Sílvia Helena Baptista de Oliveira Souza
- Colégio Uirapuru
Vanessa Figueiredo - Colégio Uirapuru
Introdução
O projeto com o livro “A Bolsa Amarela” é
desenvolvido com alunos de 4ª série, de uma escola particular
na cidade de Sorocaba. Escolhemos esse livro paradidático para
ser trabalhado, pois pretendemos não só ampliar o acervo
de conhecimentos, a imaginação e competências em relação
aos usos da linguagem escrita de nossos alunos, como também colaborar
para que desempenhem de forma mais crítica e competente seu papel
de leitor.
Desejamos tornar a leitura um hábito prazeroso para eles, proporcionando
momentos de reflexão sobre as histórias e também
desenvolver opinião/crítica sobre as mesmas; possibilitar
o desenvolvimento da criatividade através de diferentes tipos de
histórias e ampliar seu vocabulário através de diferentes
leituras.
Assim, segundo Zilberman (1983), quando se trata do uso do livro para
crianças no contexto escolar, o professor precisa estar apto à
escolha de obras apropriadas ao leitor infantil e ao emprego de recursos
metodológicos eficazes, que estimulem a leitura e possibilitem
a compreensão das obras e a verbalização pelos alunos
do que foi apreendido.
A escrita, e em conseqüência o ato de ler, consiste em uma
das principais vias que o conhecimento chega à escola, ou seja,
através de materiais impressos, sejam estes livros didáticos
ou literários. Para Silva (1990), em verdade, seria difícil
conceber uma escola onde o ato de ler não estivesse presente, isso
ocorre porque o patrimônio histórico, cultural e científico
da humanidade se encontra fixado em diferentes tipos de livros.”
A literatura infantil e juvenil
Estamos expostos a uma infinidade de textos escritos,
que são produzidos e exibidos com os mais diversos objetivos. É
quase impossível passarmos um dia sem termos algum contato com
materiais escritos, envolvidos com ações de leitura e escrita.
Para participar dessas práticas com autonomia, é necessário
reconhecer os elementos e saber utilizá-los a partir dos objetivos
que estabelecemos como produtores e consumidores da palavra escrita.
Ouvir, dramatizar, ilustrar, recontar e reescrever histórias são
atividades que complementam essas práticas, que podem ser trabalhadas
em sala de aula com livros paradidáticos.
A literatura infantil e juvenil é importante para a formação
do indivíduo em relação a si mesmo e ao mundo à
sua volta. Leva o mesmo a compreensão de certos valores básicos
da conduta humana e do convívio social.
A escola, dentro dessa perspectiva, possui um papel de extrema relevância
na construção do conhecimento, colocando o aluno diante
de situações nas quais, através da mediação,
ele contata com a escrita, com o conhecimento acumulado das diferentes
ciências e, ainda, com a própria cultura, problematizando-a.
Assim, a leitura estimula o diálogo por meio do qual se trocam
experiências e confrontam-se gostos e opiniões, aproximando
as pessoas e colocando-as em uma condição de igualdade.
Para Zilberman (1983):
“A leitura do texto literário constitui uma
atividade sintetizadora, na medida em que permite ao indivíduo
penetrar no âmbito da alteridade, sem perder de vista sua subjetividade
e história. O leitor não esquece suas próprias dimensões,
mas expande as fronteiras do conhecido, que absorve através da
imaginação, mas decifra por meio do intelecto. Por isso
trata-se também de uma atividade bastante completa, raramente substituída
por outra, mesmo a de ordem existencial. Essas têm seu sentido aumentado,
quando contrapostas às vivências transmitidas pelo texto,
de modo que o leitor tende a se enriquecer graças ao seu consumo”.
A literatura infantil contribui para o crescimento emocional,
cognitivo e para a identificação pessoal da criança,
propiciando ao aluno, a percepção de diferentes resoluções
de problemas, despertando a criatividade, a autonomia, a criticidade,
que são elementos necessários na formação
da criança de nossa sociedade atual.
