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PROCESSOS
DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: SUA RELAÇÃO
COM AS NORMATIVAS LEGAIS?
Maria Eliza Gama Santos [melizagama@yahoo.com.br]
- Universidade Federal de Santa Maria - RS
Elisete M. Tomazetti [elisetem@via-rs.net] - UFSM
Eduardo A. Terrazzan [eduterrabr@yahoo.com.br] - UFSM
Márcia Eliana Araújo Londero [meliana12003@yahoo.com.br]
- UFSM
1. Introdução
A realização do projeto Condicionantes para
tutoria nos estágios curriculares: articulando Formação
inicial e Formação Continuada de professores (COTESC) tem
possibilitado estudos de diferentes temáticas relacionadas ao contexto
escolar. Este projeto se desenvolve no âmbito da UFSM e tem como
campo de pesquisa as Escolas Estaduais de Ensino Médio de Santa
Maria/RS.
A Formação Continuada de professores tem sido foco de estudos
de um dos subgrupos deste projeto. (COTESC) visando desenvolver atividades
voltadas para a compreensão dos Processos de Formação
Continuada de Professores realizados pelas escolas pesquisadas.
Estudos vêm sinalizando que a Formação Inicial tem
se mostrado ineficiente na preparação do professor para
enfrentar a diversidade de situações impostas pelo contexto
escolar. Esta constatação vem alavancar discussões
sobre a necessidade de se pensar a possibilidades dos Sistemas de Ensino
de Educação Básica realizarem a Formação
Continuada de seus professores, como forma de institucionalização
de políticas que resultassem efetivamente melhorias da educação
nacional. Com isto, a Legislação Nacional busca através
de normativas legais orientar as Redes Estaduais e Municipais de ensino
na construção e implementação de Processos
de Formação Continuada de seus professores.
A Formação Continuada de professores tem sido marcada pela
falta de processos contínuos, regulares e institucionalizados,
o que, normalmente ocorre são atividades pontuais desarticuladas,
ou seja, cursos, oficinas, palestras, seminários, etc, e que não
têm efetivamente contribuído para a superação
dos problemas enfrentados no cotidiano escolar.
Na realidade das Escolas pesquisadas no projeto COTESC, são desenvolvidos
propostas de Formação Continuada de professores, onde a
8ª Coordenadoria de Educação orienta estas escolas
para que organizarem seus processos formativos. Segundo informações
preliminares, estes processos deverão ser previstos no calendário
escolar e garantido um mínimo de 10 dias anuais para encontros
de formação. No entanto, ainda não temos uma caracterização
de como ao planejados, desenvolvidos e avaliados tais processos.
Portanto com este trabalho pretendemos compreender em que medida as propostas
de Formação Continuada de professores realizadas nestas
escolas tomam como referência às normativas legais e as orientações
fornecidas pela 8ª Coordenadoria de Educação.
Sendo assim, para a realização deste trabalho realizaremos
um estudo das Legislações Federal e Estadual que orientam
as redes públicas de ensino na elaboração de seus
processos de Formação Continuada de professores, assim como
a análise de questionários respondidos pelos membros das
equipes diretivas sobre as práticas de Formação Continuada
realizadas nas Escolas Estaduais de Ensino Médio de Santa Maria.
Pretendemos assim obter como resultados, uma síntese das normativas
legais e suas principais orientações aos sistemas de ensino
básico, uma caracterização dos processos de Formação
Continuada de professores desenvolvidos pelas escolas pesquisadas e a
identificação, da existência ou não, de possíveis
influências que estas normativas exercem sobe os sistemas de ensino
no desenvolvimento de suas ações formativas.
A formação profissional de professores é um processo
que tem sua origem nos cursos de formação inicial e se estende
para o ambiente de trabalho por meio de processos de formação
continuada. As discussões que envolvem a formação
continuada de professores buscam, entre outros aspectos, entender quais
os melhores encaminhamentos para se promover estas formações,
de forma que possam articular os conhecimentos produzidos pela academia
e os conhecimentos produzidos na prática profissional.
Entendemos que os processos de formação continuada de professores
sejam eles desenvolvidos dentro do espaço escolar ou fora dele,
devam ser planejados a partir das necessidades formativas dos professores
e da realidade local. Em vista disto tomamos como referência alguns
elementos de para classificar estas necessidades formativas, a saber:
os alunos, o currículo, a escola como organização
e os próprios professores. Estabelecendo assim uma cadeia de relações
entre o que os professores necessitam aprender e o que está sendo
oferecido, de fato, nos processos de formação continuada.
Outros aspectos importantes para que a formação continuada
se institucionalize são as condições e formas de
valorização oferecidas pelo sistema de ensino aos professores.
Estes aspectos devem estar em consonância, para que a formação
continuada de professores possa representar um elemento de mudanças
e melhoria da qualidade do ensino oferecido pelas escolas públicas.
Para tanto, consideramos importante o estabelecimento de parâmetros
para que os processos formativos, desenvolvidos dentro dos espaços
escolares, sejam reconhecidos como políticas educativas, representando
um fator de mudanças no que diz respeito a qualidade do ensino,
a valorização e a remuneração do magistério.
Sendo assim, consideramos os processos de formação continuada
de professores como uma estratégia para superação
dos problemas impostos pela situação atual e que, portanto
deve se configurar em um objeto de análise e investigação
das agências formadoras. Precisamos entender a construção
social, política e profissional destes processos para que a partir
disso possamos intervir e apontar caminhos para ações futuras.
A Formação continuada dos professores depende também
de outros fatores para se concretizar, afirmamos isto, porque os professores
ao buscarem formas de progredir na carreira, terão de dispor de
recursos materiais, recursos financeiros, de espaço, de tempo,
etc, fatores estes que estão diretamente relacionados à
estrutura e organização institucional onde os professores
atuam e que deverão adequar suas ações educacionais
para que possam participar de processos formativos dentro ou fora da escola.
