|
LEITURA
DE IMAGENS DE OBRA DE ARTE, DO ENTORNO DA ESCOLA E DE MUNDO PARA CRIANÇAS
DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Suely Aparecida Iório - CEMEI “Alexandre
Sartori Faria” – PMC- SP
“...
Ao menos, o artista, ao representar o Universo tal como ele o imagina,
formula seus próprios sonhos. A propósito da natureza, é
a sua própria alma que
ele celebra. E assim enriquece a alma da humanidade. Porque, impregnando
de
seu espírito o mundo material, revela aos seus contemporâneos
extasiados mil
matizes de sentimento. Ele lhes faz descobrir em si mesmos, riquezas até
então
desconhecidas. Dá-lhes novas razões para amar a vida, novas
iluminações
interiores para se conduzir...”
(Rodin).
CARACTERIZAÇÃO
DA ESCOLA E COMUNIDADE
Não
há uma data precisa sobre a fundação do lugarejo,
mas a antiga casa da chácara Castália, a primeira que se
tem notícia, mantinha uma placa datando a construção
de 1842. O fundador da localidade foi o Major Luciano Teixeira Nogueira,
e antes de ser chamado Joaquim Egídio teve duas denominações:
Laranjal e São Luciano, em homenagem ao Major. Em 1885 a antiga
fazenda Laranjal passou a ser propriedade de Joaquim Egídio de
Souza Aranha, o Marques de Três Rios. E em 31 de dezembro de 1958
o então governador Jânio Quadros elevou o lugar a categoria
de Distrito ligado a Campinas. Durante o final do século XIX e
nos primórdios do XX, Joaquim Egídio vive sua época
áurea, marcada pela fartura e prosperidade advindos do café,
porém a crise de 1929 inicia o êxodo rural e a posterior
divisão das terras em pequenos sítios e chácaras.
A praga das brocas- do-café colabora para frustrar as expectativas
de emancipação do local, que continuou ligado a Campinas.
(Revista Sarao, n. 4, jan. 2004).
O Centro
Municipal de Educação Infantil “Alexandre Sartori
Faria” está localizado no distrito de Joaquim Egídio
a quinze quilômetros do centro de Campinas (SP). O distrito é
limítrofe de outro denominado Sousas, que juntos somam uma área
de mais de duzentos quilômetros quadrados1. Joaquim Egídio
possui uma densidade demográfica menor que seu vizinho e a população
espalha-se por fazendas e sítios obrigando as crianças a
viajarem até quinze quilômetros de ônibus para freqüentarem
o CEMEI. A professora Mônica, moradora do distrito desde 1964, conta-nos
um pouco de sua história e como era o local onde foi construída
a escola:
Meus pais
vieram morar em Joaquim Egídio quando eu tinha 1 ano de idade.
Na época nós éramos uma das poucas famílias
que não tinham parentes aqui; aos poucos fomos criando laços
e fazendo parte da história do distrito. Estudei, fiz muitas amizades,
brinquei muito de subir em árvores, comi muitas amoras e jambos
do grande pomar que tinha no terreno atrás da minha casa, que hoje
numa parte está localizado o CEMEI “Alexandre Sartori Faria”,
que foi construído após a reivindicação dos
moradores para uma creche e no qual atualmente sou professora efetiva.
O atendimento
abrange crianças de três meses a seis anos de idade, moradoras
dos dois distritos tanto da área rural quanto urbana. Porém
deixa de atender a um número igual de crianças que a freqüentam,
ou seja, aproximadamente cento e vinte em lista de espera que dificilmente
serão absorvidas durante o ano em curso. A escola é bastante
procurada pelas famílias para obtenção de vaga para
seus filhos porque é o único equipamento municipal da região
que atende tanto berçário, quanto crianças maiores
e em período integral.
Além disso, possui um trabalho de qualidade reconhecido pela comunidade
que há alguns anos vem percebendo a diferença entre cuidar
e educar para a vida. As famílias, em sua maioria, têm pouco
poder aquisitivo; vinte por cento das crianças freqüentes
vêm da área rural. Aproximadamente cinqüenta por cento
das matriculadas
têm a mãe como provedora da família e em trabalho
doméstico sem registro. A jornada de trabalho das mães e
a distância do CEMEI dificultam uma participação maior
delas no dia-a-dia de seus filhos e a comunicação que se
faz comumente no portão com as educadoras passa a ser feita num
caderno de recados.
