que a palavra “dança” nesta frase
significa movimentar o corpo ou enfrentar sem ajuda problemas e dificuldades?
A.: Enfrentar problemas.
P.: Então vocês vão marcar o quadradinho de baixo.
• Em seguida, continuando a seqüência do livro, ela leu
o texto “A cigarra e a formiga” recontada por João
de Barro, e o explorou a partir das questões sugeridas pela autora
do LD. Uma das questões envolvia uma reflexão sobre o modo
como os dois textos foram escritos, uma vez que o segundo correspondia
e um poema com rimas. Cláudia não só solicitou que
os alunos descobrissem a diferença entre os textos, como também
pediu que identificassem algumas palavras que rimavam, como pode ser observado
no seguinte extrato de aula:
P.: O que tem diferente no modo que Cláudia contou o primeiro e
o segundo texto? Eu vou ler uma parte do primeiro e segundo texto (leu).
P.: Qual é a diferença? Escuta esse pedacinho e vê
o que acontece. O que tá acontecendo com as palavras deste pedacinho
de texto. Vou ler mais um (leu).
A.: A letra que tem diferente.
A.: Combina.
P.: Olha só, eu vou ler um pedacinho do outro texto. Escutem porque
vocês vão descobrir. O que aconteceu neste pedaço?
P.: Vocês tão percebendo que o segundo texto é rimado
e o primeiro texto não é? Escutem quando ele diz assim:
(leu um pedaço do texto). A palavra florida rima com o quê?
A.: Vida.
P.: A palavra luz rimou com?
A.: Azuis.
P.: Passando rimou com?
A.: Trabalhando.
• Depois, Cláudia fez com os alunos a atividade 1, solicitando
que eles escrevessem sozinhos as palavras para completar a estrofe, e
em seguida explicou a atividade 2, solicitando que eles completassem um
quadro:
P.: Aí no número 2 tem escrito assim: “Descubra o
que está faltando e complete o quadro”. Aqui tem o número
1, aqui tem escrito a palavra um e tem um saco de feijão. Aqui
tem o número 2, vou escrever a palavra “dois” e vou
desenhar dois sacos de feijão. Aqui tem o número 3, vou
escrever a palavra “três” e vou desenhar os três
sacos de feijão.
A.: A gente já sabe!
P.: Podem fazer.
• Durante a realização da atividade, a professora
trabalhou a escrita de cada número da seguinte forma:
P.: Como é que se escreve 2?
A.: D, O, I, S.
P.: Como é que se escreve o número 3?
A.: T, R, E, S.
P.: E um acento aqui.
P.: Como é que se escreve o número 4?
A.: Q, U, A, T, R, O.
P.: Como é que se escreve 5? CIN?
A.: C, I, N.
P.: E o CO?
A.: Ce O.
P.: Como é que se escreve o número 6?
(...)
• Depois dessa atividade, a professora leu uma outra versão
da história da “Cigarra e da formiga” a partir de um
livro de literatura infantil, e perguntou qual das versões tinha
agradado mais aos alunos:
P.: Qual dessas histórias vocês acham mais legal? A que a
formiga ajuda ou a que a formiga não ajuda?
A.: Ajuda.
• Depois da merenda, a professora fez com os alunos a atividade
da página 112, de formar palavras com as sílabas do quadro.
• Depois que eles escreveram as palavras, a professora junto com
a turma segmentou oralmente todas as palavras para descobrirem as que
possuíam menor número de sílabas (no caso: VERÃO,
CASA possuíam duas sílabas e FORMIGUEIRO possuía
quatro sílabas). Essa atividade não estava proposta no livro,
mas fazia parte da prática de alfabetização da professora
Cláudia.
• A professora, em seguida, leu uma outra versão da história
“A cigarra e a formiga” e retomou com os alunos as versões
que eles haviam lido durante o dia:
P.: Essa história é a que a formiga ajuda a cigarra?
A.: Não.
