Alice Atsuko Matsuda Pauli (Doutoranda –
UEL/FACCREI)
O presente trabalho objetiva apresentar como o texto de
Lygia Bojunga Nunes é plurissignificativo, possibilitando ser lido
de diversas maneiras. Graças a essas múltiplas possibilidades
de interpretação, pode-se descobrir significados novos,
atribuíveis ao mundo criado pela escritora, como se o significado
integral jamais pudesse ser desvendado definitivamente.
Além da literariedade nas obras de Lygia Bojunga Nunes, outra questão
que chama a atenção é a presença do ideário
romântico. Em obras consideradas mais memorialistas, como em Livro:
um encontro com Lygia Bojunga Nunes (1988); Fazendo Ana Paz (1991); Paisagem
(1992); Feito à mão (1996); O Rio e eu (1999) – Lygia
Bojunga imprime os seus ideais, sua visão de mundo. Ela própria
se autodenomina “artesã da palavra” e confessa sentir
aversão à tecnologia, procurando sempre uma saída
através da arte. Essa aversão pela industrialização
se explica, segundo a autora, por extrair o sentido da arte, pelo fato
de ser produzida de forma seriada. Percebe-se em seus relatos a visão
utópica – a insatisfação pelo presente e a
tentativa de preservar o passado, as coisas artesanais. Ela procura não
deixar a industrialização se impor.
Portanto, verifica-se a possibilidade de aliar a perspectiva romântica
com a literariedade presente nas obras de Lygia Bojunga Nunes. Assim,
analisar como ocorre a construção de seu texto, quais as
soluções estéticas de linguagem utilizadas para a
perspectiva romântica são indagações que se
pretendem propor na presente pesquisa.
A VISÃO DA CRÍTICA NAS OBRAS DE LYGIA BOJUNGA
NUNES
A crítica enfatiza a característica literária
dos textos de Lygia Bojunga Nunes. Edmir Perrotti, no capítulo
“A geração 70 – impasses e renovação”,
do livro O texto sedutor na literatura infantil (1986), cita Bojunga como
um dos escritores contemporâneos que utiliza o discurso estético
em sua narrativa. Ele afirma que sua obra é um exemplo de renovação
na literatura brasileira para crianças e jovens e que, após
o impacto causado à literatura infanto-juvenil brasileira com sua
produção artística, dificilmente o utilitarismo poderá
sustentar-se como forma ideal e/ou única de discurso literário
dirigido ao público infantil ou juvenil.
Segundo ele, assim como ocorre com João Carlos Marinho, Lygia rompe
definitivamente com a tradição utilitária. O discurso
da escritora é o da possibilidade, fazendo sempre questão
de se mostrar literário, deixando “claro para o leitor estar
ele diante de um universo ‘criado’, de um ‘artifício’
que não se quer ‘verdade’, que não se quer dogma
a ser seguido“ (p.133).
Laura Sandroni, ao examinar a obra de Lygia Bojunga Nunes, em De Lobato
a Bojunga: as reinações renovadas (1987), conclui que não
existem diferenças, do ponto de vista estético, entre a
obra literária destinada a adultos e aquela escrita para crianças.
Em seu parecer, na obra de Bojunga encontram-se características
literárias reconhecidas por estudiosos e críticos brasileiros
e estrangeiros. Em seus textos, a função lúdica está
aliada a uma visão questionadora de falsos valores e comportamentos
característicos da sociedade contemporânea.
Sandroni procura analisar as várias facetas da obra de Lygia por
meio do exame da organização ficcional, da estrutura narrativa,
da linguagem específica e da variedade temática, evidenciando
o alto nível literário alcançado pela escritora.
Segundo a estudiosa, a autora situa-se entre as que melhor evidenciam
a concepção inovadora de uma literatura infantil amadurecida,
que pode colocar-se lado a lado com a produção artística
na qual os valores estéticos preponderam. Seus textos são
essencialmente literários, originalmente metafóricos e questionadores
e realizam-se, enquanto linguagem, promovendo a empatia. A distância
autor/leitor é por ela anulada, porque seu caminho é o da
introspecção: ela está em busca da criança
dentro de si mesma, e por isso sua obra interessa ao leitor de qualquer
idade.
