Norma Barbosa Novaes – Faculdades Integradas
Fafibe- FAFIBE
I. Introdução
Este trabalho pretende relatar os resultados de uma experiência
sobre construção de propostas de práticas de ensino
de leitura e produção textual. Sobretudo, o intuito é
o de analisar a importância da formação reflexiva,
que conduz a mudanças e tomadas de decisões informadas pelo
processo de reflexão, pois, conforme aponta Magalhães (2003),
o professor, ao pensar sobre a própria prática, pode modificá-la
conscientemente.
Com foco na formação de professores de língua materna,
busca-se, por meio de reflexões teórico-práticas
e ações didáticas desenvolvidas no projeto - aliadas
aos estudos teórico-metodológicos estudados no Curso de
Letras -, formar um profissional com uma postura reflexiva e crítica
diante dos problemas do cotidiano escolar, o que o tornará capaz
de apresentar soluções adequadas para a superação
de desafios.
Objetiva-se assim vivenciar a experiência de construção
de uma proposta de metodologia de ensino de língua portuguesa para
alunos do ensino fundamental, relativamente à leitura e produção
textual, com o fim de despertar ou ampliar nos alunos o interesse pela
leitura e pela escrita, e demonstrar que esses atos são prazerosos
e construtivos, pois, além de propiciar a fruição,
desenvolvem o senso crítico e ampliam a visão de si mesmo
e do mundo.
Assim, o alvo é a pesquisa de ações didático-pedagógicas
que promovam oportunidades de reflexão sobre a importância
e as funções da leitura e escrita como possibilidade de
construção da identidade e exercício de cidadania,
quando consideradas atividades sociais e não simplesmente como
conteúdos escolares. Vistos desse prisma, estudos teórico-metodológicos
sobre leitura e produção textual são abordados com
o objetivo de possibilitar aos futuros professores a percepção
de que uma prática de ensino eficaz vê escrita e leitura
a partir de uma perspectiva social, ligada às vivências do
cotidiano. Logo, a escola tem a função de preparar esse
aluno para o exercício de sua cidadania, ao trabalhar com o desenvolvimento
das competências leitora e escritora.
No projeto em desenvolvimento, atividades de ensino-aprendizagem são
planejadas pelos graduandos do Curso de Letras, sob orientação
de um professor, e desenvolvidas com alunos de uma quinta série
de uma escola pública, engajada em uma parceria com a instituição
de ensino superior. Esses alunos freqüentam a escola regularmente
e, semanalmente, em período adverso, vêem a instituição
para participar de um macro-projeto que envolve também outros cursos
de licenciatura.
II. Metodologia do trabalho
No projeto em andamento, para embasamento das práticas
desenvolvidas, há momentos de estudo de referenciais teóricos
e metodológicos sobre os objetos de ensino. Conforme orientam os
princípios modernos de pesquisa, as ações de formação
são pautadas por constante ação-reflexão-ação.
Estão previstos momentos de estudo de referenciais teóricos
e metodológicos sobre os objetos de ensino, aliados a momentos
de análise das experiências em sala de aula, na tentativa
de intensificar e fazer partilhar a reflexão sobre a prática
e de aliar os conceitos estudados e as práticas de sala de aula,
o que possibilita uma análise pormenorizada da abordagem e da metodologia
utilizadas. Para esse fim, os instrumentos usados são os diários
do pesquisador e os relatos orais.
A sistemática de trabalho com o público alvo envolve leituras
compartilhadas, análise de textos e produções textuais
dos próprios alunos. A gama de atividades propostas tem como propósito
desenvolver a leitura, interpretação e produção,
oral e escrita, dos diversos gêneros.
III. Pressupostos teóricos
Para formar professores com a perspectiva almejada, é
necessário estimular a formação reflexiva, que conduz
a mudanças e tomadas de decisões informadas pelo processo
de reflexão sobre a prática.
Assim, no percurso do projeto, prevê-se constante reflexão
sobre a ação pedagógica em sala de aula, no intuito
de fazer perceber que o olhar determina o caminho por onde e como se pode
andar. Essa é uma oportunidade em que são mobilizados os
conhecimentos sobre a prática educativa, na tentativa de se acabar
com o considerado hiato entre objetos de ensino e objetos científicos.
