Jozicléia Henrique Porfírio - Bolsistas
PIBIC/CNPQ/UFMS;
Vivianny Bessão de Assis - Bolsistas PIBIC/CNPQ/UFMS;
Lucrécia Stringhetta Mello - Orient. UFMS/CPTL/MS
Quando se fala em Educação à distância
no mundo atual, parece à primeira vista ser este um fato corriqueiro,
uma vez que estamos em plena era da globalização e do mundo
da tecnologia. A própria política educacional, a partir
da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), fala em Educação à Distância.
Mas, é possível trabalhar essa objetivação
quando grande parte da população está ausente desse
acompanhamento tecnológico? Ou perguntamos; o uso da tecnologia
ajudaria de forma substantiva a população que fica à
margem da formação e não têm acesso aos estudos?
E, dentro da realidade educacional, a educação à
distância ajudaria a desenvolver a formação de docentes
que, embora estejam em sala de aula, não possuem ainda o curso
superior?
É uma problemática complexa e suscita diversas questões
e como lembra Preti (2000, p.19) “as transformações
nos sistemas de conhecimento, na vida política, social e econômica
neste final de milênio [...] serão compreendidas se analisarmos
as transformações já produzidas e em processo, do
ponto de vista global e não desconhecendo as especificidades da
sociedade nacional”.
Esse trabalho busca conhecer um pouco dessa especificidade, dirigindo
o foco de estudo a uma realidade no contexto de formação
de professores que ocorre desde o ano 2001. Este projeto é realizado
por meio da Coordenadoria de Educação a Distância
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e alguns municípios
do interior do estado: São Gabriel do Oeste, Camapuã, Rio
Brilhante, Água Clara, Coronel Sapucaia e Bela Vista por meio de
convênio com as Secretarias de Educação Municipais.
O estudo dos perfis identitários e históricos, no presente
trabalho recai sobre o curso de Pedagogia, na modalidade semi-presencial,
sendo que as aulas presenciais são ministradas nas sextas, sábados
e domingos, quando necessário, dependendo da carga horária
das disciplinas. A carga horária não-presencial é
desenvolvida por meio de atividades orientadas, cadernos pedagógicos
e rede Internet acompanhadas por tutores locais. Antes no início
do curso os tutores passam por um processo de formação,
destinado a orientá-los e prepará-los para as competências
que a função exige.
Fica a cargo dos municípios, oferecer a infra-estrutura necessária
ao desenvolvimento do curso. Compete a eles montarem a Unidade de Apoio
com: sala(s) para as aulas presenciais, biblioteca, laboratório
de informática e multi-mídia. O número de alunos
matriculados varia de município para município. Observa-se
que gira em torno de 80 a 120. Considerando a não existência
de outras modalidades de curso superior para formação docente
nas localidades acima mencionadas, a abertura de vagas, que em princípio
seria restrita apenas a docentes em serviço, acabou por abrir espaço
para não docentes.
O projeto do curso de pedagogia foi idealizado tendo em vista o modelo
dos cursos presenciais, ou seja, obedece às orientações
emanadas do CNE para formação docente. Difere apenas na
forma de execução, pois nessa modalidade as disciplinas
são modulares. Os professores que atuam no curso são os
mesmos do quadro regular da instituição Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS), salvo exceções em algumas
disciplinas. Antunes de Sá falando a respeito da validade dos cursos
à distância:
À validade do diploma para os cursos de graduação
à distância, deve-se observar o Decreto Nº 2494/98 e
a Portaria nº 301/98- MEC que balizam e normatizam a oferta, o credenciamento
e avaliação desses cursos. Perante a atual legislação
atual na há diferença entre a qualidade do presencial com
da modalidade à distância (2000, p.05)
Para compreender os efeitos do curso sobre os acadêmicos,
a forma como interagem com a aprendizagem, bem como o uso da tecnologia
no processo do conhecimento, tomando como referência o estudo dos
memoriais e questionários e sua análise foi necessário
primeiramente desenvolver estudos teóricos e metodológicos
que possibilitasse um arcabouço para a temática escolhida.
É preciso esclarecer que os memoriais foram elaborados pelos alunos,
sob orientação da professora Lucrécia Stringhetta
Mello, orientadora dos planos de trabalho (PIBIC/CNPq/UFMS) e também
professora nesta modalidade de curso. Os memoriais fazem parte do plano
de trabalho da disciplina História da Educação, onde
a partir da descrição da história de vida os alunos,
através do recurso da memória, revêem a formação
inicial e projetam a construção da identidade docente.
Com os memoriais, este trabalho em andamento, pretende levantar o perfil
dos alunos/professores matriculados no o Curso à Distância.
