Ana Cristina Dias Rocha Lima - Centro de Atendimento
Terapêutico e Educacional - CATE/PARAIBUNA/SP.
INTRODUÇÃO
O Sistema Braille é um dos principais recursos
que enriquecem o trabalho educacional e de reabilitação
com cegos, ampliando seu acesso nos seguimentos sociais. Foi pensado um
projeto para J. utilizando esse sistema, O CORPO HUMANO e portanto, recebe
esse nome, estando dividido em 1º semestre e 2º semestre. No
1º semestre foi trabalhado as partes do corpo: membros, cabeça
e tronco, e suas funções. No 2º semestre será
trabalhado a identidade de cada aluno e os cinco sentidos: olfato, visão,
audição, percepção tátil. Junto a esse
projeto foi acoplado um segundo projeto, que tem o mesmo objetivo: trabalhar
o corpo humano e a identidade de cada aluno, o de musicalidade.
Foram pensadas: orientação e mobilidade, para deslocação
da pessoa com deficiência visual; o uso dos sentidos remanescentes:
tato, audição, olfato, fazendo relação com
os objetos significativos do ambiente.
A desorientação prejudica a mobilidade da
pessoa com D.V., fazendo com que a considerem desajeitada. Devido a isso,
é necessário desenvolver a orientação e mobilidade
do cego, visto que assim, ele terá condições de usufruir
e exercer o direito de ir e vir com independência. (LEÃO,
2005;359)
O trabalho com o aluno cego, foi realizado depois de verificar o que ele
já sabia com relação a mobilidade, orientação
espacial; além de poder observar sua independência e dependência
em algumas atividades de vida diária ou de atividades extra-classe,
como passeios, exercícios físicos e outros.
O princípio fundamental do trabalho foi criar condições
de aprendizagem às necessidades educacionais especiais do aluno,
deficiente visual, ressaltando suas competências num currículo
significativo, funcional e individualizado.
Pretendeu-se enfatizar a independência desse aluno, desde as atitudes
básicas, como se vestir, andar sozinho, comer sem auxílio,
leitura pelo sistema Braille e musicalidade.
O aluno participou das atividades, sendo capaz de tecer suas críticas
a respeito do que lhe foi proposto e até mesmo chegou a sugerir
outras. Sua participação começou a de ser mais ativa
do que apenas um mero telespectador.
O trabalho também contou com a participação dos demais
colegas do aluno, do professor de música que trabalhou individualmente
com o grupo e de forma coletiva com os demais alunos da escola.
A interdisciplinaridade é definida por alguns autores como a interação
e reciprocidade de diferentes disciplinas cujo propósito é
restabelecer o diálogo entre elas através do intercâmbio
de conteúdos e métodos.(ZULIAN, 2004 ;202)
As aulas de música foram verdadeiras trocas com
as demais atividades de outras disciplinas que se teceram no decorrer
do trabalho, servindo de mote para se pensar num projeto a ser desenvolvido
como foi o do Corpo Humano. A musicalidade difere das aulas de música,
pelo o uso de materiais diversificados apenas para estimulações:
tátil, olfativa e auditiva. Tendo como materiais utilizados CD´s,
palmas, batidas de pés, batidas na mesa, cantos iniciais, peças
musicalisadas, fantoches e musicalidade. Todo o trabalho se fez em pequenas
partes, formando um mosaico do conhecimento que sugerem uma construção
contínua de conhecimento, atrelado a reflexões constantes
da prática pedagógica.
O TRABALHO COM A REALIDADE DE UM ADULTO COM MÚLTIPLA
DEFICIÊNCIAS: DEFICIENTE VISUAL E DEFICIENTE MENTAL.
J. é um rapaz de 21 anos, que nasceu com cegueira
congênita, ou seja, sua cegueira é de nascença, portanto
não tem como ele voltar a enxergar. Além da cegueira ele
tem também uma síndrome, que é um conjunto de doenças,
que lhe causou uma deficiência mental, mas o diagnóstico
na verdade ainda não foi fechado. Quando se fala de J., diz-se
que ele é um rapaz com múltipla deficiência. Ele estuda
no Centro de Atendimento Terapêutico e Educacional—CATE em
Paraibuna, uma pequena cidade do interior de São Paulo. Esse centro
está localizado num sítio que foi alocado em outubro de
2003. Para locomoção, utiliza-se do transporte gratuito
da prefeitura. O trajeto pega parte da rodovia e depois parte da estrada
de roça: estrada de terra. Infelizmente, o CATE não foi
mudado para o centro da cidade, essa possibilidade é parte do projeto
da atual gestão da prefeitura que deu início às obras,
que estão em andamento sem data de conclusão.