Conforme Sandroni, o júri que concedeu a Lygia Bojunga Nunes o
prêmio Hans Christian Andersen, em 1982, pelo conjunto de sua obra,
manifestou-se assim:
É um dos autores mais originais que já tivemos
a oportunidade de ler. Tem uma linguagem absolutamente própria,
que prende o leitor. E cada frase tem uma mensagem subjacente./A riqueza
de suas metáforas é espantosa, bem como seu domínio
técnico na elaboração da narrativa e na perfeita
fusão do individual e do social. /Nenhum dos outros concorrentes
apresenta tantas condições de contribuir de maneira duradoura
para a literatura infantil, nem tanta capacidade de influenciar os outros.
Estamos diante de algo que é absolutamente novo. / Ainda que profundamente
fiel às fontes brasileiras, tem uma ressonância universal.
Vai ser um clássico mundial. (1987, p.13-4)
Ligia Cademartori Magalhães, por sua vez, no capítulo
“Literatura Infantil Brasileira em Formação”,
do livro Literatura Infantil: autoritarismo e emancipação
(1987), em parceria com Regina Zilberman, observa que Bojunga é
uma das escritoras mais expressivas e renovadoras do gênero. Em
sua obra, a integração no contexto social depende da construção
da identidade. Além disso, verifica-se que há uma valorização
da vida artística em que a autora apresenta a arte como uma atividade
prospectiva, como possibilidade de solucionar conflitos.
Segundo Cademartori, em outro livro – O que é Literatura
Infantil (1986) –, Lygia questiona valores estabelecidos por meio
das personagens, demolindo arraigados preconceitos contra a mulher, o
velho, o artista, a criança, propondo novos parâmetros nas
relações entre as pessoas. Para a estudiosa, a escritora
constrói o mundo ficcional a partir da infância, mas atinge
temas adultos como as relações de poder e a repressão
à liberdade de expressão no contexto social.
Laura Battisti Nardes, em sua Dissertação de Mestrado Literatura
Infanto-Juvenil: a estética literária em Lygia Bojunga Nunes
(1988), analisa e interpreta a obra literária infanto-juvenil de
Bojunga à luz de recentes correntes estéticas, com o intuito
de proceder à avaliação crítica da produção
artística da autora, visando demonstrar que seus textos podem ser
submetidos ao rigorismo técnico do julgamento estético.
Segundo Nardes, os traços estilísticos na obra literária
da escritora resultam tanto da seleção, dentre as várias
possibilidades da “langue”, como da criação
de uma “parole” (linguagem artística individual), apropriada
ao nível do falante (personagem) e do ouvinte (leitor). Outra questão
observada também pela pesquisadora é o fato de que Lygia
Bojunga Nunes sempre se utiliza da arte e do mundo artístico na
tematização de suas histórias. As personagens estão
escrevendo, inventando, criando para superar as adversidades do mundo
real. A maioria delas pertence ao mundo artístico, e muitas se
servem da arte para resolver seus problemas materiais e afetivos, como
a sobrevivência, a realização pessoal e o ajustamento
psíquico e social.
Para Nardes, a obra literária de Bojunga Nunes assume as características
de uma corrente inovadora, contestadora e transgressora dentro da atual
literatura infanto-juvenil e conclui que sua literatura não é
feita para atingir apenas o público infanto-juvenil, mas dirigida
fundamentalmente ao homem, que possui no seu interior “a criança
que ele foi, que ele é, que ele sempre será, enquanto persistir,
em seu íntimo, o poder de emocionar-se, de sensibilizar-se e de
fragilizar-se diante da beleza que se traduz por obra de arte” (1988,
p.171).
Percebe-se, portanto, a riqueza da obra da escritora que manipula as palavras
de forma estética. Devido a isso, produz uma alta literatura que
pode ser considerada não só infanto-juvenil, mas também
adulta dentro do panorama da literatura brasileira.