Sousas e Joaquim Egídio pertencem a uma área de proteção
ambiental, que é procurada por incorporações imobiliárias
para condomínios de residências de médio e alto padrão
e por comerciantes, para abertura de restaurantes e bares com mesas
sob árvores em locais bucólicos. As fazendas começam
a implantar passeios ecológicos nos antigos e extintos cafezais
e grupos de pessoas buscam as trilhas nos finais de semana para as caminhadas
prazerosas. A escola possui cinco turmas divididas por faixas etárias
denominadas de Agrupamentos:
* 1A - Berçário
com crianças de três meses a dois anos;
* 2A - dois a três anos;
* 2B - três a quatro anos;
* 3A - quatro a cinco anos e
* 3B - cinco a seis anos incompletos.
Fazem parte
da equipe do CEMEI “Alexandre Sartori Faria” um diretor educacional,
um vice-diretor e um orientador pedagógico – que divide suas
trinta e seis horas de trabalho semanais com outras duas escolas. Completam
o quadro cinco professores, monitores em número suficiente para
atender ao módulo de cada turma de acordo com a idade, um professor
itinerante para atender as crianças com necessidades especiais
– que também divide sua jornada com outras duas escolas –
, três merendeiras, três serventes e um guarda.
A REALIDADE,
AVANÇOS E DIFICULDADES
Em educação
nada é tão fácil e bonito como às vezes pode
parecer. O número de monitores nunca foi o ideal nos quatro anos
que estive na direção da escola. Ora porque não havia
servidores concursados suficientes para assumirem o trabalho, ora
porque os que trabalhavam estavam em licença saúde. Também
faziam falta os afastados temporariamente por questões administrativas
ou em projeto de redução de jornada de oito para seis horas.
Assim, aqueles ainda na ativa necessitavam dobrar horas para atender as
crianças, que sofriam as conseqüências pelas várias
mudanças em curto espaço de tempo. A equipe toda tentava
se cotizar. Inúmeras vezes o pessoal da limpeza, da cozinha, os
especialistas e o guarda assumiram funções que não
eram as suas, auxiliando os monitores.
Comumente esses funcionários de apoio participam no CEMEI “Alexandre
Sartori Faria” de atividades relativas ao projeto e na rotina da
creche, colaborando para a premissa que numa escola todos são educadores.
No ano de 2004, o rodízio de profissionais foi intenso. Uma professora
esteve em licença gestante e houve um processo de remoção
voluntária de monitores numa época imprópria, durante
o período letivo, antes que os novos monitores ingressantes pudessem
tomar posse. Houve grande movimento também nos agrupamentos com
saídas e chegadas de crianças, o que é muito comum
em escolas de educação infantil, principalmente no berçário,
que é o agrupamento mais sensível da creche. Neste setor
as crianças são dependentes dos adultos para tudo, exigindo
atenção constante da equipe, pois qualquer falha na rotina,
que é bastante intensa, poderá ter conseqüências
sérias. Todo cuidado é pouco. Alguns acontecimentos nos
levaram a tomar atitudes enérgicas e necessárias para o
momento, o que causou mudança na constituição da
equipe e uma conseqüente quebra na sintonia da mesma, tanto nas relações
interpessoais como na continuidade do projeto pedagógico, como
se constatará no relato daquele setor. Geralmente no planejamento
educacional para atendimento da demanda infantil, as redes públicas
utilizam-se de um módulo que distribui o número de crianças
por adulto para as diversas faixas etárias. Existe ainda um cálculo
estatístico baseado na freqüência média mensal
que é utilizado para as novas matrículas. Na maioria das
vezes esses dados não refletem as licenças médicas
constantes de funcionários e comumente quando essas ausências
ocorrem não há planejamento para disponibilizar pessoal
para substituí-los, mas as crianças estarão presentes
para serem atendidas. Ainda, a assiduidade das crianças depende
de muitos fatores, inclusive de variações climáticas
e até mesmo de transporte, como é o caso da zona rural,
portanto para oferecer novas matrículas são necessários
não somente dados demonstrativos, mas analisá-los cuidadosamente
e com responsabilidade.
