Dagmar Oliveira da Silva Ruiz Lima – UNIR/FAIR
- Mestre em Educação e Linguagem
Isabel Gomes de Moraes - Graduada em Letras – UNIR/FAIR
Este estudo, em nível de graduação,
teve a finalidade de investigar a orientação de pais na
formação dos leitores e conhecer como é feito o incentivo
ao hábito de leitura pelos pais de alunos de 5ª série
das Escolas Públicas de Rondonópolis. Optou-se por fazer
esta pesquisa pelo fato de saber como se constrói um leitor e como
o mesmo é inserido na convivência com livros. Investigou-se,
neste estudo, as seguintes questões: “Há influência
por parte dos pais na formação de seus filhos como leitores?”;
“De que maneira os pais orientam seus filhos, a fim de formá-los
leitores?”. Diante destas questões, o procedimento metodológico
utilizado foi a pesquisa qualitativa, com o método fenomenológico,
utilizando-se da técnica de coleta de dados qualitativa (entrevista
e grupo de discussão). Tais instrumentos possibilitaram a análise
dos dados a partir de três categorias:C1 corresponde à importância
da leitura; C2 corresponde à categoria gosto pela leitura e C3
corresponde à categoria incentivo à leitura.
INTRODUÇÃO
Tendo em vista a dificuldade de se fazer um leitor e levá-lo à
convivência com livros na sociedade brasileira, constata-se que
muitas vezes o hábito de ler é substituído pela forte
influência da televisão que aos poucos aniquila a vontade
de ler textos escritos, não permitindo assim, a busca de livros
pelas crianças e/ou adolescentes.
Nesse sentido, optou-se por estudar como acontece a orientação
de pais na formação de leitores de 5ª série
do Ensino Fundamental em escolas públicas, com intuito de buscar
respostas às minhas indagações: se o leitor em sua
formação recebe influências dos pais ou não.
Se há incentivo, de que forma é feito.
Esta problemática cuja temática centra-se na leitura, mas
voltada para orientação de pais na construção
da identidade de leitores, teve por objetivo geral verificar se há
interferência dos pais na formação de leitores de
5ª série do Ensino Fundamental e cujos objetivos específicos
são identificar se os pais influenciam seus filhos na formação
destes como leitores; e ainda, apontar como é feita a orientação
dos pais aos filhos enquanto futuros leitores, utilizou-se de questões
tais como: há influência por parte dos pais na formação
de seus filhos como leitores?; De que maneira os pais orientam seus filhos,
a fim de formá-los leitores?
Com intuito de buscar resposta a essas questões, primeiramente,
fez-se uma fundamentação teórica em diversos pesquisadores
que trabalham com leitura, por meio da pesquisa bibliográfica.
A seguir, utilizou-se da pesquisa qualitativa, visto que essa privilegia
muito mais o processo do que o produto, sendo isso o foco dessa pesquisa.
Nesse sentido, centrou-se no método fenomenológico, através
do qual tentou-se compreender tanto os significados como os acontecimentos
e as interações com as pessoas. A técnica de coleta
de dados utilizada foi a qualitativa: entrevista (com cinco pais e cinco
alunos de escola pública) e grupo de discussão ( técnica
de coleta a partir de discurso produzido por um grupo de pessoas com finalidade
de coletar opiniões e/ou argumentos a respeito de um determinado
tema).
Tais instrumentos de coleta de dados possibilitam a obtenção
de informações importantes para o objetivo da investigação,
visto que provocam autoconfissões dos participantes e propiciam
a obtenção de informações de natureza qualitativa
de um número determinado e limitado de pessoas.
A fundamentação teórica baseou-se em três itens,
tais como: “O ato de ler no contexto educacional – uma prática
metalingüística” em que foi abordado o tema “Leitura”
centralizada no contexto escolar, de acordo com Martins (2003), Orlandi
(1999), Mariani (1998) e Geraldi (2004), os quais propõem que a
leitura de textos escritos deve fazer parte do cotidiano dos educandos,
visto que na escola esta prática muitas vezes é substituída,
ou melhor, limitada pela utilização do livro didático,
não incentivando assim, o gosto pela leitura.
