Warlen Fernandes Soares Marques - PUC-CAMPINAS
O presente estudo tem por objetivo identificar as possíveis
causas que afastam as crianças em idade escolar do hábito
de leitura. Os sujeitos deste estudo são alunos da Rede Pública
de Ensino (Estadual e Municipal da cidade de Campinas), abarcando o Ensino
Fundamental, perpassando pelo Ensino Médio e culminando com o Curso
de Magistério. A metodologia utilizada consta de questionários
aplicados aos alunos, in loco.. Ressaltamos que as falas denunciam aspectos
que permeiam as políticas públicas, mas se multiplicam ao
enfatizar o mito de que o aluno não gosta de ler. Este estudo agrega
elementos de ordem estrutural e conjuntural que interferem no hábito
de ler do aluno.
INTRODUÇÃO
A leitura é uma prática que sempre nos fascinou. Incomodava-nos
ouvir que a criança não gosta de ler. Buscamos no decorrer
deste estudo pistas que evidenciassem os principais fatores que distanciam
os jovens do hábito de leitura.
Emergimos por três anos em realidades diversas: uma escola do ensino
fundamenta e médio, uma do ensino médio e outra, específica
para a formação de professores para o exercício do
magistério. As três instituições de ensino
situam-se na cidade de Campinas.
Os sujeitos deste estudo foram alunos do Ensino Fundamental e médio
de Escolas da Rede Municipal e Estadual da cidade de Campinas. E também
alunas do Curso de Magistério de uma Escola da Rede Estadual.
Prevaleceu a crença na leitura enquanto um poderoso instrumento
de conscientização e de libertação da classe
oprimida. E que uma educação, que se proponha a uma prática
libertadora, deva entender o ato de ler enquanto um processo interativo,
no qual o sujeito obtenha um entendimento crítico sobre a realidade
apresentada, contribuindo para uma nova visão de mundo pelo leitor.
Este estudo exigiu um olhar desnudo de preconceitos sobre as leituras
que os jovens realizavam. E foi relevante a contribuição
de alunos, professores, orientadores pedagógicos e diretores de
escola para que a pesquisa se realizasse com sucesso.
O presente trabalho demonstrou que há muito a ser feito sobre a
questão da leitura no bojo escolar e que, com um pouco de disposição,
conseguiremos superar as agruras que o sistema ideologicamente, insiste
em nos apresentar como insuperáveis. Nosso verbo de ação
é ousar.
UM POUCO DE FANTASIA
A Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo literário,
deve ser utilizada como instrumento para a sensibilização
da consciência critica, para a expansão da capacidade e interesse
de analisar o mundo e tudo o que se passa em seu redor. Sendo fundamental
mostrar que a leitura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo
em sua ambigüidade e pluralidade.
Uma contadora de estórias chamada Ariel que morava
na Terra do Nunca (essa é uma terra encantada onde as crianças
são crianças para sempre e acreditam em estórias
de magias, fadas, bruxas, mestres dos magos, heróis, gigantes,
príncipes, princesas, duendes, sereias e ogros).
Um dia, olhando da Terra do Nunca para a Terra dos Adultos, Ariel ficou
triste ao ver que as crianças dessa outra terra não mais
acreditavam em sonhos e acabavam virando adultos cheios de tristeza em
seus corações. Então, ela resolveu agitar sua varinha
mágica para criar um portal mágico para a Terra dos Sonhos
e assim trazer um pouco de alegria e esperança para os habitantes
desse mundo que um dia, há muito tempo atrás, foram capazes
de conversar com as fadas e outros seres encantados.
Será retomando o espírito empreendedor de Ariel que investimos
no sonho de levar um pouco de leitura e investigar a razão, se
é que existe, que afasta a criança do livro.
METODOLOGIA: A PROCURA POR UM CAMINHO
A procura por um caminho que ajudasse a construir este
estudo, não foi tarefa das mais fáceis. Após delinearmos
o nosso objeto de estudo (alunos leitores), alocamos este estudo como
uma pesquisa exploratória, pautada na abordagem qualitativa, com
ênfase para o estudo de caso.
O estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é
uma unidade que se analisa aprofundadamente. Esta definição
determina suas características que são dadas por circunstâncias,
principalmente. Por outro lado, a natureza e abrangência da unidade
(...). Em segundo lugar, também a complexidade do Estudo de Caso
está determinada pelos suportes teóricos que servem de orientação
em seu trabalho ao investigador. (TRIVIÑOS, 1997, p.133-134)
Reconhecemos esta pesquisa como qualitativa, pois objetiva produzir um
conhecimento que leve a ação/transformação
e não apenas a constatação de dados ou fatos. Pois,
uma pesquisa por si só não transforma se não estiver
relacionada a um trabalho que agregue o coletivo e, antes disto, a reflexão
sobre as práticas cotidianas.
A necessidade de definirmos o objeto de estudo foi-se desvelando à
medida que aprofundamos o conhecimento sobre o tema. Acerca do objeto
de estudo MYNAYO esclarece:
Para delineamento do objeto, a primeira tarefa a que nos propomos é
um trabalho de pesquisa bibliográfica, capaz de projetar luz e
permitir uma ordenação ainda imprecisa da realidade empírica.
(1992, p.97)
Neste estudo o conjunto dos dados qualitativos e quantitativos se complementam,
ajudando a entender a realidade pesquisada. Realizamos um amplo trabalho
de campo onde coletamos os dados e posteriormente, elencamos as categorias
de análise.
A proposta maior contida neste estudo será levar o educador a captar
uma nova concepção em torno do ato de ler do educando, voltando-se
para o compromisso da leitura como prática social libertadora.
Para desenvolvermos este estudo, adotamos os seguintes procedimentos metodológicos:
-questinário aplicado in loco;
-entrevista;
-observação;
-estudo bibliográfico.
OBJETIVOS
- Identificar os possíveis fatores que afastam a criança
em idade escolar do hábito de leitura.
- Levantar subsídios para uma nova reflexão sobre prática
de leitura nas escolas onde a pesquisa foi desenvolvida.
UM CAMINHO A TRILHAR
Um momento bastante delicado da pesquisa é aquele
em que se percebe uma espécie de desconstrução do
fazer pedagógico e, ao mesmo tempo, o despertar do desejo da continuidade
renovada de uma prática — um passo adiante sem desgarrar-se
dos passos dados e sem perder o caminho para onde.
Para desenvolvermos este estudo, trilhamos inicialmente por diversos caminhos.
O primeiro passo foi no sentido de percebermos quais textos eram oferecidos
aos alunos de acordo com a faixa etária. Posto isto, nos propusemos
a perceber a maneira como a biblioteca escolar se organizava.
Para nossa surpresa, em uma das escolas pesquisadas, todos os livros estavam
na sala da diretoria e os alunos não podiam fazer empréstimos
visto que não havia catalogação e ficha de retirada.
Intentamos um singelo passo ao aproveitarmos uma sala vazia usada para
depósito de material de Educação Física, para
a confecção improvisada da biblioteca.
Este passo motivou alunos, professores e coordenação a aderirem
ao nosso propósito. Criamos então o “Cantinho da Leitura”.
Passamos a ter encontros regulares com os diferentes grupos de alunos
(classes), e os empréstimos tornaram-se regulares, culminando no
fim do semestre com a Feira do Livro. Nesta Feira, nenhum livro poderia
ser comprado com papel moeda. O valor de compra era o próprio livro.
Nas outras escolas havia biblioteca escolar, embora não houvesse
bibliotecário. A função em ambas, era atribuída
a um professor aposentado.
LEITURA: ADOTANDO UM CONCEITO
Ler é um ato eminentemente humano que faz parte
de nossa comunicação com o mundo.
Sobre isto Teodoro da Silva explica:
O fenômeno da comunicação humana deixa-se conhecer
como uma estrutura que reúne uma multiplicidade de elementos distintos
e únicos, em torno de um eixo ou de uma ordem cujo sentido é
dado pela correspondência intencional entre seus elementos e o mundo.
(1992, p.71-72).
