|
A
TELEVISÃO, A ESCOLA E A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
Maria
Cecilia Leite Massari - Universidade de Sorocaba – UNISO - Programa
de Pós-Graduação –Mestrado em Educação
- São Paulo/SP
Eliete Jussara nogueira - Orientadora
INTRODUÇÃO
A televisão
foi trazida para o Brasil na década de 50 , como observamos em
entrevista de Esther Hamburger, antropóloga crítica de TV
e professora de Comunicação e Artes da Universidade de São
Paulo, professora do departamento de cinema, televisão e rádio
da Universidade de São Paulo (USP), antropóloga e editora
da revista Trópico. De lá para cá, sua tecnologia
e abrangência fizeram dela um dos principais meios de comunicação
do Brasil (sem falar no resto do mundo), que é o quarto país
do planeta onde mais se vende o aparelho. Os sinais das emissoras atingem
99% de nosso território. Mas, sempre que se fala em TV, as pessoas
se vêem às voltas com uma discussão tão velha
quanto esse meio de comunicação: a qualidade do conteúdo
transmitido.
A Televisão é a instituição mediadora mais
importante do nosso continente e do mundo. Sempre foi marcada e condicionada
não pelo seu papel social e instrumental, para ativar o espaço
público, mas sim pelos interesses privados e do mercado que sempre
defendeu. Isso traz seguramente conseqüências, se observarmos
sua história ligada aos interesses do mercado e interesses políticos.Na
realidade a televisão no Brasil veio do “modelo americano”
de propriedade privada sendo sempre ligada a negócios e empresas
que buscavam lucro ganhos econômicos como meta principal. Assim
no mundo atual, a televisão é reconhecida como a principal
mídia de comunicação social, por ser abrangente,
globalizada, consumida generalizadamente em todas as sociedades e culturas
quanto sua capacidade abranger, com seus produtos e empresas no mundo,
principalmente por suas estratégias para relacionar a esfera pública
do social e a esfera privada dos telespectadores. Isso confere a esse
poderoso recurso de comunicação um poder extraordinário
de manipulação. Tem uma força estupenda no imaginário
das pessoas, sendo capaz de ditar atitudes, costumes sociais e pode superar
funções de importantes instituições, tais
como: a família, a Igreja, a Escola, os partidos e até o
próprio Estado. Seus modos de diálogo como observaremos
nunca tiveram exatamente a busca de pluralidade ou consensos, apesar de
observarmos que “a televisão é no Brasil um espaço
onde os brasileiros se reconhecem brasileiros”, como nos diz Eugenio
Bucci (2000).
Chama a atenção o número de horas que pessoas gastam
vendo TV. Observamos os seguintes resultados através de pesquisas:
• Pesquisa
Kiddo’s Latin América Kids Study 2003
RESULTADOS:
Em 1503 entrevistados – meninos e meninas de 6 a 11 anos de idade
(classes A, B e C), observa-se que nos grandes centros urbanos: 99% têm
a TV como principal entretenimento e 81% assistem TV duas horas e meia
ou mais por dia.
Fonte:(<http://www.andi.org.br/noticias/templates/boletins/template_direto.asp?articleid=3698&zoneid=21>)
acesso em, 08/03/2005.
• Pesquisa
Multifocus de Mercado (Ibope) RESULTADOS
Revela que em 12 milhões de telespectadores entre 2 a 14 anos no
Brasil
? 80% dos programas assistidos são para adultos
? Em 10 campeões de audiência entre crianças de 4
a 17 anos, 8 programas são para adultos
? OBS – As crianças assistem para acompanhar os pais (e.g.
trabalham fora e à noite querem ver TV). As crianças vêem
por falta de opção e para ficarem perto dos pais.
Também
chama atenção uma contradição observada na
TV brasileira, que é bastante interessante do ponto de vista cultural
e de intenção de formação de uma consciência
crítica nos indivíduos que vêem TV. É o que
ocorre na MTV brasileira (canal de TV a cabo com programação
dirigida quase que exclusivamente à música) e que veicula
uma campanha que tem como bordão o seguinte título: “Desligue
a TV – e vá ler um livro”.
