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RELAÇÕES
ENTRE ORIENTAÇÕES MOTIVACIONAIS E O DESEMPENHO ESCOLAR DE
ALUNOS DA SÉTIMA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL, EM MATEMÁTICA,
NA RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DO PRIMEIRO GRAU”.
Gislaine Donizeti Fagnani da Costa /FE-UNICAMP.
O desempenho em disciplinas escolares, apesar de controvérsias e críticas, tem sido avaliado por meio de diferentes procedimentos, segundo Brito (1984), sendo os mais comuns às provas e os trabalhos individuais. O que o professor avalia na sala de aula, em especial, mas também em tarefas de casa, é denominado o desempenho da escola. A literatura em Psicologia mostra que o tema desempenho é complexo e é bastante amplo o conjunto de trabalhos que tratam desse tema. No presente trabalho, embora o desempenho em Matemática, não constitua o tema específico a ser analisado, considera-se como desempenho a nota do aluno em provas escolares, para fins da investigação sobre possíveis relações entre as orientações motivacionais e o desempenho de alunos em Matemática. O desempenho é identificado por meio de aplicação de uma prova de Matemática elaborada pela pesquisadora, sendo, além dela, também considerada a nota atribuída pela professora, na disciplina de Matemática. Araújo (1999) aponta pesquisas que comparam o desempenho matemático de alunos de diferentes países, mostrando a preocupação de pesquisadores em relação ao ensino de Matemática. A autora afirma que, a partir dos anos sessenta do século passado, vários países passaram a avaliar os alunos, utilizando e aplicando provas e comparando resultados. Mostra que o baixo rendimento em Matemática preocupa muitos os Estados Unidos da América, e inúmeros fatores passaram a ser analisados, em busca da compreensão dos resultados alcançados pelos alunos. O sucesso do aluno no processo de ensino aprendizagem pode ser afetado por uma gama ampla e complexa de fatores que podem, mais tarde, resultar num panorama de fracassos e frustrações para professores e alunos. Dentre tais fatores, merecem atenção os aspectos psicológicos, os estados afetivos e motivacionais, reconhecidos como fatores relevantes que influenciam o sucesso e o fracasso escolar, especialmente no caso de alunos que, embora possuam capacidades intelectuais médias ou acima da média, apresentam um baixo rendimento escolar (BZUNECK, 2001). A revisão de pesquisas, efetuada por Bzuneck (2001), mostra que o desempenho escolar em Matemática sofre influência de variáveis cognitivas e motivacionais. Relações entre atitudes em relação à Matemática e desempenho têm sido focalizadas por pesquisadores tais como Gonçalez (1995), Utsumi (2000), Gonçalez e Brito (2001). Gonçalez
(1995) verificou que a matéria que os estudantes de uma escola
elementar mais gostavam de estudar era a Matemática, e investigando
alunos entre a segunda, terceira e quarta séries, verificou que
as atitudes se modificavam ao longo dos anos escolares. Brito (1996) acentua
que é um engano a idéia de que a Matemática apenas
desperta ansiedade e medo nos alunos. Gonçalez e Brito (2001) verificaram
que alunos do início do curso de magistério apresentam atitudes
menos positivas em relação à Matemática do
que como professores em exercício, depois de tal curso. As autoras
assinalam que o curso poderia ter favorecido a modificação
das atitudes, o que seria importante já que atitudes de professores
influenciam as dos alunos e o desempenho escolar. Segundo Neves (2001): "... no processo ensino-aprendizagem de Matemática, o desempenho não é determinado somente pelas capacidades cognitivas dos alunos, mas sim, é resultante da interação entre fatores cognitivos e afetivos ( p. 23)”. Estudando atitudes em relação à Matemática, Brito (1996) comenta: “Os professores parecem esquecer que os afetos desempenham um papel fundamental na aprendizagem de Matemática e que o desempenho não pode ser medido e avaliado apenas por provas que, muitas vezes, não verificam se o aluno aprendeu significativamente ( p. 53)”. Zanin (2004), ressalta que,