A dinamicidade da ação de ler nos levou a adotar um conceito
de leitura para este estudo:
Segundo FERREIRO E PALÁCIO:
A leitura é um conjunto de processos paralelos em interação,
que atendem simultaneamente a níveis diferentes da estrutura do
texto, é também processo construtivo. (1990, p. 170)
A etimologia da palavra ler segundo Resende tem um sentido bastante amplo
e próprio:
Ler – colher que pressupõe o intercâmbio de quem colhe
com o que se traz em cada ato de colheita (ato de coisas colhidas momentaneamente
a coisa cultivada com mais tempo e cuidado. O sujeito recolhe os significados
do mundo. (1993, 12)
A autora acredita que ler é seguir as pegadas; percorrer as florestas,
o caminho; costear; deslizar; escolher; eleger; e finalmente, apoderar-se
de, robar.
Eis então o momento em que a leitura torna “perigosa”.
É quando o leitor apodera-se do conhecimento e uma vez adquirido
não lhe pode ser tomado. É uma posse não apoderada,
mas conquistada. Ninguém nos tira o que efetivamente aprendemos.
A leitura é uma das formas mais ricas de interação
do homem como o mundo. Ela não ocorre de forma isolada da realidade
do sujeito e é precedida de uma reação simbólica
e mediada, bem como depende do ritmo de cada leitor.
(DES) INTERESSE PELA LEITURA: ENCANTOS E DESENCANTOS
Percebemos no decorrer da pesquisa que a escola prioriza
os textos didáticos (livros, cadernos, folhas de atividades, dentre
outros) em detrimento ao tipo de leitura que a criança realiza
fora dela.
Não desconsideramos que algumas crianças apresentam efetivamente
dificuldade em entender, interpretar e decodificar um texto. Contudo,
não nos propusemos a analisar cada caso dado a especificidade do
tema.
Reconhecemos que nenhum fenômeno ocorre de forma isolada. Por isso,
podemos elencar uma série de fatores que contribuem para que a
leitura não se transforme em um instrumento de conscientização
e superação da realidade, no íntimo de nossas escolas.
É o cerco ideológico suprimindo o pedagógico. Sabemos
que a promoção da leitura está vinculada a fatores
econômicos e políticos. Um povo com fome de comida, poderá
ter fome de saber? um povo com altos índices de desemprego, sem
um salário condigno poderá adquirir condições
concretas para a produção da leitura crítica?
Diante disso ainda nos cabe uma análise depurada sobre a formação
do educador básico. Se realmente almejarmos mudanças, teremos
que considerar a formação daquele que se destina a formar
educadores. Percebemos hoje, através de inúmeras pesquisas,
que o educador se vê expropriado de seu saber. É a alienação
do trabalho docente, frente o qual o trabalhador (leia-se professor),
perde o controle sobre o seu processo de produção e cai
no reducionismo pedagógico.
Vemos na realidade, que a Universidade, tal como se apresenta nos dias
atuais, ainda está a longos passos de efetivar a tão conclamada
transformação social.
Se, por um lado, as questões estão formuladas e pouco ou
quase nada tem sido efetivamente realizado no decorrer da História
para resolvê-las, por outro, cabe-nos interrogar: enquanto educadores
qual está sendo o nosso papel? Estaremos bebendo do cálice
amargo do conformismo que assim como um veneno, mata a cada dia as nossas
aulas? Certamente há resistências.
Atribuir culpas à formação docente é um erro.
A História nos ensina que tudo é mutável, e que as
mudanças embora lentamente ocorrem onde sentamos para discutir
sobre Educação.
No transcorrer deste estudo, percebemos também descaso pela biblioteca
escolar nas escolas estudadas.
A biblioteca funciona de forma precária. Que isso soe como uma
denúncia!
Ao tecermos uma análise que tenha como objetivo enxergar o ato
de ler em sua amplitude, havemos de abordar a situação sócio-político-econômica
do aluno.
O livro é prenúncio de imaginação criadora,
de senso crítico, de dúvidas e aprendizagens. Prado enuncia
“Uma criança sem livros é prenúncio de um tempo
sem idéias”. (1996, p.19).
Constatamos em nossa pesquisa que a criança gosta de ler. Faltam-lhe,
porém, condições para aquisição de
livros.
