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ATIVIDADES
PEDAGÓGICAS PARA CRIANÇAS DE 4 A 12 MESES: A PROPOSTA DA CRECHE
ÁREA DE SAÚDE.
Carla de Oliveira - Creche Área de Saúde(CAS)
- UNICAMP
Rosineide Santos da Silva - Creche Área de Saúde(CAS) -
UNICAMP
O presente relato de experiência objetiva divulgar
a proposta pedagógica em construção dirigidas às
crianças de 4 a 12 meses na Creche Área de Saúde
da Unicamp.
Estas atividades pedagógicas realizadas pelas professoras do módulo
visam estimular as áreas sensório-perceptivas das crianças,
contribuindo assim, no desenvolvimento integral das mesmas.
A prática destas atividades pelas professoras desta instituição
demonstram a possibilidade de empregar um trabalho no qual o educar e
o cuidar são indissociáveis ,mesmo que a visão assistencialista
predomine nesta prática, especialmente, com relação
a esta faixa etária.
Seguindo esta reflexão, a equipe do berçário tarde,
optou por sistematizar as atividades pedagógicas a partir de 2004.
Anteriormente elas eram realizadas, no entanto, não havia uma preocupação
em organizá-las, assim, muitas vezes não se sabia ao certo
o que tinha sido realizado na semana passada, no dia anterior e por conseqüência,
trabalhava-se com um único objeto ou com poucos deles se compararmos
com as outras possibilidades presentes na C.A.S (Creche Área de
Saúde).
Esta sistematização é caracterizada pela escolha
das atividades que são organizadas, planejadas e realizadas com
objetivos claros. Posteriormente, tal estratégia mostrou-se imprescindível
na melhoria da qualidade do trabalho realizado pelas professoras.
Com isso, neste primeiro semestre escolhemos trabalhar com os conceitos
de sensação e percepção no berçário.
Braghirolli (2001), define sensação como “uma simples
consciência dos componentes sensoriais e das dimensões da
realidade (mecanismos de recepções de informações)
e percepção supõe “ as sensações
acompanhadas dos significados que lhes atribuímos como resultado
de nossa experiência anterior”.(p.74)
Dando seqüência a tais pressupostos, a equipe do berçário
tarde está desenvolvendo atividades que venham a trabalhar estas
áreas-perceptivas (visual, tátil, auditiva no primeiro momento,
a partir do segundo semestre de 2005 pretendemos inserir também
a gustativa) e motora dos bebês.
Vale ressaltar ainda que no decorrer do ano, as práticas das professoras
são reavaliadas objetivando o aprimoramento do trabalho realizado
na Creche.
Em suma, as atividades pedagógicas em construção
objetivam contribuir com pesquisas e reflexões acerca desta temática
- Atividades pedagógicas para crianças de 4 a 12 meses-
, mostrar que o educar e o cuidar são indissociáveis como
prática nesta faixa etária, ampliar a importância
do trabalho educativo na Creche Área de Saúde (CAS), contrapor-se
ao olhar assistencialista sobre a prática da professora de Educação
Infantil que atua em creches, refletir sobre a importância de estimular
as áreas sensório-perceptivas e motoras da criança
auxiliando no seu desenvolvimento integral.
O motivo de tal estimulação nesse contexto deriva das observações
que nós professoras estamos fazendo para conseguir uma educação
de qualidade nessa faixa etária tão especial. Pauen1 (2005)
menciona que os avanços da medicina e da tecnologia que tiveram
início a partir do século XIX começaram a demonstrar
que nosso cérebro não é imutável, e que já
na infância tem grande potencial para se desenvolver. Para a autora
o desenvolvimento estaria então relacionado à estimulação,
qualidade de experiências vividas e fatores genéticos. Tais
afirmações podem ser feitas mediante pesquisas realizadas
em diversas partes do mundo. Portanto, hoje a criança não
é mais considerada uma “miniatura do adulto”, já
que a cada dia comprova-se a importância da infância na vida
de um sujeito.