A PRESENÇA DO IDEÁRIO ROMÂNTICO EM
SUAS OBRAS
Além da literariedade nas obras de Lygia Bojunga Nunes, outra questão
que chama a atenção é a presença do ideário
romântico. Segundo Hilário Franco Júnior, ao fazer
a apresentação do livro As utopias românticas (1991),
de Elias Thomé Saliba, afirma que utopia é “negação
de um presente medíocre e sufocante, é espaço futuro
sem limites, sustentado pelo desejo, é sonho apaziguador de regresso
à perfeição das origens, é reencontro do homem
consigo mesmo” (1991, p.11). Daí Ernst Bloch ter afirmado
e, com razão, que “ser homem significa ter uma utopia”.
Lygia Bojunga se assemelha a este homem.
Em Os colegas (1972), verifica-se a luta pela sobrevivência, a conquista
da liberdade, as relações de amizade entre os colegas. Percebe-se
um enfoque da importância da união e da solidariedade nas
relações interpessoais. Além disso, o livro destaca
o anseio de liberdade, de forma essencialmente crítica, exaltando
a liberdade interior, necessária à descoberta do novo ou
à verdadeira “curtição” da vida.
Em Angélica (1975), nos relatos das aventuras e desventuras do
porquinho Porto, da pequena cegonha Angélica e dos demais companheiros,
percebe-se a busca dos personagens pela “autenticidade/verdade do
próprio eu; e em conflito com os preceitos éticos e imposições
da Sociedade-de-consumo” (Coelho, 1984, p.556).
Em A bolsa amarela (1976), Raquel, a protagonista, está também
em busca de sua identidade, procurando se conhecer para conhecer o outro
e poder participar de forma dinâmica no processo da vida.
Em A casa da madrinha (1978), presenciamos a busca de Alexandre pela casa
da madrinha, lugar utópico, símbolo de seu ideal. Além
disso, problemas sociais, econômicos e políticos são
discutidos, levando os leitores à reflexão.
Corda bamba (1979) é outro livro que trata também da busca
de identidade. Maria, a protagonista do romance, sofre uma amnésia
e, ao tentar desvendar seu passado, questões problemáticas
do ser humano são abordados, como a ganância, o egoísmo,
o preconceito, o autoritarismo, as diferenças sociais, as dificuldades
de relacionamento do homem. Valores capitalistas entram em choque com
os valores humanos.
Em O sofá estampado (1980), percebe-se também a busca pelo
aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade, além
da denúncia da sociedade consumista – reflexo da sociedade
capitalista.
Na obra O meu amigo pintor (1983), Cláudio, o protagonista, narra
as suas reminiscências ligadas ao convívio com o seu amigo
pintor, após o seu suicídio. Notam-se também questionamentos
em torno dos problemas humanos, a procura de um sentido para a vida, entendendo
o sentido da morte.
Outra obra da autora é Tchau (1984), livro de quatro contos: “Tchau”,
“O bife e a pipoca”, “A troca e a tarefa” e “Lá
no mar”. O primeiro trata da separação familiar, em
que a esposa apaixonada deixa a família para viver um sonho, um
grande amor, abandonando um filho de berço, uma filha de oito anos
e o marido. O seguinte discorre a respeito da desigualdade socioeconômica,
diferença enfatizada pelo capitalismo exacerbado. O outro relata
o processo da escrita, que leva o escritor a transformar o real em ficção.
Com esse conto, Lygia aborda o amor do escritor pela arte de metamorfosear
o real por intermédio da escrita, preferindo a morte a abandonar
sua paixão. O último fala da necessidade do ser humano de
viver em sociedade, ter alguém com quem compartilhar seus anseios,
medos, sentimentos.
A partir de Nós três (1987), percebe-se que, embora haja
o ideário romântico de luta por um sonho, por uma paixão,
há a busca por entender os mistérios do ser humano, sem
que haja uma solução feliz para o problema. Em Nós
três, Mariana cultiva um amor possessivo por Davi, que é
símbolo da liberdade. Como não consegue prendê-lo,
acaba assassinando-o, em um momento de loucura, como forma de impedir
a sua fuga. Como castigo pelo crime cometido, Mariana não consegue
mais criar uma obra de arte, a sua primeira paixão. No final, por
viver angustiada, resolve sumir, subentendendo-se que pratica suicídio.