Isto já responde parte de nossa dúvida sobre o que afasta
as crianças do livro. Veja-se:
-falta de recursos financeiros para adquiri-los;
-falta de incentivo (na escola e no lar);
- falta de uma política educacional preocupada com a aquisição
do saber pelas classes oprimidas. Há crianças que ingressam
na escola e nela não permanecem por razões que não
pretendemos aqui abordar. É o que ENGUITA chama de “excluídos
do interior”.
-influência da mídia (em especial a TV).
DIANTE DOS FATOS, COMO INTERVIR?
Detenhamo-nos um momento a refletir sobre os dados obtidos.
A formação de crianças leitoras tem como finalidade
aproximar o aluno dos livros, ofertando-lhes recursos que otimizem este
aspecto. A contribuição da escola nesse caso é de
suma importância. Cabe a ela, oferecendo-lhes recursos para que
possam interpretar e compreender os textos lidos; ampliar a capacidade
expressiva através de atividades literárias e artísticas
em que possam manifestar sentimentos e opiniões e desenvolver a
capacidade crítica estimulando-os a reflexão sobre o que
lêem, confrontando diferentes pontos de vista, principalmente quando
estiverem envolvidos temas polêmicos.
A concorrência desigual com a mídia também deve ser
refletida. Hoje as crianças têm muitos estímulos,
como a Internet, Tv. É indiscutivelmente mais difícil, estimular
o gosto pela leitura, existem muitos “concorrentes”, porém
temos que estimular as crianças demonstrando que o livro também
é um grande mobilizador, provocador de fortes emoções,
e para isso basta somente ler e deixar-se tocar pelas palavras.
Torna-se importante utilizar dentre outros recursos as imagens do próprio
livro: estímulo visual. As ilustrações atraem o interesse
da criança. Um outro recurso é utilizar estímulos
auditivos, para acompanhar a narrativa, músicas, frases, alterar
o timbre de voz, variar o repertório literário com estilos
diferentes de histórias: engraçadas, de fábulas,
de amor, de aventura, de suspense. Livros com pouco texto, de letras grandes,
com ilustrações variadas são ideais para as crianças
que estão iniciando o processo da leitura.Nesse momento estamos
desenvolvendo a capacidade de apreciação da criança
e a estimulando a descobrir o prazer em ler.
BRINCANDO O TEXTO
A leitura é também uma forma bastante rica
do brincar. Os livros, desde os mais simples, trazem um número
muito grande de informações à criança, em
forma de figuras, cores, texturas, sons, letras, números, formas
geométricas e cheiros, enfim, estímulos necessários
ao bom desenvolvimento intelectual da criança. Além disso,
cada vez mais eles trazem riquíssimas ilustrações
que também estimulam a criatividade e curiosidade infantil.
Acreditando nisso, o nosso primeiro passo foi no sentido
de conversarmos com as crianças sobre o seu gosto literário.
Gosto literário aqui é, saber de que tipo de história
ela mais aprecia. Feita essa etapa, provocamos a leitura de variadas formas.
Ao lermos para as crianças, procuramos enfatizar
as emoções, a entonação de voz, o riso, a
tristeza, a pausa necessária para uma reflexão.
Líamos aquilo que era votado pelo grupo classe e apreciávamos
a leitura com o sabor de quem o faz pela primeira vez. Terminada a leitura,
o livro era oferecido à classe (sempre disposta em círculo).
Algumas crianças queriam ler o livro, outras apenas o folheavam...
O terreno estava preparado.
Toda criança, com raras exceções, gostam de livros
com os seguintes aspectos:
1. Desenhos bem feitos. Tem que ser desenhos ou ilustrações.
Algumas relataram achar fotos deprimentes;
2. Os desenhos ou ilustrações devem refletir claramente
o que está no texto que ela está lendo, para que possa associar
o mesmo com a idéia visual da situação;
3. Folhas com pouco texto e com letras grandes;
4. Texto claro, de preferência com palavras que ela já conheça.
5. Não limitar o número de páginas. Esse fator pode
entonar depreciação na capacidade da criança.
6. Peça que ela leia ou conte o que leu. Ao solicitar isso, demonstre
total confiança na criança.
7. Só interrompa a criança se for para fazer algum comentário
com relação a história. Também, antes de começar,
diga-lhe que se tiver alguma dúvida sobre o significado das palavras,
que pergunte.
