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O
LÚDICO E SUA RELAÇÃO COM O ENSINO DE LÍNGUA
ESTRANGEIRA PARA CRIANÇAS
Júlia Pereira Damasceno de Moraes - Universidade
do Planalto Catarinense - Uniplac
O patamar ocupado pela disciplina de Língua Estrangeira,
na grade curricular do Ensino Fundamental, não é algo que
nos orgulhe ou tranqüilize. Se analisarmos a importância e
a afeição que nossos alunos dedicam às aulas de “Inglês”,
ficaremos ainda mais preocupados.
Há alguns anos, a possibilidade de estudar uma Língua Estrangeira
na 7ª série representava insegurança para a maioria
dos alunos vindos da 6ª série do Ginásio. Posteriormente,
esta disciplina veio a atemorizar os pequenos que passavam da 4ª
série do “Primário” para a 5ª série
do Ensino Fundamental.
Os alunos da 5ª série não têm consciência
exata dos motivos pelos quais devem aprender a se expressar em outro idioma
e, por incrível que pareça, saem do Ensino Médio
sem sabê-los com clareza. Com objetivos idealistas e sem fundamentação
prática, sentem que os 135 minutos semanais de tempo que são
obrigados a passar do lado do professor de Inglês representam um
saldo negativo no final dos anos letivos de suas vidas.
O professor perde tempo, os alunos perdem tempo, mas estes últimos
se conformam, porque sempre foi assim: seus irmãos mais velhos
já diziam que Inglês é “chato”, “difícil”,
“ninguém aprende nada, mas mesmo assim, tem que estudar se
quiser ser alguém na vida”, “se quiser arrumar um emprego
melhor”, “se quiser ter estabilidade num mundo essencialmente
instável como é o nosso”. Dessa forma, um tempo que
deveria representar aprendizado e produtividade é desperdiçado
como conseqüência do preconceito cultivado através de
erros, ineficiência e ineficácia dos métodos de ensino
e dos professores de Língua Estrangeira.
Aliado ao problema metodológico e prático de ensino, surge
um outro problema: uma fase conturbada, como é a época da
adolescência, não representa propriamente o que chamaríamos
de um bom período para se estrear o estudo de uma Língua
Estrangeira, ainda mais como esse ocorre em sala de aula. A prova desta
teoria está no fato de que as crianças, mesmo depois de
ficarem quatro anos estudando inglês, não sabem sequer estruturar
um pequeno texto nesse idioma (salvo raríssimas exceções
daqueles que adoram a língua por algum motivo alheio à vontade
do professor).
O problema metodológico de ensino aqui representa o uso quase que
unânime do Método Tradicional de Ensino, onde as aulas representam
tédio e enfado para a maioria dos alunos. Vossler (Citado Por Bakhtin,
1997, p. 105) fala sobre lingüística, o que pode ser aplicado
ao ensino de Inglês como Língua Estrangeira em nossas escolas,
porque ele não é ensinado como uma língua plausível
de modificações.
Este talvez seja o motivo pelo qual, mesmo depois que a professora cobra
do aluno, pela milésima vez, como se diz “pai” ou “mãe”
em inglês, este não sabe dizê-lo. Falta-lhe a consciência
da palavra estudada enquanto signo lingüístico. Para Orlandi
(2003), toda palavra é composta por um significante e um significado.
O que vemos, e a imagem mental a que os símbolos gráficos
nos remetem.
Embora haja o pressuposto de que, nos dez primeiros anos de vida, seja
mais fácil de aprender uma Língua Estrangeira, tanto por
fatores cognitivos, quanto por fatores psicológicos, isto não
pode acontecer da forma que acontece nas séries finais do Ensino
Fundamental. Há de se trabalhar sim, Inglês com as crianças
das Séries Iniciais, mas deve-se repensar os Métodos de
Ensino utilizados no cotidiano escolar.
Lúdico: adj. Relativo a espetáculo público;
que se refere a jogos, brinquedos e divertimentos. (De ludo).
Ludo s.m. Espécie de jogo em que se usam dados; jogo, brinquedo,
divertimento. (Do latim: ludus).
(Nascentes, 1988)
O vocábulo “lúdico” tem sido
bastante explorado pelos estudiosos, tanto da área da psicologia
quanto da educação. Não se tem clareza, entretanto,
até que ponto influencia na maximização das possibilidades
de desenvolvimento humano. O que se sabe é que, com certeza, faz
parte das características que tornam o homem mais criativo e aberto
a novas situações de aprendizagem.
O lúdico não é característica apenas humana,
afirma suas raízes em sociedades animais, constituindo-se não
apenas como uma preparação à vida adulta, mas como
uma atividade que contém seu fim em si mesma, buscada apenas para
o momento em que se vive, sem pretender outro sentimento ou outra emoção
que não o prazer de brincar.