O intuito é o de se discutir sobre a mudança de postura
frente ao conhecimento, conforme vem sendo indicada há tempos pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Para isso, tomam-se dois pressupostos, apontados por Reinaldo (2001, p.161):
i) é necessário construir competências profissionais
específicas, representadas pela mobilização de conhecimento
especializado, dos esquemas de ação e atitudes do professor;
ii) tais competências são indissoluvelmente teóricas
e práticas e resultam do processo de reflexão sobre a prática
docente.
Em entrevista à Revista Salto , Antonio Nóvoa, comentando
sobre o professor pesquisador e reflexivo, afirma que não basta
deter o conhecimento para o saber transmitir a alguém, mas ser
capaz de compreender, reorganizar, reelaborar e ainda transpô-lo
para uma situação didática em sala de aula. Assim,
a experiência, para o autor, seria importante, mas essa experiência
somente se transforma em conhecimento por meio da análise sistemática
das práticas, por meio da ação reflexiva, um aspecto
que caracteriza o professor indagador, que assume sua realidade como objeto
de pesquisa. Esse conhecimento, não é disciplinar nem pedagógico,
mas advém da prática, da reflexão sobre a experiência.
Para ele, esse conhecimento profissional é essencial para os professores
do milênio. Pode-se então ponderar sobre a forca que essa
postura implica no desenvolvimento do trabalho docente, pois refletir
sobre o que se pensa e o que se faz pode levar o professor perceber suas
crenças e concepções, pois, por meio desse ato, ele
analisa os conteúdos selecionados, a forma como avalia, a postura
de intervenção, o contrato didático na sala de aula,
etc .
Vale salientar que a reflexão não pode ter um fim em si
mesma ou então ser usada apenas para justificar uma ação,
mas, pelo contrário, deve ter como objetivo melhorar o ensino e
tornar o professor mais consciente e, portanto, melhor.
Desse modo, a prática reflexiva é hoje uma necessidade do
professor, que se vê obrigado a rever sua postura frente às
mudanças provocadas pelos avanços sociais e tecnológicos.
A escola de hoje se apresenta de forma diferente, inserida em um espaço
muito heterogêneo, tanto do ponto de vista cultural como social,
e muitos professores, na contramão desse processo de evolução,
ainda se mantêm presos a hábitos e culturas advindos de sua
formação escolar, o que, naturalmente, delimita muitas de
suas ações de ensino. Assim, surge a necessidade de se repensar
a prática docente, na tentativa de se aprimorar as ações
desenvolvidas para se alcançar os objetivos educacionais.
Além disso, como salienta Macedo (2005), a escola passou a assumir
muitas funções socioculturais antes delegadas à família
e assim muitos alunos convivem muito mais com professores do que com os
próprios pais. Para dar conta dessa complexidade de relações,
não basta, como diz o autor, que o professor aja apenas com base
no bom senso ou mesmo em sua experiência familiar nem, por outro
lado, dispor de uma boa formação nas matérias ou
disciplinas escolares. Mais do que agir assim, é necessário
refletir sobre essas ações.
Para esse autor:
Reflexão significa envergar-se de novo, em outro
espaço, em outro tempo, talvez em outro nível. Para isso,
o que acontece no domínio da experiência, por exemplo, necessita
ser mais bem observado, recortado, destacado e projetado em um outro plano.
Reflexão consiste, pois, em um trabalho de reconstituição
do que ocorreu no plano da ação. Além disso, trata-se
de organizar o que foi destacado, de acrescentar novas perspectivas, de
mudar o olhar, de se descentrar. A hipótese é que, assim,
isso produzira benefícios para a ação. Então
refletir é ajoelhar-se diante de uma prática, escolher coisas
que julgamos significativas e reorganizá-las em outro plano, para,
quem sabe, assim podermos confirmar, corrigir, compensar, substituir,
melhorar, antecipar, enriquecer, atribuir sentido ao que foi realizado.
(MACEDO, 1995, p. 35)
O autor discute ainda sobre as novas competências
e habilidades dos professores de hoje, que vivem em uma realidade educacional
em que a exclusão pelas dificuldades de aprendizagem não
pode existir. Afinal, atualmente se vê de forma indissociável
a relação entre ensino e aprendizagem, sendo consideradas
como complementares. Em outras palavras, hoje, se o aluno não aprende,
isso não é mais um problema apenas dele, mas é algo
sobre o que o professor deve pensar, refletir. Para resolve isso, é
importante, segundo o autor, que o professor também se disponha
a aprender, para que esteja efetivamente preparado para, como na definição
acima, “...confirmar, corrigir, compensar, substituir, melhorar,
antecipar, enriquecer, atribuir sentido ao que foi realizado.”
