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LEITURA:
ESPAÇO DE AUTOCONHECIMENTO DO ALUNO-LEITOR
Imíramis Fernandes da Cruz - Mestre em Língua Portuguesa (PUC-MG) - Especialista em Produção de Texto numa Perspectiva Lingüística (REPES-UC-MG) - Profa. de Leitura e Produção Textual (FEMM/FAFI/LETRAS) - Profa. de Direito e Linguagem da FEAD (BH/MG) A leitura é uma ação que exige do leitor uma atitude crítica e produtiva. Essa ação crítica permite ao sujeito a construção do sentido do texto oral/escrito que deve apoiar-se nas pistas lingüísticas presentes na superfície textual. 1. Introdução O propósito deste artigo é apresentar algumas idéias abstraídas da experiência vivenciada durante as aulas ministradas na disciplina “Leitura e Produção Textual”, no curso de Letras, e também convidar o leitor para refletir sobre a realidade do Ensino e da Leitura no nível superior. Partindo da concepção de que ler é produzir sentido, trabalhou-se com o pressuposto de que o aluno deve ser educado para refletir sobre sua própria condição de leitor/produtor das mais variadas tipologias textuais (romance, conto, crônica, texto jornalístico, receita médica ou culinária, bula de remédio, textos científicos...). Para tanto, adotou-se, como diretrizes, as seguintes perguntas: O que é ler? Ler por quê? Para quê? Como? Qual imagem o leitor faz de si mesmo? 2. Breve relato da sala de aula A leitura como mera decodificação é
a concepção predominante entre os alunos recém-chegados
ao ensino superior. Observando a literatura lida por eles, constatou-se
que a maioria apresenta uma preferência pela literatura de auto-ajuda,
as fábulas, os poemas, as crônicas e os textos de internet
sobre variados temas. Observou-se ainda que esses discentes não
têm o hábito de leitura de textos jornalísticos e
científicos. Essa falta de intimidade com os chamados “textos
acadêmicos” (resenha, ensaio, literatura especializada...)
é a principal dificuldade deles. Muitos reclamam da aridez de tais
textos, o que, segundo eles, provoca muito sono durante a leitura e alguns
afirmam que lêem o mesmo texto várias vezes sem, no entanto,
alcançarem o sentido. Há um desejo desses estudantes em
produzir leitura de outras tipologias textuais. Em função
disso, eles criam muitas expectativas em relação à
disciplina “Leitura e Produção Textual”. Geralmente,
esperam do professor “dicas”, de preferência infalíveis,
para vencerem o cansaço, o sono, a lentidão e a falta de
auto-motivação para a leitura de textos das disciplinas
inseridas na grade curricular. Scribner e Cole demonstraram que a introdução da escrita numa sociedade tradicional não produz efeitos cognitivos gerais tais como a capacidade de memorizar, classificar e derivar inferências lógicas. A fonte das mudanças cognitivas importantes, se é que elas são reais, precisou ser procurada em outro lugar, como a modificação das condições sociais ou dos processos de aprendizado. Com relação à escrita, esses personagens apresentam freqüentemente o gosto pela confecção de diários e explicitam o desejo em publicá-los. Nesse aspecto, a ausência de veículos institucionais nos quais o aluno-leitor-produtor de texto possa realizar esse desejo, reforça a idéia da faculdade como um espaço no qual se produz textos (orais/escritos) apenas para cumprir o ritual de avaliação acadêmica. 2.1. Pela leitura o leitor conhece a si mesmo Formar leitores é uma tarefa que exige do professor
capacidade para avaliar seu educando dentro de um determinado contexto
histórico. Para Belo (2002:60) “em cada época, os
leitores partilham entre si espaços, gestos e ritmos de leitura,
assim como normas estéticas e outros valores que influenciam a
recepção dos textos”. ...todo leitor antecipa e salta idéias, deturpa o sentido pretendido pelo autor, faz associações imprevistas, transporta para as páginas escritas as suas memórias. O leitor, de certa maneira, reescreve o texto que lê. Por isso, a página impressa não é uma letra morta: ela é o lugar onde se produz o encontro, sempre diferente, entre a palavra já escrita e os sentidos que os leitores lhes vão dando.
2.2. O que se deve ensinar e como se deve ensinar no Ensino Superior? O Ensino da Leitura no nível superior necessita
ser norteado pela busca/criação do sentido que é
construído a partir das pistas presentes na superfície textual.
Nessa perspectiva, o leitor assume uma atitude crítica, ousando
construir significados para o texto a partir do acionamento do seu repertório
cultural. Nesse exercício, ele, cada vez mais, torna-se consciente
de sua individualidade e valoriza mais sua condição intelectual,
produzindo uma leitura imbuída de sua própria vivência.
A leitura é um ato que somente se concretiza com a construção do sentido pelo leitor. Para construir esse sentido, ele apóia-se nas pistas lingüísticas explicitadas na superfície textual, ou seja, é necessário que se comprove aquilo que é dito sobre o texto para o sentido obter a aceitabilidade de outros leitores. Nesse exercício, o aluno depara-se com suas riquezas e limitações culturais, processo que o faz amadurecer e tornar-se cada vez mais consciente de seu poder como leitor. Essa maturidade é construída com a mediação dos professores que, para serem eficientes no Ensino de Leitura e Produção de Texto no nível Superior, devem partir do lugar no qual o aluno se encontra para contribuir com a sua passagem de leitor de textos de auto-ajuda para a condição de leitor de todas as tipologias textuais. Lembrando Paulo Freire, é necessário também que os professores valorizem a “leitura de mundo” do aluno. Certamente a adoção dessa prática contribuirá com o crescimento da competência do aluno que não temerá tanto produzir sentido (s) para os textos lidos com base nas suas próprias concepções de mundo. Agindo desse modo, ele será um personagem ativo no contexto histórico, político, social e econômico no qual está inserido.
BELO, André. História & livro e leitura.
BH: Autêntica, 2002, 105p. |
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