P.: Essa história é a que a formiga não ajudou a
cigarra. Agora a gente vai sentar no lugar. Nós hoje ouvimos quatro
histórias (duas do livro e outras duas de outros livros). Em duas
a formiga ajuda a cigarra em outras duas a formiga não ajudou a
cigarra.
• Como última atividade relacionada a essa lição
do livro didático, a professora solicitou que os alunos escrevessem
um texto sobre a história da cigarra e da formiga:
P. Agora nós vamos receber o caderno para escrever um texto sobre
a história da formiga e da cigarra.
P.: Como é o nome da história que a gente viu?
A.: A formiga e a cigarra.
P.: Então eu vou colocar lá em cima a data de hoje, vou
pular duas linhas e vou colocar: A CIGARRA E A FORMIGA. Depois vou pular
uma linha e vou escrever alguma coisa sobre a história da cigarra
e a formiga.
Vejamos
agora como a professora Patrícia, realizou a mesma aula, utilizando
o mesmo livro adotado pela rede:
• Assim como Cláudia, Patrícia fez a leitura do texto
“A cigarra e formiga” presente no Livro didático. Em
seguida realizou uma interpretação oral baseando-se no livro:
A professora distribui os livros para os alunos.
P.: Vocês vão abrir na página 106. Vocês querem
que eu conte de novo a fábula da cigarra e da formiga?
A.: Quer!
P.: Então, abram na página 106. (Neste momento a professora
inicia a leitura da fábula).
P.: Enquanto a cigarra cantava, o que fazia a formiga?
A.: Trabalhava.
P.: A cigarra morava aonde?
A.: No alto de uma mangueira.
• Semelhante a Cláudia e seguindo a seqüência,
Patrícia leu o texto “A cigarra e a formiga” recontada
por João de Barro, e o explorou oralmente questões sugeridas
pelo LD. Uma das questões envolvia uma reflexão sobre o
modo como os dois textos foram escritos, uma vez que o segundo correspondia
e um poema com rimas. Entretanto, Patrícia só solicitou
que os alunos descobrissem a diferença entre os textos, como pode
ser observado abaixo:
P.: Antes da página 106 tem outra história da Cigarra e
da Formiga. Nessa história, vê como o final foi diferente
(iniciou a leitura).
P.: Por que a cigarra foi pedir ajuda a formiga?
A.: Porque ela não tinha abrigo.
P.: O que vocês acham da atitude da formiga, batendo a porta na
cara da formiga?
P.: A formiga foi o que? Legal? Chata? Errada?
A.: Errada?
P.: Minha gente, isso é uma opinião pessoal. Vocês
acham que foi uma postura certa ou errada?
A.: Errada.
P.: Por que?
A.: Porque ela não ajudou.
P.: O que tem de diferente essa história para outra?
P.: A primeira diferença é que as duas histórias
são contadas de forma diferentes. E na outra história a
formiga deixou a cigarra entrar?
A.: Deixou.
P.: Por que na outra história a formiga deixa a cigarra entrar?
A.: Deixou.
P.: Por que na outra história a formiga deixou a cigarra entrar?
A.: Se ela não cantasse no verão, a formiga não ia
agüentar não.
P.: Se ela não cantasse no verão, a formiga não iria,
agüentar, não.
• Diferentemente de Cláudia , Patrícia não
realizou outras leituras de outros gêneros textuais que possuíam
diferentes versões. Apenas realizou no final do horário
a leitura de um livro intitulado “Quem tem medo de bruxa”.
Neste momento a professora explicou aos alunos que havia escolhido aquela
história, pois na mesma apareciam alguns animais:
P.: Quais são os insetos que aparecem aqui?
A.: A formiga, a joaninha...
• Em seguida Patrícia, explicou uma outra atividade do livro,
solicitando que eles completassem um quadro:
P.: Aí tem assim: o número 1 escrito em letra cursiva. Aí
depois tem o quê?
A.: O número dois.
P.: Qual é o que vou escrever?
A.: Dois.
P.: E quantos sacos aqui?
