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FORMAÇÃO
CONTINUADA DE PROFESSORES: UM CAMINHO PARA MUDANÇA DA PRÁTICA
PEDAGÓGICA?
Maria Célia Santos Nunes - Profª.
da REME/Três Lagoas/MS
Este trabalho vem ilustrar a política de implantação
do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores –
PROFA, desenvolvido na Rede Municipal de Educação de Três
Lagoas MS, no período de 2002 a 2004. Por outro lado, vem também
refletir acerca dos determinantes pessoais e políticos capazes
de limitar a continuidade de ações, que representam o sucesso,
avanços e mudança do perfil da Educação no
Município.
Explicitarei, inicialmente, sobre as concepções teóricas
e sua importância no processo de formação continuada
docente.
A formação contínua contribui decisivamente para
a melhoria da qualidade de ensino, pois consiste em uma tentativa de resgatar
a figura docente, qualificando-o e proporcionando-lhe autonomia profissional,
pois como diz Freire (1979, p. 17-28) educação é
uma busca constante do homem e sua ação se dá num
processo dialético, “[...] o homem não pode ser objeto
dela. Por isso ninguém educa ninguém”. A gente se
faz educador, a gente se forma educador, permanentemente, na prática
e na reflexão da prática.
Pesquisas recentes apontam a necessidade da reflexão na prática
do professor, refletir criticamente é colocar-se no contexto histórico-social
da ação docente, participar ativamente dos problemas de
sua sala de aula e além das mesmas, tomando postura e propondo
solução aos problemas emergentes juntos a seus pares. De
acordo com Freire (idem, p. 17-28), “Não pode haver reflexão
e ação fora da relação homem-realidade”,
portanto o homem está sempre interagindo com a natureza, faz parte
da mesma, a modifica e é modificado por ela. Conceber a educação
fora desse contexto histórico é utopia, pois a educação
não se faz no vazio e sim, na reflexão e interação
com os pares e o meio.
Sob essa perspectiva de formação docente, a prática
ocupa papel central de todo currículo, assumindo-se como lugar
de aprendizagem e de construção do pensamento prático
do professor, em que tenha oportunidade de refletir sobre os problemas
e a dinâmica colocados pela sua atuação cotidiana.
Ao falarmos de reflexão, ensino reflexivo estamos nos referindo
à aquisição do saber como fruto de uma atividade
planejada, refletida. Zeichner cita Dewey, como precursor no que tange
à preocupação com a reflexão no processo pedagógico:
[...] precursor da concepção de ensino reflexivo definiu
a ação reflexiva como sendo uma ação que implica
uma consideração ativa, persistente e cuidadosa sobre aquilo
em que se acredita ou que se pratica, à luz dos motivos que o justificam
e das conseqüências a que conduz [...] e uma maneira de encarar
e responder aos problemas, uma maneira de ser professor. (ZEICHNER, 1993,
p.18).
A concepção
moderna de educador exige um profissional inovador, atualizado e em busca
do aperfeiçoamento, já que a formação inicial
representa tão somente um caminho a ser trilhado, que exige prática,
pesquisa, estudo, reflexão em busca de competências, colocando
alguns desafios ao processo de formação, de acordo com Sá-Chaves,
estes representam:
[...] desafios
à reflexão pessoal e coletiva, enquanto processo e instrumento
de conscientização progressiva, de desenvolvimento continuado
e partilhado, de persistência na investigação constante,
enquanto fonte de novos informes, de crença, de algum modo sublime,
na hipótese de o homem vir a descobrir-se e a encontrar-se com
a sua humanidade (SÁ-CHAVES, 2001, p.89).
A formação
continuada é indispensável e necessária à
construção de um novo currículo tendo como referência
a reconstrução permanente do próprio conhecimento
por meio da reflexão sobre a prática pedagógica,
essa é uma das principais estratégias para a conquista de
uma educação escolar de qualidade.
