Rejane de Souza Fontes -Universidade do Estado
do Rio De Janeiro – UERJ - Universidade Federal Fluminense - UFF
Introdução
Historicamente, o locus de trabalho e pesquisa do professor
é a escola, mas, nem todos os estudantes (crianças e adolescentes)
têm a possibilidade de concluir seus estudos sem interrupções
provocadas por problemas de saúde. Os portadores de necessidades
educativas especiais (deficiência física, visual, mental
e auditiva, múltiplas deficiências, condutas típicas
e superdotação) adquiriram os direitos ao ensino especializado
por meio do art. 9o da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional n.º 5692/71, agora ratificados pelo artigo 4o, Inciso III
da LDB 9394/96, que amplia em seu artigo 58, 2o§, o atendimento educacional
através de classes especializadas.
Com o intuito de regulamentar a Política Nacional para a Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência, o Presidente da República
aprova, em 20 de dezembro de 1999, o Decreto No 3.298 (Brasil, 1999) que
admite em seu Art. 24, Inciso V “o oferecimento obrigatório
dos serviços de educação especial ao educando portador
de deficiência em unidades hospitalares e congêneres nas quais
esteja internado por prazo igual ou superior a um ano” (p. 8). Além
disso, delega em seu Art. 26 a obrigatoriedade da oferta deste tipo de
atendimento pedagógico às instituições hospitalares
e congêneres. Mas, como a própria letra da lei ressalta,
este atendimento é restrito a crianças portadoras de deficiência
e hospitalizadas por período igual ou superior a um ano. Excluindo-se,
portanto, as crianças, ainda que não deficientes, necessitam
de um atendimento educacional especializado por estarem hospitalizadas
durante um determinado período de suas vidas.
Em 2001, com a instituição das Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na Educação Básica
(Brasil, 2001), o Conselho Nacional de Educação, pela primeira
vez, após a publicação da LDB 9394/96, sinaliza o
atendimento educacional a todas as crianças em tratamento de saúde
que implique internação hospitalar. No artigo 13 deste documento,
o MEC indica a ação integrada entre os sistemas de ensino
e de saúde, através de classes hospitalares, na tentativa
de dar continuidade ao processo de desenvolvimento e aprendizagem das
crianças hospitalizadas.
Em dezembro de 2002, o MEC publica o documento intitulado Classe Hospitalar
e atendimento pedagógico domiciliar (Brasil, 2002), na tentativa
de estruturar ações de organização do sistema
de atendimento educacional fora do âmbito escolar, promovendo a
oferta do acompanhamento pedagógico também em espaços
hospitalares. Neste documento, a Secretaria de Educação
Especial se propõe a oferecer estratégias e orientações
para o atendimento pedagógico voltado para o desenvolvimento e
a construção do conhecimento correspondente à educação
básica, assim como, sublinha que
“O professor deverá ter a formação
pedagógica preferencialmente em Educação Especial
ou em cursos de Pedagogia ou licenciaturas, ter noções sobre
as doenças e condições psicossociais vivenciadas
pelos educandos e as características delas decorrentes, sejam do
ponto de vista clínico, sejam do ponto de vista afetivo”.
(Brasil, 2002: 22).
Parece haver, portanto, uma insinuante, mas ainda pálida,
sugestão de uma reformulação curricular nos cursos
de formação de professores em nível superior que
contemplem conhecimentos no âmbito clínico e psicossocial.
Mas estariam os cursos acima citados preparando estes profissionais na
lógica que o MEC indica, principalmente se sabemos que pouquíssimos
são os cursos especificamente de Educação Especial
hoje no Brasil?
Como pano de fundo da proposta de investigação ora apresentada
não poderíamos deixar de pensar na vinculação
entre a formação do professor e sua atuação
pedagógica em hospital. Quais são as pontes que unem e os
abismos que separam a formação inicial e a vivência
educativa? Como formar professores nas universidades preparando-os para
um exercício de autonomia, com vocação para serem
mais, para transcenderem os limites que a faculdade lhes oferece e chegarem
a uma prática realmente emancipatória?
A identidade de ser criança é, muitas vezes, diluída
numa situação de internação, em que a criança
se vê numa realidade diferente da de sua vida cotidiana. O papel
de ser criança é sufocado pelas rotinas e práticas
hospitalares que tratam a criança como paciente, como aquele que
inspira e necessita de cuidados médicos, que precisa ficar imobilizado
e que parece alheio aos acontecimentos ao seu redor. Na tentativa de compreender
o resgate da subjetividade e sua contribuição para a saúde
da criança hospitalizada, bem como, a contribuição
da Pedagogia Hospitalar no processo de (re)inclusão da criança
enferma na sala de aula regular, propomos a análise de situações
pedagógicas enquanto interações sociais privilegiadas
da criança nesse novo momento de sua vida.
Os estudos e pesquisas voltados para a análise da infância
revelam que este é o período da vida que vai desde o nascimento
até a puberdade. É a idade da meninice, porém, vale
ressaltar que considerar o grau de importância social atribuído
a esta fase é algo recente na história ocidental.
Na sociedade medieval não havia uma valorização da
infância e a indiferença dessa época, para com a criança,
era muito significativa. A particularidade dos cuidados com o infante
era negada, o que resultava na elevada taxa de mortalidade infantil. Ariès
(1981) nos mostra que o moderno sentimento familiar, caracterizado pela
intensidade das relações afetivas entre pais e filhos, privacidade
do lar e cuidados especiais com a infância foi produzido ao longo
dos anos pelas mudanças sócio-econômicas instaladas
nas sociedades industrializadas.
Todavia, é importante ressaltar que a história da infância
no Brasil se confunde com a história do preconceito, da exploração
e do abandono, pois desde o início houve a diferenciação
entre as crianças, segundo sua classe social, com direitos e lugares
diversos no tecido social. Elegeram-se assim, alguns poucos como portadores
do “vir a ser” (grandes homens e grandes mulheres), enquanto
tantos outros foram reduzidos à servidão, muitas vezes,
classificados como geneticamente doentes e, assim, socialmente incapazes.
Ao nos propormos à realização desta pesquisa de Mestrado,
procuramos dar prosseguimento às reflexões que desenvolvemos
durante a graduação enquanto bolsista de Iniciação
Científica pelo PIBIC/CNPq , cuja preocupação central
foi investigar a validade de um atendimento educacional em curto prazo
realizado em hospitais. As preocupações que estiveram na
origem desse projeto surgiram a partir dos altos índices de evasão
e atraso escolar das crianças e adolescentes que permaneciam hospitalizados
durante um determinado período de suas vidas. Foi pensando nesse
universo de crianças e adolescentes, que se encontra temporária
ou permanentemente internado, que damos prosseguimento aos estudos realizados
entre 1995 e 1998 com vistas à implantação de um
acompanhamento pedagógico-educacional na enfermaria pediátrica
do Hospital Universitário Antônio Pedro – HUAP.