Esse crime é presenciado por Rafaela, filha da amiga de Mariana,
que tenta entender esse crime passional, fundindo realidade e sonho.
Em O abraço (1996), relata-se a história de Cristina, estuprada
aos oito anos, que se reflete na Cristina-mulher de dezenove. A escritora
penetra no íntimo de sua personagem, dando voz ao seu medo e à
sua angústia e revelando as contradições que ela
vivencia por “amar” e “odiar” seu agressor.
Em Seis vezes Lucas (1996) presencia-se a fragilidade das relações
familiares pelos olhos de Lucas, um garoto que está sempre atento,
buscando compreender as pessoas do seu universo familiar.
Em A cama (1999) assiste-se a uma extensa galeria de personagens, vivendo
crises de identidade em busca de suas individualidades. Abordando questões
intrigantes do relacionamento familiar, a autora cria uma narrativa que
fala do sentimento do ser humano. Além disso, problemas socioeconômicos
são também discutidos.
No seu último livro publicado, Retratos de Carolina (2002), percebe-se
o envolvimento da autora com os personagens, virando também personagem.
Há um misto de realidade e fantasia em que o sonho utópico,
a esperança no futuro, é o bem maior a ser perseguido.
As personagens protagonistas, geralmente, são heróis problemáticos
na concepção de Lukács. Os heróis estão
em conflito consigo mesmo e com a sociedade, em busca de sua própria
identidade, pois têm “dificuldade de se afirmar como indivíduos
num mundo de comportamentos pré-moldados” (Oliveira, 1991,
p.68). O comportamento dos heróis revela o ímpeto romântico
de invenção utópica que, descontente com o presente
procura no futuro redescobrir novas possibilidades e novos mundos.
Percebe-se, assim, o ideário romântico nas obras da escritora
desde o seu primeiro livro. Há uma visão romântica
utópica, um sentimento de insatisfação com o presente
e o desejo de um futuro melhor, revelando uma busca por um ideal –
a imagem do vir-a-ser de Hegel, de esperança no futuro, num mundo
melhor a se realizar.
IDEAIS DA AUTORA NAS OBRAS MEMORIALISTAS
Nas obras consideradas mais memorialistas – Livro:
um encontro com Lygia Bojunga Nunes (1988); Fazendo Ana Paz (1991); Paisagem
(1992); Feito à mão (1996); O Rio e eu (1999) – notam-se
os ideais utópicos e românticos da escritora.
Em Livro: um encontro com Lygia Bojunga Nunes, publicado em 1988, encontram-se
depoimentos da autora sobre “sua ligação com o livro”,
suas experiências com a leitura, em que expõe a importância
que atribui ao livro como objeto de leitura e de criação
artística. Além disso, nota-se o seu prazer pelo artesanal,
visto que ela escreve seus textos em caderno de linguagem e a lápis
e, se for preciso corrigir, reescreve várias vezes. Segundo seu
depoimento, foi caligrafando que ela recolheu o prazer da borracha esfregando
o papel, do lápis roçando a mão, do olho seguindo
os sinais que ela imprimia no caderno, brincando aqui de pingar um i,
ali de engordar um o (BOJUNGA, 2001. p.35-36). Conforme Bojunga, como
não tinha caligrafia no novo ano escolar, a lembrança do
seu tempo de artesã da escrita dormiu fundo dentro dela.
Em Fazendo Ana Paz ela sente-se necessidade de falar mais “dramaticamente
do ato de escrever”. Ela discute a experiência do autor no
ato da escrita, revelando como ocorre a criação literária
de uma personagem, os prazeres e os dissabores desta caminhada e todo
o envolvimento apaixonado da escritora com o seu fazer literário.
Na obra Paisagem, a autora entrelaça os dois momentos do processo
de escrever uma história: o da criação (papel do
autor) e o da “re”-criação (papel do leitor),
buscando a interação entre leitor e autor e promovendo a
mistura do mundo da escrita com o da leitura.