A seguir foi abordado “O ato de ler: várias visões
de leitura” por Martins (2003), Orlandi (1999), Geraldi (2003,2004),
Silva (2002). Para Martins (2003), a leitura trata-se de algo dinâmico
e que depende da circunstância, pode-se dizer que há três
níveis básicos de leitura, o nível sensorial , o
emocional e o racional . Estes níveis se inter-relacionam devido
à condição humana de inter-relacionar sensação,
emoção e razão desde a tentativa de se expressar
como na busca pelo sentido e pela compreensão de si próprio
e do mundo.
Já Orlandi (1999, p.07) conceitua leitura como uma atribuição
de sentidos tanto na escrita como na oralidade, ou seja, a leitura é
vista pela autora numa visão polissêmica. Também pode
significar concepção, quando usada no sentido de “leitura
de mundo”; e ainda, no sentido acadêmico, leitura pode significar
construção teórica e metodológica a partir
da aproximação de um texto. Daí o fato de poder surgir
várias e possíveis leituras de um texto. Já em termos
de escolaridade a leitura pode ser vinculada à alfabetização
tendo então caráter de aprendizagem formal.
Geraldi (2004) define leitura como um processo de interlocução
entre leitor e autor mediado pelo texto. Esse processo pode ser feito
pelo leitor diante do texto conforme a postura adotada pelo leitor, ou
seja, leitura como busca de informações , até leitura
como estudo do texto ; leitura como pretexto e ainda leitura como fruição
do texto .
De acordo com Silva (2002), o ato de ler significa participar mais crítica
e ativamente da comunicação humana, uma vez que a aquisição
de novas informações e a expansão de horizontes decorrentes
de várias leituras propicia diálogos mais freqüentes
e comunicações mais autênticas.
Por último, foi tratado sobre a “Leitura: prática
sociointeracionista dentro e fora da escola” por pesquisadores que
abordam a importância da relação dialética
entre professor e aluno na construção do conhecimento.
De acordo com Orlandi (1999, p.35) leitura é uma questão
lingüística, pedagógica e social, pois são domínios
do conhecimento que estão integrados à leitura. É
preciso, segundo a autora, lembrar que o aluno no seu cotidiano convive
com diferentes formas de linguagem na sua relação com o
mundo. Tal fato é desconsiderado pela escola uma vez que, a escola
não considera, em sua reflexão metodológica e em
sua prática pedagógica outras formas de linguagem que não
seja a verbal. A escrita é priorizada enquanto que a oralidade
é deixada de lado. Na definição de aluno-leitor a
escola exclui a relação desse aluno com outras linguagens
e também a prática de leitura não-escolar.
Para Geraldi (2004) o ensino de língua portuguesa deveria centrar-se
na prática de leituras de textos; na prática de produção
de textos e por fim, na prática da análise lingüística.
Segundo o autor, através dessas práticas, na escola, poderia
se ultrapassar a artificialidade do uso da linguagem na sala de aula,
e possibilitar o domínio efetivo da língua padrão
nas modalidades oral e escrita.
De acordo com Lajolo (2001), o mundo que é representado na literatura
é fruto da experiência que o autor tem de sua realidade histórica
e social. O autor e o leitor compartilham um universo que é criado
e recriado a partir da leitura. Esse universo corresponde a uma síntese
que pode ser intuitiva, racional, simbólica ou realista, no momento
da leitura, mesmo que esse momento (do aqui e agora) do leitor não
coincida com o momento do (aqui e agora) do escritor.
Rangel (2002) enfatiza que nada substitui a leitura, uma vez que ler trata-se
de uma prática básica e essencial para a aprendizagem em
qualquer nível, seja ele do 1º grau à pós-graduação
e em qualquer circunstância, seja ela na escola ou fora dela. Porém,
nem sempre a leitura é um ato agradável e prazeroso. Ler
pode ser desagradável devido ao conteúdo, à forma
do texto, às habilidades requeridas que são: a atenção,
a concentração, a acuidade, a perseverança e o domínio
da linguagem; o momento pessoal (emocional) pode também influenciar,
e ainda o fato de um texto não corresponder às expectativas
e interesses do leitor.
Dentro da escola a leitura é tratada por vários estudiosos,
como foram citados no trabalho; assim como a leitura fora da escola (de
mundo, audiovisuoral, não verbal, etc...). No entanto, quando se
procura enfocar a leitura fora da escola, vista sob a perspectiva de orientação
de pais não se consegue literatura para esse assunto.
