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EROTISMO
E LITERATURA COR-DE-ROSA - SEMELHANÇAS ERÓTICAS: DA ERUDIÇÃO
À MASSA
Vivian Carla Antunes de Oliveira - graduanda em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS Introdução O erotismo é o tema mais antigo da literatura.
Trata-se da cristalização do sexo, que sendo natural do
homem, teve, portanto, a necessidade de ser verbalizado. Em virtude dessa
verbalização, podemos hoje, nos deparar com interessantes
representações dele que a literatura, em seu âmbito
erótico, nos deixou e nos tem deixado. Erotismo, obras clássicas e narrativas de massa: uma (breve) análise comparativa: Senhora é um clássico romântico de
José de Alencar, que relata o amor de Aurélia Camargo por
Fernando Seixas. O enredo se desenvolve a partir de Aurélia, que
ao tornar-se extremamente rica, deseja por vingança “comprar”
o homem de sua vida: Fernando. As cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam ainda o hino misterioso do amor conjugal. (Senhora, p. 189) Nota-se que há um leve erotismo nessa passagem
e que o autor apenas sugere a consumação do amor espiritual
através do ato sexual, deixando ao leitor a tarefa de imaginar. Ele a beijava de maneira doce, porém perturbadora; seus lábios deixaram os dela para descerem para o pescoço macio e, depois, para os seios já descobertos. Ele a beijava sem trégua, até que a cabeça de Marina começou a rodar e seu corpo acabou tomado pelo desejo. Sem fôlego e atormentada pela paixão, Marina dava o melhor de si para responder às carícias de Vittorio, escorregando as mãos por baixo do roupão, esfregando-as sobre a pele macia das costas dele, passando delicadamente os dedos por aquele corpo adorado, na tentativa de encontrar os cantinhos mais vulneráveis, até que ele gemeu de prazer e seus dedos apertaram os seios de Marina com volúpia.(...) De repente, houve uma pequena e aguda dor e Vittorio estava dentro dela, em volta, em todo lugar. (Sedução Irresistível, Flora Kidd, Sabrina, 1981) Tanto em Senhora quanto em Sabrina, a entrega só
se realizou após a confirmação do amor masculino.
A diferença está na maneira como ocorreu a entrega. Em Senhora,
houve apenas sugestão ao ato e em Sabrina a descrição
minuciosa dele. Basílio achava-a irresistível: quem diria que uma burguesinha ter tanto chic, tanta queda? Ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos; depois, dizendo muito mal das ligas “tão feias, como os fechos de metal, beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então fez –lhe baixinho um pedido. Ela corou, sorriu, dizia : não! Não! – E escarlate, murmurou repreensivamente. ( O Primo Basílio, p. 180) Essa passagem relata um dos encontros às escondidas
de Luisa com Basílio, sendo casada, estava indo de encontro com
os princípios bíblicos, da moral e dos bons costumes.Uma
passagem do texto de Lúcia Castello Branco, bem exemplifica a temática
do adultério: Temáticas polêmicas como a do adultério, também se fazem presentes nas narrativas de massa, além do erotismo cada vez mais explícito. Meu casamento... não foi de verdade, Jonathan. Descobri que não poderia amar Eric desde o dia da cerimônia (...). Quero que faça amor comigo Jonathan. Eu estou lhe pedindo: Cynthia sentiu ele estremecer em meio à penumbra. As mãos firmes logo encontraram o corpo dela. Jonathan puxou-a mais para junto de si, até seus lábios tocarem nele. O beijo profundo fez Cynthia perder a sensação real (...). Deslizou a mão até a cintura de Cynthia e abriu o laço do robe. Fez com que ela o tirasse e deixou a peça ao lado. Vestida apenas com a sensual camisola de alças fininhas, Cynthia suspirou quando a mão experiente de Jonathan levantou o tecido e começou a acariciar sua pele nua (...). Tomando-a pelos braços, ele a levou para o quarto. Sentou-a na banqueta aveludada da penteadeira e se ajoelhou diante dela. Voltou a beijá-la daquela maneira que a deixava zonza, porém dessa vez foi mais longe nas carícias, provocando-a a ponto de Cynthia implorar para que ele a possuísse logo (...). Quando finalmente a penetrou com um gesto firme, ela gemeu mais alto. Seu mundo estava completo agora. (Vestígios do Passado, Vanessa Grant, Sabrina, 1994). Com o passar dos anos, o erotismo torna-se cada vez mais
explícito. As descrições tornam-se mais detalhadas,
tanto das personagens quanto do cenário. Há a valorização
do corpo, do sensual, das roupas. O ato sexual é minuciosamente
descrito, beijos nos joelhos, mãos ou braços, dão
