Josiane Nohama - Centro de Convivência
Infantil - CECI - UNICAMP
“Para a Criança,
sempre, a poesia
é uma brincadeira,
sem dia,
sem hora,
um jogo musical,
cuja melodia
ela mesma cria,
de dentro pra fora.
Criança lendo poesia
é o que temos de melhor!
Os olhos vão falando,
muito mais que a própria voz”.
Do livro: Olhos Espertos
de Maria da Graça Almeida
Uma breve história das creches no Brasil
A trajetória das creches e escolas maternais no
Brasil é marcada por uma tradição assistencialista
e nasceram vinculadas às necessidades do trabalho feminino industrial
fora do domicílio, visando também responder a questões
diversas como o abandono, a desnutrição, a mortalidade infantil,
a formação de hábitos higiênicos e a moralização
das famílias operárias.
A creche é uma instituição que nasceu no campo da
filantropia com aportes da pediatria e puericultura, com elementos da
fé e da ação cristã.
Segundo Vieira (1999), a expansão das creches no Brasil é
visível a partir do final dos anos 1970, quando entram em cena
os movimentos sociais organizados por mulheres das periferias de grandes
centros urbanos, rompendo-se a histórica tutela filantrópica
sobre as creches e as crianças das classes populares.
Diferente das creches, os jardins de infância ou escolas infantis
surgem no campo da educação respondendo aos objetivos de
socializar e preparar a criança de 04 a 06 anos para o ensino fundamental.
Neste aspecto há uma profunda diferença entre os profissionais
da área, pois se para as creches o profissional requerido vinha
das áreas da saúde e assistência, para os jardins
de infância o profissional era o professor.
Assim, a partir de 1970, houve uma crescente expansão as creches
e pré-escolas no Brasil, devido a vários fatores, tais como:
a demanda social crescente pela escolarização de crianças
menores de 07 anos; aumento da inserção de mulheres e jovens
no mercado de trabalho; a influência do feminismo na construção
de novos significados sociais para creches, enfim pode-se dizer que as
creches e pré-escolas se expandiram para atender populações
pobres, gerando um padrão de atendimento pobre para pobres.
“Além da tendência à municipalização
do atendimento em creches e pré-escolas, observa-se o surgimento
de uma extensa rede de creches de origem comunitária e filantrópica,
que têm em comum o baixo padrão de qualidade do pessoal educador
que aí trabalha, em geral com baixa escolaridade e sem qualificação
específica; dos espaços físicos porque aproveitados,
não são adaptados para as necessidades de movimento, cuidado
e educação; das condições – precárias
- do contexto urbano onde se localizam: vilas, favelas, áreas da
periferia mal servidas de água e esgoto; pelas remotas possibilidades
de existir ambiente educativo estimulante e criativo para aprendizagens,
brincadeiras e cuidados”.(VIEIRA, 1999, p.30).
A partir de 1988, mudanças significativas ocorreram
no plano da legislação educacional, fruto de uma história
de lutas e reivindicações de diferentes setores da sociedade
em prol dos direitos das crianças e dos jovens, o que trouxe importantes
conseqüências para o profissional da educação
infantil e para sua identidade.
A Constituição Federal de 1988 reconheceu a educação
em creches e pré-escolas como um direito da criança e um
dever do Estado a ser cumprido nos sistemas de ensino.
Em 1990 foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente,
que concretizou as conquistas dos direitos das crianças, promulgados
pela constituição.
Segundo Zilma R. de Oliveira, na área de educação
infantil, o debate que acompanhou a discussão de uma Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB) na Câmara dos Deputados
e no Senado Federal impulsionou diferentes setores educacionais, particularmente
universidades e instituições de pesquisa, sindicatos de
educadores e organizações não-governamentais, à
defesa de um novo modelo de educação infantil.
Esses fatos prepararam o ambiente para a aprovação da nova
LDB, Lei 9.394/96 que estabelece a educação infantil como
a etapa inicial da educação básica.