O conceito de homo ludens passa a ser valorizado pelo próprio fato
de que o homem se diverte. Segundo Santos (2001), “o ato de jogar
(brincar) passa a ser considerado como um fator fundamental no processo
de desenvolvimento humano”. No brincar, há uma estreita relação
entre espontaneidade e criatividade. Há também uma progressiva
aceitação das regras sociais e morais. De acordo com Oliveira
(2000), “é brincando que a criança se humaniza, aprendendo
a conciliar de forma efetiva a afirmação de si mesma à
criação de vínculos afetivos duradouros”.
Segundo Santos (2001), ao brincar, a criança desenvolve uma das
mais importantes funções psicológicas superiores,
que é a imaginação. Para a autora, é de homens
criativos e autônomos que a sociedade precisa. Criatividade e autonomia
se desenvolvem quando se propicia à criança um ambiente
familiar e escolar que favorece essas características.
Para Oliveira (2000), “o brincar faz parte inerente do processo
de desenvolvimento infantil, cognitivo e afetivo-emocional, não
podendo ser visto como uma atividade complementar, supérflua ou
até mesmo dispensável”. À medida que vamos
crescendo, temos a infeliz tendência de deixar de lado as brincadeiras
de criança e esquecemos que a criança percorre, em rápidas
passadas, aquilo que a humanidade levou muito tempo para conseguir atingir.
Esse aprendizado veloz e suas difíceis estruturas mentais são
possibilitados e extremamente facilitados pelos esquemas lúdicos
que se caracterizam justamente pelo predomínio do prazer sobre
o esforço prolongado. Aprender brincando é uma característica
que não deveria ser deixada de lado depois que o ser humano se
torna adulto.
Brincando, a criança vai construindo os alicerces da compreensão
e utilização de sistemas simbólicos como o da escrita,
e também da capacidade e habilidade em perceber, criar, manter
e desenvolver laços de afeto e confiança no outro. “Esse
processo tem início desde o nascimento, com o bebê aprendendo
a brincar com a própria mãozinha, e mais adiante, com a
mãe”. (OLIVEIRA, 2000). Desta forma, a criança vai
aprendendo a interagir e cresce como ser social e autônomo.
Segundo Oliveira (2000), o lúdico não está nas coisas,
nos brinquedos ou nas técnicas, como no computador, mas nas crianças
ou no homem, que os imaginam, organizam e constroem. Para Huizinga, (1971),
embora haja diversas hipóteses de que o jogo se ache ligado a alguma
coisa que não seja o próprio jogo, “a intensidade
deste e seu poder de fascinação não podem ser explicados
por análises biológicas”. O divertimento parece ser
seu único significado e sua única motivação.
As crianças brincam porque gostam de brincar.
Por isso a atividade lúdica assume uma característica voluntária
e, sendo assim, é marcada por um senso de liberdade que não
pode ser arrebatado de quem brinca. No momento em que se estabelecem regras
excessivamente arbitrárias, o jogo perde sua essência de
lúdico e passa a significar uma atividade humana meramente racional,
porque o jogo é irracional e não pode ser explicado ou dissecado.
Existe como elemento da cultura humana e é através dele
que a humanidade se desenvolve, progride e aprende. Cresce e assume papéis
que não serão mais do que jogos em novas magnitudes.
Para Huizinga (1971),
Todo jogo é capaz, a qualquer momento, de absorver inteiramente
o jogador. Nunca há um contraste bem nítido entre ele e
a seriedade, sendo a inferioridade do jogo sempre reduzida pela superioridade
de sua seriedade. Ele se torna seriedade e a seriedade, jogo. É
possível ao jogo alcançar extremos de beleza e de perfeição
que ultrapassam em muito a seriedade.
Embora as pesquisas em torno do jogo tenham iniciado no
início deste século, o ressurgimento das pesquisas psicológicas
sobre o jogo infantil nos anos 70 foi, em grande parte, estimulado por
Piaget e sua obra. “Seguindo uma orientação cognitiva,
o autor analisa o jogo integrando a vida mental, sendo caracterizado por
uma particular orientação do comportamento que denomina
assimilação.” (KISHIMOTO, 1998 p. 39)
Segundo Piaget (citado por Kishimoto), na assimilação, o
sujeito incorpora eventos, objetos ou situações dentro de
formas de pensamento que constituem as estruturas mentais organizadas.
Na acomodação, as estruturas mentais existentes reorganizam-se
para incorporar novos aspectos do ambiente externo. O brincar é
identificado pela primazia da assimilação sobre a acomodação,
porque é através das brincadeiras que se descobre novidades,
e se estabelece estruturas até então desconhecidas por parte
do “ser brincante”. É através do movimento,
da ludicidade, e não da atividade estagnada e repetitiva, que o
ser humano progride, melhora e aprende mais.