Assim a metodologia adotada é de cunho qualitativo que segundo
Chizzotti (1991, p. 79):
A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há
uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito
[...] o objeto não é um dado inerte e neutro; está
possuído de significados e relações que sujeitos
concretos criam em suas ações.
Uma investigação qualitativa tem no ambiente
natural a sua fonte de dados, sendo eles colhidos de forma descritiva.
O processo de investigação é mais importante que
os resultados. A análise quantitativa se dará pela divisão
de categorias, freqüência ou intensidade dos acontecimentos
observados, pelo número de memoriais analisados e a porcentagem
dos resultados colhidos. (MELLO, 2004)
Mesmo utilizando a pesquisa qualitativa, nesse estudo também recorremos
a dados quantitativos para melhor explicitar e mapear o contexto onde
se dá a investigação. Para realização
da pesquisa estaremos utilizando instrumentos como: leitura das narrativas
de histórias de vida (memoriais), questionários para complementação
dos dados não adquiridos nestes, bem como, entrevistas gravadas
em fitas k7.
A interdisciplinaridade também se faz presente uma vez que recorremos
à parceria que “deriva da afetividade e do respeito, atributos
próprios da interdisciplinaridade, que, por sua vez, implica participação
e colaboração mútua”.(FAZENDA, 1999, p.13 apud
MELLO, 2004). Pelas leituras dos memoriais, pelo diálogo com os
teóricos, pelo conhecimento e observação dos locais
onde se realizam os cursos, a parceria se fez presente, um olhar mais
aguçado no contexto em estudo.
Através da análise do discurso produzido em memoriais e
entrevistas realizadas por amostragem, pretende-se mapear o perfil histórico
identitário dos acadêmicos bem como, levantar o significado
quanto à necessidade de interagir com a tecnologia, uma vez que
o curso exige momentos de estudos não presenciais (virtual).
A noção de discurso segundo Maingueneau
[...] é empregada com acepções muito
diferentes, desde as mais restritivas até as mais abrangentes.
O mesmo ocorre com a expressão correlata “análise
do discurso”. Em uma primeira aproximação, na perspectiva
da “escola francesa de análise do discurso”, entenderemos
por “discurso” uma dispersão de textos cujo modo de
inscrição histórica permite definir como um espaço
de textos cujo modo de inscrição histórica permite
definir como um espaço de regularidades enunciativas. [...](2005,
p.15)
E para tanto recorre a Foucault que ao afirmar que o discurso
é
Um conjunto de regras anônimas, históricas,
sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em um
dada época, e para uma área social, econômica, geográfica
ou lingüística dada, as condições de exercício
da função enunciativa.” (1986, p.136)
As unidades de discurso extraídas dos textos, constituem-se
os sistemas significantes, enunciados que têm a ver com a história
que fornece a razão para as estruturas de sentido que elas manifestam.
O que queremos é seguir o texto explorando as convergências
e o embricamento das histórias de vida visando compor um perfil
identitário dos sujeitos estudados.
Um grande aliado no desenvolvimento do plano de trabalho são as
leituras das histórias de vida contidas nos memoriais (método
auto-biográfico). Segundo Nóvoa (1995) desde a década
de 70 os métodos biográficos e auto-biográficos têm
sido fontes valiosas nas investigações educacionais, porém
vitima de muitas críticas, principalmente devido a falta de teoria
sólida que forneça suporte à elaboração
de práticas alternativas.
Destaca-se que os métodos citados sofreram críticas, principalmente
das correntes psicológicas e sociológicas, da primeira por
dizer que este método tem uma frágil consistência
metodológica e por não ter validade científica as
análises implícitas nas auto-biografias. Da segunda corrente,
por recorrer excessivamente aos aspectos individuais e na incapacidade
de colaborar e servir às mudanças coletivas e sociais.
Segundo o autor citado é preciso assumir toda a complexidade destas
abordagens autobiográficas, pois as mesmas possibilitam um olhar
multifacetado sobre o conhecimento, não reduzindo o método
a uma área específica, mas transitando entre as fronteiras
disciplinares.
No relato das histórias de vidas a linguagem é o mediador
de cultura. É através da linguagem que se mostra os valores
fundamentais de uma dada sociedade e as diferentes formas de discurso
que cada grupo produz e dá significações aos elementos
culturais que absorveu ao longo de suas relações sociais.
INICIANDO A ANÁLISE SOBRE AS MEMÓRIAS E
IDENTIDADE: BUSCANDO O PERFIL, AVANÇOS E DESAFIOS AO USO DA TECNOLOGIA.
O reflexo da formação precária dos
docentes está presente no dia-dia de cada sala de aula, pessoas
inseguras, insatisfeitas que muitas vezes limitam-se apenas ao uso dos
livros didáticos oferecidos e desenvolvem uma mecânica típica
de um comodismo que leva uma mudança no processo de construção
do conhecimento.
