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SIGNIFICAÇÃO DE SABERES DOCENTES EM GEOMETRIA NO PROCESSO
DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES LEIGOS
Maria Elidia Teixeira Reis (FE/UNICAMP) Resumo: O presente estudo objetiva identificar e analisar a relação dos professores do curso emergencial de Licenciatura Plena Parcelada em Matemática com a geometria e seu ensino ao longo de sua trajetória estudantil e profissional; e analisar e compreender como acontece o processo de (re)significação de saberes e de mudanças na prática pedagógica de professores leigos, em relação à geometria e seu ensino, ocorridas a partir da realização deste curso. A pesquisa encontra-se em fase de coleta de dados e caracteriza-se como um estudo de caso de uma turma de Matemática de LPP da cidade de Jataí, Goiás, envolvendo um estudo mais aprofundado de dois professores leigos em Matemática com longa experiência docente.
INTRODUÇÃO
A questão da formação
dos professores no Brasil, nos últimos anos, tem se tornado um
dos principais pontos de discussão nas reformas educativas. As
fortes transformações econômicas, sociais, políticas,
culturais, tecnológicas e as novas concepções sobre
práticas pedagógicas e desenvolvimento profissional vêm
exigindo um compromisso novo, mais consistente, verdadeiro e crítico
para melhoria da qualidade de nossos profissionais da educação.
Estudos (e própria experiência prática) demonstram que docentes com maior número de anos de estudo e maiores qualificações não necessariamente conseguem melhores rendimentos com seus alunos. Sobre essa base, o BM desaconselha o investimento na formação inicial dos docentes e recomenda priorizar a capacitação em serviço mais efetiva em termos de custo (TORRES, 1996, p. 161). Além disso, introduz-se, via LDBEN
(9394/96) mudanças na formação dos professores, estabelecendo,
conforme Souza e Silva (2001) e Brandão (2003), que “até
ao fim da Década da Educação, somente serão
admitidos professores habilitados em nível superior ou formados
por treinamento em serviço” .
O CASO DA LPPM EM GOIÁS
Buscando fazer um estudo mais detalhado, optamos por investigar o curso de LPP em Matemática oferecido pelo Estado de Goiás e realizado na cidade de Jataí. Este curso, de acordo com Pereira (2003) e informações obtidas através do projeto e relatório da LPP da Universidade Estadual de Goiás (UEG, 2001; 2002), foi criado em 1999 pela Secretaria de Estado da Educação de Goiás em parceria com a UEG para suprir o alto déficit de professores sem qualificação no ensino fundamental e médio, uma vez que, no período anterior à criação deste, apenas 12,1% dos professores atuantes de 1ª a 4ª série, 46,8% de 5ª a 8ª série e 65,4% de Ensino Médio tinham habilitação em nível superior. No entanto, no decorrer dos últimos anos este percentual tem aumentado expressivamente, mas é importante ressaltar que ainda as estatísticas comprovam a presença significativa de muitos profissionais sem qualificação acadêmica atuando na rede escolar, como podemos verificar na Tabela 1, a seguir. Tabela 1 – Percentual de funções docentes que atuam no Ensino Fundamental e Médio, com formação superior, por dependência administrativa – Goiás – Censo Escolar - 1996 e 2004
Cabe ainda ressaltar
que, na Tabela 1, não estão detalhados os docentes que possuem
curso superior, tanto na modalidade licenciatura quanto em sua área
de atuação como exige a LDB. Portanto, se fôssemos
fazer esta análise, a percentagem seria ainda maior de professores
que não possuem uma formação superior específica
em sua área de atuação. Os objetivos deste estudo, portanto, são os seguintes: • Identificar e analisar a relação dos professores do curso emergencial de LPPM com a geometria e com o ensino da mesma ao longo de sua trajetória estudantil e profissional. • Analisar e compreender como acontece o processo de (re) significação de saberes e de mudanças na prática pedagógica dos professores leigos, em relação à geometria e seu ensino, ocorridas a partir da realização do curso emergencial de LPPM. Para atingir tais objetivos, estamos nos fundamentando teoricamente em Candau e Lelis (1995), Fiorentini et al (1998, 1999, 2000), Guimarães (2004), Marcelo (1998), Ponte (1998), Tardif (2002), Mizukami & Reali (2002), entre outros, pois estes autores tratam de assuntos referentes aos saberes docentes, à formação inicial e continuada dos professores e ao seu desenvolvimento profissional.
METODOLOGIA
Em face dos objetivos
desta investigação, optamos por uma pesquisa de natureza
qualitativa, do tipo estudo de caso, por ser aquela modalidade que mais
atende às demandas de nosso objeto de estudo. Pois estamos interessados
em compreender como acontece o processo de produção de significados
de professores leigos em exercício em relação aos
seus saberes geométricos conceituais, didático-pedagógicos
e experienciais internalizados ao longo de suas trajetórias estudantis
e profissionais, quando entram em contato com o curso LPPM. Em outubro de 2004,
foi aplicado um questionário à turma de Matemática
do curso emergencial de LPP da cidade de Jataí – Goiás.