Para melhor situar a abordagem metodológica do presente trabalho,
apresentamos brevemente suas características, começando
pelo problema que instiga a investigação: Quais as possibilidades
e os limites de uma educação para a saúde com crianças,
na faixa etária dos 7 aos 14 anos, de ambos os sexos, com possibilidades
de deslocamento (sala de recreação) e que passam pelo processo
de reinserção na Enfermaria Pediátrica do Hospital
Universitário Antônio Pedro? Considerando para tanto, as
formas de inserção dessas crianças no setting hospitalar
(seja através do setor de emergência, do ambulatório
para exame ou tratamento, ou ainda, para intervenção cirúrgica),
bem como, o tempo e a freqüência dessas hospitalizações.
Além disso, buscamos investigar como a Pedagogia Hospitalar, enquanto
política pública em Educação, pode contribuir
para a (re)inclusão desta criança que foi afastada da escola
em virtude de uma internação hospitalar.
Refletir sobre a atuação do professor e de novos caminhos
para a educação a partir do acompanhamento pedagógico
em âmbito hospitalar visa não só compreender a contribuição
da educação, ao operar com processos de conhecimento afetivos
e cognitivos, no resgate da saúde da criança hospitalizada,
como também definir o espaço de atuação do
professor, muitas vezes confundido com o do psicólogo, na estrutura
hospitalar.
O tema se reveste de uma importância crucial nos dias atuais a partir
da constatação de que sua análise se volta para as
populações já, sistematicamente, excluídas
, sócio-economicamente, do acesso a bens culturais e de saúde.
A relevância deste estudo se deve ao fato de se realizar em instituições
hospitalares públicas que apresentem atendimento em enfermarias
pediátricas. Entre elas, escolhemos o Hospital Universitário
Antônio Pedro (HUAP), situado em Niterói (RJ), compromissado
com a pesquisa e que atende a uma elevada parcela de nossa população
historicamente desrespeitada em seus direitos, que tem na educação
sua principal via de cidadania e esperança de ascensão social.
Para que esta pesquisa pudesse ser realizada neste universo hospitalar
foi necessária a apresentação do projeto de investigação
ao Comitê de Ética em Pesquisa, sendo aprovado por este em
17/10/2001, segundo Parecer CEP CMM/HUAP No 077/2001.
1. A EDUCAÇÃO NO HOSPITAL: uma nova possibilidade de (re)inclusão
educacional
O trabalho pedagógico em hospitais apresenta diversas interfaces
de atuação e está sob a mira de diferentes olhares
que o tentam compreender, explicar e construir um modelo que o possa enquadrar.
No entanto, é preciso deixar claro que tanto a educação
não é elemento exclusivo da escola como a saúde não
é elemento exclusivo do hospital. O hospital é, inclusive,
segundo definição do Ministério da Saúde,
um espaço de educação.
Refletir sobre a atuação de professores em hospitais tem
sido uma questão bastante delicada na recente, mas já polêmica,
discussão da prática pedagógica em enfermarias pediátricas.
A discussão começa entre duas correntes teóricas
aparentemente opostas, mas que podem ser vistas como complementares. A
primeira delas, talvez a mais difundida hoje no Brasil e com respaldo
legal na Política Nacional de Educação Especial (Brasil,
1994) e seus desdobramentos (Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica, 2001) defende a prática
pedagógica em Classes Hospitalares. São representantes desta
visão autores como Fonseca (2001 e 2002) e Ceccim (1997 e 1999)
que têm publicações nesta área de conhecimento.
Segundo a política do MEC,
“Classe Hospitalar é um ambiente hospitalar
que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens
internados que necessitam de educação especial e que estejam
em tratamento hospitalar” (Brasil, 1994: 20).
Esta corrente defende a presença de professores em hospital para
a escolarização das crianças e jovens internados
segundo os moldes da escola regular, contribuindo para a diminuição
do fracasso escolar e dos elevados índices de evasão e repetência
que acometem freqüentemente essa clientela em nosso país.
Esse atendimento tem sido o modelo adotado desde 1950, pela primeira classe
hospitalar do Brasil, a Classe Hospitalar Jesus vinculada ao Hospital
Municipal Jesus, no Rio de Janeiro, que foi uma das oitenta classes representadas
no 1o Encontro Nacional sobre Atendimento Escolar Hospitalar acontecido
em 2000 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob a coordenação
geral da professora Dra. Eneida Simões da Fonseca.
A outra corrente de pensamento segue passos como os da professora Dra.
Regina Taam (UEM) que sugere a construção de uma prática
pedagógica com características próprias do contexto,
tempos e espaços hospitalares e não simplesmente transplantada
da escola para o hospital. Segundo esta autora (1997), faz-se necessária
a construção de uma “pedagogia clínica”,
termo utilizado em seu artigo publicado na Revista Ciência Hoje.
Com forte embasamento na Teoria da Emoção do médico
francês Henri Wallon (1879-1962), Taam (2000) defende a idéia
de que o conhecimento pode contribuir para o bem estar físico,
psíquico e emocional da criança enferma, mas não
necessariamente o conhecimento curricular ensinado no espaço escolar.
Segundo ela, o conhecimento escolar é o “efeito colateral”
de uma ação que visa, primordialmente, a recuperação
da saúde. O trabalho da professora é ensinar, não
há dúvida, mas isso será feito tendo-se em vista
o objetivo maior: a recuperação da saúde, pela qual
trabalham todos os profissionais de um hospital.
Desta forma, acreditamos que tais correntes de pensamento, embora com
especificidades próprias, tendem a se integrar na prática
pedagógica hospitalar. A educação em hospitais oferece
um amplo leque de possibilidades e de um acontecer múltiplo e diversificado
que não deve ficar aprisionado a classificações ou
enquadres.
Tentar definir Pedagogia Hospitalar poderá nos trazer alguns esclarecimentos
quanto à função e possíveis contribuições
do professor no hospital e seu papel como ponte em relação
à escola. Poderá também nos ajudar a analisar sua
formação e sua preparação para atuar com crianças
nesse ambiente visivelmente diferente do da sala de aula.