8. Finalmente, seja paciente e nunca a corrija, diga apenas que não
entendeu direito, algum parágrafo, etc. Pode ser que durante a
leitura ela baixe um pouco a voz o que é normal. Peça, sem
mandar, com muito humor e gentileza, que ela fale um pouco mais alto.
Isso, só vai significar para ela que você está de
fato interessado na leitura, e sua motivação aumenta mais
ainda.
9. Se perceber que ela está cansada, peça para fazer uma
pausa. Os sintomas de cansaço são: mudança constante
na posição, olhadas sutis para o lado, tentativa de deitar
no chão, etc. E
10. Por fim, comente com ela a história que foi lida. É
provável que ela não tenha entendido bem o conto, já
que apenas crianças maiores, conseguem ler para os outros e prestar
atenção no que estão lendo.
CONVERSA DEPOIS DA HISTÓRIA
Dentre os vários indicadores que nos orientam
na efetivação do hábito de leitura em crianças,
salientamos que, ao pedir para ela ler, você, deu-lhe confiança,
confiou a ela uma tarefa de gente grande, gostou do que ela fez, fez com
que ela se sentisse importante.
Os efeitos benéficos disso para sua personalidade são definitivos.
Assim, a semente do hábito da leitura foi plantada de forma simples,
natural e harmoniosa, como tudo que é verdadeiro deve ser.
Peça para ela ler para você outras vezes. Dê-lhe mais
livros, peça a sugestão dela, leve-a na hora de comprar
ou escolher o livro.
LEITURA: UM HÁBITO A SER CULTIVADO
O hábito, pela leitura deve ser adquirido muito
antes da criança chegar à escola. Entretanto, pudemos evidenciar
que ao chegar ao sistema formal de ensino a criança já traz
uma bagagem cultural que deve ser respeitada. Muitas crianças já
chegam nas escolas com estímulo para a leitura, em outros casos,
a criança precisa ser estimulada.
Conforme notamos, vários fatores interferem no hábito da
criança pela leitura. Mas também evidenciamos que muitas
crianças começam cada vez mais cedo a despertar para rabiscos,
garatujas, traços, desenhos e formar sua opinião sobre o
mundo conforme as oportunidades que lhe são oferecidas.
Cabe então enfatizar que se faz necessário colocá-las
em contato com a leitura de maneira prazerosa. Um importante caminho a
ser seguido nesse aspecto é a exploração da leitura
infantil, a qual despertará o interesse e atenção,
desenvolvendo nelas a imaginação, criatividade, expressão
de idéias, o prazer pela leitura que oportuniza situações,
nas quais as crianças possam interagir em seu processo de construção
de conhecimento, possibilitando assim o seu desenvolvimento e aprendizagem.
Outro caminho que deve ser seguido é contar histórias para
as crianças, porque o significado mais íntimo e profundo
do conto (não especificamente o conto de fadas), será diferente
e desigual para cada criança.
Será ouvindo narrativas, histórias que elas poderão
sentir emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a
irritação, o bem estar, o medo, a alegria, vivendo profundamente
o que as narrativas provocam.
A criança compreenderá o mundo dos contos em diferentes
momentos da vida e uma mensagem básica que lhe será transmitida
é que na vida é inevitável a luta contra dificuldades,
é algo que faz parte da existência humana, porém se
não nos intimidarmos e enfrentarmos com firmeza os obstáculos
e as injustiças conseguiremos dominá-los e sairemos vitoriosos.
A criança pode ser estimulada desde muito pequena para gostar da
leitura, não importa se ela ainda não saiba ler um livro,
pois os pais devem ler e assim dar essa referência de leitura à
ela. Todas as atividades com leitura devem ser prazerosas e não
desgastantes. Pais e professores devem estar bem preparados para não
se frustrarem e também às crianças se essa perder
o interesse.