Os 23 professores que o responderam forneceram informações
que nos dão uma idéia inicial de quem são esses professores
e quais são suas impressões sobre o curso, principalmente
a contribuição que o mesmo vem trazendo a sua formação
profissional, em especial ao ensino de geometria. As informações
obtidas nos mostram que 13 professores dessa turma ainda não possuíam
curso superior e todos estavam atuando no Ensino Fundamental e/ou Ensino
Médio. Dos 20 professores que responderam sobre sua experiência
profissional, 15 afirmaram possuir de 10 a 25 anos de docência. Senti mais segurança em minhas aulas, devido ter aprendido mais e também as demonstrações que são realizadas no curso de matemática (Prof. João). Muito Pouco, pois o curso é fraco, exige pouco dos alunos e sempre que exige um pouco mais, os próprios alunos vetam (Profa. Maria José). Quando ingressei no curso de matemática tinha a expectativa que o mesmo substanciaria minhas aulas, elucidando vários questionamentos que tinha sobre determinados tópicos em matemática. Me frustrei, pois os conteúdos vistos na Licenciatura em Matemática não vieram ao encontro das minhas necessidades como professor de EF e EM. Há uma distância muito grande entre as academias e as salas de aula. A impressão que fica é que o curso superior se torna uma ilha de saber, isolado dos demais níveis de ensino (Prof. Paulo Rogério). No entanto, dos 13 professores que ainda não possuíam curso superior, 10 relataram que o curso trouxe alguma contribuição (melhoria do desempenho em sala de aula, ver outros horizontes, pesquisar mais para preparar aulas de qualidade, melhoria do conhecimento teórico, contribuições para a formação e não para prática, entre outros), 1 mencionou apenas que o curso está sendo de grande valia por estar licenciando-o para atuar como professor das série finais do ensino Fundamental e do Ensino Médio e os demais não responderam. Melhorou muito meu desempenho na disciplina de matemática e também me fez pesquisar mais para preparar aulas de qualidade (Profa. Maria das graças). A LPPM veio contribuir para o meu crescimento profissional uma vez que na prática docente procuro colocar em prática o que aprendi durante as aulas seja através dos professores ou mesmo na troca de experiência com os alunos (colegas de sala) (Profa. Marta). Quanto às contribuições do curso à prática de ensino de geometria, dos 19 professores que responderam, 7 citaram alguma contribuição ou disseram que o curso trouxe várias contribuições (nova forma de levar o conhecimento até o aluno, de trabalhar a geometria relacionada com o dia-a-dia dos alunos, ampliação da visão quanto a utilização da geometria, entre outros), 5 mencionaram apenas ter trazido pouca contribuição, mas não destacaram quais foram estas e 4 afirmaram não ter trazido contribuição alguma . Essas constatações pode ser observadas nos depoimentos a seguir. Várias, já que só comecei a aprender geometria aqui na faculdade (Profa. Alice). Uma outra visão de como levar esse conhecimento ao aluno de maneira clara e atraente (Profa. Ana Maria). Poucas, pois só com a prática em sala e determinação do professor p/ trabalhar esse conteúdo é que realmente trará bons resultados (Prof. Carlos). Absolutamente nada. Não há interação entre curso superior, com o Ensino Fundamental e médio, com os conteúdos trabalhados em níveis de ensino superior e demais níveis (Prof. Paulo Rogério). Ao serem indagados sobre a relação com geometria antes de iniciar o curso LPPM, dos 18 professores que forneceram informações, 13 relataram não ter tido uma boa relação, 4 afirmaram não ter tido contato ou não lembrar e apenas um mencionou ter tido uma boa relação. Sempre foi tratada como um conteúdo sem importância e que nunca mereceu destaque especial, somente na universidade está se manifestando como conteúdo de peso (Profa. Marta). Eu não tive uma boa relação com a geometria no entanto me interesso muito com ela, busco aprender agora o que eu já devia saber (Profa. Rita). Enquanto estudante não estudei geometria, vim a conhecer geometria quando precisei trabalhar com o aluno (Profa. Ana Maria). Durante minha trajetória estudantil tive excelentes professores, aprendi muito e isto contribuiu muito para minha prática profissional (Profa. Maria José). Após
a coleta dessas informações, de ter comunicado nosso interesse
em realizar um estudo mais aprofundado com alguns deles e de informar
como este estudo teria continuidade, sete docentes colocaram-se à
nossa disposição. Assim, após análise das
informações até então obtidas, selecionamos
dois com características diferenciadas e que poderiam, de certa
forma, representar os demais professores. Um deles fez magistério
e ainda não possuía curso superior. Tinha 25 anos de docência,
sendo, há 8 anos, professor de Matemática nas séries
finais do Ensino Fundamental. Sua carga horária semanal em 2005
é de 57 horas-aula. O outro já possuía curso superior,
mas não fez magistério. Leciona Matemática há
11 anos, de 5ª a 8ª série e, há 4 anos, no Ensino
Médio. Sua carga horária semanal em 2005 é 53 horas-aula.
BIBLIOGRAFIA ANDRÉ,
M. E. D. A. Etnografia da Prática Escolar.Campinas, SP: Papirus,
1995. 128p. |
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