Profa. Ms Patrícia Carneiro Olmedo Lombardi
-Uirapuru Superior – ISEU
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB) de 1996, a Educação Escolar no Brasil é composta
da Educação Básica e Educação Superior.
Define a LDB em seu artigo 2º que a finalidade da educação
é o “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho”.
A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação
Básica e objetiva o favorecimento do desenvolvimento da criança
em seus aspectos cognitivos, social, afetivo e físico, em complemento
às ações da família e comunidade. Assim, é
missão da educação pré-escolar trabalhar o
desenvolvimento da criança de forma global, propiciando um ambiente
rico em estimulações e interações que possam
contribuir para a maximização de seu potencial de desenvolvimento.
Observa-se que as crianças têm chegado à Educação
Infantil cada vez mais cedo. O atendimento a crianças menores de
seis anos em instituições escolares, ocorreu devido à
necessidade de as mulheres exercerem atividades fora de seus lares. Só
recentemente, com a nova LDB, é que se iniciaram as discussões
que defendem a importância desse nível educativo para as
crianças nesta faixa etária.
Berger (2003) afirma que, ao longo dos últimos 30 anos, os cientistas
sociais mostraram que as crianças pequenas aprendem muitas coisas
por meio da Educação Infantil formal e informal. Isto se
observa, principalmente, nas habilidades verbais e sociais destas crianças.
Um dos aspectos mais relevantes da Educação Infantil, centralizado
especificamente no ano que antecede a entrada para o Ensino Fundamental
é a aquisição das habilidades básicas necessárias
à alfabetização.
É oportuno destacar a importância de um trabalho que contemple
os diversos aspectos do desenvolvimento infantil. Uma abordagem capaz
de atender a estas necessidades é a Psicomotricidade, que busca
explicar a inter-relação entre os diversos aspectos do desenvolvimento
e a compreensão do ser humano como um ser biopsicossocial.
Uma atuação competente permite, para a maioria das crianças,
que o desenvolvimento e aprendizado propostos subsidiem a aprendizagem
posterior da leitura, da escrita e do cálculo.
Para Lièvre e Staes (1992), a Psicomotricidade é a posição
global do sujeito, entendida como a função que sintetiza
o psiquismo e a motricidade com o propósito de permitir ao indivíduo
adaptar-se de maneira flexível e harmoniosa ao meio que o cerca.
A busca pela avaliação do desempenho psicomotor de crianças
na Educação Infantil aponta que há uma escassez de
pesquisas realizadas neste âmbito. Nicolau (1997) afirma que uma
criança está em condições de se alfabetizar
quando se encontra num estado de alerta, o que significa também
um interesse duradouro e pleno para interagir com o material simbólico
da alfabetização, processando suas respostas nos níveis
afetivo, social, psicomotor e cognitivo. Para a autora, isto decorre de
um longo e gradual processo que depende tanto de aspectos maturacionais
quanto daqueles que foram produto da estimulação ambiental.
Ela não despreza a importância do desenvolvimento cognitivo
para a alfabetização, mas considera igualmente importante
a dimensão psicomotora neste processo.
Neste sentido, Colello (1990) analisa as idéias de Ferreiro e Le
Boulch destacando que a escrita é histórica e evolutivamente
ato e significado. Isto quer dizer que, mesmo tomando-a, na perspectiva
de Ferreiro, meio de comunicação e transmissão de
idéias a partir da reconstrução de certas normas
lingüísticas e ortográficas, somos obrigados a admitir
que ela pressupõe um ato motor, sem o qual não há
representação gráfica.
Neste sentido, destaca-se a importância do desenvolvimento das áreas
da Psicomotricidade, indispensável à aprendizagem escolar,
pois desenvolve habilidades vistas como requisitos necessários
à aquisição da leitura, escrita e cálculo,
tais como: dominância manual, reconhecimento das diferenças
dos pares b/d, q/p, q/d; noção de linearidade da disposição
sucessiva de letras, sílabas e palavras; capacidade de decompor
palavras em sílabas e letras; possibilidade de reunir letras e
sílabas para formar novas palavras, etc.
