Marta Maria Silva de Faria Wanderley (*) - Universidade
Internacional de Lisboa - Instituto de Investigação Científica
e de Pós-Graduação
Cleomar Ferreira Gomes - Orientador
Resumo
Este trabalho representa uma descrição que procura revelar
uma parte do cotidiano vivido por meninos e meninas de 7 à 12 anos
de idade e de suas professoras de uma escola da rede pública e
outra da rede particular de ensino, do município de Barreiras,
no Estado da Bahia/Brasil. Investiga-se comparativamente os dados colhidos
pela observação participante, de depoimentos e de fotografias,
para uma caracterização do comportamento lúdico das
crianças, seja no dia-a-dia vivido no grupo cultural de circunvizinhança
da escola seja no espaço interno dela. Faz-se um levantamento dos
brinquedos e brincadeiras presentes no cotidiano dos alunos dessas instituições
escolares e os modos prováveis de sua presença na escola.
Verifica-se a riqueza de ludicidade dos meninos no bairro, na roça
e na escola, na sala de aula, no pátio e na quadra. Constata-se,
entretanto, em comparação com as suas formas de jogar e
de brincar, a existência de uma cultura infantil bem afeita a cultura
de seus sujeitos.
INTRODUÇÃO
Pesquisar brinquedos e brincadeiras nas séries
iniciais do ensino fundamental sugere a necessidade de refletir sobre
os “valores” que circundam a produção teórica
voltada para o desenvolvimento no campo específico do jogo, do
brinquedo e da brincadeira no cotidiano de crianças no espaço
de séries iniciais do ensino fundamental e, essa motivação
levou ao desenvolvimento da pesquisa, que apresento aqui em parte.
Estudos mostram que, a organização no interior da escola,
a rotina, o espaço físico, a metodologia de trabalho em
sala de aula, os recursos e materiais educativos influenciam os sujeitos,
produzindo, em parte o que estes sujeitos pensam e interagem nesse espaço.,
Pretendeu-se perceber, pela gama de informações obtidas
das observações, anotações, entrevistas e
fotografias os motivos pela opção em investigar a importância
do jogo, no processo ensino-aprendizagem sob o olhar de professores de
segunda série do Ensino Fundamental.
A dualidade existe. De um lado temos a memória de um tempo precioso
e feliz da vida – dos brinquedos e brincadeiras prazerosas que dá
certeza do tempo feliz que não volta jamais, de outro temos os
textos de aula filosófico, psicológico, sociológico,
biológico, antropológico diferentes ao tema e às
suas relações. Nesse sentido, na primeira etapa da pesquisa
não tive a pretensão de explorar todos os textos que abordam
essa temática, por mais que estivesse, optei afoita por uma construção
teórica que se fizesse pertinente. A pretensão maior foi
a de descrever, com as informações coletadas e idéias
que pude encontrar, uma análise da vivência de dois grupos
investigados, através da triangulação de informações
de observações, entrevistas, registro em diário e
de fotografias da prática dos jogos, brinquedos e brincadeiras
no interior da escola.
Nessa pesquisa adotou-se os conceitos de: 1. brinquedo como objeto, suporte
da brincadeira; e 2. brincar como ato lúdico iniciado pela criança
tendo motivação interesse (Brougère,1995); (Kishimoto,
2003).
A pesquisa foi realizada com um grupo de vinte crianças com suas
respectivas professoras, nas séries iniciais do ensino fundamental,
em duas escolas, uma da rede pública e outra na rede particular
de ensino, localizadas no município de Barreiras, no oeste baiano,
com 113.092 habitantes e com uma área de 7.895,0 km2, situada 853
kms de Salvador, capital do estado e a 622 kms de Brasília, capital
do país. Para proceder tal análise, permaneceu-se entre
agosto e final de novembro de 2003 observando o tempo e o espaço
ocupado pelos meninos e meninas de sete a doze anos com seus brinquedos
e brincadeiras.
