Felipe Telles
Gracielle Rocha
Lucia Rizzo
Aline Luzia*
Wilson Sandano – Orientador
1. Apresentação
O trabalho investiga o processo de formação do espaço
escolar em Sorocaba, no período de 1850 a 1880, derivando da pesquisa:
Fontes para a história da educação escolar em Sorocaba,
circunscrita ao período de 1850 a 1920, caracterizado no âmbito
da produção historiográfica correspondente à
história de Sorocaba e região, como período de decadência
do tropeirismo e de início da industrialização. A
natureza do acervo investigado circunscreve-se a documentação
textual escrita num universo constituído por ofícios, cartas,
memorandos, livros de registros, estatutos, regimentos, relatórios,
etc., de professores e inspetores. A documentação foi obtida
por meio de fotocópia dos originais junto ao Arquivo Histórico
do Estado de São Paulo.
Nesse trabalho pretende-se analisar essas fontes e relacioná-las
com a História da Educação escolar pública
em Sorocaba.
2. Fontes
Todas as formas de registro deixadas pelo homem durante sua história
constituem fontes. Segundo SAVIANI:
As fontes são o ponto de origem, a base e o ponto de apoio para
a produção historiográfica que nos permite atingir
o conhecimento da história da educação brasileira.
(SAVIANI, 2004 p.9)
Ao tornar-se ciência, com a escola positivista, a história
passa a depender dos documentos para ser escrita. Segundo a escola positivista
esses documentos (somente os oficiais) poderiam ser considerados como
“fontes legítimas” para o estudo da história
e esses documentos falariam por si só não cabendo ao historiador
interrogar os documentos, caberia sim se manter fiel a sua fonte de pesquisa.
Como decorrência desse modo de pensar a história surgiu a
preocupação de verificar a autenticidade dos documentos.
Porém com a “Escola dos Annales” ampliou-se a noção
de documento, a partir de uma outra concepção histórica.
A partir de agora todo o acontecer da história se faz a partir
das ações dos homens, incorporando ao documento escrito,
outros documentos de naturezas diversas como: objetos, signos, paisagens
e depoimentos orais. Os documentos não-oficiais também,
se analisado criticamente, podem ser utilizados como fontes para a pesquisa.
Os documentos, contudo, são produções humanas e por
serem produções humanas não estão isentos
de intencionalidade. O pesquisador deve ter como preocupação
a intensão do agente histórico. O documento segundo Vieira
(1989) “já não fala por si mesmo mais necessita de
perguntas adequadas”. Devemos buscar nas entrelinhas das fontes,
principalmente as escritas, informações que a priori não
estariam bem claras. Os documentos são o reflexo do momento histórico
em que foram criados e reflexo dos quais continuou a existir:
“O documento não é inócuo. É antes de
mais nada o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente da história,
da época, da sociedade que o produziram, mas também das
épocas sucessivas durante as quais continuou viver, talvez esquecida,
durante os quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio.
O
* Alunos do PROBIC - UNISO
documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho,
o ensinamento (para evocar a etmologia) que ele traz devem ser em primeiro
lugar analisados desmistificando o seu significado aparente” (LE
GOFF, 1990, p. 548)
As fontes dentro da história da educação apresentam-se
de duas maneiras: as fontes oficiais e as fontes não-oficiais.
As fontes oficiais constituem-se por ofícios, atas, livro de registros,
etc. E as fontes não-oficiais caracterizam-se por cartas, jornais
de épocas, livros, etc.
“Uma fonte particular de memória, são os registros
escritos e vivenciais de itinerários de vida aos agentes de ensino
e dos patronos de certas instituições educativas. Mas também
aos alunos e de outro actores. Uma diversidade de papéis, de itinerários
de vida, de destinos, de expectativas e memórias. Eis uma fonte
de informação muito útil, em vários sentidos.
Registros cujas linhas de orientação, ritmos e conteúdo
da informação se cruzam e em boa parte se identificam com
o quotidiano e o percurso histórico das próprias instituições.”
(MAGALHÃES, p.71)
As fontes oficias mostram a “verdade oficial”,
porém se buscarmos outras fontes e analisarmos criteriosamente,
observando as ligações e distorções existentes,
poderemos descobrir o que não está explicito em determinados
documentos.