A postura de pais e mestres deverá ser no sentido de estimulá-las
usando outras formas como por exemplo: leitura no ambiente doméstico,
destinar um tempo diário para contar histórias, deixar um
tempo para a criança decidir o que quer fazer, não forçá-la
a ler e escrever (mesmo que ela saiba ler, se não conseguir escrever
poderá revoltar-se e perder o gosto pela leitura). Verificamos
que pais e professores que lêem livros às crianças
estão contribuindo para terem futuros leitores, com um caminho
infinito de descobertas e de compreensão do mundo além do
prazer que esta leitura em si proporciona, os adultos estarão estimulando
a sensibilidade infantil. Ver e ouvir histórias não é
apenas um lazer, um passatempo, é também um recurso valioso
e agradável para a pré-disposição à
aprendizagem e para sua complementação.
O LIVRO AJUDANDO A LIDAR COM O IMAGINÁRIO DE MORTE/PERDA
Apesar de ser um assunto doloroso, a morte faz parte do
dia-a-dia de todos nós. Ainda assim, há uma certa tendência
dos pais em "ocultar" da criança esta ocorrência
natural da vida na tentativa de protegê-las.
Para protegê-los, no entanto, será preciso prepará-los
adequadamente para tomar contato com essas ocorrências. Infelizmente,
o fato de evitar falar sobre a morte não a deixará longe
de nós. Evitar falar de sofrimento não o afasta, apenas
impede que ele seja elaborado pela criança.
Um aspecto importante sobre o tema, é a questão das fantasias
que a criança faz a respeito da morte. Todo indivíduo -
a partir da ciência e ou de crenças religiosas -, tem uma
maneira particular de compreender, com maior ou menor dificuldade, o que
leva uma pessoa à morte. A criança, auto-centrada, tende
a crer que tudo o que acontece gira ao seu redor. A criança pequena
não tem noção da finitude da vida, trazida pela realidade.
Para ela, a vida é regida segundo o princípio do prazer.
Assim, torna-se difícil para a criança compreender que uma
situação de morte de um ente querido seja definitiva. Para
abordar o assunto, alguns filmes e livros podem ajudar: clássicos
como Bambi, O Rei Leão, ou Em Busca do Vale Encantado, dentre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Notamos que o interesse pela leitura diferencia-se de
acordo com as diversas faixas etárias. Crianças entre oito
e dez anos preferem livros de textos curtos, com ilustrações
e que narrem aventuras. Nesta época é comum o aluno querer
muitos empréstimos da biblioteca escolar, visto que suas habilidades
para a leitura estão em pleno desenvolvimento. A faixa etária
compreendida entre os dez e doze anos, mostrou-se mais refratária
à leitura e suas opções são livros de mistério
e quadrinhos. Dos treze aos 15 anos, a preferência é por
livros narrativos: diários de viagem, por exemplo. No Curso de
Magistério, as leituras estão centradas nos textos escolares,
nos romance e nas poesias.
Evidenciamos a necessidade de o educador tornar o ato
de ler atraente para o aluno. Para isto, a oferta de livros deve ser farta
e as escolhas feitas pelos alunos, respeitadas. O que afasta a criança
do livro também é a imposição de padrões
de leitura pela escola aos discentes. É papel da escola e da família
favorecer o contato dos jovens com os mais diversificados materiais de
leitura.
Constatamos que as crianças e os jovens gostam
de ler, e que a maioria dos alunos realiza leituras prioritariamente,
em suas casas. Este fato que nos faz crer que a biblioteca escolar não
se apresenta como local de extensão ao interesse e curiosidade
do aluno leitor.
A prática docente também está presente nas falas
dos sujeitos, como elemento promovedor ou desmotivador da prática
de leitura. Fatores de ordens estruturais e conjunturais agregam-se ao
tema proposto. Contudo, evidencia-se que a prática de leitura,
se realizada desde os primeiros anos de escolaridade, torna-se um hábito
salutar entre os jovens.
Os resultados aqui expostos não devem ser generalizados
para outras Instituições, mas poderá servir de referencial
para reflexão e crítica sobre a estreita relação
entre a criança e o livro.
O presente estudo respondeu a algumas questões
e suscitou muitas reflexões sobre a leitura infantil e juvenil.
Outro não é o papel da pesquisa como processo: investigar,
perquirir, buscar e levantar novas indagações.
Que este estudo siga essa trajetória e suscite
novas invistigações.
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