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Reflexões acerca do trabalho do intérprete de língua de sinais na universidade: limites e conquistas
(F. Surda estudante de pedagogia, 2004) Para entender
e discutir a situação educacional atual de surdos incluídos
na universidade com auxílio do intérprete é necessário
compreender o processo histórico de luta da comunidade surda dentro
do contexto educacional. A história da educação de
surdos nos aponta três abordagens filosóficas que são
elas: oralismo; comunicação total e bilingüismo. Embora
encontremos presentes atualmente pensadores para as três linhas,
iremos focar neste trabalho, a abordagem educacional com bilingüismo
(A abordagem bilíngüe traz a concepção de surdo
como usuário de uma língua distinta da majoritária
do país. A língua de sinais brasileira L1 para surdos residentes
no Brasil e L2 o português podendo ser na modalidade escrita ou
oral). que tem embasamento teórico nas contribuições
de autores como: (GOES, 1996; SOUZA, 1998; SKLIAR, 1997; LACERDA, 2000). “é aquela que acima de tudo estabelece que o trabalho escolar deve ser feito em duas línguas, com privilégios diferentes: A Língua de Sinais como primeira língua (L1) e a língua da comunidade ouvinte local como segunda língua (L2)” (Sá, 1999:135)
É referente a este novo profissional, o intérprete educacional de língua de sinais que focarei neste artigo, refletindo e fazendo uma análise da minha prática, como tal, dentro de duas universidades distintas, onde atuei como intérprete. A busca pela identificação dos diferentes aspectos referentes ao meu trabalho como intérprete de língua de sinais nestas universidades, atuando diretamente com alunos surdos, tem por objetivo mostrar as diferentes concepções que ambas assumem frente ao meu trabalho exercido em relação à pessoa surda. O estudo contribuiu para uma análise do relacionamento estabelecido entre alunos ouvintes/surdos, intérprete, professor e instituição, abrindo caminho para outras possibilidades de pesquisas aprofundadas, já que é necessário para a perpetuação deste novo profissional. A partir
da analise empírica trago como alguns dados coletados para minha
pesquisa de trabalho de conclusão de curso em pedagogia: formação
de professores em educação especial comparando com minhas
atuações como intérprete em duas instituições
de ensino superior. Observando o gráfico abaixo percebemos distinções
nas experiências e mudanças importantes na concepção
coorporativa do trabalho do intérprete dentro da instituição
de ensino. O fato de não dominar o conteúdo a princípio dificulta a atuação. Vejo isto como um difícil ofício para o intérprete: “Ensinar o que não sabe”, por isso é necessário que o intérprete parta para o campo da ação e busque conhecer apropriando-se do conteúdo para “trocar”, “interpretar”, “ensinar” ao aluno surdo. Neste campo a interpretação não é simultânea pela falta de conhecimento específico da matéria. Por lidar com o conhecimento e o saber sistematizado há uma longa discussão acadêmica sobre a nomenclatura do interprete educacional: “professor-intérprete”; “intérprete educacional”; “tradutor em sala de aula”. Contudo acredito
que as diferentes situações amadureceram as minhas experiências
levando-me a compreensão de que o trabalho do intérprete
na sala de aula difere dos demais campos de atuação do intérprete
generalista (Este interprete atua em diversos campos sociais e na maioria
dos atendimentos faz uso da interpretação simultânea.
Acompanha em: hospitais, fóruns, audiências entre outras
localidades que a comunicação entre surdos e ouvintes é
necessária.) pois é um trabalho pedagógico que requer
um procedimento sistematizado de ensino e um compartilhar direto com os
professores. Deve-se atentar para não confundir os papéis
de intérpretes e professores nesta trama. É importante pontuar
o avanço qualitativo na profissão do intérprete educacional
no ensino superior e o surgimento destes profissionais contratados pela
instituição de ensino. Torna necessário ressaltar
que este profissional não acabará com os problemas da inclusão,
mas amenizará a problemática trazendo o contexto educacional
mais próximo à realidade do aluno surdo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACERDA, C. B. F. O intérprete educacional de língua de sinais no ensino fundamental: refletindo sobre limites e possibilidades. IN: LODI, A C. B., at. (org). Letramento e Minorias. Porto Alegre: Mediação, 2002. MARTINS, V. de O. Intérprete ou professor: o papel do intérprete de língua de sinais na educação inclusiva de alunos surdos. 2004. Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia em Educação Especial - faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. ROSAS, A. S. Entre a visibilidade da tradução da língua de sinais e a invisibilidade da tarefa do intérprete. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Educação na Universidade Estadual de Campinas, SP, 2005. SKLIAR, C. (org) Educação e exclusão – abordagem socioantropológica em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 1997. SOUZA, R.M. de. Que palavra que te falta? São Paulo, 1998. -----------------------
Por uma escola para todos. Para quais todos? V Colóquio do LEPSI.
Faculdade de Educação da USP. São Paulo, 2004. (palestra) |
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