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  MUDANÇAS DIDÁTICAS E PEDAGÓGICAS NAS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO: OS NOVOS LIVROS DIDÁTICOS RECOMENDADOS PELO MEC-PNLD 2004 E SEU USO.

Ana Paula Campos Cavalcanti - Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
Artur Gomes de Morais - Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Nessa pesquisa analisamos a influência das teorias da Psicogênese da Língua Escrita, da Consciência fonológica e do Letramento nas propostas de livros didáticos de alfabetização (LDAs) “recomendados” pelo PNLD 2004, assim como, a natureza das mudanças didáticas e pedagógicas nas práticas de alfabetizadoras que atuavam em escolas públicas da Rede Municipal do Recife. Desta forma, constatamos que os três LDAs analisados parecem ter avançado no pólo do letramento, embora apresentassem lacunas nas atividades voltadas à apropriação do SNA. Quanto ao uso dos novos LDAs pelas professoras analisadas, percebemos que seguiam as instruções apresentadas no livro, como acrescentava e modificava outras atividades, para adequá-las aos seus objetivos e ao nível dos alunos.

INTRODUÇÃO
Fundamentação teórica
Assistimos, mais recentemente, a uma política de avaliação dos livros didáticos adquiridos para as redes públicas brasileiras. Buscando promover a qualificação daqueles materiais, a partir da instituição do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), a SEF-MEC tem atribuído a pesquisadores, professores de instituição universitárias, a tarefa de estabelecer critérios, julgar a qualidade e recomendar / excluir os manuais didáticos a serem usados no ensino fundamental, aí incluídos os livros didáticos recomendados de alfabetização, substitutos das cartilhas tradicionais. Portanto, o presente trabalho analisa o processo de didatização proposto por “textos do saber” mais especificamente os livros didáticos recomendados de alfabetização.
Salientamos, também, que a leitura e a escrita, enquanto objetos de ensino da alfabetização, sofreram alterações no decorrer da história, alterações relacionadas a diferentes aspectos. Para analisarmos as práticas específicas de ensino do sistema de escrita alfabética nos livros didáticos recomendados de alfabetização, tomaremos como eixos os seguintes pressupostos teórico-metodológicos: a psicogênese da escrita, o letramento e os estudos sobre ao desenvolvimento da consciência fonológica.
De acordo com as contribuições dos estudos sobre a psicogênese da língua escrita, desenvolvidos por Emília FERREIRO e Ana TEBEROSKY (1984) a escrita é um sistema notacional que descreve os fonemas da língua e que possui propriedades particulares quanto ao tipo de relação que estabelece com aqueles fonemas (Ferreiro, 1985).
Durante a apropriação do S. N. A. o aprendiz elabora vários conhecimentos sobre o funcionamento desse, como: que é preciso haver uma variedade interna nas grafias que usamos numa palavra; que as letras representam partes sonoras das palavras que falamos, partes menores que a sílaba, que são os fonemas; quais os valores sonoros que as letras podem assumir na nossa escrita e etc (Ferreiro, 1985).
Um dos mais importantes desafios para a compreensão do princípio alfabético pelos aprendizes é o de perceber que as palavras escritas contêm combinações (letras ou combinações de letras), as quais se relacionam com as unidades sonoras das palavras (fonemas).
De acordo com essas autoras, os aprendizes passam por estágios evolutivos durante o processo de aquisição da notação escrita, antes de chegar a compreender, de fato, o S.N.A. Ao todo são quatro hipóteses, as quais se voltam para a relação que o aprendiz estabelece entre a linguagem falada e escrita. São elas: a) Hipótese Pré-silábica = nessa os grafismos são alheios a toda busca de correspondência entre letra e som; b) Hipótese Silábica = nessa há uma tentativa de se atribuir um valor sonoro de modo que, ao final do estágio, cada uma das letras que compõem a escrita, passa a valer por uma sílaba. O aprendiz começa a perceber que a escrita representa as partes sonoras da fala; c) Hipótese Silábico–Alfabética = fase de transição entre a hipótese silábica e a alfabética. Caracteriza-se pelo fato do aprendiz descobrir a necessidade de se fazer uma análise que vá além da sílaba; d) Hipótese Alfabética = nessa o aprendiz já compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba, realizando, assim, uma correspondência entre grafema e fonema.
Na esteira desta discussão, observamos que na década de 1990, uma outra discussão ganhou força: a da consideração do ensino da leitura e da escrita como práticas de letramento. SOARES (1998) faz uma distinção entre os termos alfabetização e letramento no qual o primeiro corresponde à ação de ensinar/aprender a ler e a escrever, enquanto o segundo é o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. De acordo com a autora, alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.”
Mas o que seria alfabetizar letrando? Essa expressão foi utilizada inicialmente pela professora Magda Soares (1998), que defendeu a distinção entre alfabetização e letramento. Para Soares (1998) “a alfabetização é a ação de ensinar / aprender a ler e escrever”, já o conceito de letramento diz respeito ao“estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita”.
Portanto, alfabetizar letrando seria “ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita de modo que o indivíduo se tornasse ao mesmo tempo alfabetizado e letrado” (Soares, 1998). Desta forma, a produção de texto deve ocorrer dentro de um contexto motivador, com finalidades específicas. Não deve servir apenas para atender apenas as exigências escolares.
Outro importante eixo teórico a ser discutido neste trabalho refere-se a contribuição dos estudos sobre o papel das habilidades de análise fonológica na alfabetização e as evidencias e problemas de transposição didática.
A consciência fonológica é um tipo de conhecimento metalingüístico (linguagem que serve para descrever ou falar sobre uma outra linguagem), o qual tem por característica o fato do indivíduo pensar sobre a linguagem e operar com ela, considerando os segmentos sonoros internos às palavras. Tal conhecimento decorre da capacidade do ser humano de poder se debruçar sobre a linguagem de maneira consciente, permitindo a reflexão sobre os sons da fala (Cardoso-Martins, 1991).
Ainda de acordo este autor, a consciência fonológica deve ser considerada como uma habilidade para executar operações mentais sobre a fala, habilidade esta que permite ao indivíduo o julgamento e a manipulação da estrutura sonora das palavras. Os sujeitos que desenvolvem a consciência fonológica reconhecem que as palavras podem rimar, bem como começar e terminar com o mesmo som e que são compostas por fonemas que podem ser utilizados para formar novas palavras. Assim, o termo Consciência Fonológica deve ser entendido como a consciência dos indivíduos de que as palavras são formadas por diferentes sons ou grupos de sons e que elas podem ser segmentadas em unidades menores.
Os trabalhos de um número cada vez maior de pesquisadores têm investigado as relações entre a capacidade de reflexão metalingüística da criança e seu desempenho no aprendizado da leitura e escrita. Essas pesquisas vêm estudando a relação entre a consciência fonológica e o aprendizado do S. N. A. A maioria delas concorda que aquela constitui um importante fator no aprendizado da leitura e escrita alfabética. Elas enfatizam que o treino da consciência fonológica, quando associado à correspondência grafema-fonema, exerce um efeito positivo sobre o aprendizado da leitura e da escrita (cf. Morais e Lima, 1989; Cardoso-Martins, 1991, 1995b; Maluf e Barrera, 1997; Menezes, 1999a; Capovilla e Capovilla, 1998a, 2000).