Fig.1.Fonte:<http://www.sitedovestibular.com.br/noticiaVisualizar.php?not_id=3827>
Acesso em 08/03/2005.
Esse material
fica exposto em forma de uma tarja na tela da TV, por 15 minutos e segundo
a direção da emissora não há prejuízo
comercial. Os anúncios de propaganda que seriam veiculados são
redistribuídos na grade de programação, provando
que quando há interesse, a TV pode veicular conteúdo de
interesse cultural, sem prejuízo financeiro.
"Se foram ler um livro, não sei dizer, mas pegaram o espírito
da coisa", disse o diretor-geral da emissora, André Mantovani.
1. UM MUNDO ONDE TODOS QUEREM SER CACIQUES
Estamos vivendo numa sociedade que valoriza o individualismo e o narcisismo
alienante do espetáculo, do consumismo, da banalização
do sexo e da exposição da privacidade.
“Sempre soubemos que quem é vivo aparece, mas atualmente
a coisa se inverteu: quem aparece está vivo, e quem não
aparece desaparece, vítima de um mal gravíssimo, o anonimato.
E mais: quem aparece está vivo, porém não para sempre.
Assim os holofotes passam a iluminar outra pessoa, esta se transforma
em cacique e o primeiro retorna ao pó. Há muito tempo deixamos
de nos contentar com 15 minutos de fama. E não foi nossa vaidade
que aumentou. É que sabemos que a luz dos holofotes se tornou uma
questão de vida ou morte”, conforme Minerbo (2001: pg.8-13).
Isso vale para o mundo das Artes, Teatro, TV, meio científico,
meio dos que são educadores, com conseqüências que podem
ser desastrosas. Isso significa que nem sempre quem aparece é quem
tem verdadeiramente valor ou o que dizer, ou expressar. E quem tem o que
dizer ou expressar nem sempre consegue aparecer ou divulgar o que tem
a mostrar.
Desse modo, na sociedade do espetáculo os valores estão
no falso e na ilusão e a mercadoria passa a ser o espetáculo.
E neste caso o que vale é a quantidade e não necessariamente
a qualidade. Vide a busca por mais audiência (pode-se aumentar uma
entrevista ou não de acordo com o que ela estiver rendendo).
O espetáculo é o dinheiro em sua outra face. O espetáculo
é o dinheiro que olha a totalidade de seu uso, mas a serviço
da pseudo – vida. E ele espetáculo só tem uma finalidade,
um meio e um objetivo: “Ser espetáculo”, conforme Debord
(1997).
Segundo Regis Debray (1992) a marca da nossa era é a FORÇA
DA IMAGEM E DA APARÊNCIA . E segundo Guy Debord (1997), TUDO SE
AFASTA NUMA REPRESENTAÇÃO . TUDO VIRA ESPETÁCULO.
E segundo ambos o que está por trás dessa imagem, aparência
e espetáculo fica diluído na força do poder econômico.
O sujeito não mede esforços para ser querido ou aceito,
mesmo que isso implique prejudicar pessoas e ao próprio sujeito,
sem se dar conta disso (Narcisismo destrutivo), conforme Rosenfeld (1997).
É um sentimento de que tem que ser o melhor a qualquer preço,
nem que seja sendo o pior dos piores, o que significará numa linguagem
do desejo, a busca de triunfo: ser o melhor. É essa a cilada. Para
isso o sujeito se lança, mesmo que isso lhe custe a alma, o que
nos faz pensar que nunca o Fausto de Goethe esteve tão atual como
nos dias de hoje. Berman (1986: pg.39-84) escreveu sobre a modernidade
em seu livro: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”.
