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NUMERAMENTO E A MATEMÁTICA DO JORNAL

Paulo César da Penha - USF
Profa. Dra. Alexandrina Monteiro- USF

Introdução
Vivemos hoje um contexto histórico no qual o volume de informações que se veicula no dia-a-dia das pessoas é grande e ocorre a velocidades cada vez maiores devido aos avanços dos meios tecnológicos.
A informação deixou de ser apenas um fato a se comunicar e tornou-se um produto ou meio gerador de lucro para aqueles que detém os recursos da difusão. Dessa forma, para os meios de comunicação (televisão, rádio ou jornal impresso), a informação é a matéria-prima e, ao mesmo tempo, o produto com o qual almeja-se conquistar o consumidor (telespectador, ouvinte ou leitor). Muitas das informações que compõem o cotidiano do cidadão são veiculadas através das mídias, sendo, portanto, o seu meio de atualização – saber o que está acontecendo no mundo, saber se vai haver aumento no combustível, saber sobre o filme que vai ser lançado no cinema no final de semana, saber sobre as tendências da moda, que cor usar, o que vestir, etc.
A dependência que o homem e a mulher nesses tempos modernos possuem em relação aos meios de comunicação é bastante marcante. Pode-se dizer que as relações humanas, os costumes, modos de se expressar e de se vestir, nos dias atuais, são mediados pela influência dos meios de comunicação.
A força que os meios de comunicação possuem no sentido de influenciar ou até determinar decisões é preocupante. Freire (1983, p. 43) já apontava isso como uma das grandes tragédias do homem moderno, pois, segundo este autor, o homem moderno é dominado pela força dos mitos e comandado pela publicidade organizada, ideológica ou não, e por isso vem renunciando cada vez, sem o saber, à sua capacidade de decidir.
A informação veiculada pelas mídias está, sem dúvida, ideologizada. Ou seja, não apresenta uma neutralidade, mas traz em si valores dos autores que a expressam, seja falando, no caso de rádio ou televisão, ou escrevendo, quando nos referimos à mídia impressa. Basta observarmos a mesma notícia em veículos diferentes para notar a ênfase que cada mídia atribui: tempo de exposição, no rádio e na televisão e espaço de impressão ou número de páginas nos jornais.
Explicitar o conjunto de valores que estão subjacentes a uma notícia requer do leitor, telespectador ou ouvinte uma visão crítica que o leve a “enxergar” além das aparências. Ou seja, receber uma informação de forma não ingênua e ciente de que relações ideológicas e de poder se fazem presentes.
Essa atitude frente à informação requer um certo domínio do texto e do contexto. Nesse sentido, é essencial que os processos educativos, especialmente os promovidos por instituições escolares atentem e se comprometam com uma formação que permita aos sujeitos (crianças, jovens e adultos) assumirem uma postura crítica, indagadora e transformadora frente à massificação alienante provocada pela mídia.
No que se refere especificamente aos jornais impressos, a leitura crítica por parte do leitor deve propiciar uma compreensão do texto a qual levará, como aponta Freire (1997b, p. 11), à percepção das relações entre o texto e o contexto.
A capacidade de fazer uma leitura que seja significante requer uma formação que transcenda a simples apropriação dos instrumentos de leitura e escrita. A leitura de textos jornalísticos, por exemplo, deve propiciar a reflexão sobre questões mais amplas, como a política e a economia, que são influenciadas pelas informações veiculadas nessa mídia.
Nesse sentido, podemos inferir que a formação mínima do indivíduo, que já foi considerada como aquela que habilitava o sujeito para o ato da leitura e escrita, deve possibilitar também a consciência daquilo que o próprio sujeito escreve e o entendimento das informações a que tem acesso através dos meios de comunicação.

Alfabetização, Letramento e Numeramento.
O entendimento sobre o que é ser alfabetizado modificou-se com o passar do tempo devido a própria dinâmica da sociedade. Por volta do século XVIII, segundo Cook-Gumperz (1991), a alfabetização já ocorria no interior das próprias famílias, de acordo com necessidades específicas. Nessa época, a alfabetização acontecia sempre vinculada com o contexto, ou seja, ela não ocorria por acaso, tinha sempre uma função, uma finalidade para aquele que a “recebia”. Tal função estava, em geral, ligada a questões políticas e de poder com o intuito de manter o status quo de uma família.
Com o desenvolvimento econômico houve uma substituição da mão-de-obra rural pela mão-de-obra operária e neste contexto a instituição escola passa a ser o veículo principal de formação. O conceito de alfabetização assume uma característica mecânica e nessa concepção a alfabetização é tida como o ensino das técnicas de leitura e escrita. Saber ler e escrever, neste caso é uma atividade individual de codificação e decodificação, ou seja, saber escrever o que é falado e saber verbalizar o que é escrito. Abud (1987) aponta tal definição como alfabetização no sentido restrito. Entretanto, é esse tipo de alfabetização que é adotado pelo método tradicional de ensino.
