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VIVÊNCIAS
ESTÉTICAS TEATRAIS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Áurea Carolina Coelho More - Universidade
Estadual Paulista. FCT.UNESP
José Milton de Lima - Orientador
1-O legado invisível das Vivências estéticas–
uma experiência pessoal.
Durante dois anos (2000 e 2001) atuamos como professora
de música e de teatro em uma instituição privada
dedicada à Educação infantil, Ensino Fundamental
e Médio em uma prós-pera região da Grande São
Paulo. Tratava-se de uma escola bilíngüe onde os alunos receberi-am
sua educação em língua portuguesa e inglesa. O regime
integral obrigava os alunos do Ensino Fundamental e Médio a permanecer
na escola das 7:10 da manhã até as !5:45 da tarde e suas
atividades dividiam-se entre: o currículo tradicional de cada série
pela manhã e ativida-des em língua inglesa durante a tarde.
Após o período mínimo de permanência, muitos
alunos permaneciam nas dependências da escola freqüentando
aulas de xadrez, ballet, natação ou reforço escolar.
Entre tantas outras de natureza subjetiva, o inglês era uma das
muitas barrei-ras de comunicação com alunos de diversas
idades
A experiência ímpar do primeiro dia de funcionamento da escola
com o início do ano leti-vo de 200 nos colocou a todos (professores,
coordenadores, diretoria e proprietários) diante de um quadro de
vandalismo e petulância como jamais testemunhamos. Diversos computadores
danificados, carteiras e cadeiras destruídas, caos absoluto no
refeitório e palavras hostis diri-gidas a professores e funcionários
foram os lamentáveis dividendos do primeiro dia de um ano que se
anunciava desafiador
Diante da barreira lingüística e da peculiaridade da relação
que a maioria das crianças pa-recia estabelecer com os demais professores,
solicitamos à coordenação do ensino fundamen-tal,
permissão para estabelecer um período de adaptação
em que o idioma inglês seria usado paralelamente à língua
portuguesa numa fórmula de simultaneidade bilíngüe.
Havia muito para esclarecer, muitas perguntas a responder, muitas barreiras
a derrubar de ambas as partes (alunos e nós), antes que pudéssemos
impor os conteúdos preparados.
Os alunos nos apresentaram questões complexas e fundamentais logo
de início. A princi-pal delas dizia respeito à validade
dos conhecimentos potencialmente adquiridos nas aulas de Artes.
“Para quê precisamos aprender música?”
“Eu não quero ser ator, por que devo fazer teatro?”
“Arte não deveria ter relação com vocação?”
“Arte é uma chatice!”
Questões como essas vinham diretas e certeiras em direção
à nossa mente que, sincera-mente jamais havia estabelecido tão
profundamente tais questionamentos. Certos estávamos da importância
das vivências estéticas na formação plena do
ser humano:
- sensibilização para as relações interpessoais,
- desenvolvimento da capacidade de criar imagens internalizadas e externá-las
- aquisição de conhecimentos acerca de distintas culturas,
- reconhecimento de padrões estéticos,
- amadurecimento das capacidades cognitivas,
- desafios internos significativos para o autoconhecimento, etc.
Vimo-nos então questionados, mais uma vez. Como garantir a propriedade
criativa das vivências estéticas que pretendíamos
proporcionar aos nossos alunos, quando, na verdade, para a escola, elas
não passavam de ferramentas para o ensino da língua inglesa?
Os resulta-dos esperados por pais e pela direção da escola
não eram tão desafiadores. Bastava-nos apre-sentar-lhes
resultados esteticamente medíocres, mas satisfatórios para
o convívio social na escola. Ou seja: pequenas apresentações
nos eventos escolares.
No entanto as crianças queriam mais dessa experiência e isso
se tornava mais e mais evidente á medida em que evoluíamos
na sala de aula com os conteúdos de história da música.
As questões levantadas pelos alunos transcendiam as meras dúvidas
sobre os nomes das notas musicais. Queriam saber como surgiu a música,
por quê o homem resolveu fazer música, co-mo foi possível
estabelecer um sistema simbólico tão complexo. Qual o caminho
percorrido até esse sistema definitivo se estabelecer. Queriam
compreender porque não partíamos de músicas conhecidas
do repertório popular. Questionavam que relações
podiam ter com com-positores clássicos, por exemplo
Paralelamente ao trabalho em música, acontecia um fato curioso
nas aulas de teatro. Talvez por se tratar de uma sala-ambiente não
convencional, talvez pelo cansaço que sentiam nos horários
das aulas de teatro, que eram as últimas do dia, ou talvez por
se tratar de uma comunidade muito peculiar, com uma realidade familiar
e financeira bastante específicos, o fato é que as aulas
de teatro tendiam a se transformar em caos generalizado e frustrante para
todos. O mais desafiador era conquistarmos respeito mútuo e respeito
às atividades coletivas e ás dinâmicas que estas impõem.