Portanto este trabalho está centrado nas correlações
necessárias que acreditamos ser fundamentais para formação
continuada de professores. As idéias que perpassam estas análises
são fruto da análise na legislação vigente
e dos questionários respondidos pelos membros das equipes diretivas
das Escolas Estaduais de Ensino Médio do município de Santa
Maria/RS.
Descreveremos a seguir o percurso metodológico adotado para o levantamento
e análise das informações.
2. Percurso metodológico
Para a realização deste trabalho realizamos
um estudo das Legislações Federal e Estadual que orientam
as redes públicas de ensino na elaboração de seus
processos de Formação Continuada de professores, assim como
a análise de questionários respondidos pelos membros das
equipes diretivas sobre as práticas de Formação Continuada
realizadas nas Escolas Estaduais de Ensino Médio de Santa Maria.
Para a coleta das informações, lançamos mão
de um dos instrumentos de pesquisa utilizados no âmbito do projeto
maior, ou seja, os questionários aplicados aos membros das Equipes
Diretivas.
Tomando por base experiências anteriores com a aplicação
deste tipo de instrumento, sabíamos da dificuldade de se conseguir
uma amostra razoável de questionários respondidos. Assim,
optou-se por entregar estes instrumentos para todos os membros das Equipes
Diretivas de todas as 18 Escolas Estaduais de Ensino Médio de Santa
Maria/RS, somando um total de 168 questionários entregues, dos
quais, até o momento (Março/2005), foram recolhidos 45.
A coleta de informações continua em andamento, pois ainda
estamos recebendo questionários. No inicio deste ano letivo de
2005, refizemos nossa solicitação formal junto às
escolas para a recolha dos demais questionários respondidos.
Para a realização de nossas análises trabalhamos
aqui com as “falas” (registros escritos) dos membros das Equipes
Diretivas de cada EEB investigada, pois partimos do pressuposto de que
as suas manifestações devem “representar”, em
certa medida, o pensamento coletivo dominante da respectiva comunidade
escolar e, ao mesmo tempo, devem “expressar” parte do “imaginário
escolar” da nossa região.
Apesar das questões, hoje em debate, sobre a profissionalização
docente, desde a pertinência do uso do termo até a busca
pela caracterização desta profissão, neste texto
estamos usando o termo “profissionais” para nos referirmos
a todo aquele que atua numa instituição escolar, cujo objetivo
principal é o ensino. Portanto, membros das Equipes Diretivas e
professores(as) de uma Escola serão aqui chamados de “profissionais
da educação”.
A Tabela 1 permite formar uma idéia sobre o retorno
dos questionários entregues às Equipes Diretivas das 18
Escolas investigadas.
FUNÇÃO |
POPULAÇÃO DE REFERÊNCIA* |
AMOSTRA DE RESPONDENTES |
Quantidade |
Quantidade |
Diretor |
18 |
08 |
44% |
Vice diretor |
48 |
12 |
25% |
Coordenador/Supervisor |
58 |
23 |
40% |
Orientador Educacional |
44 |
04 |
09% |
TOTAL |
168 |
45 |
27% |
*Valores aproximados, devido às mudanças de membros
das Equipes Diretivas que ocorrem durante o ano letivo.
O questionário
utilizado é composto de 27 questões divididas em 4 blocos
distintos, a saber: Bloco I, sobre a formação profissional
do respondente; Bloco II, sobre a experiência profissional do respondente;
Bloco III, com questões sobre as atividades escolares dos membros
das equipes diretivas; Bloco IV, sobre as formas de desenvolvimento do
Estágio Curricular na escola.
Além disso, para este trabalho, os blocos não foram utilizados
na sua totalidade. Foram analisadas apenas as questões que traziam
informações referentes aos aspectos considerados relevantes
para a consecução dos objetivos, ou seja, aquelas questões
que permitiram levantar informações sobre o foco deste trabalho,
ou seja utilizamos as questões do Bloco III sobre a Formação
dos professores. Este recorte está indicado na tabela 2
Tabela 2 - Questões
utilizadas para a realização deste trabalho.
Bloco |
Questões |
III |
5) O que você entende por processos de Formação
Continuada de Professores? |
6) Na legislação da carreira do Magistério
público Estadual do RS, você considera que existem formas de valorização
referentes a ações de Formação Continuada de seus professores? |
7) Que ações a sua escola tem promovido
para propiciar a Formação Continuada de seus professores? |
8)
Que condições são oferecidas aos professores de sua Escola, para que
eles participem de processos de Formação Continuada? |
2.1.Tratamento
das informações
Para a organização das informações obtidas
com os questionários das equipes diretivas, resolvemos utilizar
uma tabela para cada uma das questões. Ou seja, em cada uma destas
tabelas foram registradas e tratadas todas respostas dadas a uma mesma
questão, segundo os procedimentos abaixo:
1. Digitação da identificação da escola (através
de uma seqüência numérica: E01,E02,E03,etc.), na primeira
coluna;
2. Digitação da identificação dos sujeitos
questionados (D-Diretor; VD-Vice-diretor; C-Coordenador; OE- Orientador
Educacional),na segunda coluna;
3. Digitação da íntegra das respostas, na terceira
coluna;
4. Leitura das respostas, tantas vezes quanto necessário, para
extrair a(s) idéia(s) central(is) expressas na resposta;
5. Redação da(s) idéia(s) central(is) extraída(s),
na quarta coluna. Esta etapa foi chamada de “Limpeza das Respostas”;
6. Identificação e redação, de aspecto(s)
relevante(s) presente(s) na(s) idéia(s) central(is), na quinta
coluna;
Como exemplo,
reproduzimos o trabalho de organização realizado com uma
das respostas à questão 12 do Bloco III. Na tabela 3.
Tabela
3. Questão5. O que você entende por processos de Formação Continuada de
Professores?