Podemos entender Pedagogia Hospitalar como uma proposta diferenciada da
Pedagogia Tradicional , uma vez que se dá em âmbito hospitalar
e que busca construir conhecimentos sobre esse novo contexto de aprendizagem
que possam contribuir para o bem estar da criança enferma. Esta
definição, no entanto, não exclui o conceito de Classe
Hospitalar. Pelo contrário, a Pedagogia Hospitalar parece ser mais
abrangente, pois não exclui a escolarização de crianças
que se encontram internadas por várias semanas ou meses, mas a
incorpora dentro de uma nova dinâmica educativa.
Após o impacto da hospitalização que Spitz (1965),
Ajuriaguerra (1980), Ceccim & Carvalho (1997) e outros já descreveram
tão bem, a função do pedagogo/professor necessita
ser de re-significação daquele espaço para a criança
enferma. Porém, nada impedirá que este seja simultaneamente,
um espaço educativo (no sentido amplo do termo) e mais tarde, para
crianças que permaneçam por longo tempo, um espaço
escolar, com a incorporação e acompanhamento dos conteúdos
escolares da série em que a criança encontra-se matriculada.
A partir do contato com a professora da escola ou na dificuldade de estabelecer
contato com a instituição, os conteúdos poderão
ser elaborados pelo próprio professor de acordo com o nível
de conhecimento e aprendizagem identificado na criança hospitalizada.
O que se verifica na prática é uma infinidade de patologias
infanto-juvenis que coexistem num mesmo espaço de atendimento médico-hospitalar
e que, por suas especificidades, demandam tempos e espaços diferenciados
de atuação pedagógica. Paula (2002), identifica três
grupos de crianças internadas em hospitais: crianças que
são internadas com graves comprometimentos físicos, afetivos,
sociais e cognitivos e que permanecem durante muito tempo no hospital;
crianças que apresentam comprometimentos moderados e que permanecem
em média quinze dias nos hospitais e crianças que são
internadas com comprometimentos leves e que permanecem pouco tempo nos
hospitais.
O ofício do professor no hospital apresenta diversas interfaces
(política, pedagógica, psicológica, social, ideológica),
mas nenhuma delas é tão constante quanto a da disponibilidade
de se estar com o outro e para o outro. Certamente fica menos traumático
enfrentar este percurso quando não se está só, podendo
compartilhar com o outro a dor, através do diálogo e da
escuta atenciosa.
Ceccim (1997) fala da escuta pedagógica para agenciar conexões,
necessidades intelectuais, emoções e pensamentos e que entendemos
como pontos importantes para serem recuperados neste texto. Segundo este
autor,
“O termo escuta provém da psicanálise
e diferencia-se da audição. Enquanto a audição
se refere à apreensão/compreensão de vozes e sons
audíveis, a escuta se refere à apreensão/compreensão
de expectativas e sentidos, ouvindo através das palavras, as lacunas
do que é dito e os silêncios, ouvindo expressões e
gestos, condutas e posturas. A escuta não se limita ao campo da
fala ou do falado, [mais do que isso] busca perscrutar os mundos interpessoais
que constituem nossa subjetividade para cartografar o movimento das forças
de vida que engendram nossa singularidade”. (p. 31)
A escuta pedagógica diferencia-se das demais escutas
realizadas pelo Serviço Social ou Psicologia no hospital, ao trazer
a marca da construção do conhecimento sobre aquele espaço,
aquela rotina, as informações médicas ou aquela doença,
de forma lúdica e, ao mesmo tempo, didática. Na realidade
não é uma escuta sem eco. É uma escuta da qual brota
o diálogo, que é a base de toda a educação.
2. A importância da pesquisa em espaços diferenciados
de atuação pedagógica
Nesta linha de entendimento, uma investigação que busque
compreender o papel da educação no hospital como política
pública para a (re)inclusão da criança hospitalizada,
tem como sua ação principal não somente a análise
documental, mas também a observação participante,
cujas informações coletadas receberiam um tratamento qualitativo
à luz da compreensão do pesquisador, envolvendo ainda, a
dimensão sócio-histórica na qual pesquisador e sujeitos
da pesquisa encontram-se dialeticamente inseridos.
Segundo Thiollent (1985), ao empreender uma pesquisa de caráter
qualitativo, o pesquisador deve estar ciente de que o processo cognitivo
encontra-se centrado no sujeito, entendido enquanto sua postura interpretativa
e compreensiva acerca do objeto e das condições sociais
da realidade que o circunda. Há, durante o processo, um acompanhamento
das decisões, das ações e de toda a atividade intencional
dos atores da situação. A pesquisa não se limita
a uma forma de ação (risco de ativismo), pretende-se aumentar
o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o “nível
de consciência” das pessoas e grupos considerados.
No plano individual, o pesquisador logo se defronta com a sua implicação
psicoafetiva (Barbier, 1985), pois, na pesquisa qualitativa, o objeto
de investigação freqüentemente questiona os fundamentos
da personalidade profunda, principalmente, quando a dialética vida/morte
torna-se a essência do trabalho psicopedagógico, como naquele
desenvolvido dentro de um hospital. A implicação do pesquisador
é parte inerente e dinâmica do processo de construção
do conhecimento. Assim, onde houver ciência humana haverá
necessariamente a colagem da implicação do pesquisador em
sua multidimensionalidade simbólica e imaginária.
“O pesquisador desempenha, então, seu papel profissional
numa dialética que articula constantemente a implicação
e o distanciamento, a afetividade e a racionalidade, o simbólico
e o imaginário, a mediação e o desafio, a autoformação
e a heteroformação, a ciência e arte”. (Barbier,
2002: 18)
A abordagem metodológica mais indicada para esta
investigação é a do tipo qualitativa. Com o objetivo
de capturar as mudanças em processo, a presente pesquisa utilizou
técnicas como a observação participante, com o intuito
de compreender as relações de convivência no âmbito
hospitalar, entrevistas abertas, depoimentos, vivências (em que
o pesquisador pode estruturar sua investigação científica
com pretensa aproximação da verdade), estudo de documentos
e textos impressos e eletrônicos , histórico da instituição,
diário de bordo, análise de conteúdo e técnicas
bibliográficas, uma vez que o embasamento teórico relativamente
grande constitui-se no alicerce para a construção da subjetividade
do pesquisador.
Barbier (2002: 141) nos apresenta a escuta sensível como método
de investigação científica a ser perseguido neste
tipo de estudo. Torna-se fundamental lembrar que, “o homem permanecerá,
para sempre, dividido entre o silêncio e a palavra”, onde
somente a escuta sensível do pesquisador poderá penetrar
e captar o(s) significado(s) do não dito.