Antunes (2004) pontua que “as inteligências se estimulam,
as memórias respondem positivamente ao treinamento sistemático
e a linguagem que se desenvolve pode ser admiravelmente beneficiada com
extrema dedicação e interesse”. (p.121)
As atividades são divididas por dias da semana. Cada dia, uma estimulação
é enfocada. Fica claro para nós que é uma divisão
apenas para facilitar o planejamento do trabalho, já que a interação
nesses momentos é intensa e não seria possível estimular
apenas uma área perceptiva. Utilizamos para a realização
do trabalho materiais diversos, muitas vezes confeccionados pelas próprias
professoras. Chocalhos, fantoches, instrumentos musicais, livros feitos
de tecido são recursos que nos auxiliam . Elementos da natureza
também são apresentados às crianças. E ainda,
temos a preocupação de apresentar aos bebês um “mundo”
que já é deles, ou seja, sabe aquela cartilha antiga que
quando tínhamos que aprender a letra “Z” aparecia o
nome Zabumba? Pois bem, particularmente nós descobrimos a pouco
tempo através do dicionário que zabumba é um instrumento
musical, porque na primeira série era mais importante aprender
a escrever zabumba do que conhecer seu significado (aliás, nunca
vimos uma zabumba, ou vimos e não sabemos como é) . E como
não queremos que isso aconteça com os bebês, apresentamos
um mundo que faz sentido a eles, que faça parte de sua cultura.
E quando o que é totalmente novo e diferente lhes é apresentado,
a preocupação é “não invadir seu mundo”.
Inserimos objetos sem alterar a rotina diária das crianças
e não realizamos mudanças bruscas no dia-a-dia. E por falar
em apresentar o mundo, nossas atividades demonstram que nenhum material
pedagógico (confeccionado com sucata, comprado em lojas especializadas,
...) substitui a linguagem. Falaremos um pouco sobre isso.
Qual é a linguagem utilizada em um berçário? Um monólogo
talvez? Afinal, bebê não fala. E não é que
fala!
Como nós já nos esquecemos das outras formas de linguagem,
a fala é nosso principal instrumento de trabalho com os bebês.
Pesquisas segundo Pauen (2005) mostram que o entendimento da linguagem
acontece antes da capacidade de falar. Um bebê de 5 ou 6 meses de
idade já consegue entender algumas coisas que o adulto lhe diz.
Por isso falamos o tempo todo. Contamos histórias, cantamos músicas,
falamos que é hora do banho, hora do jantar, explicamos qual o
tipo de atividade que vai acontecer.... é então, que de
repente em uma atividade com livrinhos de pano com figuras de animais
uma criança de 9 meses vê um cachorrinho, conforme relato2
de uma das professoras, ele aponta com o dedo e arrisca um “au-au”
( mais tarde é confirmado com sua mãe que existe um cachorro
em casa). Ou uma outra ocasião brincam com duas “cuias”
que emitem sons batendo uma na outra ou após explorar uma latinha,
posterioremente leva o objeto à boca como se fosse um copo e muda
totalmente o significado do objeto. Esses dois simples exemplos nos fazem
lembrar das linguagens esquecidas. Os gestos, o olhar, o sorriso, as atitudes
dos bebês sinalizam a linguagem compatível com seus recursos
cognitivos. E é essencial que valorizemos essa linguagem tão
ímpar, tão importante.
Bibliografia Básica:
Antunes, Celso.Educação Infantil - prioridade
imprescindível, 2ªed., Editora Vozes, Petrópolis, 2004.
Braghirolli, Elaine Maria. Psicologia Geral. 9ª ed., Porto Alegre,
Editora Vozes, 1990, p.74.
Ferrari, Marcio. Um novo olhar para a educação infantil.
Revista Nova Escola Nº175,2004 (encarte).
Brasil. MEC/SEF/COEDI. Critérios para atendimento em creches que
respeite os direitos fundamentais das crianças. Brasília,1995.
Nota:
1-Matéria
intitulada “Pensar antes de falar” escrita por Sabina Pauen,
professora de Psicologia do Desenvolvimento da Universidade de Heidelberg,
com tradução de Renata Dias Mundt para a Revista Viver Mente
e Cérebro, ano XIII, nº 150, São Paulo, julho de 2005,
p.57-61.
2-Observações
descritas das atividades realizadas pelas professoras no caderno de registros
do módulo berçário tarde.
Para maiores
informações das atividades
Creche Área de Saúde Unicamp - Diretoria: Valéria
Bonfim.
Universidade Estadual de Campinas – Creche Área de Saúde
Rua Carlos Chagas nº 351 - Cidade Universitária - Campinas/SP
- CEP 13083-878 Fone (19) 3788-7899 dgrhcas@unicamp.br
Rosineide Santos da Silva – rosansi76@yahoo.com.br
Carla de Oliveira – camagnani1@ig.com.br |
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