A ligação direta entre escolarização e alfabetização contribuiu, segundo Tfouni (2004), para o entendimento restrito do conceito de alfabetização. Fato este criticado pela autora, pois dessa forma a alfabetização é vista como um processo finito. Para Tfouni (2004, p. 15) a alfabetização não se limita à aquisição de objetivos. Os objetivos a serem atingidos devem-se a uma necessidade de controle mais da escolarização do que da alfabetização.
A preocupação com o uso social da escrita, ou seja, da capacidade de se servir dos conhecimentos lingüísticos (interpretar textos e manifestar-se através da escrita, de forma crítica) para ter uma ação mais ativa e menos passiva na sociedade, diante dos problemas do cotidiano, obrigou a ampliar o conceito de alfabetização.
A partir de 1975, O Simpósio Internacional sobre Alfabetização de Persépolis, aprova uma declaração que dá ao conceito de alfabetização um sentido que transcende à simples aprendizagem da leitura e da escrita, ou seja, o desenvolvimento de uma consciência crítica, que possibilite ao alfabetizando a transformação da realidade social, passa a ser a tônica das discussões em âmbito acadêmico. A partir dessa declaração
a alfabetização não é só o processo que leva ao aprendizado das habilidades de leitura, escrita e aritmética, mas sim uma contribuição para a liberação do homem e seu pleno desenvolvimento (...). (apud Silva e Espósito, 1990, p. 64)
Com esse sentido o termo alfabetização deixa de ser referido e adota-se a terminologia letramento para designar o caráter funcional da alfabetização. Ou seja, o termo alfabetização em si referir-se-á à apreensão do código escrito, vinculado, portanto, à instituição escolar, enquanto o letramento refere-se ao uso social do código escrito.
O sentido dado ao termo letramento, nos campos da Educação e da Lingüística, é o da palavra da língua inglesa literacy. Segundo Soares, literacy
é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Implícita nesse conceito está a idéia de que a escrita traz conseqüências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, lingüísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. (Soares, 2002, p. 17)
A palavra letramento foi criada partindo da tradução, ao pé da letra, do sentido que possui o inglês literacy. Letra - do latim littera. Mento - sufixo que denota o resultado de uma ação. Assim, pois, Soares define letramento como o
resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita. (Soares, 2002, p. 17)
Cabe ressaltar que essa definição de letramento não é única. Há uma perspectiva etnocêntrica de letramento que, segundo Tfouni (2004, p. 24), entende que somente com a aquisição da escrita as pessoas conseguem desenvolver raciocínio lógico-dedutivo.
Tfouni entende o letramento como um processo, cuja natureza é sócio-histórica. E opõe-se a definições baseadas estritamente na tradução do termo inglês literacy, pois este apresenta uma variedade de definições e visões.
Kleimann (1995), se apoiando em Scribner e Cole (1981), entende o letramento relacionado a práticas sociais. Segundo a autora,
podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos (Kleimann, 1995, p. 19).
Entendemos que essa definição tende a abarcar várias práticas de uso da escrita. Para a autora, as práticas específicas da escola (...) passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (p. 19)
É nessa mesma direção, observando o contexto social, que Mendes (2001) discute a questão do letramento. A autora assume a visão de Street (1984), cujo autor propõe dois modelos para o estudo do letramento: o modelo autônomo e o modelo ideológico. O modelo autônomo analisa o letramento e suas conseqüências cognitivas, enquanto o modelo ideológico entende o letramento em termos de práticas sociais e ideológicas.
É com referência aos estudos de Street (1984, 1995), que relaciona a escrita aos seus contextos sociais de uso, que Mendes (2001) traz essa discussão para o campo da educação matemática sob a denominação de numeramento.
Mendes (2001) faz uma discussão sobre numeramento relacionando seu conceito ao modelo de letramento como proposto por Street (1984). O modelo autônomo do letramento, que relaciona a escrita com o desenvolvimento cognitivo, está ligado ao ensino tradicional da matemática, pois segundo Mendes (2001, p. 73), um dos objetivos da inclusão dessa disciplina no currículo seria justamente o desenvolvimento das capacidades de raciocínio e abstração.
Relacionando com o modelo ideológico de letramento, a discussão sobre numeramento, segundo Mendes, deve ser feita a partir dos contextos sociais de uso. Para tanto, é necessário não pensar em dicotomias: letrado/oral, letrado/iletrado, numerado/inumerado, (...), pois, tais dicotomias têm como referência a escolarização.