Visando assegurar esse direito ao aluno, o professor precisa ter assegurado
seu direito, a uma formação que lhe permita atuar nos moldes
das exigências colocadas. Ao se falar de formação
docente têm-se duas dimensões que produzem o processo: a
formação inicial e a formação continuada,
sendo que, a formação continuada é da própria
natureza da profissão docente. Fávero, (1995, p. 65), realiza
uma crítica quanto ao distanciamento entre teoria e prática,
distanciamento este, que os professores também colocam quando,
ao saírem da graduação, passam a exercer uma atividade
docente. Segundo o autor:
Não
é só freqüentando um curso de graduação
que o indivíduo se torna profissional. É sobretudo, comprometendo-se
profundamente como construtor de uma práxis que o profissional
se forma. A partir de sua prática, cabe a ele construir uma teoria,
a qual, coincidindo e identificando-se como elementos decisivos da própria
prática, acelera o processo, tornando a prática mais homogênea
e coerente em todos os elementos.
Há
a necessidade de uma atividade permanente de reflexão para a prática
e desenvolvimento profissionais. No que se refere à formação
inicial, é indispensável para o acesso ao campo profissional,
mas não é suficiente para responder à dinâmica
da produção do conhecimento e da carreira. Tal preocupação
também é demonstrada por Nóvoa, ao discutir aspectos
da formação e a profissão docente, enaltecendo a
prática da reflexão:
A formação
deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça
aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite
as dinâmicas de autoformação participada. Estar em
formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre
e criativo, sobre os percursos e os projetos próprios com vistas
à construção de uma identidade, que é também
uma identidade profissional. (NÓVOA, 1992, p. 25).
Um novo perfil
de professor é apontado, mesmo porque a Lei de Diretrizes e Base
nº. 9394/96 exige um profissional comprometido com a sua formação,
com direito de estudar para aperfeiçoamento continuado e aprimoramento
da capacidade objetivando o avanço qualitativo da aprendizagem
e sucesso dos alunos.
Assim sendo, a formação não ocorre por meio de acúmulos
de cursos, conhecimento ou técnicas, mas a partir das reflexões.
Nos últimos tempos iniciaram-se, reflexões e pesquisas destinadas
a desenvolver uma nova concepção de formação
continuada. Por meio de um trabalho de reflexão crítica
sobre a própria prática. Conforme o autor em pauta: “Este
paradigma prevê a preparação de professores reflexivos,
envolvendo experimentação, inovação, ensaios
de novos modos de trabalho pedagógico, reflexão crítica
sobre sua utilização, ou seja, processos de investigação,
diretamente articulados com as práticas educativas”. (id
ibid)
Em meu percurso profissional almejo essa prática reflexiva, para
tanto, apresento minha experiência enquanto Formadora do Programa
de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA, demonstrando
desde sua implementação, os primeiros passos trilhados,
o envolvimento de todos os docentes até os resultados colhidos.
Não posso deixar de relatar, contudo, que a atual conjuntura política
reflete o descaso das políticas públicas, a nível
nacional, que contribui para engendrar um quadro de perplexidade educacional,
tornando visível tal quadro na Rede Municipal de Ensino de Três
Lagoas, MS.
Assim, em 2001, ao ser convidada para participar do quadro de profissionais
da Secretaria Municipal de Educação, na função
de Técnica Pedagógica, na área de Alfabetização
constatei que a formação continuada na Rede Municipal de
Ensino limitava-se a cursos centrados em conteúdos (os currículos
consistiam em listas de conteúdos a serem seguidos sistematicamente
e rigorosamente), esses cursos se efetivavam esporadicamente em oficinas
nas quais as atenções dos professores centravam-se nos modelos
de atividades, sendo que, a ênfase era dada à reciclagem
docente, ou seja, refazer ou atualizar o ciclo de formação
outrora recebida, pois acreditavam que a teoria não se vinculava
a prática. Grande equívoco! Teoria e prática são
indissociáveis, sempre há teorias embasando as práticas
mesmo que as desconheçam.
Weisz, (2003, p. 117-118), cita dois tipos de professores: aquele que
acredita que sua tarefa é simplesmente transmitir os conteúdos
e se esforça para que seus alunos aprendam a matéria tendo
como recurso o livro didático; o outro tipo de professor se configura
naquele profissional que trabalha com modelo de aprendizagens construtivistas,
pautadas pela metodologia da resolução de problemas, para
isso ele considera outras variáveis e toma outras tantas decisões,
o que se vale a assumir um alto grau de autonomia.