A pesquisa qualitativa em educação enfatiza o processo,
aquilo que está ocorrendo e não o produto ou os resultados
finais. Uma outra característica interessante deste tipo de abordagem
é que a pesquisa refaz-se constantemente no próprio processo
de investigação. Para isso, utiliza-se de um planejamento
flexível, em que os focos de investigação vão
sendo revistos, as técnicas de coletas, modificadas, os instrumentos,
reformulados e os fundamentos teóricos, repensados.
Lüdke & André (1986) elencam algumas características
principais de estudo qualitativo. Os estudos enfatizam a interpretação
em contexto, ou seja, para uma apreensão mais completa do objeto,
é preciso levar em consideração o contexto em que
ele se situa. Os estudos qualitativos usam uma grande variedade de fontes
de informação. Ao desenvolvê-lo, o investigador deve
recorrer a diferentes técnicas de coleta de informações
como entrevistas com diferentes informantes, análise de documentos
de diferentes fontes, observação de diferentes situações
em momentos diferenciados, etc...
As autoras sugerem ainda que o pesquisador deve ter consciência
de que ele é o principal instrumento de coleta de informações,
por isso, é fundamental que o pesquisador domine suficientemente
o assunto a ser focalizado, funcionando como verdadeiro filtro de constatações.
No estudo também não há hipóteses anteriores
à entrada em campo, mas sim, questões norteadoras, uma vez
que o pesquisador não sabe o que irá encontrar no fluxo
dos acontecimentos.
Lüdke & André (1986), com base em Nisbet & Watt (1978)
caracterizam o desenvolvimento do estudo qualitativo em três fases:
a exploratória, a de delimitação do estudo e a da
análise sistemática.
1. A fase exploratória:
É o momento de estabelecer contatos iniciais para a entrada em
campo, de localizar os informantes e as fontes de dados necessárias
para o estudo.
2. A fase de delimitação do estudo:
Corresponde à coleta sistemática de informações,
em que o pesquisador utiliza-se de instrumentos mais ou menos variados.
A importância de delimitar os focos de investigação
decorre do fato de que nunca será possível explorar todos
os ângulos do fenômeno estudado.
3. A fase da análise sistemática:
Já na fase exploratória do estudo surge a necessidade de
juntar a informação, analisá-la e torná-la
disponível aos informantes para que manifestem suas reações
sobre a relevância e a acuidade do que é relatado.
Em se tratando de crianças hospitalizadas, a preocupação
com a questão ética torna-se ainda maior. Além do
consentimento de seus pais, o pesquisador deverá ter o cuidado
de garantir a adesão das crianças à sua pesquisa,
pois
“(...) a ética é entendida em termos de sua permanente
obrigação com as pessoas que tocaram suas vidas no curso
de viver a vida de pesquisador qualitativo. (...) Desenvolve-se uma relação
de intimidade que muitas vezes se desdobra em envolvimentos emocionais
do pesquisador com o sujeito por presenciar e participar em aspectos íntimos
e às vezes dolorosos da vida dos sujeitos”. (Monteiro, 1998:
19)
Como instrumento de pesquisa, optou-se pela observação
que, segundo Lüdke & André (1986), representa junto com
a entrevista não estruturada caracterizada pela não diretividade,
um dos instrumentos básicos para a coleta de informações
dentro da abordagem qualitativa de pesquisa.
Um outro instrumento metodológico de fundamental importância
que funciona como um registro de memória do pesquisador refere-se
ao diário de campo. Através deste procedimento, que consiste
no registro escrito das ações vivenciadas e intenções
captadas no cotidiano do espaço investigativo, o pesquisador possui
um arquivo quase fidedigno de informações que o auxiliarão
na análise dos acontecimentos que atravessam o trabalho de pesquisa
em campo.
A pesquisa de campo se deu integralmente na Enfermaria Pediátrica
do HUAP. A escolha foi intencional, pois é o único local
dentro da estrutura hospitalar que reúne o maior número
de crianças internadas durante o tempo médio de quinze dias,
além de oferecer condições físicas apropriadas
para o desenvolvimento do trabalho pedagógico em questão.
Optamos por classificar os temas que emergiram das associações
livres, das cenas e das entrevistas, agrupando e reagrupando posteriormente
de forma sucessiva, até formar os grandes grupos temáticos,
as denominadas categorias.
Analisar é a prática de interpretar sob a luz da teoria.
2.1. Conhecendo o universo da pesquisa
O período de internação médio na Enfermaria
Pediátrica do HUAP é de quinze dias (na maioria das vezes,
causada por doença respiratória) e há grande reincidência
de crianças com leucemia (devido ao tratamento quimioterápico
exigido pela doença e seus efeitos colaterais) e síndrome
nefrótica (por causa do tratamento de hemodiálise e suas
complicações). Pacientes com leucemia e síndrome
nefrótica sofrem reinternações porque a doença
é crônica, exige internação para tratamento
e este pode causar descompensação no organismo da criança
que precisa se internar. Casos como estes não são incomuns
na Enfermaria Pediátrica do HUAP que, entre seus doze leitos destinados
a crianças em idade escolar e pré-escolar, pelo menos dois,
a cada novo ciclo de internação, são ocupados por
crianças que estão voltando ao hospital.
Em sete meses de imersão no campo (janeiro a julho de 2002), tivemos
contato com 32 crianças (16 meninos e 16 meninas). As atividades
aconteciam duas vezes na semana, com duração média
de 3 horas diárias, pela manhã, totalizando 56 encontros
e 168 horas de atividades pedagógicas com as crianças internadas.
A observação do grupo de crianças no campo da pesquisa
se deu em dois momentos. Numa primeira fase, que chamaremos, de acordo
com Lüdke & André (1986), de exploratória, desenvolvemos
atividades pedagógicas com todas as crianças e adolescentes
que podiam se locomover à sala de recreação, a fim
entender suas reações durante a internação
e a contribuição do trabalho pedagógico ao seu bem
estar físico e psicológico.
A linguagem verbal e não-verbal (gestos, olhares, desenhos) foram
o meio privilegiado de observar a produção de conhecimentos
pelo sujeito, uma vez que constituem sinais exteriores que acompanham
as atividades das crianças.
Numa segunda fase, que chamaremos de focal, correspondendo à fase
de delimitação do estudo, conforme propõem Lüdke
& André (1986), embora continuássemos trabalhando pedagogicamente
com todas as crianças que se dirigiam à sala de recreação,
centramo-nos na observação dos sujeitos que estavam vivendo
sua segunda internação e nos sujeitos que contavam com mais
de trinta dias de hospitalização, a fim de observarmos suas
reações ao processo vivenciado e ao trabalho pedagógico
ali desenvolvido. Neste segundo momento foram realizadas atividades pedagógicas
com os sujeitos, individual ou coletivamente, a fim de se criar um ambiente,
onde os objetivos da pesquisa pudessem ser desenhados.