“Ao manusearmos fontes oficiais, como as que propomos
essencialmente, devemos nos atentar para as ambigüidades, contradições
e outros elementos que fontes dessa natureza –sem deixar de reconhecer
sua importância e riqueza nos revela, devemos ter cautela tendo
como referência a conjuntura histórica e o contexto social,
econômico e político que o período apresenta sem,
no entanto, cair na análise anacrônica, muito comum nas leituras
dessas fontes. São dados que contribuem enormemente para a escrita
da história, porém devem ser analisados de forma crítica
e cruzadas com outras fontes e teorias para que se tornem válidas.”
(VALDEZ, p.79.)
A escolha das fontes que serão utilizadas e de
seu uso é delimitada pelo tema da pesquisa e dos recortes que ela
apresentará. Quando pesquisamos a história de uma instituição
escolar, todos os documentos oficiais não poderão ser descartados,
sendo a análise deles um ponto importante no estudo realizado.
“ A construção das representações do
passado é subordinada à análise das informações
‘aprisionadas’ nos documentos. Revisitar o passado significa
trilhar o caminho que permite a ressignificação da memória
e a interpretação das experiências hoje vivenciadas
pelo conjunto da sociedade. Entender a histórica como um processo,
resultado da ação de forças sociais nem sempre covalentes
, favorece o entendimento da importância das fontes documentais
que, independentemente das conjunturas sociais de cada período
histórico , nos instrumentalizam para o melhor entendimento dos
mesmos”. (VENDRAMETO, 2002, p. 43)
Arquivos: Públicos e Privados
Ao delimitarmos a pesquisa, “Fontes e Instrução pública
Sorocaba: 1850-1880”, uma questão tornou-se pertinente: o
que é público e o que é privado quando se fala em
arquivos escolares”
Para tentar esclarecer essa dúvida vamos ao conceito legal de arquivos:
Conceito: Há uma conceituação legal de arquivo, assim
expressa “Conjunto de documentos produzidos ou recebidos por órgãos
públicos e entidades privadas, em decorrência do exercício
de atividades específicas, bem como pensa a física, qualquer
que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos”
(MEDEIROS, 2003, p. 1)
O Conceito é abrangente e permite ir além da burocracia
o “arquivo escolar será conjunto de documentos produzidos
ou recebidos por escolas públicas ou privadas, em decorrência
do exercício de suas atividades específicas, qualquer que
seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos”.
(MEDEIROS, 2003, p. 2)
A classificação dos arquivos baseia-se na natureza de sua
produção. Os arquivos públicos são aqueles
cujos documentos foram produzidos ou recebidos por órgãos
públicos, no exercício de sua função. Os arquivos
públicos são Federais, Estaduais, do Distrito Federal e
Municipais. O arquivo classificado como privados serão aqueles
documentos produzidos por pessoas físicas ou jurídicas em
decorrência de suas atividades.
Mas há arquivos privados de interesse público. Para que
estes se tornem públicos alguns independem da lei, porém
outros necessitam serem declarados por decretos.
“Embora a lei geral não diga expressamente, os arquivos escolares,
naquilo que dizem respeito aos atos decorrentes de múnus (ofício)
público, são de interesse público e quando uma escola
particular (privada) é extinta seus arquivos devem ser transferidos
à guarda pública. Mas aí, é preciso frisar:
A transferência obrigatória é quanto aos documentos
que decorram de atribuições públicas exercidas pela
escola particular”.
Portanto, pode-se afirmar que a documentação privada quando
é de interesse público ou social podem através de
decretos, tornarem-se públicos.
3. A instrução pública em Sorocaba
Devemos, antes de analisar as fontes, contextualizá-las no período
em que foram produzidas, conseqüentemente contextualizar o período
da pesquisa.O período em discussão insere-se no Império
(1822 até 1889).
O modelo agrário de produção, que situa-se no período
imperial, caracteriza-se pelo uso do trabalho escravo, da monocultura
voltada para a exportação baseada em grandes latifúndios,
constituíam a base econômica do país, e esse modelo
econômico vai refletir-se no modelo educacional da época.