No Brasil, até meados dos anos 1970, o que prevalecia era o tecnicismo,
e, vez ou outra ocorria treinamentos. Na década de 1980, passou-se
a falar em capacitação em serviço. O ensino tinha
como função compensar as deficiências de formação
profissional. A visão docente na atualidade é de um profissional
que desenvolve uma prática complexa, seu papel agora tende a ser
mais exigente: cria, adapta situações de aprendizagem aos
alunos reais, estuda, reflete, está diretamente ligado ao seu fazer
pedagógico.
Nessa perspectiva, a adesão, junto ao MEC, ao Programa Parâmetros
em Ação – PCN surge como forma de contribuir para
a implementação de uma nova cultura de desenvolvimento profissional
no interior do sistema educacional da Rede Municipal de Educação
de Três Lagoas-MS, representando o início de ações
que adaptavam o ensino e a aprendizagem face às exigências
de um desenvolvimento escolar consistente.
Para que a parceria se efetivasse foram necessários vários
encontros, dos primeiros encontros: formais e normativos, chegamos em
julho de 2001, momento da abertura do Programa Parâmetros em Ação.
É importante ressaltar que na ocasião fora nos colocado
alguns critérios dentre os quais destaco: a obrigatoriedade ao
desenvolvimento do módulo – Alfabetizar com Textos, que faz
parte dos PCNs como pré requisito para adesão ao Programa
de Formação de Professores Alfabetizadores- PROFA. Ao término
de 2001 estávamos com os profissionais docentes alfabetizadores
aptos ao ingresso no PROFA visto que haviam concluído o Módulo
Alfabetizar com Textos.
O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores é
um curso de formação, com carga horária de 180 horas,
destinado a professores e a todos que pretendem aprofundar seus conhecimentos
sobre o processo de ensino e aprendizagem no período de alfabetização.
Aborda especificamente o ensino e a aprendizagem iniciais da leitura e
da escrita.
O programa ainda oferece meios para criar um contexto favorável
para a construção de competências profissionais num
grupo de formação permanente, num modelo de trabalho pautado
no respeito aos saberes do grupo e em metodologias de resolução
de problemas. Um programa que privilegia aqueles que são nucleares
na formação dos alfabetizadores.
A Rede Municipal de Educação de Três Lagoas implantou
o Programa de Formação Continuada de Professores Alfabetizadores
– PROFA tomando-o como direito do docente seguindo a Lei de Diretrizes
e Base da Educação Nacional, Lei nº. 9394/96 citar
o artigo, objetivando fundamentação teórica para
compreensão da prática visando transformá-la. Aspectos
do mundo social circunscrito à realidade, adequação
das atividades ao nível e interesse dos alunos, re-leitura das
diretrizes curriculares e a própria revisão da formação
foram discutidos e abordados no decorrer do curso.
Tivemos algumas dificuldades para a implantação do programa
em Três Lagoas considerando que 2002 era o ano de mudança
governamental, bem como um ano de avaliação. Reunimos todos
os esforços, mobilizamos pessoas para intervir junto ao MEC. Finalmente
conseguimos ser contemplados com o PROFA, porém, outros municípios
deveriam estar envolvidos para que obtivéssemos assessorias mensais
da Rede MEC. Conseguimos, a adesão de dois municípios sul-matogrossenses:
Ribas do Rio Pardo e Água Clara.
O PROFA foi iniciado, portanto, em 2002, inicialmente com 60 professores
(da Educação Infantil - Pré III, 1ª e 2ª
séries A Secretaria de Educação optou por continuar
com o regime seriado, conforme autonomia concedida através da LDB
Nº 9394/96 nos artigos 23 e 32 facultando a organizar a escolaridade
em séries ou ciclos:
Art. 23 –
A educação básica poderá organizar-se em série
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular
de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na
idade, na competência e em outros critérios, ou por forma
diversa de organização, sempre que o interesse do processo
assim o recomendar.
Art. 32 – O ensino fundamental, com duração mínima
de 8 anos, obrigatório e gratuito na escola pública, terá
por objetivo a formação básica do cidadão,
mediante:
Parágrafo 1º - É facultado aos sistemas de ensino desdobrar
o ensino fundamental em ciclos. (Grifo meu).