O primeiro momento da segunda fase de intervenção pedagógica
se dava em grupos de crianças hospitalizadas, que chamaremos de
grupos de interação, os quais não se enquadraram
por classificações homogêneas, dada a própria
realidade dinâmica da sala de recreação que apresentava
um fluxo constante de entrada e saída de adultos e crianças
pertencentes a diferentes faixas etárias. Desse modo, o conceito
de grupo tratado aqui é o proposto por Wallon (1975), que considera
o grupo como uma “reunião de indivíduos tendo entre
si relações que notificam a cada um o seu papel ou o seu
lugar dentro do conjunto” (p. 167). Para Wallon, o grupo é
indispensável à criança, não somente para
sua aprendizagem social, como também para o desenvolvimento da
sua personalidade e da consciência de si e dos outros.
As atividades pedagógicas em grupo aconteciam duas vezes por semana
na sala da recreação. A faixa etária das crianças
compreendia dos três aos quatorze anos. Embora, para a seleção
dos sujeitos focais, utilizou-se o critério de escolha de crianças
que se encontravam na faixa etária escolar, ou seja, dos sete aos
quatorze anos.
O critério de escolha das atividades levou em consideração
os seguintes aspectos: adequação à faixa etária,
exigência de diferentes níveis de organização
mental, atenção, respeito às regras, convívio
social, conhecimento da rotina hospitalar, conhecimento de sua doença
e de seu corpo e expressão de seus pensamentos e sentimentos através
da linguagem oral, gráfica e corporal.
Como o tempo de permanência das crianças no hospital era
restrito, todas as atividades pedagógicas desenvolvidas possuíam
início, meio e fim, dentro de um curto período de tempo,
aproveitando para tanto, todas as oportunidades de produção
de novos conhecimentos e reconhecimento de antigos conceitos, já
adquiridos pelas crianças, sempre tomadas enquanto atores sociais
no decorrer de todo o processo de pesquisa.
Os critérios utilizados para a seleção dos sujeitos
da investigação foram os seguintes:
1. Reincidentes, cuja primeira e demais internações na Enfermaria
Pediátrica do HUAP tenham se dado no período de janeiro
a julho de 2002.
2. Não reincidentes com tempo de internação prolongado.
(acima de 30 dias)
3. Condições físicas e psíquicas para participarem
das atividades na sala de recreação da Enfermaria Pediátrica
do HUAP.
Do grupo de 32 (trinta e duas) crianças e adolescentes hospitalizados
na fase exploratória deste estudo, 6 (seis) crianças (três
meninos e três meninas) vivenciaram re-internações,
sendo três delas reincidentes algumas vezes. Desse grupo, foram
selecionadas 3 (três) crianças (dois meninos e uma menina)
que se enquadravam nos critérios acima descritos.
Algumas categorias de análise foram priorizadas buscando descrever
fenômenos sociais humanos numa situação atípica
na vida de uma criança: a hospitalização.
Entendemos interação social como as relações
de troca que se dão entre o sujeito e seu meio social. Quando a
criança começa a interagir com seus pares, além de
atuar e modificar o universo social (os outros), a criança modifica
seu próprio eu na tentativa de compreender a realidade que a cerca.
As interações observadas foram classificadas em três
tipos:
(a) A interação criança/criança
(b) A interação criança/adulto (acompanhantes/profissionais)
(c) A interação criança/meio (rotina)
Essas interações manifestaram-se por meio de eixos de análise
específicos que buscamos compreender através das seguintes
categorias:
• Linguagem (significado e sentido)
É através da linguagem que os sujeitos se constituem, incorporam
conhecimentos sociais e afetivos e interagem com o mundo social que os
cerca. Tanto para Wallon (1941) quanto para Vygotsky (2000a) é
a cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos para
sua evolução.
• Brinquedo e Jogo (ZDP)
É no brinquedo e no faz-de-conta que a criança pode imitar
uma variedade de ações que estão muito além
de seus limites de compreensão e de suas próprias capacidades.
É a partir dessas atividades lúdicas que surge uma interpretação
mais complexa da realidade, quando então, a imitação
começa dar origem à representação.
• Emoção (subjetividade e consciência)
Para Wallon (1975), ao permitir o acesso à linguagem, a emoção
está na origem da atividade intelectual e da constituição
da subjetividade. A emoção constitui uma etapa anterior
à linguagem e está na base da representação.
Pelas interações sociais que propiciam, as emoções
possibilitam o acesso ao universo simbólico da cultura, o que leva
ao progresso da vida mental. Mas, ao mesmo tempo em que se desenvolve,
a razão estabelece com a emoção uma relação
de filiação e de oposição, fazendo com que
uma reflexão sobre as causas de uma crise emocional possibilite
sua redução.
• Conhecimento (aprendizado e desenvolvimento através de
construções partilhadas)
Tanto para Wallon (1975) quanto para Vygotsky (2000), a aprendizagem está
pautada na interação do indivíduo com o meio no qual
está inserido. Vygotsky aborda que o desenvolvimento dos conceitos
espontâneos (oriundos da experiência) e dos conceitos não-espontâneos
(científicos) se relacionam e se influenciam mutuamente, embora
seguindo caminhos diferentes desde o início, tendem a se encontrar
no final. Poderíamos interpretar os conceitos espontâneos
da criança, em situação hospitalar, como os conceitos
oriundos do senso comum e os conceitos científicos, como aqueles
de domínio do discurso médico.
A relação com a escolarização é um
fator importante para ser analisado neste trabalho, pois denota o grau
de implicação da internação hospitalar com
a evasão e repetência das crianças hospitalizadas,
bem como, a referência à escola como um lugar saudável.
3. Contando e (re)contando as histórias do hospital...
Deni tem 13 anos de idade e é uma adolescente extremamente tímida,
quase não fala, mas possui olhos bastante expressivos e está
abaixo do peso porque diz não ter vontade de comer. Numa conversa
que tivemos separadamente com sua mãe, soubemos que Deni saiu da
escola, há dois anos, por solicitação de sua professora
que alegou que a menina tinha muita dificuldade de aprendizagem e precisava
de uma Escola Especial. Quanto à sua doença (anorexia nervosa),
a mãe disse que tudo começou quando em novembro de 2001,
seu irmão (tio de Deni) com seu filho (irmão mais velho
de Deni) começaram a brincar com a menina, dizendo que ela comia
muito e que iria ficar muito gorda. Desde então, Deni começou
a desenvolver a doença. Tal informação foi confirmada
ipsis litteris por Deni, quando conversamos separadamente.