Foram encontrados trabalhos (artigos) de: Vicente Martins – Professor
da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), de Sobral, Estado
do Ceará, o qual abordava sobre “O papel da família
na aprendizagem da leitura”; e de Maurilo Clareto / AE, que abordava
“Como despertar na criança o interesse pela leitura”.
Nesse sentido, pretende-se verificar, nesse trabalho, se há ou
não influência de pais na formação de leitores
e como são as estratégias de orientação desses
pais.
Para uma melhor realização da análise dos dados,
foi necessário dividir os dados coletados por meio de entrevista
e grupo de discussão em categorias tais como: C1 => Importância
da leitura; C2 => Gosto pela leitura e C3 => Incentivo à
leitura.
Nesse sentido, foram estudados alguns teóricos tanto para a realização
da fundamentação teórica quanto para abordar o método
de pesquisa utilizado neste trabalho.
Dessa forma, acredita-se que esse estudo possa contribuir de forma positiva
a todos os envolvidos com a formação de leitores, seja no
período da infância ou da adolescência.
MÉTODOLOGIA DE PESQUISA
À princípio Lüdke e André (1986,
p.02) dizem que pesquisa é uma atividade normal de um determinado
profissional da educação, seja ele professor, administrador,
orientador, supervisor e avaliador, etc. Em outras palavras, a pesquisa
é algo que deve fazer parte da vida diária do educador,
em qualquer âmbito que atue, pois ela é um instrumento cuja
função é o enriquecimento do trabalho no processo
de ensino-aprendizagem. Trata-se de uma atividade que exige tanto habilidades
como conhecimentos específicos.
Segundo Lüdke e André (op. cit., p.03), é preciso lembrar
também que a pesquisa, vista como atividade humana e social, traz
consigo uma carga de valores, de preferências, de interesses e de
princípios que orientam o pesquisador; e que em seu trabalho de
pesquisa o pesquisador deve refletir sobre os valores e os princípios
considerados importantes na sociedade da época, pois a visão
de mundo e os pontos de partida, bem como os fundamentos necessários
para a compreensão e explicação do mundo, no momento
da pesquisa influenciam as propostas; ou seja, os pressupostos que orientam
seu pensamento também norteiam sua abordagem de pesquisa.
Com relação à modalidade de pesquisa a ser abordada
neste trabalho, esta é bibliográfica porque segundo Marconi
e Lakatos (2001, p.43-44) esta modalidade de pesquisa é efetuada
com intuito de levantar toda a bibliografia já publicada, seja
em forma de livros, revistas e publicações avulsas como
também imprensa escrita. Tem como finalidade colocar o pesquisador
em contato direto com tudo que já foi escrito sobre determinado
assunto, com o objetivo de permitir ao cientista reforço durante
a análise de suas pesquisas ou manejo de suas informações.
A bibliografia pertinente propicia definição e resolução
não só de problemas já conhecidos como também
exploração de novas áreas, cujos problemas não
se fixaram ainda.
De acordo com Marconi e Lakatos (op. cit, p.44), a pesquisa bibliográfica
é também considerada como o primeiro passo de toda pesquisa
científica, pois ela permite a compreensão de que a resolução
de um problema pode ser obtida por meio dela.
Também foi utilizada, neste estudo, a modalidade de pesquisa qualitativa,
uma vez que esta abrange a obtenção de dados e colhidos
e complementados pelas informações obtidas através
do contado direto do investigador com a situação em que
está sendo estudada (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.47).
Conforme Lüdke e André (1986, p. 12), neste tipo de pesquisa,
o mais importante é o processo e não o produto, uma vez
que a tendência é mostrar a visão dos participantes.
Em outras palavras, ao estudar um determinado problema, o pesquisador
interessa-se em verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos
e nas interações cotidianas. Pode-se dizer que será
estudada a realidade, em seu contexto natural, procurando dar sentido
e interpretar os fenômenos conforme os significados que as pessoas,
envolvidas no contexto, possuem.
Os investigadores qualitativos têm por objetivo compreender tanto
o comportamento e a experiência humana como o processo mediante
o qual as pessoas constroem significados, e ainda como interpretam os
significados. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.50-51).
De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p.53), a modalidade de pesquisa,
qualitativa é também de abordagem fenomenológica,
pois segundo os autores, a fenomenologia tenta compreender os significados
que os acontecimentos e as interações têm para as
pessoas, ou seja, a fenomenologia trata da experiência subjetiva
vivida por uma pessoa.