Em meio
a muitos questionamentos gerados pela insegurança do novo. Foi
um caminho de receios e hesitações por parte dos envolvidos,
considerando que o programa de formação continuada demandaria
investimento de tempo recursos, preparo e conhecimento. Gradativamente
os professores foram estudando e desenvolvendo a metodologia em suas salas.
Reuníamos mensalmente com a coordenadora para sanarmos nossas dúvidas
enquanto formadoras, afinal também estávamos num processo
formação.
O desenvolvimento do programa foi conquistando seu espaço despertou
o interesse dos outros educadores. Em 2003, oferecemos a formação
para 112 educadores, dentre eles, coordenadores e diretores de escolas,
haja vista que o desconhecimento da proposta dificultava o trabalho dos
professores que já incorporavam a metodologia em suas práticas.
Nesse ano fomos parceiros do município de Brasilândia oferecemos-lhes
12 vagas com objetivo de difundir a proposta cada vez mais. A procura
pela formação não parou, desta vez havia o interesse
por parte dos professores de 3 ª e 4 ª séries que sentiam
a necessidade de compreender o processo de alfabetização
dentro de uma proposta construtivista. Contemplamos, assim, 84 professores
em 2004, atingindo, portanto 100% dos educadores do Ensino fundamental.
Desde a implantação do programa uma de nossas preocupações
foi a estruturar um trabalho pautado na proposta construtivista. Essa
estruturação efetivou-se a partir dos contatos com as idéias
de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, como em 2003 já não
tínhamos a assessoria do MEC, passei a participar de uma supervisão
continuada para a formação de formadores de professores
- Tematização da prática, ou seja, a mesma:
[...] está
diretamente vinculada à concepção de professor reflexivo,
que toma sua atuação como objeto para reflexão. Ser
um professor que pensa e toma decisões é ser um professor
que desenvolve o “saber fazer” e a compreensão do “para
que fazer”, articulando a reflexão sobre “o que”,
“como”, “para quê” e “quem”
vai aprender, de forma a garantir a seus alunos o acesso a boas situações
de aprendizagem. Para planejar intervenções didáticas
pertinentes e de qualidade, é preciso interpretar e analisar o
contexto da realidade educativa. (BRASIL, 2002, p. 109)
Os encontros
acontecem mensalmente com a Dra Telma Weisz, em São Paulo –
SP, tendo em vista que uma das tarefas enquanto formadora do PROFA é
contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores e conseqüentemente
para o próprio desenvolvimento, assim como o professor, o formador
também aprende ensinando. Nesses encontros a tematização
da pratica ocorre tomando a atuação do professor como objeto
de reflexão em toda complexidade possibilitando acionar uma série
de conhecimentos por meio das reflexões que favorecem o fortalecimento
do trabalho coletivo e do planejamento compartilhado, para a melhoria
do ensino e da aprendizagem no âmbito das escolas.
A nova concepção e os avanços obtidos na alfabetização
permitiram-nos um novo olhar sobre a perspectiva de competência
profissional. Assim concebida a atuação do professor, a
“[...] noção de competência designará
aqui capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar
um tipo de situação (Perrenoud, 2000 p.15)”. Vale
ressaltar que essa nova visão, preocupada com a qualidade fez com
que estivéssemos em constante capacitação por meio
da formação continuada sendo, pois necessário à
manutenção dessa formação visando aprimorar
a metodologia em nosso município.
Tivemos momentos preciosos de reflexões sobre o fazer pedagógico.
Como nos diz Telma Weisz “Ao aprendiz como sujeito de sua aprendizagem
corresponde necessariamente um professor sujeito de sua prática”.
O programa nos oportunizou atuar na construção efetiva de
intervenções pedagógicas adequadas, consistentes
e condizentes com os conhecimentos teóricos, por meio de experiências,
investigações e muitas reflexões, ou seja, os saberes
teóricos foram transformados em saberes práticos.
Atitude investigativa dos professores é um mergulho no mundo complexo
da prática pedagógica no qual ele se envolve afetiva e cognitivamente,
questionando as próprias crenças, propondo e experimentando
alternativas. (BRASIL, 2002, p 108). Essas atitudes estiveram presentes
nos depoimentos dos professores quando convidados a apresentá-los.
