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ANALOGIAS
NA REVISTA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA CIÊNCIA HOJE
DAS CRIANÇAS?
Leandro Londero da Silva [llondero@bol.com.br]
Naida Lena Pimentel [naidalp@terra.com.br]
Eduardo Adolfo Terrazzan [eduterrabr@yahoo.ufsm.br]
Núcleo de Educação em Ciências, Centro de Educação
- Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
1 – INTRODUÇÃO
A divulgação científica está
cada vez mais presente no cotidiano das crianças, sendo feita de
diversas formas, como, por exemplo, programas de televisão (O Mundo
de Beakman, Minuto Científico, Globo Ciência, Ciência
Travessa), e publicações em revistas (Disney Explora, Dever
de Casa, Lição de Casa, Recreio, Ciência Hoje das
Crianças).
Essas revistas, objetivando divulgar a produção científica,
procuram veicular textos com linguagem familiar e informal, acessível
ao público infantil. Nelas, nota-se que os textos tratam com naturalidade
o conhecimento científico mediante a abordagem de aplicações
da tecnologia, aparatos tecnológicos e de fenômenos presentes
no cotidiano das crianças.
Um fator extremamente relevante a ser levado em conta, na hora da elaboração
de qualquer texto de divulgação científica, diz respeito
à linguagem utilizada.
Na literatura, encontramos autores que afirmam ser fundamental o uso de
analogias visando tornar as exposições mais claras e atraentes
aos leitores. Mora (1998), por exemplo, constatou, com base em uma análise
de diversos livros e artigos de ciências, que os textos de divulgação
científica que melhor atendem ao objetivo de informar e atrair
o leitor, reúnem um ou vários dos seguintes recursos: apoio
na história e na tradição, referência à
cultura popular, uso de ironia e humor, uso de analogias e metáforas,
vínculo com o cotidiano, entre outros. Estes recursos são
também apontados por Massarani (1999) como relevantes para serem
levados em conta na elaboração de um texto de divulgação
científica. Esta autora, argumentando sobre a produção
de textos de divulgação científica, afirma:
“Como em qualquer publicação de divulgação
científica, é crucial que, em uma revista para crianças,
não se usem jargões científicos. É fundamental
também o uso de analogias com situações simples do
cotidiano da criança” (Massarani, 1999, grifo nosso).
Para Gouvêa (2000) a linguagem utilizada no texto de divulgação
científica tende a se aproximar da linguagem do cotidiano, apoiando-se
em metáforas e analogias para tornar as exposições
mais claras.
Encarnação (2001) também afirma que comparações
são recursos bastante utilizados, na tentativa de tornar artigos
e matérias mais leves e palatáveis para as crianças.
Portanto, as analogias podem ser úteis para facilitar a compreensão
de assuntos, conceitos ou fenômenos, na medida em que utilizam situações
já conhecidas ou mais familiares para favorecer a compreensão
de situações não conhecidas ou menos familiares,
mediante comparações.
Este trabalho partiu das considerações mencionadas anteriormente
e da constatação da ausência na literatura consultada,
de pesquisas que analisem as apresentações analógicas
em textos de divulgação científica destinados ao
público infantil.
2 – OBJETIVOS E QUESTÕES NORTEADORAS
Neste trabalho, concentramos o foco de estudo no mapeamento
e na análise das apresentações analógicas
encontradas nos artigos publicados na revista Ciência Hoje das Crianças.
Quatro questões que nos parecem relevantes permearam este estudo.
São elas:
? Qual a freqüência de utilização de analogias
nos artigos da revista?
? Qual o grau de explicitação das relações
analógicas e das limitações das analogias?
? Em que medida os análogos utilizados podem ser considerados familiares
às crianças?
? Qual a forma de apresentação das analogias utilizadas
nos artigos?
3 – METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
Para o desenvolvimento deste trabalho, selecionamos a
revista de divulgação científica Ciência Hoje
das Crianças publicada pela Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC). Adotamos como critérios para a seleção
o da revista veicular majoritariamente artigos de divulgação
científica e a disponibilidade de todos os exemplares publicados
até fevereiro de 2004.
Lançada em dezembro de 1986, a revista é publicada há
dezoito anos, com periodicidade mensal que vem se mantendo constante há
quinze anos.