Segundo Psathas (1973) citado por Bogdan e Biklen (1994, p. 53) “A
investigação fenomenológica começa com o silêncio”.
Este “silêncio” é uma tentativa para captar aquilo
que se estuda. “[...] temos à nossa disposição
múltiplas formas de interpretar as experiências, em função
das interações com os outros e que a realidade não
é mais do que o significado das nossas experiências”
(GREENE, 1978 apud BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.54).
Creswell (1998) autor citado por Paz (2003, p.151), diz que “[...]
Um estudo fenomenológico descreve o significado das experiências
vividas por uma pessoa ou grupo de pessoas acerca de um conceito ou fenômeno”.
Mélich (1994, p.50) apresenta as idéias de Van Manen (1990,
p.9-13) que diz que o sentido e as funções da investigação
fenomenológica se resumem em:
[...] A investigação fenomenológica
é o estudo da experiência vital do mundo, da vida e do cotidiano.
[...] O cotidiano é a experiência não conceitualizada.
A investigação fenomenológica é o estudo da
essência; [...] da verdadeira natureza dos fenômenos [...].
[...] É a descrição dos significados vividos [...].
A fenomenologia procura explicar os significados em que estamos imersos
em nossa vida cotidiana [...] o predomínio de tais ou quais opiniões
sociais, ou a freqüência de alguns comportamentos.
A investigação fenomenológica é a exploração
do significado do ser humano [...] no mundo [...] e no contexto sócio-cultural.
[...] A fenomenologia busca conhecer os significados que os indivíduos
dão à sua experiência, o importante é apreender
o processo de interpretação pela qual as pessoas definem
seu mundo e atua em conseqüência. O fenomenológico tenta
ver as coisas desde o ponto de vista de outras pessoas, descrevendo, compreendendo
e interpretando (In RODRIGUES; GIL; GARCÍA, 1996, p.40-42).
Nesse sentido, pretendeu-se, neste estudo, descrever um
determinado fenômeno – a orientação de pais
na formação dos leitores - buscando conhecer os significados
que os indivíduos (os pais e os filhos) dão às suas
experiências de leitura, considerando o ano de 2004 (período
de agosto a novembro).
Com relação à técnica de coleta de dados,
a mesma foi qualitativa, uma vez que foi feita por meio de entrevista
(coleta a partir de discurso - gravações) e realizada com
pais e alunos da 5ª série do Ensino Fundamental, em Escola
Pública. Os sujeitos entrevistados formam um total de 10 pessoas,
sendo cinco pais e cinco alunos (de escola pública). A escolha
foi feita indistintivamente, a partir da disponibilidade e disposição
dos sujeitos.
Nesse estudo, investigou-se o fenômeno do processo de orientação
dos pais na formação de seus filhos como futuros leitores.
Outra técnica de coleta de dados foi a partir do grupo de discussão
apoiado em García e Cáceres (2002, p.01), os quais dizem
que:
O grupo de discussão é uma técnica
de investigação que se registra em um campo de produção
de discursos, em análises de processos reflexivos individuais e
coletivos, o objetivo geral desta técnica no limite da presente
investigação é detectar opiniões e argumentos
que justifiquem uma atuação pedagógica determinada
[...].
Segundo os autores, a investigação por meio
de grupos de discussão é organizada estrategicamente de
acordo com os interesses do investigador.
Trata-se de um intercâmbio ‘cara a cara’ entre pessoas
que possuem um interesse comum para discutir um tema, resolver um problema,
tomar uma decisão ou adquirir informação por contribuição
recíproca. Tudo dentro de um máximo de espontaneidade e
liberdade de ação, limitando somente pelo cumprimento mais
ou menos flexível de algumas normas gerais que favorecem o processo
e diferenças desta técnica de um bate papo ou conversação
corrente (GARCÍA; CÁCERES, 2002, p.03).
Os autores citam as seguintes normas:
[...] A discussão se realiza em torno de um tema
previsto que interessa a todos, distanciando-se o menos possível
do mesmo.
O intercâmbio de idéias segue certa ordem lógica,
tem coerência e congruência com o tema a investigar, não
se realiza caprichosamente ao acaso; gira em torno do objetivo central,
mesmo que o curso da discussão deve deixar-se à espontaneidade
do grupo.