Usou este pensamento inspirado nos pensamentos de Marx que tomou esta
frase de Shakespeare. E em seu texto exalta como nos tempos modernos o
Fausto de Goethe podia ser pensado como um modelo. O que me parece é
que o Fausto de Goethe continua atual. Apenas devemos fazer as transposições
adequadas ao tempo em que se está tomando e comparando. Nos tempos
modernos o Fausto é mostrado como alguém impotente e que
precisa da busca do conhecimento científico, crendo que este lhe
trará a felicidade. É toda uma promessa do positivismo que
não foi alcançada. Nos tempos atuais o que se busca é
a fama, o sucesso e o poder ilusório que estas coisas conferem.
E neste caso a fama e o sucesso são buscados mesmo que o sujeito
não tenha talento, conhecimento ou mesmo coisas de valor a expressar.
O que importa é mostrar o espetáculo. Essa é a mercadoria;
E se em Marx (in “Os Pensadores”: 1978) travamos lutas com
a mercadoria e suas seduções, podemos pensar o quanto não
somos donos das nossas vontades e destinos. Somos traídos por nossos
desejos mais escondidos e ocultos, como observamos em “O Inconsciente”
(Freud: 1915).
No mundo atual do espetáculo, a finalidade última é
tornar-se celebridade, mesmo que o sujeito não tenha especificamente
talento artístico ou para algo. Neste caso a maior parte das vezes
vale a imagem, o corpo, algo de caricato. Mas sem dúvida algo que
apareça.
Essa tendência do mundo atual é observada e influenciada
através do que hoje chamamos de era pós – moderna,
um conceito controverso que envolve uma série de tendências
e comportamentos do mundo atual. Há quem atribua que o início
da era pós – moderna teve início na segunda metade
do século passado. Isso é uma reputação atribuída
a Toynbee em 1947 (Lisondo, A.B.D.: 2004, pg.335-358). Ela nasce com a
arquitetura e a computação e na filosofia um pensador importante
é Jean François Lyotard, conforme Siqueira (2000), Doutor
em Educação pela UFSM , no seu artigo “A Performance
sob uma Lógica tecnicista” . Lyotard tem como pensamento
marcante a maneira como a performance vem sendo considerada. O sistema
atual, na busca de uma maior performance (desempenho), exige que as pessoas
sejam "operacionais (isto é, comensuráveis) ou desapareçam”
(Lyotard, in apud Siqueira:2000). Aqueles que por algum motivo (idade,
renda, saúde, etc.) não estiverem atendendo às exigências
de performance impostas, são desprezados pelo sistema, e neles
nada se investe.
Não é tão distante de nossa memória lembrarmos
de um exemplo claro disto, os aposentados. Seu desempenho já não
impulsiona mais a performance do sistema. No nosso país isso é
visivelmente observado nos modos de evolução da previdência
social e de como lidou recentemente com velhos de 90 anos, que deveriam
comparecer aos postos para recadastramento. O repúdio da população
fez com que o Ministério da Previdência recuasse nesse desatino.
As práticas educacionais desse modo tem um importante papel, que
é o de "fornecer ao sistema jogadores capazes de preencher
de forma aceitável seus papéis nos postos pragmáticos
exigidos por suas instituições" (Lyotard, in apud Siqueira:
2000). Entendemos que jogadores capazes são aqueles que possam
de fato colaborar no sistema e pensar no que está acontecendo dentro
dele de forma crítica. Não envolve somente jogar, sem saber
que jogo está sendo desenvolvido.
A ciência passa a ser uma força de produção,
estando associada mais ao desejo de enriquecimento do que o de "saber".
Os alunos, inclusive das Ciências Humanas, preocupam-se apenas com
a questão "onde vou aplicar isto?". E tudo isso é
bastante influenciado pela condição de globalização
atual em que vivemos, com o capitalismo atingindo uma fase multinacional,
aliado as novas formas de organização do mercado mundial
e novas formas de industrialização da mídia eletrônica,
principalmente a televisão. Além de vivermos a terceira
revolução industrial, através da informática.
