Aline
Jaime Coelho - Laboratório de Políticas Públicas
– UERJ
Marcelle Tenório Monteiro Gomes - UERJ
As recentes
mudanças no cenário político da América Latina
repercutiram em grande impacto nas políticas educacionais da região,
e para acompanhar esses acontecimentos, foi criado o Observatório
Latino Americano de Políticas Educacionais (OLPED) , que surge
como um novo olhar sobre essas mudanças, e em especial com uma
nova leitura , mais crítica e comprometida com a luta contra o
neoliberalismo, e contra a forma como esses fatos estão sendo relatados
na mídia escrita da região. Dando enfoque aos periódicos
oficias e as aos sites da imprensa alternativa, para uma análise
eqüitativa.
A abordagem crítica acontece através da leitura cuidadosa
e crítica sobre as diversas formas de noticiar os acontecimentos
que circundam e que permeiam a esfera educacional. Desde a mudança
de Ministros da Educação até a reivindicação
isolada e solitária de um docente oprimido.
Esta leitura acontece em diversas etapas, que se iniciam no primeiro contato
com os periódicos nacionais, onde se busca, em uma leitura superficial
das manchetes, qualquer indício sobre a temática, mesmo
que não explicita.
Após está primeira leitura, passa-se a um exercício
de escolha do que ler e como ler. Essa possibilidade de escolha só
é possível porque é através do exercício
da leitura que se constitui o pensamento crítico.Essa busca mais
específica das reais notícias sobre educação,
ocorre entre as diversas seções em que se divide o jornal,
e com a identificação da notícia passa-se a leitura
detalhada desta, buscando as diversas interpretações possíveis
desta informação, a partir das perspectivas políticas
e ideológicas que compõem o objetivo do portal.
Este primeiro passo identificatório é um desafio a qualquer
leitor. Mas a capacidade de leitura de mundo de cada indivíduo
em contato com o texto, é capaz de relacionar e identificar as
intenções comunicativas contidas nele. Mas para isso é
preciso assegurar a formação de um bom leitor , que não
significa ser o indivíduo que lê muitas vezes o mesmo tipo
de texto, mas aquele que lê diversos tipos de textos com uma relativa
profundidade crítica.
Mas esse exercício que leva ao bom leitor não surge geneticamente.
É um produto social, que requer empenho e dedicação
dos que se propõem a facilitar o entendimento do que vem a ser
a leitura a outro indivíduo, seja na infância ou em qualquer
outra fase da vida.
Em um segundo momento ocorre à produção das impressões
sobre esta leitura, através da criação de texto introdutórios
sobre as notícias. Esse exercício de manipulação
da escrita visa não somente fazer uma síntese da notícia,
mas sim fazer uma pequena análise do que realmente representa essa
informação para o cenário educacional. Mas não
somente isso , esse exercício requer um olhar cuidadoso sobre os
interesses do leitor, para atrai-lo sem trai-lo, isto é, sem criar
uma síntese irreal, apenas para se se enquadrar na ideologia política
do suposto leitor. Sendo fiel a essência da notícia, mas
sempre dando múltiplas possibilidades de interpretação.
Quebrando o rígido formato jornalístico neoliberal.
OLPED como
espaço de livre interpretação
O Observatório Latino de Políticas Educacionais (OLPED)
é um espaço multidisciplinar de pesquisa, análise,
divulgação e documentação sobre as políticas
educacionais na América Latina. Seu portal dispõe de notícias,
documentos, artigos e ensaios, assim como links para outros centros de
pesquisa, universidades, movimentos sociais e populares, sindicatos, organizações
governamentais e não-governamentais, que atuam nos campo das políticas
públicas. As informações disponíveis destinam-se
a professores, estudantes, sindicalistas, militantes e ativistas de movimentos
sociais, bem como a acadêmicos e pesquisadores interessados no debate
político-educacional latino-americano.
O Observatório desenvolve ainda projetos de pesquisa e formação
com organizações docentes, fóruns de defesa da escola
pública e secretarias de educação de governos democráticos.
Em parceria com o Programa Políticas da Cor na Educação
Brasileira (PPCor) realiza um amplo trabalho de documentação
e divulgação sobre políticas de ações
afirmativas no campo educacionais.
As atividades desenvolvidas pelo OLPED se sustentam no compromisso inalienável
com a educação pública, a democratização
radical do Estado e a construção de uma sociedade justa,
humana e solidária.
