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EDUCAÇÃO DE SURDOS: ANOTAÇÕES DE UMA PROFESSORA
SURDA
Eliete Jussara Nogueira - Universidade de Sorocaba
– Uniso
Teresa Cristina Leança Soares Alves - Universidade de Sorocaba
–Uniso
Este capítulo pretende relatar o que alunos Surdos
da rede regular de ensino falam sobre a convivência na escola e
quais as questões de socialização e cognição
presentes na sala de aula. Para tanto, foi utilizada a minha história
de vida, que mostra um caminhar que se aproxima da realidade do Surdo
e um pouco da experiência de onze anos de trabalho com alunos surdos
na rede pública de ensino.
Para construir o relato de experiências como professora,
é necessário construir relatos prévios da minha própria
identidade e, nessa construção, utilizo-me de narrativas
de familiares, lembranças e interações sociais. Segundo
a teoria interacionista de Vygotsky, cria-se a identidade a partir do
outro, o que me permite neste momento do trabalho, utilizar o verbo na
primeira pessoa.
Sou professora Surda, de identidade híbrida: minha
surdez foi adquirida em razão de uma meningite aos dois anos e
meio de idade. Tive formação educacional freqüentando
escolas regulares, muito antes de qualquer idéia institucional
de inclusão e, com todos os problemas inerentes à situação
da época, fui educada na filosofia oralista e a aprendizagem da
língua de sinais só aconteceu no contato com os alunos Surdos,
já adulta, na prática profissional. Daí advém
minha identidade híbrida que, de certa forma, permite-me conhecer
dois mundos.
3.1 A criança, a pessoa e o som
“O som exige um meio material para se propagar. O som não
se propaga no vácuo” (Soares, 1982, p.7)
O som é um dos fenômenos da natureza mais
intimamente ligados, as pessoas, assim como a visão, o tato, o
olfato. Recebemos o som desde nossos primeiros instantes de vida e nossa
percepção se expande e se aperfeiçoa cada vez mais
com o tempo de experiências.
Ao relatar experiências de família sobre minha educação
precoce e a dedicação constante nesse caminho da vida, bem
como a luta para propagar a minha surdez na sociedade ouvinte, valorizo
o trabalho de estimulação precoce e reproduzo o som das
experiências vivenciadas.
Relato de minha mãe: “Uma criança que aos dois anos
e meio de idade, ficou muito doente, uma menina com muita saúde
e que trazia muita alegria, não só para os seus pais, como
também para os seus avós, principalmente, os maternos, que
moravam muito próximos ... depois de um tempo... ela teve que ser
internada por contrair meningite... o que causou pânico em todos
os seus familiares, pois na época – 1973/74 - morreram muitas
crianças desta moléstia. No hospital, entre 60 crianças
internadas, só três sobreviveram. Depois de muita batalha,
minha filha conseguiu ir para casa. No entanto, depois de alguns meses,
seus familiares notaram que, ao chamá-la para que não tocasse
em alguns objetos na estante da sala, ela não respondia.Ela foi
levada ao médico e mais uma vez a família passou por mais
um drama. Foi constatada uma seqüela, ou seja, uma acentuada perda
auditiva nos dois ouvidos”.
Na minha história, os meus familiares contaram
que, até então, eu utilizava a audição como
mecanismo para a comunicação com as pessoas ao redor. Aos
dois anos e quatro meses, passei a freqüentar um Fonoaudiólogo
e, juntamente com isto, a utilizar aparelho de amplificação
sonora individual.
Nas observações familiares, até aquele
momento não haviam percebido os problemas auditivos.Uma das descobertas,
com a saída do hospital, foi a parada brusca de cantar as músicas
infantis.
A proposta da família junto com a fonoaudióloga foi oralizar
a criança, aproveitando a audição residual, pois
os pais não gostariam de ver a filha, no futuro, vivendo num ambiente
ouvinte sem conseguir interagir com o meio.
A opção dos meus pais foi me colocar em escolas de ouvintes,
descartando a escola especial, sabendo que seria muito difícil
o acompanhamento, mas assim mesmo acharam que deveriam tentar, envolvendo-se
nessa maratona de forma a propiciar o suporte necessário.
Minha experiência escolar foi marcante em minha vida e os meus alunos
sempre me fazem relembrar cenas do meu passado com seus desabafos e/ou
comentários.
Qualquer matéria, eu esforçava para prestar atenção.