Ao mesmo tempo, as tentativas de trabalhar com textos tea-trais prontos
em língua inglesa não surtiam efeito. Não envolviam,
não progrediam não inte-ressavam, em suma, a nenhum de nós.
Toda as oportunidades que tiveram para manifestar insatisfações
pessoais complexas e profundas eles aproveitaram. Pareceria um espaço
catárti-co e nós permanecíamos perdidos diante desse
quadro por algum tempo.
Envolta numa sensação de frustração e desalento
começamos a folhear um livro há tempos esquecido na estante:
“Jogos para atores e não-atores” de Augusto Boal. Provavel-mente
devido à nossa inexperiência em muitos sentidos, não
cogitamos, de início, a utilização de jogos teatrais
como método para o ensino da linguagem, o que hoje, nos parece
óbvio. Mas, além disso, tratava-se da exposição
das linhas gerais do que é conhecido hoje como Tea-tro do Oprimido.
Boal esteve envolvido desde a década de 1960 com grupos de minorias
de diversas naturezas: operários, mulheres, refugiados, homossexuais,
negros, bem como se de-dicou aos grupos de modo mais genérico.
Suas dinâmicas estiveram presentes em empresas, escolas hospitais.
Fosse como ferramenta para o desenvolvimento de recursos humanos, ou para
a libertação do homem no sentido humanista do termo, suas
dinâmicas apontavam-nos um caminho.
De forma alguma sentimo-nos desviando de nossos objetivos como educadora
ao ado-tar as dinâmicas e aplicá-las nestas duas turmas.
Pareceu-nos uma oportunidade ímpar de aliar forma ao conteúdo.
De um lado, a necessidade e a urgência de produzir teatro, de outro
as chamadas “interferências” e indisciplinas como outros
dos colegas professores chamavam superficialmente um quadro de opressões
internas e externas que estava se descortinando a nossa frente todos os
dias.
Insistimos em caracterizar os alunos como crianças , porque em
momento algum per-demos de vista que essa era a condição
delas. E, em se tratando portanto, de educação “infan-til”
no Ensino Fundamental, não pudemos deixar de associar ensinar e
cuidar de modo que, acreditamos que esses procedimentos resultaram em
educação.
Todo o período letivo do ano de 2000 foi dedicado às experimentações
do método do Teatro do Oprimido o que nos permitiu um mergulho
honesto e profundo em nossas questões pessoais que se transformavam
em material artístico. Angústias das mais diversas: alcoolis-mo,
situações familiares complexas, ecologia, paz, etc se transformavam
em cenas improvisa-das e, posteriormente em textos teatrais.
Durante todo este processo, inúmeras foram as ocasiões em
que fomos desafiados a dar ou a construir, em cooperação,
pareceres éticos acerca dos mais variados assuntos. Muitas foram
as experiências catárticas delicadíssimas que presenciamos
na sala de aula. E impres-sionantes foram as mudanças no comportamento
de cada uma das crianças ao longo desses dois anos. As dinâmicas
coletivas não eram mais tão agressivas e invasivas para
eles. Nós havíamos aprendido a não cultivar expectativas
de padronização entre eles.
No ano de 2001 a coordenação da escola, sensível
ao trabalho realizado com as duas turmas da quarta série, considerou
fundamental a multiplicação da experiência ou mesmo
o compartilhamento do processo com os outros profissionais da escola,
mas devemos confessar que o interesse precário ou mesmo a desconfiança
se traduziam sob forma de comentários simplistas como: “Isso
é coisa de pré-escola” , ou: “Mas vocês
quase não mostraram resulta-dos.” Ou ainda: “Você
interfere em outras disciplinas.”, “Essas crianças
não são ‘oprimidos”, são privilegiados.”
Infelizmente a iniciativa foi abortada.
Percebemos que o trabalho estaria restrito:
-aos inúmeros textos produzidos por eles, (a maioria, no início
mostrava dificuldades imensas na produção de textos diversos)
- às melhorias significativas nas relações interpessoais,
- à quebra de preconceitos com relação ao corpo e
ao movimento,
- ao aguçamento de um senso crítico e estético,
- ao desenvolvimento da tolerância,
- à capacidade de debater logicamente um tema,
- à riqueza da convivência que precedia nossas apresentações
públicas e ensaios,
- ao substancial ganho de auto-estima e
- a um tipo de conhecimento histórico e cultural que, por ser construído
individual e coletivamente em co-operação pertencia apenas
a cada um de nós que tivemos o privilégio de vivenciá-lo
e descobri-lo. Era invisível e íntimo.