O espaço cedido para realização do trabalho é
uma casa de família que foi dividida para o funcionamento do centro.
O terreno é dividido em duas partes: inferior e superior. Na parte
inferior funcionam três salas de aulas, a administração,
e as salas dos terapeutas; na parte superior funciona o refeitório.
Ligando esses espaços há uma rampa descoberta e de concreto.
No caminho há muitas árvores, que caem delas constantemente
folhas, galhos e taturanas. Alguns alunos chegam a sentar pelo caminho
por não conseguirem completar o trajeto de uma vez. Quando chove,
o lanche é oferecido na parte inferior. J. desce e sobe a rampa
com seu irum, bengala para cegos, sozinho sem auxílio, pois ele
já se acostumou com o trajeto.
A sala em que J. estuda, é pequena, tem um banheiro nela e está
sendo dividida com mais nove alunos, todos adultos e com deficiência
mental. No entanto, há vários sindrômicos na sala:
1 menino com Síndrome de Lennox Gaustaut; 1 casal com Síndrome
de Down, 1 menina com Paralisia Cerebral e com degeneração
muscular progressiva, 5 alunos sem diagnóstico fechado.
O trabalho com J. foi realizado a partir de alguns dos conceitos que ele
já construiu do mundo ao seu redor. Os conceitos de cor, espaço,
tamanho, espessura, largura, tempo, textura e outros, que implicam em
aumentar a capacidade do aluno e diminuir a sua desvantagem social.
Como todas as incapacidades, a desvantagem total da pessoa
cega resulta dos efeitos cumulativos de (a) a própria deficiência
e suas limitações inerentes; (b) os estigmas sociais que
se manifestam nos estereótipos culturais do cego; (c) o conceito
de eu da pessoa cega. (TELFORD & SAWREY, 1978; 369)
Tudo o que foi trabalhado com o aluno cego, foi pensando
em uma possível correlação, por exemplo: como ensinar
cor para um cego congênito?
Para muitos especialistas não se ensina, mas para J. as cores foram
ensinadas e aprendidas da seguinte forma: vermelho é igual ao fogo;
verde lembra o cheiro de capim; amarelo é a gema do ovo ; azul
é o ar que nós respiramos, e outros.
O adjetivo belo também foi ensinado a ele, também, dessa
forma correlativa. Foi-lhe dito que belo é como um perfume muito
gostoso, ou que poderia ser algo que ele gostasse muito, e ele disse ser
a sua mãe.
O alfabeto foi ensinado a ele pelo Sistema Braille e feito correlação
com objetos que ele conhecia, nomeava, identificava e podia segurar: uma
bola pequena é entregue na sua mão, em seguida lhe perguntava
o que é? Depois de respondido, trabalhava-se a sonorização
da palavra e a primeira letra.
J. atualmente tem seguido uma rotina constante devido a sua múltipla
deficiência. Logo que chega na sala de aula, ele quer ir ao banheiro
e vai sozinho, pois já está bastante familiarizado com o
trajeto da sua carteira até ao banheiro. Procurou-se não
fazer mudança nenhuma na sala, quando isso ocorria ele era imediatamente
informado. Depois do banheiro, ele ora, canta, participa da chamada, do
calendário e das atividades propostas.
O calendário é trabalhado com J. também pelo Sistema
Braille.
Oralmente se trabalhou os dias da semana, a data, mês, ano e o tempo:
se está chuvoso, ensolarado, parcialmente nublado ou nublado. Em
seguida é entregue ao aluno números em Braille para que
ele identifique e nomeie, depois ele cola no caderno, com auxílio
da professora. O mesmo acontece com os outros trabalhados oralmente: dia
da semana, data, nome da cidade e ano.
Destacou-se nessa rotina os trabalhos: com o tempo, pois lhe era entregue
um algodão molhado que representava o tempo chuvoso; uma folha
pequena e seca de uma planta qualquer, representava o tempo ensolarado;
quando ele ia representar o tempo parcialmente nublado, fazia uso de um
algodão e uma folha secos. Essas são algumas das correlações
trabalhadas com J. O outro trabalho, com a alimentação,
cujo objetivo foi ensinar as noções espaciais, postura,
mastigação, posicionamento da comida no prato e o uso de
ferramentas necessárias para exercer o ato de comer. Um prato com
divisórias, foi e é utilizado com o aluno para esse fim.