Na concepção do autor, não pode haver dissociação
entre prática e reflexão, mas sim uma relação
de cooperação ou reciprocidade, de forma a uma complementar
outra. Assim, em termos práticos, isso significa que será
sempre necessário refletir sobre as próprias ações,
tanto as já realizadas quanto as por serem realizadas, mesmo que
em meio às constantes adversidades presentes no ambiente escolar.
Macedo (op. cit) destaca alguns obstáculos a serem enfrentados
para se conseguir alcançar a almejada prática reflexiva,
dentre eles o desafio de conviver com a dupla função da
reflexão (auto-observação ou descrição
e ao mesmo tempo transformação e emancipação);
incluir o antes e o depois da ação, possibilitados pela
reflexão, com o seu durante. No primeiro caso, o propósito
é o de essa prática se tornar um móvel de transformação
e de emancipação de formas rígidas, obsoletas ou
insuficientes de realização. Isso significa rever posturas
e padrões, o que implica assumir também as conseqüências
das percepções advindas dos processos.
Por outro lado, pensando-se na formação do professor formador,
esse tipo de trabalho complementa o trabalho de formação
docente, uma vez que permite conhecer e dominar questões de sala
de aula e assim atende a uma das exigências desse trabalho, conforme
salientam os Referenciais para formação de professores (1999):
...a competência do professor formador passa pela
capacidade de analisar o trabalho dos professores com vistas a uma constante
revisão e desvelamento das crenças subjacentes às
ações dos professores, de modo a intervir com sucesso no
desenvolvimento da competência profissional. O trabalho de formação
requer para os formadores um espaço de interlocução
em que possam analisar a própria prática de formação,
a de outros formadores, e também as atividades dos professores.
(p. 77)
Esses mesmos referenciais relatam que o conhecimento
pedagógico do professor é construído quando ele “..investiga,
reflete, seleciona, planeja, organiza, integra, avalia, articula experiências,
recria e cria formas de intervenção didática juntos
aos alunos para que eles avancem em suas aprendizagens.” (op. cit,
p.108) Com essa atitude investigativa, o professor questiona sua própria
prática, atendo-se as suas crenças e concepções
de ensino de forma geral e de conteúdos específicos. Assim,
ele deve refletir sobre “ o quê”, “ como”,
“para quê” e “quem” irá aprender,
com vistas a encontrar boas situações de aprendizagem para
seus alunos.
Acredita-se que todo profissional deseja êxito em suas ações.
Para melhorar sua prática,
Provavelmente, a melhoria de nossa atividade profissional,
como todas as demais, passa pela análise do que fazemos, de nossa
prática e do contraste com outras práticas. Mas certamente
a comparação com outros colegas não será suficiente.
Assim, pois, frente a duas ou três posições antagônicas,
ou simplesmente diferentes, necessitamos de critérios que nos permitam
realizar uma avaliação racional e fundamentada. (ZABALA,
1998, p. 14)
Assim, a busca passa pela necessidade de se dominar conhecimentos, de
referenciais que possibilitem a análise e a interpretação
das ações em sala de aula. Isso permitirá não
somente a reflexão, mas a ação necessária
após refletir, ao se pensar novamente em planejar. Isso só
é possível mediante critérios de análise estabelecidos,
fundamentados em uma base teórica pertinente e adequada.