2- A Educação Estética e as Normoses.
Recentemente, durante a realização de palestras para turmas
de professores em forma-ção continuada, tivemos a oportunidade
de recolher perguntas acerca da atividade teatral na sala de aula. Algumas
professoras do ensino fundamental procuraram-nos no intervalo das atividades
para dizerem o quão frustradas estavam com a qualidade estética
de seu mais re-cente projeto teatral. Disseram elas:
“Você falou que às vezes é estranho apresentar
as crianças com textinhos decorados que parecem incômodos
e artificiais... A nossa turma está assim e não sabemos
o que fazer... A gente vê que está feio, mas e aí?
O que fazer?”.
Mais tarde, mesmo antes de finalizar o encontro, uma das professoras nos
pediu res-postas que ela gostaria, fossem endereçadas à
turma que, ansiosamente assistia à palestra so-bre teatro. Suas
perguntas foram:
“Como é que nós podemos aprender a ensinar teatro?”
“Em nossa cidade temos dificuldades para encontrar artistas dispostos
a vir até a escola nos ajudar com as peças teatrais. O que
podemos fazer?”
“Nós sabemos que existem métodos para a introdução
teatral, até lemos as descrições dos jogos, mas como
aplicá-los, se não sabemos o que observar, como avaliá-los
e de que maneira se transformam jogos em teatro...?”
Percebemos uma lacuna intensa a ser preenchida e tivemos o ímpeto
de apaziguá-los dizendo que os trabalhos que já se desenrolavam
tinham que ser conduzidos com bom senso. No mais, fizemos a humilde indicação
para que eles próprios, professores, experimentassem as práticas
teatrais... Que experimentassem, ainda que timidamente, a princípio,
a aplicação de jogos com seus alunos e que, com a observação
dos resultados, fossem desenvolvendo seu próprio caminho diante
do teatro. No entanto, os olhares e manifestações de frustração
se fize-ram uníssonos. Uma professora alegou:
“Isso ainda é pouco... A gente sente que se o trabalho fosse
feito em parceria com um artista, ele teria um resultado mais bonito.”
As palavras ressoantes eram: “bonito”, “aprender a ensinar”
e ‘parceria “. Ou melhor: estética, método e
procedimentos. Necessariamente fomos levadas a evocar L. S. Vigotski (2001b)
em seu capítulo” A educação estética
“em Psicologia Pedagógica no qual ele tece considerações
acerca da beleza:
De coisa rara e fútil a beleza deve transformar-se
em uma exigência do cotidia-no. O esforço artístico
deve impregnar cada movimento, cada palavra, cada sorriso da criança.
É de Potiebniá a bela afirmação de que, assim
como a eletri-cidade não existe só onde existe a tempestade,
a poesia também não existe só onde há grandes
criações da arte, mas em toda a parte onde soa a palavra
do homem. E é essa poesia de “cada instante” que constitui
quase que a tarefa mais importante da educação estética
(p.352).
Ora, a sugestão dada acerca do bom senso, levava
em consideração justamente essa nossa capacidade inata de
perceber o belo e de incentivá-lo em atitudes cotidianas. O profes-sor,
como todo ser humano, pode valer-se dessa característica eminentemente
humana ao lidar com seus projetos estéticos. No entanto, como algumas
falas das professoras apontavam, isso ainda é insuficiente para
atingir o “bonito”. Portanto, estamos diante de um despreparo
dos próprios docentes em relação aos fundamentos
estéticos. Como reconhecer o belo, sem o pré-vio e recomendável
contacto com o mesmo?
Em nosso país, costuma-se considerar o belo como questão
exclusivamente particular (“quem ama o feio, bonito lhe parece...”)
e, claro, uma consideração como esta, certamente destinado
ao trato das coisas particulares, parece ter assumido ares de regra, de
máxima a ser aplicada aos objetos da arte. No entanto, este parâmetro
particular do belo parece não ser sufi-ciente para essas professoras
e, certamente, não o é. Elas sabem que estão diante
da produção de material artístico, portanto o “bonito”,
o “bacana”, o “suficiente” não contemplam
suas ambições. Permanecem os professores carentes de subsídios
teóricos e práticos de natureza estética para que
possam compartilhá-los e contemplar suas metas. Ainda assim, o
desafio de promover vivências estéticas se mantém,
mesmo que dissolvido nos objetivos pedagógicos que se apropriam
da arte para seus próprios fins.