Corrobora a essa prática pedagógica, o método do
sentido horário, segundo FLEMING (1998; 113), para usar na identificação
da posição do prato de comida na mesa. No entanto o aluno,
por não ter somente a deficiência visual mas a mental também,
foi preciso fazer uso de repetições de treino de forma significativa
para que ele não esquecesse e fosse utilizado em dias posteriores
ao da aprendizagem. Alguns exercícios eram esquecidos pelo aluno,
pois ele não conseguia recordar. Foi utilizado um exercício
de horas com o aluno da seguinte forma, desenhou-se no chão uma
circunferência, com raio de 2m, para que o aluno pudesse entender
em que sentido o relógio se movimentava andando em cima da linha,
com auxilio docente, no sentido horário e a partir daí,
pensou-se em gradativamente, ensinar as horas e depois poder passar para
o prato. Esse trabalho é o único que ainda está em
andamento e não foi concluído, e tem recebido inúmeras
críticas por outros funcionários e profissionais que lá
trabalham e que não tem concordado com a atividade. No entanto,
pensa-se ser muito cedo para interromper com a atividade, mesmo porque
a mãe do aluno aderiu a essa prática do prato com divisórias.
O aluno também revelou satisfeito com o prato, que não tem
dificultado sua alimentação e muito menos ocasionado algum
infortúnio. Foi perguntado a ele se queria trocar o prato e sua
resposta foi negativa. Então, solicitou-se que o prato, só
seja retirado a partir do momento que ele estiver seguro dessa atividade
de auto-cuidado e de desenvolvimento motor.
A chamada também foi trabalhada pelo Sistema Braille, porém
foi dado ênfase somente na sonorização da palavra
e na primeira letra. J. atualmente conhece o seu nome e dos colegas pelo
sistema aprendido.
A noção popular de que os cegos são
dotados de audição, tato, paladar e olfato hiperagudos ou
de memória fenomenal é consideravelmente errônea.
As pesquisas demonstram sistematicamente que as pessoas dotadas de visão
se igualam ou superam os cegos em sua capacidade de identificar a direção
ou distância da fonte de som, de discriminar as intensidades relativas
dos tons, de reconhecer formas táteis e de distinguir pressões,
temperaturas ou pesos relativos, assim como na acuidade do olfato, paladar
e sentido vibratório. Os cegos tampouco manifestaram superioridade
na memória lógica ou mecânica . Qualquer superioridade
do cego nas áreas perceptuais é o resultado do aumento de
atenção às pequenas pistas e detalhes e ao seu maior
uso como fonte de informação e orientação.
Segundo parece, não é o resultado de um abaixamento dos
limiares sensoriais. (TELFORD & SAWREY, 1978; 379)
Tendo para reflexão os pensamentos de TELFORD
e SAWREY, pensou-se em trabalhar, também, a musicalidade para estimular
o aluno nas áreas de desenvolvimento: motor, auto-cuidados, cognição,
socialização e linguagem. Dessa forma foi trabalhado com
o aluno músicas de CD’s, músicas cantadas em sala
de aula, na chegada à escola, o hino nacional; assim como em apresentação
de dança, em atividades lúdicas: utilizando-se do acompanhamento
do rítimo com palmas, pés, balanço da cabeça
e do corpo. Foi montado um trabalho de música diferenciado para
o aluno e oferecido por um outro professor , que fez uso de instrumentos
diversificados como o triângulo, o violão, o pandeiro e outros.
A PRÁTICA FUNDAMENTADA NA TEORIA: RESULTADOS DE
UM TRABALHO
Os resultados indicaram a satisfação do
aluno com o trabalho pedagógico desenvolvido.
Foi possível constatar que houve mudança na prática
pedagógica cuja experiência promoveu um processo educacional
que atendeu às necessidades educacionais especiais do aluno, por
meio das condições que lhe foram criadas e que atenderam
as áreas de desenvolvimento motor, cognição, linguagem,
socialização e auto-cuidados.
O trabalho também auxiliou na formação moral e cívica
do aluno, que se mostrou mais crítico, participativo, livre e autônomo.