Metodologia de pesquisa
1.1 Descrição do "campo", a definição
dos sujeitos participantes e os passos da pesquisa
1.1.1 O "campo" nas escolas investigadas
Antes de falarmos das duas escolas, é preciso dizer que elas estão
localizadas no município de Barreiras no oeste baiano, segundo
dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
do Censo demográfico de 2000, com 113.092 habitantes e com uma
área de 7.895,0 km2 de terra muito produtivas, o que lhe confere
o apelido de “capital do oeste baiano” ou “capital da
soja". Este município desponta no cenário nacional
como o mais novo pólo de economia e turismo de aventura na Bahia
? “Caminhos do Oeste”. Está localizada no oeste da
Bahia a 853 kms de Salvador, capital do estado e a 622 kms de Brasília,
capital do país. Tem como principais acessos rodoviários
a BR 020 (Brasília/Barreiras), BR 242 (Salvador/Barreiras) e BR
135 (Piauí/Barreiras). Faz divisa com Brasília, Goiás
Tocantins e Piauí. Além disso, a cidade é também
conhecida por ser possuidora de grandes encantos naturais
Para conhecer as duas escolas é preciso se afastar um pouco do
barulho do centro da cidade. A EMP está localizada no bairro de
Barreirinhas, o mais antigo e maior da cidade, separado do centro de Barreiras
pelo Rio Grande que banha tranqüilamente sua população
ribeirinha. A EEC situa-se no bairro Novo Horizonte, um dos bairros mais
novos da cidade, separado do centro pelo grande movimento das ruas e avenidas
comerciais, com destino a um lugar que foge do movimento e do barulho
comercial do centro. Apesar de os bairros estarem afastados do centro
da cidade, não se trata de bairros miseráveis. Outros, ao
redor ou mais distantes deles, como o Santo Antonio, a Vila Amorim, a
Santa Luzia, a Vila Nova, a Vila Brasil, a Morada da Lua representariam
melhor o aumento do crescimento "populoso" das periferias.
1.1.2 A escola da rede pública municipal
Trata de uma escola da rede pública municipal de ensino, localizada
no interior do Parque da Exposição Feira Agropecuária
de Barreiras, onde ocorre, no meio de todo ano um dos maiores eventos
de agronegócios da região. A escola tem um prédio
bem conservado, pintado de cor branca. A escola conta com sala da diretora,
secretaria, sala de digitação, sala destinada à biblioteca,
sala dos professores, uma cantina som cozinha e dispensa, um pátio
com cimento na frente da escola, mais precisamente das salas de aula,
e outro atrás da escola, de areia, ao lado da quadra. Este é
o espaço para as aulas de recreação. São 13
salas de aula por turno, tendo 26 turmas no total.
O nome da escola deve-se ao fato de se localizar no interior da Exposição
Feira Agropecuária de Barreiras, que acontece todos os anos no
meio do ano, período de recesso escolar.
1.1.3 A escola da rede particular
Trata-se de uma escola localizada no bairro Novo Horizonte, também
fora do centro da cidade. Possui outros dois prédios, além
do que ocorreu a investigação, um que atende a Educação
infantil, outro que atende da 6ª à 1ª séries do
Ensino Médio e, o prédio onde foi realizada a pesquisa,
atende da 1ª a 5ª séries do Ensino Fundamental. A escola
foi fundada há mais de dez anos, pintada de cor branca. A escola,
lugar da pesquisa, conta com 9 salas de aula e somente duas destas são
ocupadas no turno vespertino – turno em que realizei a pesquisa,
sendo uma turma de primeira 1ª série e outra de 2ª série.
Em dois dias da semana outras turmas de 3ª e 4ª séries
assistem aula também à tarde, pois para estas séries
a escola adota o período integral. Nestes dias a criança
permanece na escola durante todo o dia, onde também almoça.
Além das salas de aula a escola tem ainda um laboratório
de informática, a secretaria, a sala dos professores, uma cantina,
a sala de artes, um corredor ao lado das salas e da pracinha, que serve
como pátio, um espaço pequeno interno, na frente da escola
e outro mais ao fundo da escola e a quadra. Este espaço interno
da pracinha é bem arborizado, com mangueiras. Assim é a
escola da rede particular investigada.