O grupo designa um facilitador ou coordenador para ordenar a discussão,
cargo que deve ser rotativo para desenvolver a capacidade de condução
de todos os membros.
A discussão se desenvolve em um clima democrático, sem hegemonia
de nenhum dos membros e com o maior estímulo para a participação
ativa e livre (GARCIA; CÁCERES, 2002, p.03).
De acordo com Krueger (1988, p.24, autor citado por GARCÍA; CÁCERES,
2002), um grupo de discussão permite conseguir informações
importantes para o objetivo da investigação, por meio de
procedimento adequado; e tem como objetivo provocar autoconfissões
nos participantes e obter informações de natureza qualitativa
de um número determinado e limitado de pessoas. Ainda conforme
o mesmo autor, (op.cit, p.33), “uma das grandes vantagens desta
técnica é que entrega informação em profundidade,
aponta também o caráter social da mesma [...] e [...] as
pessoas com seus comentários influem entre si, se contextualiza
os sujeitos em situações naturais”.
Dessa forma, com base nos autores citados, foi realizado um grupo de discussão
formado por cinco pessoas, entre as quais quatro pais e um aluno de 5ª
série de escola pública, com intuito de obter informações
e opiniões a respeito da importância da leitura para os pais,
bem como sobre a orientação destes na formação
de seus filhos como futuros leitores.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com intuito de conhecer como se dá a orientação
de pais na formação dos leitores da 5ª série
do Ensino Fundamental, em específico na Escola Pública,
na cidade de Rondonópolis, focalizou-se a sistematização
do tema proposto que foi investigado através do método de
coleta de dados feito por meio dos discursos de pais (P) e alunos (A)
na entrevista e grupo de discussão para que fosse realizada a análise
dos mesmos.
Nesse sentido, após realizadas e transcritas tanto as entrevistas
quanto o grupo de discussão, optou-se por dividi-las em categorias
(C1= Importância da leitura; C2= Gosto pela leitura; C3= Incentivo
à leitura) a fim de analisar melhor os dados obtidos.
Na primeira categoria (C1) relacionada à importância da leitura,
de acordo com as entrevistas e o grupo de discussão, pôde-se
constatar que a leitura é vista como um ato de suma importância
tanto para aquisição de conhecimentos, busca de informações
e aperfeiçoamento da fala e da escrita, como também proporciona
viagem (através da imaginação) e conhecimento de
lugares e culturas diferentes, conforme ditas pelos entrevistados e pelos
componentes do grupo de discussão:
[...] através da leitura que a gente aprendi a
faláá [...] a escrevêê [...] i com a leitura
a gente adquire um monte de conhecimento [...] (P1- entrevista).
A leitura [...] ela é muito importante pras pras
pessoas né [...] porque faiz a gente viajáá [...]
conhece novos lugares [...] é [...] a vê a cultura de otas
pessoas [...] (P2- grupo de discussão).
[...] traz informações, a pessoa desenvolve
[...] bastante
(P4 - grupo de discussão).
Os discursos relatados anteriormente parecem comprovar
as afirmações de Martins (2003, p.30) quando diz que a leitura
desperta a curiosidade, estimula a fantasia, provoca descobertas e, também,
leva-nos a outros tempos e lugares sejam eles imaginários ou não.
É também, quando Geraldi (2004) diz que a leitura como busca
de informação pode ser realizada com roteiro previamente
elaborado ou ser realizada apenas com intenção de verificar
que informações o texto dá.
Percebeu-se também, com relação a esta categoria
– Importância da leitura – que o ato de ler é
fundamental para o desenvolvimento da expressão oral e da escrita,
conforme sugerem os discursos anotados por meio da entrevista e do grupo
de discussão:
Eu achu [...] aaa [...] importância da leitura [...]
porque tem um velhu ditado que diz: quem [...] lê mal [...] escrevi
mal [...]; i hoje o mercado di trabalho, pra essaa [...] juventude que
tá vindu por aí [...] u mercado di trabalho é muito
exigenti [...]. Qualquer bom imprego hoji cê tem qui sê [...]
passáá pelum teste [...] da intrevista [...] i quem [...]
lê [...] mal [...] automaticamente vai se expressá mal. I
a entrevista [...] desclassifica no momento. I quando você vai prestá
qualquer vestibular [...] o que mais elimina hoji é a redação
[...], i quem lê [...] mal [...] sairá mal na redação.