O conceito de numeramento de Mendes parte da
perspectiva que relaciona o conhecimento matemático e as práticas matemáticas aos seus contextos específicos, visualizando o uso das noções de quantificação, medição, ordenação e classificação em sua relação com os valores sócio-culturais que permeiam essas práticas. (Mendes, 2001, p. 81)
O estudo de Mendes sobre numeramento leva em conta o contexto social no qual as relações humanas em seu cotidiano, seja entre os homens (sujeito–sujeito) ou entre o homem e o meio ambiente (sujeito-meio ambiente), fazem com que surjam situações problemáticas nas quais a necessidade de uma construção (ou uso) da matemática seja conseqüência da prática cotidiana. O olhar da pesquisadora se deu num contexto de um grupo específico analisando as práticas dos professores Kaiabi. A constatação de Mendes foi de que as práticas de numeramento não se davam de forma isolada, mas tinham o letramento a elas associado. Razão pela qual a autora decidiu usar a denominação numeramento-letramento em sua análise.
Essa concepção de numeramento adotada por Mendes tem uma ligação estreita com a Etnomatemática, pois entende o conhecimento matemático não apenas associado à escolarização, mas nas palavras da autora, relacionado ao contexto de usos específicos de um grupo social.
O entendimento sobre numeramento, da mesma forma como o letramento, apresenta diferentes concepções. Apenas para ampliar as discussões acredito ser importante apontar uma visão de numeramento difundida no âmbito da pesquisa sobre o Índice Nacional de Alfabetismo Funcional – INAF-2004, que relaciona o numeramento ao uso social da matemática escolar.
Fonseca (2004, p. 13) aponta que na construção desse indicador, habilidade matemática foi entendida como
a capacidade de mobilização de conhecimentos associados à quantificação, à ordenação, à orientação e a suas relações, operações e representações na realização de tarefas ou na resolução de situações-problema, tendo sempre como referência tarefas e situações com as quais a maior parte da população brasileira se depara cotidianamente.
Esse entendimento sobre habilidade matemática traz em si uma concepção de numeramento bastante próxima do conceito de letramento como tradução do termo literacy. Ou seja, espera-se que o indivíduo tenha um domínio dos conceitos matemáticos aprendidos na escola e, principalmente, consiga usá-los na resolução de problemas que surgem em seu cotidiano, como aqueles que exigem o uso das operações aritméticas simples.
O termo numeramento é uma tradução do inglês numeracy, que, segundo Toledo (2004), vem sendo estudado por autores como Cumming, Gal e Ginsburg (1998), Gal (1993, 1994, 1999), Johnston (1999), entre outros e vem sendo entendido como
... um agregado de habilidades, conhecimentos, crenças e hábitos da mente, bem como as habilidades gerais de comunicação e resolução de problemas, que os indivíduos precisam para efetivamente manejar as situações do mundo real ou para interpretar elementos matemáticos ou quantificáveis envolvidos em tarefas (Cumming, Gal, Ginsburg, 1998, p. 2). (apud Toledo, 2004, p. 94)
Esse sentido dado ao numeramento também tem uma ligação com o conceito de letramento. Para a concepção de letramento que se tem adotado, como uma tradução do termo literacy, espera-se que o sujeito tenha não apenas e, tão somente, a posse dos instrumentos de leitura e escrita, mas saiba fazer uso desses recursos de modo a ter uma participação mais ativa no contexto social onde vive. Para o numeramento, o paralelo que se faz com a educação matemática é o mesmo. Ou seja, não basta ao cidadão o domínio de regras ou a habilidade para fazer contas.
De certa forma, podemos sintetizar as idéias de numeramento, aqui apontadas [Mendes (2001), Fonseca (2004) e Toledo (2004)], guardadas suas diferentes matrizes teóricas, como sendo o uso social da matemática.
Num contexto escolar, mostrar a aplicabilidade dos conceitos matemáticos implicaria numa tendência utilitarista da matemática, o que nem sempre é possível para todos os conceitos e também não se pode deixar de lado o aspecto de construção lógico-dedutivo inerente ao pensamento matemático. Entretanto, o que se espera é que a escola possa propiciar ao educando situações de experiência matemática nas quais sejam exigidas habilidades que envolvam não apenas o uso de algoritmo, mas sim, leitura, coleta de dados, resolução, interpretação e conclusão.
Dessa forma, estaremos diante de uma construção matemática que contribuirá para a formação de um cidadão crítico. Nesse sentido, acreditamos haver uma ligação das idéias de numeramento às teorizações da Educação Matemática Crítica considerando que tais construtos comungam a preocupação em fazer com que a Educação Matemática contribua para a atuação política do cidadão.

Algumas considerações sobre a Educação Matemática Crítica
Skovsmose (2001) concorda com Freire quanto à relação de diálogo entre professor e aluno para que a educação crítica funcione. Além disso, a criticidade no processo educacional implica que tal diálogo leve em conta os problemas sociais e as desigualdades existentes. Para o autor, a crítica deve tentar fazer da educação uma força social progressivamente ativa (Skovsmose, 2001, p. 101).