Mudanças nos LDAs de alfabetização: Como os professores têm usado “os novos livros didáticos recomendados da alfabetização”?
O livro didático vem se constituindo em um material de regulação de muitos aspectos da prática do professor: os conteúdos a serem ensinados, a ordem em que eles deveriam ser trabalhados, as atividades a serem desenvolvidas, os textos a serem lidos, a forma de correção dos exercícios. Na década de 1980 vimos surgir um forte discurso contrário à utilização de livros didáticos. O uso desse material passou a ser vinculado a uma prática tradicional de ensino, que precisaria ser ultrapassada.
Por um lado, essa utilização foi apontada como vinculada à desqualificação profissional de professores: “os livros didáticos criariam uma dissociação entre aqueles que executam o trabalho pedagógico – os docentes – e aqueles que o concebem, planejam e estabelecem suas finalidades – os autores de livros didáticos e as grandes editoras –, e a principal conseqüência dessa dissociação consistiria numa diminuição das exigências de formação e preparo docente” (BATISTA, 2000, p. 538).
Por outro, os livros passaram a ser criticados por apresentarem erros conceituais e por se constituírem em um campo da ideologia e das lutas simbólicas, revelando um ponto de vista parcial e comprometido sobre a sociedade. No que diz respeito às cartilhas especificamente, estas receberam fortes críticas por se basearem em métodos tradicionais de alfabetização e apresentarem textos forjados.
Nesse período, novas concepções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa passaram a ser divulgadas/produzidas no Brasil, concepções estas desenvolvidas em diferentes áreas: Língüística, Psicolingüística, Análise do Discurso, etc. Mudanças nas práticas dos professores passaram a ser exigidas e, para que estas fossem efetivadas, seria necessário que os mestres parassem de organizar seus trabalhos a partir da utilização de um livro baseado em orientações teórico-metodológicas consideradas ultrapassadas.
Compreendendo a importância do livro didático na organização da prática pedagógica do professor e reconhecendo que muitos deles se distanciavam das propostas curriculares e dos projetos elaborados pelas Secretarias de Educação, além de serem desatualizados e apresentarem erros inaceitáveis, o MEC passou a desenvolver, desde 1995, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Os livros inscritos no programa vêm sendo submetidos a um trabalho de análise e avaliação pedagógica que resulta na publicação de um Guia de Livros Didáticos, que traz informações sobre esses livros, constituindo-se em um material que orienta a escolha do livro didático pelo professor.