Esc |
Função |
Íntegra das Respostas |
Idéias Centrais |
Aspectos Relevantes |
E05 |
C01 |
É uma oportunidade necessária nas escolas, pois
acredito que todos têm sempre algo a aprender já que a educação é
um processo contínuo. E este vem ao encontro para que juntos possamos
refletir aprimorar nosso ato pedagógico. |
- È uma necessidade
nas escolas; - A educação é um processo
constante de aprendizagem
- Oportunidade de refletir
e aprimorar o ato pedagógico |
O fato da educação ser um processo constante
de aprendizagem, torna necessário
que se criem oportunidades de reflexão e aprimoramento da prática
do professor. |
Após
a tabulação das informações, passamos a procurar
por categorias, a partir da interpretação dos aspectos relevantes
identificados nas respostas e agrupando aqueles que faziam referência
a um mesmo tópico. A totalidade destes aspectos esta representada
nos quadros abaixo.
3. Análises
realizadas
3.1. Legislação
Consultada
Para nossas
analises consultamos na legislação federal, a Lei de Diretrizes
e Base da Educação Nacional, o Fundo de e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério,
o Programa de Formação Continuada de Professores que atualmente
está sendo implementado pelo Ministério de Educação
em parceria com as Universidades, já na esfera Estadual , consultamos
a Lei do Sistema Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul, o Plano Estadual
de Educação e o Documento 04 emitido pela 8º Coordenadoria
Regional da Educação. Citadas a seguir:
Lei nº
9394, de 20 de dezembro de 1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
Art. 63 Os
institutos superiores de educação manterão:
I. cursos
formadores de profissionais para a educação básica,
inclusive o curso normal superior, destinado à formação
de docentes para a educação infantil e para as primeiras
séries do ensino fundamental;
II. programas de formação pedagógica para portadores
de diplomas de educação superior que queiram se dedicar
à educação básica;
III. programas de educação continuada para os profissionais
de educação dos diversos níveis.
Art. 67 Os
Sistemas de Ensino promoverão a valorização dos profissionais
da educação. Assegurando-lhes, inclusive nos termos dos
estatutos e dos planos de carreira do magistério público:
I. ingresso
exclusivamente por concurso público de provas e títulos;
II. aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento
periódico remunerado para esse fim;
III. piso salarial profissional;
IV. progressão funcional baseada na titulação ou
habilitação, e na avaliação do desempenho;
V. período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
incluído na carga horária;
VI. condições adequadas de trabalho.
Parágrafo
único. A experiência docente é pré-requisito
pata o exercício profissional de quaisquer outras funções
de magistério, nos termos das normas de cada sistema de ensino.
Lei nº
9424/96, de 24 de dezembro de 1996 que dispõe sobre o Fundo de
e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério (FUNDEF) através da Emenda Constitucional
n.º 14, de setembro de 1996 e pelo Decreto nº 2.264, de junho
de 1997.
Art. 1°
É instituído, no âmbito da cada Estado e do Distrito
Federal, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério, o qual
terá natureza contábil e será implantado automaticamente
a partir de 1998.
Art. 2 Os
recursos do fundo serão aplicados na manutenção e
desenvolvimento do ensino fundamental público, e na valorização
do magistério.
Art. 7°.
Os recursos do Fundo , incluída a complementação
da União, quando for o caso, serão utilizados pelos Estados,
Distrito federal e Municípios, assegurados, pelo menos 60% ( sessenta
por cento) para a remuneração dos profissionais do Magistério,
em efetivo exercício de suas atividades no ensino fundamental.
Resolução
N°3, de 8 de outubro de 1997 que fixa Diretrizes para os Novos Planos
de Carreira e de Remuneração para op Magistério dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Art. 5°.
Os Sistemas de Ensino, no, cumprimento do disposto nos artigos 67 e 87
da Lei 9394/96, envidarão esforços para implementar programas
de desenvolvimento profissional dos docentes em exercício, incluída
a formação em nível superior, em instituições
credenciadas, bem como em programas de aperfeiçoamento em serviço.
Programa
de Formação Continuada de Professores – Rede Nacional
de Formação Continuada de Professores de Educação
Básica
Com base
nas prerrogativas legais o Governo Federal, por meio do Ministério
de Educação (MEC) e da Secretaria de Educação
Básica (SEB), constitui um Programa de Formação Continuada
de Professores denominado de Rede Nacional de Formação Continuada
de Professores de Educação Básica, criado visando
a melhoria da qualidade do desempenho do professor em serviço.
Este programa é desenvolvido em um sistema de colaboração
com as Universidades que se constituem em Centros de Pesquisa e Desenvolvimento
da Educação. Tem por objetivos principais:
• “Institucionalizar
o atendimento da demanda de formação continuada”;
• Desenvolver uma concepção de sistema em que a autonomia
se construa pela colaboração, e a flexibilidade encontre
seus limites na articulação e na interação;
• Contribuir com a qualificação da ação
docente no sentido de garantir uma aprendizagem efetiva e uma escola de
qualidade para todos;
• Desencadear uma dinâmica de interação entre
os saberes pedagógicos produzidos pelos Centros, no desenvolvimento
da formação da formação docente e pelos professores
dos sistemas de ensino em sua prática docente;
• Subsidiar a reflexão permanente sobre a prática
docente, com o exercício da crítica do sentido e da gênese
da cultura, da educação e do conhecimento e subsidiar op
aprofundamento da articulação dos componentes curriculares;
• Institucionalizar e fortalecer o trabalho coletivo como meio de
reflexão teórica e construção da prática
pedagógica.” (MEC/SEB,2005)
Lei N° 5751 de 14 de maio de 1969, Lei do Sistema Estadual de Ensino
do Rio Grande do Sul
Art. 71 Os
cargos do magistério público estadual somente poderão
ser providos mediante concurso de títulos e provas.