Considerando as colocações de Neves (2001), Brito (1996) e Zanin (2004), podemos inferir que, para o bom ensino da Matemática, não se pode descartar as contribuições dos estudos e pesquisas sobre motivação, assim como podemos considerar que levar em conta as relações entre desempenho e motivação pode esclarecer alguns aspectos da aprendizagem em Matemática. De acordo com Martini e Boruchovitch (2001) existe um consenso generalizado entre as pessoas acerca daquilo que se entende por motivação: quando o ser humano está motivado a realizar uma determinada atividade, sua persistência aumenta, bem como o tempo dedicado a essa atividade, mesmo diante de dificuldades ou obstáculos encontrados. Ainda segundo a autora, o sucesso na realização da tarefa aumenta a autoconfiança e a auto-estima das pessoas, uma vez que, a partir daí, saberão que podem obter sucesso numa tarefa em que o seu esforço for envolvido. Pode-se indagar se problemas de menor motivação em relação à Matemática seriam inerentes ao aluno. Mas, como considerar o aluno o único responsável por uma condição de pouca motivação em relação à Matemática? Segundo Bzuneck (2001), existe uma convergência de resultados de pesquisas que atestam que tanto a motivação positiva e desejável como sua ausência ou distorção têm a ver com determinadas condições ambientais (estrutura física do prédio escolar, cultura da região em que se localiza a escola), resultando, assim, em complexas interações entre características do aluno e fatores de contexto, incluindo a atuação do professor em sala de aula. A motivação do aluno em sala de aula depende de um conjunto de medidas educacionais, de estratégias de ensino ou eventos sobre os quais todo professor tem um amplo poder de decisão. Como comenta Bzuneck (2001), os professores observam comportamentos de indisciplina, falta de atenção nas aulas e em tarefas escolares, resultados não satisfatórios em tarefas e provas e afirmam que os alunos não são motivados. O autor afirma que problemas de motivação podem existir, mas é preciso uma análise mais cautelosa da situação. Motivação em sala de aula implica no envolvimento do aluno com as tarefas propostas, investindo recursos pessoais (esforço) e persistência diante dos obstáculos que impeçam ou dificultem a realização da tarefa. A teoria construtivista destaca que o aluno é o sujeito ativo da própria aprendizagem, enfatizando que nenhuma outra pessoa pode realizar determinados processos cognitivos por ele (SALVADOR E COLABORADORES, 2000). Bzuneck (2001) assinala que: "No contexto específico de sala de aula o aluno deve executar tarefas que implicam em atenção, concentração, persistência e que são, em grande parte, tarefas de natureza cognitiva. Essas tarefas, na maior parte, envolvem processos de elaboração, integração de informação, raciocínio e resolução de problemas, como afirma o autor. Destaca ainda, que na perspectiva construtivista é o aluno o sujeito do processo e a quem cabe realizar processos cognitivos que ninguém pode fazer por ele” ( p.11). Os professores,
de maneira geral, têm apresentado, nestes últimos vinte anos,
preocupação com a baixa motivação de alunos
pelos estudos, sendo o assunto motivação colocado no centro
das discussões acerca do que vai mal nas escolas, como mostra revisão
realizada por Bzuneck (2001). O autor afirma que alunos desmotivados apresentam
rendimento escolar insatisfatório, estudam pouco e, como conseqüência,
aprendem quase nada; além disso, apresentam crenças distorcidas
quanto à sua própria capacidade de realizar tarefas escolares
com sucesso e pouco domínio de estratégias de aprendizagem
(cognitivas e metacognitivas). Motivação
para a Aprendizagem "mediante
seus efeitos imediatos de escolha, investimento de esforço com
perseverança e de envolvimento de qualidade conduz igualmente a
um resultado final que são os conhecimentos construídos
e habilidades adquiridas, ou seja, em última instância, ela
assegura a ocorrência de produtos de aprendizagem ou tipos de desempenho
socialmente valorizados.`` Professores
preocupam-se com a seguinte questão: No contexto escolar porque
alguns alunos completam as atividades apesar do enorme grau de dificuldade,
enquanto outros desistem no primeiro obstáculo? No contexto escolar,
reconhece-se que cada aluno constrói seu próprio conhecimento,
transformando e modificando as informações que recebem.