Um dos objetivos da revista é o de estimular a curiosidade das
crianças em relação a fenômenos, fatos e métodos
das ciências. Ela é elaborada para a faixa etária
de sete a quatorze anos. Em geral, os artigos publicados são produzidos
por pesquisadores e professores da comunidade científica brasileira.
Inicialmente mapeamos as apresentações analógicas
mediante a leitura dos textos que compõem cada exemplar, visando
responder a primeira questão norteadora deste trabalho. Lemos cento
e quarenta e três números, correspondentes ao período
de dezembro de 1986 a fevereiro de 2004, perfazendo um total de 1.022
textos.
Organizamos as apresentações analógicas mapeadas
em quadros-síntese, incluindo as situações alvo e
análoga contidas no texto original, bem como as relações
analógicas pretendidas. Um extrato destes quadros encontra-se em
no anexo I.
Após, agrupamos as apresentações analógicas
segundo as “áreas temáticas” focalizadas pela
revista: Ciências Humanas e Sociais, Exatas, Biológicas,
da Terra, Saúde, Meio Ambiente, Tecnologia, Cultura, Lingüística
(Letras e Artes) .
A seguir, realizamos um mapeamento da freqüência das apresentações
analógicas por anos de publicação, com o intuito
de obtermos informações sobre a freqüência das
apresentações ao longo do período analisado.
Em continuidade, procuramos responder a segunda questão norteadora.
Para isso analisamos o grau de concordância das analogias com o
modelo TWA (Teaching with Analogies). Este modelo foi desenvolvido por
Shawn M. Glynn (1991) e modificado por Harrison e Treagust (1994) e surgiu
de uma análise crítica e comparativa sobre a forma como
as analogias são apresentadas em diversos livros didáticos.
Decidimos analisar as apresentações analógicas nos
textos, à luz deste modelo, porque sua estruturação
enfatiza que o essencial é a compreensão não apenas
das relações analógicas pretendidas, como também
a dos limites de validade da analogia utilizada.
Segundo o modelo TWA, para uma utilização adequada de analogias,
deve-se procurar seguir uma seqüência de seis passos, a saber:
1º Passo – Apresentação da “situação
alvo” a ser tratada.
2º Passo – Apresentação da “situação
análoga” auxiliar.
3º Passo – Identificação das características
relevantes do análogo.
4º Passo – Estabelecimento das correspondências entre
o análogo e o alvo.
5º Passo – Identificação dos limites de validade
da analogia utilizada.
6º Passo – Esboço de síntese conclusiva sobre
a “situação alvo”.
Registramos os dados em uma tabela e os analisamos qualitativamente. Utilizamos
uma escala qualitativa na qual buscamos graduar a concordância de
cada apresentação analógica, com os passos do modelo
TWA. Nesta escala, utilizamos a letra “C” para indicar a concordância
da apresentação com o passo do modelo, “NC”
para indicara não concordância, e “P”, para indicara
concordância parcial. Um extrato desta tabela encontra-se no anexo
II.
A seguir, procuramos responder as duas últimas questões
norteadoras. Para isso, as apresentações analógicas
foram classificadas em cinco categorias. Uma delas é a que foi
proposta por Queiroz (2000), a qual se refere ao tipo de analogia utilizada
em relação a área de origem do análogo utilizado;
as outras quatro foram propostas por Curtis & Reigeluth (1984) e se
referem à forma de apresentação de analogias em textos.
Categoria proposta por Queiroz (2000):
1. Analogias internas à própria área do conhecimento
(categoria redefinida) – recuperam conceitos e fenômenos já
trabalhados anteriormente.
Categorias propostas por Curtis & Reigeluth (1984):
2. Tipo de relação analógica (estrutural, funcional,
estrutural-funcional) – se o análogo e o alvo compartilham
atributos estruturais e funcionais ou ambos. A relação é
dita estrutural quando análogo e alvo apresentam a mesma aparência
física. A relação é dita funcional quando
análogo e alvo apresentam funções similares. A relação
é dita estrutural-funcional quando combina relações
estruturais e funcionais;
3. Formato da apresentação (verbal, pictórica-verbal)
– A apresentação é dita verbal quando é
expressa somente em palavras. A apresentação é dita
pictórica-verbal quando é expressa por palavras e ilustrações
do análogo;
4. Posição do análogo em relação ao
alvo – O análogo pode ser apresentado no início, durante
ou no final da instrução;
5. Nível de enriquecimento (simples, enriquecidas, estendidas)
– Uma apresentação analógica é dita
simples quando o análogo se conecta ao alvo por meio de expressões
do tipo ‘é como’, ‘pode ser comparado a’,
‘é semelhante a’. Por outro lado, uma apresentação
analógica é dita enriquecida quando alguns dos atributos
compartilhados são explicitados. Uma apresentação
analógica é dita estendida quando várias correspondências
de um único análogo são usadas para ensinar mais
de um alvo ou quando vários análogos eram usados para explicar
um único alvo.