Nossas Atividades
Portal – www.lpp-uerj.net/olped
O portal do OLPED é um recurso de informações atuais
sobre políticas educacionais no continente. Dispõe das seguintes
seções:
Notícias
Incluem matérias recolhidas dos principais jornais de países
da América Latina e fontes alternativas, textos de opinião
de jornalistas e pesquisadores, como também documentos oficiais
de governos, movimentos sociais e sindicatos.
Centro de Documentação
Dispõe de um amplo acervo de documentos, artigos e ensaios on-line
sobre temas educacionais. Apresenta novidades bibliográficas e
disponibiliza o catálogo da biblioteca do LPP. Mais de 600 documentos
cadastrados.
Pesquisas
Resumos de pesquisas sobre educação do LPP e textos completos
de recentes pesquisas internacionais.
Campanhas e fóruns
Informações e contatos das principais campanhas educacionais
realizadas nos países da América Latina.
Reformas democráticas
Acompanhamento especial das políticas educacionais de países
escolhidos. Atualmente, acompanhamos os processos de reforma educacional
em Equador, Brasil e Argentina.
Links
Indicação de centros de pesquisa, universidades, movimentos
sociais e populares, sindicatos, organizações governamentais
e não-governamentais, que atuam na área de educação.
Resenhas Educativas/Education Review
Versão em português e espanhol da Revista Education Review
da Universidade do Arizona.
Boletim de Políticas Educacionais
Periódico produzido em parceria com a Secretaria Continental sobre
a Educação (Quebec, Canadá), divulgando novidades
e notícias sobre educação nos países das Américas.
Publicações
P Gentili & T. McCowan (org.) Reinventar a escola pública:
política educacional para um novo Brasil. Editora Vozes, Petrópolis,
2003.
M. Pini. Escuelas charter y empresas: um discurso que vende. Miño
y Dávila Editores, UNSAM, Buenos Aires, 2003.
Seminários
O OLPED realiza eventos sobre temas relacionados com políticas
educacionais nas sedes do LPP no Rio de Janeiro e Buenos Aires. As informações
encontram-se no site.
A seção
de notícias do Observatório Latino Americano de Políticas
Educacionais (OLPED)
A seção
de notícias do Observatório Latino Americano de Políticas
Educacionais (OLPED)destina-se a informar e acompanhar os acontecimentos
de maior relevância para a conquista de uma educação
pública, laica e gratuita nos diversos paises latino-americanos.
Tendo como base a preocupação de um olhar generalista sobre
os encaminhamentos dados às políticas públicas educacionais,
ou seja, um olhar atento à intersecção de pontos
que envolvam a educação nestes países.
A seleção e atualização das notícias
são feitas semanalmente através de uma triagem nos principais
jornais. Além disto, esta seção engloba opiniões,
referentes ou não aos temas trazidos pelas notícias, e documentos
oficiais. A cada atualização inserimos 12 notícias,
sendo 3 como destaque (com foto e resumo). Nos preocupamos sempre em abranger
todos os países, não se referindo somente ao acompanhamento
da política educacional de um só país ou uma só
região.
Para isso fizemos, entre a equipe, uma divisão de busca por países.
Cada membro da equipe fica responsável por selecionar notícias
e opiniões nos principais jornais on-line. Selecionando as principais
notícias sobre educação de cada país, fazemos
uma reunião de “editoração” e discutimos
quais serão inseridas no site assim como as que terão destaque,
e também discutimos de que maneira esta notícia será
veiculada, qual enfoque será dado a ela, ou seja, qual direcionamento
político irá norteá-la.
O corpo da notícia é inserido na íntegra, sem nenhuma
modificação, somente alteramos o título que aparece
na primeira página do site assim como os resumos das que entram
como destaque. E é neste título e neste resumo que expressamos
nossa ideologia política. E por isso temos uma grande preocupação
com a forma que escrevemos o título e o resumo, procurando identificar
a intencionalidade do discurso original com base na orientação
política-filosófica pautada na defesa da educação
pública de qualidade no qual o Observatório Latino-americano
de Políticas Educacionais insere sua prática.
A importância de leituras sobre diversos assuntos para a livre compreensão
dos temas abordados
A o exercício
do hábito da leitura é essencial, só através
deste hábito, exercitá-se os próprios valores e experiências.