Graças a esse período e aos modos de vida por ele proporcionados
observamos o esvaziamento dos campos, o questionamento de Valores e o
Consumo e informação vividos numa condição
de hiper-realidade. Nunca em tempo algum as notícias foram tão
veiculadas e numa condição em que se questiona se perdemos
a ética ou os padrões de ética. Na realidade estamos
vivendo uma nova forma de ética, a desse tempo. Assim já
não nos causa tanto espanto quando entramos numa loja, numa agência
bancária, numa repartição pública e nos deparamos
com uma câmera de TV e um cartaz que diz: “Sorria, você
está sendo filmado.” Certamente em 1950, as pessoas que trouxeram
a TV ao Brasil, jamais suspeitariam que ela fosse ter a dimensão
que tem nos nossos dias e nem tão pouco o alcance e poder que tem
hoje. Através dela tudo pode ser transformado num show para a mídia,
e consequentemente em consumo.
Adorno (1969) é entrevistado pela Radio de Frankfurt, junto de
Horkheimer e enfatiza como é importante não se deixar que
cidadãos se enquadrem cegamente no coletivo, para não serem
meros objetos materiais e não se deixarem anular, nem perderem
a vontade própria. Quando isso ocorre: constata-se segundo ele
a formação de uma MASSA AMORFA. Ele questionou que efeitos
a televisão provoca nas pessoas. E estava preocupado pelo esvaziamento
das salas de aula de cursos noturnos para adultos, na Alemanha, por conta
de preferirem ficar em casa assistindo televisão. (Adorno, T.:
1995, pg. 75-95).
Disse-nos ainda Adorno;
“A
televisão tem diante do conceito de formação dois
significados: por um lado se coloca diretamente a serviço da formação
cultural, quando por seu intermédio tem fins pedagógicos,
mas por outro lado tem uma função formativa ou deformativa
operada pela televisão como tal em relação à
consciência das pessoas, conforme somos levados a supor a partir
da enorme quantidade de espectadores e da enorme quantidade de tempo gasto
vendo e ouvindo televisão. Contudo as pesquisas ainda não
encontraram resposta específica à pergunta tão popular
nos Estados Unidos : “What television does to people?
“Que
efeitos a televisão provoca nas pessoas?”
“As
pessoas que “fazem” tevê precisa refletir profundamente
acerca de sua atividade”.
2. A TV E
SEUS MODOS DE LINGUAGEM
A TV em suas formas de linguagem e usos tem uma força imensa no
imaginário das pessoas; dita atitudes; costumes sociais; e pode
ter força tão grande quanto instituições:
família, Igreja, Escola, Partidos políticos e até
o próprio Estado. Pode criar ou derrubar governos ou sistemas de
governo.
Opera com imagens, sons e palavras. Mas com que olhos vêem TV?
A linguagem televisiva usa zoom como na fotografia. Portanto vemos o que
é focalizado. O que estiver em volta fica opaco, ou com pouco brilho.
PORTANTO TEMOS VISÃO PARCIAL. De modo tal que podemos ver as imagens
de diversas maneiras. Temos exemplos a seguir sob formas de figuras que
ilustram essa questão. Esta visão é da área
da Gestalt (um tipo de enfoque da Psicologia, atribuído a F. Perls
em 1960), que considera que só se conhece o todo, conhecendo as
partes. Apresento agora dois exemplos em que verificamos tais fatos.
Fig. 2 -
Vês uma senhora ou uma moça? Obtida da Internet no site:
<http://www.eb23-guifoes. rcts.pt/NetMate/sitio/curiosidades/imagens-interessantes-1.htm#mais>
Fig. 3. Consegues
ver uma mulher deitada nesta gravura? Obtida da Internet no site: <http://www.eb23-guifoes.
rcts.pt/NetMate/sitio/curiosidades/imagens-interessantes-1.htm#mais >
A palavra
Televisão vem das partículas: TELE que quer dizer distante
e VISÃO que vem de ver. Ou seja, trata-se de ver algo à
distância. Segundo Marshall Macluhan (1971) as imagens da TV são
verdadeiros mosaicos bizantinos, resultados da justaposição
de vários pontinhos. Inicialmente resultava em poucas linhas de
definição da imagem e que hoje é traduzido pela imagem
digital que tenta tornar o mais fidedigno possível o objeto focalizado.