(P5 - grupo de discussão).
[...] você qué fazê um concursuu [...]
prestar um vestibular [...] cê tem que tá pur dentu das leituras
[...]. (P3 - grupo de discussão).
Os discursos acima citados estão de acordo com
a idéia de Silva (2002) o qual diz que quando a pessoa aprende
a ler ou lê para aprender, a pessoa desenvolve um ato de conhecer
e compreender as realizações humanas registradas através
da escrita, uma vez que a comunicação envolve tanto falar
e escrever que é uma forma de exprimir mensagens, quanto ouvir
e ler que é uma maneira de receber mensagens.
Silva (2002, p.42) diz inda que a “Leitura está intimamente
relacionada com o sucesso acadêmico do ser que aprende [...]”.
Já com relação à segunda categoria (C2) –
Gosto pela leitura – foi possível identificar, por meio dos
discursos analisados que a maioria dos entrevistados gostam de ler textos
escritos. Lembrando que os entrevistados formam um total de 10 (dez) pessoas
e o grupo de discussão composto por 06 (seis) pessoas. E que o
gosto pela leitura centra-se em livros de aventura, poemas, gibis e revista:
Gostu di lê [...] aquieles li [...] livros de gibis
[...] (A1- grupo de discussão).
[...] eu gostu muito de lê [...] ( P2 - grupo de
discussão).
Bom [...] eu adoru lêê [...] o meio de comunicação
mais [...] que eu mais valorizu é a leitura [...] ( P4 - grupo
de discussão).
Gostu [...] poesia (A1 - entrevista).
Gostu [...] é poesias [...] ( A3 - entrevista).
Gostu [...] éé [...] tipo éém
[...]qualquer tipo de livro éém [...] por exemplo “Harry
Potter e a Pedra filosofa” éém [...] poesias [...]
(A4 - entrevista).
Gostu [...] reviista éé ah! Quê que eu gosto! Reviista
[...] (P2 - entrevista).
Adooro [...] tudo ( P1- entrevista).
Sim. Ah! Livros [...] livros, romances, revista [...]
(P4 - entrevista).
Gosto, é que agora não dá mais tempu
de ler mais eu gostu de lê. Iishi, quando eu não trabalhava,
eu lia bastante livro aqueles Best Seller, romance, veja [...] (P5- entrevista).
De acordo com os trechos citados tanto na entrevista como
no grupo de discussão por P e A, percebe-se que a leitura é
tida como prazerosa. Nesse sentido, Geraldi (2003) diz que quando o ato
de ler se resume em ler por ler de forma gratuita, sem o interesse pelo
controle do resultado, só pelo prazer de se informar, é
muito melhor.
Os discursos citados anteriormente parecem também, comprovar as
afirmações de Geraldi (2004) quando diz que os alunos lêem
clássicos da literatura; como por exemplo, no discurso de A3 (entrevistado)
que cita “Poemas do mar” como sendo um de seus livros preferidos.
Como também no discurso de A1 (entrevistado) que diz que gosta
de ler poesia e A4 (também entrevistado) que gosta de ler clássicos
e poesia.
Na terceira categoria (C3) relacionada ao incentivo à leitura,
pôde-se verificar por meio das entrevistas e do grupo de discussão
que há incentivo à leitura por parte dos pais aos seus filhos:
Incentivo [...] mais [...] só tem um que gosta
[...] o outro [...] eu compro livros [...] faço assinatura de revista
infantil [...] de gibii [...] pra incentiva a lêê mais [...]
o caçula nu nu gosta, o mais velho gosta [...] de lê bastante
(P1 - entrevista).
Incentivo [...] todos os dias, toda hora [...] (P3 - entrevista).
Sim, bastante ( P4 - entrevista).
Incentivo [...]. eles pegam livros da biblioteca, mais
eu acho que elis fais di conta que lê. [...] o mais novo gosta di
lê [...] ( P5 - entrevista).
[...] sempri peçu pro meus filhos sempri tá
lendu [...] procurando [...] sempri uma revista [...] um jornal [...]
uma vez até um gibi [...] pa vê a curiosidade delis na leitura
[...] (P1 - grupo de discussão).
[...] sempre nós incentivamos a leitura [...] na
compra de livros [...] incentivando aaa [...] leitura do livro [...] jornal
[...] (P5 - grupo de discussão).