Em “A estética a serviço da pedagogia” Vigotski
(2001b) escreve:
Na ciência psicológica e na pedagogia teórica até
hoje não se resolveu de for-ma definitiva a questão da natureza,
do sentido, do objetivo e dos métodos da educação
estética. Dos tempos mais remotos aos nossos dias têm aparecido
pontos de vista extremados e contraditórios sobre essa questão,
que, a cada de-cênio vem se confirmando cada vez mais em toda uma
série de investigações psicológicas. Assim
a discussão não se resolve nem se aproxima de seu fim e
o problema parece complexificar-se ainda mais na medida em que avança
o co-nhecimento científico (p.323).
É
a partir dessa complexidade crescente de que fala Vigotski, que iniciamos
nosso estudo. Apoiados principalmente em seus textos e publicações:
Psicologia da Arte e Psicolo-gia Pedagógica apontamos para uma
análise acerca de alguns aspectos da educação estética
e das vivências estéticas promovidas na escola brasileira
atualmente.
Um desses elegíveis aspectos da educação estética
trata das chamadas “interferências” de caracteres pessoais,
psicológicos e sociais que freqüentemente permeiam as experiências
de professores que lidam com matéria artística na sala de
aula. Mesmo aqueles profissionais que se dedicam a outras abordagens disciplinares
vêm sentindo o impacto de tais “interferên-cias”
no ambiente e no andamento de suas atividades programadas. São
vultuosas manifesta-ções de comportamentos, hábitos
e práticas aceitas socialmente que parecem convergir para um quadro
desolador de infância e juventude. A violência em todo o seu
espectro, o consu-mismo, a depressão, a obesidade, a “ditadura
da beleza”, os apelos midiáticos, a intolerância,a
reconfiguração da família, os contrastes socioeconômicos,
todos estes fatores parecem “inter-ferir” decisivamente no
ambiente escolar. Aparentemente, o professor se encontra diante de questões
“normais” que alcançam toda a sociedade e que apesar
de aceitas como pertinente aos tempos em que vivemos, se revelam desafiadoras,
uma vez que, apesar de normais e acei-tas, geram insatisfação,
sofrimento, perplexidade e inércia. Para Pierre Weill (2003):
A normose
pode ser definida como o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos,
hábitos de pensar ou de agir, que são aprovados por consenso
ou pela maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento,
do-ença e morte. Em outras palavras., é algo patogênico
e letal, executado sem que os seus autores e atores tenham consciência
de sua natureza patológica (...) A normose é, portanto,
uma normalidade doentia (p 22).
As normoses
manifestas também na educação se tornaram então
o centro de uma série de questionamentos que visa compreender qual
o papel desempenhado pelo educador na soci-edade atual. E além
disso, quais os suportes metodológicos e teóricos que parecem
contemplar nossa ânsia e necessidade de interferir na “profilaxia”
e “prevenção” das normoses?
Ser consciente
e livre, em vez de ser condicionado como autômato: isso impli-ca
educação do próprio educador e dos pais, que são,
como já indiquei, os por-tadores e irradiadores da cultura normótica,
do automatismo e da violência. A educação das crianças
começa pela educação dos adultos (p.159).
Para Boal(1999),
por exemplo, as normoses são chamadas de opressões internas
e ex-ternas, para Herbert Read,(1982) elas se manifestam na automação
de ações que gradativa-mente se tornam robóticas
comprometendo o que ele entende como um dos objetivos da edu-cação
que seria: a integração-reconciliação da singularidade
individual com a unidade social. Ambos apontam o teatro como experiência
estética capaz de considerar a realidade normótica e revertê-la.
No entanto, a bibliografia voltada à aplicação de
jogos teatrais, por exemplo, apesar de excelente, não tem se mostrado
suficiente para orientar os docentes quanto ao modo de apli-cação
de tais propostas e mesmo quanto ao tipo de expectativas que estes devem
ter diante do processo de criação. Assim, também,
pré-requisitos para a condução adequada de vivências
estéticas não vêm sendo observados com a recomendável
cautela. Como exemplo, citamos a inadequação de espaços
físicos destinados à experimentação artística,
a falta de qualidade e segurança do material utilizado em oficinas
artísticas, o desconhecimento de questões teóricas
e fundamentais da evolução estética ao longo da história,
a falta de preparo dos docentes para lidar com a vulnerabilidade ocasionada
pela exposição de sentimentos e reações psicológicas
(muitas vezes extremadas e catárticas) que necessariamente acontecem
durante o processo criativo.