Objetivos
Assim sendo, referente trabalho possui os seguintes objetivos:
• Analisar as concepções dos autores de livros didáticos de alfabetização (LDAs) recomendados sobre o sistema de notação alfabética (SNA) enquanto objeto de conhecimento e sobre como crianças dele se apropriam;
• Analisar a influência das teorizações hoje disponíveis (advindas dos estudos sobre letramento, sobre a psicogênese da escrita, sobre “análise fonológica” ou outras) na seleção e estruturação de seqüências didáticas voltadas ao ensino do SNA;
• Identificar nos livros didáticos as estratégias de articulação entre as atividades voltadas ao ensino do SNA e as práticas de leitura e produção textuais;
• Analisar a avaliação emitida por especialistas do PNLD sobre o tratamento didático dado ao sistema de notação alfabética nos LDAs.
• Analisar o processo de transposição das discussões didáticas sobre alfabetização presentes nos livros didáticos e nos textos oficiais para as práticas de ensino dos professores;
• Investigar o uso que os professores fazem dos livros didáticos de alfabetização;
• Buscar identificar outras mudanças pedagógicas presentes nas práticas de ensino dos professores.

Metodologia
Esta pesquisa adotou como estratégia metodológica básica a análise documental, envolvendo duas fontes: livros didáticos recomendados de alfabetização e os documentos (resenhas e pareceres) elaborados pela equipe de avaliadores do PNLD-2003/2004 sobre os mesmos LDAs.
Foram analisados livros recomendados de alfabetização pelo Guia de Livros Didáticos do PNLD 2003/2004, livros de fato selecionados por redes públicas municipais da região metropolitana do Recife.
Para a análise dos livros didáticos recomendados de alfabetização utilizamos os seguintes LDs:
• Vivência & Construção – Alfabetização. MIRANDA, Cláudia, LOPES, Angélica, RODRIGUES, Vera Lúcia. Editora Ática, 1ª Edição, São Paulo SP, 2003.
• Novo Letra Viva – SETÚBAL, Alice Maria, LOMONÂCO, Beatriz BRUSIZIAN, Izabel. Editora Formato, 1ª Edição, Belo Horizonte MG, 2001.
• Português – uma proposta para o letramento alfabetização - ROCHA, Gladys. (Livro adotado pela prefeitura municipal da cidade do Recife).
A análise destes livros didáticos recomendados consistiu na elaboração de categorias relacionada a aprendizagem do sistema de notação alfabético, contemplando os seguintes eixos: leitura, produção textual e apropriação do sistema de escrita. Sendo assim, observamos nestes livros, os tipos de atividades de apropriação do SNA, a presença de diversidade de gêneros, orientações para o professor.
Além da análise documental, essa pesquisa também adotou observações etnográficas em salas de aula de um grupo de professores de alfabetização da Secretaria de Educação da Cidade do Recife. Escolhemos um grupo de professores que tinha apresentado, em seus discursos, aspectos diferenciados relacionados a mudanças didáticas e pedagógicas em suas práticas de alfabetização. Fizemos, então, um acompanhamento de suas aulas durante um ano. As observações eram realizadas quinzenalmente e buscamos analisar todo o material utilizado pelos docentes para o ensino da leitura e da escrita, principalmente os livros didáticos utilizados e os cadernos dos alunos.

DESENVOLVIMENTO
Análise dos livros didáticos recomendados pelo PNLD
Os livros didáticos recomendados de alfabetização foram analisados considerando, sobretudo, a operação cognitiva necessária para os aprendizes executarem as atividades e os comandos do livro. Além disso, procuramos investigar nos manuais do professor o referencial teórico dos autores dos livros didáticos, realizando, desta forma, uma comparação entre os pressupostos teórico-metodológicos dos autores e as atividades presentes nos livors.
Como já havíamos dito, foi criado um compêndio de categorias (ver glossário de categorias no Apêndice), que envolviam os seguintes blocos de atividades: Leitura, Identificação, Comparação, Contagem, Partição, Formação, Exploração, Cópia, Escrita e Produção de Texto.
Alguns livros analisados eram divididos em unidades temáticas. No que concerne as bases teóricas, os livros estavam baseados no sócioconstrutivismo que podia ser observado na valorização os conhecimentos prévios dos alunos e estimulação da interação entre os alunos e entre eles e o professor, nas atividades.
No pólo do letramento os três livros recomendados avançaram, na medida que ofereciam as crianças um contato, desde as primeiras unidades, com uma variedade de gênero textual ampla. De acordo com a tabela abaixo, observamos que os alunos a ler, principalmente, palavras. Verificamos também que as unidades menores da palavra, como sílaba e palavra, são pouco enfatizadas na leitura. A leitura de texto é também explorada, assim como a leitura de palavras, sendo o livro vivência o que mais proporciona este tipo de atividade aos aprendizes.

Tabela 1: Freqüência de atividades de leitura por livro

Categorias (leitura de ...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

1.  letras / alfabeto com auxílio

00

01

01

2.  letras / alfabeto sem auxílio

00

01

00

3.  sílabas

01

02

02

4.  palavras

24

22

31

5.  palavras com auxílio

00

07

10

6. Leitura / descoberta de palavras

02

03

01

7.  frases

05

02

21

7a.  frases com auxílio

00

00

13

8.  texto

38

14

28

9.  texto com auxílio

00

07

23

10.  texto cartilhado

00

00

00

Total:

70

59

130

O bloco identificação aparece com bastante freqüência nos três livros, principalmente a subcategoria identificação de palavras outros, como podemos observar na tabela abaixo. Possivelmente, a freqüência desta subcategoria está relacionada ao fato de se tratar de uma atividade, na qual os aprendizes são solicitados a encontrar determinadas palavras dentro dos textos, bastante explorados nestes livros. Entretanto, salientamos a quase ausência nos três livros as subcategorias identificação de rima com e sem correspondência escrita e identificação de aliteração com e sem correspondência escrita. Consideramos tais atividades essenciais no desenvolvimento das habilidades de análise e semelhança fonológica. Tal dado evidencia, a falha destes livros em não enfatizar estas operações cognitivas.