Para tanto, o desenvolvimento de uma competência crítica se faz necessário. Tal competência é considerada por Skovsmose (2001) como um dos pontos chaves da educação crítica, e leva em conta o envolvimento do estudante no controle do processo educacional. Considerando o fato de se trabalhar com o texto jornalístico, é imprescindível o envolvimento do aluno dado que na leitura e discussão dos assuntos, certamente emergirão suas opiniões, experiências ou sentimentos, as quais permitirão identificar temas relevantes ao processo educacional, através do diálogo professor-aluno e aluno-aluno. Esta relação se dá numa horizontalidade na qual a imposição por parte do professor deixa de existir. Para Barbosa
a competência crítica diz respeito ao desenvolvimento das competências (condições) e capacidades dos alunos para abordarem criticamente a vida diária, de tal maneira que eles possam apoiar os processos de democratização da sociedade. (Barbosa, 2001, p. 22, apud Jacobini, 2004, p. 24).
Skovsmose (2001) entende que a matemática tem um poder de formatação da sociedade devido a sua influência, e a concebe como um constructo social que é interpretada e utilizada segundo interesses econômicos e culturais.
Nesse sentido, é necessária uma formação matemática que permita ao cidadão desvelar esse poder formatador. Isso será possível a partir de um ensino que leve em conta a necessidade de uma criticidade no indivíduo. Tal pensamento crítico deve passar pela leitura de mundo a que todo indivíduo faz para conhecer e sentir-se engajado no ambiente onde vive.
No contexto histórico no qual vivemos, em que os meios tecnológicos possibilitam a rápida troca de informações, os meios de comunicação são imprescindíveis na vida do cidadão. Entretanto, é através desses meios que o cidadão se relaciona com sua localidade e com o mundo.
Tendo a matemática um status de legitimadora das verdades, cujo uso em textos jornalísticos dão a estes uma maior confiabilidade e credibilidade nas informações veiculadas, se o cidadão não compreende o significado e o papel dos números presentes nas notícias, sua participação na vida democrática também estará comprometida.
Dessa forma precisamos enfatizar que a leitura crítica de textos jornalísticos exige não apenas a alfabetização, ou seja, a apreensão (ou aquisição) dos códigos para ler e escrever, mas também devem ser desenvolvidos no indivíduo instrumentos que possibilitem o uso social dos códigos aprendidos tornando-o letrado.
Além disso, como o texto jornalístico muitas vezes contempla informações numéricas, a formação do cidadão deverá também levar em conta o caráter formatador que a matemática possui e garantir não apenas as habilidades de cálculo, mas também o caráter ideológico presente “atrás” dos números.
Nesse sentido, a proposta de nossa investigação foi a de usar o jornal nas aulas de matemática levando em conta as teorizações da Educação Matemática Crítica e as idéias de numeramento.
Acreditamos que o uso do jornal na escola como um recurso didático, possibilita o surgimento de questões de contexto social mais abrangente, favorecendo o conhecimento, principalmente da matemática, em situações de contexto diferente daquele encontrado nos textos didáticos, mesmo considerando a inserção de recortes de notícias trazidos pelas edições mais atualizadas dos livros didáticos.
A seguir apresentarei algumas considerações para o uso do texto jornalístico em uma aula de matemática discutindo uma possível situação de aula com o uso do jornal.

O texto jornalístico na aula de matemática
Se observarmos o montante de informações que chegam ao cotidiano dos cidadãos, através dos diversos meios: televisão, rádio, jornal impresso, folhetos de propaganda e internet, chegaremos à conclusão de que a escola deve ter o compromisso e objetivo de instruir o aluno hoje para poder amanhã, enquanto um cidadão adulto, saber se posicionar diante desse volume de informações. Para isso, torna-se imprescindível à escola abrir as portas e oportunizar discussões sobre temas atuais e estes, sem dúvida, estão presentes nos meios de comunicação diariamente, visto que a atualidade é característica inerente do meio de comunicação. Nesse sentido a presença dos meios de comunicação na escola, principalmente do jornal impresso, é apontada por diversos autores como de suma importância.
Faria (2003, p. 11) considerando a escola como um ambiente relativamente fechado onde o aluno é instruído e formado, justifica a presença do jornal na sala de aula como uma forma de trazer o mundo para dentro da escola.
