|
O
PROGRAMA DE LEITURA: O JORNAL COMO FERRAMENTA DIDÁTICA
Nádia
Lúcia Nardi – Professora da Universidade do Contestado –
UnC -nadianardi@concordia.psi.br
O Jornal
e a ADJORI, em parceria com cooperativas e secretarias municipal e estadual
de educação, desenvolvem o Programa “O Jornal na Escola”
em 16 municípios da região do Alto Uruguai Catarinense.
As escolas recebem jornal para desenvolver leitura em sala de aula –
priorizando as 3ªs e 4ªs séries do Ensino Fundamental.
Para cada o correspondente a um jornal para cada três alunos. O
professor promove com os alunos a leitura de textos correspondentes aos
conteúdos que está trabalhando. Os alunos desenvolvem a
atividade na escola e depois levam os exemplares para a informação
dos pais em casa proporcionando desta forma, acesso de leitura às
famílias também. Os resultados são fascinantes, todos
ganham em conhecimento.
1-Introdução
O uso do
jornal em sala de aula indica um novo espaço tomado pela escola
na maneira de pensar a leitura na formação do conhecimento
científico elaborado para seus alunos. O trabalho com o jornal,
quando bem compreendido pelo educador, traz resultados fantásticos,
principalmente formação da leitura independente. MOIRAND
1988, p.88, argumenta que “trata-se, portanto, em primeiro lugar,
de colocá-los em posição de leitores (...) diante
de seu jornal e de lhes oferecer os meios de melhorar sua leitura”.
O aluno/leitor sente prazer em ler o que é de seu interesse e ou
relevante para seu bairro, cidade, comunidade. Tudo sempre é novo.
A sala de aula passa a ser mais dinâmica. Ajuda não só
o aluno a atualizar-se, como também o professor e toda a escola.
COSTA (1997., p.13) destaca que “antes, se dizia que a escola preparava
o aluno para a vida futura. O jornal na educação possibilita
à criança e ao jovem viver e participar do momento presente.”
É claro que os livros didáticos continuam circulando pelas
escolas articuladas ao programa, porém, com menor ênfase.
Tudo depende da preparação política, social e pedagógica
do profissional e seu compromisso em inserir o aluno às discussões
de sua realidade. Os livros de literatura continuam em seu local de importância
e destaque, o jornal complementa as discussões sobre assuntos da
atualidade.
A leitura passa a ser mais crítica, não só das produções
jornalísticas, mas também criando um hábito que transpassa
para outras formas de compreensão de textos na hora de ler. O envolvimento
social, tanto da escola como do aluno, passa a ser mais intenso, pois
tem a preocupação de mostrar o que pode fazer a partir do
conhecimento da realidade social em que está vinculado.
2-A organização
do Programa
A idéia
de utilizar o jornal como um instrumento pedagógico surgiu a partir
da leitura e investigação de outros projetos em andamento
em outras cidades e estados. De posse dos resultados positivos destas
regiões, ficamos animados em buscar parcerias para efetivá-lo.
Em Concórdia o Programa iniciou em 2002 com suporte da ADJORI/SC
(Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina).
Esta instituição dá apoio pedagógico e também
auxilia na realização das atividades durante o ano opinando
a respeito da condução dos trabalhos. O Jornal, veículo
de comunicação impressa, é o idealizador do programa
na cidade de Concórdia – SC e região.
O Jornal, ADJORI e a coordenação pedagógica conduzem
as atividades desenvolvidas no programa, distribuídas em três
etapas ao longo do ano. A primeira envolve a organização
de um Seminário Técnico anual que auxilia os professores
envolvidos a entenderem um pouco melhor a metodologia do uso de jornal
como ferramenta didática. Geralmente dois palestrantes são
convidados, um direcionado à metodologia do uso do jornal e outro
que trabalha a questão de motivação do profissional
ao enfrentar novos desafios. Já tivemos a participação
de nomes como Silvia Costa, Lauro Wittmann, Ezequiel Theodoro da Silva,
Yara Sanches, Madalena Freire e Juvenal Zanquetta.
A segunda etapa inicia com as visitas nas unidades escolares. O coordenador
pedagógico, acompanhado de um repórter, visita a sala de
aula para conversar com alunos e professores sobre a importância
da leitura para a formação do cidadão, bem como sobre
a organização técnica de um jornal e como fazer para
aproveitá-lo melhor como instrumento de leitura e informação.
Ao repórter fica a incumbência de relatar, através
de matéria jornalística na editoria de Educação,
o andamento do programa na escola, a importância recebida e os principais
projetos da instituição. Isso tudo resulta na publicação
de informações semanais sobre o programa.