 

Tabela 2: Freqüência de atividades de identificação por livro

Categorias (identificação de...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

11. letras/ palavras/ números/ outros

09

01

01

12.   letras em posição X (inicial, medial, final)

15

06

07

12.a   letras (iguais) em palavras

02

00

08

12.b   letras (iguais) em sílabas

 

00

00

01

12.c   letras X na posição X

 

00

00

07

13.   sílabas (em posição X  -inicial, medial, final) com correspondência escrita

00

03

12

14.   sílabas (em posição X - inicial, medial, final) sem correspondência escrita

00

01  

00

15.   palavras “outros”

08

06

14

16.   palavras que possua a letra X (em posição X -inicial, medial e final)

02

09

08

17.   palavras que possua a sílaba X

01

02

02

18.   rima com correspondência escrita

02

03

05

19.   rima sem correspondência escrita

00

00

00

20.   aliteração com correspondência escrita

02

00

01

21.   aliteração sem correspondência escrita

00

00

00

Total:

 

41

31

66

 

No tocante às atividades de comparação nos livros didáticos recomendados, consideramos o bloco pouco explorado, já que possibilita ao aprendiz manipular e comparar as unidades menores da palavra. Entretanto, o livro Português – uma proposta para o letramento (PORPROLET) a comparação foi mais enfatizada, sobretudo na subcategoria comparação de palavras quanto ao número de letras e comparação de palavras quanto à presença de letras iguais / diferentes, o mesmo correu nos livros Novo Letra Viva (NOLEVI) e Vivência & Construção (VIVÊNCIA) têm quantidade de exercícios parecidos.

 

Tabela 3: Freqüência de atividades de comparação por livro

Categorias (Comparação de...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

22.  sílabas quanto à disposição de letras

00

00

00

23.  palavras quanto à disposição de letras

00

00

00

24.  sílabas quanto ao número de letras

00

03

00

25.  palavras quanto ao número de letras

05

05

05

26.  palavras quanto ao número de sílabas

00

06

00

27.  palavras quanto à presença de letras iguais / diferentes

04

05

06

28.  palavras quanto à presença de sílabas iguais / diferentes

02

02

01

29. Comparação com escrita convencional para auto-avaliação

00

01

00

Total:

11

22

12

 

           O bloco de categoria contagem estiveram mais enfaticamente presentes no livro PORPOLET, sobretudo nas subcategorias contagem de letras em palavras e contagem de sílabas em palavras. A incidência desta categoria foi pouca nos livros NOLEVI e VIVÊNCIA , o que podemos concluir que os aprendizes foram pouco convidados a contarem as unidades menores das palavras.

 

Tabela 4: Freqüência de atividades de contagem por livro

 

Categorias (Contagem de ...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

30.  letras de sílabas

00

03

00

31.  letras de palavras

05

 

14

 

06

32.  sílabas de palavras

00

16

04

33.  palavras

07

11

04

Total:

12

44

14

 

           Partição foi um bloco de categorias que foi pouco explorado nos LDs recomendados e analisados. O livro NOLEVI expressa bem essa afirmativa, pois traz apenas duas atividades de comparação, a saber: partição oral de palavras em sílabas e partição escrtia de palavrass em sílabas. Diferentemente, no VIVÊNCIA e PORPROLET a subcategoria de maior ocorrência foi a  partição de palavras em letras. Isto pode representar a ausência de outro tipo de atividade importantíssima no desenvolvimento das habilidades fonológicas, na medida que a partição oral de palavras em sílabas é quase ausente nos três livros didáticos recomendados de alfabetização.

 

Tabela 5: Freqüência de atividades de partição por livro

 

 

Categorias (partição de ...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

34.  oral de palavras  em sílabas

00

02

01

35.   palavra em letras

08

06

00

36.   palavra em sílabas

05

03

01

37.   frase em palavras

00

01

00

Total:

13

12

02

 

O bloco de categorias formação foi relativamente explorado nos três livros de forma homogênea. A subcategoria formação de palavras outros, como podemos observar na tabela abaixo, foi mais explorada que as demais nos livros didáticos analisados. Tal subcategoria consistia na formação de palavras a partir de enigmas, relevante para o processo de aquisição de do SNA, entretanto, fazemos uma ressalva para a baixa ocorrência da subcategoria formação de palavras com uso do alfabeto móvel, considerada uma atividade imprescindível para a reflexão das unidades menores da palavra, presente, apenas, no NOLEVI.

 

Tabela 6: Freqüência de atividades de formação por livro

 

Categorias (formação de...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

38.  palavras a partir de letras dadas

08

04

02

38ª.  palavras com uso do alfabeto móvel.