Finalmente, analisamos os resultados obtidos.
4 – RESULTADOS E ANÁLISES
4.1 – Freqüência geral de apresentações
analógicas
Nos 143 números da revista, encontramos um total de 88 artigos
que utilizam o recurso analógico, e, neles, 136 apresentações
analógicas.
Constatamos que alguns autores utilizaram várias delas em um mesmo
texto, para explicar conceitos diferentes.
4.2 - Freqüência de apresentações analógicas
nas áreas temáticas
A tabela abaixo apresenta a porcentagem de apresentações
analógicas utilizadas por áreas temáticas da revista,
em relação ao total de apresentações mapeadas
nos artigos que fazem uso deste recurso.
Tabela 1 – Freqüência das apresentações
analógicas por “área temática”
Área
|
Freqüência |
f |
% |
Ciências
Biológicas |
74,0 |
54,5 |
Ciências
Exatas |
36,0 |
26,5 |
Ciências
da Terra |
2,0 |
1,5 |
Ciências
da Saúde |
8,0 |
6,0 |
Meio
Ambiente |
7,0 |
5,0 |
Tecnologia |
5,0 |
3,5 |
Cultura |
2,0 |
1,5 |
Lingüística
(Letras e Artes) |
0,0 |
0,0 |
Ciências
Sociais e Humanas |
2,0 |
1,5 |
Total |
136,0 |
100,0 |
Considerando
o número de apresentações analógicas presentes
por áreas temáticas, a observação da Tabela
1 evidencia que a área de Ciências Biológicas é
aquela que aparece o maior percentual de apresentações analógicas
(54,5%), em seguida aparece as Ciências Exatas (26,5%). Os menores
índices de utilização foram constatados nos temas
relacionados a Cultura, Ciências da Terra e Sociais e Humanas, sendo
que não mapeamos nenhuma apresentação para textos
que fazem referência a Lingüística.
4.3 – Freqüência de apresentações por ano
de publicação
A tabela abaixo apresenta os índices absolutos e relativos das
apresentações analógicas por ano de publicação,
em relação ao total de apresentações mapeadas
nos artigos que fazem uso deste recurso.
Esperávamos encontrar um certo aumento na freqüência
de uso de apresentações analógicas com o passar dos
anos, porém, isto não se verificou. Observando a Tabela
2 é fácil constatar que o número de apresentações
analógicas varia de maneira não uniforme ao longo do período
investigado, sendo que a maior freqüência de utilização
de apresentações analógicas ocorreu em 1995 onde
mapeamos 30 apresentações.
Tabela 2
– Freqüência das apresentações analógicas
por ano de publicação
Ano |
Freqüência |
f |
% |
[1986/1989] |
3 |
2,20 |
1990/jan.
1996 |
9 |
6,7 |
1991
fev. a dez. |
1 |
0,73 |
1992 |
2 |
1,46 |
1993 |
0 |
0,00 |
1994 |
11 |
8,08 |
1995 |
30 |
22,05 |
1996 |
12 |
8,82 |
1997 |
6 |
4,41 |
1998 |
16 |
11,76 |
1999 |
3 |
2,20 |
2000 |
2 |
1,46 |
2001 |
14 |
10,30 |
2002 |
11 |
8,08 |
2003 |
15 |
11,02 |
fev.
2004 |
1 |
0,73 |
Total |
136 |
100,0 |
4.4 –
Grau de concordância das apresentações analógicas
com o modelo TWA
O resultado da análise das apresentações analógicas
encontradas nos textos à luz do modelo TWA, encontra-se no Quadro
1, que mostra o grau de concordância delas com os passos propostos
pelo modelo.