Ao final de cada texto fica-se enriquecido com novas experiências,
novas idéias, novas pessoas e novas perspectivas de olhar sobre
o mundo, possivelmente ficando a conhecer melhor o mundo e um pouco melhor
a si próprio.
A leitura é estimulante, tal como as situações reais,
os textos podem ser intrigantes, melancólicos, assustadores, e
por vezes, complicados. Os textos partilham interesses ,sentimentos, pensamentos,
enfim uma gama infindável de ações e situações.
A leitura remete o leitor há outros tempos, outros lugares, outras
culturas, os textos o leva para situações e dilemas que
nunca podería-se imaginar que se encontrasse, ajudando o leitor
a sonhar e pensar.
A leitura esporádica desenvolve a capacidade verbal, nela aprende-se
gramática e vocabulário. Contudo, essa aprendizagem nada
é comparada com o que se pode absorver de forma natural e sem custo
através da leitura regular. Isso sem atentar para a natureza e
a qualidade da leitura pois os textos têm formas e intencionalidades
diferentes.
Algumas obras podem exigir mais dos leitores, como leituras prévias
e censo crítico , consciência das coisas implicadas em vez
de meramente descritas, sensibilidade às nuances da linguagem,
paciência com situações ambíguas e complicadas,
vontade de pensar mais profundamente sobre determinados assuntos. Esse
exercício de compreensão vale a pena, pois estas obras podem
proporcionar perspectivas e sensações que ficam na memória
para toda a vida.
O hábito da leitura cria vícios que em muitos momentos dificulta
a exploração de novas obras que estão em formatos
e linguagens distintas das habituais, é difícil muitas vezes
começar a ler livros de um novo escritor, diferentes dos habituais
o que leva o leitor a desistir ao fim de poucas páginas. Mas é
essencial perseverar, pois a boa escrita é multifacetada e complexa,
e é precisamente essa diversidade e complexidade que faz da literatura
uma atividade recompensatória e estimulante. E para exercitar essa
diversidade muitas vezes um texto tem que ser lido mais de uma vez e com
abordagens diferentes. Estas abordagens podem incluir: uma primeira leitura
superficial e relaxada para ficar com as principais idéias e narrativa;
uma leitura mais lenta e detalhada, focando as nuances do texto, concentrando-nos
no que nos parece ser as passagens chave; e ler o texto de forma aleatória,
andando para trás e para frente através do texto para examinar
características particulares tais como temas, narrativa, e caracterização
dos personagens.
Todo o leitor tem a sua abordagem individual, mas o melhor método,
sem dúvida, de extrair o máximo de um texto é lê-lo
várias vezes, para se desprender do censo comum e alcançar
novas perspectivas de interpretação. Cada leitura nova do
mesmo texto transforma este texto em novo.
O exercício
de leitura e interpretação sobre as noticias
O Exercício da leitura exige muita concentração e
um desenvolvimento psicológico bem estruturado que possibilite
a plena compreensão do que se lê, mas como se pode constatar
nas escolas e em pesquisas oficiais, poucos brasileiros entendem o que
lêem, não passam de 25% segundo pesquisa recente do Ibope.
Mas vale ressaltar que a maioria da população mantém-se
nos limites de uma deficiência educacional preocupante para o futuro
do país.
A leitura é um dos últimos refúgios da liberdade
interpretativa, diante na massificante cultura da mídia. Quem lê
cria tanto ou mais do que quem escreve, com a imaginação
solta, o leitor elabora mentalmente os cenários,compõe o
perfil dos personagens, interpreta diálogos, identifica afinidades
pessoais, discorre sobre a intencionalidade política e social de
cada frase e vive, a seu modo, a infinitude das emoções
potencialmente contidas no texto.
Pois quem lê não recebe imagens prontas, coloridas, acabadas
, como as produzidas pela televisão, tendo de construí-las
pelo processo do entendimento e interpretação.
E é nessa dinâmica interpretativa que se compõem às
notícias do Observatório Latino Americano de Políticas
Educacionais (OLPED) , dando ao leitor a margem possível de interpretação
do texto escrito. Possível pelas próprias margens limítrofes
da cada pauta abordada. Mesmo porque o leitor nunca é passivo,
exercita, o tempo todo, os mecanismos psicodinâmicos que fundamentam,
estruturam e aperfeiçoam a consciência. Por isso, desenvolve
a criatividade, refina a percepção, aprimora o senso crítico
e fica imune às manipulações que a comunicação
pela imagem veicula como ingredientes de dominação.
