Maria Evelyna Pompeu do Nascimento - Faculdade
de Educação – Universidade Estadual de Campinas FE
– UNICAMP
INTRODUÇÃO
Não se trata aqui de buscar as razões de
fé, mas de reconhecer a importância de educadores e políticos
oriundos do Protestantismo para a construção da escola pública
na França, a qual se tornou referência para a consolidação
de diversos sistemas nacionais de educação.
Nos séculos XVII e XVIII, vários pedagogos de origem protestante
reformulam a reflexão sobre educação. São
eles Comenius, Oberlin e também Rousseau. Depois da Revolução,
a escola é uma via de acesso à liberdade civil e política
concebida em 1789. Ademais, as mudanças econômicas –
refiro-me à Revolução Industrial – levadas
a cabo que, no mundo ocidental, pressupõem um trabalhador mais
produtivo, o que supõe que sabe ler e escrever. Tão pouco
os anseios de progresso social e promoção individual poderiam
se concretizar sem a passagem pela escola, que até 1860, só
era acessível àqueles que pertenciam às elites. Mas,
muito antes disso, os protestantes mostram um grande interesse pela educação
e, ao lado de seus espaços de fé, implantaram escolas para
que os fiéis fossem capazes de ler a Bíblia.
Em conferência proferida na Sorbonne, Cadier (2003) aponta a influência
do Protestantismo na configuração do sistema educacional
francês afirmando que “ao final do século XIX, o programa
(educacional) protestante havia se tornado o programa da República”
(p.3). Nesse contexto, a autora invoca a participação de
Guizot, Falloux, Duruy, Jules Ferry e também Pauline Kergomar,
criadora da Escola Maternal e sua Inspetora Geral durante 36 anos.
Foi durante a elaboração de minha Tese de Doutorado (NASCIMENTO,
2001) que me deparei com Oberlin (1740 – 1826). Naquele momento,
chamou-me atenção o fato de que, contemporâneo de
Pestalozzi (1746 – 1827), sua obra era pouco conhecida no Brasil
(pelo menos em torno da temática de estudo das pedagogias para
a pequena infância). Mas não me dediquei a aprofundar a questão,
dado o recorte do objeto de estudo. A curiosidade ficou e, desde então,
tenho buscado conhecê-lo. Neste artigo, apresento as linhas gerais
de sua pedagogia que é impulsionada, pelo menos em um primeiro
momento, pelas idéias de Jean-Georges Stuber (1722 – 1797),
seu antecessor no prelado da região de Ban de la Roche. Stuber
e Oberlin são representantes de ideais protestantes e concretizam
importantes legados para a educação que se traduzem, por
exemplo, na criação de um método de aprendizado de
leitura ou na primeira “biblioteca paroquial” de que se tem
notícia.
A prelazia de Ban de la Roche situava-se cerca de 40 quilômetros
de Strasbourg, próximo à fronteira com a Alemanha, entre
Alsace e Lorraine. Era uma região montanhosa, devassada por guerras,
pela peste e pela fome, com clima árido e terras adversas para
o cultivo. O isolamento que tais condições impunham aos
seus habitantes era agravado pela acentuada influência germânica;
ademais, um dialeto romano também era utilizado como forma de expressão
cotidiana de alguns (HEITER, s/d). Em Histoire de la Paroise de Waldersbach
(1774) Stuber assim descreveu as condições de vida dos habitantes
de Ban da La Roche:
“são geralmente muito pobres e nós chamamos de ricos
aqueles que a miséria é menor. Eles habitam pequenos casebres,
(..) e subsistem graças as suas magras culturas e modesto rendimento.
Sua língua é um dialeto da Lorraine, sua alimentação
batata; eles não têm senão pão de cevada, e
não em abundância. Poucos podem plantar o suficiente para
a suas necessidades anuais, (..) para muitos falta até a batata,
sendo pelos outros socorridos fraternalmente de sorte que ninguém
se ponha a mendigar. Muitos não comem carne, salvo em uma refeição
festiva (...) pouco trigo e nenhum vinho.(...). A madeira para aquecer,
para a construção, e para outras necessidades como a charrete
é tão rara quanto o pão, o dinheiro é ainda
mais escasso”(STUBER (1774) In: CHAMEL, 1999, p. 49-50) .