Tabela 1 – Grau de concordância das apresentações
analógicas com os passos do modelo TWA
GRAU DE CONCORDÂNCIA
COM OS PASSOS DO
MODELO TWA |
PASSOS |
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
f |
% |
f |
% |
f |
% |
f |
% |
f |
% |
f |
% |
Contempla |
129 |
95 |
134 |
98,5 |
34 |
25 |
22 |
16 |
2 |
1,5 |
78 |
57 |
Contempla
parcialmente |
3 |
2 |
1 |
0,75 |
17 |
12,5 |
31 |
23 |
4 |
3 |
5 |
4 |
Não
contempla |
4 |
3 |
1 |
0,75 |
85 |
62,5 |
83 |
61 |
130 |
95,5 |
53 |
39 |
Com base
nos dados contidos na Tabela 1 vemos que:
• a expressiva maioria das apresentações analógicas
seguem o passo 1 (95%) e o passo 2 (98,5%) do modelo (respectivamente,
introduzir o conceito alvo e o conceito análogo);
• o passo 3 do modelo (identificar as características relevantes
do análogo) é contemplado em apenas 25% das apresentações
analógicas;
• o passo 4 é contemplado em apenas 16% e o passo 5 NÃO
é contemplado em 95,5%. Isto mostra que a grande maioria das apresentações
analógicas utilizadas não fazem uma discussão aprofundada
dos elementos envolvidos nas relações analógicas,
o que é preocupante, pois favorece a transferência de características
que não são equivalentes de um domínio para o outro;
• a retomada final do alvo (passo 6) ocorre em um pouco mais da
metade das apresentações analógicas (57%).
4.5 – Categorização das apresentações
analógicas de acordo com os critérios propostos por Queiroz
(2000)
Na categoria “analogias internas à própria área
do conhecimento” proposta por Queiroz (2000), encontramos 29 apresentações,
correspondendo a 21,5%, ou seja, 78,5% referem-se a análogos extraídos
da vivência cotidiana das crianças. Levando-se em conta que
para uma analogia funcionar bem o análogo deve ser familiar ao
leitor, surpreendeu-nos que a publicação analisada, destinada
a crianças, apresente aquele percentual, que, no caso nos parece
bastante elevado.
4.6 – Categorização das apresentações
analógicas de acordo com os critérios propostos por Curtis
& Reigeluth (1984)
A tabela 3 apresenta as freqüências das apresentações
analógicas nas diversas categorias e subcategorias de cada critério
segundo Curtis & Reigeluth (1984).
Tabela 3
- Freqüência das apresentações analógicas
de acordo com quatro das categorias propostas por Curtis & Reigeluth
(1984)
Critérios |
Classificação |
Freqüência |
f |
n |
% |
Total/% |
Relação
analógica |
Estrutural |
48 |
136 |
35,0 |
100 |
Funcional |
63 |
46,5 |
Estrutural-funcional |
25 |
18,5 |
Formato
da apresentação |
Verbal |
121 |
136 |
89,0 |
100 |
Pictórico-verbal |
15 |
11,0 |
Posição do análogo em relação ao alvo |
Antes |
20 |
136 |
15,0 |
100 |
Durante |
74 |
54,0 |
Depois |
42 |
31,0 |
Nível de enriquecimento |
Simples |
108 |
136 |
79,5 |
100 |
Enriquecida |
24 |
17,5 |
Estendida |
04 |
3,0 |
De acordo
com os dados presentes na Tabela 3, as freqüências das apresentações
analógicas estruturais (35%) e funcionais (46,5%) são superiores
à das apresentações analógicas estruturais/funcionais
(18,5%). Acreditamos que as analogias estruturais/funcionais exploram
mais os conceitos/fenômenos presentes nos textos, pois nelas existem
mais relações a serem estabelecidas. Um exemplo representativo
das apresentações analógicas estruturais/funcionais
identificadas nos textos é reproduzido a seguir:
“As plantas têm um líquido chamado seiva, que é
feito, em boa parte, por água. A seiva circula nas plantas assim
como o sangue circula no nosso corpo, passando por dentro de tubos. Nos
animais, esses tubos são as veias e artérias. Nas plantas,
são os vasos condutores, que têm nomes engraçados:
os vasos pelos quais a seiva sobe são chamados xilemas e aqueles
pelos quais a seiva desce, floemas” (Esquibel, 1996).
Das 136 apresentações analógicas encontradas, 89%
foram classificadas como verbais e somente 11% como pictóricas-verbais.
Apesar da revista utilizar uma grande quantidade de imagens, poucos são
os textos que as utilizam como constituintes de analogias.