Mas um bom exemplo disso são as partidas de jogos de futebol. Quem
vê ao vivo nos estádios tem uma visão de jogo totalmente
diferente de quem acompanha pela TV. Porque dependerá do que foi
focalizado. E mesmo o que é focalizado dependerá de como
podemos interpretar, ou como podemos interpretar o mundo. Nesse sentido
conforme Hanna Segal (1955) e seu estudo da formação de
símbolos e sua importância, podemos interpretar o que nos
é comunicado ou o mundo, diferente das mensagens que tentam nos
comunicarem. Leva em conta que a interpretação da realidade
externa dependerá de como o indivíduo recebe, capta e decodifica
em seu mundo interno.
Frente a todo esse exposto seria importante pensar na linha de orientação
para o que deveria ser o rumo da televisão, para que ela representasse
um avanço e não um retrocesso do conceito de formação
cultural.
A Educação é um caminho para cidadania e emancipação,
um importante meio de contribuição para que as pessoas possam
ter estímulo a uma consciência crítica e ao desenvolvimento.
Desse modo, a televisão deve ser estudada através da educação
e da escola, como um recurso que precisasse ser visto de modo tal a se
perceber algo além do que produtores de TV procuram transmitir.
(Fisher: 2003).
Gostaria
de enfatizar que a inspiração para esse artigo veio especificamente
através de um conteúdo particular da TV brasileira, chamado
Big Brother Brasil, da Rede Globo de Televisão, que é veiculado
por autorização da Endemol, empresa holandesa que detém
os direitos autorais do programa no mundo. Por perceber uma audiência
enorme, crescente ao longo das últimas edições do
programa é que me senti inclinada a tentar escrever algo sobre
a televisão. Não vou me deter nas características
do programa ou em fazer no momento uma análise crítica do
mesmo, que é tema de uma dissertação de mestrado
que escrevi e que está disponível na Biblioteca da UNISO
(Universidade de Sorocaba), que estou aqui representando.
3. A TV E
A ESCOLA
Ao apresentar esses aspectos sobre a televisão, a escola e a sociedade
do espetáculo a principal intenção é observar
ação do papel da escola frente a isso e principalmente a
figura do professor, em qualquer que seja o nível educacional que
ele esteja envolvido. Para isso vejamos algumas idéias de Holgonsi
Soares em seu artigo: “A AÇÃO DA ESCOLA FRENTE À
INFLUÊNCIA DA TELEVISÃO, NA PÓSMODERNIDADE”
.
“Estetização; espetáculo; simulacro; informação
e comunicação numa proliferação desenfreada
(“excrescência”); perda de interioridade; esquizofrenia;
e inúmeros outros temas, colocam a televisão como peça
fundamental na formação da condição psicocultural
pós-moderna. Numa situação sui generis, por ela transitam
e legitimam-se todos os "aparelhos ideológicos", acontecendo
uma "re-produção" não só do econômico,
como das demais instâncias, as quais perspassadas pelos temas citados,
impõem-nos uma multiplicidade de abordagens no que tange aos processos
de recepção. Com base nisto, coloco a seguinte questão:
"a TV, como aparelho ideológico, pode colaborar na formação
de indivíduos críticos?”.
Para responder, é essencial o que diz Castoriadis (2002) sobre
"esta era":
"Sem sombra de dúvida, a conformidade, a esterilidade e a
banalidade são os traços característicos deste período".
Segundo esse autor para cada “celebridade” há milhões
de indivíduos invisíveis, muitos com o sentimento de não
existirem. Estes podem identificar-se com sua personagem para ter uma
“identidade”, que pode ser assimilada tanto com valores bons,
quando se apresenta o exemplo de superação como o do cantor
José Carreras, que venceu uma doença grave e voltou aos
palcos para cantar. Difícil é quando a identificação
se faz com figuras como Fernandinho Beira-Mar, quando consegue desafiar
sistemas de vigilância comandando o sistema do tráfico de
drogas, conforme Reinaldo Lobo (2003) . Conforme Minerbo (2001) há
todo um questionamento de que as pessoas hoje em dia estão interessadas
muito mais na fama e no aparecer. Porque se não se é visto,
não se existe na sociedade do espetáculo. Mas não
podemos nos esquecer de que nem todos irão ter luzes de holofote
na nossa sociedade, o que não quer dizer necessariamente que as
pessoas não tenham valor. Ao mesmo tempo em que na busca de aparecer
socialmente, muitas vezes possamos ter em cena pessoas cujo talento não
corresponda à imagem que querem transmitir. São questionadas
quantas publicações são feitas em nome do lucro,
quantas teses e dissertações possam ter sido escritas pelo
valor cartorial ou de mercado, ao lado de quantas delas que possam estar
engavetadas e não deveriam estar.