“A educação infantil, primeira etapa
da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos
físicos, psicológico, intelectual e social, complementando
a ação da família e da comunidade”.(Art.29º)
Portanto, a educação infantil é um
direito das crianças, embora não seja obrigatória,
a creche faz parte da educação básica, assim como
a pré-escola, o ensino fundamental e o médio.
Uma nova identidade do educador que atua em instituições
de educação infantil é também introduzida
pela LDB. Ela o caracteriza como professor, como docente, cuja formação
se fará em nível superior, admitindo-se como formação
mínima a oferecida em nível médio modalidade normal.
(Art.62º)
Cabe ao professor de educação infantil articular as funções
de educar e cuidar, como eixo norteador se seu trabalho.
“Se creches e pré-escolas são instituições
educacionais e se as crianças têm múltiplas necessidades,
entre elas, aquelas que se relacionam com os cuidados, o projeto educativo
dessas instituições deve integrar no educar as dimensões
do cuidar, sem hierarquizar funções”.(Campos, 1994).
A integração e a indissociabilidade do educar
e cuidar na educação infantil é sem dúvida
uma condição fundamental para oferecer um trabalho significativo
e de qualidade.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação
Infantil (1998) o cuidar significa:
“(…) cuidar de uma criança em um contexto educativo
demanda a integração de vários campos de conhecimentos
e a cooperação de profissionais de diferentes áreas”.
A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro se desenvolver
enquanto ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver
capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro
e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica
em procedimentos específicos.” (Vol.01, p.24).
Já a concepção de educar segundo
o RCN/98 é o de propiciar situações de cuidados,
brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam
contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação
interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica
de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas
crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.
A trajetória da educação infantil sofreu muitas mudanças
e foi uma história de lutas pelas conquistas que temos atualmente.
Esta introdução foi necessária para compreendermos
melhor o papel da educação infantil no contexto educacional
e principalmente para destacar que as creches, assim como as pré-escolas
fazem parte de um sistema educativo, são a primeira etapa da educação
básica e como tal, devem ser valorizadas.
Nesta atual concepção de educação infantil,
o brincar tem um papel fundamental, pois
proporciona à criança e a creche possibilidades muito valiosas
indo além da diversão. Para a criança é um
momento de descobertas e desenvolvimento e para a creche um momento de
propor desafios que a ajudem superar limites.
Brincar: Diversão e Aprendizagem
Quando pensamos em brincadeira, em brincar, logo associamos
a algo não sério, ou sem importância, principalmente
quando vemos as crianças na educação infantil e pensamos
que neste período escolar a criança só vai à
escola para brincar. Muitos pais que têm filhos na educação
infantil e em escolas particulares pensam que estão pagando mensalidades
altas só para seus filhos brincarem na escola.
Ao contrário do que muitos pensam, as instituições
de educação infantil são lugares de construção
do conhecimento onde o educar e o cuidar estão ligados de uma forma
intrínseca e o brincar possui um papel essencial para o desenvolvimento
global da criança.
Atualmente com a evolução dos estudos psicológicos
e educacionais sobre o desenvolvimento infantil, descobre-se como o brincar,
aparentemente sem maiores compromissos e tão desvalorizado pelos
adultos é fundamental para a construção do pensamento
e do conhecimento pela criança e mais especificamente para a aquisição
da leitura, da escrita e do raciocínio lógico-matemático.
Psicólogos ilustres como o suíço Jean Piaget (1896/1980)
e o russo Lev Vygotsky (1896/1934) são dois dos estudiosos responsáveis
por essa nova visão sobre o brincar.
O bebê inicia seu primeiro processo de brincar com o adulto. Nas
conversas com a mãe ou professora, nas expressões faciais,
sorriso, vocalizações, que são um meio afetivo de
comunicação, o bebê sente que o adulto lhe dá
atenção e nesta troca de ações lúdicas,
o adulto torna-se o primeiro brinquedo da criança.