Emerique (2003) considera o lúdico como “um canal capaz de
mediar o real, o imaginário e o simbólico: o que é,
o que poderá vir a ser e o que poderia ser representado.”
Diante de todas as opiniões acima citadas, conclui-se que, embora
sejam diversos os autores, todos concordam sobre a importância do
lúdico nas possibilidades de desenvolvimento das pessoas.
Muito se tem refletido acerca dos métodos de ensino, quanto a sua
eficiência e eficácia. Há discursos que divergem quanto
às características que devem fazer parte de uma boa aula
a ser ministrada. Os princípios de disciplina vêm tomando
novos conceitos no curso da história da educação.
Se antes o silêncio era o termômetro para se identificar uma
boa aula, hoje a fala que permeia a prática educativa discorre
sobre a liberdade, a motivação, a necessidade de as crianças
se sentirem bem nas escolas. A lei do “deixe falar” norteia
as atividades em sala de aula da maioria das instituições
de ensino de nosso país.
O fato é que tais discursos de renovação, que são
extremamente belos e convincentes em teoria, nem sempre são visualizados
na prática. Os jogos ou as atividades lúdicas, de um modo
geral, quando realizados pelos alunos, são vistos como recreação,
hora da bagunça, ou como um terrível indício de indisciplina
por parte do professor. Para Emerique (2003), nós somos educados
segundo uma cultura antilúdica. Desde pequenos nos acostumamos
a ouvir frases como:
• Deixe de brincadeira
• Você só pode estar brincando comigo.
• Brincadeira tem hora.
• Isso é coisa de criança...
• Não me leve a sério, estou só brincando!
Da mesma forma, podemos perceber a cultura antilúdica perpetuada
através da prática dos professores:
• Deixem de brincadeiras e vamos começar a aula.
• Acabou a brincadeira. Vamos estudar.
• Estudem, porque a vida não é brincadeira...
Carrasco (citado por Emerique, 2003:13) questiona: “O
que pode estar acontecendo para que a brincadeira – tão séria
na vida da criança – seja tão pouco explorada e até
banida das escolas?” A discussão sobre problemas com disciplina,
algazarra, professores que “ficam brincando” em sala de aula,
normalmente permeia as conversas entre professores antilúdicos
na “hora-do-cafezinho”, sendo que exatamente o contrário
deveria acontecer: procurar maneiras lúdicas de estimular os alunos
a aprenderem. Para Bacha (1998:54), “Talvez não haja nada
mais característico das escolas que sua estranheza para com o prazer
da criança e do professor”. As escolas parecem ter a motivação
de seus alunos como sendo a última questão a ser analisada
em suas pautas de estudos. O currículo e os conteúdos ocupam
sempre lugares de destaque quando surgem as oportunidades de discussão
e troca de idéias.
Benjamim (1984) escreve sobre a postura acadêmica do professor que
“não está garantindo maior mobilidade à agilidade
do aluno (tenha ele a idade que tiver). Assim, é preciso trabalhar
o aluno como uma pessoa inteira, com sua afetividade, suas percepções,
sua expressão, seus sentidos, sua afetividade, suas percepções,
sua expressão, seus sentidos, sua crítica, sua criatividade...”
Para Santos(2000), “o jogo constitui insubstituível estratégia
para ser utilizada como estímulo na construção do
conhecimento humano e na progressão das diferentes habilidades
de progresso pessoal”. Pode-se entender então que quanto
mais procurarmos formas de incluir atividades lúdicas em nossa
prática diária, tanto mais estaremos estimulando o desenvolvimento
de nossos alunos.
Os alunos têm uma visão errada das atividades lúdicas,
e depois de este conceito errôneo estar firmado em suas consciências,
de nada adianta querer incluir o lúdico como uma alternativa de
melhorar a prática pedagógica, porque isto não surtirá
efeito. Talvez o Ensinar/Aprender brincando ainda não esteja suficientemente
maduro na consciência das pessoas. O lúdico tem caráter
psicológico que transcende as paredes do prédio escolar.
A brincadeira, segundo o que podemos perceber no cotidiano escolar, adquiriu
um sentido pejorativo e agora significa atividade sem sentido ou simples
perda de tempo. Se interrogarmos um professor sobre o motivo pelo qual
não faz uso de brincadeiras em sala de aula, dirá que não
é possível, porque a aula vira bagunça. Os alunos
pensam que é só pra brincar e não pra estudar.