00

00

05

39.  palavras a partir de sílabas dadas

02

03

04

40.  palavras “outros”

11

12

06

Total

21

19

17

 

            As atividades envolvendo a exploração ocorre freqüentemente no NOLEVI (ver tabela abaixo), e menos incidente no VIVÊNCIA e PORPROLET. Fazemos, entretanto, uma ressalva a quase ausência da subcategoria exploração da relação som grafia, considerada uma importante reflexão fonológica essencial no processo de apropriação do SNA.

 

Tabela 7: Freqüência de atividades de exploração por livro

 

Categorias (exploração de...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

41.  dos diferentes tipos de letras

07

16

22

42.  da ordem alfabética

08

04

06

43.  da segmentação das palavras

08

06

02

43.a  da relação som/ grafia

 

01

01

05

44.  da pontuação

 

0

00

04

Total

24

27

39

 

O bloco de categoria cópia envolvia uma incidência maior de atividades nos livros didáticos É válido ressaltar que a natureza das cópias destes livros didáticos diferenciava-se dos exercícios de cópia presentes nas antigas cartilhas. Estes apresentavam como processo central a cópia, sendo o aprendiz levado a registrar inúmeras vezes, por exemplo, a família silábica estudada na lição, ou palavras e frases envolvendo tais sílabas.

Nesta perspectiva, constamos que nestes Livros Didáticos a cópia não é um processo mecânico, uma vez que, na maioria dos exercícios, apresentava-se acompanhada por atividades requerendo diferentes processos cognitivos. Assim, foi comum esses exercícios virem acompanhados pelo processo de identificação e contagem, por exemplo.

Porém, as atividades envolvendo a cópia de palavra aparecem, nos LDs, em um número maior que as demais subcategorias, como se observa na tabela 8. Outra subcategoria de destaque foi a cópia de letras. Em suma, os três livros exploram o bloco cópia com finalidades específicas diferente das antigas cartilhas. 

 

Tabela 8: Freqüência de atividades de cópia por livro

 

Categorias (cópia de...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

45.  letra

25

07

08

46.  sílaba

01

03

02

47.  palavra

34

34

51

48.  frase

00

04

19

49. Cópia texto

00

01

06

Total:

60

49

86

 

            A escrita de palavras foi a subcategoria de maior freqüência nos livros didáticos recomendados, dentro do bloco escrita. Entretanto, o aluno foi pouco convidado nos três livros para a escrita de palavra com aliteração e escrita de palavra com rima, sendo a primeira ausente no livro PORPROLET. Mais uma vez os autores dos livros didáticos analisados desconsideram a importância das atividades de análise e semelhança fonológica, como operação cognitiva importante no processo de aquisição da leitura e escrita.

Tabela 9: Freqüência de atividades de escrita por livro

 

Categorias (escrita de...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

50. letra

00

01

02

51. sílaba (inicial, medial e final) de palavra

00

01

02

52. palavra

61

18

66

52.a palavras a partir de letra/sílaba dada

00

00

03

53. palavra como souber

01

06

13

54. palavra com auxílio do professor

05

01

02

55. palavra com aliteração

01

00

02

56. palavra com rima

02

02

02

57. frase

10

02

19

57.a  frase como souber

00

00

00

Total

80

31

111

 

Referente ao bloco produção observamos que o aluno foi pouco convidado a realizar atividades de produção textual. No livro VIVÊNCIA as subcategorias produção de texto como souber e produção de texto com auxílio do professor não foram contempladas. É importante observar, também que nos três livros o aluno produz mais individualmente o texto do que coletivamente. Destacamos, a ênfase de atividades de produção de texto (individual) no livro NOLEVI. 

 

Tabela 10: Freqüência de atividades de produção por livro

 

Categorias (produção de...)

VIVÊNCIA

PORPLET

NOLEVI

58.  texto como souber

00

03

06

59.  texto com auxílio do professor

00

01

01

60. texto

09

08

18

61. texto coletivo

03

00

09

Total:

12

12

36

 