NOTA: A exigência
de concurso vale para o provimento dos cargos iniciais e finais de carreira
do magistério. V. Constituição da República,
art. 176, VI; Constituição do Estado, art. 178, VII; Lei
n.º 6.672, de 22-4-74, arts. 11 e 26.
Art. 72 Nos
concursos para provimento de cargos de magistério somente será
admitida a inscrição de candidatos que tenham concluído
os correspondentes cursos regulares de formação para magistério,
previstos na legislação federal e estadual.
Parágrafo
único. As normas para a realização destes concursos
serão baixadas pela Secretaria de Educação e Cultura.
Plano Estadual
de Educação – PEE – RS
“ A
valorização do magistério só pode ser obtida
por meio de uma política que implica, simultaneamente, a formação
profissional inicial, as condições dignas de trabalho, salário
e carreira e a formação continuada.”
“ Como
estratégia para que essa valorização ocorra, é
importante promover a adequação dos Planos de Carreira do
Magistério à Legislação Vigente com a participação
efetiva dos membros do magistério, de forma a garantir sua valorização
e atender as demandas das políticas públicas de educação.
Isso é possível através da garantia de continuidade
e aperfeiçoamento das políticas de valorização
do magistério, da formação continuada de professores
e servidores em serviço e da habilitação em licenciatura
plena dos profissionais do magistério.” (Secretaria Estadual
de Educação/Plano Estadual de Educação/RS)
Doc.04/2004
de abril de 2004 - Pressupostos Pedagógicos emitido pela Secretaria
da Educação do Estado do Rio Grande do Sul e divulgado pelas
8ª Coordenadoria Regional de Educação.
Item V. Formação
Continuada: algumas possibilidades
“ Na
perspectiva de fortalecimento das relações educador-educador
sugerimos algumas iniciativas possíveis para exercícios
coletivos de crescimento e auto-desenvolvimento profissional:
• Discussões regulares do Projeto Pedagógico e Regimento
Escolar;
• Envolvimento em Cursos de Pós-Graduação;
• Seminários intra-escolares para relatos e de experiências
educativas de sucesso;
• Reuniões por área de conhecimento e séries;
• Eventos inter-escolares para relatos de propostas de êxito;
• Produção de textos a partir de discussões
realizadas, por escola, acerca de temáticas emergentes;
• Socialização de experiências obtidas por meio
de participação em eventos científicos;
• Formação de grupos de estudo, por escola e/ou em
convênio com Instituições de Ensino Superior e Órgãos
Coordenadores do Sistema de Ensino;
• Participação em projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão
universitária.
A firme intenção
deste subsídio é impulsionar a formação de
redes de trabalho coletivo, como forma de fortalecimento do processo de
qualificação do trabalho docente.”
Nossas analises
da legislação teve como ponto de partida a proposta atual
de Formação de Professores que visa a organização
de uma Rede de Formadores com profissionais das Universidades. Esta política
educacional baseia-se na LDBEN/96, mais precisamente em seus artigos 63
e 67 que orientam a constituição de Programas de Formação
Continuada para os profissionais de educação nos diferentes
níveis. Estes artigos determinam que os sistemas de ensino, deverão
possibilitar aos profissionais de educação, aperfeiçoamento
profissional continuado disponibilizando recursos (materiais, financeiros,
espaço, tempo, etc.) para este fim.
Assim, o Ministério de Educação, lança seu
Programa pautado em uma linha de ação que visa alcançar
os seguintes objetivos:
a) “A
formação continuada é uma exigência da atividade
profissional no mundo atual;
b) A formação continuada deve ter como referência
à prática docente e o conhecimento teórico;
c) A formação continuada vai além da oferta de cursos
de atualização ou treinamento;
d) A formação para ser continuada de integrar-se no dia-a-dia
da escola; e
e) A formação continuada é componente essencial da
profissionalização docente.” ( MEC/SEB, 2005)
Os princípios
acima demonstram, em certa medida, as concepções norteadoras
das políticas educacionais instituídas no atual governo.
Mostram-se favoráveis a modelos de formação que transcendam
os cursos e eventos pontuais, muito praticados e difundidos nas redes
de ensino. Fazem também, referência a um processo de Formação
Continuada que possibilite a aproximação dos estudos teóricos
com as práticas docentes.
Podemos dizer, baseados na legislação, que a Formação
Continuada dos Professores deve ser fomentada e oportunizada pelos Sistemas
de Ensino, destituindo uma cultura que há muito vem se sedimentando
no cenário educacional, a de que é o professor o maior responsável
pelo seu processo de desenvolvimento em serviço, eximindo o Estado
desta responsabilidade. Sinalizam também que esta formação
não deve acontecer afastada de discussões sobre a implementação
de políticas de valorização e profissionalização
docente, ou seja, que os Sistemas de Ensino deverão contemplar
em seus Estatutos e Planos de Carreira formas de promoção
e valorização dos professores que participem de “aperfeiçoamento
profissional continuado”, ressaltando ainda que esta participação,
deverá ser custeada pelo Sistema de Ensino.
As proposições para a Formação Continuada
dos Professores, contidas na Legislação e no Programa do
MEC, buscam o desenvolvimento de uma cultura de valorização
dos conhecimentos produzidos pelos professores em suas práticas
e que possam:
“ Desencadear
uma dinâmica de interação entre os saberes pedagógicos
produzidos pelos Centro, no desenvolvimento da formação
docente e pelos professores dos sistemas de ensino em sua prática
docente” ( MEC/Programa de Formação Continuada de
Professores,2005)
Também
buscam a institucionalização de práticas colaborativas
entre as Escolas e as Instituições Formadoras. Podemos ainda
destacar que tem como objetivo o desenvolvimento da capacidade reflexiva
e de trabalhar coletivamente, sinalizando com isto, a importância
de um trabalho coletivo, voltado às práticas e experiências
dos professores, constituído a partir dos problemas e dificuldades
enfrentados pelos professores no desempenho de suas atribuições.