A pesquisa
foi realizada com alunos de 7a série do Ensino Fundamental da rede
pública de São Paulo, da cidade de Nova Odessa.Considerou-se,
segundo a revisão bibliográfica que um indivíduo
com orientação motivacional intrínseca realiza uma
atividade por satisfação e interesse, sendo movido a agir
pelo desafio da atividade e não por pressões ou recompensas
(Ryan e Deci, 2000).O desempenho foi identificado por meio da aplicação
de uma prova de matemática elaborada pela pesquisadora e também
será considerada a nota atribuída pela da classe professora
e por ela computada ao aluno em matemática. O
estudo de equações do primeiro grau, por exemplo, pode gerar
desequilíbrio nas concepções Matemáticas já
existentes como mostram LOOS, FALCÃO E ACYOLY-RÉGNIER (2001),
e requer um certo cuidado especial parte do professor quando inicia esse
assunto. Somando-se as nossas observações feitas em sala
de aula como professora de Matemática às colocações
feitas pelos autores, podemos inferir que o estudo de equações
do primeiro grau corresponde a um momento no qual o estudante de Matemática,
que até então era acostumado a usar apenas cálculos
aritméticos na resolução de problemas e exercícios
de Matemática, é obrigado a ampliar seus conhecimentos para
entrar em um novo campo conceitual, o do cálculo algébrico,
denominado pelos alunos “como aprender a fazer contas com letras”.
Para os aprendizes, muitas vezes, deparar-se com o “novo”
pode gerar reações emocionais e cognitivas; isso ocorre
porque ao adquirirmos novos conhecimentos necessitamos levar em conta
certas informações que incomodam ou confundem, e que podem
influenciar a motivação do aluno para a aprendizagem na
disciplina de Matemática. No entanto, segundo os autores citados
anteriormente, os riscos aos quais os alunos se expõem quando se
engajam em uma nova aprendizagem passam, freqüentemente, despercebidos
pelos professores. Quando o professor deve dar início a um novo conteúdo, levar em conta situações do cotidiano e experiências relacionadas ao dia-a-dia do aluno pode contribuir para que a Matemática não pareça tão abstrata e sem sentido como alguns alunos comentam. Os conteúdos escolares podem ser articulados com situações da vida dos alunos, e, a partir delas podem ser apresentados os conceitos e a teoria, e permitir abstrações e generalizações, conjecturas e conclusões apresentadas pelos próprios alunos pode tornar o trabalho mais significativo. A ênfase em situação-problema para apresentar conteúdos novos para os alunos é destacada por diferentes estudiosos, em especial no caso da Matemática. A busca de soluções, com orientação e apoio do professor, pode ser um processo realizado individualmente ou em grupo. O confronto e análise de resultados e procedimentos apresentados pelos diferentes alunos e grupos de alunos, na classe, contribuem para que compreendam a Matemática. Cabe ao professor colocar novos desafios para os alunos solicitando que resolvam determinados problemas da mesma forma que resolveram outros anteriormente, ou que procurem soluções diferentes. Caso os alunos concluam que não existe essa possibilidade, pode-se pedir para apresentarem suas razões e confrontarem argumentos. Atividades desafiadoras, condizentes com a faixa etária e o nível de desenvolvimento dos alunos, podem estimular a participação de todos e permitir o desenvolvimento do raciocínio lógico, além da assimilação de conteúdos, por meio de atividades que propiciem aos alunos oportunidade de analisar dados, sintetizar, propor e comprovar hipóteses, tomar decisões, elaborar conceitos, fazer estimativas, classificações, observações, comparações, seriações, avaliações, julgamentos e realizar operações numéricas a partir da manipulação de materiais concretos. Incentivar o aluno a se auto-superar gradualmente, através de atividades desafiadoras que apresentem situações sucessivas de progressiva dificuldade, é um procedimento importante, bem como elogiar o esforço realizado e o progresso alcançado inspirando-lhe confiança na própria capacidade de aprender e fazer progressos. Se necessário, apresentar ao aluno com compreensão, formas de melhorar o seu desempenho nos estudos. É importante lembrar que não se deve rotular o desempenho dos alunos, dando ênfase a notas, já que a expectativa do professor, em relação ao que espera dele, tem um papel decisivo em relação ao aproveitamento escolar. Estabelecer um clima agradável em sala de aula, permitindo e estimulando a participação dos alunos e a apresentação de dúvidas, estimulando a cooperação entre todos, orientando e supervisionando as atividades, dando a assistência e acompanhamento necessário aos alunos que precisarem, deve ser uma preocupação constante do professor. Essa orientação do trabalho em