1.2 Os sujeitos
1.2.1 As crianças da Escola Municipal do Parque
Os meninos e as meninas de 2ª série do Ensino Fundamental
(Ciclo I Contínuo) em que realizei as investigações,
tinham entre 7 e 12 anos de idade. Muitos alunos da turma são oriundos
da zona rural, onde estudavam anteriormente. A sala de aula possuía
27 alunos, dos quais um havia sido transferido e dois evadidos, que deixaram
a escola para trabalhar e ajudar os pais no orçamento familiar.
A realidade destes sujeitos era por demais interessante. Havia muitas
crianças na escola e na sala de aula investigada que vieram da
zona rural, como disse anteriormente.
O material escolar das crianças e o uso de roupas no dia-a-dia
escolar são também mencionados como algo que revelam o nível
sócio econômico das crianças que freqüentam a
escola da rede pública e da rede particular.
As crianças da escola da rede particular
As crianças da 2ª série desta escola
se encontravam na faixa entre 7 e 9 anos de idade. A maioria delas havia
estudado na escola nos anos anteriores, com exceção de apenas
três alunos. Num depoimento, gravado durante entrevista, a professora
exibiu sua opinião a respeito do nível socioeconômico
dos alunos. Segundo ela, as crianças pertencem a um nível
socioeconômico privilegiado, informando que há diferença
entre as crianças da escola pública e da particular.
O material escolar das crianças e o uso de roupas no dia-a-dia
escolar são também revelados como parâmetro para a
distinção das crianças que freqüentam a escola
da rede pública e da rede particular O conhecimento e a aproximação
dos pais é um fator considerado importante pelas duas professoras,
apesar de na escola pública Parque a professora não possuir
muito contato com os pais, na escola da rede particular de ensino esse
contato com os pais acontece sempre.
As crianças dessa escola também possuidoras de histórias
de vida bastante diversas, oriundas de uma camada privilegiada da população,
penetram o cenário escolar, na sala de aula, em interação
com outros meninos e meninas, também representantes de espetáculos
escolares, convertendo-se em estudantes, também em contato com
a professora – protagonista de um grande show. Neste espaço
e tempo escolares, tanto a professora quanto seus alunos e alunas imprimem
um dos trechos da história escolar de suas existências.
1.2.3 As professoras
A sala de aula investigada na escola da rede pública municipal
tinha como regente uma professora que trabalha na escola no turno matutino.
Ela é natural de Barreiras, possui 39 anos. Trabalha há
dez anos como professora e tem experiência tanto na rede pública
quanto na rede particular de ensino. Mora na Vila dos Soldados-Bairro
São Pedro, há cerca de 50 metros da escola. É estudante
do curso Normal Superior em uma faculdade particular da cidade, com aulas
de quinta feira a sábado, durante o período letivo ? neste
período não houve necessidade de a professora se afastar
da sala de aula, e, nas férias em período normal.
Não existe uma diferença muito significativa entre os moradores
de um bairro e de outro, principalmente no que se refere ao nível
socioeconômico da população de cada bairro. Porém
o que nos interessa aqui é que apesar de pertencerem a locais diversos,
possuírem uma visão de mundo alicerçada em relações
distintas e apresentarem uma história de vida em que estiveram
constituindo-se como sujeitos de formas bem distintas, a professora e
os alunos depararam-se num mesmo espaço escolar, com papéis
determinados na representação social que a escola oferece.
E, naquele embate, a professora e seus alunos iriam, no decorrer de todo
ano, construir relações sociais cruzadas por todas as suas
crenças, valores, esperanças, aspirações,
conhecimentos naturais ou científicos, atitudes, enfim, com todas
as suas competências e limitações.
Apesar da aproximação destes, meu contato maior deu-se com
a professora que atuava em sala de aula. Esta tinha como regente uma jovem
senhora, natural de Barreiras, tem 28 anos, possuía experiência
como professora nas redes pública e particular de ensino, graduada
em Pedagogia com habilitação em Projetos Pedagógicos
e tinha dez anos de atuação no magistério. Trabalhava
na escola nos turnos matutino e vespertino. Era moradora do bairro Loteamento
Rio Grande. Existe uma diferença significativa entre os moradores
deste bairro e do bairro em que as crianças residem.