lugar a beijos nos seios, e o que antes era possuir, agora é penetrar. D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa (...) D. João V conduz D. Maria Ana ao leito, leva-a pela mão como no baile o cavaleiro à dama, e antes de subirem os degrauzinhos, cada um de seu lado, ajoelham-se e dizem orações acautelantes necessárias, para que não morram no momento do ato carnal (...) D. Maria Ana estende ao rei a mãozinha suada e fria, que mesmo tendo aquecido debaixo do cobertor logo arrefece ao ar gélido do quarto, e el-rei, que já cumpriu com seu dever , e tudo espera do convencimento e criativo esforço com quem o cumpriu, beija-lhe como a rainha e futura mãe (...) E D. Maria Ana quem puxa o cordão da sineta, entram de um lado os camaristas do rei, do outro as damas, pairam cheiros diversos na atmosfera pesada, um deles facilmente identificam (...). (Memorial do Convento, p.17) O conteúdo erótico da passagem de Memorial
do Convento, explicita o do ato sexual, a preparação do
casal, o “dever cumprido” do marido e a atmosfera sexual contida
no quarto. O cheiro do esperma que paira no ar, é facilmente reconhecido
pelos camaristas e damas que adentram o quarto após o término
do ato sexual, visto que essa atmosfera também lhes é pertencente. Passemos à última parte de nossa análise, tentando enxergar possíveis evoluções do erotismo em uma edição de Julia, do ano de 1987 e em outra do ano de 2000, para notar que o erotismo se explicitou ainda mais: A boca exigente cobriu a dela mais uma vez, só que agora com mais paixão, mais urgência, e Anne se entregou à carícia, vencida. Suas mãos buscaram a pele ardente sob a camisa masculina, e sentiram as batidas do coração descompassado. Repetiu o nome dele muitas vezes junto aos lábios macios, até soarem como uma ladainha, uma oração sagrada e querida (...). O mundo se abriu aos pés de Anne, tragando-a, levando-a para uma terra de sonho e de emoções onde Richard era o centro de tudo, a noite, o dia, o universo...(...). E rodaram juntos no centro de uma tormenta que os levava para um mundo onde não havia razão nem palavras, onde os corpos nus se experimentavam com urgência e transformavam-se num só, onde o prazer era tanto que transcendia qualquer sonho, onde nomes sussurrados em voz rouca misturavam-se a gemidos, gritos e à explosão de luzes que iluminava os caminhos indecifráveis da paixão. (Final Feliz, Sandra Marton, Julia, 1987) Pode-se ver um erotismo mais sutil neste fragmento, o
ato sexual chega a ser exemplificado de maneira um tanto poética.
É importante lembrar que existe nele também, mesmo que inconscientemente,
um pouco da teoria de Georges Bataille, quando se fala que o casal Anne
e Richard “transformavam-se num só”, pois para Bataille,
o indivíduo carregava consigo uma espécie de “nostalgia
da continuidade perdida”, ou seja, a ânsia de procurar “recompor
a antiga natureza perdida”, tal qual expressa a fala de Aristófanes
em O Banquete, de Platão “quando se encontraram, abraçaram-se
e se entrelaçaram num insopitável desejo de novamente se
unirem para sempre”, e daí originou-se o termo Eros, o impulso
para “recompor a antiga natureza e restaurar a antiga perfeição”. Sem pensar, ele curvou-se, beijando-a com avidez de um homem sedento. Ela era bonita e especial, preciosa e perfeita. Tudo de que ele precisava. Nunca um beijo fora tão verdadeiro. Jake puxou-a para si, desvairado pelo desejo. Não podia resistir por mais tempo. Desejava-a como cada célula de seu corpo e sabia, além da razão, que Emily também o desejava naquele momento. Calor e excitação dominavam o corpo de Emily. Presa nos braços dele, pressionada pelo corpo poderoso, tremeu sob o persuasivo beijo. Jake a beijou com sofreguidão, como se beijá-la satisfaria uma vida inteira de desejo.(...) Entre beijos e carícias, eles deitaram-se entrelaçados sobre o colchão, e Emily sentiu a evidência do desejo dele. Então, beijou-o apaixonadamente. Jake gemeu, entreabrindo-lhe o roupão, as mãos com os seios nus.(...) Ela deslizou as mãos pelo peito másculo, enquanto ele lhe abria o roupão. E arrepiou-se quando ele livrou-a da última peça de roupa, excitado. Jake a deitou de costas na cama e rastejou entre suas pernas.Com mãos quase reverentes, acariciou-lhe o ombro, braços e torso. Olhando para baixo, viu a ereção masculina perto do portal íntimo, pronta a invadi-la.(...) Estupefata, Emily permitiu que Jake a posicionasse sentada em suas coxas rijas. Ele apalpou-lhe os seios gentilmente, movendo-a para frente até que ela literalmente sentasse na sua ereção. Incapaz de esperar mais tempo, Jake a penetrou vagarosamente com um longo gemido de prazer.(...) Juntos eles subiram aos céus. (Sempre ao meu lado, Carol Rose, Julia, 2000) O autor descreve minuciosamente cada carícia, cada movimento, deixando o leitor a par de toda a situação, numa leitura instigante e prazerosa. Mais uma vez, o verbo possuir dá lugar ao penetrar, e a genitália masculina recebe o nome do estado de êxtase em que se encontra. Embora sutis, as diferenças eróticas entre os dois fragmentos estão presentes. Conclusão REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANCO, Lúcia Castello. O que é erotismo.
São Paulo: Brasiliense, 1984. |
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