A.: Dois.
P.: E quantos sacos aqui?
A.: Dois.
E assim Patrícia indagava os alunos sobre o que faltava e como
devia ser preenchido o quadro. Desta forma, ela construía o quadro
na lousa.
P.: Depois do sete?
A.: Oito.
P: Aí eu escrevo o nome do número oito e desenho quantos
sacos?
A.: Oito.
• Na página 112 os alunos, auxiliados pela professora, formaram
palavras com as sílabas presentes em um quadro. Depois que eles
escreveram as palavras, a professora junto com a turma segmentou oralmente
as palavras para descobrirem as que possuíam menor número
de sílabas (no caso: VERÃO, CASA possuíam duas sílabas
e FORMIGUEIRO possuía quatro sílabas). Essa atividade não
estava proposta no livro, mas fazia parte da prática de alfabetização
da professora Patrícia.
P.: Agora vira a página. Vai ter um quadro com um monte de pedacinhos
de palavras, um monte de sílabas e a gente vai tentar formar palavras.
A.: CA / SA, eita tia, já formei! CASA!
P.: Quero saber como é esse pedaço? (escreveu GUEI)
A.: GUEI
P.: De FORMI...
A.: Formiga.
P.: De FORMIGUEIRO.
P.: E esse daqui? (escreveu MI).
A.: MI.
P.: E esse daqui? (escreveu FOR).
A.: FOR.
P.: E esse daqui? (escreveu RO).
A.: RO.
P.: E esse daqui? (escreveu NO).
A.: NO.
E assim prosseguiu com todas as sílabas presentes no quadro.
P.: Agora, a gente vai tentar formar algumas palavras com essas sílabas.
Se eu quiser formar formigueiro, como é o FOR?
Os alunos indicaram onde estava.
P.: E o MI, onde está?
Os alunos indicaram onde estava.
P.: Qual é o GUEI?
A.: Esse, esse, esse (indicaram corretamente).
P.: E o RO? É esse o RO?
A.: Não, lá pra cima!
A professora escreveu ao lado a palavra FORMIGUEIRO. Assim a professora
fazia com as demais palavras.
P.: Agora, nessas palavras que vocês escreveram, a gente vai ver
as palavras que tem duas sílabas. Qual das cinco palavras possuem
duas sílabas.
A.: CASA e VERÃO.
P.: Então vou marcar um X na frente dessas palavras que possuem
duas sílabas: CASA e VERÃO. Vamos também circular
as palavras que possuem mais sílabas. Quantas sílabas têm
CIGARRA?
A.: 3.
P.: E FORMIGA? (contou com palmas)
A.: 3.
P.: FORMIGUEIRO? (contou com palmas).
A.: 4.
P.: Qual é o maior?
A.: FORMIGUEIRO.
P.: Então vou circular a palavra FORMIGUEIRO.
CONCLUSÃO
Em relação à análise dos livros didáticos
recomendados, concluímos que se os LDAS tinham muitas tarefas de
leitura e produção de textos, ao desejar ensinar o SEA,
seus autores privilegiavam atividades que tinham a “palavra”
ou letras como unidades principais. Os LDAs não promoviam a reflexão
metalingüística dos alunos. Eram pouquíssimos os exercícios
que propiciavam às crianças o desenvolvimento da consciência
fonológica. Eram quase ausentes as tarefas que envolviam, por exemplo,
a identificação ou produção de rimas e aliterações,
a partição, contagem e comparação de palavras
quanto ao número de sílabas. Este nos pareceu um ponto preocupante,
já que sabemos o quanto tais atividades são essenciais para
a apropriação do SEA. Vemos, portanto, novamente, no plano
da formulação de atividades e seqüências didáticas,
a ausência de influência dos estudos sobre consciência
fonológica entre os autores que investigamos.
Embora se declarassem adeptos da teoria construtivista e muitos mencionassem
a teoria da psicogênese da escrita, observamos que as atividades
propostas poucas vezes consideravam a heterogeneidade dos alunos, quanto
ao nível de compreensão do SEA.