Mas, se tal isolamento dificultava as condições de vida,
acabava por auxiliar o desenvolvimento dos ideais pietistas no campo educativo
e social.
A AÇÃO EDUCATIVA DE STUBER EM BAN DE LA
ROCHE
A primeira presença reconhecida de um pastor pietista em Ban de
la Roche é a de Léopold-Georges Pelletier. Pastor em Waldersbach,
de 1707 a 1712, exerce uma influência determinante em seus paroquianos,
o que conduz Oberlin a reconhecê-lo como o verdadeiro fundador da
comunidade evangélica de Ban de la Roche. Pelletier se esforçará
por fazer com que seus fiéis saíssem do torpor intelectual,
organizando-os em “reuniões de avivamento”. Portanto,
quando Jean-Georges Stuber chega ao povoado, sua comunidade de fé
já estava sensibilizada para a importância da leitura enquanto
um instrumento de acesso à fé.
Stuber instala-se no presbitério de Waldersbach em 15 de junho
de 1750; lá empreende completa reforma no ensino, pautada no princípio
de que o aprofundamento da fé depende do acesso ao saber, o que
também é condicionante da elevação do nível
intelectual, espiritual e material de seus paroquianos. Assim, a aprendizagem
da leitura é fundamental para que crianças e adultos conquistem
o saber. Consciente de que, por si só, um homem só não
seria capaz de cumprir rapidamente tal intento, ele organiza uma “equipe
de mestres”, sendo cada membro intitulado de “regente”.
Ele próprio se incumbe da formação dos regentes:
bem dotado para o canto, ensina música e solfejo e os introduz
nas escolas onde os regentes atuarão.
O sistema Stuber é baseado na proposição de Comenius
e pressupunha a freqüência obrigatória, o alargamento
do período escolar (com jornada mínima quatro horas diárias),
a estabilidade do corpo de professores com contrato de trabalho firmado
pelas autoridades competentes, a valorização do salário
dos mestres e a igualdade salarial entre os regentes. A partir de 1763,
nas cinco aldeias de Ban de la Roche funcionam regularmente escolas para
as crianças e cursos noturnos para os adultos. Stuber consegue
que algumas personalidades de Strasbourg se interessem pela causa de suas
escolas: delas recebe uma quantia que possibilita criar a Fundação
Escolástica que distribui, anualmente, gratificações
aos mestres em função do número de crianças
que ensinaram e dos resultados que os alunos obtiveram em exames públicos
assistidos pelo administrador da Fundação.
O domínio da língua francesa por uma população
sob forte influência da cultura alemã e se manifesta historicamente
como pólo de tensão, é uma questão fundamental
para Stuber; sem tal domínio, a população estaria
condenada ao esfacelamento político, social e econômico.
Tal preocupação gera a obra didática mais marcante
do pastor, ou seja, o método de leitura L’Alphabet méthodique
pour faciliter l’art d’épeler et de lire en français,
que aparece em 16 de abril de 1762, em Strasbourg. Segundo Soëtard
(1997), este é provavelmente um dos primeiros ensaios de manual
para se aprender a ler coletivamente. Para Chamel (1997, 10-11) “a
aprendizagem baseia-se num verdadeiro solfejo lingüístico;
o efeito buscado é, ao mesmo tempo que decifrar a pronúncia
correta, encontrar o acento da língua”. Por medida de economia
o ‘Alfabeto metódico’ não conta com mais de
vinte páginas impressas em tamanho pequeno. Este opúsculo
continuou em uso nas escolas do país depois da morte de Stuber
e os resultados obtidos ultrapassaram as esperanças de seu promotor”.
Se Stuber crê que a Bíblia é um livro privilegiado,
ele também afirma que é pouco útil para responder
as várias demandas práticas que a vida em Ban de la Roche
apresenta. O aumento do número potencial de leitores é argumento
para que diversifique os suportes de leitura de seus fiéis; após
a alfabetização e a evangelização, propõe-se
a desenvolver ‘uma verdadeira cultura popular” (p. 10). Para
tanto, projeta uma “biblioteca do prelado” (1767) para os
paroquianos que não tinham acesso à literatura através
de livros comprados com seus próprios recursos. Adquire uma centena
de livros e os coloca em circulação entre os habitantes
de diferentes vilas. O serviço funciona geralmente ao final dos
ofícios religiosos com grande sucesso; os livros circulam de mão
em mão e Stuber é dito como o primeiro a criar uma biblioteca
de prelado no mundo. Composta por obras de botânica, medicina, agricultura,
história e de diferentes escritos de inspiração religiosa,
com Oberlin ela chegará a ter mais de 500 títulos. (CHALMEL:
1999).