Como estava em fase de desenvolvimento com terapias fonoaudiológicas,
era muito difícil entender as palavras dos mestres, principalmente
quando falavam rápido. Um ditado era o meu desafio, um sofrimento
até, pois tentava escrever o que ouvia, uma espécie de treinamento
auditivo, mas muitas vezes pedia para as colegas emprestarem o caderno
no final, pois não gostava de atrapalhar as aulas. Várias
vezes não compreendia a matéria e pedia para os professores
repetirem, e não sei quantas vezes ouvia reclamações
de outros colegas, e ainda o alívio para aqueles que não
compreendiam a matéria como eu. Eu não compreendia o significado
de palavras novas, perdia-me nas conversas quando alguém usava
termos “difíceis”. Pedia para repetir e esclarecia
minha dificuldade e clamava por entender. Preferia ler, ler e ler! Foi
a minha grande descoberta para aprender mais coisas de forma clara, e
principalmente enriquecer o vocabulário com o tempo, passei a decifrar
o que as pessoas falavam, sofri procurando as palavras no dicionário
quando, numa certa época, meu pai exigiu que aprendesse a consultar
o dicionário. Se caso não entendesse, ele se prontificava
a ajudar-me.
Sofri muita discriminação dos colegas de classe quando mudei
para uma escola nova, na uma 4ª série. Quando não entendia
o pedido dos professores e fazia outra coisa, a classe dava risada por
eu não ter entendido, mas na verdade eu não tinha ouvido
corretamente nas brincadeiras como: cochichar ou ouvir a música
e representá-la, simplesmente ficava sentada sozinha, esperando
a atividade acabar e aos poucos fui enfrentando a barreira das pessoas,
mostrando o meu respeito.
Dessa forma, conquistei amizades, apresentando-me, mostrei o meu aparelho
de amplificação sonora, assumi a minha identidade e revelei
o meu lado diferente.
3.2 A professora - uma ponte
Quando da adaptação das escolas as novas
Leis de Diretrizes e Bases implementadas na Rede de Ensino Escolar, a
questão da inclusão envolveu a minha experiência profissional.
A nova Lei de Diretrizes e Bases propiciou conflitos pedagógicos
entre professores, intérpretes, alunos Surdos e a família,
que deveriam discutir quem eram as crianças que queriam na escola.
Se toda criança tem direito a escola, por que colocamos algumas
fora dela, como uma seleção social. Discutir mudanças
que provocam alteração na ordem natural da escola é
muito positivo, mas sem dúvida não é tranqüilo,
pois envolvem conceitos e preconceitos por muito tempo arraigados. Portanto,
instaurou-se a crise.
Minha experiência na rede estadual completa onze anos de trabalho
diretamente com os Surdos, sempre na classe especial e, no ano de 2004,
já como professora especialista na Sala de Recursos. Junto com
outras colegas da área, pude acompanhar de perto as mudanças,
os desafios, as reformas, as renovações e as adaptações
da inclusão. Tenho o privilégio de vivenciar a inclusão
sob a ótica do antes excluído.
No ano 2000, na atribuição de aulas para servidores, optei
por deixar o trabalho com crianças Surdas para escolher uma outra
escola que dispunha de uma classe especial para Surdos com a faixa etária
de 17 a 29 anos de idade. Todos os alunos dessa classe são Surdos
e usam para se comunicar a Língua Brasileira de Sinais fluente.
Alguns deles, quase sem identidade, não conseguiam nem falar, nem
se comunicar através da Língua de Sinais, ou seja, não
estavam nem oralizados e nem tinham conhecimento de LIBRAS, o que gerava
um grande problema dentro do processo educacional, em face da ausência
de um código comunicacional padrão.
Em um primeiro momento, a estratégia foi a da alfabetização
dos Surdos, incentivando e propagando a importância da leitura e
da escrita; em busca da identidade surda, busquei incentivar a auto-estima,
pois todos se achavam incapacitados de evoluir. Para demonstrar horizontes
e perspectivas, no meio do ano, coloquei avisos sobre as mudanças
e fixei metas partindo da premissa que eles teriam que um dia freqüentar
a sala regular junto com ouvintes.
Naquele contacto, ficaram assustados e não acreditaram na proposta,
pois todos esses alunos, desde pequenos, sempre freqüentaram Classes
Especiais, lembrando que nelas não existiam séries e, se
por um acaso os pais optassem por colocar um Surdo na rede regular, passariam
por grandes entraves.