Com a intenção de ampliar as possibilidades de investimentos
na qualificação do ensino, o Governo Federal sanciona a
Lei 9424/96 que dispõe sobre o Fundo de Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério, que regulamenta
recursos para este fim. Estabelece que parte os recursos do Fundo deverão
ser utilizados na Formação de Professores, contemplando
estes profissionais com planos de carreira e de valorização
profissional. Esta lei vem como um reforço às proposições
contidas na LDB/96, pois sinaliza aos sistemas de ensino formas de investimentos,
na carreira do magistério, colocando a Formação Continuada
de Professores como uma prioridade na utilização destes
recursos.
Gostaríamos de ressaltar que, com a intenção de dar
continuidade a esta política e ampliar sua abrangência, o
Governo Federal, elaborou uma proposta de Emenda Constitucional, que cria
o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica (Fundeb) que regulamentará os recursos aplicados
pela União, Estados e Municípios na Educação
Básica Pública na melhoria da formação e do
salário dos profissionais da educação Este Fundo
lança um novo olhar sobre a escola pública, diferentemente
do FUNDEF, que destina recursos somente para o ensino fundamental, o Fundo
da Educação Básica, além do fundamental, também
investirá na educação infantil, no ensino médio
e na educação de jovens e adultos..
Podemos perceber que as atuais políticas de Formação
de Professores, da Instância Federal, tomam como referência
às prescrições da legislação para a
elaboração de suas propostas e programas.
Vejamos agora as proposições do Plano Estadual de Educação
(PEE) e do documento emitido pela 8ª Coordenadoria Regional de Educação
(8ªCRE) com orientações para as Escolas elaborarem
suas propostas de Formação Continuada dos Professores.
O PEE sinaliza que a valorização do magistério se
dará a partir de ações voltadas a qualificação
da formação dos professores, assim como, da melhoria de
suas condições de trabalho. Outro aspecto importante é
o fato de, assim como na LDB, haver indicação de que a valorização
do magistério está diretamente relacionada a constituição
dos Planos de Carreira e que nestes esteja contemplada a promoção
por meio da participação em eventos de Formação
Continuada. Este representaria um benefício aqueles professores
que se propõem a participar da Formação Continuada.
A este respeito, a 8ª CRE emitiu um documento denominado de “Pressupostos
Pedagógicos”, que dentre as suas orientações,
estão contidas no Item V algumas estratégias que poderiam
estar sendo organizadas pelas escolas para realizarem os Processos de
Formação Continuada de Professores. Pelo que pudemos observar
a Formação deveria acontecer prioritariamente dentro do
espaço escolar, por meio de ações que busquem a interação
e a colaboração dos professores.
3.2. Análise
das informações obtidas com as respostas dadas aos questionários
Para realizar
as analises das informações obtidas com a aplicação
dos Questionários aos membros das Equipes Diretivas das escolas
investigadas, realizamos uma tabulação dos dados, fazendo
agrupamentos de acordo com as temáticas foco de cada questão.
Tabela 4.
Tabela 4.
Análise das informações obtidas com as respostas
dadas aos questionários
Questão |
Categorias |
Questionários |
05 |
Concepção e práticas |
18 responderam que processos de formação continuados de
professores são a possibilidade de atualização profissional para
a melhoria da prática pedagógica;
19 respostas trouxeram a idéia de que a formação continuada
é um processo que deve ter uma regularidade ao longo da carreira.
5 destacaram que os professores é que deverão buscar processos que possibilitem sua formação continuada;
5 destacaram que a formação continuada é um processo que
deve ser oferecido /possibilitado aos professores;
1salientou que a formação continuada de professores demanda
responsabilidades distintas entre as partes envolvidas, neste
caso, a escola e os professores;
|
06 |
Valorização em legislação vigente |
28 profissionais reconhecem a existência de legislação que
valorize as ações de formação continuada de professores;
4 fazem referência direta ao plano de carreira do magistério
público estadual;
18 destacam o Sistema de Avaliação e/ou plano de Valorização
dos professores por atividades e participações em eventos, cuja
carga horária é computada como pontuação para a ascensão na carreira;
13 identificam como formas de ascensão na carreira as mudanças
de classe e de nível dentro do plano de carreira;
9 consideram que os incentivos financeiros obtidos com as
mudanças de níveis e de classe não estimulam a busca pela formação
inicial e nem de processos de formação continuada de professores;
2 dizem desconhecer a legislação relacionada a esta temática; |
07 |
Ações promovidas pelas escolas |
27 afirmaram que a Formação continuada dos professores é
promovida dentro do ambiente escolar por meio de reuniões, grupos
de estudo, palestras e trabalhos em grupo;
7 dos membros das equipes diretivas, dizem que a escola
promove ações para que os professores também possam participar de
eventos (cursos, simpósios, seminários, palestras)
fora do ambiente escolar;
1 afirmou que sua escola possibilita a formação continuada
apenas por meio da participação em eventos fora da escola;
|
08 |
Condições oferecidas aos professores |
20 ressaltam que a
principal condição dada é a liberação
do professor;
7 fazem adequações internas para que os professores possam
participar de processos de formação continuada. Tipos de adequações
citadas: flexibilização de horários; reuniões contam como carga
horária de trabalho; deixam um turno de trabalho livre para o professor. |
A análise
dos dados obtidos nas questões 5 e 7 nos possibilitou identificar
as concepções dos membros das equipes diretivas sobre os
processos de Formação Continuada de professores assim como
as estratégias formativas mais utilizadas em suas escolas.
A Formação Continuada dos professores, de modo geral, foi
identificada por estes sujeitos como:
“...o
processo no qual os professores buscam atualização para
melhoria de sua prática pedagógica.” (Quest.Equipe
Diretiva, VD02, E08)
É
vista como uma oportunidade de “atualização pedagógica”
que acontece por meio de cursos, palestras, seminários, encontros,
etc, conforme modelo adotado.