De acordo com Ajuriaguerra (1980) “as adolescentes anoréticas
se apresentam com tendências ao isolamento, falta de interesse ou
de objetivos, dificuldades de relacionamentos interpessoais e focalização
de problemas no plano corporal” (p. 194). Pensando o papel da educação
também enquanto socialização da criança enferma,
poderíamos inferir que o trabalho pedagógico em hospitais,
neste caso particularmente, tem o mérito de auxiliar na diminuição
desse isolamento, ao propiciar atividades coletivas, contribuindo assim,
para a saúde da adolescente com anorexia.
Notamos que nas interações empreendidas com Deni, era preciso
incentivá-la em suas opiniões, em seu direito de existir
e de exigir, no reconhecimento de sua independência, enfim, na reconquista
de sua subjetividade que Deni parecia querer negar, através da
negação de seu próprio corpo. Para Wallon (1971),
“o corpo, pela sua própria configuração deve
servir de sustentáculo à individualidade de cada um”
(p. 255).
Ao final de uma atividade pedagógica específica, as professoras
conseguiram que Deni desenhasse sua família e identificasse seus
membros. Sua grafia era bastante infantil e o interessante foi que ela
não identificou (porque não desenhou) nem sua mãe
e nem seu pai no material apresentado. Deni disse ainda não gostar
de seus quatro irmãos (três meninos e uma menina) e não
ter sonhos quanto ao seu futuro e nem em relação ao seu
presente, respondendo à maioria das perguntas que fazíamos
como “não sei” .
Deni usava duas expressões repetidamente: o que? e não sei.
O uso da expressão “o que?” marcava uma quebra no ritmo
do diálogo. Isso acontecia todas as vezes que as professoras se
aproximavam do universo de Deni. Já o uso da oração
“não sei” parecia esconder um segredo que ela não
queria revelar. Uma adolescente sem sonhos e sem desejos. Ao mesmo tempo
assustada e segura de si.
Ao final do dia, a assistente social da enfermaria pediátrica nos
disse que a alta médica de Deni estava vinculada à ida de
outro parente para substituir sua mãe como acompanhante da menina
no HUAP, pois a equipe de saúde estava desconfiando da influência
negativa exercida pela mãe no comportamento anoréxico de
Deni . Ela disse que iria encaminhar um laudo, sugerindo que Deni freqüentasse
uma escola de educação especial. Ao que nós discordamos,
pois o que pudemos perceber durante as atividades que vínhamos
realizando com Deni é que ela não possuía comprometimento
em nível cognitivo. Acreditamos que seu bloqueio era, antes emocional,
caracterizado pela insegurança gerada devido à falta de
estímulos à aprendizagem. A assistente social pediu-nos
então que nós fizéssemos um relatório das
atividades realizadas ali para anexar ao prontuário da paciente.
As atividades pedagógicas realizadas com Deni dão a dimensão
do trabalho do pedagogo no hospital. Embora lesse com dificuldades e necessitasse
de suportes simbólicos, como o desenho, para compreender o que
estava escrito, Deni se apresentou não como uma deficiente mental,
como sua última professora a havia rotulado, mas como uma pessoa
que, por inexperiência e desestímulo no uso da língua
escrita, encontrava-se temporariamente portadora de necessidades educativas
especiais. Segundo a Declaração de Salamanca (1994),
“(...) a expressão ‘necessidades educativas
especiais’ refere-se a todas as crianças e jovens cujas necessidades
decorrem de sua capacidade ou de suas dificuldades de aprendizagem. Muitas
crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e, têm
portanto, necessidades educativas especiais em algum momento de sua escolarização”.
(Declaração de Salamanca, 1994: 18)
Necessitar temporariamente de um atendimento pedagógico
especial não significava matricular Deni numa escola especial.
No caso específico de nossa protagonista, a inserção
social e cultural numa classe regular de ensino (inclusão) parecia
ser a medida mais certa a ser tomada, adotando-se como referencial teórico
os estudos de Wallon e Vygotsky, para quem o homem é “o conjunto
de relações sociais encarnado no indivíduo (funções
psicológicas construídas pela estrutura social)” (Vygotsky,
2000b: 33). Vygotsky vê o aprendizado como um processo profundamente
social, mediado pela linguagem que leva ao desenvolvimento cognitivo.
Privar Deni de estabelecer relações com crianças
que se desenvolvem em situações regulares de escolarização,
significava impedí-la de ampliar seu horizonte social (zona de
desenvolvimento proximal) e conseqüentemente de se desenvolver.
Segundo Wallon, a observação da criança deve considerar
seu desenvolvimento global, a pessoa por inteiro, jamais em partes. A
insegurança gerada pelas afirmações que ouviu a seu
respeito, vindas de duas figuras marcantes na formação de
sua individualidade que são a professora e sua mãe, levou
Deni a acreditar-se incapaz de ler e escrever. Esse sentimento de impotência
que Deni incorporou reflete-se na linguagem que organiza seu pensamento
e regula seu comportamento. Embora houvesse diminuído sensivelmente
seu uso, a expressão “não sei” ainda fazia parte
do repertório de Deni e reforçava sua ação
e sua visão sobre si mesma. Criou-se assim, um bloqueio mental,
construído a partir da significação que o outro dá
a seu comportamento, através do uso da linguagem.
Somente Deni poderia ultrapassar esse obstáculo, mas não
o conseguiria sozinha. Novamente, o papel do outro é decisivo na
construção de uma visão afirmativa sobre o seu eu
que reflete em sua auto-estima e assim, na (re)construção
de sua subjetividade.
No caso de Deni, a própria doença era resultado de um conflito
emocional, cuja gênese vinculava-se à relação
com o outro (sua mãe), que ao expressar seus desejos no lugar da
filha, impedia que Deni tivesse oportunidade de se expressar. Se pensamento
e linguagem se constituem simultânea e dialeticamente (Vygotsky,
2000a), como Deni poderia desenvolver sua cognição se lhe
era cerceado o direito de se expressar?
Wallon (1971) nos diz que a emoção, ao implicar uma relação
com o outro, mediada pela linguagem, está na base do desenvolvimento
cognitivo, pois é através do outro que o sujeito mergulha
no universo social e se constitui enquanto tal. Do mesmo modo, ao refletir,
através do uso da linguagem, sobre sua existência e seu comportamento,
a inteligência está dialeticamente na base do desenvolvimento
emocional do sujeito. Em função disso, o projeto de Wallon
é realizar a psicogênese da pessoa completa. Somente uma
visão integrada do desenvolvimento pode colocar no mesmo plano
de importância duas dimensões que, embora pareçam
antagônicas, se constituem reciprocamente: a afetiva e a cognitiva.