O corpo também é um brinquedo, pois a criança descobre
as mãos, os dedos, a superfície do corpo e brinca com o
que lhe dá prazer.
“O brincar com o próprio corpo, de acordo
com a interpretação analítica, constitui a fase inicial
da atividade lúdica, em particular a sucção a vácuo,
é reforçada por todas aquelas situações prazerosas
dos rituais cotidianos ( a troca de fraldas, a nutrição,
o banho) nas quais a criança é acariciada, tocada, manipulada”.(Bondioli
e Mantovani, 1998, p. 217).
A primeira relação que a criança
estabelece com o brinquedo, no período entre 0 e 2 anos, é
baseada na sua percepção do objeto, sobretudo na percepção
visual. Ao longo de seu desenvolvimento, neste período, algumas
capacidades importantes vão sendo produzidas, organizadas e aprimoradas
como: a atenção, a imitação, a memória
e a imaginação. Através dessas capacidades ou funções
psicológicas superiores, outras mais elaboradas vão surgindo
em prol do desenvolvimento emocional e cognitivo. A partir de uma brincadeira
comum que vem sendo repetida de geração em geração,
elabora-se internamente o conceito de presença e ausência
de objeto, introduzido por Piaget. Por volta dos 6/7 meses costumamos
brincar com o bebê de aparecer e desaparecer. Ou escondemos objetos,
ou o próprio bebê com uma fralda ou pano, ou atrás
de um objeto. É o famoso “Cadê? – Achou!”.
Esta brincadeira simples que os bebês adoram, os levam a compreender
que um objeto (pessoas ou inanimado) pode desaparecer momentaneamente
e reaparecer. Em termos emocionais, esta atividade ajuda a criança
a compreender que a ausência da figura materna ou de quem lhe transmite
cuidados não significa que desapareceu para sempre e esta aquisição
auxilia no desenvolvimento do sentimento de confiança, importante
para que a criança aprenda a estabelecer vínculos. Além
disso, aprender a lidar com a ausência de um objeto é o estágio
embrionário da capacidade de abstração, que possibilitará
o pensar sobre hipóteses e a resolução de problemas.
O psicólogo Bruner aponta a potencialidade da brincadeira para
a descoberta das regras, aquisição da linguagem, contribuindo
para o desenvolvimento mental e físico. Para ele, ao brincar com
a mãe de esconder o rosto com a fralda, a criança, engaja-se
na brincadeira e compreende as regras que integram a seqüência
de ações e verbalizações. Para ele o lúdico
é uma forma de exploração, estratégia que
leva ao pensamento divergente, por sua característica pouco opressora
e estimuladora da criatividade. (Kishimoto, 2002).
Bruner afirma que as brincadeiras contribuem para o desenvolvimento mental,
para a aprendizagem da linguagem, para movimentar-se (desenvolvimento
físico/motor) e para a solução de problemas.
Um importante educador e o primeiro “psicólogo da infância”
foi Froebel que acreditou na criança, enalteceu sua perfeição,
valorizou sua liberdade e desejou a expressão da natureza infantil
por meio de brincadeiras livres e espontâneas.
“Embora não tenha sido o primeiro a analisar
o valor educativo do jogo, Frobel foi o primeiro a colocá-lo como
parte essencial do trabalho pedagógico, ao criar o jardim de infância
com o uso dos jogos e brinquedos”.(Kishimoto, 2002, p.61).
Frobel reconheceu o valor da fantasia para o desenvolvimento
da inteligência e considerou que nas brincadeiras a criança
tenta compreender seu mundo ao reproduzir situações da vida.
Kishimoto, em sua obra: Jogo, Brinquedo, Brincadeira e Educação
diferencia a brincadeira do brinquedo da seguinte forma:
Brinquedo: objeto, suporte da brincadeira.