Segundo Nóvoa (1997), o sistema educacional passa por graves crises,
que estão relacionadas à precária formação
acadêmica dos professores. O conhecimento não significa acumulação
de certificados, projetos e cursos feitos, mas a maneira inteligente como
o profissional age diante das situações. Não basta
tê-lo é preciso saber usá-lo.
Neste contexto a política de formação contínua
dos professores é um modo de reconstrução e reapropriação
coletiva do saber, que pela troca de experiências vividas torna
a relação pessoal do saber mais importante que o próprio
saber em si. Este processo permite que o professor reflita sua práxis
atuando com maior segurança no desdobramento de novas teorias e
na inserção delas na sua prática educativa, Nóvoa,
reforça essa idéia quando diz: “Os professores têm
de assumir como produtores da sua profissão”.(1997. p. 28)
Para o autor, são essenciais três critérios como base
na formação de professores: crítica reflexiva, autonomia
e criatividade. A crítica reflexiva deve fazer parte da vida do
professor para que possa estar sempre buscando meios para melhorar sua
prática. A autonomia permite escolher o que é melhor para
sua sala de aula e para seus alunos de acordo com as necessidades apresentadas
e, a criatividade o ajuda a não ficar preso a livros de didáticos,
ir além do que está neles.
A pedagogia não está relacionada apenas em organização
e avaliação do conhecimento, mas com a linguagem, modo de
agir, ver e sentir de cada professor. Para que possa haver melhoras na
atuação dos professores não basta mudar apenas a
forma como estão atuando, é necessário mudar também
o sistema ao qual estão inseridos.
Para entender melhor o conceito de identidade Nóvoa (1995) nos
lembra que ela está intimamente ligada a questões que perpassam
pela cultura, hábitos de leitura e escrita dos alunos expressando
sua concepção de mundo.
Mas não é possível falar de identidade sem antes
falar de memória que arquiva os momentos mais marcantes e significativos
para o individuo e através da linguagem decifra-os. É através
do exercício da linguagem que reelaboramos estas memórias,
e podemos recuperar as promessas do passado e cumpri-las no presente,
pois o exercício permite que as lembranças sejam avistadas
do alto, podendo qualificar, potencializar ou suprimi-las, para tanto,
é necessário uma atitude crítico- reflexiva.
O trabalho com memoriais, em que reconstroem sua história de vida
articulada à escolaridade, possibilita aos mesmos enxergar as astúcias
e empreendimentos que os tornaram sujeitos históricos. A consciência
dessa construção expressa nas maneiras singulares de: ver,
agir, lembrar e expressar marcam o jeito de ser de cada um e faculta a
mudança e transformação à medida que têm
acesso a novos saberes.
Segundo Mello (2004, p.77) “a descrição das dimensões
intrínsecas e a compreensão dos contornos dos pressupostos
teóricos que embasam o trabalho e as práticas dos professores”
[...] reunia “evidências dos procedimentos docentes que representassem
as ‘marcas’ teóricas construídas e seu ‘fazer’,
relacionados ao processo de formação pelo qual passam”
Quando os professores são convidados a escrever suas histórias
de vida, a certa estranheza no primeiro momento, pois este exercício
potencializa sua vida e formação e esta prática não
é muito comum devido a desvalorização social que
esta profissão sofre. Descobrir-se autor e construtor da própria
história de vida é interessante e admirável, podendo
dar uma guinada completa em sua profissão tanto quanto em sua vida
pessoal.
Muitas vezes, professores se vêem com dez anos de carreira sem saberem
por que escolheram um curso ligado a educação, ou por que
trabalham desta ou daquela maneira, quais os autores mais lidos em sua
área, ou por que nunca leu nenhum?. Vivem para o trabalho sem conhecê-lo
e sem conhecer a si mesmo. O exercício de memória é
antes de tudo, um encontro consigo mesmo, ou seja, é um processo
de tornar-se, refazer-se a partir de suas práticas.
O processo identitário requer tempo, pois pressupõe investigação
da história pessoal e profissional do professor. Indagações
desde seus prazeres mais simples até suas preferências teóricas
e conceituais, pois segundo Nóvoa, “ser professor obriga
a opções constantes, que cruzam a nossa maneira de ser com
a nossa maneira de ensinar, e que desvendam em nossa maneira de ensinar,
a nossa maneira de ser”. (1995, p.22)
A identidade se constrói por um processo de individualização,
ou seja, são as fontes de significado que o sujeito interioriza,
e que geralmente, adota como prática ou conceito para a vida. É
um processo que sofre influência do meio cultural e social que está
inserido e quando o sujeito não tem acesso a informações
variadas ou não possui um nível de amizades e lugares a
se visitar com diversos olhares sobre o mundo, fica sujeito aos atores
sociais dominantes que geralmente ditam os conceitos de valor, beleza,
cultura e informação.
