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A INSERÇÃO DA UFV NO PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO
- PROAJA 2004 Etelvina Maria Valente dos Anjos Silva – UFV A Universidade Federal
de Viçosa (UFV), outrora essencialmente agrícola, apresenta atualmente
um perfil bastante diversificado em termos de áreas de atuação. A área de Ciências
Humanas ocupa nesse novo cenário um papel de destaque, com seus mais
de 3000 alunos distribuídos nos seus 13 cursos de graduação, 1 de mestrado
stricto sensu, 5 de especialização, além
de várias atividades de pesquisa e extensão focadas na melhoria da qualidade
de vida da população brasileira. Temas como políticas públicas, desigualdade
de renda, violência, pobreza, renda mínima e educação infantil são estudados
com entusiasmo pelos seus professores e alunos sinalizando claramente
que a vocação maior desse Centro é a pesquisa
e extensão solidárias.
A Universidade Federal de Viçosa (UFV) tem como uma de suas ações
políticas educacionais, a de fortalecer a educação de jovens e adultos,
visando atender ao seu compromisso social, enquanto instituição de formação
profissional. Essas ações visam minimizar as injustiças históricas praticadas,
por este país, no campo educacional, que por longos anos,
relegou ao segundo plano, os menos favorecidos socialmente, sobretudo
aos Movimentos Sociais, o direito a uma educação de qualidade. A Experiência da UFV, neste campo da educação, data de 1987 e conta, hoje,
com um Núcleo de Educação de Adultos (NEAd), vinculado ao Departamento
de Educação (DPE), o qual vem priorizando e
valorizando seu aluno adulto visando seu
desenvolvimento e sua cidadania, através da conscientização e
do ensino associado à realidade social. Este Núcleo, com sua infra-estrutura e seu potencial em recursos humanos,
muito tem contribuído na área da Educação
de Jovens e Adultos. Ele oferece turmas de alfabetização e turmas de
preparação para os exames de suplência do Ensino Fundamental e Médio,
atendendo a uma média de 100 funcionários a cada ano. Os funcionários
são liberados do trabalho por duas horas diárias para que possam freqüentar
as aulas, que são ministradas por alunos do curso de Pedagogia e das
demais Licenciaturas. Estes alunos da graduação são selecionados e capacitados
a cada ano, pelos professores do DPE, para ministrarem aulas e, em contrapartida,
recebem da instituição uma bolsa de estudos pelo trabalho desenvolvido.
No início de suas atividades, eles fazem cursos de capacitação na área
da Educação de Adultos e, durante o desenvolvimento do trabalho, recebem
acompanhamento pedagógico. A partir de estudos já realizados, o NEAd tem proporcionado aos funcionários
da UFV maior auto-estima, domínio
da lingua escrita, conhecimentos gerais essenciais à vivência da cidadania,
e ainda, maior capacidade em se expressar e conviver no ambiente de
trabalho com mais criatividade e desenvoltura. Assim, tornando-se mais
autônomos e desinibidos, melhorando
seu desempenho profissional e social. O
método utilizado para o processo de alfabetização no NEAd é o Método
de Paulo Freire, que prioriza a valorização do alfabetizando e o desenvolvimento
de sua cidadania, através da conscientização e do ensino associado à
realidade social do educando. A preparação para os exames de suplência
também tenta associar o processo de aquisição dos conhecimentos à realidade
profissional dos educandos, utilizando-se todo material escrito de seu
meio social, como jornais locais e regionais, anúncios, boletos bancários,
etc. Após
15 anos de atuação, este Núcleo conseguiu praticamente erradicar o analfabetismo
na Instituição, reduzindo o número de seus funcionários analfabetos,
que antes de 1987 era de 30%, em apenas 6 funcionários. Além disso,
muitos são os funcionários que concluíram o Ensino Fundamental e o Ensino
Médio, estando alguns destes cursando ou se preparando para cursarem
a universidade. Paralelamente
ao Núcleo de Educação de Adultos, a UFV também está inserida no Projeto
de Alfabetização Solidária desde 1997, capacitando e acompanhando o
processo de alfabetização em três municípios do Nordeste do país – Maragogi,
Porto Calvo, Feira Grande e Campo Grande (já concluído). O trabalho
se constitui de cursos semestrais e visitas mensais aos municípios,
tendo atendido, até hoje, um número total de 429 alfabetizadores
capacitados e 8.580 adultos alfabetizados. O trabalho é desenvolvido,
igualmente, por estagiários, que são alunos de cursos de graduação da
UFV. O
trabalho de capacitação e acompanhamento de alfabetizadores é desenvolvido
em ambos os projetos – NEAd e Alfabetização Solidária – aproveitando-se
