Katia Maria Eugenio - Educadora Étnica
– MIPID
“... a Consciência Negra toma conhecimento de que o plano
de Deus deliberadamente criou o negro negro. Procura infundir na comunidade
negra um novo orgulho de si mesma, de seus esforços, seus sistemas
de valores, sua cultura, religião e maneira de ver a vida. "
Steve Biko
ESPAÇO PARA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA
O programa MIPID (memória e identidade promoção
da igualdade na diversidade), da rede municipal de ensino de Campinas,
resolução SME/FUMEC nº 03/2004, instituído a
partir de considerações legais da Constituição
Federal, Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional
(10.639/03), que promulga a igualdade de condições para
acesso a permanência na escola; liberdade de aprender, pluralismo
de idéias e de concepções pedagógicas e coexistência
de instituições públicas e privadas de ensino, a
inclusão no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”
, a necessidade de contribuir para a construção de novos
sujeitos políticos na escola através do fomento de discussões
e necessidades levantadas pelos educadores, cria o projeto Biblioteca
Étnica, como um espaço para construção da
identidade negra.
Propiciar ações para que a escola compreenda a diversidade
étnico-cultural em seu interior, constituir um acervo diversificado
para registro da memória, pesquisa e produção realizada
nos espaços formativos, relatos de experiências e acervo
literários específicos, viabilizando aos educadores/pesquisadores
subsídios para o desenvolvimento de sua prática pedagógica,
constituem os eixos norteadores, para criação da biblioteca
étnica do programa MIPID.
O programa conta com seis, bibliotecas étnicas locadas nas NAED
(Núcleo de ações educativas descentralizadas) possui
aproximadamente um acervo de duzentos títulos em cada biblioteca,
distribuídos em temas como, infantil, infanto juvenil, juvenil,
teoria literária, historia, educação, musica, antropologia,
sociologia, filosofia e saúde. O acesso a esses livros dá-se
por meio de empréstimos nas NAEDs e através da biblioteca
itinerante para as unidades educacionais.
A biblioteca étnica procura subsidiar os educadores que apontaram
em seus planos de ensino a necessidade de materiais teóricos, que
abordassem assuntos ligados a temáticas étnico racial, bem
como, as unidades escolares que trazem em seus projetos pedagógico
políticos a preocupação com a construção
da identidade.
Infelizmente não nos cabe neste ensaio, aprofundar na questão
de identidade, porem para legitimar nosso princípios filosóficos-
pedagógicos, torna-se necessário apontar , o que entendemos
por construção de identidade e o papel do educador que atua
nesse processo.
De acordo Jung temos na educação um auxílio no desenvolvimento
do processo da consciência, e a instituição escola
é um dos caminhos que busca sustentar este processo, assim, a psicologia
analítica concebe a cultura como “consciência”
no grau mais elevado.
“ O educador não pode contentar-se em ser o portador da cultura
apenas de forma passivo, mas deve também desenvolver ativamente
a cultura, e isto por meio da educação de si próprio”.(Jung,1981
p62).
Entendemos que esse autonhecimento perpassa pela observação
crítica dos seus próprios atos e autoavaliação
dos mesmos, bem como, observação e avaliação
crítica (reconhecimento) por parte dos outros.
Munanga (2002 p.64-65) nos dá uma abordagem sobre a construção
social da identidade, que afirma estar diretamente relacionada a três
tipos, identidade legitimadora, identidade de resistência, identidade
– projeto. Observa também, que na formação
da construção de identidade diferenciada, originam sociedades
diferenciadas. Temos na identidade legitimadora uma sociedade civil que
constituídos de instituições dominantes agregam valores
para justificar sua dominação. Identidade de resistência
apóia-se nas comunidades estigmatizadas que buscam forma de sobrevivência
e resistência coletiva. E a terceira identidade projeto baseia-se
na construção de uma nova identidade apoiada em teoria culturais
existente a fim de redefinir seu papel na sociedade.
“ Alargar e mudar o currículo escolar torna
então essencial , não apenas em nome de uma cultura mais
vasta para o mundo, mas sim para dar o reconhecimento legítimo
àqueles que até então eram excluídos. A idéia
fundamental que sustenta essas demandas é a de que o reconhecimento
possa forjar a identidade, particularmente na sua explicação
fanonista:os grupos dominantes tendem a reforçar sua posição
hegemônica ao inculcar uma imagem de inferioridade aos grupos submissos.
A luta pela liberdade e igualdade deve então passar por uma nova
Revisão dessas imagens.”(Munanga 2002 p73).
Acreditamos que para auxiliar na construção
da identidade - projeto da criança positivamente o educador que
ampliou sua consciencia, tenha propriedade e conhecimento da diversidade
cultural, étnica religiosa e política do cenário
global para poder reconhecer no outro o seu real valor e assim repassar
uma imagem que reforce os valores reais da comunidade negra.
A biblioteca étnica pretende que a criança negra, bem como
a criança não negra ao entrar em contato com o mundo literário
étnico e tomar consciência dessas imagens, se reconheçam
e reconheçam no outro valores, cujo potencial creditará
na construção de um espaço plural onde as diferenças
sejam vistas como fator construtivo e possível de real interação.
Conclusão
Ao identificarmos a necessidade de subsídios literários,
na escola espaço que reconhecemos espaço de construção
da identidade-projeto, instituimos a biblioteca étnica que se pauta
em considerações legais, e objetivam o aprimoramento de
educadores e educandos com a cultura do negro, que sempre teve na escola
um lugar de omissão e conseqüentemente um lugar de inferioridade
frente a cultura “normal” eurocêntrica.
Ao ampliarmos o leque de conhecimento acerca da pluralidade étnica/
racial, com a biblioteca étnica, proporcionamos aos leitores mirins
mais uma opção de visualização de imagens
de uns dos pilares da construção do panorama nacional, o
“negro”, que juntamente com o europeu e o indígena
foram os responsáveis legais pela formação cultural,
política, sócio, econômica e religiosa do Brasil.
Referência bibliográfica
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – Lei 9.394
(1996):
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - Lei 10.639, (2003):
Altera a lei nº 9.394 (1996):
JUNG, CG (1987) – O eu e o inconsciente – Petrópolis,
Vozes.
JUNG, CG (1981) – O desenvolvimento da personalidade – Petrópolis,
Vozes.
MUNANGA, Kabengele (2002) – Construção da identidade
negra no contexto da globalização – Cadernos 4 PENESB,
Relações raciais e educação temas contemporâneo.
RESOLUÇÃO SME/FUMEC Nº 03/2004 (04/02/2004) –
Institui diretrizes para criação do programa MIPID-Campinas