Apesar das dificuldades quanto o local, o espaço de trabalho, o
auxílio médico, psiquiátrico e fonoaudiológico,
a prática pedagógica implementada foi enriquecedora.
O trabalho denotou alguns pontos positivos e outros negativos. O primeiro
se faz presente na independência do aluno: andar, comer, escovar
os dentes, ir ao banheiro, tudo isso sem ter que precisar de auxílio.
O segundo fica explícito pelo ambiente físico e a falta
de recursos materiais, que atrapalharam muito o trabalho pedagógico.
Falta de materiais: reglete, livros em Braille, computador para cegos
e outros.
Aliar teorias aos trabalhos empíricos recorrentes dos procedimentos
de legitimação pedagógica na sala de aula também
foi parte integrante dos objetivos do trabalho desenvolvidos com o aluno.
A experiência entre professor e aluno nesse ambiente como espaço
de troca de valor resultou em diferentes formas de conhecer, saber e aprender.
O aluno em uma dessa condições precisa de material didático
especializado, como regletes, soroban, além do aprendizado do código
Braille, e de noções sobre mobilidade e locomoção,
atividades de vida diária. Ele também tem o direito de conhecer
e de aprender a utilizar ferramentas de comunicação, que
por sintetizadores de voz possibilitam aos cegos escrever e ler, via computadores.
(MANTOAN, 2004;137)
O trabalho não contou com soroban, com reglete,
ou outros materiais industrializados para o cego, mas foi confeccionado
pelo profissional, nesse caso pela professora, que trabalhou com o Sistema
Braille, a partir de materiais de sucatas, como miolo do papel higiênico,
caixas de ovo, folhas amassadas e outros. Foi pensado o material depois
de conhecer as necessidades básicas do aluno, que muitas vezes
precisou se revisada e modificada para criar condições significativas
de ensino-aprendizagem ao aluno.
As atividades só foram possíveis de serem modificadas, pela
pesquisa histórica que se fez do deficiente visual, a pessoa cega.
EDUCAÇÃO PARA CEGOS
Na Antigüidade Pagã, as pessoas cegas eram marginalizadas,
tinham como destino a mendicância e o abondono, enquanto que a Idade
Média sobressaíam-se, fazendo disto uma profissão.
Após 1.200 começam a aparecer os primeiros asilos e instituições
beneficentes. Os primeiros centros de reabilitação no qual
o cego treinado desempenha normalmente todas as atividades da vida diária,
após a 2ª Guerra Mundial. Em 1784, em Paris surge a primeira
escola para cegos. Valentim Haiiy é considerado “o pai dos
cegos” por ter fundado o Institution Nationale des Jeunes Aveugles,
criando uma escrita em relevo, para permitir a leitura aos cegos pelo
tato. Várias outras escolas, a posteriori, foram criadas a semelhança
dessa.
Em 1.800, na Inglaterra surge novo método, baseado nas letras maiúsculas
do alfabeto latino, trazendo uma complexidade enorme na escrita.
Ano de 1809, nasce em uma pequena aldeia, Louis Braille, filho de um seleiro.
Tinha 3 anos quando feriu o olho esquerdo com um sovela (instrumento de
ferro e aço, em forma de aço cortante e profundo, usado
para furar o couro para ser costurado). O olho direito é atingido
pela infecção e então vem a cegueira. Passou a ir
à escola com uma bengala, aos 7 anos, no Instituto Haiiy em Paris.
Aprende a tocar órgão e violoncelo aos 15 anos com Teresa
Von Paradise, sendo admitido como organista da igreja de Santa Ana em
Paris.
Os estudos no Instituto Haiiy o levou a cargo de professor, onde ficou
lecionando para cegos, ainda no Instituto conhece Charles Barbier, um
militar francês, que criara um código de comunicação
de pequenas mensagens para serem lidas no escuro, pequenos conjuntos de
pontos que representam sons. A partir daí, Braille começa
a estudar um novo método, estudou mais de três anos, adaptando-o
até conseguir desenvolver um conjunto de pontos em relevo representando
letras.
O mesmo instrumento que lhe tirara a visão passara a ser seu instrumento
de trabalho, superando assim um passado doloroso. Seu método precisou
ser ensinado às escondidas, devido a escola já ter gasto
muito com os enormes livros de tamanho exagerado e de difícil manuseio,
provando gradativamente sua funcionalidade e difundindo-o.