Análise do uso de um LDA recomendado na prática de duas professoras
A título de exemplo, vejamos como a professora Cláudia de Vasconcelos utilizou, numa de suas aulas, o livro didático adotado na rede (Português: uma proposta para o letramento, de Gladys Rocha, Ed. Moderna, recomendado no Guia do Livro Didático 2004). Ela realizou as seguintes atividades:
• Primeiro a professora fez a leitura do texto “A cigarra e a formiga”, e solicitou que os alunos acompanhassem em seus livros, conforme instrução da autora do livro.
• Depois fez uma atividade de interpretação oral com base nas questões sugeridas no livro:
P.: Por que a formiga pediu ajuda?
A.: Porque ela tava com fome.
P.: Vocês acham certo ela ter ajudado a cigarra?
A.: Não.
P.: Enquanto a cigarra estava cantando, a formiga estava fazendo o quê?
A.: Trabalhando.
P.: A formiga deveria fazer o quê?
A.: Deixar ela entrar.
P.: Se você fosse a formiga o que faria?
A.: Deixava.
P.: É correto dizer que a cigarra estava trabalhando?
A.: É.
P.: A cigarra tava cantando, não era? E vocês acham que cantar para a cigarra é fazer nada?
A.: Não.
P.: Não, a cigarra tava fazendo o trabalho dela.
P.: A formiga falou então para a cigarra: ‘Você cantava, agora dança”. O que dançar significa aqui? A formiga quis dizer o quê?
A.: Que ela ia passar fome.
P.: Vocês acham que a palavra “dança” nesta frase significa movimentar o corpo ou enfrentar sem ajuda problemas e dificuldades?
A.: Enfrentar problemas.
P.: Então vocês vão marcar o quadradinho de baixo.
• Em seguida, continuando a seqüência do livro, ela leu o texto “A cigarra e a formiga” recontada por João de Barro, e o explorou a partir das questões sugeridas pela autora do LD. Uma das questões envolvia uma reflexão sobre o modo como os dois textos foram escritos, uma vez que o segundo correspondia e um poema com rimas. Cláudia não só solicitou que os alunos descobrissem a diferença entre os textos, como também pediu que identificassem algumas palavras que rimavam, como pode ser observado no seguinte extrato de aula:
P.: O que tem diferente no modo que Cláudia contou o primeiro e o segundo texto? Eu vou ler uma parte do primeiro e segundo texto (leu).
P.: Qual é a diferença? Escuta esse pedacinho e vê o que acontece. O que tá acontecendo com as palavras deste pedacinho de texto. Vou ler mais um (leu).
A.: A letra que tem diferente.
A.: Combina.
P.: Olha só, eu vou ler um pedacinho do outro texto. Escutem porque vocês vão descobrir. O que aconteceu neste pedaço?
P.: Vocês tão percebendo que o segundo texto é rimado e o primeiro texto não é? Escutem quando ele diz assim: (leu um pedaço do texto). A palavra florida rima com o quê?
A.: Vida.
P.: A palavra luz rimou com?
A.: Azuis.
P.: Passando rimou com?
A.: Trabalhando.
• Depois, Cláudia fez com os alunos a atividade 1, solicitando que eles escrevessem sozinhos as palavras para completar a estrofe, e em seguida explicou a atividade 2, solicitando que eles completassem um quadro:
P.: Aí no número 2 tem escrito assim: “Descubra o que está faltando e complete o quadro”. Aqui tem o número 1, aqui tem escrito a palavra um e tem um saco de feijão. Aqui tem o número 2, vou escrever a palavra “dois” e vou desenhar dois sacos de feijão. Aqui tem o número 3, vou escrever a palavra “três” e vou desenhar os três sacos de feijão.
A.: A gente já sabe!
P.: Podem fazer.
• Durante a realização da atividade, a professora trabalhou a escrita de cada número da seguinte forma:
P.: Como é que se escreve 2?
A.: D, O, I, S.
P.: Como é que se escreve o número 3?
A.: T, R, E, S.
P.: E um acento aqui.
P.: Como é que se escreve o número 4?
A.: Q, U, A, T, R, O.
P.: Como é que se escreve 5? CIN?
A.: C, I, N.
P.: E o CO?
A.: Ce O.
P.: Como é que se escreve o número 6?
(...)
• Depois dessa atividade, a professora leu uma outra versão da história da “Cigarra e da formiga” a partir de um livro de literatura infantil, e perguntou qual das versões tinha agradado mais aos alunos:
P.: Qual dessas histórias vocês acham mais legal? A que a formiga ajuda ou a que a formiga não ajuda?
A.: Ajuda.
• Depois da merenda, a professora fez com os alunos a atividade da página 112, de formar palavras com as sílabas do quadro.
• Depois que eles escreveram as palavras, a professora junto com a turma segmentou oralmente todas as palavras para descobrirem as que possuíam menor número de sílabas (no caso: VERÃO, CASA possuíam duas sílabas e FORMIGUEIRO possuía quatro sílabas). Essa atividade não estava proposta no livro, mas fazia parte da prática de alfabetização da professora Cláudia.
• A professora, em seguida, leu uma outra versão da história “A cigarra e a formiga” e retomou com os alunos as versões que eles haviam lido durante o dia:
P.: Essa história é a que a formiga ajuda a cigarra?
A.: Não.
P.: Essa história é a que a formiga não ajudou a cigarra. Agora a gente vai sentar no lugar. Nós hoje ouvimos quatro histórias (duas do livro e outras duas de outros livros). Em duas a formiga ajuda a cigarra em outras duas a formiga não ajudou a cigarra.
• Como última atividade relacionada a essa lição do livro didático, a professora solicitou que os alunos escrevessem um texto sobre a história da cigarra e da formiga:
P. Agora nós vamos receber o caderno para escrever um texto sobre a história da formiga e da cigarra.
P.: Como é o nome da história que a gente viu?
A.: A formiga e a cigarra.
P.: Então eu vou colocar lá em cima a data de hoje, vou pular duas linhas e vou colocar: A CIGARRA E A FORMIGA. Depois vou pular uma linha e vou escrever alguma coisa sobre a história da cigarra e a formiga.