Para Pavani,
além de constituir material útil para facilitar e estimular a aprendizagem e a prática da leitura, o jornal diário possibilita ainda uma ampla gama de “leituras” coerentes com as diversas áreas do currículo e do conhecimento, isto é, “leituras” práticas matemáticas, científicas, históricas, geográficas, artísticas, sociais e outras.” (Pavani, 2002, p. 24-25)
Nessa mesma direção, Corrêa também enfatiza a importância do uso do jornal na escola quando aponta que
pela sua agilidade, pela permanente sintonia com a realidade imediata, pelas características da linguagem que utiliza, pode constituir-se em um recurso didático com potencial para estabelecer uma maior interação entre a escola e a comunidade, entre a escola e a sociedade. (Corrêa, 2005, p. 97)
A interação entre a escola e a comunidade na qual pertence é fundamental para que o aluno possa entender o contexto social onde habita, assim como para a escola, para que ela, enquanto instituição, possa compreender-se como uma escola na comunidade e não para a comunidade, ou seja, a interação escola-comunidade tem por objetivo possibilitar ao aluno compreender, de forma crítica, seu meio sócio-cultural e, também, possibilitar à instituição escolar definir sua função e identidade junto ao grupo ao qual pertence. Ela deixa de ser algo “alienígena” que vem para atender a comunidade para ser algo integrado ao contexto dessa comunidade.
Nesse sentido, o uso do jornal pode ser um caminho metodológico para a concretização dessa interação escola-comunidade, uma vez que este veículo apresenta informações de diversos contextos, local e global, possibilitando a reflexão em ambos. Quando a interação escola-comunidade é uma intenção real, o uso do jornal se potencializa, pois os contextos globais e locais veiculados por essa mídia, podem ser problematizados e analisados pelos agentes envolvidos gerando além de análises reflexivas, atitudes, seja passiva ou ativa, para influenciar o meio ao qual pertencem.
Com a mesma intenção, documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) também preconizam o uso dos meios de comunicação em contexto escolar, sobretudo no tópico Tratamento da Informação. De acordo com este documento,
assuntos [do jornal] (...) costumam despertar o interesse dos alunos pelas questões sociais e podem ser usados como contextos significativos para a aprendizagem dos conceitos e procedimentos matemáticos neles envolvidos. (PCN, 5ª a 8ª séries, 1998, p. 134)
A presença dos meios de comunicação, principalmente o jornal impresso, na sala de aula é possível, e apresenta um ganho bastante considerável quando permite a reflexão sobre temas atuais, que chegam ao conhecimento do aluno através de alguma ou de várias mídias. O trabalho com os meios de comunicação pode ser efetivado através de um projeto sistemático a ser incorporado pela escola, em parceria com alguma empresa jornalística, ou mesmo de forma autônoma, de acordo com o projeto de educação que a unidade escolar possui.
Para o ensino da matemática, especificamente, o uso freqüente, por parte do jornal impresso, de elementos como gráficos, tabelas, números sob as mais diversas formas, pode instigar o professor a usar o texto jornalístico na aula de matemática com o intuito de ensinar alguns temas como porcentagem, proporcionalidade, estatística, etc.
A forma de abordagem das informações de um jornal na sala de aula pode ocorrer de diversas maneiras, conforme a perspectiva que o professor defende para o ensino de matemática, bem como sua visão de mundo. A postura do professor é fator determinante para o tipo de utilidade que o texto jornalístico terá em uma aula de matemática. Para exemplificar uma proposta tomaremos uma reportagem sobre o desmatamento na Amazônia, que foi publicada pelo jornal Folha de São Paulo em 07 de abril de 2004. Apresentamos abaixo um resumo desta reportagem.

Folha de São Paulo – 07 de Abril de 2004
No dia 07 de abril o jornal Folha de São Paulo noticia o desmatamento da Amazônia com a manchete Desmatamento em 2003 supera 21 mil km2. Logo no início, o texto aponta que o índice de 2003 pode superar a marca de 25.400 km2 que fora registrada no ano anterior. No entanto com base em fotos de satélite, o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente acredita que em 2003 o índice será menor. Segundo ele, em vários municípios houve queda nos índices. Os resultados oficiais estavam sendo fechados. Os dados preliminares do desmatamento foram mostrados na reportagem sendo descritos por Estados e cidades os quais são apresentados também por gráfico, mapa e tabelas que acompanham a mesma. Vale frisar que os três Estados que mais desmataram foram os de Mato Grosso, Pará e Rondônia assim como 25 municípios pertencentes aos mesmos. Estes tiveram um desmatamento equivalente a metade dos 21517 km2. Várias causas foram apontadas para o desmatamento, dentre elas está a boa fase do agronegócio no Brasil.

Escolhemos tal reportagem, pois acreditamos que o tema possibilita abertura para uma ampla discussão em diversas disciplinas do currículo escolar que não só a matemática. A discussão sobre o meio ambiente é bastante pertinente e está presente no programa curricular de disciplinas como Ciências e Geografia.
Por se tratar de desmatamento florestal a discussão se torna ainda mais abrangente, pois a Amazônia se constitui na maior área de floresta do mundo, a qual atrai para si, muitos interesses: econômico, científico e de sobrevivência da vida vegetal e animal.