São áreas da Psicomotricidade:
• Tonicidade: É a tensão dos músculos;
tem um papel fundamental no desenvolvimento motor, pois garante atitudes,
posturas mínimas e emoções, através das quais
emergem todas as atividades motoras humanas. A tonicidade ou tônus
muscular é o alicerce das atividades práticas.
• Equilíbrio: É a capacidade de manter uma postura
adequada, tanto em movimento como em repouso. Existem dois tipos de equilíbrio:
estático - são movimentos não locomotores, como ficar
em pé, por exemplo - e o dinâmico - são movimentos
locomotores, como, por exemplo, andar.
• Lateralidade: É a propensão que o ser humano possui
de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do que o outro. Manifesta-se
nas mãos, olhos e pés.
• Noção Corporal: A Noção Corporal ou
Esquema Corporal compreende a recepção, a análise
e o armazenamento das informações vindas do corpo, reunidas
sob a forma de uma tomada de consciência estruturada e armazenada.
• Estruturação Espaço-Temporal: A Estruturação
Espaço-Temporal emerge da motricidade, da relação
com os objetos localizados no espaço, da posição
relativa que ocupa o corpo; enfim, das múltiplas relações
integradas da tonicidade, do equilíbrio, da lateralidade e da noção
do corpo.
• Praxia Global: A Praxia Global ou coordenação motora
global, está relacionada à realização e à
automação dos movimentos globais complexos, que se desenrolam
num determinado tempo e que exigem a atividade conjunta de vários
grupos musculares. A coordenação motora global envolve grandes
pares musculares, que determinam as atividades de arrastar, rolar, engatinhar,
andar, correr e saltar. Diversas atividades levam à conscientização
global do corpo, como andar, que requer equilíbrio e coordenação;
correr, que requer além destes, resistência e força
muscular; e outras como saltar, rolar, pular, arrastar-se, nadar, lançar-pegar,
sentar.
• Praxia Fina: A praxia fina ou coordenação motora
fina compreende todas as tarefas motoras finas associadas à função
de coordenação dos movimentos dos olhos durante a fixação
da atenção (coordenação motora óculo-manual)
à manipulação de objetos que exigem controle visual.
É relevante ressaltar a importância das brincadeiras
para o desenvolvimento psicomotor e, conseqüentemente, para as aprendizagens
futuras. A brincadeira deve fazer parte do desenvolvimento infantil, merecendo
lugar de destaque na educação das crianças em casa
e nas escolas, pois é brincando que a criança aprende e
se desenvolve. As brincadeiras livres fornecem à criança
o material necessário para sua atividade de exploração,
permitindo que sua imaginação crie suas próprias
experiências.
Sobre a importância da brincadeira no desenvolvimento infantil,
Smole, Diniz e Cândido (2000) acrescentam que quando brinca, a criança
se defronta com desafios e problemas, devendo constantemente buscar soluções
para as situações a ela colocadas. Para as autoras, a brincadeira
auxilia a criança a criar uma imagem de respeito a si mesma, manifestar
gostos, desejos, dúvidas, mal-estar, críticas, aborrecimentos,
etc. Se observarmos atentamente a criança brincando, constatamos
que neste brincar estão presentes a construção de
representações de si mesma, do outro e do mundo, bem como
a revelação e internalização de comportamentos
e hábitos. Por meio do brincar, a criança consegue expressar
sua necessidade de atividade, sua curiosidade, seu desejo de criar, de
ser aceita e protegida, de se unir e conviver com outros. Enfim, a ação
lúdica da criança reflete sua estruturação
mental e seu nível de desenvolvimento afetivo, emocional e cognitivo
(Oliveira , 1999).
Além disso, de acordo com Vygotsky (1988, p. 117), a brincadeira
cria a zona de desenvolvimento proximal na criança.
No brinquedo, a criança sempre se comporta além
do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento
diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é
na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém
todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo,
ele mesmo, uma grande forma de desenvolvimento.
A brincadeira converte-se em um espaço propício
para o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos na medida em que existe
uma organização intencional da atividade lúdica integrada
à brincadeira espontânea inseridas em um projeto pedagógico
voltado para este fim. Assim, o planejamento pedagógico deve contemplar
o brincar espontâneo, assim como a oferta espontânea de variados
elementos, visando a ampliação das possibilidades do brincar
e do desenvolvimento psicomotor infantil.