O termo “atualização pedagógica” associado
aos tipos de eventos explicitados, aponta uma concepção
de Formação Continuada que tem como referência o contato
com “novos” conhecimentos disponibilizados em eventos da área.
Para estes profissionais, a produção de conhecimentos educacionais
acontece fora da Escola, cabendo aos que nela trabalham a sua “apropriação”
em eventos da área. Nestes normalmente prevalece o “simples
repasse” de informações e, na maioria das vezes, os
conteúdos e as temáticas trabalhadas não atendem
às necessidades específicas de cada professor e/ou de cada
escola.
Podemos, então, dizer que, para estes profissionais, o termo “atualização
pedagógica” está ligado à idéia de “tornar-se
atual”, ou seja, saber o que acontece no momento, ter acesso aos
mais novos estudos, pesquisas e, portanto, conhecimentos produzidos no
campo educacional, independente destes conhecimentos servirem ou não
como instrumental para mudar as realidades onde estão inseridos.
Além disso, vale lembrar que atualizado também pode significar
“não ser antiquado, ultrapassado, obsoleto”. Neste
sentido, é possível que estes profissionais, ao realizarem
a formação continuada dos professores de suas escolas, acreditem
que renovar é desconsiderar o “velho”, ou seja, as
práticas e os conhecimentos utilizados até então
e que vêm sendo construídos no espaço escolar ao longo
dos anos. Se assim for, corremos o risco de apenas embelezar, envernizar
uma estrutura “já comprometida”, “já desgastada”
interiormente, ou ainda, de “trocar” a estrutura anterior
por uma nova, “mais moderna”, porém mais frágil
e menos eficiente.
Outro aspecto destacado nas respostas destas questões aponta a
Formação Continuada como um “processo reflexivo”
e que acontece em espaços organizados pela própria escola.
Estes espaços devem possibilitar a interação entre
os professores para que se construa uma prática de reflexão
individual e coletiva sobre as ações pedagógicas
realizadas. Para a realização das atividades nestes espaços,
os professores devem contar com aportes de recursos materiais e financeiros,
com destinação específica de tempos em suas cargas
de trabalho, etc,... como forma de valorizar e incentivar a sua participação
em processos formativos ao longo da carreira (Santos et al, 2004).
Como ilustração desta concepção, tomamos a
fala de um dos Diretores, o qual aponta a Formação Continuada
como:
“....um
processo onde os professores refletem sobre sua prática docente,
considerando teoria e prática, onde buscam com seus pares discutir
sua prática docente...” (Quest. Equipe Diretiva,D, E08).
Esta fala
traz elementos importantes para serem analisados. Ressalta a idéia
de que o processo formativo é reflexivo, deve integrar as teorias
e as práticas e ainda que deve favorecer as trocas entre os professores.
Contudo, cabe ressaltar que esta categoria, apesar de representar uma
concepção que apresenta-se mais coerente com as prerrogativas
legais, os estudos e as pesquisas da área, ainda é de pouca
representatividade entre os sujeitos pesquisados.
O restante das respostas foi possível categorizar utilizando o
termo: “aperfeiçoamento”, como podemos ver representado
na “fala” abaixo:
“São
atividades diversas ... que os professores participam visando aperfeiçoar
sua prática docente..”.(Quest .Equipe Diretiva,VD01,E06)
Certamente
este termo também retrata concepções que amparam
as práticas de Formação Continuada realizadas nas
escolas. Porém, como neste bloco de respostas aparecem poucas falas
e pouco detalhadas, ou seja, temos poucos elementos para subsidiar uma
análise mais profunda, lembramos apenas que aparecem ainda referências
aos termos capacitação e qualificação, e que
o termo “aperfeiçoamento” origina-se da idéia
de “tornar perfeito”, o que poderá eventualmente trazer
subjacente esta idéia quando de seu uso.
Observamos também que existem espaços distintos para os
eventos de Formação Continuada acontecerem. Alguns são
realizados no ambiente escolar através de reuniões, outros
mediante dias de formação, dias de estudo, palestras e cursos.
Há, ainda, aqueles promovidos por outras instituições,
ou seja, que se desenvolvem fora do ambiente escolar, a saber: seminários,
simpósios, encontros, congressos, oficinas, mini-cursos, cursos
de pós-graduação e eventos em geral.
Os “Dias de Formação” que acontecem dentro da
escola e são organizados pelos membros das Equipes Diretivas têm
como principal estratégia formativa às palestras e os cursos,
costumando ser convidados docentes universitários para ministrá-los.
Estas ações representam a principal forma de participação
das IES nos processos de Formação Continuada de professores
no ambiente escolar e, portanto, mesmo que superficial uma das formas
importantes de interação entre EEB e IES.
A falta de indícios, na “fala” dos membros das Equipes
Diretivas, sobre possíveis programas e propostas de Formação
Continuada elaborados de forma conjunta entre as IES e as EEB nos leva
a afirmar que este tipo de ação ainda não acontece
de forma regular, nem institucionalizada. Prevalecem as ações
pontuais e marcadas pela descontinuidade e pela iniciativa individual
de poucos profissionais sejam das IES ou das EEB.
Aqui colocamos a importância da constituição e da
implantação do Programa de formação docente
do MEC, pois entre seus princípios está a aproximação
das Universidades ao espaço escolar, como um movimento que pauta-se
na colaboração e interação institucional.
Superando está visão de sentido único, onde apenas
a Universidade produz conhecimentos e pode contribuir com o desenvolvimento
escolar. Este projeto vem romper com estas idéias, colocando Escola
e Universidades como parceiras de que desempenham papeis distintos mas
equivalentes em graus de importância.