Segundo Emerique (2003), “não é por acaso que, para
muitos adultos, brincar é sinônimo de não-sério,
de passatempo (ou perda de tempo), coisa de criança, infantil,
de pouco valor”. Daí o possível medo dos professores
de transformar suas atitudes em sala de aula. Entretanto, para o autor,
é através do lúdico, das brincadeiras, do uso de
nossa criatividade que conseguiremos mudar a aula unicamente expositiva,
a postura autoritária dos professores e dos pais e a atitude passiva
dos alunos e dos filhos que são eternos ouvintes. Descomprometidos,
desanimados e, por isso, frustrados em suas tentativas de aprender algo
com prazer.
Jargões tais como: “Primeiro a obrigação, depois
a diversão”, “Muito riso, pouco siso”, “Aqui
não é brincadeira”, apenas contribuem para que se
torne ainda mais difícil colocar em prática o que surte
efeito em teoria. Tais idéias vêm reforçar a idéia
de que nossa cultura nos educa segundo princípios dicotômicos:
ou somos felizes, ou somos tristes; ou estudamos ou brincamos; ou trabalhamos
ou sentimos prazer. Como bem escreveu Cecília Meireles (1997),
“ou isto ou aquilo”, “não sei se brinco, não
sei se estudo... não sei o que é melhor”... Segundo
esta dicotomia, sempre entenderemos uma palavra como sendo o antônimo
da outra, de forma que felicidade é o inverso de tristeza, assim
como estudar é o inverso de brincar. Como na brincadeira é
que sentimos um maior prazer, a atividade de estudo será sempre
associada ao desprazer das obrigações impostas pelos outros.
Compreende-se aqui, que é através da atividade lúdica,
e não através da acomodação, que o aluno aperfeiçoa
suas chances de aprendizado, de construção do conhecimento,
ou de produção do mesmo. Nada se produz enquanto se tem
a idéia menor de simples repetição e cópia.
Destaque-se, portanto, a importância da consciência do professor
enquanto auxiliar no processo de formação de seus alunos.
Um professor antilúdico jamais conseguirá transformar suas
aulas em possibilidades criadoras e transformadoras. O professor deve
proporcionar tantas atividades e tantos desafios quanto possíveis,
objetivando desencadear os processos mentais responsáveis pela
aquisição de novos conhecimentos.
Emerique (2003) define três tipos de professores, no que se refere
ao lúdico: há os que o repudiam, há os que o toleram,
e há, felizmente, os que o adotam como instrumento de melhoria
em suas aulas:
Há aquelas que reprimem, inibem os alunos, que
não brincam e não permitem que as crianças brinquem
(repetindo que aqui não é mais pré-escola ou alertando;
vamos parar de brincar que vai começar a aula!), há, também,
as que deixam que, em algumas ocasiões, as crianças brinquem,
como passatempo, diversão, recreação ou competição
(até para dar um intervalo nas atividades sérias), mas não
se envolvem, atuando como observadoras, para garantir que esses momentos
não virem bagunça); por fim, encontro ainda as que entram
no jogo, vendo o lúdico como mediador do ensino e da aprendizagem
e também como oportunidade para aproximar-se, interagir, escutar,
conhecer melhor seus alunos.
O professor deve ser alguém capaz de esperar, alguém capaz
de conter-se na pressa de dar respostas, que dê um tempo para a
pesquisa e para a busca, que algumas vezes é angustiante, mas sempre
produtiva. O professor, de modo geral, deve ser alguém que esteja
sempre atento aos erros e às tentativas, porque diversas são
as situações em sala de aula que, “quando superadas,
trarão uma leitura gratificante ao aluno: eu sei! Eu consegui!
Eu sou capaz!” (Emerique, 2003).
O ingresso da criança na escola, nas séries iniciais, representa
um rompimento com os seus hábitos diários. “Essa ruptura
é uma violência para a criança que precisa ser adaptada
gradativamente à nova situação”. A excessiva
formalidade de algumas escolas, onde se exige da criança um comportamento
padrão, poda a sua espontaneidade e retrai sua criatividade. O
professor atento a esta questão busca incessantemente formas de
educar sem massificar, sem tornar as séries iniciais um trauma
para a criança. É indiscutível que o professor tem
um currículo a cumprir em um determinado prazo de tempo e o conteúdo
formal precisa ser repassado. Existem, no entanto, técnicas alternativas
de educar que podem mudar radicalmente esta situação.
Na tentativa de melhor adaptar a criança nas séries iniciais,
é preciso buscar motivação nas experiências
que o aluno traz de casa. “(...) entre os hábitos familiares,
encontra-se a brincadeira, que pode ser utilizada para ensinar”.(Ferreira).
Impor à criança um ritmo essencialmente austero ou disfarçadamente
opressor significa desestímulo e subtração do que
ela tem de mais importante e fundamental para o processo aprendizagem,
que é a sua essência lúdica.