o potencial humano da instituição, com constante intercâmbio entre estes
dois segmentos da UFV, o que tem enriquecido o trabalho de professores
e alunos. Pode-se concluir, nesse contexto, que a UFV tem enorme potencial
para um trabalho ampliado na área da Educação de Jovens e Adultos, possuindo
infraestrutura e recursos humanos para tal. Em 2004, o DPE teve
sua última experiência, ao firmar um Convênio junto à FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação, através do Programa Brasil Alfabetizado, para colaborar na luta pela erradicação do analfabetismo
no Brasil. É importante ressaltar, que Minas Gerais é um estado com enorme extensão
territorial, sendo o quarto maior estado do Brasil, com grande proporção
da população nacional. Apesar de ser um dos estados mais dinâmicos do
país, com taxas de crescimento acima da média nos últimos anos, Minas
Gerais é um estado dual, onde desenvolvimento
e prosperidade convivem com pobreza, fome, desigualdade de renda e atraso
econômico. Nesse cenário, as desigualdades educacionais também imperam,
assim como as disparidades sociais, econômicas, etc. Ainda, que a Zona da Mata é a segunda maior região
em termos de densidade demográfica e
tem a terceira maior produção regional. Mas, por outro lado,
possui o terceiro pior PIB por habitante. A Zona da Mata possui 7 microrregiões,
quais sejam: Viçosa, Ponte Nova, Manhuaçu, Ubá, Muriaé, Juiz de Fora
e Cataguases.
A proposta
de trabalho junto ao Programa BRASIL ALFABETIZADO abrangeu as micro-regiões de Viçosa, Ponte Nova e Ubá,
atingindo os municípios de Viçosa, Ponte Nova, Ubá, Guiricema,
Guidoval, Divinésia, Coimbra, Visconde do Rio Branco, Senador Firmino,
Paula Cândido, Porto Firme e Teixeiras, como representado no mapa a
seguir.
Quanto à estrutura administrativa, o Convênio contou com um Colegiado constituído da seguinte forma: como presidente a diretora do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes; como coordenadora geral uma professora do Departamento de Educação, atual coordenadora do NEAd, como coordenadores regionais uma professora representando o Departamento de Educação e uma técnica em Assuntos Educacionais, atual coordenadora do Programa Alfabetização Solidária/UFV. Ainda, a chefe do Departamento de Educação, o Assessor de Incentivo a Parceria, Representante das Secretarias de Educação, Representante dos Alfabetizadores e Representante dos Bolsistas. Um regimento das competências desse Colegiado foi elaborado e apreciado pelo Colegiado do Departamento de Educação e do Conselho Departamental. Para o desenvolvimento de todo o trabalho, num período de 8 meses, inicialmente, procedeu-se ao processo de seleção, quando foi realizado o cadastramento de 2526 alunos adultos, pelas 12 Secretarias de Educação dos respectivos Municípios, sendo os formulários encaminhados à Coordenadação do Convênio. Cada município se responsabilizou pelo oferecimento da infra-estrutura necessária à concretização do processo de alfabetização, como: salas de aula, material didático para os alfabetizadores, material escolar para o alfabetizando, merenda escolar e transporte para os pedagógico. No que se refere aos 120 alfabetizadores, cada um se responsabilizou por uma classe de 20 adultos em média. Esses alfabetizadores foram selecionados entre os alunos do Projeto Veredas/UFV, alunos dos cursos de Pedagogia e das Licenciaturas da UFV, além de profissionais como pedagogos e professores de séries iniciais, dos municípios envolvidos, como também, voluntários não remunerados, desde que preparados para o trabalho. Ainda, este Convênio contou com a participação de 12 professores-monitores do NEAd, acompanhados por 2 coordenadores regionais e um coordenador geral, que tiveram como atribuição o planejamento, o acompanhamento e a orientação do trabalho das 7 bolsistas de graduação do Curso de Pedagogia, orientadores do processo de alfabetização. No que se refere aos professores-alfabetizadores, estes foram selecionados pela equipe coordenadora, utilizando-se de Edital de Convocação e análise curricular, priorizando-se pedagogos e professores de séries iniciais das Prefeituras Municipais. Quanto aos 5 Auxiliares de Capacitação, alunos do Curso de Pedagogia, a seleção foi a
partir de Edital de Convocação levando-se em conta, também, análise de Currículo e que, após selecionados,
assinaram um Termo de Compromisso. Vencido o processo de seleção, iniciou-se o de capacitação Inicial, num período de sete dias, com uma carga horária de 60 horas, com o objetivo de proporcionar aos alfabetizadores, a formação necessária à atuação na área da alfabetização dos adultos, utilizando-se, para tanto, os princípios do Método Paulo Freire.