“A partir de 1850, os ideais do liberalismo ganharam espaço
dentro do próprio sistema administrativo do Estado, seja no Governo
Imperial, seja no Provincial. No que diz respeito à educação,
o princípio liberal defendido pelas autoridades públicas
era o de completa liberalização do sistema escolar, retirando-se
do Estado as responsabilidades pela educação, transferindo-se
para a iniciativa privada” (MANOEL apud GONZALEZ e SANDANO, 2004,
p.41)
Dentro desse contexto Sorocaba, em particular, passa por grandes mudanças:
formação de capital comercial com base na pecuária;
pelo tropeirismo; pela expansão de políticas de investimentos
públicos vinculados à urbanização; pela chegada
da estrada de ferro; pela economia de algodão; por um sistema de
muar vinculado à produção de açúcar
e café; pelas feiras. (BADDINI, 2002).
Em Sorocaba, a educação apresentava suas especificidades,
na medida em que a cidade era basicamente rural:
“Em 1860, Sorocaba, com cerca de 10.000 habitantes, tinha somente
um terço de sua população residindo no centro urbano
(BADDINI, p. 144). Em 1870, a população de Sorocaba era
de cerca de 16.000 habitantes, com um total de 323 alunos, sendo 204 nas
escolas públicas (mesmo número do período anterior:
2 masculinas e 2 femininas) e 119 nas particulares (4 masculinas e 1 feminina),
segundo relatório do Inspetor de Distrito” (GONZALES e SANDANO,
2004, p.50)
O que pode se perceber é o número muito pequeno de alunos
em relação ao número de habitantes de Sorocaba. Essa
falta de interesse pelos estudos é resultado do modo de vida da
população. Como era basicamente rural, pouco interessava
aos pais que seus filhos estivessem matriculados na escola.
O professor Venâncio José Fontoura, em relatório sobre
a situação de sua aula:
Existem 77 alumnos matriculados, dos quase 64 frequentes. Este número
ainda está longe de ser proporcional a população
de Sorocaba, mesmo levando em conta a matricula de outras aulas. Deve-se,
toda via, attender (?) a uma circunstância , e é que este
municipio eminentemente agricola, tem os seus habitantes disseminados
em uma vasta área, e o cultivo do algodão proporciona trabalho
as crianças, que deveria acorrer às escolas” ¹
Nesse documento, percebe-se que os próprios professores sabiam
da desproporção de alunos matriculados nas escolas e o tamanho
da cidade e conheciam, até mesmo, as causas dessa falta de interesse
pelo estudo, o documento revela ainda a ligação do trabalho
infantil com a agricultura.
Essa falta de interesse faz com que o Professor Caetano de Silva e Albuquerque,
justifique a causa da não abertura do curso de primeiras letras:
Ilmo senhor
Accusando a recepção da circular que V.Sª m’
inderessou , com data de 13 de agosto ultimo, cumpri-me responder que
tendo eu solicitado de V.Sª, a compectente licença para abrir
uma aula de ensino de primeiras lettras, nunca me foi possivel effectuar
essa abertura por falta de alumnos e mesmo por não me convir.
Assim, não me tendo utilizado da referida licença , não
sei por que se tem dado omissão da parte do Senr Inspector de districto,
em comunicar que eu não exerço o magistério.
Deos Ge a V.Sª p Ms As
Ilmº Senr Dor. Diogo de Mendonça Pinto,
Digmº Inspector Geral da Instrucção publica D’esta
prova
Sorocaba 15 de 7brº 1864
Caetano de Silva e Albuquerque².
Podemos perceber através dos documentos aspectos do cotidiano da
instrução pública em Sorocaba
A partir de 1852, aparece, em Sorocaba, a figura do Inspetor de Distrito,
nomeado e homem de confiança do governo da Província.
Termo de exames de primeiras Lettras
Aos cinco dias do mez de Dezembro de 1863 n’esta cidade de Sorocaba,
e na Aula de primeiras Lettras do sexo feminino sob a presidencia do Inspector
do Districto, Padre Jeronymo da Silva Bellas, e com os examinadores ,
Antonio Justiniano de Souza, e Luiz Augusto de Vasconcellos procedeo-se
ao exame de primeiras Lettras e Granmatica Nacional sendo examinadas em
differentes materias e doutrina Crista as alunmas,Anna Emilia de Barros
, Leopoldina Maria da Conceição,Rita Ermelina de Cassia,
Maria (Joana?) de Souza ,Julianna Magdalena , Maria Benedicta , Maria
Rita d’ Almeida, Benedicta Roza, Roza Amélia Moreira,Maria
das Dores Moreira,Benedicta Freire,Deolinda D’ Oliveira Barbosa,
Anna Helena Ajetis,Anna Gertrudes de Salles,Anna Emelia de Oliveira,Maria
da Conceição dos Reis e Maria Magdalena Ajetis, sendo estas
tres ultimas examinadas em gramatica, e forão todas plenamente
approvadas nas mencionadas materias. Para constar lavrou-se este termo,
em que se assinaram, o inspector do Districto e examinadores.