Seu método consistia na criação de seis pontos salientes,
63 combinações, que representavam letras simples e acentuadas,
pontuações, algarismos, sinais algébricos, contrações
estenográficas e sinais para música.
“Em colaboração com Foucault, Braille introduziu novas
modificações no processo, para mais fácil comunicação
entre indivíduos videntes com os cegos. O método foi, mais
tarde, modificado por Victor Ballu, antigo aluno de Braille.”
Existem outros dispositivos que podem servir de auxílio para o
ensino e estímulo da pessoa cega,
A educação dos cegos requer o auxílio
de muitos dispositivos “áudio”. Gravadores, toca-fitas
e toca-discos são coadjuvantes necessários de sua vida escolar.
Professores de recursos ou itinerantes podem marcar tarefas ou dar instruções
especiais em fita gravada. O material didático não acessível
em Braille pode ser gravado em fita ou disco. As gravações
são normalmente lidas à razão de 150 a 170 palavras
por minuto—consideravelmente mais rápido do que a leitura
em Braille. (TELFORD & SAWREY, 1978; 384-385).
Esses dispositivos são os únicos a serem
pilar de sustentação a aprendizagem da pessoa cega; há
também auxiliares de aritmética para cegos, auxiliares educativos
e outros.
Trabalhar com esses materiais e dispositivos, tem-se que acima de tudo,
acreditar no trabalho que se traçou e que se quer desenvolver com
a pessoa deficiente, nesse caso o deficiente visual: cego. Quem não
acredita no trabalho não pode conseguir desenvolver o seu trabalho,
pois a ação pedagógica está sempre atrelando
a teoria a prática e vice-versa. Até porque o professor
tem que estar sempre atento às mudanças nessa área,
procurando se informar, capacitar, pesquisar, pois o professor que pesquisa
chega mais perto da realidade do seu aluno. SILVA (2005; 36)
Nesse sentido é muito importante que o professor esteja atento
a ação pedagógica, de forma a refletir suas concepções
e crenças, valores e desacordos, no intuito de reconstruir o conhecimento
que lhe vai atrelando com a troca do dia-a-dia com o aluno, no fazer coletivo,
nas ações plurais, no encontro com seus pares.
As concepções que não se desfazem por simples associações,
muito menos por meio delas somente, é preciso que o professor crie
condições de aprendizagem o tempo todo, para que o aluno
perceba o significado do que está sendo aprendido de forma a apreender
o que lhe foi proposto.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Apesar das atividades não serem realizadas com
todo um auxílio tecnológico que há, e nesse sentido
se quer fazer referência a um material mais simples, como um computador
para cegos, percebeu-se que o trabalho teve êxito educacional.
O problema do aluno J. é que ele tem múltiplas deficiências:
visual e mental, que tem sido alvo de constantes estudos para poder adaptar
atividades, materiais, trabalhar a socialização, o trato
com animais, em fim criar as condições necessárias
de aprendizagem para que o aluno se desenvolva.
Essa pesquisa foi pensada para que esse fim fosse alcançado, mas
os resultados apontam que a prática pedagógica teve seus
pontos positivos e negativos. O primeiro está firmado pela independência
alcançada pelo aluno na locomoção em sala de aula
e fora dela, como subir e descer a rampa, entrar e descer do ônibus
que o transporta do centro da cidade até a escola e vice-versa;
de comer; nas áreas de auto-cuidados: limpar-se, escovar os dentes,
andar, ir ao banheiro, tudo sem ajuda. O segundo aparece emergido em situações
de ambiente físico desapropriado, falta de recursos materiais,
compreensão e respeito de alguns profissionais com o trabalho que
está sendo desenvolvido.
Apesar desses infortúnios, pode-se afirmar que foi possível
desenvolver um bom trabalho com o aluno nas áreas de linguagem,
socialização, cognição, desenvolvimento motor
e auto-cuidados, a partir do material que se dispunha para o trabalho,
também o ambiente sendo geograficamente irregular, acabou servindo
no final do semestre de ponto positivo, pois se antes ele não subia
pequenas elevações de terra, não andava em cima da
grama, agora ele o faz.
A prática pedagógica foi enriquecedora tanto para o aluno,
que se demonstrou satisfeito com o trabalho, quanto para a professora
da sala, que pensou e repensou sua prática pedagógica, estabelecendo
pontes com a psicologia e a filosofia de relações sociais
que se travaram em torno do trabalho que foi proposto e aqui descrito.