IV. Práticas de leitura e escrita
Dentre os pressupostos teóricos adotados para o
desenvolvimento do projeto, o relativo aos conhecimentos didáticos
foi o da classificação dos conteúdos da aprendizagem,
discriminados por Coll (1986, apud Zaballa, 1999): os conteúdos
conceituais (o saber), os procedimentais (o fazer) e os atitudinais (o
ser). Obviamente, todos os conteúdos são trabalhados em
todas as instâncias, pois como salienta o autor, uma proposta de
ensino não pode ser compartimentada por tipos de conteúdos,
já que aprendizagem deve sempre fazer sentido, e assim estar relacionada
a todos os componentes que intervêem e que a tornam compreensível
e funcional. Assim, em toda aprendizagem devem ser trabalhados conteúdos
de diferentes natureza, com conhecimento, por parte do professor, “...das
características das distintas atividades que compõem tais
processos e a incidência que cada uma delas tem na aprendizagem
dos distintos conteúdos que são trabalhados.” (ZABALA,
1999, p. 9)
Sem perda dessa visão global e integrada de ensino e aprendizagem,
o olhar das atividades foi direcionado para os conteúdos procedimentais,
especificamente para os processo de leitura, escuta, fala e escrita, caracterizados
como tais por serem ações ordenadas e dirigidas para um
fim, logo, um saber fazer. Tais conteúdos são aprendidos
por meio de modelos dados. O autor aponta algumas questões a serem
ponderadas para a aprendizagem desses conteúdos, tais como: realizar
ações (só se aprende fazendo), exercitar-se (execução
de diferentes tipos e números de atividades), reflexão sobre
a atividade (pensar sobre o modo e as condições de uso)
e aplicação em contextos diferenciados (uso em variadas
situações). Por outro lado, elenca também algumas
condições a serem atendidas no tocante ao ensino desses
conteúdos: partir de situações significativas e funcionais
(clareza dos objetivos e funções), progresso e ordem (seqüência
clara e gradual), apresentação de modelos (apreensão
de parâmetros de realização), prática orientada
e ajudas de diferentes graus (intervenção pontual e gradativamente
decrescente do professor), trabalho independente (autonomia do aluno).
Esses foram pontos norteadores do tratamento didático dado às
atividades do projeto, já que apresentam, dentre outras propostas,
as condições necessárias para atender a uma proposta
de ensino de língua materna, especificamente no tocante ao desenvolvimento
das competências leitora e escritora.
Outro aspecto que complementa a visão didática do projeto
diz respeito ao sentido que as atividades de leitura e escrita devem ter
para o aprendiz. Lerner (1996), nessa perspectiva, denomina esses sentidos
de propósitos didáticos e propósitos comunicativos:
o primeiro é aquele constitutivo da prática social da leitura,
com o objetivo de que o aluno possa reutilizá-los no futuro, em
situações não-didáticas; o segundo faz referência
ao fato de a leitura e a escrita terem sentido e funcionalidade para o
aluno. Deve haver uma articulação entre propósitos
didáticos e comunicativos, para que os propósitos sociais
(ler e escrever para resolver um problema, informar-se, buscar informações
específicas, divertir-se etc.) sejam percebidos pelos alunos. Isso
significa que as atividades precisam ter uma significação
imediata para o aluno, pois assim o desejo de aprender será mobilizado.
As atividades desenvolvidas no projeto, como já dito, tinham como
meta o trabalho com leitura e produção de textos de diferentes
gêneros. Para a etapa inicial, foram previstas atividades com o
fim de despertar ou ampliar nos alunos o interesse pela leitura e pela
escrita e demonstrar que esses atos são prazerosos. O foco nesse
aspecto se deveu ao fato de, pelo conhecimento da história escolar
dos alunos da escola parceira, perceber-se um fraco interesse pela leitura
e, sobretudo, dificuldades na produção de texto, uma realidade
muito comum na escola brasileira.
Assim, para atender a esse fim, optou-se por trabalhar com os alunos um
projeto de leitura e análise de textos, cujo produto final seria
apresentado a um público previamente selecionado. O público
escolhido pelas próprias crianças foi a comunidade de dois
lares de idosos da cidade. Devido às características do
grupo, propôs-se ainda que, no momento da visita, os alunos conversassem
com os idosos e ouvissem suas histórias de vida, visando a uma
futura publicação das ‘memórias’ dos
idosos residentes naqueles espaços. Novamente, nessa nova etapa,
haverá a oportunidade de se ter um objetivo funcional para a produção
de textos, o que permitirá aos participantes do projeto desenvolver
habilidades de ouvir, escrever, ler, reler, revisar, corrigir, reconstruir,
enfim, participar de todo o percurso de elaboração de texto
com leitores fora do contexto escolar.
