Jean Braz da Costa, Jornalista, Pós-Graduando
como ouvinte no curso de História oferecido pelo Instituto de Filosofia
e Ciências Humanas (IFCH) na Unicamp <jeanvision@saci.org.br>
Fabiana Fator Gouvêa Bonilha, Mestranda em Música pelo Instituto
de Artes da Unicamp <
fbonilha@iar.unicamp.br>
Nas últimas décadas diversos aspectos de
nossa vida têm sofrido grandes transformações e, sem
dúvida, os computadores e as modernas tecnologias da informática
cumprem um papel decisivo nessas transformações.
Há pouco mais de 40 anos, uma viagem à lua, teleconferências,
discagens telefônicas entre dois continentes, retiradas de dinheiro
fora do horário bancário, sofisticados exames clínicos
e robôs que constroem outras máquinas eram, na mais otimista
das hipóteses, temas de livros de ficção científica,
possíveis apenas num futuro ainda distante. Nos dias de hoje, graças
ao desenvolvimento dos computadores e da tecnologia da informação,
essa ficção futurística tornou-se realidade cotidiana.
Se considerarmos um homem comum numa grande cidade, poderemos perceber,
acompanhando seu dia-a-dia, quantos contatos ele tem com a informática.
Ao retirar dinheiro num caixa automático, ao utilizar o telefone
e até quando lê o seu jornal diário, o homem moderno
está fazendo uso da informática. No entanto, entre os diversos
aspectos através dos quais esse tipo de tecnologia se manifesta,
inegavelmente é o microcomputador aquele que mais revela a presença
da informática no mundo de hoje. Sua popularidade, tem sido a responsável
por uma verdadeira revolução em nossos hábitos e
em nossa organização social.
A informática que torna a INFORmação autoMÁTICA
não deve intimidar e tão pouco iludir, ela e computadores
foram criados para resolver problemas e auxiliar as pessoas.
Hoje, podemos constatar o avanço tecnológico em diversas
áreas como: medicina, telecomunicações, transportes,
educação etc. Sem dúvida, esta tecnologia que tem
nos acompanhado e continuará cada vez mais nos próximos
anos, permitirá que novos progressos venham a ser conquistado,
em prazos cada vez mais curtos, alterando ainda mais nossos hábitos
e organização social, transformando o FUTURO em presente.
Estes avanços tecnológicos, muito têm contribuído
e ajudado no que se refere à busca de informação
e conhecimento, para pessoas com deficiência visual. Porém
no Brasil, esta interação entre as pessoas cegas e o computador,
vinham sendo muito pouco difundida. Até que a (UFRJ), (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), lançou o primeiro software nacional.
Uma iniciativa, que aproximou centenas de deficientes visuais desta poderosa
ferramenta de trabalho, chamada computador.
A melhoria deste software (Dosvox), e, outros que, começaram a
ser desenvolvido por empresas e parcerias, juntamente com novas ferramentas
que também surgiram como: impressoras braile, lupas eletrônicas,
entre outras coisas, facilitaram o acesso dessas pessoas a leitura de
livros, jornais, revistas, periódicos eletrônicos etc.
É interessante notar que mesmo com o advento das novas tecnologias
e o conseqüente aparecimento de formas de acesso alternativas, o
Braile continua a ser o melhor meio de tomar contato com a escrita.
Com a popularidade nos anos sessenta e setenta dos sistemas áudio,
que encontraram nos cassetes um meio fácil e econômico de
produção de informação, começou a haver
a tendência para o abandono do Braile. No entanto com o desenvolvimento
das novas tecnologias, da eletrônica e da informática nas
décadas seguintes houve um incremento significativo do Braile.
Isto foi devido ao aparecimento dos computadores, das impressoras e linhas
Braile, bem como programas de transcrição da grafia normal
para a grafia Braile.
A partir desse cenário, Deve-se considerar que, na atualidade,
o sistema Braille, de maneira geral, atravessa uma crise, em função
dos avanços tecnológicos que, por sua vez, criam novas alternativas
de acesso à informação e ao conhecimento. Belarmino
(2001), denomina esse processo como "desbrailização",
e aponta para a necessidade de que se resgate a importância desse
sistema de escrita para a vida das pessoas com deficiência visual.
Segundo a autora, existem atualmente pessoas que, convictamente, se colocam
como "antagônicas" ao Braille, classificando-o como um
sistema fechado, anti-social, e de difícil compreensão para
quem vê. Mas felizmente há, por outro lado, aqueles que aparecem
como defensores dessa escrita, e que compreendem a dimensão dos
ganhos que ela traz a seus usuários.
Para muitos cegos nada substitui o prazer de ler um livro, de tocar os
pontos com os dedos ou sentir a textura do papel.
Para entender melhor:
“Luís Braille devia ter pouco mais de quinze anos quando
inventou o seu código de escrita. O jovem francês, nascido
em 1809 próximo de Paris, tinha cegado aos três anos de idade,
após um acidente, mas não desistiu de tentar aprender. Uma
bolsa de estudo permitiu-lhe ingressar, em 1819, no Instituto para Jovens
Cegos, em Paris, onde se ensinava a ler através da impressão
de textos em papel muito forte, que permitia dar relevo às letras”.