“Penso
que será melhor quando todos os profissionais estiverem participando
desses encontros e mudando suas posturas em relação à
sua prática pedagógica numa perspectiva construtivista”.
S. R.
“As mudanças de paradigmas não acontece num passo
de mágica, é preciso compartilhar, rever, estudar... ( A.L.)
“Todos
os profissionais envolvidos nesta nova proposta estão sendo desafiados
a crescer profissionalmente e já é notável nos relatos
em nossa rede de idéias e na atuação dos meus colegas.
(R.L.M.)”.
De modo geral,
percebemos que devemos considerar os elementos que estão relacionados
aos aspectos mais pessoais, tais como a formação do professor,
suas experiências anteriores, sua sensibilidade ao meio e disposição
para mudança.
O sucesso de qualquer proposta de formação continuada está
diretamente relacionada ao papel do professor. As possíveis mudanças
em suas praticas pedagógicas estão relacionadas ao que eles
pensam e fazem enquanto ensinam, pois quando os professores estão
implementando [...] numa inovação ocorre algumas mudanças
significativas, na medida em que o processo de implementação
é essencialmente um processo de aprendizagem. Garcia (1999, p.
167)
Para Jarvis
(apud Garcia, 1999, p. 56)
Qualquer
experiência ocorre numa dada situação, mas nem todas
as experiências resultam necessariamente em aprendizagem. E como
resultado da não aprendizagem, aponta três aspectos: a presunção
que ocorre quando a pessoa pensa que já sabe o ensinado; a não
consideração, quando não se levam em conta possibilidades
de respostas e a recusa da oportunidade de aprender.
A explicação
de Jarvis demonstrando a diferença de aprendizagens associa-se
a atual realidade da educação em Três Lagoas, onde
questões de ordem pessoal e política e o desejo de mudanças
cerceiam a plenitude da proposta.
O contexto institucional é fator preponderante para o desenvolvimento
e continuidade das propostas educacionais. Sabemos que os limites de um
curso de formação para a aprendizagem docente são
determinados pelas condições e disposições
dos educadores. Mudanças em relação à aquisição
de conhecimentos podem não implicar necessariamente mudanças
em suas praticas, sendo, pois indispensável uma sustentação
na continuidade da proposta, o que não ocorreu como nos diz Telma
Weisz em nossos encontros “[...] a educação como qualquer
esforço coletivo da humanidade anda dois passos para frente, um
para traz”.
É com pesar que observamos em algumas situações o
ensino retroceder a uma prática tradicional na qual o sistema local
nega e ignora o saber outrora construído. Vale ressaltar que há
educadores que acreditam na proposta de formação continuada
e buscam compreender e atuar pautados nos pressupostos teóricos-metodológicos,
porém a descontinuidade da proposta educacional e das modificações
acarretadas por elas, se reflete de forma negativa nas práticas
pedagógicas. A cada nova proposta implementada os professores se
vêem diante da tarefa de conhecer as inovações preconizadas,
refletir sobre elas e readaptar suas práticas de acordo com os
novos pressupostos.
Nesse sentido, Freire (1996, p.43) afirma que: “É pensando
criticamente a prática hoje ou de ontem é que se pode melhorar
a própria prática”. Experiências adquiridas
fazem-nos perceber que os estudos são infinitos, não acabam,
se reiniciam de maneira ordenada com uma visão mais produtiva,
positiva e esperançosa, pois desses momentos de reflexões,
estudos e debates, efetiva-se uma consciência de mudança.
Para além do entendimento das suas práticas pedagógicas
lançamos um olhar sobre a pessoa do professor, pois, como afirma
Nias (1991,apud Nóvoa, 1995) “O professor é a pessoa:e
uma parte importante da pessoa é o professor” (p.15) e complementa
Nóvoa (op. cit.), a maneira como cada um de nós ensina está
diretamente dependente daquilo que somos como pessoa quando exercemos
o ensino”. (p.17) a compreensão dos processos de mudanças
na prática pedagógica passa, portanto, pelo entendimento
da forma como cada uma delas constrói sua identidade profissional,
concebida enquanto espaço de elaboração de maneiras
de ser e estar na formação.