Contudo, pudemos constatar que ocorreram algumas mudanças no cenário
da formação continuada do professores, pois a grande maioria
( 27 de 32) afirma que a formação continuada é oferecida
por ações que ocorrem dentro do ambiente escolar reforçando
a idéia de que estaria ocorrendo um deslocamento da idéia
de formação que antes se concentrava nos cursos e eventos
fora do ambiente escolar para um nível de formação
continuada que tem como estratégia principal reuniões periódicas
na escola. Porém, não podemos afirmar se estes momentos
ofertados pela escola atendem de fato as necessidades formativas dos professores
e os problemas enfrentados pela escola. Tampouco podemos afirmar se estes
encontros se configuram em espaços de construção
de novos conhecimentos pelos professores. Preocupa-nos o fato de considerarem,
quase todos os tipos de reuniões existentes na escola como espaço
de formação continuada.
São citados como espaço de formação as reuniões
pedagógicas, encontros, palestras, trabalhos em grupo, sessões
de estudo. Mas não deixam claro a regularidade destes encontros,
os conteúdos trabalhados, os tipos de atividades elaboradas, se
existe, de fato, um sistema de avaliação para as ações
formativas e seus resultados
Observamos que, de forma geral, as Equipes diretivas sabem da existência
da legislação que valoriza as ações de formação
continuada, fazem referência aos planos de carreira do magistério
público estadual e das possibilidades de ascensão na carreira,
que segundo as respostas se dá via mudanças de níveis
e/ou de classes. Também ficou evidente que o Estado dispõe
de um sistema de avaliação dos professores, que ocorre anualmente
e que toma como indicadores a participação dos professores
em eventos da área e em processos de formação continuada.
Apesar das respostas conterem um volume considerado de elementos sobre
a legislação, não foi possível definir claramente
como a ascensão e conseqüentemente a valorização
acontecem. Por exemplo: quando falam em mudanças de níveis
e de classes não especificam suas diferenças, nem as regras
para cada uma delas. Falam do plano de valorização e do
sistema de avaliação como sendo a mesma coisa.
Este último parágrafo nos traz uma questão muito
importante sobre a articulação das políticas educacionais
e o ambiente escolar. Pela análise feita nos parece que as normativas
legais são pouco discutidas e difundidas no ambiente escolar.
Também percebemos que as escolas liberam seus professores para
possam participar dentro ou fora da escola de processos de formação
continuada, mas não especificam os recursos disponibilizados para
que os professores tenham condições de investir na carreira
através de sua formação. Acreditamos que este também
seja um reflexo do pouco conhecimento sobre as políticas públicas
educacionais, pois não conseguem estabelecer relação
entre a formação continuada e o sistema de valorização,
previsto em lei, que se configura em uma das principais condições
para que os professores se predisponham a participar de processos de formação
continuada em serviço. Afirmam apenas que liberam os professores
para participarem de processos de formação dentro ou fora
da escola, mas não chegam a discriminar como a escola se organiza
durante o afastamento dos professores.
4. Algumas Constatações
Como forma
de sistematizar as informações levantadas com nossas análises,
construímos a tabela abaixo, para possibilitar um olhar mais geral
sobre os aspectos analisados.
Tabela 5.
Aspectos relevantes contidos na Legislação e nos Programas
de Formação Continuada de Professores
Âmbito
Federal |
Âmbito
Estadual |
Legislação
diz que: |
Programa
de Formação objetiva: |
Normativas
e Documentos dizem que: |
Características
da Formação Continuada de Professores |
Os Sistemas de Ensino
devem promover a Formação Continuada dos profissionais da Educação
Devem ser garantidos
aos professores que participarem de processos de aperfeiçoamento
profissional licença e remuneração para custear os gastos;
Devem ser garantidos
aos professores tempo para estudos dentro de suas cargas horárias
de trabalho;
O desenvolvimento do
ensino e a valorização do magistério estão relacionadas a investimentos financeiros por parte o poder público;
Os Planos de Carreira
e de Remuneração do magistério devem contemplar a participação dos
professores em Processos de Formação Continuada;
|
Institucionalização
de políticas de formação continuada de professores;
Promover a interação
dos saberes produzidos nos programas de formação continuada com
os saberes produzidos na prática docente;
Articular a teoria
com a prática;
Desenvolver nos professores
a capacidade de refletirem sobre suas práticas;
Promover a discussões
de articulação entre os diferentes componentes curriculares;
Promover o desenvolvimento
profissional por meio do Trabalho Coletivo no espaço escolar.
Que a Formação Continuada
seja um espaço de trocas e de confronto de idéias entre os professore;
O reconhecimento da
escola como espaço de produção de novos conhecimentos
|
A Formação Continuada
dos Professores deve ser Prevista nos calendários Escolares;
A valorização do magistério
está relacionada à políticas que viabilizem a Formação Inicial,
investimentos e recursos para a melhoria da qualidade de trabalho
e a realização da Formação Continuada dos professores;
Os Projetos Político
–Pedagógicos e os Regimentos Escolares devem servir de dispositivos
para fomentar discussões sobre o espaço escolar, suas necessidades
e objetivos;
As Escolas devem promover
espaços onde os professores possam relatar e refletir coletivamente
sobre suas experiências escolares;
A Formação pode acontecer
por meio de Grupos de Estudos, constituídos dentro do espaço escolar
e em convênio com as Universidades,
|
De forma geral a Formação
Continuada é vista como uma oportunidade de atualização pedagógica;
A formação vem acontecendo
prioritariamente dentro do espaço escolar, apesar de não estarem
descartado eventos fora, promovidos por outra instituições;
São considerados momentos
de Formação, dentro do espaço escolar praticamente reuniões pedagógicas,
encontros, palestras, trabalhos em grupo, sessões de estudos;
Não há evidencias,
nas “falas”, sobre a elaboração de processos formativos elaborados
em consonância com as Universidades e com a 8ªCRE;
Pode-se perceber que
não há uma mobilização efetiva do Sistema de Ensino, para a implantação
de políticas educativas voltadas a formação de professores;
Há uma determinação,
que se supõem, que deveria garantir aos professores processos de
formação continuada, mas não há evidências de um acompanhamento,
de uma avaliação ou de outra forma de verificação se estes processos
acontecem de fato, a principio nos parece ficar tudo a cargo da
escola; inclusive a realização ou não destes processos;
Os Membros da Equipes
Diretivas sabem que a legislação contempla a formação continuada
dos professores, mas não consideram, que sejam formas eficazes de
valorização e incentivo profissional;
A forma mais clara
de valorização, descrita pelos Membros das Equipes Diretivas, é
o sistema de avaliação dos docentes, que acontece anualmente e valoriza
a participação dos profissionais em eventos formativos;
Não fica clara a forma
de valorização dos processos formativos que acontecem dentro do
espaço escolar, fica entendida a necessidade de certificação para
o reconhecimento do tempo disponibilizado pelos professores para
a sua formação;
Os professores são
liberados para participarem de eventos formativos dentro ou fora
da escola;
Não fica esclarecido
como a escola se organiza para a liberação dos professores, em termos
de tempo, recursos,etc.