3- A investigação
: perguntas necessárias.
Para que
um quadro representativo da problemática apresentada seja melhor
delinea-do, fez-se necessária uma análise da realidade atual
das vivências estéticas e da formação es-tética
dos docentes no Brasil. Estamos realizando ainda um recorte no espaço
amostral brasi-leiro através de um projeto-ação localizado
em uma instituição pública de Ensino Fundamen-tal
na cidade de Marília, estado de São Paulo.Dentro dessa análise,
pretendemos revelar as práticas estéticas que ocorrem dentro
do espaço escolar hoje; a arte como recurso pedagógico dissociado
de seus fundamentos originais e a arte como elemento não dissociado
de seus fun-damentos originais.
O presente trabalho visa posicionar-nos diante de tal questão baseado
nos fundamentos sugeridos por Vigotski para a educação estética,
segundo os quais a arte, de modo não reco-mendável, pode
ser analisada sob dois aspectos extremos e radicais: um que invalida a
experi-ência estética, considerando-a desnecessária
no âmbito escolar; e outro que a supervaloriza tomando-a como fórmula
mágica capaz de solucionar complexos problemas da educação.
Assim como o autor, com este trabalho, sugerimos uma postura moderada
perante a vivência estética no universo escolar e pretendemos
apontá-la como possível na escola brasileira hoje, mais
especificamente no Ensino Fundamental da rede de ensino municipal de Marília.
Como conseqüência de tais questionamentos consideraremos três
pontos cruciais para este trabalho:
1 -Questão de fundo: o despreparo dos docentes em trabalhar com
técnicas e materiais artísticos, com os desdobramentos psico-sociais
emergentes das experiências estéticas, apesar do seu proporcional
interesse;
2 - Os desdobramentos, ou conseqüências da primeira questão:
a perda sistemática de espaços físicos adequados
para a prática artística nas escolas brasileiras; a deturpação
dos objetivos pedagógicos diante da arte; a aquisição
de resultados estéticos insatisfatórios como conseqüência
da problemática apresentada acima;
3 – A formulação de uma proposta particular para a
ação didática na abordagem estéti-ca voltada
especificamente para o grupo de professores estudado e para as particularidades
de sua realidade..
Na primeira etapa desse processo investigativo fez-se necessária
a aplicação de um questionário para o levantamento
de um panorama inicial diante do qual pretende-se interferir posteriormente.
A elaboração deste questionário tem sido o ponto
nevrálgico deste processo investigativo no presente estágio
da pesquisa.
Seguem algumas das questões por ora emergentes:
4. As vivências
estéticas manifestas através do teatro e sua aplicação
no ambiente esco-lar. Relevância e realidade. Para que serve e como
é utilizado o teatro na escola?
1- De que
modo as vivências estéticas contribuem para a formação
humana?
2- O teatro é uma manifestação artística válida
e aplicável no ambiente escolar?
3- Quais os objetivos do professor ao adotar uma atividade teatral com
seus alunos?
4- Quais as expectativas do professor acerca dos resultados finais desse
processo?
5- Como o professor observa e analisa o desenvolvimento do processo criativo?
6- Quais os métodos utilizados pelo professor do ensino Fundamental
para desenvolver vivências estéticas teatrais?
7- Na ausência de parâmetros metodológicos, como o
professore se orienta?
8- O que esse profissional conhece acerca da estética?
9- Na ausência de parâmetros teóricos e de formação
específica na área estética, como se orienta para
desenvolver suas atividades?
10- O que o professor conhece acerca do teatro?
11- O professor reconhece momentos de extrema sensibilização
psicológica no decorrer do processo criativo?
12- O que compreende por sensibilização psicológica?
13- Ao se depararem com situações de extrema sensibilização
psicológica em decorrência do processo criativo, como o professor
age?
14- Os professores reconhecem situações de dilema moral
diante de um texto teatral artístico?
15- O que compreendem por dilema moral?
16- Ao se depararem com situações de dilema moral, como
agem esses professores?
17- O professor considera sua formação pessoal como suficiente
para o sustentar no de-senvolvimento de tarefas de caráter artístico?
Por quê?
18- O professor considera-se disposto a expandir seus conhecimentos no
âmbito artístico? Por quê?
19- O professor já contou com o auxílio de profissionais
da área teatral para a realização de um projeto?
20- Em caso afirmativo: como se deu esta relação?
21- Em caso negativo: quais as razões?
22- Como o professor vê o artista?
23- O professor conhece a relação entre teatro e jogo?
24- O professor vai ao teatro?
25- Quais as manifestações artísticas mais íntimas
e conhecidas pelo professor?
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