Vejamos agora como a professora Patrícia, realizou a mesma aula, utilizando o mesmo livro adotado pela rede:
• Assim como Cláudia, Patrícia fez a leitura do texto “A cigarra e formiga” presente no Livro didático. Em seguida realizou uma interpretação oral baseando-se no livro:
A professora distribui os livros para os alunos.
P.: Vocês vão abrir na página 106. Vocês querem que eu conte de novo a fábula da cigarra e da formiga?
A.: Quer!
P.: Então, abram na página 106. (Neste momento a professora inicia a leitura da fábula).
P.: Enquanto a cigarra cantava, o que fazia a formiga?
A.: Trabalhava.
P.: A cigarra morava aonde?
A.: No alto de uma mangueira.
• Semelhante a Cláudia e seguindo a seqüência, Patrícia leu o texto “A cigarra e a formiga” recontada por João de Barro, e o explorou oralmente questões sugeridas pelo LD. Uma das questões envolvia uma reflexão sobre o modo como os dois textos foram escritos, uma vez que o segundo correspondia e um poema com rimas. Entretanto, Patrícia só solicitou que os alunos descobrissem a diferença entre os textos, como pode ser observado abaixo:
P.: Antes da página 106 tem outra história da Cigarra e da Formiga. Nessa história, vê como o final foi diferente (iniciou a leitura).
P.: Por que a cigarra foi pedir ajuda a formiga?
A.: Porque ela não tinha abrigo.
P.: O que vocês acham da atitude da formiga, batendo a porta na cara da formiga?
P.: A formiga foi o que? Legal? Chata? Errada?
A.: Errada?
P.: Minha gente, isso é uma opinião pessoal. Vocês acham que foi uma postura certa ou errada?
A.: Errada.
P.: Por que?
A.: Porque ela não ajudou.
P.: O que tem de diferente essa história para outra?
P.: A primeira diferença é que as duas histórias são contadas de forma diferentes. E na outra história a formiga deixou a cigarra entrar?
A.: Deixou.
P.: Por que na outra história a formiga deixa a cigarra entrar?
A.: Deixou.
P.: Por que na outra história a formiga deixou a cigarra entrar?
A.: Se ela não cantasse no verão, a formiga não ia agüentar não.
P.: Se ela não cantasse no verão, a formiga não iria, agüentar, não.
• Diferentemente de Cláudia , Patrícia não realizou outras leituras de outros gêneros textuais que possuíam diferentes versões. Apenas realizou no final do horário a leitura de um livro intitulado “Quem tem medo de bruxa”. Neste momento a professora explicou aos alunos que havia escolhido aquela história, pois na mesma apareciam alguns animais:
P.: Quais são os insetos que aparecem aqui?
A.: A formiga, a joaninha...
• Em seguida Patrícia, explicou uma outra atividade do livro, solicitando que eles completassem um quadro:
P.: Aí tem assim: o número 1 escrito em letra cursiva. Aí depois tem o quê?
A.: O número dois.
P.: Qual é o que vou escrever?
A.: Dois.
P.: E quantos sacos aqui?
A.: Dois.
P.: E quantos sacos aqui?
A.: Dois.
E assim Patrícia indagava os alunos sobre o que faltava e como devia ser preenchido o quadro. Desta forma, ela construía o quadro na lousa.
P.: Depois do sete?
A.: Oito.
P: Aí eu escrevo o nome do número oito e desenho quantos sacos?
A.: Oito.
• Na página 112 os alunos, auxiliados pela professora, formaram palavras com as sílabas presentes em um quadro. Depois que eles escreveram as palavras, a professora junto com a turma segmentou oralmente as palavras para descobrirem as que possuíam menor número de sílabas (no caso: VERÃO, CASA possuíam duas sílabas e FORMIGUEIRO possuía quatro sílabas). Essa atividade não estava proposta no livro, mas fazia parte da prática de alfabetização da professora Patrícia.
P.: Agora vira a página. Vai ter um quadro com um monte de pedacinhos de palavras, um monte de sílabas e a gente vai tentar formar palavras.
A.: CA / SA, eita tia, já formei! CASA!
P.: Quero saber como é esse pedaço? (escreveu GUEI)
A.: GUEI
P.: De FORMI...
A.: Formiga.
P.: De FORMIGUEIRO.
P.: E esse daqui? (escreveu MI).
A.: MI.
P.: E esse daqui? (escreveu FOR).
A.: FOR.
P.: E esse daqui? (escreveu RO).
A.: RO.
P.: E esse daqui? (escreveu NO).
A.: NO.
E assim prosseguiu com todas as sílabas presentes no quadro.
P.: Agora, a gente vai tentar formar algumas palavras com essas sílabas. Se eu quiser formar formigueiro, como é o FOR?
Os alunos indicaram onde estava.
P.: E o MI, onde está?
Os alunos indicaram onde estava.
P.: Qual é o GUEI?
A.: Esse, esse, esse (indicaram corretamente).
P.: E o RO? É esse o RO?
A.: Não, lá pra cima!
A professora escreveu ao lado a palavra FORMIGUEIRO. Assim a professora fazia com as demais palavras.
P.: Agora, nessas palavras que vocês escreveram, a gente vai ver as palavras que tem duas sílabas. Qual das cinco palavras possuem duas sílabas.
A.: CASA e VERÃO.
P.: Então vou marcar um X na frente dessas palavras que possuem duas sílabas: CASA e VERÃO. Vamos também circular as palavras que possuem mais sílabas. Quantas sílabas têm CIGARRA?
A.: 3.
P.: E FORMIGA? (contou com palmas)
A.: 3.
P.: FORMIGUEIRO? (contou com palmas).
A.: 4.
P.: Qual é o maior?
A.: FORMIGUEIRO.
P.: Então vou circular a palavra FORMIGUEIRO.