|
Procuramos
neste trabalho discutir como a Formação Continuada realizada
nas Escolas Estaduais de Ensino Médio de Santa Maria, estão
em consonância com a Legislação Federal e Estadual
e/ou com Documentos emitidos pelo Sistema de Ensino.
A legislação, quando refere-se a Formação
Continuada dos Professores é muito clara ao evidenciar a necessidade
de investimentos em processos desta natureza. Assim como delega aos Sistemas
de Ensino esta responsabilidade. Propõe deve ser fomentada e oportunizada
pelos Sistemas de Ensino. Neste sentido a legislação Federal
sinaliza aos Sistemas de Ensino a necessidade de assumirem como políticas
de valorização da carreira do magistério a Formação
Continuada de seus professores, oferecendo condições adequadas
para tal, ou seja, remuneração e dispensa de suas atividades
escolares.
Sinalizam também que esta formação não deve
acontecer afastada de discussões sobre a implementação
de políticas de valorização e profissionalização
docente, ou seja, que os Sistemas de Ensino deverão contemplar
em seus Estatutos e Planos de Carreira, formas de promover e valorizar
a participação dos professores em “aperfeiçoamento
profissional continuado”, ressaltando ainda que esta participação,
deverá ser custeada pelo Sistema de Ensino.
O MEC, quando elabora seu Programa de Formação de Professores,
coloca em evidência algumas concepções que devem permear
os processos formativos. Estes devem promover a interação
entre os saberes produzidos nos espaços de estudos com aqueles
produzidos pelos professores em sua prática educativa. Também
apontam a importância da interação e as trocas entre
os pares. Mas, em nosso entendimento, o que fica mais evidente é
a relação estabelecida entre a profissionalização,
a valorização do profissional da educação
com investimentos reais e efetivos em sua qualificação.
Além de demonstrar que a continuidade sugerida, tanto na Legislação,
quanto no Programa está relacionada a objetivos claros, oriundos
das necessidades dos professores e do quadro educacional vivido hoje no
país. Devem, sim, refletir uma perspectiva de crescimento e evolução
das práticas e dos conhecimentos dos professores.
Pudemos observar no PEE e nos Documentos emitidos pela Secretaria Estadual
de Educação a existência de uma certa consonância
com as proposições postas pela Legislação
Federal, pois também dão ênfase a valorização
dos docentes, por meio de processos formativos e de investimentos na carreira;
Contudo, nos parece ser uma discussão sem força e representatividade,
pela falta de determinações e normativas legais que responsabilizem,
de forma mais efetiva, os Sistemas de Ensino a promoverem Programas e
Processos de Formação Continuada de Professores.
Consideramos um avanço os fato da Coordenadoria ter determinado
a necessidade de realização da Formação Continuada
por parte das Escolas, mas não podemos deixar de considerar a fragilidade
deste encaminhamento, pois atribui às Escolas toda a responsabilidade
sem a institucionalização de políticas que façam
por garantir recursos e condições que estes espaços
formativos aconteçam.
Outro aspecto que nos chama a atenção, é o significado
do termo continuidade da formação. Este termo relaciona-se
a todo e qualquer evento que o professor participe ao longo da carreira.
Entendemos que a continuidade destes processos está para além
disto, deve possibilitar avanços na solução de problemas
existentes nos espaços escolares e para isto os momentos, cursos
e eventos que o professor participem devem fazer parte de uma projeto
maior, que envolva além das necessidades destes professores as
necessidades educacionais de uma forma geral. Dizemos isto baseados, na
descontinuidade, na desarticulação e descontextualização
dos temas e conteúdos de estudo trabalhados nos encontros e eventos
promovidos para a formação.
Quanto às proposições e discursos sobre a Formação
Continuada dos professores, podemos concluir que existe uma certa consonância
com as determinações legais e a Proposta de Formação
de Professores implementada pelo MEC. Mas quando nos propomos fazer um
olhar mais detalhado sobre as práticas formativas existentes nestes
espaços, é notório o descompasso, pois estas ações
estão sob responsabilidade total das escolas, sem ocorrer discussões
mais amplas sobre a efetivação de políticas neste
sentido. Prerrogativa esta, muito destacada no texto legal.
A Formação Continuada está contemplada na legislação,
mas é preocupante perceber que suas proposições,
apesar do tempo que se fazem presentes na legislação ( LDB
– 1996), nos discursos e literatura, não transpõem
da esfera administrativa para as discussões e práticas existentes
nas escolas.
Bibliografia
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da Educação, Secretaria de Educação Básica,
(1996). Lei nº 9394: Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. < http://www.mec.gov.br/seb/pdf/LDB.pdf> Acesso em: 16
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< http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=section&id=11&Itemid=2000>
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______, Ministério de Educação, Conselho Nacional
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Magistério dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
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Básica. < http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=203&Itemid=228.>
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Regional de Educação, (2004). Pressupostos Pedagógicos.
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