Apesar de haver um predomínio de analogias apresentadas na forma
verbal, estas, na maioria dos casos, restringem-se a uma simples descrição
da situação tratada, ficando a cargo dos leitores o estabelecimento
das devidas correspondências e identificação de limitações.
O uso mais freqüente de apresentações analógicas
pictórico-verbais poderia estimular os leitores à “visualizarem”
as analogias e conseqüentemente a estabelecerem relações
analógicas favorecendo a compreensão das analogias. Porém,
concordamos com Carneiro (1997) quando afirma que o uso excessivo de imagens
não traduz por si só os conhecimentos.
Abaixo, reproduzimos, a título de exemplo, uma das apresentações
analógicas pictórico-verbais mapeadas.

Figura 1
– Exemplo de analogia Pictórica-verbal (Pinto, 1999)
A tabela
3 evidencia que 15% das apresentações analógicas
veiculam o análogo antes do conceito/fenômeno a ser tratado,
54% durante e 31% depois.
Quanto ao nível de enriquecimento, constatamos que 79,5% são
analogias do tipo simples, 17,5% enriquecidas e somente 3% estendidas.
Abaixo, reproduzimos um trecho de um texto, dos poucos que encontramos,
no qual o autor utiliza uma analogia estendida.
“O tempo todo, nossos músculos estão trabalhando:
quando levantamos da cama, quando colocamos a mochila nas costas, quando
corremos atrás do ônibus, quando pulamos, quando chutamos
uma bola - ufa! Deu até canseira! Ao se contraírem e relaxarem,
os músculos botam nosso corpo em movimento! Para entender melhor
como eles funcionam, vamos fazer uma comparação com um carro!
O que um automóvel precisa para andar? Combustível, em primeiro
lugar. Além disso: um motor, pneus e uma carroceria. Com o corpo
humano é a mesma coisa. Quer dizer, quase. A final, ninguém
bebe gasolina, nem tem uma carroceria no lugar das costas! O motor em
nosso corpo são os músculos. O combustível para este
motor é a energia que conseguimos a partir dos alimentos que comemos.
Usando essa energia, os músculos entram em funcionamento. Os ossos,
então, fazem o papel dos pneus e da carroceria, pois dão
suporte aos músculos” (Pinto, 1999).
Este trecho também representa um bom exemplo de apresentação
analógica que contempla boa parte dos passos do modelo TWA. A autora,
além de introduzir a “situação alvo”
a ser tratada (funcionamento dos músculos) e a “situação
análoga” auxiliar (motor de um automóvel em movimento),
explicita correspondências entre o análogo e o alvo, identifica
limites de validade da analogia utilizada e esboça uma síntese
conclusiva sobre a “situação alvo”, não
reproduzida neste trecho, além de ser acompanhada de ilustrações
do análogo.
5 –
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os
1.022 textos lidos, encontramos somente 88 que fazem uso de analogias,
correspondendo a 8,5% do total, o que consideramos um baixo índice
de utilização. Porém, devemos lembrar que não
consideramos o número de páginas, ou seja, os textos diferem
em extensão, alguns sendo mais sucintos e outros mais extensos.
No entanto, não podemos afirmar que o uso mais freqüente de
analogias poderia tornar as explicações mais claras para
as crianças, pois, de acordo com Massarani (1999), referindo-se
a um artigo sobre a química da maionese escrito por Londres (1997),
mesmo usando analogias e desenhos explicativos o assunto é bastante
complicado.
O fato de não mapearmos nenhuma apresentação analógica
nos textos que fazem referência a Lingüística nos é
surpreendente, uma vez que analogias são figuras de linguagem.
Verificou-se que a grande maioria das apresentações analógicas
utilizam análogos extraídos da vivência cotidiana
das pessoas, o que era de se esperar.
De acordo com a análise do grau de concordância com o modelo
TWA, pode-se inferir que a maioria dos autores não explicita as
correspondências entre análogo e alvo nem identifica as limitações
das analogias: das 136 apresentações analógicas catalogadas,
em apenas 1,5% delas os autores identificam tais limites, propiciando,
assim, que os leitores estabeleçam correspondências que não
são equivalentes entre análogo e alvo. Este fato nos leva
a crer que os autores não consideram relevante identificar os limites
de validade das analogias, ou acham que tais limites são óbvios.