No período específico da realização da pesquisa,
as condições materiais da escola proporcionava um trabalho
docente satisfatório, uma vez que, diferente da professora da escola
da rede pública. a professora chegou a afirmar que não encontrava
problemas que pudessem comprometer o desenvolvimento de suas aulas:
As crianças tinham material escolar, muitas vezes até sofisticado.
Além disso, a sala de aula possuía ar condicionado que era
ligado nos meses mais quentes do ano, a secretaria funcionava procurando
oferecer o máximo de em atendimento a seus alunos, com avisos "xerografados"
sempre que necessário.
Além de acompanhá-los, observá-los e escutá-los
dizer a respeito de sua existência fora dos muros escolares, a respeito
dos espaços em casa, na rua de casa, no prédio onde moram,
no bairro, acerca do seu tempo de brincar e não brincar, acerca
de seus brinquedos mais reconhecidos, foi necessário, principalmente,
antes ou além de observá-los, lembra daquilo que diz (GOMES
2001): "ser escolhido por eles".
Ao escrever esta dissertação aconteceram dois processos.
O primeiro, fundamental e original, foi uma relação de idéias
que vêm pessoalmente, sem explicação alguma, de forma
irracional, empurrando, pulando e dançando bem ao ritmo brasileiro
e baiano numa folia, numa brincadeira divertida de forma desordenada.
A partir daí, o escritor simplesmente anota as idéias para
que não caiam no esquecimento. Nesse momento elas se assemelham
com as inúmeras peças de um quebra cabeça distribuídas
sobre a mesa. Esse primeiro momento é, ao escrever um texto ou
livro, chamado de "orgia das palavras" (Alves ,2003). Após
este, vem o segundo momento que se refere a um processo racional de organizar
as peças de forma a montar o quebra cabeça, de juntar partes
para construção do todo. Ao final, temos produzido um trabalho
de pesquisa comumente dita científica.
No segundo semestre de 2003, após conclusão da etapa de
conclusão do estudo teórico do mestrado, conforme o cronograma
estipulado, dei início à etapa de investigação.
A escolha das escolas foi feita conforme o critério de localização.
Optei por uma das escolas públicas mais próximas e pela
escola particular que estudava o filho da pesquisadora, para facilitar
o trabalho.
Ao localizar as escolas que ofereciam turmas de 2ª série,
fez-se contato com a direção e com a professora da escola
municipal que se dispôs a ser observada, sem constrangimento algum.
Deixou-nos bastante à vontade para começar as observações
no dia seguinte.
Da mesma forma aconteceu com escola da rede particular. Contactei com
a direção e coordenação pedagógica
e posteriormente com professora que também se dispôs a ser
observada, sem problema algum, também deixando-me muito à
vontade para iniciar as observações no mesmo dia. Dessa
forma foram decididos os sujeitos participantes da pesquisa e as observações
foram realizadas no período de agosto a dezembro de 2003.
No período compreendido entre agosto e dezembro de 2003, envolvi-me
com esse "campo" e com uma coleta de dados. Foi 10 o número
de crianças entrevistadas: uma professora, 5 meninos e 5 meninas
da escola da rede particular e 10 crianças, uma professora e 4
meninos e 6 meninas da escola da rede municipal de ensino As entrevistas
eram feitas após um período prévio de encontros informais
com participação e/ou observação de seus jogos,
brinquedos e brincadeiras, em suas escolas.
Foi necessário, contudo, ouvi-los falar a respeito de seu dia-a-dia,
a respeito de como ocupam os espaços que possuem, em casa, no bairro,
num lugar onde reside, e a respeito do que assinala o seu tempo de brincar
e não brincar, os brinquedos que possuem, os jogos ou brincadeiras
mais desejadas. Foi necessário também, na imagem desse cotidiano,
"acompanhar" essas crianças e professoras em suas escolas,
observando-os nas suas relações com os colegas e professoras,
tanto de sala, quanto fora dela.