Brincadeira: descrição de uma conduta estruturada, com regras
e jogo infantil para designar tanto o objeto e as regras do jogo da criança.
Numa visão sócio-histórica, defendida por Vygotsky,
a brincadeira é uma atividade específica da infância,
onde a criança recria a realidade utilizando sistemas simbólicos.
Essa é uma atividade social, com contexto cultural. O brinquedo,
segundo ele, inclui as regras, mesmo que não sejam explícitas,
e uma situação imaginária.
Para Vygotsky, o brinquedo cria a zona de desenvolvimento proximal, ou
seja, aquilo que a criança faz com a ajuda de um adulto ou de companheiros
mais capazes hoje, ela poderá fazer sozinha no futuro. Ela sai
da zona de desenvolvimento potencial ou proximal e atinge o desenvolvimento
real.
“Assim, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento
proximal da criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta
além do comportamento habitual de sua idade, além de seu
comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior
do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o
brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob
forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento”.(Vygotsky,
1998, p.134).
Já Wallon, diz que entre um e três anos,
o desenvolvimento atravessa um período sensório motor/projetivo,
isto é, sensorial e simbólico. Ele tem fome de espaço
explorável e objetos manipuláveis, que permitam os avanços
da autonomia motora. Brincar de andar, de pular, brincar de subir e descer,
de pôr e tirar, de empilhar e derrubar, de fazer e desfazer, de
criar e destruir. Educar neste momento é sinônimo de preparar
o espaço adequado, o espaço “brincável”,
isto é, explorável.
Projeto e Prática Pedagógica do CECI - BERÇÁRIO
Diante dessas teorias defrontei-me com o trabalho realizado
no CECI-UNICAMP e pude encontrar em sua prática pedagógica
muitos elementos importantes para um trabalho significativo e de qualidade.
Especialmente no berçário, que no CECI abrange a faixa etária
de 02 a 15 meses pode-se pensar que não há um trabalho educativo.
Esse pensamento é completamente equivocado, pois as professoras
ao mesmo tempo em que cuidam, educam as crianças.
A professora não precisa de um momento especial para educar, ele
está presente em todos os momentos, por exemplo, como trocar a
fralda cantando ou contando uma história, oferecer o alimento nomeando-os
e conversando sobre o quanto são importantes para nossa saúde,
etc.
No CECI a brincadeira é um momento muito importante e valorizado,
pois é um momento de descobertas, de explorar o meio ambiente e
de construir conhecimentos.
As crianças são estimuladas em diversos tipos de brincadeiras
com os mais variados tipos de materiais.
As crianças de 10 a 15 meses brincam na área externa, onde
há vários tipos de brinquedos, uma área livre com
gramado, árvores, flores, um tanque com areia, pássaros
que freqüentemente posam nas árvores e duas tartarugas de
estimação, que são muito famosas e queridas das crianças.
Elas gostam de ver as tartarugas andarem, comerem e muitas crianças
querem pegá-las, outras preferem apenas observá-las, enfim
há várias possibilidades de brincadeiras incluídas
na rotina que tornam o trabalho muito rico.
O objetivo do trabalho no CECI é estimular o desenvolvimento das
crianças em todos os seus aspectos (físico, social, cognitivo
e afetivo) através dos brinquedos e brincadeiras, oferecendo às
crianças uma variada gama de estímulos sensoriais e motores,
possibilitando a autonomia da criança na busca de soluções
de problemas e respostas aos conflitos cognitivos.
O aspecto físico envolve as atividades relacionadas com o corpo,
ou seja, higiene, saúde, nutrição, coordenação
motora fina e grossa.
O aspecto social envolve o desenvolvimento moral, a socialização,
regras, disciplina, interação criança-criança
e criança-adulto.
O aspecto cognitivo envolve o pensamento, inteligência, conhecimento
físico, lógico-matemático, social e a função
simbólica .
O aspecto afetivo envolve a motivação, interesse, necessidade,
é a energia que nos impulsiona agir.