Jeronimo da Silva Bellas
Luis Augusto de Vasconcellos
Vicentina Adelaide de Vasconcellos
Professora das 1ª Cadeira ³
Além da presença do Inspetor de Distrito, podemos também
ver como se dava o processo avaliatório e quais as disciplinas
aplicadas.
O Inspetor de Distrito em ofício encaminhado ao Inspetor Geral
da Instrução Pública, em 1861, relata o aproveitamento
da freqüência dos alunos e a presença das aulas de Latim
e Francês:
Em cumprimento ao § 11 do artº. 12 do Regulamento Provincial
de 8 de Novembro de 1851 remetto a V. Sª. o incluzo mappa da Instrucção
Publica deste Districto, durante o trimestre ultimo. Por elle verá
V. Sª. Que nas duas escolas do sexo masculino estão matriculados
cento e trinta e oito alumnos dos quaes são frequentes cento e
um, e nas duas do sexo femenino cento e quatro alumnas matriculadas das
quaes cem são frequentes. O aproveitamento é regular tanto
nas escolas do sexo masculino, como nas do sexo femenino; porque, com
quanto alguns alumnos, e mesmo alumnas aprezentem algum adiantamento,
todavia este em relação ao tempo matrícula e frequencia
não pode ser considerado senão como regular. Esta consideração
é applicavel aos alumnos da aula de Latim e Francez.4
No ano seguinte, o Professor João Feliciano da Costa Ferreira,
em outro ofício ao Inspetor Geral da Instrução relata:
As materias que nestes Estabelecimentos se ensinão são as
determinadas por lei com excepção porem de que na segunda
escola do sexo masculino ainda não foi possivel dar começo
ao ensino das noções geraes de historia e geographia e o
mais que recommenda o artº. 4º. da Lei Provincial nº. 34
de 15 de Março de 1846, começando á muito pouco tempo
a pôr-se em execução o determinado no referido arigo
na segunda escola do sexo femenino.
Sou porem levado a reconhecer que o fatto do cumprimento das disposições
contidas no artigo citado provem não dos Professores, mas do modo
pelo qual se acha organizada a instrucção primaria e secundaria.
Nas escolas primarias não é possivel prezentemente ensinarem
e, e mais ainda com aproveitamento as materias de que trata a lei; por
quanto os pais que destinão seus filhos a o estudo superior não
esperão que elles aprendão na escola de primeiras lettras
noções geraes de historia e geographia, visto como estas
materias tem elles de estudar em outras aulas, e quanto á outros
que tem dar destino diverso á seus filhos contentão-se que
estes aprendão ate a grammatica. Seria pois necessario que os pais
fossem obrigados a consentir que seus filhos estivessem obrigados a consentir
que seus filhos estivessem na escola ate aprenderem essas materias, isto
porem não será conveniente; mas sendo necessario estender-se
a instrucção ao maior numero julgo que seria melhor determinar-se
por lei que as materias de que trata o artº. 4º da lei de 16
de Março de 1846, quanto ao que diz respeito ao sexo masculino,
fizessem parte da instrucção secundaria, sendo os professores
deste gráo obrigados a ensinalas.
Durante o trimestre ultimo estiverão matriculados na 1ª escola
de primeiras lettras do sexo masculino da qual é professor Manoel
Joaquim de Souza Guerra Junior 37 alumnos, dos quaes forão effectivamente
frequentes 30; na 2ª da qual é professor Francisco Luiz de
Abreu Medeiros, matriculados 108, effectivamente frequentes 85: total,
matriculados 145, effectivamente frequentes 115, reunindo-se á
estes mais 35 matriculados e frequentes na escola particular da qual é
professor Antonio Justiniano de Souza e fica o tal: matriculados 180,
frequentes 150.