Como constantemente a demanda reprimida tem que ser absorvida, pois existem
os movimentos populares clamando por vagas e pressionando as autoridades,
os administradores e gestores escolares sofrem pressões para efetuar
cada vez mais um número maior de matrículas. Quando isso
acontece, a tendência é haver um “inchaço”
nas turmas e na escola com a criação de novas classes podendo
sobrecarregar os profissionais e surgir até situações
de risco para as crianças. O CEMEI “Alexandre Sartori Faria”
tem mantido uma média constante de alunos matriculados e isso tem
sido um fator importante na qualidade do trabalho pedagógico. Quando
os novos monitores, ingressantes no serviço público, assumiram
seus cargos na escola, iniciaram sem a devida experiência em lidar
com a criança, sem saber ao certo como são as atividades
de higiene que compreendem: trocar fraldas, banhar, escovar os dentes,
trocar as roupas e também auxiliar o sono, cuidar para que a criança
seja alimentada adequadamente e ainda administrar medicamentos, que fica
a critério da direção, juntamente com o conselho
de cada escola fazer ou não. Optou-se na escola administrar mediante
receita médica, uma vez que a criança permanece no mínimo
dez horas do dia no CEMEI e as mães não podem deixar seus
trabalhos para medicá-los, pois perderiam seus empregos.
Essa inexperiência involuntária requer tempo e disposição
para ser sanada, interesse pessoal e empenho para tentar acompanhar o
projeto que está em andamento. O dinamismo de cada um irá
incutir um ritmo que poderá ou não contagiar a equipe mas
será sentido por todos, inclusive pela criança. Além
do cuidar, existe a parte pedagógica onde o monitor é importante
na medida em que deve estar integrado ao professor na discussão,
elaboração e no desenvolvimento das atividades no restante
do dia, como demonstram os textos que relatam o desenvolvimento dos trabalhos
por projetos que compõem esse livro. No serviço público
geralmente enfrentamos situações diárias de despreparo
em todos os níveis da prestação de serviços
à comunidade.
Para tentar sanar essas falhas são necessários: a criação
de instrumentos de avaliação, uma adequada formação
das equipes em serviço, ouvir a população e mais
especificamente as comunidades em suas demandas locais. Quando os cursos
de formação são oferecidos e disponibilizados, geralmente
não são levados em consideração os diversos
níveis de profissionais, as especificidades e atribuições
de cada cargo, nem mesmo o local onde o equipamento está inserido,
negando sua identidade que deixa de ser priorizada. Mais particularmente
na educação, as questões ambientais, por exemplo,
tendem a serem unificadas para toda uma rede, como se a fórmula
mágica da resolução de questões pedagógicas
pudesse ser estendida da região onde existe uma APA – Área
de Proteção Ambiental – para outra desprovida de árvores
e plantas, como os assentamentos em nossa cidade. Além disso, pelo
retorno que essas práticas têm demonstrado, os cursos não
têm garantido resultados profícuos nas escolas.
Pelo que vivenciamos no CEMEI, acreditamos que são necessárias
pessoas gabaritadas inclusive na área de ensino, além de
possuírem conhecimentos técnicos ou formação
acadêmica, participando ativamente para dar suporte, questionar,
trazer avanços, acompanhar as reuniões de formação
quando elas existem no espaço da escola, pois é lá
que tudo acontece. Como na maioria das vezes isso não ocorre, o
gestor educacional, no nosso caso o núcleo de direção
da escola e sua equipe, dependem de conhecimentos pessoais, trocas de
favores, pessoas com grau de amizade que venham gratuitamente e voluntariamente
dar sua contribuição para que o projeto saia do papel e
se torne realidade.
Assim aconteceu ao longo desses quatro anos na escola.
Contamos com diversos profissionais nas mais variadas áreas, moradores
idosos da comunidade que nos brindaram com suas memórias, artistas,
pintores, escultores, escritores, artesãos.