Em todas as atividades desenvolvidas com as crianças, há
um planejamento diário da professora, ou seja, uma intencionalidade
na ação. A maioria das profissionais de educação
do CECI são professoras com nível médio na modalidade
Normal e muitas já concluíram ou estão cursando o
nível superior em Pedagogia. Isso é um grande diferencial,
que transforma as ações e possibilita a realização
de um trabalho mais significativo e de melhor qualidade.
A organização dos espaços e dos materiais realizados
pelas professoras, se constitui em um instrumento fundamental para a prática
educativa com crianças pequenas. Isso implica que, para cada trabalho
realizado com as crianças, deve-se planejar a forma mais adequada
de organizar o mobiliário dentro da sala, assim como introduzir
materiais específicos para a montagem de ambientes novos, com brinquedos
diversificados que provoquem a curiosidade e o interesse das crianças.
Consideramos que as crianças de 0 a 03 anos são
seres humanos em uma fase de vida na qual dependem intensamente do adulto
e, por isso, precisam:
• ser auxiliadas nas atividades que não podem realizar sozinhas;
• ser atendidas em suas necessidades de segurança, nutrição,
higiene e saúde;
• ter atenção especial por parte do adulto em momentos
peculiares de sua vida.
Além disso, as crianças dessa faixa etária devem
ser apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a:
• brincar e movimentar-se em espaços amplos;
• expressar sentimentos e pensamentos;
• desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade
de expressão;
• ampliar permanentemente conhecimentos sobre a natureza e a cultura;
• diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação.
Como base teórica para esse objetivo, adotamos o referencial piagetiano
que considera que a construção do conhecimento só
acontece na interação do sujeito com o objeto, ou seja,
para conhecer algo, é necessário à ação
física ou mental sobre o objeto. Trata-se de considerar a atividade
do sujeito, e mais ainda, as significações por ele atribuídas
às suas ações, como responsáveis pela possibilidade
de adquirir conhecimento sobre a realidade física ou social.
Piaget divide o desenvolvimento intelectual em quatro estágios:
- Período Sensório-Motor: do nascimento
aos dois anos: A inteligência trabalha através das percepções
(simbólico) e das ações (motor) através dos
deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência
prática.
- Período Pré-Operatório: dos dois aos sete anos:
Caracteriza-se pela interiorização dos esquemas de ação
construídos anteriormente no estágio sensório-motor.
A inteligência prática vai sendo substituída pela
inteligência representativa.
- Período Operatório Concreto: dos sete aos onze anos: É
o período em que o indivíduo consolida as operações
de número, substância, volume e peso. Diante de um problema
prático, suas respostas se apóiam nas configurações
perceptivas, ou seja, nas aparências do fato observado.
-Período Operações Formais: dos onze aos catorze
anos: É o ápice do desenvolvimento da inteligência
e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo
ou lógico-matemático.
A inteligência não nasce pronta, ela vai se formando e transformando
durante o crescimento da criança e estimular o desenvolvimento
da inteligência nos bebês é essencial para aumentar
a capacidade cognitiva das crianças.
A partir dessas teorias é possível transformar a prática
pedagógica em uma ação significativa para as crianças,
através de um ambiente rico em estímulos (físicos,
intelectuais e sociais) que favoreçam o desenvolvimento da criança.
Como metodologia de trabalho são utilizadas várias brincadeiras
e diversos brinquedos tais como: fantoches, bolas, bonecas, brinquedos
de encaixe, livros infantis, brincadeiras que exploram exercícios
físicos em forma de circuito de obstáculos (em colchões
e almofadas), apresentação aos bebês de palavras,
imagens e audições musicais, com músicas clássicas
e infantis. Nesta metodologia a professora exerce um papel primordial,
pois ela é responsável em organizar o espaço no qual
a criança irá explorar e deve saber o momento adequado no
qual pode interferir ou apenas observar as crianças.