Para propor uma situação de aula de matemática com o uso do texto jornalístico pautado em uma discussão crítica, nos apoiaremos no esquema gráfico seguinte, elaborado por Corrêa (1992, p. 37) o qual sintetiza as possibilidades didáticas que um texto jornalístico propicia.

Caixa de texto:  
Fonte: Corrêa (1992, p. 37)

Discutiremos a seguir alguns itens do quadro acima a partir da reportagem sobre o desmatamento, já citada acima.
? Promove debates, incentiva opiniões e questionamentos;
Um tema como o desmatamento pode levar o grupo a pensar e debater sobre diversos fatos. Inicialmente, pode levar o aluno a pensar na sua realidade local. Por exemplo, nas árvores que são derrubadas próximo a sua casa ou cidade.
Além disso, refletir sobre o processo de reflorestamento, no tempo que as mudas levam para se desenvolver, inclusive avaliar o impacto que uma derrubada de árvores, mesmo num local tão distante, pode ocasionar em seu ambiente, como mudanças de temperatura.
Nesta reportagem, quando da própria leitura do título: Desmatamento em 2003 supera 21 mil km2 e da “linha fina” que o complementa: Governo debate dados parciais com ONGs; área derrubada se estabiliza no patamar do equivalente a um Sergipe, já sugerem que não é uma região pequena, pois a compara a um Estado da federação, e mostra que o governo está preocupado considerando a reunião com as Organizações não-Governamentais. A leitura do título por si já dispara as mais diferentes reflexões que podem contrapor-se ao desmatamento, como também pode encontrar argumentos favoráveis. Um exemplo disso é a defesa que pode ser feita por alguém que entenda que a região citada pela reportagem precisa evoluir economicamente através do agronegócio, e as árvores são empecilho para isso.
São suposições de opiniões que poderiam surgir, ou não, se tal reportagem fosse apresentada em sala de aula.
O segundo aspecto apontado por Corrêa diz respeito às relações e contribuições que se podem estabelecer entre diferentes disciplinas em um trabalho sob o mesmo tema.
? Provoca ações inter e transdisciplinares;
Para Corrêa (2005, p. 97), é uma característica do jornal tratar suas matérias de forma transdisciplinar. Para a autora, isso se dá, pela forma abrangente e sem a preocupação de estabelecer fronteiras entre conhecimentos de diversas naturezas.
Nesse sentido, o uso do texto jornalístico em sala de aula possibilita ao estudante a leitura de textos de várias áreas do conhecimento. Tal leitura possibilitará a problematização de questões que não estão necessariamente no universo escolar, bem como não estão inseridos apenas no campo da matemática. Isso vai ao encontro da Educação Crítica, que segundo Skovsmose (2001, p. 19) entende o processo de ensino-aprendizagem baseado em problemas que estão fora do universo educacional. Nesse sentido, a mídia de um modo geral, contribui ao expor notícias que estão, em certa medida, relacionadas a fatos e situações de algum contexto social.
Um tema como o desmatamento propicia o envolvimento de outras disciplinas além da Matemática, tais como Ciências, Geografia, História, Língua Portuguesa e Inglês.
A disciplina de Ciências traz dentre outras discussões, a questão do Meio Ambiente em sua proposta curricular. Com o tema desmatamento, a contribuição de um professor especialista na área ajudará a responder questões do tipo: Qual o impacto do desmatamento para a região desmatada e para outras partes do país e do Globo Terrestre?; Em que medida o solo é afetado pelas queimadas?; etc. Disciplinas como Geografia e História sem dúvida encontrarão elementos para suscitar a curiosidade sobre as características geográficas da região e também sua situação política em cada momento histórico.
Das disciplinas voltadas para o ensino de línguas, o uso do texto jornalístico possibilita o estudo de um tipo de texto real (que existe fora da escola), sua estrutura e suas características.
? Evoca o “o que”, “onde”, “por que”, “para que”, “como”, “quando”;
São evocações que ajudarão a relativizar a notícia que está sendo estudada. Tais questionamentos, de certa forma ajudarão a evocar conceitos matemáticos que envolvem questões espaciais, temporais, numéricas e estatísticas.
Para um posicionamento mais crítico, acreditamos que é necessário acrescentar questões que evoquem o “quanto” e nisso estarão sendo contemplados os valores numéricos envolvidos no texto; “para quem” e “com que interesses”.
? Propicia o estabelecimento de relações matemáticas amplas;
Entendemos que nesse item a autora refere-se às possibilidades que um texto oferece para desencadear temas, no campo da matemática ou não, que estão além do próprio texto que está em estudo.
Particularmente na reportagem sobre desmatamento que estamos analisando, o texto nos remete a estabelecer relações nos campos: social, ambiental, histórico, político, dentre outros que podem surgir conforme o perfil do professor e dos alunos.