Momento de realização do Curso de Capacitação Os
temas que constituíram o Programa de Capacitação Inicial foram: O
ALUNO ADULTO: CARACTERÍSTICAS E REALIDADE SOCIAL; O MÉTODO
PAULO FREIRE: PRINCÍPIOS BÁSICOS; UMA DINÂMICA DE TRABALHO: A
VIVÊNCIA DO NOME; AS ETAPAS DO MÉTODO PAULO FREIRE, PASSO A PASSO; A
LEITURA E A ESCRITA; O ERRO CONSTRUTIVO AS FASES
DA ESCRITA; O TRABALHO COM A PRODUÇÃO DE TEXTOS; O PLANEJAMENTO E A
AVALIAÇÃO EM EJA; e O ENSINO DA MATEMÁTICA EM EJA Além desses temas foram realizadas, também, Oficinas Pedagógicas onde os alfabetizadores tiveram a oportunidade de planejar e ministrar aulas simuladas. Ainda, palestras foram proferidas, abordando temas como: A aprendizagem significativa; A auto-estima do aluno adulto; e O trabalho com turmas heterogêneas. O curso foi programado e ministrado pelos Coordenadores do Convênio, juntamente com os professores-monitores do NEAd. No que tange ao processo de acompanhamento e assessoramento pedagógico das aulas, este foi realizado pelos Auxiliares de Capacitação, através de visitas mensais, à cada professor-alfabetizador, em seus municípios, com o objetivo de orientar e avaliar o trabalho desenvolvido em sala de aula, obedecendo ao seguinte Roteiro de Avaliação. ROTEIRO PARA VISITA
ÀS ESCOLAS MUNICIPIO_____________________ESCOLA _________________________ PROFESSOR ALFABETIZADOR ______________________________________________
DATA DA VISITA ____/_____/______
NOME DO AUX. CAPACITAÇÃO ___________________________________ Descreva a situação observada, em relação a: Secretaria Municipal de Educação – (Recepção, transporte, etc.) Professora alfabetizadora – (nome, recepção, interesse,
comentários em geral, dificuldades, etc) Sala de Aula – (quadro, carteiras, ambiente, etc) Merenda – (fornecimento, quantidade, tipo, etc) Local de realização das Aulas – (distância do centro,
percurso dos alunos e professor, etc)
Alfabetizandos - (quantidade, faixa etária, freqüência, cuidado material
escolar, motivação, comentários em geral, etc) Recursos auxiliares de Ensino – (cartazes,
cadernos/aluno, planejamento/professor, etc) Orientações para realização das visitas: Manter postura profissional Seja gentil com as pessoas, cumprimentando-as e se apresentando. Fique atenta a todos os acontecimentos. Não faça comentários pejorativos em relação ao PROAJA. Em caso de dúvida para informação, fazer anotações para dar o retorno
depois. Ao cumprimentar os alunos dê uma palavra de estímulo e faça elogios. Observe os cadernos dos alunos e o caderno de planejamento do professor.
Não faça anotações da avaliação, durante a visita ou diante do professor. Procure registrar o máximo de informações. Não faça promessas antes de consultar a Coordenação. Paralelamente
ao acompanhamento pedagógico em sala de aula foi realizado, periodicamente,
encontros coletivos, totalizando 40 horas/aula, com professores-alfabetizadores e auxiliares
de capacitação, sob a responsabilidade da Equipe Coordenadora do Convênio,
com o objetivo de acompanhar, assessorar e orientar o desenvolvimento
de todo o trabalho, e ainda, proporcionar troca de experiências e desenvolvimento
das Oficinas Pedagógicas.