As iniciativas de Stuber perpassam outros campos e mostram que ele continuou
auxiliando a comunidade de Ban de La Roche mesmo após sua transferência.
Em 1782 fez doação de cerca de 300 livros para a biblioteca
acompanhada de sugestões para a sua gestão, uma atitude
que posteriormente será modelo para que Oberlin ajude o pastor
de Rothau a criar uma caixa de empréstimos de livros semelhante
à de Waldersbach.
AS PROPOSIÇÕES OBERLIN
Quando Pastor Jean Fréderic Oberlin chega a Ban de La Roche, o
sistema educativo estruturado por Stuber funciona em sua plenitude. Mas,
paulatinamente, ele se desprende da influência intelectual do amigo,
embora tenham mantido contato e se apoiado mutuamente, para consolidar
a sua própria atuação. Oberlin é apontado
por Vial como um dos primeiros a querer “faire des hommes de ces
enfants”(VIAL: 1989, 17). Também Nique e Leliévre
o consideram o “fundador das primeiras salas de asilo” (NIQUE
e LELIEVRE: 1990, 128). Doutor em teologia e professor, em 1767 tornou-se
pastor em Ban-de-la-Roche, se dedicará por cinqüenta e nove
anos a atividades que vão muito além de sua missão
de fé. Soëtard reconhece em Oberlin uma original empreitada
que une trabalho e formação numa época em que as
crianças já são exploradas pela nascente industrialização
(SOËTARD: 1987, 85). Segundo Chalmel (1999), este infatigável
militante do cristianismo social crê que a melhoria espiritual passa
inevitavelmente pela melhoria das condições materiais de
existência. Daí seu incentivo à criação
de pequenas tecelagens familiares e à construção
de rotas que auxiliassem o acesso ao vale de Ban de la Roche . Também
colaborou com a agricultura local introduzindo novas culturas, plantando
árvores frutíferas e incentivando o uso de adubos . No campo
social, além da contribuição no campo educacional,
foi responsável pela criação de uma caixa de empréstimos
de pequenas somas e de uma caixa de amortização que deveria
ajudar os paroquianos endividados a saldarem seus compromissos.
No campo educacional, destaca-se a criação de uma escola
de tricotar (1770) para crianças de quatro a sete anos. Através
da criação de uma metodologia que provavelmente inspirou
Freinet, ele aliava a felicidade ao aprendizado. O domínio da língua
francesa, a história sagrada, a história natural, o canto,
o desenho, a cartografia, a jardinagem, o aprendizado do tricô e
da fiação eram vistos como auxiliares para a aquisição
de atitudes morais e sociais em programas modulados segundo a idade de
cada criança. Para cada hora e meia de sala, as crianças
tinham direito a cinco minutos de ar puro, não sem antes fazerem
suas preces de início ou final de aula. Chalmel afirma que a genialidade
pedagógica de Oberlin aparece em toda a sua plenitude com a “escola
de tricotar”, uma instituição “original e sem
precedentes na história da educação, que vem completar
o sistema educativo: (...) a pequena escola dentro da escola” (CHAMEL:
1999, 12).
Entre 1778 e 1780 dedica-se às “viagens pedagógicas”
através de Bade-Wurtemberg, o que lhe permite confrontar a realidade
com suas práticas pedagógicas; assim, o crescimento da biblioteca
de Waldersbach disponibiliza um conjunto rico e variado de obras sobre
religião, filosofia, biologia, astronomia, geografia, literatura.
Condutores e regentes podem dispor de um vasto material temático,
além de documentação pedagógica elaborada
por Oberlin a partir de suas leituras e de conhecimento empírico.
As viagens permitem também a coleta de objetos e bens materiais
da vida cotidiana dos habitantes da região; elas também
são momentos para a busca de exemplares que comporão herbário
que será utilizado pela comunidade, como espaço de sistematização
de conhecimento e também para consumo. Como se vê, é
uma metodologia que considera o livro como um bem precioso que permite
acesso a conhecimentos imensuráveis, mas que também pressupõe
a experiência como forma sistematização da realidade.