As situações de interação, contato e manuseio
de diferentes materiais escritos são importantes para a aprendizagem
da leitura e da escrita. Mas, será ainda mais enriquecedor se este
manuseio e contato for com histórias de literatura infantil, pois
os desenhos maravilhosos e os enredos instigantes que se encontram explícitos
nos livros são como uma chamada, um convite que fascina a criança,
proporcionando-lhe imenso prazer e interesse
Lygia Bojunga - A Bolsa Amarela
Ao se falar em literatura infantil, Lygia Bojunga Nunes
é uma escritora brasileira que em seus contos narrados, tudo pode
acontecer.
De uma forma profundamente original, reúne o riso, a beleza poética
e um humor absurdo, realçando a liberdade, a crítica social
e uma solidariedade forte pelas crianças desprotegidas.
As fantasias servem muitas vezes como forma de ultrapassar experiências
pessoais difíceis ou como fuga de uma realidade cruel.
Ela convida os leitores a participarem dos sonhos dos seus personagens,
e torna-os cúmplices das suas experiências
A literatura infantil brasileira caracteriza-se por uma acentuada transgressão
dos limites entre a fantasia e a realidade. Lygia Bojunga é uma
escritora que perpetuou esta tradição e a tornou perfeita.
Para ela, o cotidiano está repleto de magia.
Seus textos baseiam-se fortemente na perspectiva da criança, observando
o mundo através dos olhos brincalhões da mesma. Seus personagens
podem fantasiar...
As obras de Bojunga estão traduzidas para várias línguas,
entre as quais francês, alemão, espanhol, norueguês,
sueco, hebraico, búlgaro, checo e irlandês.
O livro “A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga é trabalhado
na 4ª série, pois é uma idade onde os alunos começam
a refletir sobre suas vontades, o que podem fazer para realizá-las,
se elas são realmente possíveis e o livro proporciona trabalhar
com todos esses aspectos.
“A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga, é um dos mais
premiados e populares livros infanto-juvenis brasileiros. Neste livro
a autora conta a inteligente e divertida história de Raquel, uma
menina que presta muita atenção a tudo que se passa a seu
redor.
É um romance de uma menina chamada Raquel, que é a filha
caçula da família e a única criança. Seus
irmãos, com uma diferença de dez anos, não lhe davam
ouvidos, porque achavam que criança não sabe coisa alguma.
Por se sentir muito solitária, incompreendida e por entrar em conflito
consigo mesma, ela começa a escrever para seus amigos imaginários.
Raquel, desde cedo, tinha três vontades enormes: vontade de crescer,
vontade de ser garoto e vontade de ser escritora.
A partir dessa revelação, essa menina imaginativa e sensível
nos conta o seu dia-a-dia, juntando o mundo real da família (uma
família tradicional em cujo meio “criança não
tem vontade”) ao mundo criado por sua imaginação fértil
e povoado de amigos secretos e fantasias.
Um dia, ganhou uma bolsa amarela, que veio no pacote da tia Brunilda.
A partir daí, a bolsa passou a ser o esconderijo ideal para suas
invenções e vontades. Tudo cabia lá dentro. A bolsa
amarela acaba sendo a casa de dois galos, um guarda-chuva-mulher, um alfinete
de segurança e muitos pensamentos e histórias inventadas
pela narradora.
O livro é dividido em dez capítulos, onde muitas histórias
fantásticas vão acontecendo com a menina Raquel e seus companheiros.
Nessa história também são abordadas algumas dificuldades
que uma criança encontra no que se refere à sua afirmação
como pessoa, suas angústias de criança e sua visão
do confuso mundo adulto.
Um pouquinho sobre o livro:
As Vontades
“Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhas
vontades. Não digo vontade magra, pequenininha, que nem tomar sorvete
a toda hora, dar sumiço da aula de matemática, comprar um
sapato novo que eu não agüento mais o meu. Vontade assim todo
o mundo pode ver, não tô ligando a mínima. Mas as
outras – as três que de repente vão crescendo e engordando
toda a vida – ah, essas eu não quero mais mostrar. De jeito
nenhum.