É dessa forma que a educação deve compreender o comportamento
infantil a fim de contribuir para o desenvolvimento integral do ser humano.
Até que ponto diagnosticar e rotular uma pessoa, através
de uma visão parcial com base em um único pressuposto teórico,
sem ao menos conhecer os motivos que estão na origem de seu comportamento,
pode contribuir para o tratamento e cura de sua doença? Esse foi
o caso de Deni, diagnosticada e rotulada, primeiro na escola, como deficiente
mental e depois no hospital, como portadora de transtornos de comportamento.
Sem informação, sua mãe era a portadora dessas idéias
sobre sua própria filha. Poucos se preocuparam em perguntar quem
era Deni, enquanto muitos já afirmavam o que ela tinha.
Em 1929, Vygotsky já dizia que é “através dos
outros [que] constituímo-nos” (2000b: 25). Essa constituição
se dá através da palavra, mediação social
por excelência. Quando a mãe de Deni ouve e reproduz que
sua filha é retardada mental, ela não somente crê
que Deni realmente o seja, como faz Deni crer-se como o sendo.
Segundo Vygotsky, o desenvolvimento cultural passa por três estágios:
em si, para os outros e para si (2000b: 24). Para reforçar sua
teoria, ele apresenta a questão do gesto indicativo que de um movimento
de agarrar mal sucedido empreendido pelo bebê passa a ser um movimento
significado pela mãe como o gesto de apontar e, que mais tarde,
também será incorporado pela criança como um movimento
de apontar. “O movimento de pegar transforma-se, [então],
no ato de apontar”. (2000: 74)
Guardando-se as peculiaridades da faixa etária, com Deni e sua
mãe também ocorre algo semelhante. O primeiro momento é
constituído pelo dado em si, pela realidade natural demonstrada
pela criança, o que é em si, livre de interpretações,
ou seja, a dificuldade e a falta de concentração de Deni
para aprender a ler e a escrever. O segundo momento é aquele em
que o dado é interpretado e adquire significação
para os outros sociais. Neste caso, é quando aparecem os primeiros
diagnósticos e rótulos (transtornos de comportamento, retardo
mental). E por último, é no terceiro momento que a pessoa
torna significativo para si a significação que os outros
atribuem ao dado em si. É dessa forma que, para Vygotsky, o indivíduo
constitui sua subjetividade, internalizando a significação
que os outros atribuem ao mundo e a si (o indivíduo em questão).
Quando a mãe de Deni repete, muitas vezes, irrefletidamente, os
diagnósticos que ouviu em relação à filha,
ela passa a significar para Deni a sua dificuldade de aprender a ler e
a escrever como retardo mental que Deni, por sua vez, internaliza e também
reproduz. A criança, diz Vygotsky, é “a última
a reconhecer o seu gesto”, é somente através do outro
que ela capta o significado de seu gesto.
Encontramos aqui um conceito-chave do pensamento de Vygotsky (2000) que
é o conceito de internalização, através do
qual, ele se propõe a explicar o surgimento dos processos mentais
superiores próprios da espécie humana. Para ele, todas as
funções que ocorrem no nível intrapsicológico
do desenvolvimento humano (ou seja, no interior da criança), ocorreram
primeiro no nível interpsicológico (ou seja, entre pessoas).
A reconstrução das operações psicológicas
a partir da internalização de experiências culturais
só é possível através da mediação
semiótica. A palavra enquanto unidade de significado passa a ser
então, o principal elemento que ao constituir o pensamento, também
constitui a subjetividade humana.
No caso da mãe de Deni, a escuta pedagógica abriu o caminho
do diálogo, quando então a pesquisadora, ao penetrar na
visão equivocada que ela tinha da filha – desenvolvimento
para os outros, procurou trabalhar informações que esclarecessem
sua visão em relação à dificuldade de aprendizagem
da filha – desenvolvimento em si, para que dessa forma, ela pudesse
contribuir para a construção de uma auto-imagem mais positiva
para Deni – desenvolvimento para si.
Depois de constatarmos todos estes fatos, elaboramos um relatório
encaminhando Deni para uma escola regular, porque ela não tinha
traços de uma criança com deficiência mental. Ou seja,
seu diagnóstico não era de deficiência mental. Ela
possuía um retardo no desenvolvimento, mas um retardo de uma criança
que nunca freqüentou escola. Essa é a atuação
do professor, é a mais importante delas no hospital: fazer esse
acompanhamento pela linha cognitiva e afetiva de modo a interferir no
quadro clínico da criança hospitalizada e, ao longo do tempo,
acompanhar esta criança na escola, caso ela seja uma paciente crônica.
O tema escola aparece, assim, para aqueles que estão hospitalizados,
como uma referência à vida normal e saudável e à
identidade daqueles que são normais e saudáveis e, portanto,
estão fora do hospital. Esse desejo e a possibilidade de aprender,
ainda que doente, é acenado pelas crianças quando elas chegam
para desenvolver atividades na sala de recreação (local
onde aconteciam as atividades pedagógicas).
O papel da escuta pedagógica aparece aqui como a oportunidade da
criança se expressar verbalmente, como também a possibilidade
da troca de informações, dentro de um diálogo pedagógico
contínuo e afetuoso. A relação pedagógica
é sempre dialógica e a escuta pedagógica se fez presente
quando as crianças querem compartilhar com a professora, as marcas
de sua dor, ao contar como ficou doente, quase morreu e foi parar ali.
A escuta pedagógica parece ser o caminho a ser trilhado, pois marca
o diálogo não somente como a forma da criança expressar
seus sentimentos, mas também organizar suas idéias a partir
da linguagem. Além disso, o diálogo pressupõe um
outro na relação que pode trazer informações
ou esclarecimentos relevantes que auxiliem o indivíduo a compreender
melhor a realidade que o cerca.
A análise apresentada é resultado de uma triangulação
de informações oriundas das observações registradas
em diário de bordo, dos diálogos gravados em fitas cassetes
e das produções gráficas dos sujeitos em estudo.
O objetivo do uso desses recursos metodológicos era acompanhar
as pequenas mudanças no comportamento da criança hospitalizada,
desde a entrada até a alta médica, passando pelas re-internações,
quando houvesse.