Havia uma certa uniformização nos LDAs quanto a iniciarem
com tarefas de exploração dos nomes próprios, seguindo
certa tendência já praticada em escolas da rede privada,
que cedo tentaram didatizar a teoria da Psicogênese da Escrita.
Dois aspectos, porém, tornavam-se geralmente dominantes: a) a ênfase
sobre a localização de letras no interior dos nomes, sem
fazer-se acompanhar de uma exploração de sua sonoridade
ou quantidade de unidades (sílabas, letras) e b) o confinamento
deste tipo de atividades na primeira ou nas primeiras unidades do livro,
como se todos os alunos, num breve espaço de tempo, já tivessem
dominado a lógica de relações parte-todo do SEA.
Havia, conseqüentemente, uma desconsideração da heterogeneidade
das turmas com as quais os professores trabalham, evidenciada numa expectativa
de que, a partir do 3º bimestre, todos os alunos já tivessem
alcançado uma hipótese alfabética de escrita. Era
evidente a sobrecarga de tarefas de leitura/produção de
palavras e textos planejados para esta etapa do ano letivo (2º. Semestre).
Os autores freqüentemente não conseguiam articular as atividades
de leitura e produção de textos com aquelas voltadas à
reflexão sobre palavras e suas unidades menores e, portanto, mais
adequadas ao aprendizado do SEA. A passagem do nível macro (“do
texto”, do letramento) ao nível micro (das palavras, da alfabetização)
parece merecer um debate urgente.
No tocante ao uso dos novos livros didáticos de alfabetização
recomendados pelas professoras analisadas, percebemos que Cláudia
conseguiu, em um dia de aula, realizar uma lição do livro
didático desenvolvendo atividades de leitura, de apropriação
do SEA e de produção de textos. E o interessante é
que ela tanto seguia as instruções apresentadas no livro,
como acrescentava e modificava outras atividades, para adequá-las
aos seus objetivos e ao nível dos alunos.
Ao passo que a mesma lição desenvolvida pela professora
Patrícia não foi tão bem explorada com atividades
extras, como aconteceu na sala de Cláudia. Patrícia não
trouxe outras versões da fábula “A cigarra e a formiga”
e nem propôs a produção textual individual. Mas é
válido ressaltar que mesma conduziu bem as atividades propostas.
Apesar de algumas discrepâncias, a prática das professoras
Cláudia e Patrícia, há pouco descrita, mostra que
é possível se beneficiar dos avanços encontrados
nos novos LDAs, mas estarmos vigilantes, no sentido de sistematicamente
praticar com os alunos atividades diretamente ligadas à apropriação
do sistema alfabético.
Enfim, acreditamos que os professores não devem usar o livro como
o único material de apoio para a organização do trabalho
pedagógico. Mas entendemos que ele hoje, com as mudanças
que vem sofrendo, é um bom material sobre o qual podemos construir
e criar as atividades de alfabetização.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE,
Eliana; FERREIRA, Andréa; MORAIS, Artur e SILVA, Edílson.
A fabricação de práticas de alfabetização:
o que dizem os professores? Trabalho sumetido ao 17o EPENN, Belém-PA,
julho de 2005.
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Um objeto variável e instável:
textos, impressos e livros didáticos. In: ABREU, Márcia
(org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas:
Mercado de Letras : Associação de Leitura do Brasil; São
Paulo : Fapesp, 2000. (Coleção Histórias de Leitura).
FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua
escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.
MARTINS, Cláudia Cardoso. A Consciência Fonológica
e a Aprendizagem Inicial da Leitura e da Escrita. Cadernos de Pesquisa.
Nº 76, p. 41 – 49, 1991
MORAIS, Artur e ALBUQUERQUE, Eliana. Novos livros de alfabetização
– novas dificuldades em inovar o ensino do Sistema de Escrita Alfabética.
No prelo,
2005.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998a.
|
|