CONCLUSÃO
Em relação à análise dos livros didáticos recomendados, concluímos que se os LDAS tinham muitas tarefas de leitura e produção de textos, ao desejar ensinar o SEA, seus autores privilegiavam atividades que tinham a “palavra” ou letras como unidades principais. Os LDAs não promoviam a reflexão metalingüística dos alunos. Eram pouquíssimos os exercícios que propiciavam às crianças o desenvolvimento da consciência fonológica. Eram quase ausentes as tarefas que envolviam, por exemplo, a identificação ou produção de rimas e aliterações, a partição, contagem e comparação de palavras quanto ao número de sílabas. Este nos pareceu um ponto preocupante, já que sabemos o quanto tais atividades são essenciais para a apropriação do SEA. Vemos, portanto, novamente, no plano da formulação de atividades e seqüências didáticas, a ausência de influência dos estudos sobre consciência fonológica entre os autores que investigamos.
Embora se declarassem adeptos da teoria construtivista e muitos mencionassem a teoria da psicogênese da escrita, observamos que as atividades propostas poucas vezes consideravam a heterogeneidade dos alunos, quanto ao nível de compreensão do SEA.
Havia uma certa uniformização nos LDAs quanto a iniciarem com tarefas de exploração dos nomes próprios, seguindo certa tendência já praticada em escolas da rede privada, que cedo tentaram didatizar a teoria da Psicogênese da Escrita. Dois aspectos, porém, tornavam-se geralmente dominantes: a) a ênfase sobre a localização de letras no interior dos nomes, sem fazer-se acompanhar de uma exploração de sua sonoridade ou quantidade de unidades (sílabas, letras) e b) o confinamento deste tipo de atividades na primeira ou nas primeiras unidades do livro, como se todos os alunos, num breve espaço de tempo, já tivessem dominado a lógica de relações parte-todo do SEA.
Havia, conseqüentemente, uma desconsideração da heterogeneidade das turmas com as quais os professores trabalham, evidenciada numa expectativa de que, a partir do 3º bimestre, todos os alunos já tivessem alcançado uma hipótese alfabética de escrita. Era evidente a sobrecarga de tarefas de leitura/produção de palavras e textos planejados para esta etapa do ano letivo (2º. Semestre).
Os autores freqüentemente não conseguiam articular as atividades de leitura e produção de textos com aquelas voltadas à reflexão sobre palavras e suas unidades menores e, portanto, mais adequadas ao aprendizado do SEA. A passagem do nível macro (“do texto”, do letramento) ao nível micro (das palavras, da alfabetização) parece merecer um debate urgente.
No tocante ao uso dos novos livros didáticos de alfabetização recomendados pelas professoras analisadas, percebemos que Cláudia conseguiu, em um dia de aula, realizar uma lição do livro didático desenvolvendo atividades de leitura, de apropriação do SEA e de produção de textos. E o interessante é que ela tanto seguia as instruções apresentadas no livro, como acrescentava e modificava outras atividades, para adequá-las aos seus objetivos e ao nível dos alunos.
Ao passo que a mesma lição desenvolvida pela professora Patrícia não foi tão bem explorada com atividades extras, como aconteceu na sala de Cláudia. Patrícia não trouxe outras versões da fábula “A cigarra e a formiga” e nem propôs a produção textual individual. Mas é válido ressaltar que mesma conduziu bem as atividades propostas.
Apesar de algumas discrepâncias, a prática das professoras Cláudia e Patrícia, há pouco descrita, mostra que é possível se beneficiar dos avanços encontrados nos novos LDAs, mas estarmos vigilantes, no sentido de sistematicamente praticar com os alunos atividades diretamente ligadas à apropriação do sistema alfabético.
Enfim, acreditamos que os professores não devem usar o livro como o único material de apoio para a organização do trabalho pedagógico. Mas entendemos que ele hoje, com as mudanças que vem sofrendo, é um bom material sobre o qual podemos construir e criar as atividades de alfabetização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, Eliana; FERREIRA, Andréa; MORAIS, Artur e SILVA, Edílson. A fabricação de práticas de alfabetização: o que dizem os professores? Trabalho sumetido ao 17o EPENN, Belém-PA, julho de 2005.

BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Um objeto variável e instável: textos, impressos e livros didáticos. In: ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas: Mercado de Letras : Associação de Leitura do Brasil; São Paulo : Fapesp, 2000. (Coleção Histórias de Leitura).

FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.

MARTINS, Cláudia Cardoso. A Consciência Fonológica e a Aprendizagem Inicial da Leitura e da Escrita. Cadernos de Pesquisa. Nº 76, p. 41 – 49, 1991
MORAIS, Artur e ALBUQUERQUE, Eliana. Novos livros de alfabetização – novas dificuldades em inovar o ensino do Sistema de Escrita Alfabética. No prelo,
2005.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998a.

 
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