Independente da adversidade da infra-estrutura e do ambiente para realização
do trabalho outros fatores merecem consideração para análise
da pesquisa.
Os três grandes problemas do cego são a compreensão
social, a educação por meios não-visuais e a mobilidade
independente. Vários tipos de programas educativos estão
à disposição de praticamente todos os cegos existentes
nos Estados Unidos. Os problemas de compreensão e aceitação
social do cego estão sendo gradualmente reduzidos. A assistência
e o adestramento sistemáticos para a locomoção independente
só recentemente se tornaram acessíveis. (TELFORD & SAWREY,
1978; 390).
Portanto, ao não fazer uso dos materiais e tecnologia
existentes, criou-se outros mecanismos e atividades para o ensino e o
trabalho nas áreas de linguagem, cognição, socialização,
auto-cuidados e desenvolvimento motor. Não se fez uso desses materiais
e tecnologia porque o Centro de Atendimento Terapêutico e Educacional
de Paraibuna, SP, está em fase de reestruturação
e não dispõe de recursos para adquiri-los.
Nesse sentido, os três grandes problemas apontados foram trabalhados
por meio de um currículo pensado para o aluno, de maneira que estivesse
voltado o mais próximo de sua realidade e que fosse, assim, significativo
para ele. Destaca-se também que o aluno J. além da sua deficiência
visual, apresenta um quadro de deficiência mental, segundo estudos
e verificação de diagnósticos já levantados
anteriormente por outros profissionais da própria instituição.
O trabalho foi vinculado a pesquisa no sentido de repensar toda a infra-estrutura,
o ambiente, os materiais, a própria prática pedagógica,
os conceitos, valores, crenças, bibliografias e ações
que permearam e influenciaram a intervenção educacional
e social na construção do próprio conhecimento do
aluno em relação a valorização das práticas
nesse contexto.
A pesquisa não tem um ponto final em si mesma, porque demandou
um trabalho no intuito de valorizar a ação pedagógica,
envolvendo a prática e a teoria. Ela continua, além de tecer
elementos na musicalidade que interferem diretamente no aluno que tem
a visão nos sentidos: tátil, auditivo, olfativo e gustativo.
Esses elementos são aqueles que envolvem a condição
de multiplicador na aprendizagem do aluno com o ambiente, esboçam-se
nos instrumentos diversificados como por exemplo identificação
do barulho de sementes, nas folhas de árvore, da voz, dos passos
em diferentes ambientes, das batidas de palmas, no fechar e abrir de portas,
janelas, torneiras; no som emitido por talheres, copos, panelas e outros.
Esses elementos não existem por acaso, mas para diversificar o
conceito e valores que vão sendo construídos pelo aluno
na medida que ele mesmo faz as seleções do som que lhe parece
ser mais ou menos harmonioso, podendo identificar e nomear diferentes
tipos de sons, timbre, ritmos e melodia.
Auxiliado pelo professor da área de música, o trabalho foi
complementado por uso de instrumentos musicais em sala de aula, envolvendo
a participação desse aluno com os demais alunos deficientes
do Centro, no sentido de promover uma interatividade e aprendizagem musical.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FLEMING, Juanita W. A criança excepcional: diagnóstico
e tratamento. São Paulo: Editora Francisco Alves, p.113
LEAO, A. M. C. Contribuição da natação na
orientação e mobilidade dos deficientes visuais. In: FERREIRA,
Valfredo de Souza(org.). Formação continuada pesquisa e
saberes docentes. João Pessoa: editora universitária/UFPB,
2005. p.359 a 360.
MANTOAN, Maria Teresa Egler. O direito de ser, sendo diferente, na sala.
In: OMOTE, Sadao (org.). Inclusão: intenção ou realidade.
Marília: Fundepe, 2004. p.113 a 143.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Ensino e aprendizagem: desafios ao trabalho
docente. In: FERREIRA, Valfredo de Souza (org.). Formação
continuada pesquisa e saberes docentes. João Pessoa: editora universitária/UFPB,
2005. p.359 a 360.
TELFORD, Charles W.; SAWREY, James M. O individuo excepcional. Rio de
Janeiro: Zahar editores. 642p.
ZULIAN, Maria Aparecida Ramires. A Terapia ocupacional em processos interdisciplinares
da educação
especial. In: OMOTE, Sadao (org.). Inclusão: intenção
ou realidade. Marília: Fundepe, 2004. p.201 a 211.