Assim é importante e atual pensar a TV na escola. Questionar seu
papel socializador e ao mesmo tempo de afastamento dos indivíduos
do social. A escola pode ofertar oportunidades de estímulo à
formação de uma consciência crítica nos indivíduos,
principalmente se levarmos em conta que a consciência crítica
começa nas pessoas desde os mais primitivos tempos de vida, quando
deixam de morder o seio que alimenta, porque ele danificado não
poderá alimentá-las, até mais tarde nas figuras de
impacto e importância como os professores.
Conforme
Baudrillard (1991):
“Com
a imagem da televisão - sendo a televisão o objeto definitivo
e perfeito desta era -, nosso próprio corpo e todo o universo circundante
transformam-se numa tela de controle".
Daí
o quanto é importante que a TV seja assunto de reflexão
na escola, porque ao mostrar o espetáculo na sua tela pode pela
sua força e alcance apenas excluir indivíduos da possibilidade
de pensarem seus espaços, direitos e deveres. Um sujeito pode olhar
para a tela da TV de forma extasiada e hipnotizada deixando-o numa consciência
sem autonomia, que nos favorece ao conformismo e falta de atitude.
A escola pode ser o último reduto de resistência contra esse
hipnotismo das imagens e da simplificação que a tela nos
oferece. Cabe a ela ser enquanto sala de aula, espaço cultural
e de pensamento. Cabe a ela ser um recurso pedagógico para munir
indivíduos nas suas capacidades de refletirem e conseguirem discriminar
as ideologias mostradas na TV. Esse pode ser o grande recurso e um grande
antídoto desta era de banalidade e como nos diz Castoriadis (2002)
de “ascensão da insignificância”. Uma escola
que não reflita o conteúdo da TV estará incompleta.
E uma TV não refletida e pensada é uma TV que não
acrescenta, não educa e deforma Faz pensar algo bem lembrado ainda
pelo Prof. Soares ao citar a radical SUSAN SONTAG, uma "lobotomia
frontal".
REFERÊNCIAS
1. ADORNO
T. W. E HORKHEIMER M. Dialética do Esclarecimento São Paulo:
Zahar Editor. 1985.
2. ADORNO, THEODOR W. (1971) – Educação e Emancipação,
Editora Paz e Terra S. A., 1995. Pg. 75-95.
3. BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulações. Lisboa: Relógio
D’água,1991 Pg. 104 a 112
4. BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura
da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras,1986.
5. BION, W. R. (1961). Uma teoria do pensar. In Melanie Klein Hoje: Desenvolvimentos
da teoria e da técnica, ed. Elizabeth Bott Spillius, Vol. I .Rio
de Janeiro: Imago Ed., 1991.
6. BUCCI, E. (1997) Brasil em tempo de TV, Boitempo Editorial, 3.a Ed.,
2000.
7. BUCCI, E. & KEHL , M. R. Videologias: ensaios sobre a televisão.
São Paulo: Boitempo Editorial, 1.a Ed., 2004.
8. CASTORIADIS, C. As encruzilhadas do labirinto. A ascensão da
insignificância. São Paulo. Ed. Paz e Terra. 2002.
9. DEBORD, G. (1997) A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro:
Contraponto, 1997.
10. DEBRAY, R. (1992) Vida e morte da imagem – Uma história
do olhar no Ocidente,São Paulo: Ed. Vozes, 1993.