Momento de realização de uma das Oficinas Pedagógicas Ao final do processo de alfabetização, a Equipe Coordenadora realizou um processo de avaliação, tal como proposto pela Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo do MEC. Aos alfabetizandos foi solicitado a elaborarem um pequeno texto, com um tema comum: Uma Carta ao Presidente da República. Essa avaliação foi desenvolvida pelos próprios alfabetizadores, com seus alunos, em sala de aula, de tal forma que estes não se sentissem intimidados por uma situação artificial, diferente de seu cotidiano, podendo assim, demonstrar, o nível de alfabetização que haviam alcançado. Esse processo teve a duração total de duas semanas, já que os alfabetizadores foram orientados a desenvolver oum tema, inicialmente, com os alunos, através de exposições sobre o assunto, discussões, debates, desenvolvimento de atividades e exercícios relacionados ao tema, com confecção e preenchimento de envelopes, formação de palavras relacionadas ao tema, produção de textos coletivos, dentre outros. Os
textos produzidos pelos alfabetizandos foram recolhidos, entregues
às Secretarias de seu município, carimbadas por estas e encaminhadas
à Coordenação do Convênio, onde foram avaliadas pelos coordenadores
e auxiliares de capacitação, utilizando-se dos critérios definidos a
seguir. CLASSIFICAÇÃO DOS TEXTOS
EM
SÍNTESE
Após avaliar os textos, considerou-se que aquele aluno cujo texto enquadrou-se entre os Grupos A, B e C, fosse considerado alfabetizado, tendo todas as condições de dar continuidade ao processo de Alfabetização e Letramento, uma vez que ele poderia ser inserido em Programas de Pós-Alfabetização, como por exemplo, em classes de Aceleração, de preparação para Exames de Suplência, ou mesmo em classes que, por ventura, venham a ser criadas pelos próprios municípios. Mostra da produção de texto de um dos alunos-adulto. Por
fim, os resultados alcançados em relação ao número de alunos iniciantes,
evadidos, concluintes e alfabetizados pode ser visualizado nos dados
do gráfico a seguir. Ao fazer uma análise sobre o desenvolvimento de todo o trabalho, muitas foram as dificuldades enfrentadas. A maior delas foi com relação aos trâmites burocráticos, o que acarretou atraso na liberação de recursos financeiros que, conseqüentemente, gerou um descontentamento, por parte de toda a Equipe responsável pela execução do Projeto. Nesse sentido, há que se destacar, como ponto positivo, o comprometimento profissional dos alfabetizadores, uma vez que eles trabalharam quatro meses consecutivos sem remuneração, em detrimento do atraso no envio dos recursos financeiros pelo MEC, aguardando com paciência e confiança, acreditando no empenho da Equipe Coordenadora em busca da solução do problema. Além disso, o empenho deles no desenvolvimento de um trabalho de qualidade, apesar das dificuldades com transporte até às comunidades onde se encontravam as salas de aula improvisadas e sem material didático.
Alfabetizadores – PROAJA/UFV - 2004 Outro aspecto merecedor de destaque foi o envolvimento das Secretarias de Educação, permanecendo firmes até o final do trabalho, fazendo jus ao Termo de Compromisso assinado com a UFV, apesar de todas as dificuldades enfrentadas. Nesse sentido, cita-se também a dedicação da Equipe Coordenadora e das Auxiliares de Capacitação, que abriram mão de férias, feriados e finais de semana, durante todo o ano, em prol do sucesso deste trabalho. No que se refere ao índice de evasão, levando-se em conta todos os fatores limitantes dos alfabetizandos, como por exemplo, o cansaço ao final de um dia de trabalho, a baixa auto- estima, acarretada pelos inúmeros fracassos escolares enfrentados em suas histórias de vida, problemas de visão próprios da idade avançada, concluiu-se como resultado positivo. Diante do exposto, pode-se dizer que a tão ambiciosa meta, que era a de reduzir o índice de analfabetismo nos municípios envolvidos, alcançou bons resultados, principalmente, em se tratando da conscientização e do reconhecimento das Prefeituras, quanto à importância e à necessidade de dar continuidade a iniciativas como esta. A conscientização e mobilização de Prefeituras, alfabetizadores e alfabetizandos foi apontada pelo atual Diretor de Alfabetização e Continuidade do MEC, Professor Thimoty Ireland, o principal objetivo do Programa Brasil Alfabetizado, quando de sua fala no VI Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos (VI ENEJA), realizado em Porto Alegre, no período de 08 a 11 de setembro de 2004. Com vistas a essa nova postura do MEC, a Equipe Coordenadora do PROAJA/UFV, por ocasião de sua última reunião com os Secretários Municipais de Ensino apresentou, para o ano de 2005, uma nova Proposta de Trabalho, agora na forma de Projeto Autônomo de Assessoria Pedagógica às Prefeituras interessadas em dar continuidade ao processo de diminuição do índice de analfabetismo em seus municípios. |
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