Neste trabalho de campo busquei tomar algumas precauções,
com a intenção de garantir a cientificidade possível
numa pesquisa em ciências humanas. Assim, utilizei os seguintes
procedimentos de registro de coleta de dados: a entrevista semi-estruturada,
a observação, a anotação de campo, a fotografia
com interesse nas atividades livres e dirigidas das crianças –
nas salas, corredores, pracinha, pátio e quadra e a entrevista
semi-aberta com meus sujeitos – 2 professoras e 20 alunos.
O presente estudo é fruto de uma pesquisa de campo que segundo
DESLANDES (2001,51), "tendo como referência a pesquisa qualitativa,
o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos
não só uma aproximação com aquilo que desejamos
conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo
da realidade do campo.No campo de pesquisa: foram utilizados dados advindos
de observações estruturadas e não estruturadas, participantes
e não participantes, individuais e em grupo no interior no interior
da escola: sala de aula, pátio, quadra, pracinha, que é
um recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando
uma realidade empírica a partir das concepções teóricas
que fundamentam o objeto de investigação ( Minayo, apud
Cruz Neto, 2001a). Para realização da pesquisa, obedeceu-se
as seguintes etapas: pesquisa bibliográfica, leitura do material,
pesquisa de campo, tratamento dos dados, elaboração da versão
preliminar do texto e, posteriormente a laboração da versão
final do texto.
Devido à a temática investigada, optou-se por trabalhar
com pesquisa qualitativa. Ela se preocupa, nas ciências sociais,
com um nível de realidade que não pode ser quantificado
e trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos
que não podem ser reduzidos à operacionalização
dasb variáveis. (Minayo, 2001).A opção foi pela pesquisa
do tipo etnográfica, descritiva e interpretativa , que tem como
objetivo primordial a descrição das características
de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento
de relações entre variáveis. Uma de suas características
mais significativas está na utilização de técnicas
padronizadas de coleta de dados. Algumas pesquisas descritivas vão
além da simples identificação da existência
de relações entre variáveis pretendendo determinar
a natureza dessa relação. Nesse caso tem-se uma pesquisa
descritiva que se aproxima da explicativa. As pesquisas descritivas são
juntamente com as exploratórias, as que habitualmente realizam
os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática.
São também as mais solicitadas por organizações
como instituições educacionais, empresas comerciais, partidos
políticos etc. (GIL 1999).
A coleta de dados foi realizada com o uso de observação
participante, entrevistas semi-estruturadas, individual, registro fotográfico
e anotações em diário de campo.
Além de dados coletados com as observações espontâneas,
procurei ainda outros, assistindo a algumas de suas aulas, fazendo observações
e anotações num diário de campo. Também aqui
a escolha desses professores, alunos e séries foi aleatória.
Apreciando se a segunda série numa escola e Ciclo II contínuo
na outra, ou seja uma das séries iniciais do Ensino Fundamental,
mais relacionadas com a ludicidade ? a brincadeira, a alegria, a festa
dessas crianças. Foram 2 as professoras entrevistadas: uma de cada
grupo de crianças, dos dois grupos observados.
As observações ocorreram diariamente em uma das escolas
e quase diariamente na outra. Na observação participante
o contato com os sujeitos deu-se diretamente no campo, através
de uma relação face a face com os observados.A análise
qualitativa teve como suporte o diário de anotações,
resultado de observações, episódios. A observação
se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno
observado para obter informações sobre a realidade dos atores
sociais sm seus próprios contextos. É importante porque
pode-se captar uma variedade de situações ou fenômenos
que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que,
observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há
de mais imponderável e evasivo na vida real. (Cruz Neto, 2001)
As entrevistas foram semi-estruturadas e realizadas individualmente no
interior das escolas. Elas ocorreram individualmente, realizada com professoras
e com as crianças em dependência das instituições
de ensino das escolas campo Nessas entrevistas, além de registrar
respostas a questões comuns feitas a todos, fiz também o
registro das respostas a questões que não fiz, ou seja,
das interpretações acrescidas dos entrevistados, inserida
ou não na temática tratada. Através deste instrumento
o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais..
Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra. Ela é
entendida como uma conversa a dois com propósitos bem definidos
para obtenção de dados objetivos e subjetivos. A entrevista
semi-estruturada articula a entrevista aberta ou não estruturada,
onde o informante aborda livremente o tema proposto,bem como as estruturadas
que pressupõem perguntas previamente formuladas. (Cruz Neto c,
2001)
O registro fotográfico, teve como foco as atividades livres e dirigidas
das crianças nos momentos de Vicência da ludicidade. Esse
registro visual amplia o conhecimento do estudo porque nos proporciona
documentar momentos ou situações que ilustram o cotidiano
vivenciado. (Cruz Neto, d, 2001)
ompanheiro de registro de anotações diárias, é
um instrumento ao qual recorremos em qualquer momento da rotina do trabalho
que estamos realizando. Ele é amigo silencioso que não pode
ser subestimado quanto à sua importância. Sobre ele o pesquisador
se debruça no intuito de construir detalhes que no seu somatório
vai congregar os diferentes momentos da pesquisa.”(Cruz Neto e,
2001).
Descrição da análise dos dados
Para descrição da análise dos dados, utilizou-se
do método hermenêutico-dialético que segundo MINAYO
(apud GOMES, 1994:68) "a fala dos atores sociais é situada
em seu contexto para melhor ser compreendida. (Minayo, apud Gomes, 2001)
Análise dos resultados das brincadeiras e dos brinquedos
das crianças
Ao final da investigação, concluímos
que na escola as crianças brincavam mais de: futebol, pula corda,
elástico, roda, dominó. A sala, como o recreio,vira espaço
de brincadeira. E dentre os itens mais citados pelas crianças da
escola pública a respeito da posse dos brinquedos que possuem comprados
prontos,as crianças da escola pública citou bola, boneca,
boneco e pião, enquanto as crianças da escola particular
citaram videogame, boneca, carrinhos e aviões. Todas as crianças
possuem brinquedos comprados prontos na escola da rede particular, A sofisticação
fica a critério de cada uma, enquanto na rede particular nem todas
as crianças possuem s A bola e a boneca são os brinquedos
preferidos delas. A bola é também a preferida pelas meninas.
Além disso, A maioria já havia construído algum brinquedo.
A criatividade foi uma forte característica nesse aspecto. Diversos
materiais: palito, massinha de modelar e principalmente sucata e extraídos
da natureza serviam de matéria rima.
A maioria das crianças costumam brincar com parentes próximos
e colegas com quem aprenderam brincadeiras - aprendizagem social. (Brougère).
Apesar de as crianças conceituarem jogo, brinquedo e brincadeira
de forma semelhante, a realidade vivida por cada grupo é fator
essencial no jogo das palavras ao falar sobre os conceitos (maior riqueza
de vocabulário, por exemplo), mas não no interesse pelos
brinquedos e brincadeiras.
A criança vê ludicidade em tudo: objetos escolares, papel,
paus,frutos, sucata etc (Moylles, 2002). Elas brincam no pátio,
na quadra e na sala quando dá tempo, após atividade. Concluímos,
portanto que as crianças gostas de brincar. (Bettelheim).Independente
das condições sócio-econômicas, de possuir
ou não algum tipo de deficiência, de cor, ou sexo as o brincar
constitui o que proporciona mais prazer à vida das crianças,
o cotidiano dos sujeitos investigados comprova isso.
Concluímos também que o jogo teve vários significados
para os professores (Huizinga), mas todas consideram o jogo importante
no processo de ensino/aprendizagem, apesar de uma das professoras afirmar
que nem sempre considera o jogo importante nas atividades de sala de aula
por gerar bagunça.
Apesar de professoras e alunos pertencerem a gerações diferentes,
muitas brincadeiras são semelhantes com nomenclaturas e regras
distintas. As professoras brincaram muito na infância e consideram
o brincar importante no cotidiano. (Kishimoto, 2003). Falta às
professoras, mais a uma do que à outra, embasamento teórico
para o tratamento com os jogos, os brinquedos e as brincadeiras no ensino.