Na escola do sexo feminino da qual é professora D. Vicentina Adelaide
de Vasconcellos estiverão matriculadas 64 alumnas, das quaes forão
effectivamente frequentes 49, e na 2ª da qual é professora
D. Maria Flora de Souza, matriculadas 37, e effectivamente frequentes
30 total matriculadas 101, effectivamente frequentes 79, que reunidas
aos alumnos das escolas do sexo masculino formão o total matriculados
281, frequentes 229. Na aula de Latim e Francez da qual é professor
Luiz Augusto de Vasconcellos estiverão matriculados 20 alumnos,
dos quaes 12 forão effectivamente frequentes. O total de alumnos
de ambos os sexos das escolas primarias e secundaria monta em matriculados
301, frequentes 241. Existe ainda no Bairro de Jundiacanga uma escola
particular da qual é professor Bento José da Silveira: desta
escola nada posso dizer porque este professor nada me tem communicado
a respeito.
O Professor da 2ª escola de 1as. lettras do sexo masculino esteve
ainda durante o trimestre com licença, por doente, mas o ensino
não faltou, visco como o mesmo professor, a sua custa incubio o
ensino a outra pessoa que satisfatoriamente prehencheo o logar.
Os alumnos e alumnas de todas as escolas aprezentão algum adiantamento
e os professores e professoras são assiduos no cumprimento de seus
veres, tendo todos bom comportameto civil e moral5.
O professor José Lydio de Vasconcellos, em documento, reclama do
atraso do pagamento da 4ª parte de seu ordenado:
Ilmo Senr
Confere-me Senr o conhecimento da V.Sa que requerendo eu a Camara Municipal
d’esta idade o pagamento da 4º parte do meu ordenado marcado
no art 16 da Ley Provincial nº 84 de 16 de março de 1846,
foi (o meu?) requerimento, apesar de instruido com documentos comprovatorios
do cumprimento do meus deveres, indefferido em data de 12 do corrente
anno, tendo a Camara n’este mesmo dia differido igual petição
da Exma Professora , Senra D. Maria Flora de Souza , o que faço
certo pelo documento juncto.A vista do indefferimento que referece a minha
petição , fiz uma outra a referida Camara, cuja copia tenho
a honra de fazer chegar ao conhecimento de V.Sª, mas a Camara com
a maior injustiça adiou o defferimento da minha petição
a titulo de consultor ao Exmº Senr Presidente da Provincia se ella
deve ou não pagar aos Professores do 2º grão a 4º
parte de seus ordenados sem que tenhão alumnos de todas as matérias
marcadas pelo art. 4º da referida ley.A consulta que a camara leva
ao conhecimento Exmº Senr.Presidente da Provincia , não acompanha
as petições e documentos a ella apresentados por mim, motivo
porque supponho , que ella fará uma ( ) a seu jeito, estando que
V. Excia me faça justiça , pecço a V.S ª que
a vista do exposto se dignará a dar as providencias necessarias
para garantir o meu direito , visto que V.S é a salva-guarda dos
direitos offendidos dos Professores.
Deus guarde a V.Sª por muitos annos.
Sorocaba 18 de abril de 1864.
José Lydio de Vasconcellos
Professor da 2º cadeira 6
Através desse documento, pode-se analisar a situação
real do professor na época, com atrasos em salário e a ligação
da Educação com o poder público.
Outro aspecto importante, relacionado a educação, é
a presença de castigos . O Professor Venâncio José
Fontoura relata que a suspensão dos castigos físicos foi
prematura, pelo menos nas escolas públicas:
A ideia humanitaria e civilisadora, que determinou a suppressão
dos castigos phisicos nas escolas, parece-me prematura, pelo menos para
as aulas publicas, frequentadas por meninos de uma educação
quasi sempre descurada, sem estimulo, insensiveis á emulação.
Quem se lembrar que entre nós os meninos são mandados á
escola por incorrigiveis, quando se tornam merecedores de um castigo,
reconhecerá a impotencia do professor diante de um menino que faz
garbo de impudencia. É triste este juiso, mas todos os professores
públicos o confirmarão. Digo professor públicos,
porque os alumnos das escolas particulares pertencem, ordinariamente,
a uma classe que tem em mór estima a educação domestica,
essa que não compete aos mestres, si não aos paes.7
Considerações Finais
A análise documental, revelou-se de extrema importancia para o
estudo do processo de instrução pública na cidade
de Sofocaba.