11. DEBRAY, R. Manifestos midiológicos. Petrópolis: Ed.
Vozes, 1995.
12. DOLL, JR., W. E. Currículo: uma perspectiva pós –
moderna. Porto Alegra: Artes Médicas, 1997.
13. DUARTE, N. Sociedade do Conhecimento ou Sociedade das Ilusões?:
quatro ensaios crítico – dialéticos em filosofia da
educação. Campi
nas, SP:Autores Associados. 2003.
14. FISCHER, ROSA MARIA BUENO. (2003).Televisão & Educação:
fruir e pensar a TV – 2.a ed. – Belo Horizonte: Autêntica,
2003.
15. FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. Petrópolis:Vozes, 1977.
16. FREUD, S. (1915). O Inconsciente. Obras Completas de Sigmnd Freud.
Edição Standard. Vol. XIX. Rio de Janeiro : Imago Ed., 1980.
17. FREUD, S. (1930). O mal estar na civilização. Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Edição Standard
Brasileira. Vol. XXI.Rio
de Janeiro : Imago Editora. 1980, pg..81-177. KLEIN, M (1930). A importância
da formação de símbolos no desenvolvimento do ego.
In Amor, culpa e reparação. Obras completas de Melanie Klein.
Vol. I – Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996.
18. KLEIN, M. (1945). O complexo de Ëdipo à luz das ansiedades
arcaicas. In Amor, culpa e reparação. Obras completas de
Melanie Klein. Vol. I – Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996.
19. KLEIN, M. (1952). Algumas conclusões teóricas relativas
à vida emocional do bebê. In Inveja e Gratidão. Obras
completas de Melanie K
lein. Vol. III – Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996.
20. LISONDO, A. B. D. Na cultura do vazio, patologias do vazio. IN Revista
Brasileira de Psicanálise. Vol. 38, n.2.2004, pg.335-358.
21. LOBO , R. “A Ética de Fernandinho Beira-Mar”, publicado
na Revista IDE, n.38, dezembro de 2003, pg. 30-37.
22. MACHADO, A. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense,
1988.
23. MARX, K. in “Os Pensadores” .São Paulo. Ed. Abril.
1978.
24. MCLUHAN, MARSHALL. “Os meios de comunicação como
extensões do homem”. São Paulo: Cultrix, 1971.
25. MINERBO, M. (2001) Caciques e índios na sociedade do espetáculo,
Revista Ide n.o 33 Junho de 2001, pg. 8-13.
26. OLÓRTEGUI, M.. F. G. – “Televisão entre
o vazio e a sedução”, Processos de Socialização
e Individualização no Espaço Televisivo. Tese de
Doutorado da Escola de Comunicação e Artes da USP –
Universidade de S. Paulo. São Paulo. 2000.
27. Orwell, G. 1984. 29.a ed., São Paulo: Companhia das Letras.2004
ROSENFELD, H. (1971) Uma abordagem clínica para a teoria psicanalítica
das pulsões de vida e morte: uma investigação dos
aspectos agressivos do narcisismo. In Melanie Klein Hoje: Desenvolvimentos
da teoria e da técnica, ed. Elizabeth Bott Spillius; Vol.I, Rio
de Janeiro: Imago Ed., 1991, pg. 243-259.
28. ROSSI,C. Psicanálise e Mídia. In Revista Brasileira
de Psicanálise. XIX. Congresso Brasileiro de Psicanálise.
Vol. 37, n.o 2 / 3 . 2003, pg. 815-840.
29. SEGAL, H. (1955). Notas sobre a formação dos símbolos.
In Melanie Klein Hoje: Desenvolvimento da Teoria e da Técnica,
Org. Elizabeth Bott Spillius. Vol.1, Imago Ed. 1991.pgs. 167-184.
30. TAILLE, YVES DE (2002) – Limites: três dimensões
educacionais, São Paulo, Ed.Ática, 3.a Edição,
2002.
31. TISHMAN, S., PERKINS,D.N., JAY,E. A cultura do pensamento na sala
de aula. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999
|
|