Professores, coordenadores e diretores não aceitavam tal hipótese,
mesmo com toda a orientação e mesmo sabendo que a reforma
chegaria em algum momento, como aconteceu na Nova Lei de Diretrizes e
Bases de 1996, que mudou completamente a visão antiga – que
tratava o Surdo como um aluno especial, à margem do sistema - e
quebrou certas barreiras que impediam a evolução dos alunos
Surdos e de trabalhos que já existiam no sentido de propiciar uma
maior inclusão social e educacional.
Na escola em que lecionava, havia uma preocupação grande
dos colegas-professores, pois não existia um projeto de educação
concreto, que levasse em consideração a presença
de alunos Surdos, a visão deles sobre o trabalho que desenvolvia
era de admiração pela dedicação a um público
visto como “problemático”.
Quando esses alunos passaram a ser desses professores foi estabelecido
um clima de insegurança total, principalmente para aqueles que
não haviam participado do projeto de adaptação e
preparação realizado durante 2003.
Realizei palestras sobre os Surdos, mostrando os trabalhos escritos, sua
cultura, sua língua e identidade. Organizei exposições
culturais para mostrar o mundo paralelo da surdez, tanto para a escola,
como para a comunidade, com o intuito de sensibilizar e conscientizaros
profissionais para a prática da nova lei.
Muitos professores não acreditavam ou pensavam impossível
a inclusão imediata, porque havia uma noção equivocada
de que os procedimentos inclusivos para os portadores de necessidades
especiais aconteceriam a longo prazo. Nos anos 2000 e 2001, no segundo
semestre, foram realizadas, com treze Surdos, dinâmicas de auto-estima.
A proposta era incluir quatro Surdos no ensino supletivo de 5ª série,
destes somente dois se transferiram, os outros dois pediram insistentemente
para ficar na classe especial até 2002.
Em um primeiro momento, como não havia uma diretriz muito bem definida,
buscávamos conscientizar as escolas, os pais e os Surdos da importância
do intérprete. O intérprete seria alguém que auxiliaria
o Surdo e o professor em sua comunicação.
No III Seminário de Intérpretes de Língua de Sinais:
- “Políticas Educacionais e Comunidade Surda” , constatou-se
que os intérpretes eram professores, como propugnou Marlene Gotti
, em sua palestra, quando explicava que os intérpretes deveriam
ter nível universitário.
Tal diretriz já estava delineada no parecer nº 17/2001 expedido
nos autos do processo nº 23001-000184/2001-92, pela Câmara
de Educação Básica do CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO,
aprovado em 03.7.2001, que fala sobre os professores-intérpretes.
No ano de 2003, no segundo semestre, dando seqüência ao trabalho
inicial, mais três surdos entraram para o supletivo com o auxílio
de intérpretes particulares – voluntários ou pagos.
Assim, continuei preparando os demais para a inclusão no ano 2004,
o que infelizmente não pôde acontecer, pois a classe especial
foi modificada às pessoas, para sala de recursos. Preocupada, a
diretora de nossa escola me contactou, informando-me sobre o fato de que
todos haviam sido incluídos por força de lei. Foi necessário
redirecionar o trabalho, antecipando os resultados para curto e médio
prazos, para a nova realidade. Assim, orientamos mais uma vez as famílias,
explicamos os motivos mas, apesar de estarem mais ou menos preparados,
pois constantemente eram realizadas reuniões de pais, o choque
foi inevitável.
Toda a estrutura paralela de apoio, criada junto aos dois intérpretes
voluntários que trabalhavam conosco diretamente, com as incertezas
e dúvidas geradas pela inclusão imediata no início
do ano de 2004, foi desmantelada, uma vez que eles, os intérpretes,
diante de tal instabilidade, deixaram seus postos de trabalho. Assim,
todos os Surdos ficaram sem “conexão”, o que gerou
conflito com os professores que contavam com a rede de apoio dos intérpretes.
Embora a política de inclusão, hoje, venha a propugnar que
o próprio professor deva ser o intérprete, não houve,
por parte das autoridades competentes, um programa de adaptação
que permitisse ao professor se adequar a essa nova realidade – aprendendo
LIBRAS, por exemplo.
A solução dos intérpretes era provisória,
sem dúvida, mas naquele momento necessária, em face da falta
de preparo e apoio institucional para a realização da inclusão
em 2004; e não foram poucos os elogios dos professores aos intérpretes
pois, como instrumento de apoio, eles davam um suporte adicional de grande
qualidade.