Algumas das razões para o ensino da Língua Estrangeira para
crianças derivam-se de sua curiosidade, sendo este um grande fator
de motivação que, por sua vez, é essencial ao aprendizado.
No ensino da LI não se deve perseguir a perfeição
quando o público-alvo é representado pelas crianças
deve-se antes, animar o educando a tentar se expressar na língua
em estudo.
Quando o inglês é apresentado através de aulas descontraídas
e cheias de diversão, as crianças passam a ser estimuladas,
desenvolvendo uma ótima capacidade de concentração.
Através de trabalhos lúdicos, a criança passa a ter
uma finalidade em seu aprendizado que transcende o aprender pela nota
e consegue o aprender pelo prazer de saber mais, pelo prazer de tornar-se
conhecedora de um outro idioma e de uma outra cultura.
Ao abordarmos o ensino de Língua Estrangeira sob o cunho de atividades
lúdicas, devemos levar em conta o fato de que o lúdico apresenta
dois elementos que o caracterizam: o prazer e o esforço espontâneo.
Como as situações lúdicas mobilizam esquemas mentais,
precisamos unir o Ensino de LE – Inglês – e o Lúdico,
para que nossas aulas deixem de representar castigo e passem a representar
possibilidades infindas de aquisição de conhecimento.
Quando se fala em aprendizagem da Língua Estrangeira, deve-se ter
clareza, inicialmente, com que objetivos os alunos estarão estudando
tal idioma. O estudo de uma Língua Estrangeira contribui para o
processo educacional como um todo, indo muito além da aquisição
de um conjunto de habilidades lingüísticas. Segundo a Proposta
Curricular (1998), o aprendizado de um idioma estrangeiro leva o aluno
a uma nova percepção da natureza da linguagem, aumenta a
compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve maior consciência
do funcionamento da própria língua materna. Propicia, ainda,
o desenvolvimento da habilidade de dizer/entender o que outras pessoas,
em outros países, diriam em determinadas situações.
Tal aprendizado promove, também, a aceitação das
diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento.
A aprendizagem de uma Língua Estrangeira vai além: uma possibilidade
de aumentar a autopercepção do aluno como ser humano e como
cidadão. Ao considerarmos o inglês como idioma que representa
hegemonia, que dá acesso à ciência e à tecnologia
moderna, à comunicação intercultural e ao mundo dos
negócios, estamos admitindo que o objetivo primordial dos alunos
que aprendem Inglês é comunicar-se. Se em nossas aulas tencionamos
desenvolver as habilidades de expressão tanto oral quanto escrita
de nossos alunos, precisamos planejar nossas aulas de forma a estimular
ações neste sentido. Daí a relevância de pensarmos
uma prática que adote o lúdico como norteador das atividades
propostas aos alunos.
Jamais conseguiremos desenvolver o potencial comunicativo de nossos alunos,
se nossas aulas simplesmente reproduzirem atividades de “decoreba”,
exercícios de “siga o modelo”, “complete com
as formas verbais adequadas”, etc.
As aulas devem envolver os alunos, torná-los participantes do processo,
levá-los a adquirir a consciência da palavra aprendida enquanto
signo lingüístico e não apenas como um amontoado de
informações inúteis acumuladas no caderno para serem
decoradas para a próxima aula.
Os jogos, as brincadeiras têm esse “poder” de envolver,
estimular e motivar quem a eles se entrega, ainda mais quando nos referimos
ao Ensino de Língua Estrangeira para Crianças. Estas, mais
que os adolescentes ou os adultos, precisam de atividades que se harmonizem
diretamente com sua capacidade lúdica. Porque segundo Huizinga
(1971), o homem, antes de ser racional, é lúdico. Daí
o conceito Homo ludens a que se refere o autor.
Faz-se necessário, portanto, que estudemos as diferentes metodologias
de ensino de Língua Estrangeira, analisando a presença (ou
não) do lúdico em suas atividades características,
a fim de averiguar se as práticas exercidas pelos professores estão
de acordo com os objetivos de comunicação e expressão
almejados pelos profissionais da área de ensino de Inglês.
Para compreender a forma como é tratado o Ensino de Língua
Estrangeira nas escolas nos dias de hoje, faz-se necessário traçarmos
um breve retrospecto sobre a história das Metodologias de Ensino
de Língua Estrangeira em tempos anteriores.
A concepção que se tinha de Ensino de Língua Estrangeira
nas escolas visava apenas o acesso ao conhecimento produzido, nos séculos
anteriores. Como as obras clássicas eram feitas em latim ou em
grego, as Línguas Estrangeiras ensinadas restringiam-se a estes
dois idiomas.