O desafio é o de organizar um espaço de acordo com os objetivos
pedagógicos, superando os modelos rígidos da escola, casa
ou hospital, como sugere Ana Lúcia G. Faria.
Segundo Faria (1999), “(…) as instituições
de educação infantil deverão ser espaços que
garantam o imprevisto (e não a improvisação) e que
possibilitarão o convívio das mais variadas diferenças,
apontando para a arbitrariedade das regras (daí o jogo e a brincadeira
serem tão importantes, iniciando o exercício da contradição,
da provisoriedade e da necessidade de transformações)”
(p.70).
O espaço físico no CECI é mais que
apenas uma metragem, é um ambiente onde são valorizados
as diversas formas de expressão e os saberes espontâneos
infantis.
As professoras estão constantemente interagindo com as crianças,
para que o interesse pelas atividades seja estimulado e para que não
haja monotonia pelo uso habitual de materiais e objeto.
No CECI não há dias pré-determinados para a realização
de atividades, elas são planejadas e selecionadas no dia, indo
ao encontro das vontades e necessidades das crianças e do grupo.
Nas diversas atividades diárias realizadas, há o estímulo
do desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social, seja através
da seleção dos espaços, materiais, brinquedos, conversas,
brincadeiras, escolhas musicais, danças, movimentos e gestos corporais.
Há momentos em que as músicas são mais agitadas e
as professoras dançam com as crianças, momentos de músicas
clássicas para tranqüilidade e relaxamento, momento das músicas
infantis com ritmos alegres e palavras de fácil compreensão.
Existem momentos que brincamos com as crianças no salão,
outros que vamos para a área externa e preparamos o ambiente para
a criança explorar.
A interação das crianças com a natureza também
é fundamental na prática pedagógica. A consciência
de respeito e preservação da natureza e de outros seres
vivos deve fazer parte das experiências infantis desde os primeiros
meses de vida.
Temos no CECI duas tartarugas de estimação, uma área
com grama, árvores e vários pássaros que posam por
lá e freqüentemente as crianças correm atrás
dos pássaros em busca de descobertas. Nos dias de verão
e muito calor, as crianças brincam nas piscinas infantis (infláveis),
embaixo das torneiras, depois vão ao sol, brincam na terra, correm,
pegam brinquedos e depois voltam para a água, ou seja, brincam
livremente e têm autonomia na escolha de sua atividade.
“O espaço, externo e interno, deve permitir
o fortalecimento da independência das crianças: mesmo sendo
seguro, não precisa ser ultra-protetor, isto é, em nome
da segurança não deve impedir experiências que favoreçam
o auto-conhecimento dos perigos e obstáculos que o ambiente proporciona”.(FARIA,
1999, p.79).
Isso é bem visível no CECI, pois as crianças
andam e brincam na área externa, sobem e descem a rampa, degraus,
sobem nos bancos, nos brinquedos um pouco mais altos, sempre observados
e orientados pelas professoras.
Na creche a criança tem a possibilidade de brincar com materiais
e brinquedos de diferentes dimensões, muito maiores do que aqueles
que os espaços domésticos permitem, enriquecendo assim,
a sua habilidade motora e as suas experiências com materiais e objetos
diversos, além da interação criança-criança,
seja da mesma idade ou de grupos heterogêneos, que permitem um enriquecimento
nas relações sociais.
Enfim, o brincar na escola é totalmente diferente do brincar em
casa. Na escola o professor tem um papel fundamental ao intervir de forma
intencional no brincar de modo a desenvolver as capacidades infantis.
O brincar na escola é um brincar organizado, onde o tempo e a diversidade
das atividades do material são planejados pela professora, levando-se
em conta a faixa etária, diversidade de interesses e o nível
de desenvolvimento de cada aluno: como o aluno está, o que precisa
alcançar e de que forma a professora poderá organizar e
planejar o brincar a fim de atender os objetivos a serem alcançados.
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