Além disso, muitas saídas de nossos alunos pelas redondezas
a pé ou em ônibus fretados, para que suas sensações
fossem garantidas e suas sensibilidades trabalhadas. Tivemos a grande
colaboração do subprefeito de Joaquim Egídio, assim
como dos funcionários do distrito2 que nos atenderam não
somente no dia-a-dia da escola, mas nos eventos programados. Ocupamos
os espaços públicos que nos foram oferecidos para vivências,
exposições, festas, teatros. Outros espaços foram
conquistados, como a trilha que liga Sousas a Joaquim Egídio3,
para a colocação de placas indicativas e de denominação
de plantas e animais, um dos produtos do projeto. No trabalho do CEMEI,
em que sua realidade foi priorizada e seu entorno tem sido valorizado,
trabalhamos apesar de todas as dificuldades surgidas e temos conseguido
um resultado de qualidade graças ao esforço e ao interesse
de sua própria equipe para dar andamento as suas questões.
Como na maioria das redes, não havia dotação de verba
da Secretaria de Educação destinada para contratação
de consultoria para desenvolvimento de projeto na escola. Tivemos porém,
a sorte e a honra de termos ao nosso lado uma profissional com uma longa
experiência em formação de educadores, com várias
obras publicadas, inclusive em trabalhos por projetos, meio ambiente e
arte educação, a Dra. Margareth Brandini Park, pesquisadora
do Centro de Memória da UNICAMP, que tem participado voluntariamente,
“por amor à arte de educar e no sonho de conquistarmos dias
com qualidade de vida melhor e adultos mais conscientes”.
DIRETORA
- MÃE
Assumi a
direção do CEMEI em fevereiro de 2001. Comigo trazia Thiago,
meu filho de sete meses que iria freqüentar o berçário.
Era uma experiência totalmente nova para mim, não da direção
da creche, mas especificamente daquela, pois segundo informações
de colegas possuía um quadro de profissionais com grau de formação
e com trabalho efetivo acima da maioria dos outros CEMEIs da Rede Municipal
de Educação de Campinas. Além do pessoal, a estrutura
física, apesar de necessitar conservação e de pequenos
reparos, tinha um projeto arquitetônico interessante; todas as salas
de aula com portas balcão maiores que as usuais dando acesso para
a parte externa da escola, paredes de tijolinho à vista ao natural,
vitrôs enormes com vidros e sem grades pintados de verde, fugindo
ao padrão de todas as escolas que eu conhecia. Emoldurando o prédio,
árvores em toda a sua volta e de muitas variedades, dentro da escola,
nos quintais dos vizinhos, na rua e em todo o itinerário que dá
acesso à escola.
Além da expectativa de assumir um local novo eu chegava com outra,
a de ser mãe e diretora, tarefa nem sempre conciliatória,
mas que de alguma maneira teria de ser garantida. A mãe acompanha
a rotina de seu filho na escola, participa dos eventos, das reuniões
de pais com educadores, escreve bilhetes referentes a seu filho no caderno
de recados. A mãe diretora faz tudo isso, porém planejando
no mínimo para uma centena de crianças, além de supervisionar
todas as áreas da escola, da cozinha à limpeza, da área
pedagógica à segurança do portão, sem esquecer
de manter uma boa comunicação com a comunidade e com todos
os equipamentos em seu entorno.
Uma situação não muito agradável em alguns
momentos da mãe-diretora é o de conviver com outras mães
funcionárias ou professoras que têm seus filhos no mesmo
CEMEI. Para nós, mães, é difícil presenciarmos
outras pessoas com nossos filhos, desempenhando as funções
de higiene, alimentação, etc, principalmente quando ainda
bebês, pois acreditamos ser as mais indicadas para isso e as que
melhor desempenham essas tarefas.
No entanto quando em horário de trabalho, durante uma reunião
ou tendo uma turma inteira para dividirmos nossas atenções,
necessitamos ultrapassar essa dificuldade para sermos realmente educadoras.