As habilidades desenvolvidas eram basicamente A LEITURA, e a ESCRITA,
privilegiando a abrangência de vocabulário. Este método
era chamado de Grammar Translation. Representa as primeiras atividades
de ensino de uma LE. Em contrapartida a esse método, no início
do século XX surgiu o método Direto. Parece ter-se originado
exatamente em oposição ao Método Tradicional.
Em 1920 surge o Método da Leitura, enfatizando as habilidades da
leitura, no que é radicalmente novo em suas técnicas. Preocupa-se
com o conhecimento histórico do país onde é falada
a língua a ser aprendida, a gramática se subordina à
leitura e retorna-se ao processo da tradução. (Proposta
Curricular, 1998:97)
Por volta de 1950, quando havia o predomínio da psicologia Behaviorista
(behavior = comportamento), desenvolve-se um novo método de ensino
de Língua Estrangeira. Esta corrente baseava-se na idéia
do Comportamento estimulado e reforçado, quando adequado. A Teoria
do Estímulo – Resposta – Estímulo foi a base
do Método Audiolingual. Dava-se ênfase ao ensino de modelos
orais, aprendidos através de intensa prática repetitiva.
Tais atividades tinham o objetivo de automatizar estruturas e formas no
aprendiz do idioma.
Os exercícios de fala eram repetidos até que a pronúncia
fosse exatamente a esperada. A automatização das estruturas
gramaticais era apreendida assim:
Could I have a cup of coffee?
Os alunos repetiam exaustivamente e quando pronunciavam a frase corretamente,
esta era modificada da seguinte forma:
Could I have a cup of milk?
Could I have a cup of tea?
Assim, a estrutura Could I have… ficava “gravada”
na memória do falante.
É
muito forte a influência do “Estruturalismo” na forma
de ensino de línguas. Surge o Método Estrutural Situacional
(1960), que embora fosse vinculado ao anterior, salientava a necessidade
da existência de um contexto significativo para a prática
da língua a ser aprendida. Era uma tentativa de se evitar a repetição
mecânica, porém, na prática, ainda havia a realização
da repetição de padrões estruturais pré-determinados.
Em 1965, fixando-se na capacidade de uso da língua, ou seja, na
competência comunicativa, surgiu o Método Cognitivo. Este
método enfatizava as habilidades tanto de leitura e de produção
escrita quanto de fala e de compreensão da língua falada,
porque primava pela competência bilíngüe e bicultural.
(Proposta Curricular, 1998, p. 97)
Na década de 70 houve uma transformação radical na
metodologia do ensino de Língua Estrangeira. Foi um período
em que parece ter havido certa perda de eixos norteadores da prática
pedagógica, havendo muitas tentativas de diferentes formas de ensinar
outro idioma. Esta década é conhecida como The Seventies.
Somente na década de 80 é que se consolidou no Brasil a
abordagem comunicativa, forma eclética de ensino-aprendizagem em
que se foge da prática mecânica para simular as situações
do dia-a-dia, encorajando-se também situações de
comunicação real. Nesse caso, a gramática põe-se
a serviço dos objetivos de comunicação.
Método
Tradicional – Grammar Translation:
• Classes are taught in the mother tongue, with little active use
of the target language.
• Much vocabulary is taught in the form of lists of isolated words.
• Long elaborate explanations of the intricacies of grammar are
given.
• Grammar provides the rules for putting words together, and instruction
often focuses on the form and inflection of words.
• Reading of difficult classical texts is begun early.
• Little attention is paid to the content of texts, which are treated
as exercises in grammatical analysis.
• Often the only drills are exercises in translating disconnected
sentences from the target language into the mother tongue.
• Little or no attention is given to pronunciation.
Não
tencionamos fazer aqui uma análise detalhada de todos os tópicos.
Ao invés disso, pretendemos apenas definir a presença ou
não do lúdico enquanto possibilitador de desenvolvimento
cognitivo dos alunos.
Diante das características acima descritas, percebe-se que não
há uso de atividades que envolvam o lúdico durante as aulas.
Pelo contrário, a repetição não permite que
os aprendizes usem a imaginação e a criatividade. A atividade
de decorar mecanicamente não possibilita aos alunos o ato de estabelecer
relações e construir significados a partir das explicitações
do professor.
O Método Direto – The Direct Method
• Classroom instruction was conducted exclusively in the target
language.
• Only every day vocabulary and sentences were taught.
• Oral communication skills were built up in a carefully traded
progression organized around question-and-answer exchanges between teachers
and students in small, intensive classes.
• Grammar was taught inductively..
• New teaching points were taught through modeling and practice.
• Concrete vocabulary was taught through demonstration, objects,
and pictures; abstract vocabulary was taught by association of ideas.
• Both speech and listening comprehension were taught.
• Correct pronunciation and grammar were emphasized.