O exercício de leitura é problematizador, induz a reflexão,
cria hipóteses, faz pensar, desperta o senso crítico do
indivíduo. Diferentemente da comunicação pela imagem,
que é utilizada como ferramenta de controle da opinião pública,
é a negação do pensamento. Não passa de show
visual cheio de efeitos especiais que despertam a sensação
do fantástico, do extraordinário, do instantâneo e
promovem a preguiça mental do expectador por meio do deslumbramento
programado.
E o deslumbrado não critica , não pensa, admira e assimila.
Deixando de formar sua opinião, repete a que recebe, se exime de
reagir e absorva a informação como um bem acabado em si,
sem, mas ou porquês? Somente consome o todo escrito e falado, deixando-se
aculturar, sem se afirmar como ser pensante e crítico.
E por esse movimente de aculturação informativa que não
por acaso, as sociedades menos desenvolvidas e mais dominadas são
justamente as que menos lêem, ou que lêem sem refletir ou
criticar o lido, são aquelas que admitem o analfabetismo com naturalidade,
que é perpetuado deliberadamente por suas elites. E por essa forma
de dominação que um dos indicadores de desenvolvimento de
uma população na atualidade é o número de
televisores difundidos pelo país e não o número de
livros publicados ou lidos pelo cidadão. Isso por que os grupos
dominantes sabem muito bem que a palavra escrita é incontrolável
e, portanto libertadora, enquanto a imagem pode ser cientificamente produzida
para inibir a liberdade de pensamento. Nesse sentido, a palavra expressa
nas notícias do Observatório Latino Americano de Políticas
Educacionais (OLPED) pertence ao campo da revolução, enquanto
a imagem é a fonte da ilusão conservadora.
Essa prática hoje tão explorada e pensada tem suas raízes
na história da humanidade desde sua formação, podendo
ser bem explicitada durante a Inquisição, que destruía
montanhas de livros em praça pública para que não
fossem lidos. Da mesma forma, em nosso país, em um passado mais
recente os governos militares invadiam casas de supostos subversivos para
apreender e destruir livros cujos títulos e autores integravam
a lista dos proscritos do regime. Os jornais escritos foram duramente
censurados, quando não esvaziados de seus conteúdos.
Hoje essa dominação é obscura e diluída no
modo de vida capitalista que consome informação enlatada.
E com o passar do tempo , a estratégia de controle pela mídia
eletrônica produziu os resultados projetados. A invasão cultural
não tardou a nos americanizar, transformando-nos em consumidores
globalizados.
O último recanto da liberdade do pensamento vai sendo assim tomado
de assalto pela ditadura eletrônica. O pensamento humano tornou-se
prisioneiro de telas e cabos. Contudo, nos piores momentos de repressão,
nunca se deixou de escrever e ler. Ainda que clandestinamente. E foi,
quase sempre, na clandestinidade que se produziram os textos e leituras
que transformaram a história do homem. E hoje o trabalho desenvolvido
pelo Observatório Latino Americano de Políticas Educacionais
(OLPED) não precisa ser feito na clandestinidade, a liberdade de
escrita é uma arma crucial para o real desejo de informar , sem
criar sobre isso um gama de intenções dominadoras. O exercício
de apoderamento da leitura que o leitor pratica é a ruptura da
relação de poder do texto sobre ele, ou seja , quando se
tem a poder de manipular, interpretar, criticar e reescrever um pensamento,
tem-se o poder sobre este.
Considerações Finais
A leitura
é uma interação entre o texto e o leitor. Não
lemos simplesmente as palavras, mas criamos, projetamos, imaginamos a
partir do que estamos lendo, a partir das idéias do autor.
Muitas das vezes achamos que ler é algo simples, que não
implica muitas questões, mas ao ler, o leitor cria uma outra história
a partir da sua experiência e dos seus conhecimentos. A leitura
de um mesmo texto é diferente para cada pessoa que se dispõe
a lê-lo. As pessoas são diferentes, possuem seus próprios
anseios, desejos, expectativas e sonhos. Criam a partir de cada leitura,
a sua própria história e interagindo com o texto e com o
autor.
Portanto a iniciação da leitura é muito mais do que
ensinar a ler, é ensinar a ver o mundo, a interagir com o mundo.