Nem sei qual das três me enrola mais. Às vezes acho que é
a vontade de crescer de uma vez e deixar de ser criança. Outra
hora acho que é a vontade de ter nascido garoto em vez de menina.
Mas hoje tô achando que é a vontade de escrever.
Já fiz tudo pra me livrar delas. Adiantou? Hmm! É só
me distrair um pouco e uma aparece logo. Ontem mesmo eu tava jantando
e de repente pensei: puxa vida, falta tanto ano pra eu ser grande. Pronto:
a vontade de crescer desatou a engordar, tive que sair correndo pra ninguém
ver. (p.11)
A bolsa por fora
“Era amarela. Achei isso genial: pra mim amarelo
é a cor mais bonita que existe. Mas não era um amarelo sempre
igual: às vezes era forte, mas depois ficava fraco; não
sei se porque ele já tinha desbotado um pouco, ou porque já
nasceu assim mesmo, resolvendo que ser sempre igual é muito chato.
Ela era grande; tinha até mais tamanho de sacola do que de bolsa.
Mas vai ver ela era que nem eu: achava que ser pequena não dá
pé.
A bolsa não era sozinha: tinha uma alça também. Foi
só pendurar a alça no ombro que a bolsa arrastou no chão.
Eu então dei um nó bem no meio da alça. Resolveu
o problema. E ficou com mais bossa também.
Não sei o nome da fazenda que fez a bolsa amarela. Mas era uma
fazenda grossa, e se a gente passava a mão arranhava um pouco.
Olhei bem de perto e vi os fios da fazenda passando um por cima do outro;
mas direitinho; sem fazer bagunça nem nada. Mas o que eu ainda
achei mais legal foi ver que a fazenda esticava: vai dar pra guardar um
bocado de coisa aí dentro.” (p.27)
A bolsa por dentro
“Abri devagarinho. Com um medo danado de ser tudo
vazio. Espiei. Nem acreditei. Espiei melhor.
- Mas que curtição! – berrei. E ainda bem que só
berrei pensando: ninguém escutou nem olhou.
A bolsa tinha sete filhos! (Eu sempre achei que bolso de bolsa é
filho de bolsa.) E os sete moravam assim:
Em cima, um grandão de cada lado, os dois com zipe: abri-fechei,
abri-fechei, abri-fechei, os dois funcionando bem que só vendo.
Logo embaixo tinha mais dois bolsos menores, que fechavam com botão.
Num dos lados tinha um outro – tão magro e tão comprido
que eu fiquei pensando o que é que eu podia guardar ali dentro
(um guarda-chuva? um martelo? um cabide de pé?). No outro lado
tinha um bolso pequeno, feito de fazenda franzidinha, que esticou todo
quando eu botei a mão dentro dele; botei as duas mãos: esticou
ainda mais; era um bolso com mania de sanfona, como eu ia dar coisa pra
ele guardar! E por último tinha um bem pequenininho, que eu logo
achei que era bebê da bolsa.
Comecei a pensar em tudo que eu ia esconder na bolsa amarela. Puxa vida,
tava até parecendo o quintal da minha casa, com tanto esconderijo
bom, que fecha, que estica, que é pequeno, que é grande.
E tinha uma vantagem: a bolsa eu podia levar sempre a tiracolo, o quintal
não. (p.27 - 28)
O trecho destacado abaixo, repleto de imaginação e fantasia,
ilustra bem quem é Raquel e quem ela quer ser: “Cheguei em
casa e arrumei tudo que eu queria na bolsa amarela. Peguei os nomes que
eu vinha juntando e botei no bolso sanfona. O bolso comprido eu deixei
vazio, esperando uma coisa bem magra para esconder lá dentro. (...)
Abri um zíper; escondi fundo minha vontade de crescer; fechei.
Abri outro zíper; escondi mais fundo minha vontade de escrever;
fechei. No outro bolso de botão espremi a vontade de ter nascido
garoto (ela andava muito grande, foi um custo pro botão fechar).
Pronto! A arrumação tinha ficado legal. Minhas vontades
estavam presas na bolsa amarela”.