Agora que há a consciência de que os professores devem ser
os intérpretes, há uma nova necessidade a ser enfrentada:
- Habilitar e preparar este professor em Libras.
Ao longo do ano de 2004, foram feitas anotações dos comentários
dos alunos-Surdos, professores, coordenadores e funcionários da
escola, sobre os processos de inclusão iniciados em 2001 –
com a inclusão de alguns alunos em cursos supletivos – que
avançaram até 2004 – com a inclusão total,
o que será relatado a seguir.
3.3 A voz dos alunos.
Este trabalho de pesquisa utilizou de anotações
sistemáticas a partir da coleta de dados realizada entre 2003/2004,
no período de extinção das classes especiais e início
da colocação dos Surdos nas classes regulares. Tanto as
anotações a partir da fala dos alunos, como as manifestações
por escrito em trabalhos “de livre expressão”, foram
guardadas e sua leitura revela questões pessoais dos alunos Surdos
, que podem ajudar a conhecer um pouco a maneira de pensar desses alunos.
Nas anotações, da forma mais fiel possível, buscou-se
traduzir aquele momento de inclusão, e refletir sobre as vantagens
desse processo para os alunos Surdos, com a finalidade de analisar a situação
atual e buscar novas estratégias de apoio, como meios mais eficazes
para auxiliar os professores, que passam por ações imediatistas.
As anotações foram realizadas em tradução
para o português, lembrando que na escola onde trabalho, há
dezesseis Surdos, cuja comunicação se dá através
da língua brasileira de sinais – Libras. Logo, na tradução,
não se busca o português acadêmico, mas o espelho do
que acontecia na realidade desses alunos.
Identificando melhor o perfil dos alunos Surdos, apresentamos o seguinte:
são alunos entre 18 e 35 anos, sendo que alguns deles trabalham
na Indústria.A grande maioria deles vem de classe especial, encontrando
muita dificuldade em acompanhar e freqüentar as classes regulares,
mesmo havendo o apoio e utilização da Sala de Recursos.
Em geral, a comunicação utilizada pelos alunos Surdos pode
ser de diferentes formatos como: Língua Brasileira de Sinais, Oralismo
e Comunicação Total.
Na totalidade desta comunidade referida, não existe um só
aluno que faça uso do Bilingüismo, utilizando apenas a Língua
de Sinais como língua materna, para sua comunicação
escolar.
Assim falam os Surdos, nas anotações da
autora deste trabalho:
“O Supletivo está bom, adoro. Mas as matérias
são difíceis.”
“Só não faltar, deixar os cadernos em ordem e entregar
os trabalhos...notas boas na média.”
“ Os colegas ouvintes ficam bravos quando não entendemos.”
“Paciência! Precisa vir à escola para passar de ano.”
“Estou no 1º Colegial, e sei poucas palavras, é difícil,
tá bom né?!”
“Redação?! Ah, não! Não! Não
sei escrever, você é muito chata, quero só copiar
ou pedir para minha prima escrever, e os professores não vão
perceber”
“Eu não entrego as atividades para a professora porque não
entendi nada e não sei fazer”
“Melhor ficar na classe com ouvintes e ter séries, do que
ficar na classe especial a vida toda, mas faz falta a sua atenção
nos conteúdos explicados”
“Não sou obrigado a freqüentar aulas de reforço,
já vou embora tarde e tenho que vir de manhã? Estou bem
na sétima série do Supletivo e tenho boas notas!”
“Não precisa de dicionário! Não uso mesmo em
sala de aula”
“Vou mudar de escola, vou estudar em casa, é mais rápido!
E minha família me ajuda e depois ganho o diploma e fico livre
da escola e não preciso mais estudar.”
“Minhas duas irmãs iam para a escola e eu o filho mais velho
com 06 aninhos ficava em casa! Se eu aprendesse cedo, não seria
difícil”
“Ainda bem que não estou sozinho, tenho ‘fulano’
Surdo e ‘beltrano’ Surdo na mesma classe.”(aqui ocultamos
os nomes).
É
muito natural, um aluno Surdo que há muito pouco tempo freqüentava
uma classe especialmente, que não solicitava desse aluno o mínimo
de responsabilidade, se assuste por completo ao encarar a classe regular,
seja ela Supletivo ou Ensino Médio.