Nem sempre isso ocorre e a diretora, além de
lidar com essa luta interna com relação ao seu filho tem
que tornar explícita essa falha para as outras mães da equipe.
A gestora de uma escola toma decisões que nem sempre agradam a
seus colegas. Mas não pode se dar ao luxo de pensar em agradar
quando sob sua responsabilidade tem todo o funcionamento da escola, que
não pode parar e quando conta com a
confiança dos pais que trabalham o dia todo sabendo que seus filhos
estarão bem. A mãe-diretora é ciente dos problemas
de inter-relacionamento da equipe, percebe sua influência na sensibilidade
da criança, então deverá buscar meios para amenizar
e
tornar o trabalho pedagógico o mais prazeroso possível nas
doze horas de funcionamento da escola. De que forma? Como?
Tendo a arte como desencadeadora e constitutiva do processo.
A arte dentre tantas possibilidades que pode desencadear, estimula o interesse
em aprender, nos torna sensíveis para pequenos detalhes despercebidos
no cotidiano e aflora sentimentos ocultos.
“... o fundamental é que se aprenda a aprender. O mesmo valendo
para
as atividades estéticas e sensíveis: ao invés de
uma catadupa de informações
acerca das artes e artistas, uma educação mais voltada ao
desenvolvimento
da sensibilidade, do corpo, para que este aprenda a se relacionar de
maneira mais íntegra e plena com o mundo ao redor”
(Duarte Jr).
A SENSIBILIZAÇÃO
DE MAÕS DADAS COM A ARTE
Sou arte-educadora
e trabalho há anos com formação de educadores nessa
área. Pude perceber a diferença qualitativa que o contato
com a arte possibilita nas essoas. Ela sensibiliza o ser humano, possibilita
uma maior reflexão sobre a vida, os sentimentos, o mundo e com
isso produz uma melhora significativa na expressão daqueles que
se deixam tomar pelo prazer que ela proporciona. Nos vários momentos
de reunião pedagógica no início de 2001, lancei a
idéia de trabalharmos arte com a equipe e com as crianças.
A idéia caiu em solo fértil e surgiram propostas de projetos
para trabalhos com música e plástica. Depois de algumas
adequações e muitas conversas foi esquematizado um grupo
de estudos que aconteceu em módulos, cada um com dez encontros.
As atividades foram coordenadas por duas professoras4 que desenvolveram
a área de plástica.
Esses estudos tinham como objetivo sensibilizar os educadores e estes,
a tarefa de desenvolver atividades com seus alunos adequando-as às
várias faixas etárias e cada equipe formada de professor
e monitores planejaria essas atividades conjuntamente.
Para isso os professores receberiam horas pagas referentes a desenvolvimento
de projeto e os funcionários, horas-extras5. Os módulos
se seguiram e diversos artistas como pintores e escultores foram trazidos
através de suas obras para conhecimento da equipe e muitas atividades
experienciadas, o que despertou as pessoas para esse mundo tão
falado e distante, mas pouco vivido, que é o da arte. Na avaliação
de final de ano o projeto foi aclamado para ter continuidade no ano seguinte.
Em 2002, outra professora assumiu a coordenação do projeto
denominado de arte-educação6.
Houve avanço nos trabalhos e um movimento de sair da escola para
mostrar os resultados em outros locais.
Em um desses momentos, num encontro na UNICAMP, trocamos convites mútuos
com uma assessora pedagógica do município de Jarinu7; iríamos
dar oficinas naquele município e ela viria ao CEMEI. Os convites
foram aceitos por ela e por nós8.
Em 2003, iniciamos uma pesquisa de temas que contemplassem a memória
local, a arte e os problemas no entorno da escola e, portanto, Joaquim
Egídio e Sousas. Por dois anos seguidos houve enchentes nos dois
distritos causados pelo Rio Atibaia. Em parte pelo movimento normal na
vazão das chuvas e em parte pelo assoreamento das últimas
décadas, as populações de Sousas e Joaquim Egídio
sofreram as conseqüências com isolamento e perda de bens. Diante
desse quadro, a equipe da escola elaborou um único projeto denominado
“Memória, Cultura Popular e Meio Ambiente”, que englobou
os existentes na escola: Bibliotecas Escolares, Arte Educação
e Memória9 e que teve como eixo central o Rio Atibaia.