Trabalhando o livro com a 4ª série
Esse livro é entregue para os alunos no meio do
2º trimestre, para ser lido durante as férias. É o
único livro da 4ª série em que é feito um trabalho
escrito sobre ele: perguntas de interpretação.
O objetivo dessa atividade é estar verificando a compreensão
e apreensão do que foi lido pelas crianças, pois é
um livro longo, bem como começar a prepará-los para as atividades
dos anos seguintes, onde esse tipo de atividade ocorre com mais freqüência.
Relatamos a seguir as atividades que desenvolvemos com os alunos.
Atividades
1) Debate sobre o livro
Após a leitura, damos início ao trabalho
através de um debate, possibilitando que todos dêem sua opinião
sobre o livro, o que mais gostaram, o que não gostaram, o que se
identificaram com a personagem...
2) Interpretação do Livro
3) Trabalhando com as vontades
Partindo das vontades da menina Raquel, damos continuidade
ao trabalho conversando sobre nossas vontades, o que podemos fazer para
que elas se tornem realidade, se todas as vontades que temos são
realmente importantes.
Em Português:
Após o debate, desenvolver um texto em grupo, contendo
os principais tópicos da história. Algumas dicas:
- Descrição da menina Raquel e suas vontades.
- As angústias vividas pela menina Raquel com suas vontades e sobre
o mundo adulto que insiste em dizer que “criança não
tem vontade”. Será que as crianças de hoje também
sentem as mesmas dificuldades vividas pela personagem?
- Escolha uma aventura que a menina viveu com as personagens que criou
e conte com suas palavras.
- Opinião sobre o que a menina resolveu fazer no final, com suas
vontades.
- Opinião de leitor.
Em Ciências:
1. É realizada uma pesquisa na classe para descobrir:
a) O que as meninas acham dos meninos.
b) O que os meninos acham das meninas.
2. Eles preenchem a tabela com os resultados.
3. Trocam idéias com os colegas e concluem: qual
é a opinião mais comum dos meninos e das meninas sobre o
sexo oposto.
4. Em duplas, pesquisam textos e imagens montam um mural
na classe sobre o tema adolescência.
5. Entrevistam garotos e garotas que estão na adolescência
e montam um manual sobre o assunto.
Em Matemática:
Após a abertura das vontades colocadas na bolsa,
os alunos fazem um gráfico das vontades que aparecem em maior quantidade.
4) As vontades são guardadas na bolsa amarela
Durante uma semana os alunos escrevem suas vontades e
vão guardando na bolsa amarela que é colocada no painel
da classe.
Esse trabalho é importante, pois são levados a parar e pensar
em suas vidas, o que gostariam de conseguir, seus desejos possíveis
ou não, enfim, possibilita a todos um momento de reflexão.
5) As vontades... São todas iguais? Será
que meus amigos têm as mesmas vontades que eu?
É combinado com os alunos o dia em que abriremos
à bolsa e descobriremos quais vontades foram guardadas ali.
6) Trabalho de Dramatização
O grupo escolherá uma aventura vivida por Raquel
e apresentará em forma de dramatização.
7) Confecção de uma bolsa amarela
Cada aluno confecciona sua bolsa com TNT, podendo colocar
nela suas vontades. Fornecemos aos alunos alguns objetos representando
as personagens do livro: um guarda-chuva (de chocolate), um alfinete e
o galo (EVA).
Avaliação
Avaliamos o trabalho no decorrer das atividades propostas,
observando o envolvimento, a criticidade e criatividade dos alunos.
O livro é aquele brinquedo,
por incrível que pareça,
Que, entre um mistério e um segredo,
Põe idéias na cabeça.
(Maria Dinorah)
Bibliografia
DINORAH, Maria - O livro infantil e a formação
do leitor. Petrópolis, RJ : Vozes, 1995.
NUNES, Lygia Bojunga. A Bolsa Amarela. 31ª ed. Rio de Janeiro : Agir,
1998.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo :
Global, 1983.
ZILBERMAN, Regina; SILVA, Ezequiel Theodoro da. Literatura e pedagogia:
ponto e contraponto. Porto Alegre : Mercado Aberto, 1990.