A partir dos resultados obtidos, podemos inferir que as analogias têm
sido pouco exploradas, quanto ao seu potencial didático, deixando
assim de contribuírem tanto quanto poderiam para a aprendizagem
dos leitores.
Uma das contribuições deste trabalho diz respeito à
avaliação de textos que fazem uso de analogias publicadas
em revistas. Como a revista Ciência Hoje das Crianças tem
sido utilizada pelos professores como material de apoio em aulas de ciências,
eles, utilizando as contribuições do presente trabalho,
podem avaliar quais textos necessitariam mais de suas contribuições
pessoais para atenderem aos objetivos propostos, ao serem utilizados .
Há necessidade de novas pesquisas que investiguem a influência
de textos que fazem uso de analogias na aprendizagem das crianças.
Portanto, este trabalho pode ser um ponto de partida para novos estudos
a serem realizados neste campo.
6 – Referências Bibliográficas
CARNEIRO,
Maria Helena da Silva: (1997). ‘As imagens no livro didático’.
In: Anais do I Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências,
Águas de Lindóia/BRA: Instituto de Física da UFRGS.
(CD-Rom).
CURTIS, Ruth V.; REIGELUTH, Charles M.: (1984). ‘The Use of Analogies
in Written Text’. In: Instructional Science, v.13, p.99-117.
ENCARNAÇÃO, B.: (2001). ‘O relato de uma relação
possível e de muito entusiasmo’. In: Ciência e Ambiente,
n. 23, p.99-113.
ESQUIBEL, M. A.: (1996). ‘A água e as plantas’. In:
Ciência Hoje das Crianças, ano 9, n.60, p. 8-10.
FERREIRA, M. de J. M.: (2001). ‘O uso da revista Ciência Hoje
das Crianças em aulas de ciências e a produção
de textos científicos’. In: Anais da 53ª Reunião
Anual da SBPC, Salvador/BRA: Universidade Federal da Bahia. (CD-Rom)
HARRISON, Allan G.; TREAGUST, David F.: (1994). Analogies: avoid misconceptions
with this sistematic approach. In: The Science Teacher, s.v., 40-43.
http://fairway.eer.purdue.edu/fre/asee/fie95/2b4/2b43/2b43.html
LONDRES, H.: (1996). ‘Maionese: emulsão também se
come’. In: Ciência Hoje das Crianças, ano 9, n.61,
p. 8-12.
MASSARANI, L.: (1997). ‘Científicos de manãna’.
In: Asociación Venezolana Para el Avance de la Ciencia, n.35, p.
34-37.
MASSARANI, L.: (1999). ‘Textos Científicos para Crianças’.
In: Almeida, Maria José P. M. de; Silva, Henrique César
(Orgs.), Atas do II Congresso de Leitura do Brasil, p.61-73. Campinas/BRA:
Unicamp.
MASSARANI, L.: (1999). ‘Reflexões sobre a divulgação
científica para crianças’. In: Anais do XXII Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação, Rio de Janeiro/BRA,
<http://www.intercom.org.br/paper/xxii-ci/gt11/11c04.PDF>. (Acesso
em 13/02/2003).
MORA, A. M. S.: (1998). ‘La divulgación de la ciencia como
literatura’. Ciudad de México: Universidad Autónoma
de México.
PINTO, V. S.: (1999). ‘Eles têm a força’. In:
Ciência Hoje das Crianças, ano 12, n.95, p.8-11.
QUEIROZ, Glória Regina Pessôa Campello: (2000). Professores
artistas-reflexivos de física no ensino médio. Rio de Janeiro/BRA:
Programa de Pós-Graduação em Educação,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. (Tese
de Doutorado).
SOUSA, Guaracira Gouvêa; BARROS, Henrique Lins de: (2001). ‘Transformações
do texto científico em texto de divulgação: o caso
da Ciência Hoje das Crianças’. In: Anais do III Encontro
Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências, Atibaia/BRA: Instituto
de Física da UFRGS. (CD-Rom).
SOUSA, Guaracira Gouvêa: (2000). A divulgação científica
para crianças. Rio de Janeiro/BRA: Programa de Pós-Graduação
em Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro. (Tese
de Doutorado).