Além disso, alguns dos temas transversais preconizados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, podem ser contemplados a partir de um texto jornalístico que nesse caso seriam: meio-ambiente, trabalho, consumo e pluralidade cultural. Nesse sentido, a atenção para a diversidade seria despertada, assim como a necessidade e a importância de ouvir o outro e poder expressar ou opinar criticamente.
No campo da matemática, a forma de aprender ou fazer matemática divergiria da matemática escolar. Isso significa dizer que o texto jornalístico possibilita ampliar para além dos conceitos matemáticos que possam estar “visíveis” no texto, que em geral são conteúdos de porcentagem ou construção e interpretação de gráficos. Para um ensino de Estatística, por exemplo, o texto remete a discussão para o estudo sobre amostragem, pois a reportagem foi construída a partir de dados de uma amostra de 77 imagens de satélite; tipos de dados, se quantitativos ou qualitativos; inferência estatística; previsão ou probabilidade; unidades de medida (comprimento, área, volume, tempo); escala e proporcionalidade.
? Facilita questionamentos matemáticos específicos;
Sabemos que a função intrínseca de um jornal é veicular informação. O olhar do professor de matemática que pretende transportar esse meio de comunicação para a sala de aula e usá-lo como recurso didático, normalmente está direcionado para as informações numéricas do texto, ou gráfico e tabelas que o acompanham. Esse olhar já é, em si, diferente daquele que a mesma pessoa teria caso estivesse apenas lendo o jornal, sem ter a preocupação com questões didáticas. Entretanto acreditamos que uma situação de aula com o uso do jornal contribuirá para chamar a atenção para alguns conteúdos (conceitos) matemáticos que aparecem com certa freqüência em muitas reportagens.
Notícias sobre o tema desmatamento, normalmente trata o assunto com uma grande quantidade de dados numéricos envolvendo alguns conteúdos matemáticos, dentre os quais destacamos: a idéia de número e porcentagem. Entender esses conceitos é fundamental para o exercício de nossa cidadania. O exercício da cidadania implica em estar informado e também entender o contexto sócio-cultural no qual vivemos, ou seja, não basta ter acesso às informações, mas é também necessário compreendê-las e analisá-las criticamente de forma que possamos construir opiniões que permitam uma atuação comprometida com o meio onde vivemos. Em nosso caso, o conhecimento (ou se possível o domínio) dos conteúdos matemáticos presentes nos textos jornalísticos é fundamental.
Nesse sentido, o trabalho com o jornal ajudará na percepção desses conceitos matemáticos que são usados com maior freqüência nos textos jornalísticos e entender também, que tais conceitos diferem substancialmente na forma como são empregados em textos didáticos.
Tomemos como exemplo a relatividade que um número possui. Quando na reportagem o texto afirma que o município campeão de desmatamento é São Félix do Xingu, no Pará, com 1332 km2 de área desmatada, está se considerando um número comparado ao total de desmatamento entre outros municípios. Caso fosse considerada a extensão territorial de cada município seria São Félix do Xingu o campeão do desmatamento naquela região?
Outros conteúdos matemáticos que podem ser trabalhados a partir desse texto sobre o tema desmatamento são: medidas de superfície, forma de escrita de números, medida, proporcionalidade, razão, porcentagem, gráficos, tabelas, entre outros.
? Resgata conceitos matemáticos já estudados;
Um aluno, em qualquer nível escolar que esteja, traz em sua formação conhecimentos matemáticos que foram adquiridos na própria escola, bem como de uma forma não sistematizada, quero dizer, diferente da matemática escolar, através do contexto cultural onde vive. Dessa forma, os elementos matemáticos contidos em um texto jornalístico, não serão, todavia, uma novidade para o aluno. Entretanto, o contexto e a forma como são empregados no texto, exigirá um olhar atento para que possa interpretar a informação anunciada. Nesse sentido, num ambiente escolar muito dos conceitos carecem ser retomados, aprofundados e sistematizados, respeitadas as origens e o histórico de conhecimento matemático que o aluno possa trazer.
Um conceito matemático que está sempre presente na vida do estudante é o conceito de número. Este é um recurso da linguagem matemática usado na transmissão de informações quantitativas e apresenta outros significados como medida, comparação e ordem. Dessa forma, as informações numéricas presentes no texto jornalístico podem ser disparadoras para o resgate e aprofundamento da idéia de número.
? Aprofunda e Evolui para novos conceitos.
Esses dois itens que finalizam o esquema proposto por Corrêa (1992) para o uso do texto jornalístico como recurso didático, dependem, ao nosso ver, de várias questões dentre as quais destacamos: a série em que se esteja trabalhando, o perfil do professor para dar continuidade ou não aos temas matemáticos que emergirem das discussões temáticas, bem como das condições materiais e sociais de trabalho que se tenha.