É ensinar o homem a ter a palavra, ser autorizado a usá-la,
a construí-la e descontruí-la. A imaginar e criar, reconhecendo
a fragilidade humana.
De acordo com Sartre, temos vários tipos de indivíduos leitores,
a exemplo os “ledores” , que seriam aqueles que lêem
mecanicamente, e que assim se relacionam mecanicamente com a linguagem,
não se preocupando e se interessando em entender o texto, ou em
atuar sobre ele e o recriar. A leitura para eles não tem mistério
e grande significação.
Já para ele os “leitores” são aqueles que estão
permanentemente buscando sentidos e saberes, portanto possuem uma interação
com o texto onde reconhecem a linguagem como ambígua e a possibilidade
de interagir com o mundo através da leitura. Os leitores entram
dentro do texto e dentro dele interagem com a linguagem, criando e criticando.
E quanto ao significado dos textos, para Chartier as obras literárias,
os livros, possuem diversos significados plurais e móveis que são
construídos através da percepção do leitor.
Ao escrever um livro, o autor tem uma intenção, ele coloca
o seu próprio significado na obra. A partir do momento em que a
obra fica pronta, ela fica passível a várias interpretações,
muitas vezes diferentes da que o escritor espera. Ao lerem, as diferentes
pessoas e conseqüentemente os diferentes tipos de leitores, fazem
sua própria interpretação, dão o seu próprio
significado que depende do contexto social, econômico, espacial
e temporal em que cada ser humano está inserido. E nesse direcionamento
que o OLPED busca interagir com o seu leitor, ainda que como um leitor
também dos periódicos originais, de onde saem as notícias.
Cada um, ao ler determinada notícia , se apropria dela, por isso
um texto não possui um sentido estático, fixo e universal.
Normalmente os escritores, os poderes ou os experts insistem em fixar
um sentido e interpretar de maneira universal (que a julgam correta) as
obras, mas os leitores as distorcem: interpretando-as a sua maneira, dando
significações próprias, atribuindo sentidos diferentes.
Mas este exercício de liberdade literária não se
aprende na escola, pois é neste espaço inicial de leitura
que acontece a imposição da leitura como algo fechado em
sua própria interpretação. Não são
raros os professores que acreditam que algumas leituras não trazem
benefício algum e que são pobres de sentido e conteúdo.
E com isso acabam assim impondo um livro, um texto, que não é
de interesse do indivíduo, tornando a prática de leitura
maçante e muitas vezes sacrificante . Então como pode esse
indivíduo desenvolver a sua capacidade de crítica e escolha
literária.
Como na afirmação de Chartier “(...) ler é
sempre ler alguma coisa.” É verdade que existem vários
tipos de leituras, mas, simplificando: qualquer leitura é válida.
O indivíduo busca prazer ao ler algo que para ele é importante
e com sentido. Um educador preocupado com a formação do
leitor em sua sala de aula tem que valorizar a leitura do aluno, incentivando-o
e não impondo uma leitura que ele acha “superior”,
“importante gramaticalmente” uma “leitura adequada ao
ambiente escolar”.
Trabalhando com o que interessa ao indivíduo, e trabalhando com
outros textos, inserindo-os aos poucos, a formação do leitor
(e de um escritor) vai transcorrer de maneira natural na sala de aula
e na vida dos alunos.
Porque a leitura é uma prática imbuída de gestos,
em espaços e em hábitos. Ela não é simplesmente
uma operação intelectual, é uma relação
consigo e com os outros.
Observando a história da leitura percebemos que muitos hábitos
e gestos foram desaparecendo até cair no esquecimento. Com isso
percebemos que os leitores de hoje são diferentes dos leitores
de antigamente e que conseqüentemente as estruturas dos textos também
se modificaram (para satisfazerem aos leitores).
Assim distinguimos claramente as diferentes comunidades de leitores que
foram surgindo e desaparecendo durante os anos. E entre estas comunidades
está a Internet, onde o Observatório Latino-americano de
Políticas Educacionais se desenvolve.
Referência
CHARTIER, R. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas
na Europa entre os
séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
1994. 111p. (Tradução).
de Mary Del Priore).
PERROTTI, Edmir. Ledores, leitores e outros afins. In: Prado, Jason e
Condin, Paulo (org.). A formação do leitor: pontos de vista.
Rio de Janeiro: Argus, 1999.