Feito à mão foi publicado pela primeira vez em 1996 de modo
artesanal. Nessa primeira edição, foram feitos 120 exemplares.
Em 1999, foi publicado pela Agir, em edição industrial,
acrescida de um capítulo, “Pra você que me lê”,
no qual a autora explica ao leitor como surgiu a idéia original
de editar um livro todo feito à mão. Ela relata as suas
dúvidas, as dificuldades e as alegrias que permearam a sua feitura,
fazendo o leitor sentir o quanto é estimulante o desafio de dar
realidade a um projeto. O objetivo de publicar o livro só se fosse
feito à mão, tem duas razões: a primeira é
o desejo de escrever sobre o fazer à mão. Lygia quer falar
do seu “eu-artesã”, da marca que outros artesãos
deixaram nela, quer voltar atrás na sua vida, para reencontrar
“o pano bordado, a terra cavada, o barro moldado”, gostaria
de juntar todos em uma pequena homenagem ao feito à mão.
A segunda razão é a compulsão de remar contra a maré,
não deixando a tecnologia impor-se. Feito à mão revela
a todos que se interessam pelo processo criativo vários aspectos
ligados ao trabalho e à vida dessa escritora singular que, mesmo
vivendo profissionalmente de seus livros, gosta de se autodenominar artesã.
O espírito de artesã é herdado de sua mãe,
conforme revelam as lembranças que a escritora tem dela, “sempre
às voltas com agulha, linha e lã”.
O livro O Rio e eu relata um caso de amor perene da autora pelo Rio de
Janeiro, resgatando as reminiscências de sua infância. A autora
confere personalidade ao Rio de Janeiro, apresentando a cidade como um
amigo íntimo, com quem ela estabelece uma relação
intensa e apaixonada. Conforme escreve Elizabeth D’Angelo Serra
na orelha do livro, Lygia ensina o seu leitor, de forma não intencional,
por meio da sua relação com o Rio, “a aprender a ver/ler
o que está perto, parado ou em movimento. Ensina a escutar/ver,
para entender”, buscando um elo entre o leitor e a obra. Pelas palavras
de Lygia, o leitor redescobre a relação entre pessoa e espaço
físico. A partir de um enfoque pessoal, afetivo e racional da autora
sobre a cidade que ama e os inúmeros significados que lhe atribui,
emerge no texto a dimensão do universal, contida em seu particular.
Verifica-se, principalmente nessas obras, a utopia e o romantismo presentes.
Nota-se nela uma atitude considerada típica do romantismo utópico-revolucionário.
Lygia, da mesma forma que os românticos revolucionários,
não procura restaurar “o passado pré-moderno, mas
instaurar um futuro novo, no qual a humanidade encontraria uma parte das
qualidades e valores que tinha perdido com a arte, encantamento da vida”
(Löwy & Sayre, 1995, p.325).
CONCLUSÃO
Observa-se em Lygia crítica a esse comportamento
do homem que vive em um mundo alienando, em que as coisas e os objetos
valem mais que os seres humanos. Segundo Zenaide Ribeiro Soares, “o
homem médio se torna um objeto, dissolve-se na paisagem como um
ponto de cor numa pintura” (1992, p.123). Assim, age como um despolitizado
e niilista, voltando-se narcisicamente para si mesmo e para fugir da angústia,
tenta uma saída imaginária, como via de salvação.
Por não se alimentar da utopia, que sustenta sonho de gerações
e gerações, por não desenvolver nenhum trabalho criativo,
o homem mergulha no prazer da evasão. Ele acaba se tornando um
consumista voraz e não vive sua vida real, mas uma vida fictícia
que lhe é oferecida pela fantasia da televisão.
Lygia Bojunga propõe o sonho, a fantasia, a utopia. O alimento
da vida que faz com que levantemos bandeira e tenhamos força suficiente
para gerar grandes sonhos nas multidões, ou alimentar grandes projetos
de vanguarda e criação artística.
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