Anexo
I
EXTRATO
DE QUADRO-SÍNTESE DO LEVANTAMENTO DAS APRESENTAÇÕES ANALÓGICAS
IDENTIFICADAS NA REVISTA CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS
PERÍODO ANALISADO
Dezembro de 1986 a Fevereiro de 2004
Código
da Apresentação Analógica |
Autor(es)
Ano
Número
Data
Página(s)
Txt/Fig/Leg |
Seção |
Conceito/
Temática/
Assunto |
Situação
apresentada,
Sugerida
ou
Subentendida |
Situação
análoga
ou
analogia
utilizada |
Relações
analógicas
Pretendidas |
CHC79 |
Carlos
Fernando S. Andrade, Luciana Urbano dos Santos e Rejane Cristina
Brassolatti
1998
N.
80
Maio
p.
20
Txt
/ Fig |
A
batalha contra os pernilongos |
Transmissão
do vírus da dengue |
Um
pernilongo pousando na pele de uma pessoa, retirando o sangue do
seu organismo. |
Uma
injeção para tirar sangue |
Injeção
/ Pernilongo
Agulha / aparelho bucal do pernilongo |
CHC92 |
Verônica
Salerno Pinto
1999
N.
95
Setembro
p.
10 - 11
Txt
/ Fig |
Eles
têm a força |
Funcionamento
dos músculos |
Os
músculos de uma pessoa trabalhando |
Automóvel
composto de um motor com combustível, pneus, e uma carroceria. |
Automóvel
/ Corpo Humano
Motor / Músculos
Combustível
/ Energia dos alimentos
Pneus, carroceria / Ossos |
Anexo
II
EXTRATO
DA TABELA DE ANÁLISE DAS ANALOGIAS IDENTIFICADAS NA
REVISTA CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS SEGUNDO O MODELO TWA
Escala
qualitativa
(C)
Contempla os passos do modelo
(P)
Contempla parcialmente os passos do modelo
(NC) Não Contempla os passos do modelo
N.
de Ordem |
Código
da Analogia |
Ano |
N. |
Data |
Página(s) |
Passos |
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
01 |
CHC01 |
Não informa |
01 |
Não informa |
Não informa |
C |
C |
P |
P |
NC |
NC |
02 |
CHC02 |
Não informa |
08 |
Não informa |
Não informa |
C |
C |
C |
C |
NC |
C |
03 |
CHC03 |
Não informa |
10 |
Não informa |
06 |
C |
C |
C |
C |
NC |
C |
04 |
CHC04 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
07 |
C |
C |
NC |
P |
NC |
C |
05 |
CHC05 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
10 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
NC |
06 |
CHC06 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
11 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
NC |
07 |
CHC07 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
11 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
C |
08 |
CHC08 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
11 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
NC |
09 |
CHC09 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
16 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
C |
10 |
CHC10 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
16 |
C |
C |
P |
P |
NC |
C |
11 |
CHC11 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
16 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
NC |
12 |
CHC12 |
1990/1991 |
19 |
Dez/Jan |
16 |
C |
C |
P |
P |
NC |
C |
13 |
CHC13 |
1991 |
22 |
Jun/Jul |
14 - 16 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
C |
14 |
CHC14 |
1992 |
28 |
Ago/Set |
05 |
C |
C |
C |
C |
NC |
NC |
15 |
CHC15 |
1992 |
29 |
Out/Nov/Dez |
03 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
C |
16 |
CHC16 |
1994 |
35 |
Jan/Fev |
04 - 05 |
C |
C |
NC |
P |
NC |
C |
17 |
CHC17 |
1994 |
35 |
Jan/Fev |
04 - 05 |
C |
C |
NC |
P |
NC |
C |
18 |
CHC18 |
1994 |
37 |
Abril |
25 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
C |
19 |
CHC19 |
1994 |
39 |
Jun |
04 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
P |
20 |
CHC20 |
1994 |
39 |
Junho |
16 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
C |
21 |
CHC21 |
1994 |
39 |
Junho |
25 |
C |
C |
NC |
P |
P |
NC |
22 |
CHC22 |
1994 |
39 |
Junho |
25 |
C |
C |
NC |
P |
NC |
NC |
23 |
CHC23 |
1994 |
41 |
Ago/Set |
03 |
NC |
C |
NC |
P |
NC |
C |
24 |
CHC24 |
1994 |
41 |
Ago/Set |
13 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
NC |
25 |
CHC25 |
1994 |
42 |
Out |
03 |
C |
C |
NC |
NC |
NC |
P |
|
|