Não
há nenhum registro enfatizando a utilização do lúdico
no trabalho com os aprendizes do idioma. A exposição do
aluno a uma completa imersão no idioma a ser aprendido não
significa que a metodologia de ensino diferisse em termos de motivação
e criatividade.
O Método
Audiolingual – The Audiolingual Method.
• New material is presented in dialog form.
• There is dependence on mimicry, memorization of set phrases, and
over learning.
• Structures are sequenced by means of contrastive analysis and
taught one at a time.
• Structural patterns are taught using repetitive drills.
• There is little or no grammatical explanation. Grammar is taught
by inductive analogy rather than deductive explanation.
• Vocabulary is strictly limited and learned in context.
• There is much use of tapes, language labs, and visual aids.
• Great importance is attached to pronunciation.
• Very little use of the mother tongue by teachers is permitted.
• Successful responses are immediately reinforced.
• There is a great effort to get students to produce error-free
utterances.
• There is a tendency to manipulate language and disregard content.
No Método
Audiolingual, se entendermos o lúdico como a mímica, poderemos
dizer que havia uma tímida presença do mesmo nas atividades
intra-classe. Entretanto, normalmente, tais situações significavam
pressão para os alunos, que tinham a obrigação de
repetir as frases ou estruturas exatamente como o professor esperava que
o fizessem.
Natural approach
O “método da aproximação natural” procurava
criar situações reais de aprendizado. Os alunos aprenderiam
este novo idioma de forma interativa e lúdica. Acontece que este
método, apesar de bastante comentado, é pouco usado devido
à insegurança dos professores que, infelizmente, não
conhecem o idioma de forma suficiente para que possam ministrar uma aula
lúdica.
Apesar de
sabermos que as crianças aprendem mais quanto maior é o
estímulo para tal, nossa formação ainda apresenta
certa defasagem. Não sabemos como aplicar o conhecimento que tão
bem dizemos ter. Pregamos uma prática lúdica, mas na realidade,
reproduzimos as práticas de nossos antigos professores. “Copie”,
“decore”, “siga o modelo”, “estude a lista,
prova amanhã”, são palavras que resumem a maioria
das aulas de inglês de nossos colégios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sistema
educacional atual tem passado por diversas transformações:
Seus conceitos e concepções de ensino modificam-se velozmente
em uma tentativa de acompanhar a evolução da sociedade da
qual faz parte. Muito se tem discutido sobre os Métodos de Ensino,
os conteúdos escolares e as suas pertinências quando falamos
de formação integral do aluno.
Diante da concepção de os métodos antigos de ensino
terem se tornado obsoletos em sua capacidade de formar e informar, tem-se
pensado bastante sobre uma nova forma de ensinar. Discute-se, então,
sobre a importância do Lúdico no processo de Ensino/Aprendizagem
haja vista o fato de os jogos e brincadeiras serem comprovadamente pertinentes
no desenvolvimento das habilidades cognitivas dos nossos estudantes. Partindo
do princípio de que o homem é um animal lúdico entendemos
que o processo pelos quais se motiva a aprender em muito se deve à
natureza lúdica das atividades propostas.
Se descobrirmos ser o lúdico ser de suma importância para
o real aprendizado, não podemos descartar a hipótese de
ele também ser utilizado no ensino de uma Língua Estrangeira.
Dificilmente a prática do professor reflete uma parceria com novas
possibilidades de ensino. Talvez por comodismo ou defasagem na formação,
o professor prossegue reproduzindo práticas antigas e fáceis
em sala de aula. Não se sabe até que ponto tais atividades
contribuem para a aquisição de uma segunda língua,
porque os alunos mesmo internalizando o “significante”, não
conseguem assimilar o significado.
Entretanto, devemos ter consciência, como professores de Língua
Estrangeira, de que se quanto mais jovens os aprendizes mais chances têm
de aprender com facilidade, não se pode ensinar as crianças
da mesma forma como são ensinados os adolescentes ou adultos. Porque,
se com os jovens a atividade repetitiva e meramente reprodutora não
funciona, que dirá com crianças, que tem como marcas maiores
a criatividade, a curiosidade e a agitação.
É por isso que o Lúdico deve ocupar lugar de destaque no
planejamento dos professores de Língua Estrangeira, em especial,
dos professores de Língua Estrangeira para alunos das séries
iniciais.
REFERENCIAS
ARMSTRONG. Thomas, Inteligências múltiplas na sala de aula.
Artmed, 2ª edição. Porto Alegre: 2001.
BENJAMIM. Walter, Reflexões: a criança, o brinquedo , a
educação. Summus, 3ª edição. São
Paulo, 1984.
EMERIQUE. Paulo Sérgio, Brincaprende, dicas lúdicas para
pais e professores. Papirus. São Paulo: 2003.