Vale aqui ressaltar que, no entanto, esses propósitos comunicativos
somente foram apresentados aos alunos na segunda atividade planejada,
e assim, a partir desse momento, a motivação foi totalmente
modificada, pois agora eles estariam lendo e construindo textos não
apenas para os seus pares ou para seus professores, mas para um leitor
real, no caso, pessoas que estariam ali exclusivamente para isso. Tal
estratégia revelou nitidamente o que Lerner (1996:17) aponta sobre
a leitura: “Para que se constitua também em objeto de aprendizagem
é necessário que tenha sentido do ponto de vista do aluno,
o que significa, entre outras coisas, que deve cumprir uma função
para a realização do propósito que ele conhece e
valoriza.” Naquele contexto, realizar as atividades passou a ser
altamente significativo e desafiador, o que motivou os alunos para a seqüência
de todas as atividades planejadas e assim o processo se tornou mais produtivo.
Por meio desse olhar com uma perspectiva de terem “leitores”
de seus trabalhos, os alunos puderam ver então que não só
se lê em voz alta nem se escreve apenas para ser avaliado, mas para
que alguém os escute, leia e possa entender o texto lido, e assim
divertir-se, refletir, comover-se etc. Viram que, no caso, é preciso
ler (e bem alto) para que os idosos os ouvissem e que, para isso, precisariam
ler pausadamente, pronunciando bem as palavras e respeitando as marcas
características do texto escrito. Isso sem mencionar como, no dia
da visita, o clima de alegria, respeito e solidariedade tomou conta de
todos os que estavam presentes. Pode-se vislumbrar assim como é
possível trabalhar com a educação, e que, por meio
dessa, realmente há como transformar uma realidade social...
Por outro lado, pensando nos pressupostos teóricos do projeto,
todas as atividades foram trabalhados os conteúdos conceituais
e atitudinais, com ênfase nos procedimentais. Sobretudo, foram consideradas
as orientações dadas para o tratamento desse último:
partia-se sempre de situações significativas e funcionais,
com clareza dos objetivos e funções; as seqüências
das atividades eram sempre claras e com nível de dificuldade gradual;
havia constante apresentação de modelos, para apreensão
dos parâmetros de realização, sobretudo com uma prática
orientada e ajudas de diferentes graus, com intervenção
pontual e gradativamente decrescente dos professores, visando a um trabalho
independente, com conquista da autonomia do aluno.
Encerrada essa primeira etapa do projeto, cuja ênfase foi a motivação
do aluno, de modo a construir a idéia de que ler e escrever são
atos prazerosos e têm uma finalidade social, buscar-se-á
na próxima fase desenvolver no aluno a percepção
de que ler e escrever são atos de cidadania, de construção
de identidade, pois ambos os processos são construtivos. Serão
trabalhadas então a diversidade de propósitos e de modalidades,
a diversidade de textos e a diversidade de combinação entre
eles. Como salienta Lerner, esse caminho permite ver esses processos em
sua complexidade como prática social, em sua verdadeira função
social.
V. Considerações finais
Apoiados nas aulas desenvolvidas, os dados agora serão
analisados, na tentativa de se ponderar sobre os avanços que as
crianças tiveram em suas habilidades lingüísticas,
com base em uma perspectiva reflexiva. Essa etapa prevê, como apontado
por Macedo (2005, p.35), “...um trabalho de reconstituição
do que ocorreu no plano da ação, organizar o que foi destacado,
de acrescentar novas perspectivas, de mudar o olhar, de se descentrar.
A hipótese é que, assim, isso produzirá benefícios
para a ação.”
Os focos previstos para a prática reflexiva são vários,
indo desde a busca de formas alternativas de ensino ou conduta pedagógica
ate o próprio questionamento dos conhecimentos internalizados pelo
professor.
É esse o caminho pretendido: analisar as concepções
e atitudes que nortearam o trabalho, para rever e, quiçá,
redirecionar a postura em sala de aula, sempre na expectativa de se desenvolver
com a máxima eficiência uma proposta de ensino de leitura
e produção de textos.
Espera-se que o projeto consiga explicitar a importância da formação
de alunos leitores e escritores competentes para sua efetiva participação
na cultura letrada, por meio de ensino e a aprendizagem da leitura e escrita
significativas.
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REINALDO, Maria Augusta G. de M. “Diversidade textual e ensino de
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ZABALA, Antoni . A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre:
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