A evolução, ou melhor, a possibilidade de irmos além de nós mesmos, que este trabalho pode garantir está no sentido de que, olhar para as questões sociais pode suscitar uma auto-reflexão de modo a nos percebermos como agentes ativos de nosso tempo e espaço, com capacidade para opinar criticamente. Como aponta Freire (1997, p. 59), somos seres inacabados, no entanto: porque inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir além dele.
A reportagem sobre o desmatamento na Amazônia é apenas um exemplo de como podemos propor alguma discussão no sentido de levantar questionamentos de modo a fazer uma análise mais crítica do tema proposto, que não o de olhar apenas para os conteúdos matemáticos. A discussão e a reflexão críticas devem também levar os atores da aula (professor e alunos) a ampliar sua visão de mundo de modo a perceber a realidade e contribuir para melhorá-la se assim for necessário.
Nosso objetivo com essa breve exposição foi a de mostrar a potencialidade pedagógica do uso da mídia escrita. Acreditamos que a mesma só se tornará um recurso pedagógico efetivo e transformador, se for utilizado na perspectiva da educação crítica.
Acreditamos também que o caminho para podermos transformar informação em conhecimento ou formação passa por uma educação que leve em conta uma dimensão mais crítica para a formação do indivíduo. Pois, sendo o nosso mundo hoje globalizado, é através dos meios de comunicação que ficamos informados, quase que em tempo real, de tudo o que acontece no Globo Terrestre e até fora dele. Diante disso, nossa percepção criteriosa de tudo o que chega a nós através das diferentes mídias, precisa ser questionado e relativizado para não perdermos a dimensão regional (ou local) de nossa vida, que é onde temos a responsabilidade direta de atuar, viver e transformar, se necessário.
Quanto a dinâmica da sala de aula, devemos levar em conta que um veículo de comunicação como o jornal impresso pode gerar curiosidades nos alunos, o que fará com que a classe certamente fique “agitada” devido aos diferentes comentários que surgem, pois cada aluno pode se interessar por um tipo diferente de assunto.
Caberá, sem dúvida, ao professor administrar essa situação, que já configura um momento de aprendizagem no sentido da diversidade de opiniões. Quanto à escolha de uma matéria jornalística para o trabalho em sala de aula, de modo que este seja efetivo e mais participativo, Corrêa enfatiza que tais escolhas
devem ser selecionadas levando-se em consideração o interesse dos alunos, a sua opção na escolha dos assuntos, a sua curiosidade em querer saber mais, em pesquisar outros assuntos relacionados, etc. Primordialmente, cabe ao aluno fazer uma seleção inicial de matérias jornalísticas, a partir de um tema pré-definido, ou não. (Corrêa, 2005, p. 99)
Acreditamos que o trabalho com o texto jornalístico em muito contribuirá para cumprir aquele que tem sido o objetivo de toda instituição escolar, que é formar um cidadão consciente e participante na sociedade.
Nossa defesa por uma Educação Matemática Crítica se deve à crença que temos de que o saber matemático também é uma questão de cidadania. Poder interpretar uma informação matemática contida em uma reportagem, decidir com consciência quanto à melhor forma de pagar por um produto que se compra, são situações corriqueiras do cotidiano do cidadão que exigem dele um pensamento lógico matemático. Mas não é só isso. O conhecimento matemático pode também estabelecer relações de poder, na medida em que o mesmo é usado para selecionar pessoas, por exemplo para ocupar uma vaga no mercado de trabalho.
Enfim, esperamos que essas reflexões possam contribuir para futuras reflexões e mesmo para críticas a elas, pois, se assim ocorrer, é porque as palavras contidas neste texto puderam criar um estado de dúvida, ou indignação ou curiosidade, ou necessidade ou vontade de ir além.
Paulo Freire (in Freire 1997a, p. 152) aponta para a importância de uma abertura sincera ao mundo. A consciência de que as opções políticas, éticas, pedagógicas, etc. tomadas por mim podem não ser as mesmas que outros tomaram, não implica jamais na necessidade de conquista por qualquer das partes, mas implica sim, na possibilidade de um crescimento conjunto na medida em que nos disponibilizamos ao diálogo.
Toda mudança é resultado de uma ruptura. E esta é muitas vezes dolorosa, pois temos que sair do estado inercial a que estamos acostumados. O trabalho com o jornal na sala de aula sob uma perspectiva crítica exige de nós um saber que é novo em nossa constante formação. Nesse sentido, finalizo com as esperançosas e sempre animadoras palavras de Paulo Freire:
Como professor não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha. Não posso ensinar o que não sei. Mas, este, repito, não é saber de que apenas devo falar e falar com palavras que o vento leva. É saber, pelo contrário, que devo viver concretamente com os educandos. O melhor discurso sobre ele é o exercício de sua prática. (Freire, 1997a, p. 107)

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