sala de aula pode influenciar e facilitar a aprendizagem em Matemática. Cabe lembrar ainda que o professor deve considerar as emoções e sentimentos de ambos (professor e aluno), que se concretiza no saber ouvir e poder falar, em respeitar, opinar e argumentar. Se o aluno sentir que o professor o considera como ser humano capaz de aprender e de crescer, ele vai estabelecer laços de confiança com o professor, indispensáveis para a motivação e, conseqüentemente, para aprender o conteúdo matemático ou qualquer tipo de conteúdo. É de suma importância que o professor torne claros os resultados que os alunos estão conseguindo, analisando e informando os avanços e as dificuldades encontradas no processo de aprendizagem. O professor pode estimular o aluno a continuar progredindo, a valorizar o esforço pessoal, encarar os erros como uma maneira de aprender e de aperfeiçoar seus conhecimentos, sugerindo a seus alunos uma auto-avaliação de seus resultados, verificando seus pontos fortes e fracos, em relação ao seu próprio desempenho, apontando as dificuldades que foram superadas e os aspectos que ainda precisam ser melhorados. Enfim, como revela Zanin (2004), a relação afetiva que o professor estabelece com seus alunos deve também permitir o resgate da importância da escola e dos conteúdos curriculares, construindo o compromisso de busca do conhecimento e possibilitando que a escola faça parte do mundo do aluno. Se o aluno consegue entender o que é uma raiz quadrada, independentemente deste assunto estar contextualizado ou não e se um dia vai usá-la para alguma coisa, não importa, só isso basta. O que importa é a satisfação que o aluno sente ao conseguir atribuir significado ao que está fazendo, pela simples compreensão do conceito. O fato de conseguir compreender o objeto de estudo gera satisfação e a necessidade de querer aprender mais, pois agora sabe que é capaz disso. Conforme citado anteriormente, Bzuneck (2001) assinala que a possibilidade de mudança do quadro que a escola pública atravessa implica em uma tarefa árdua que exige dos professores conhecimentos, habilidades, e compromisso com o processo de ensino-aprendizagem. No entanto, muitos educadores desistem precocemente, limitando-se a atribuir a culpa pela desmotivação dos alunos a fatores externos, como família ou o sistema educacional, que seriam responsáveis por não proporcionar condições adequadas para um bom trabalho docente. Segundo estudos revistos nessa pesquisa, a percepção de que é possível motivar os alunos nasce de um senso de compromisso pessoal com a educação: mais ainda, de um entusiasmo e até de uma paixão pelo trabalho. Resultados de pesquisas podem contribuir para que o professor compreenda como proporcionar situações favoráveis para que o aluno aprenda, como fazer intervenções necessárias ao nível da motivação, como aumentar o recurso a diferentes estratégias de aprendizagem. Para a melhoria do trabalho na escola, faz-se necessário a implantação de mudanças importantes, como, por exemplo, o investimento das autoridades competentes em condições gerais que possam garantir condições essenciais para uma efetiva democratização da escolaridade. Essas mudanças transcendem a aplicação de conhecimentos técnico-pedagógicos em sala de aula e requerem intervenções na dimensão política, social, econômica e cultural. Pesquisas mostram que existem inúmeros problemas que dificultam ao professor conseguir sucesso no trabalho realizado em sala de aula, desde os relacionados à formação de professores, problemas estruturais da escola, a desvalorização da carreira docente, dentre muitos outros. Para que se possa caminhar a passos largos rumo ao sucesso, com vistas à melhoria do trabalho na escola, são necessários investimentos especiais que possibilitem a implantação de mudanças que possam garantir um ensino de qualidade, tais como o desenvolvimento de projetos especiais que permitam condições de trabalho, a formação continuada dos professores e que forneçam aos professores a assessoria necessária. No entanto, para o sucesso da implantação e desenvolvimento de qualquer projeto pedagógico, também é essencial contar com o empenho de todos os profissionais da educação. A motivação
dos alunos pode ser assegurada por meio da ação preventiva
dos professores. A prática pedagógica pode tornar-se mais
significativa e consistente quando o professor compreende como diferentes
fatores podem influenciar o processo de ensino-aprendizagem. Outros estudos
e pesquisas sobre a motivação devem ser conduzidos com a
finalidade de trazer contribuições importantes para a melhoria
do trabalho docente, para que se possa compreender melhor a orientação
motivacional de alunos brasileiros.
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