Este aluno é praticamente analfabeto, ou melhor, um copista, mas
não sabe o significado de nada no mundo novo para o qual está
sendo apresentado. A tendência desses alunos Surdos é bater
em retirada, pois ainda nessa nova classe vão encontrar a maioria
dos alunos de um mundo completamente diferente do que estão acostumados
e vivenciaram até então (Surdos X Ouvintes).
Com o passar dos anos, os alunos que agora freqüentam o Colegial
percebem que a cada dia que passa, freqüentando a escola, sabem menos
do que sabiam antes.
A maior dificuldade dos alunos Surdos é com a Língua Portuguesa,
pois para eles Surdos a formação da sua língua materna
é muito mais simples.
“Precisa
de intérprete, fica mais fácil a comunicação
com os professores. Caso contrário é melhor ficarmos quietos
para não atrapalhar a classe.”
O Ministério
da Educação e Cultura, como órgão responsável
pela implementação das Diretrizes do Estado, cometeu uma
falha em não colocar na classe um elo de ligação
entre os professores e os alunos Surdos. Os professores não foram
preparados para entender os Surdos nas suas diversas formas de comunicação.
A inclusão dos alunos Surdos seguiu apenas o propósito,
que é o de redução dos altos gastos com estas classes
especiais, esquecendo-se assim, do objetivo que era a inclusão
de um ser humano na sociedade.
A inclusão de políticas públicas educacionais deve
ser realizada em forma de uma pirâmide, do cume para baixo. As instituições
governamentais de educação deveriam criar um suporte de
implantação da Lei de inclusão. Do contrário,
o que se fez foi a imposição dessa aos professores e aos
alunos Surdos, fins últimos e primordiais do processo de inclusão
dessa lei.
O agente complicador, relacionado ao custo, está intimamente ligado
ao Professor/Intérprete, pois o Professor de um Surdo necessita
entendê-lo e, por sua vez, o Intérprete necessita clarear
o assunto para o Surdo, portando a admissão real no processo de
inclusão é a de um Professor Intérprete.
“Os
professores dão muitos, muitos textos, e muitas palavras não
sei, português... difícil.”
“Para que reforço (pedagógico)? Nas provas escritas
os professores me deram 7, 8, 9 e até 10.”
“Nossa! A professora de Sociologia sabe LIBRAS um pouco! Gosta dos
Surdos! Quem ensinou?”
“Muita e muita paciência, nas aulas de ciências, história
e geografia, os professores falam muito e ficamos olhando as suas expressões
sem entender nada!”
Nota-se o interesse de alguns professores em auxiliar os alunos Surdos
voluntariamente, mas infelizmente isto acontece com uma minoria, pois
a maioria dos professores está fazendo vista grossa no processo
de inclusão desses alunos, incentivando os mesmos a realizarem
apenas cópias em sua aulas e, em troca, distribuindo notas regulares
para estes alunos, ocasionando a ilusão de que, num futuro não
muito distante, os conhecimentos necessários cairão do céu
como chuva. Esta atitude põe em choque a Sala de Recursos, criada
dentro do processo de inclusão para auxiliá-los, pois eles
param de freqüentar a Sala de Recursos ao receberem pois recebem
boas notas, correndo o risco da perda da Sala e conseqüentemente,
do Professor.
“Prefiro trabalhar. Escola é difícil...não
consigo aprender, sei que preciso estudar para ficar na fábrica,
mas meu chefe não liga que eu não sei ler e escrever”
“Desculpe professora Teresa. Não virei nas aulas do reforço
(pedagógico) mais, pois arrumei emprego e não dá
tempo mais”
A grande maioria das empresas, as quais estão fazendo parte do
processo de inclusão dos Surdos em seus quadros funcionais, preferem
a admissão de Surdos com 2º grau completo, ou seja, os Surdos
que por ventura estejam trabalhando, estão locados em setores de
piso de fábrica, onde não é necessária a escolaridade
exigida.
Os Surdos que correm atrás de certificado como justificativa para
colocação no emprego se enganam que vão conseguir
competir com outros colegas Surdos que tenham outra mentalidade.
No passado, as classes especiais não exigiam as séries das
classes regulares, mas com as mudanças atuais os Surdos têm
que aproveitar a boa ocasião, como professores especializados,
os intérpretes que futuramente terão que vir para as escolas,
podendo no futuro considerar-se uma pessoa como outra qualquer no mundo
dos Ouvintes.
Não existe emprego para os Surdos sem uma Escola completamente
Inclusiva.
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