Desde sua criação, a escola não é uma obra
de caridade. É algo considerado pioneiro pois, até então,
não havia na França o ensino das primeiras letras independente
da caridade local ou da Igreja. O trabalho das condutoras é remunerado
(pelos pais) e elas são vistas como substitutas de pais deficientes
para a educação de seus filhos. A educação
da criança desde muito pequena é fundamental: quando a “pequena
idade é acompanhada de um reconhecido valor moral, é sinônimo
da maior educabilidade cognitiva, de espírito de empreendimento
e de entusiasmo militante” (CHAMEL: 1999, 22). Este caráter
contratual da função das condutoras possibilita um estatuto
social diferenciado da mulher na sociedade segregacionista do século
XVIII. O conceito base da ação educativa da tenra idade
em Oberlin é o de que as mãos devem ser mantidas ocupadas
e, se possível, com alguma atividade útil; assim, o trabalho
manual e o exercício físico tornam-se indispensáveis.
Da mesma forma, ainda que as atividades sejam comuns para todas as crianças,
é preferível que elas se deixem convencer de sua importância;
isto significa que a condutora deverá agir com doçura através
de um universo lingüístico apropriado a cada uma delas. Enfim,
o aspecto lúdico não pode ser por elas esquecido.
Os princípios pedagógicos de Oberlin são muito semelhantes
aos de Pestalozzi: sua “educação pelas mãos,
coração e mente” provavelmente foi inspirada na “triangulação”
proposta pelo pedagogo suíço. Ademais, é uma proposta
onde o jogo encontra um lugar como meio didático privilegiado na
prática das condutoras; porque compreende que a necessidade de
jogar, própria da criança, pode ser componente da aprendizagem.
O pastor cria vários jogos como recursos pedagógicos das
condutoras, bem como insere vários “jogos de salão”
no cotidiano da escola. O trabalho coletivo também é veiculo
de aprendizagem em diferentes níveis: cada um se vê responsável
não apenas por sua parcela na produção, mas também
pela de todo o grupo. Outra noção que se transpõe
para o grupo de educadores é: cada um é responsável
não só pela suas atividades cotidianas, mas também
pelo conjunto de atividades de seus pares.
Chalmel resume da seguinte forma o método de Oberlin: “o
método utilizado pelas condutoras da pequena escola na escola é
associado à idéia de uma pedagogia como despertar da natureza
e da atividade humana, resolutamente intrincada com a forma de vida de
seus alunos, permitindo reconhecer e santificar a obra do divino Criador”
(p. 27). Esta pedagogia eminentemente pietista, traz a para educação
da tenra idade a noção de que toda a situação
de aprendizagem é acompanhada de uma produção. Tricô,
desenho, coleta de plantas, etc, permitem instaurar a aprendizagem ao
despertar a atenção e o interesse fugidio da criança
pequena.
Se o projeto de Oberlin é inegavelmente vinculado à ideologia
moralista que concebe o aprendizado como uma forma de levar à criança
a se aproximar dos “desígnios do Senhor”, seus estudiosos
também lhe atribuem, em função da proximidade da
proposta com o humanismo, um contato próximo com os valores republicanos,
uma vez que, em função do amor a Deus, propaga-se o amor
pelos homens. Historicamente, a pedagogia colocada em prática na
“Escola de tricotar” é a primeira realização
prática de uma educação coletiva voltada para a criança
de tenra idade. Como avalia Chalmel (1999), a perspectiva de Oberlin lutar
pela dignidade humana condiz com a preocupação republicana
de viabilizar modelos educativos que contribuam com a consolidação
da unidade nacional através do desenvolvimento da instrução
popular. E a melhor prova do caráter progressista de sua proposta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese, a empreitada de Oberlin pode ser considerada
como um dos grandes projetos que permearam os séculos XVIII e XIX
. A emergência dessas propostas significa que a criança tornou-se
um sujeito educativo por excelência, cuja conseqüência
é a articulação das instituições educativas;
na esfera pública, conclama-se pelos jardins-de-infância
e pelas escolas maternais ao lado da escola elementar, pois entende-se
que, na fase anterior a esta, ocorre o desenvolvimento da personalidade.
De uma vez por todas, instaurada uma pedagogia puericêntrica que
dialeticamente apregoará o valor da infância e de sua formação
para a sociedade futura.
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