Esse título tem o objetivo de integrar e dar um tratamento interdisciplinar
às questões e assuntos, discutindo no CEMEI com a equipe
e as crianças, chamando a comunidade para participar e devolvendo
a ela, de diferentes formas: reuniões de pais e educadores, protestos
através de faixas, palestras, sinalizações na trilha,
criação de jornal e sugestões para a melhoria da
qualidade de vida.
Durante o desenvolvimento do projeto, enquanto diretora da escola10 procurei
dar o suporte necessário tanto material quanto pedagógico
à realização do mesmo, adquirindo:
* livros
com temas que abordassem os vários assuntos explorados;
* máquina fotográfica digital, que auxiliou na confecção
do jornal, convites para exposições, documentação
diária das turmas, material de apoio;
* impressoras para computador;
* imagens de obras de arte xerocadas e coloridas, de boa qualidade, utilizadas
para leitura com as crianças;
* material de apoio como sementes, frutas que não vinham no cardápio
normalmente, mas que eram necessárias para conhecimento das crianças,
papéis diversos, tecidos, tintas para fins diversos, pincéis,
etc;
* textos xerocados e disponibilizados para toda a equipe;
* reuniões de formação, de trabalho docente e para
oficinas profissionais com conhecimentos específicos para os diversos
temas.
Foram providenciadas
também melhorias na área da escola como:
* a construção de uma casinha de bonecas em tijolos, para
o faz-de-conta tão necessário ao imaginário infantil;
* um espaço utilizado para ateliê e brinquedoteca com uma
boa variedade de materiais, brinquedos e ainda inúmeras obras de
arte doadas por artistas da região para comporem nosso acervo;
* reforma na biblioteca que, juntamente com outros espaços do CEMEI,
é rodiziada pelas crianças diariamente para que as atividades
aconteçam.
Como a valorização
dos funcionários depende também dos espaços físicos
que lhes são oferecidos nos locais de trabalho e do aspecto que
eles apresentam, foi realizada uma reforma na escola e conseqüente
melhoria, para que os funcionários se alimentassem e descansassem
mais adequadamente. Para que os objetivos elencados anualmente se concretizassem
toda a equipe trabalhou planejando festas, confeccionando doces, vendendo
pizzas, participando de bingos, etc.11.
Percebo que a integração na escola será maior na
medida em que o diretor se dispuser a participar ativamente nas ações
dos educadores.
Acreditando nisso, disponibilizei também livros de arte de minha
biblioteca, discuti com a equipe ouvindo idéias, sugerindo, aceitando
críticas, acatando, discordando, enfim sendo realmente uma pedagoga
aprendiz. Ao meu lado tive a sorte de contar com duas vice-diretoras.
Cada uma em seu tempo e a sua maneira trouxe contribuições
significativas, marcantes com suas personalidades e preciosas na divisão
das tarefas e idéias12 . Esse livro é um recorte do projeto
“Memória, Cultura Popular e Meio Ambiente”, que se
encontra em seu terceiro ano em andamento. As muitas indas e vindas, o
movimento diário de todas as turmas em plena atividade com as vozes
das crianças e dos adultos, os olhares curiosos e as mãos
sujas de tinta, infelizmente não podem ser retratados aqui na sua
riqueza total. Fica, porém um pequeno exemplo de um trabalho rico
e dinâmico no ano de 2004, um ano difícil e trabalhoso em
todos os sentidos, mas por isso mesmo desafiador, que passou a ter para
nós todos um sabor de vitória. Como não poderia deixar
de ser, para que o sonho do livro se concretizasse em realidade, e pudéssemos
compartilhá-lo com os leitores e colegas educadores a comunidade
está trabalhando ativamente.