De acordo com os discursos acima citados, verificou-se
que muitos pais (cujas profissões são: bancário,
vendedor, empresário, eletricista e operadora de caixa) gostam
de ler e se preocupam com o interesse dos filhos com relação
à leitura. Incentivam seus filhos através de conselho para
que leiam, como também através da compra de livros, seja
por solicitação da escola ou por vontade própria,
comprando então, livros infantis ou gibis a fim de despertar, no
filho, o gosto pela leitura.
Esse fato pode ser comprovado por meio dos seguintes discursos:
[...] minha mãe comprou pra mim [...] ééé
[...] todos “Tudo que as garotas gostam de fazeer” [...] (A2
- entrevista).
[...] di poema os que eu peço pra eles (A3 - entrevista).
[...] minha mãe comp... minha mãe comprou
esse “Amor éé [...] Amizade e Felicidade” éém
[...] compra comédia éém [...] livro, livro clássico;
um montão de livro (A4 - entrevista).
[...] compro. Tudo que sai, que eles querem eu compro.
Tudo [...] coleção, várias coleção
tem em casa (P3 - entrevista).
[...] compro. Sempre que necessário e quando a
escola pede também eu compro os livros éé [...] de
aventura [...] (P5 - entrevista).
Nesse sentido, as palavras de Geraldi (2003, p.26) vão
de encontro às atitudes dos pais entrevistado, quando diz que o
professor deve deixar que os alunos leiam livremente livros indicados
pelos colegas, pela curiosidade ou pela capa e/ou título, pois
segundo o autor “a quantidade ainda gera qualidade”.
Assim, pode-se dizer que os pais entrevistados não deixam que apenas
a escola fique incumbida de proporcionar leituras aos seus filhos, pois
eles, os pais, se preocupam e cumprem o papel de incentivar e comprar
livros, não só os que são solicitados pelo(a) professor(a),
mas também os que seus filhos pedem ou que acham interessantes
para estimular a leitura deles.
Buscou-se no decurso deste trabalho conhecer como se dá a orientação
de pais na formação dos leitores de 5ª série.
E, para esse conhecimento o embasamento teórico serviu como base
sistematizada para melhor compreender os dados coletados e desvendar os
objetivos propostos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante deste estudo cujo objetivo foi verificar se há
interferência dos pais na formação de leitores de
5ª série do Ensino Fundamental, foi preciso investigar se
há ou não influência por parte dos pais na formação
de seus filhos como leitores; e também investigar de que maneira
os pais orientam seus filhos, a fim de formá-los leitores.
É necessário salientar que a literatura especializada, consultada,
serviu como base para melhor entender os dados coletados, desvendar os
objetivos propostos e responder à problemática do presente
estudo.
Sabe-se que muitas vezes o hábito de ler textos escritos é
substituído pela forte influência da televisão que
aos poucos vai aniquilando, nas crianças e adolescentes, a vontade
de ler livros. Por isso, o foco de interesse nesse estudo foi a orientação
dos pais na formação de seus filhos como leitores.
Nesse sentido, os pais podem influenciar seus filhos e incentivá-los
a se tornarem leitores; como também, podem levá-los à
convivência com livros desde que gostem de ler e transmitam aos
filhos determinada apreciação por meio de suas próprias
atitudes de leitores.
Por meio dos dados obtidos na entrevista e no grupo de discussão,
foi detectada a importância da leitura; bem como a relevância
no seu estímulo, uma vez que de acordo com pais entrevistados,
o hábito de ler textos escritos propicia a aprendizagem tanto da
escrita quanto da fala; como também abre os horizontes com relação
a novos conhecimentos e se adquire informações necessárias
à instrução.
É de suma importância, colocar que as respostas dos entrevistados
e dos participantes do grupo de discussão vão de encontro
às questões investigadas, ou seja, a importância da
leitura, bem como seu incentivo, de acordo como os sujeitos, é
necessário para o desenvolvimento cultural e para o convívio
social.
É claro que a ausência do incentivo à leitura, compromete
a formação de leitores, pois o incentivo é fundamental
para o desenvolvimento do hábito de leitura.
Portanto, os sujeitos investigados por meio da entrevista e do grupo de
discussão demonstraram conhecer a importância da leitura
e sua necessidade para o sucesso tanto social como cultural.
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