Na última etapa os municípios envolvidos são convidados
para organizar uma mostra anual divulgando para a comunidade os trabalhos
realizados, discutindo assuntos do cotidiano, usando o jornal como fomentador
destes trabalhos.
É importante ressaltar que estamos realizando o programa há
quatro anos. Desde o primeiro ano procuramos priorizar alunos de 3ª
e 4ª séries para receberem este material.COSTA (1997, p.23)
argumenta que “psicologicamente, a criança se sente importante,
usando um instrumento do mundo do adulto”. Este sem dúvida
é um fator relevante, dentre outros. As crianças estão
em fase de descobertas e ainda não foram tão influenciadas
pela televisão e demais meios que as desviam da leitura de livros,
revistas, jornais e outros. Um segundo aspecto está ligado às
limitações financeiras de prefeituras e parceiros do programa,
o que dificulta a expansão para outras séries do ensino
fundamental. Algumas escolas conseguem se organizar, mesmo com número
limitado de jornais, e realizam cantos de leitura no pátio do educandário
para que todos tenham acesso a estes meios de informação,
mesmo sem orientação direta do professor. Terceiro, por
se encaixar nos conteúdos programáticos destas séries
que geralmente estudam o município e as regiões.Como O Jornal
tem cobertura e circulação regional, consegue trabalhar
bem estes aspectos.
Complementando com COSTA (1997, p.31)
“quando uma empresa cria um programa de jornal na educação,
seu objetivo principal é formar novos leitores, conscientizar crianças
e jovens da importância da informação. Mas, paralelamente
a este objetivo, outros dele decorrentes são focalizados. Um deles
é a formação do leitor crítico e participante
dos problemas de sua comunidade”.
Para não haver ônus por parte das escolas, nem dos alunos
e pais, O Jornal faz parceria com as secretarias municipais e a secretaria
estadual de educação, escolas particulares, e duas cooperativas,
uma é a Copérdia (Cooperativa de Producão e Consumo
Concórdia) e a outra é a Coopercarga (Cooperativa de Transporte
de Cargas). Participando do programa as duas organizações
interagem com a comunidade escolar e ampliam suas atividades no campo
da responsabilidade social.
A Copérdia preocupa-se em manter os agricultores, bem como seus
filhos no campo. Por isso busca as escolas para desenvolver este trabalho
de conscientização. Já a Coopercarga pretende mostrar
para a sociedade o profissional do transporte com um novo perfil, de profissional
respeitado e bem preparado.
Copédia e Coopercarga buscam as escolas conveniadas para realizar
palestras, teatros e material de divulgação.
3-Os resultados
O costume
da leitura de jornais em sala de aula enriquece a capacidade de entendimento
dos alunos, principalmente ao acréscimo e ampliação
do vocabulário e compreensão de textos, melhora a qualidade
das intervenções verbais, alarga as informações
do educando sobre o mundo e também sobre a comunidade onde vivem.
FARIA (1989, p.12) defende o uso do jornal em sala de aula e chama a atenção
de que “a linguagem jornalística oferece hoje uma espécie
de “português fundamental”, uma língua de base,
não tão restrita que limite o crescimento lingüístico
do aluno e nem tão ampla que torne difícil ou inacessível
o texto escrito ao comum dos estudantes.”
Através de entrevistas com professores constatamos que a produção
textual dos alunos melhorou, pois estão mais tempo em contato com
a produção escrita. Há também ampliação
de vocabulário. Alguns diretores relataram que nos dias que o jornal
chega na escola as crianças já estão esperando e
quando por ventura atrasa, cobram providências, pois querem fazer
a atividade do dia com as novidades apresentadas.
O jornal apresenta valores em suas matérias, ética, cidadania,
envolvendo temas variados e se torna assim um aparelho importante para
o educando se inserir na vida social. É uma ferramenta que atende
também a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
pois as matérias tratadas servem de base para o desenvolvimento
dos temas transversais. Atividades sobre saúde e meio ambiente,
por exemplo, são realizadas com freqüência em sala de
aula. “Uma matéria jornalística poderá ser
utilizada por diferentes disciplinas, cada qual fazendo sua abordagem.
Desta forma, o aluno perceberá que necessitamos dos diversos ramos
do conhecimento para uma análise e compreensão mais apurada
da realidade”. COSTA( 1997, p.18)
Hoje o Programa tem com a participação de 150 escolas, 500
professores e aproximadamente 10.000 alunos.
4-Referências
COSTA, Silvia.
Jornal na Educação – Considerações pedagógicas
e operacionais. Santos: s.c.p, 1997.
FARIA, Maria Alice. O Jornal na Sala de Aula. São Paulo: Editora
Contexto, 1989.
MOIRAND, S. O Texto: Escrita e Leitura. Campinas. SP: Pontes, 1988. |
|