Um jantar foi programado no Restaurante Dona Dinha em Joaquim Egídio,
bastante disputado principalmente nos finais de semana pela comida saborosa
e caipira, para cobrir os custos referentes ao nosso livro. Com as mesas
sob as árvores e o canto dos pássaros ao redor, sentiremos
os odores e comeremos antes com os olhos observando sua confecção,
uma deliciosa Paella patrocinada pelo Marcelino13, proprietário
do local e grande entusiasta do projeto. Outros patrocinadores estão
se cotizando: Luiz Antônio Monari da Mona’s Flowers, Júlio
Cabrino da Cabrino Auto-Peças, a gráfica Duo Paper, Didática
Vestibulares e João Ricardo Butuem da TGT Design. Agradecemos também
ao Marcelo Moscardi Nishiyama da Netow Papel S/A. que além de patrocinar
o papel para impressão do livro tem sido parceiro em vários
momentos desse percurso.
NOTAS
1 Dados disponibilizados
por José Ricardo M. Amaral, da Coordenadoria Sócio-econômica
da SEPLAMA, Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Meio
Ambiente da Prefeitura Municipal de Campinas.
2 Senhor Antonio João Zanata, sub-prefeito, os funcionários
Antonio Frizarin, o “Tonico”, Sebastião Rodrigues Bueno,
Amauri Ruffi, Sebastião Frizarin, Olício José Bento
e Wilson Furtuozo. In memorian Ibirajara Ataide Jr, o “Bira”.
3 Chamada de “linha” pela comunidade, essa trilha fazia parte
do percurso de bondes que ligava Campinas à antiga Fazenda das
Cabras, passando por Sousas e Joaquim Egídio. Atualmente ela é
preservada e bastante utilizada para passeios a pé.
4 Beatriz Angélica Alcântara C. Camarcio e Mônica Eduarda
de Almeida Pena.
5 Essa possibilidade existia até o final do primeiro semestre de
2004. Atualmente as horas para desenvolvimento de projetos foram incorporadas
à jornada dos professores, porém com número bem inferior
ao necessário. Cabe aqui ressaltar que o pagamento de horas para
o desenvolvimento de um projeto não garante seu
rendimento, o alcance dos objetivos ou a participação efetiva
da equipe, mas sim uma autonomia da escola na escolha de temas próximos
a sua realidade e pessoas gabaritadas para assessorarem a equipe nas suas
reflexões.
6 Kátia Salvador de Souza Coutinho.
7Dra. Margareth Brandini Park, integrante da equipe de pesquisadores do
Centro de Memória da Unicamp.
8 Profª. Kátia S. de S. Coutinho e Suely Aparecida Iório.
9 Cada um deles coordenado respectivamente pelas profas. Claudia Lambiasi,
Kátia S. de S. Coutinho até sua licença gestante
e Mônica Eduarda de Almeida Pena.
10 Aposentei-me em fevereiro de 2005.
11 Esclarecemos que as escolas de educação infantis municipais
de Campinas recebem uma verba bimestralmente para despesas como conta
telefônica, pequenos reparos, material pedagógico, aquisição
de equipamentos, inclusive de informática, mas que não abarcava
o montante que necessitávamos para o desenvolvimento
do projeto.
12 Flávia de Barros Ferreira Leão, em exercício na
escola desde setembro de 2002, que possibilitou um avanço com seus
conhecimentos de informática, sua formação acadêmica
e seu compromisso com o trabalho na educação. Maria Teresinha
de Lourdes Sangion Pierina, de fevereiro de 2001 a setembro de 2002, que
cooperou no equilíbrio das inter-relações pessoais
e participou ativamente dos primeiros grupos de estudos em arte educação,
incentivando todos da escola a participarem também.
13 Jaime Marcelino Pissolato do Restaurante Dona Dinha, rua Valentim dos
Santos Carvalho, 37.
BIBLIOGRAFIA
DUARTE JR.,
João Francisco, O Sentido dos Sentidos, a educação
(do) sensível. Curitiba - PR, Criar Edições, 2003.
GSELL, Paul. Uma entrevista com Rodin. Humanidades mês de jul./set.
1984, vol 2, n. 8, p. 128 - 9.
PARK, Margareth Brandini & IÓRIO, Suely Aparecida, Arte Educação
e Projetos - Tao Sigulda para Crianças e Educadores, Jundiaí,
Árvore do Saber, 2004. |
|