O sistema não era perfeito, mas possibilitava a leitura. O pior
era o momento de escrever era impossível. Braille interessou-se
então por um sistema de escrita inventado pelo capitão Charles
Barbier de La Serre - que ficara cego na Palestina - para transmissões
noturnas em campanha, também baseado em pontos em relevo, e melhorou-o.
Em 1829, publicou o primeiro manual onde o novo código que haveria
de ficar para sempre com o seu nome aparecia sistematizado, mas existem
alguns documentos que provam que o jovem Louis já utilizava este
alfabeto há pelo menos cinco anos. Nesta sua primeira versão
do alfabeto Braile, o sistema estava praticamente definido - seis pontos
em duas filas verticais de três pontos cada,
num total de 63 sinais - mas havia algumas combinações com
traços que desapareceram oito anos depois, quando publicou a segunda
versão da obra.”
Deve-se notar que o Braille é considerado como um sistema polivalente
e flexível. Sua polivalência se justifica, pois o mesmo conjunto
de caracteres é utilizado para que sejam representadas diferentes
linguagens (textual, Matemática, Musical, etc).Uma vez que um mesmo
caracter possui diferentes significados, o leitor decodifica uma determinada
simbologia a partir do contexto onde ela apareça.
Já a flexibilidade do sistema Braille se justifica, pois ele consiste
em um código dinâmico, que é constantemente revisto
e transformado, a fim de que se adapte às diferentes realidades
culturais e históricas onde ele se aplica. Para tanto, existem
comissões em diferentes países, que se dedicam ao estudo
desse código, e que respondem pelas alterações que
nele se realizam. No Brasil, foi recentemente publicada uma nova versão
da Grafia Braille para a Língua Portuguesa, bem como foi publicado
um manual contendo as Normas para a Produção de Textos em
Braille.
A universalidade e a eficácia do Braille faz com que, Há
mais de 150 anos, ele venha sendo o meio usado por excelência pelos
cegos para a leitura e escrita."Ler com os dedos" tornou-se
tão vulgar para os cegos que, hoje em dia, não se pode pensar
em qualquer programa de reabilitação que não passe
pela aprendizagem do Braile.
Porém, considerando que a produção de material em
braile em grande escala não se dá de forma fácil,
pois as impressoras ainda têm um custo muito elevado, e por isso
conseqüentemente poucos lugares no Brasil produzem livros em braile.
Deste modo, as TICS, como um meio de comunicação e transmissão
do conhecimento tem sido uma ferramenta importante também para
as pessoas cegas e com baixa visão.
Vale ressaltar que, o apoio dos professores e das editoras em tentar disponibilizar
os textos, livros ou qualquer outro material impresso por e-mail, ou ainda
através de disquete e cd, permite com que a informação
chegue a uma parcela das pessoas com deficiência visual.
Um outro aspecto que devemos considerar é a aquisição
dos equipamentos mencionados anteriormente como: softwares de voz, (atualmente
os mais utilizados tem sido o Dosvox, Virtual Vision e Jaws), impressora
braile, lupas eletrônicas etc, em bibliotecas, escolas, espaços
públicos e privados, instituições de apoio à
pessoa com deficiência visual para que aqueles que não tem
o privilégio de usufruir destas ferramentas em casa possam também
desfrutar dos benefícios que elas tem trazido.
Essa possibilidade de acesso à informação e ao conhecimento
deve favorecer e subsidiar o processo de Inclusão Educacional e
Social das pessoas cegas. Nessa perspectiva, uma vez que estejam “incluídas”,
as pessoas com deficiência visual podem atuar em diferentes áreas
do conhecimento e através de diversos segmentos profissionais.
Para que essa inclusão se torne efetiva, faz-se necessária
a criação de espaços que ofereçam, para as
pessoas com deficiência visual, condições de acesso
aos recursos tecnológicos atualmente existentes.
Nesse sentido, um exemplo de quanto as TIC’S, o apoio dos professores
e a aquisição desses equipamentos em espaços públicos
pode ser visto no Laboratório de acessibilidade da UNICAMP (Universidade
Estadual de Campinas), Trata-se de um espaço cuja história
é constantemente construída a partir das necessidades e
demandas dos usuários que o procuram. Estes, por sua vez, em posse
dos recursos disponíveis no Laboratório, se tornam agentes
do seu próprio processo de inclusão, sendo capazes de interferirem
nas concepções e nas práticas que norteiam esse processo.
O presente trabalho consiste em um fruto dessa realidade, uma vez que
seus autores o produziram a partir de suas experiências pessoais
e profissionais, no intuito de que pudessem ser gerados novos conhecimentos
e novas idéias acerca das formas pelas quais as pessoas com deficiência
visual fazem uma “leitura de mundo”.
Referências
BELARMINO, J. As novas tecnologias e a “desbrailização”:
mito ou realidade? In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS BRAILLE,
2., João Pessoa, 07 a 11 de maio de 2001. Disponível em:
http://intervox.nce.ufrj.br/~joana/textos/tecni08.html acesso em: 06/06/2005