As professoras carecem de formação acadêmica para
trabalhar pedagogicamente com jogos, brinquedos e brincadeiras na sala
de aula (Kishimoto, 2003). Os cursos de formação na área
de educação da cidade de Barreiras, estado da Bahia, não
contemplam o lúdico como componente curricular, ou seja não
há uma disciplina especifica). (Santos, Nóvoa)
Há diferença significativa na realidade das professoras
dos dois grupos investigados, principalmente no que se refere a método/metodologia
de ensino do professor em sala de aula, condições materiais
e de trabalho, sócio-econômicas e culturais e formação,
o que gera interesse, ou não, pela escola e atividades de sala
de aula. Os saberes das professoras só podem ser construídos
na ação , que só podem ser compreendidos em relação
às condições estruturais de trabalho. (Nóvoa)
Podemos considerar, diante da investigação realizada que
o interesse das crianças pela escola está condicionado ao
que ela oferece. As crianças aprendem o conteúdo com mais
facilidade e têm prazer pelas atividades didáticas e, conseqüentemente,
pela escola quando o lúdico se faz presente. (Camargo, 1998),(Kishimoto,2003),(Snyders,2001),(Dimenstein,
2003). Consideramos também que falta às professoras, mais
a uma do que à outra, embasamento teórico para o tratamento
com os jogos, os brinquedos e as brincadeiras no ensino. As professoras
carecem de formação acadêmica para trabalhar pedagogicamente
com jogos, brinquedos e brincadeiras na sala de aula (Kishimoto, 2003).
Os cursos de formação na área de educação
da cidade de Barreiras, estado da Bahia, não contemplam o lúdico
como componente curricular, ou seja não há uma disciplina
especifica para este estudo. Alem disso, as condições de
trabalho influem significativamente no trabalho do professor em sala de
aula. (Santos, 2000), (Nóvoa,2000) (Kishimoto, 2003))
Estas são minhas considerações finais, seriam outras,
se fossem outros os objetivos, o lócus da pesquisa e o grupo cultural,
se a “lealdade” ou a convicção fossem baseados
em outros teóricos, se a natureza ou o percurso de pesquisa fosse
diferente e, essencialmente, se fosse outra a pesquisadora.
ALVES, Rubem, DIMENSTEIN, Gilberto. Fomos maus alunos. Campinas: papirus,
2003.
BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez,
2001
DIMENSTEIN Gilgerto. Fomos maus alunos. Campinas: Papirus, 2003
CRUZ, Otávio Neto. O trabalho de campo como descoberta e criação
in Minayo, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social. Petrópolis,
Rio de janeiro: Vozes, 1994.
DESLANDES, Suely, Ferreira. A construção do projeto de pesquisa
in Minayo, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social. Petrópolis,
Rio de janeiro: Vozes, 1994.
CAMARGO, Luís Otávio de Lima. Ducação para
o lazer: São Paulo: Moderna, 1998.
GOMES, Romeu. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In Minayo,
Maria Cecília de Souza. Pesquisa social. Petrópolis, Rio
de janeiro: Vozes, 1994.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de pesquisa social.
São Paulo: Atlas, 1999.
HUIZINGA, Johan. Homo ludens. São Paulo: Perspectiva, 2004.
KISHIMOTO, Tikuko Morchida (Org). Jogo, brinquedo e brincadeira e a educação.
São Paulo: Cortez, 2003
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, técnica e
arte: o desafio da pesquisa social. In Minayo, Maria Cecília de
Souza. Pesquisa social. Petrópolis, Rio de janeiro: Vozes, 1994.
MOYLLES, Janet, R. Só brincar? O papel do brincar na educação
infantil. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.
ROSAMILHA, Nelsno. Psicologia do jogo e aprendizagem infantil São
mPaulo: Pioneira, 1979.
NÓVOA, Antonio (Org.) Vidas de professores. Portugal: porto Editora,
2000
SANTOS, Santa Marli Purês dos (Org.). O lúdico na formação
do educador. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
_________. (Re) pensando a prática do educador infantil in Brinquedoteca:a
criança, o professor e o lúdico. Petrópolis, Rio
de Janeiro: Vozes, 2000.
SNYDERS, Georges. Alunos felizes: reflexão sobre a alegria na escola
a partir de textos literários. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2001.