Com base nos documentos analisados e catalogados pode-se perceber que:
a) Sorocaba era uma cidade pobre e eminentemente agrícola, com
pouco interesse na educação;
b) a situação do professor na época, com atraso nos
pagamentos de salário;
c) como a educação estava vinculada ao poder publico da
época e sua legislação;
d) as relações sociais presentes no cotidiano escolar
e) o aproveitamento alunos durante o período de estudos, as disciplinas
aplicadas como latim e francês;
f) a presença de castigos físicos
g) freqüência dos alunos
Documentos
1- Ofício encaminhado ao Inspetor Geral de Inspeção
Pública, por Venâncio José Fontoura, professor da
Segunda Cadeira do Sexo Masculino, em 15 de outubro de 1870
2- Ofício encaminhado ao Inspetor Geral de Inspeção
Pública Senr Dor. Diogo de Mendonça Pinto, pelo professor
Caetano de Silva e Albuquerque explicando o motivo de não ter iniciado
o curso de primeiras letras.
3- relatório apresentado pelos professores Jeronimo da Silva Bellas,
Luis Augusto de Vasconcellos e Vicentina Adelaide de Vasconcellos, mostrando
os resultados dos exames aplicados
4- Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução
Pública, por João Feliciano da Costa Ferreira, Inspetor
do Distrito, em 08/04/1861.
5- Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução
Pública, por João Feliciano da Costa Ferreira, Inspetor
do Distrito, em 10/10/1862.
6- Ofício encaminhado a Câmara Municipal de Sorocaba, pelo
professor José Lydio de Vasconcellos, reclamando do não
pagamento da 4ª parte de seu ordenado.
7- Ofício encaminhado ao Inspetor Geral da Instrução
Pública, por Venâncio José Fontoura, professor da
2ª cadeira do sexo masculino, em 15/10/1870.
Bibliografia
ALMEIDA, Aluísio de. Sorocaba: 3 séculos
de história. Itu, Sp: Ottoni, 2002.
BADDINI, Cássia Maria. Sorocaba no Império. Comércio
de animais e desenvolvimento urbano. São Paulo: Annablume-Fapesp,
2002.
GONZALEZ, Jorge Luiz C e SANDANO, Wilson. A formação da
Educação Escolar Pública em Sorocaba 1850- 1880,
Revista Histedbr On-line n.16, p.36 – 60, 2004.
JUNIOR, Bruno Bontempi. História da Educação Brasileira:
O terreno do consenso. In Memória intelectual da Educação
Brasileira, ed. Bragança Paulista: EDUSF, 2002
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, Editora
da Unicamp, 1990.
MAGALHÃES, Justino. Contributo para a historia das instituições
educativas – entre a memória e o arquivo. Braga, Portugal,
1999
MEDEIROS, Ruy Hermann Araújo. Arquivos Escolares – Breve
introdução ao s eu conhecimento, Vitória da Conquista
– Bahia , 2003
MORAES, Carmen Sylvia Vidigal. O projeto In: Moraes, Carmem Sylvia Vidigal
e ALVES, Júlia Falivene. (orgs.). Inventário de fontes Documentais,
São Paulo, Sp. p. 15 a 42
SAVIANI, Demerval. Breves Considerações sobre Fontes para
a história da Educação. In: LOMBARDI, José
Claudinei e NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. (Orgs.). Fontes, História
e Historiografia da Educação, Campinas, SP, 2004. p.3 à
35.
VALDEZ, Diane Relatos, ofícios, cartas, listas, revistas e outros:
fontes para a história da Educação em Goiás.
Campinas: Unicamp.
VENDRAMETO, Maria Cristina. Fontes Documentais Primárias do Ensino
Técnico: um universo inexplorado. Roteiro para a leitura técnica
do inventário. Em: MORAES, Carmen Sylvia V. e ALVES, Julia F.
(organizadoras). Contribuição à pesquisa do ensino
técnico no Estado de São Paulo: Inventário de Fontes
Documentais. Centro Paula Souza / SP : Imprensa Oficial, 2002.
VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo; PEIXOTO, Maria do Rosário
da Cunha; KHOURY, Yara Maria Aun. A pesquisa em História. São
Paulo: Ática, 1989.