Para (não) concluir
Adoecer faz parte da vida. Todavia, algumas doenças levam à
hospitalização, afetando a vida das pessoas durante um determinado
período de tempo. O caso torna-se mais grave quando o paciente
em questão é uma criança e quando a causa de internação,
além de ser alguma debilidade física, traz a marca da discriminação
sócio-econômica de nossa sociedade e, por esta razão,
acaba se tornando crônica, prejudicando uma das etapas mais importantes
da vida: a infância.
Ao longo de dez anos em que vimos acompanhando a tentativa de um trabalho
pedagógico na enfermaria pediátrica do HUAP, percebemos
que as atividades recreativas que são desenvolvidas oficialmente
são esporádicas e atreladas a projetos de extensão
e pesquisas que, quase sempre, têm um período de vigência
limitado. O presente trabalho pretende contribuir, assim, para a discussão
crítica do lugar da prática pedagógica no hospital.
Neste trabalho percebemos inteligência, emoção e movimento
como processos imbricados entre si, assim sendo, o desenvolvimento de
um leva, conseqüentemente, ao desenvolvimento dos outros. Isso faz
com que “em cada idade ela [a criança] constitua um conjunto
indissociável e original” (Wallon, 1941: 224). A criança
hospitalizada não deixa de ser criança por se tornar paciente.
Ela se caracteriza por intensa atividade emocional, movimento e curiosidade.
A educação no hospital precisa garantir a esta criança
o direito a uma infância saudável, ainda que associada à
doença.
Como a educação pode contribuir para a saúde e a
(re) inclusão da criança hospitalizada na sala de aula regular?
Esta foi a questão central que norteou o desenvolvimento do presente
estudo. A conclusão a que chegamos é que, a partir da abertura
oferecida pela legislação vigente e de um trabalho de formação
continuada em serviço destes professores que já vêm
desenvolvendo um trabalho pedagógico em hospital, a Pedagogia Hospitalar
possa se fortalecer enquanto uma política pública que ampare
pedagogicamente essas crianças nos momentos de afastamento do espaço
escolar, contribuindo assim, para a diminuição dos elevados
índices de evasão e repetência que assolam a educação
em nosso país.
Constatamos que, enquanto professores, precisamos estar atentos para como
significamos as ações e atitudes do outro que afetam não
só as emoções e visões de mundo, mas também
a constituição de si. Wallon (1975: 379) nos lembra que
“não há forma de se dirigir à inteligência
da criança, sem se dirigir a criança no seu todo”.
Essa é a proposta da Pedagogia Hospitalar quando trabalha o sujeito
por inteiro e historicamente situado. O conhecimento de seu estado de
saúde e do ambiente hospitalar em que se encontra pode alimentar
o aspecto positivo da emoção da criança hospitalizada
e contribuir para o seu bem-estar físico e psicológico.
Através das atividades desenvolvidas junto às crianças
hospitalizadas e seus acompanhantes pudemos observar as diversas interfaces
que a atuação do professor pode assumir numa enfermaria
pediátrica. Como ouvinte, o professor trabalha com a emoção
e a linguagem, buscando resgatar, através da escuta pedagógica
e dialógica , a auto-estima da criança hospitalizada, muitas
vezes, suprimida pela enfermidade e pelo sentimento de impotência,
que pode estar sendo alimentado pela família e pela equipe de saúde.
As crianças têm necessidade de falar sobre suas doenças
e precisam de alguém que as escute. A linguagem permite, assim,
ao ser humano ultrapassar o concreto e o imediato, fornecendo conteúdos
para a reflexão consciente, mesmo que posterior a ocorrência
dos fatos. Ao lado das palavras, o desenho também constitui um
canal de comunicação privilegiado na enfermaria pediátrica.
O papel da educação no hospital e com ela, o do professor
é então, o de propiciar à criança o conhecimento
e a compreensão daquele espaço, re-significando não
somente ele, como a própria criança, sua doença e
suas relações nessa nova situação de vida.
A escuta pedagógica surge, assim, como uma metodologia educativa
própria do que chamamos de Pedagogia Hospitalar. Seu objetivo é
acolher a ansiedade e as dúvidas da criança hospitalizada,
criar situações coletivas de reflexão sobre elas,
construindo novos conhecimentos que contribuam para uma nova compreensão
de sua existência, possibilitando a melhora de seu quadro clínico.
Como agenciador de conhecimentos, o professor trabalha com informações,
construindo conhecimentos sobre a doença e sua profilaxia, atuando
junto às crianças e seus responsáveis e colaborando
para a transformação dos conceitos espontâneos em
científicos.
Com professores no hospital, as crianças hospitalizadas por um
longo tempo, ou as que desejarem, podem ter ainda a oportunidade de trabalhar
seus conhecimentos escolares quase que individualmente, como acontece
nas classes hospitalares, uma vez que o grupo de crianças é
menor do que aquele encontrado nas salas da aula das escolas regulares.
Mas não só os conhecimentos escolares devem ser privilegiados.
Há no hospital um saber procedimental, que somente a criança
que possui uma seringa com medicação intravenosa injetada
na superfície de sua mão, conhece. Esse conhecimento permite
a criança ou adolescente a realização de atividades
manuais e gráficas, próprias de um acompanhamento pedagógico,
sem deixar que a agulha saia da veia, ou um movimento mais brusco rompa
a veia, causando dores e hematomas. As crianças criam, assim, estratégias
de sobrevivência a partir dos desafios físicos impostos pela
hospitalização.
Como referência à escola, o professor pode se tornar a ponte,
através da realização de atividades pedagógicas
e recreativas, com um mundo saudável (a escola) que é levado,
pelas próprias crianças, para o interior do hospital como
continuidade dos laços de aprendizagem e de vida. Essa idéia
de escola que as crianças levam para o universo hospitalar pode
ser lida como a representação de um lugar de constituição
e referência da identidade de infância.
Assim, no decorrer do acompanhamento pedagógico constatou-se, através
de gestos, palavras e comportamentos, sensíveis modificações
na forma como as crianças reagiam à hospitalização
e à doença. Os resultados que esta pesquisa apontam levam-nos
a compreender que o papel da educação junto a criança
hospitalizada é o de resgatar sua subjetividade, re-significando
o espaço hospitalar, através da linguagem, do afeto e das
interações sociais que o professor pode propiciar. Portanto,
é possível pensar o hospital como um espaço de educação
para as crianças internadas. Mais do que isso, é possível
pensá-lo como um lugar de encontros e transformações,
tornando-o um ambiente propício ao desenvolvimento integral da
criança e o trabalho pedagógico aí desenvolvido pode
ser visto como uma ponte para a (re)inclusão da criança
no ambiente escolar.
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