Durante o desenvolvimento do programa evidenciamos a importância
dos profissionais saberem administrar se próprio processo de formação.
Perrenoud (2000, p. 155) afirma “[...] uma vez construída,
nenhuma competência permanece adquirida por simples inércia”.
A propósito é importante destacar que mesmo com a ruptura
no sistema, alguns profissionais que aderiram a proposta continuam por
efetivá-la em suas unidades escolares, tal o grau de compromisso
com uma alfabetização construtivista. Reporto-me a Perrenoud
(2000, p.165) “[...] inúmeros estabelecimentos em que a cooperação
profissional é incipiente, é justamente em torno de formação
contínua que ela pode começar”.
Deparamos com um campo antagônico em nosso município: ao
longo dos últimos anos os educadores contaram com um programa que
veio ao encontro da transformação e aprimoramento da atual
prática docente; no entanto, foi ignorado todo investimento educacional.
A gênese de um processo de formação não pode,
então, apoiar-se em hábitos de trabalho conjuntamente construídos,
é preciso que alguém tome a iniciativa e consiga convencer
os parceiros da importância de um trabalho de formação
no âmbito da instituição.
Atualmente as equipes das unidades escolares que desenvolvem a proposta
compartilham de uma visão crítica, por meio de reflexões
em um trabalho sistemático na tematização da prática,
na qual o professor vê-se pesquisador de sua própria prática,
capaz de acreditar e confiar no sucesso de seu trabalho. O papel do supervisor
escolar é fundamental para alicerçar o trabalho docente,
pois:
O orientador
pedagógico é um formador de professores, um co-autor do
trabalho que acontece na sala de aula e simultaneamente um “alimentador”
do processo de desenvolvimento do projeto educativo e curricular da escola.
Cabe a ele não apenas ajudar no direcionamento do trabalho, responder
às dúvidas e inseguranças dos professores ajudá-los
na busca de respostas, mas também - e talvez fundamentalmente –
formular as questões que perpassam o trabalho da escola e que orientam
o percurso da equipe no desenvolvimento de seu projeto pedagógico
– às quais ele tem uma condição especial de
compreender por conta do lugar que ocupa. (NOGUEIRA , 2003, p. 122; in
Weisz)
Quando o
MEC propôs os Parâmetros e PROFA, a idéia era dar sustentação
para que as escolas caminhassem sozinhas, e, no tempo que estive como
Técnica Pedagógica, senti os questionamentos de muitos professores
dizendo que o supervisor não contribuía para a consecução
da proposta. E, conforme autora em pauta, é de suma importância
seu papel na escola.
O engajamento coletivo é importante para o sucesso desse Programa,
como de todos os Projetos que a escola desenvolve. Um Programa, como o
PROFA, para que se materialize precisa de ações concretas.
Essa concretude envolve o fazer o professor, o desprendimento da Unidade
Escolar, enfim, a mudança intrínseca e extrínseca
de todos que fazem a alfabetização, lembrando em tempo que
a mesma não começa nem termina na primeira série.
REFERÊNCIAS
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para Formação de Professores/ Secretaria de Educação
Fundamental, Brasília. A Secretaria, 2002.2ª ed.
FÁVERO, M. de L. de A. A universidade e estágio curricular:
subsídios para discussão. In: ALVES, Nilda. (Org.). São
Paulo: Cortez, 1995
FREIRE, Educação e Mudança 14 ed. Rio de Janeiro,
Paz e Terra 1979, Coleção Educação e Comunicação
GARCIA, C. M. Formação de Professores. Para uma mudança
educativa. Porto/ Porto editora,1992
NOVOA, A. (ed) Os Professores e a sua Formação. Lisboa.
Dom Quixote,1992
SÁ-CHAVES, Idália S. ( org) . Percursos de Formação
e Desenvolvimento Profissional. Coleção CIDINE. Porto, Portugal:
2001 p. (89).
WEISZ, T., O dialogo entre o ensino e a aprendizagem. Palavras de Professor.Editora
Atica ,2003
ZEICHNER, K. A formação reflexiva dos professores dos professores.
Idéias e praticas.Lisboa, Educa, 1993 |
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