FERREIRA. Marielise. A hora da escola. Edelbra. Vol. I – O Teatro
nas salas de aula.
GANDINI. Lella, EDWARDS. Carolyn; FORMAN, George. As cem linguagens da
criança. Artmed. Porto Alegre: 1999.
HUIZINGA. Johan, Homo ludens. Perspectiva, São Paulo:1971.
KISHIMOTO. Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil.
Pioneira, São Paulo, 1998.
MACHADO. Marina Marcondes O brinquedo–sucata e a criança.
A importância do brincar, atividades e materiais. Loyola. 4ª
edição. São Paulo: 20001
OLIVEIRA. Vera Barros de O brincar e a criança do nascimento aos
seis anos. Vozes, 2ª edição, Rio de Janeiro: 2000.
SANTOS. Santa Marli Pires dos, (org) Brinquedoteca: a criança,
o adulto e o lúdico.
TOTH. Maria, Children’s Games.Heinemann, Oxford, 1995.
WRIGHT, Andrew; BETTERDGE, David; BUCKBY, Michael. Games for Language
Learning, 2ª edição. Nova York, Cambrige University,
1996.
4. ATIVIDADES LÚDICAS: SUGESTÕES DE TRANSFORMAÇÃO
DAS AULAS DE INGLÊS
É possível trabalharmos o vocabulário e a fluência
em Língua Inglesa de nossos alunos sem “mandá-los”
decorar enormes listas como se eles precisassem conhecer o dicionário,
bem como é possível que eles adquiram uma segunda língua
sem os transtornos gramaticais aos quais são submetidos. A seguir
citaremos exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas rapidamente,
não requerem muitos materiais, mas estimulam e descontraem o ambiente
ao mesmo tempo em que propiciam oportunidades de aquisição
de vocabulário, fluência, e assimilação da
estrutura gramatical do idioma-alvo:
4.1 Catch
Time: very short
Level: any
Materials: ball (or other throwable item)
Purpose: various review, student fluency
Instructions: Choose a set of vocabulary items. The student holding the
ball says an item and throws the ball to another student. That student
has to say the previous item and them their own item.
Alternatives: Students each have on vocab item. You say your own item
and the item of the student to whom you’re throwing the ball.
4.2 Frozen tag
Time: 5 minutes or more
Level any
Materials: cards (with words or pictures representing vocabulary), space
Purpose: various review, fluency
Instructions: Hand out the cards, one to each student and practice the
vocab so that everyone knows their own word. One person is “it”.
When they touch another person, they become frozen (can’t move)
but their friends can unfreeze them. To do this, the friend tells the
frozen person what’s on their card. The frozen person then either
repeats or acts out the item. Then they are free.
Alternatives: from time to time have students switch cards and teach each
other their own vocabulary and change the person who is “it”.
4.3 Market Memory Game
Time: 5-10 minutes
Level: Upper beginner to intermediate
Materials: pictures or lists of market items (fruit, juice, etc.)
Purpose: to practice quantifiers, countable or uncountable nouns &
memory.
Instructions: This morning, I went to the market and bought ………..(some
apples)
Groups then work around the circle. Each must repeat all the items added
by previous students and add their own. You can add a twist with the requirement
that items must be alphabetical, i.e.., some apples, some bananas, a comb,
etc.
4.4 Do It
Time: 5-10 minutes
Level: Absolute beginners to intermediate
Materials: none
Purpose: to understand spoken commands
Instructions:
• This works better if the teacher has a list of commands in mind
(7-16 that the students have studied before)
• Students split into two teams.
• The teacher says a command.
• The first student to raise their hand stands up and performs the
command.
• If they get the meaning right, they get another point, if not,
the other team gets a chance.
4.5 Blind Olympics
Time: 15-20 minutes
Level: Beginner to intermediate
Materials: classroom and classroom furniture, blindfolds
Purpose: to practice giving directions
Instructions:
• Rearrange class into an open space
• Make two (or more) teams
• In each team one person is blind folded
• The other students make the class into an obstacle course
• Students from each group give directions to their candidate to
reach the finishing line at end of the room.
• Every time their competitor touches an item in the room they loose
a point and if they touch the other competitor they loose two points (or
any combination you like).
Os jogos descritos acima representam uma pequena amostra das inúmeras
possibilidades de incluir o lúdico em sala de aula, no ensino de
uma Língua Estrangeira. Perdendo a característica de recreação,
as atividades lúdicas são mais que isto: representam uma
outra visão da prática pedagógica instaurada há
tanto tempo nas salas de aula. O Lúdico não tem o peso de
um método de ensino, mas pode muito bem ser adotado como principal
norteador de nosso planejamento docente. |
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