Castells (2002) conceitua identidade como “a fonte de significado
e experiência de um povo” (vol.2, p.22), ou seja, é
um processo de contínua construção que se dá
pelas significações de valores e aprendizagens que atribuímos
para a vida, mediante os contatos com diversas culturas.
Na tentativa de levantar as categorias que identifica o grupo de alunos/professores,
nessa primeira etapa de desenvolvimento do plano de trabalho escolhemos
os municípios de Água Clara/MS e de Camapuã/MS, coletados
no ano de 2005. A primeira leitura possibilitou a coleta de informações
iniciais como: nome, idade, estado civil, histórico de sua trajetória
escolar, situação sócio-econômica, local de
trabalho. Acrescente-se ainda, a leitura e análise dos memoriais
contendo uma avaliação pessoal acerca do curso em questão.
Posteriormente, construímos um gráfico para melhor visualizar
as categorias depreendidas nos textos (memoriais) e pela análise,
percebemos que faltaram dados a respeito da trajetória escolar
e local de trabalho. Para maiores informações, elaboramos
um questionário com dez (10) questões abertas e fechadas
que foram aplicadas nos dias em que fomos a campo, respectivamente, em
Camapuã dias 20 e 21/05/2005 e Água Clara nos dias 10 e
11/06/2005. São dois municípios localizados no interior
do Estado de Mato Grosso do Sul, com aproximadamente quinze mil (15.000)
habitantes em cada cidade.
A EAD em Camapuã funciona na Escola Municipal Ernesto Sólon
Borges, durante o dia a escola comporta alunos do ensino fundamental (1ª
a 8ª séries), no período noturno funciona as salas
de cursinho preparatório para o vestibular e salas do EJA, nos
finais de semana as salas são cedidas aos alunos da Educação
à Distância.
O espaço da biblioteca se divide com a secretaria e possui quatro
(4) armários com livros, ao lado, funciona o laboratório
de informática que comporta 16 computadores para atender todo o
curso, os dias em que o laboratório fica disponível são
as terças e quintas-feiras. Não tem sido muito freqüentado
pelos alunos por não saber usar a tecnologia e não haver
um monitor para auxiliá-los.
Através da observação em lócus foi fácil
notar o quanto o professor precisa deste tempo/espaço para refletir
sobre sua profissão e formação, como demonstram a
necessidade de aperfeiçoamento e de se apaixonar novamente pelo
saber. Nota-se um mal estar docente (Esteve) sentimentos estes expressos
em suas palavras que demonstram um envolvimento com a rotina cotidiana
impeditiva de um tempo de reflexão sobre sua prática e o
próprio “não saber”.
A subjetividade contida nas narrativas autobiográficas pode se
tornar conhecimento científico, Ferrarotti (FERRAROTTI apud BUENO,
2002) afirma que o homem representa sua realidade e a revela na práxis
representativa da relação que ele tem com as estruturas
sociais e, cuja história está refletida nos comportamentos
individuais.
O PROCESSO IDENTITÁTIO PERANTE A SOCIEDADE GLOBALIZADA
A modernidade trouxe consigo as contradições
entre global e local e à medida que a tradição perde
terreno os indivíduos vêem-se obrigados a optar por estilos
de vida em meio a uma série de possibilidades, por isto a vida
organizada reflexivamente, torna-se cada vez mais difícil, porém
fundamental para construção da identidade.
Galli Soares em seu livro: Arquitetura da Identidade (2000) refere-se
à linguagem educacional inserindo palavras como - arquitetura -
para definir o processo de educação e formação
básica do individuo e, - desenho - para traduzir as amostras do
processo de aprendizagem dos alunos, como suas manifestações
de arte, escrita e leitura. O professor que é chamado de - artista
- segundo a autora, significa ser um profissional que foge da homogeneização
da sociedade, de uma educação copista e alienante para ajudar
o aluno a encontrar e manifestar sua identidade natural.
Quando o desenho surge sem a necessidade de interpretações
prévias, longe dos cronogramas de execução, simplesmente
pelo prazer espontâneo de esboçar o natural do que se conhece,
o individuo passa a se identificar consigo mesmo, notar o que é
do outro e que compõe sua identidade. A autora define identidade
natural como uma [...] constituição do ser, preservada dos
artificialismos da realidade e seus utilitarismos, que requer a liberdade
do desenho seguida da permissão e motivação a sua
exposição, manifestando a identidade natural do ser, processo
que definimos como arquitetura. (ibidem, 2000, p.20).
O professor com esta postura resgata o valor filosófico da educação
“de construção do ser sensível e capaz de desenvolver
numa fase mais consolidada da identidade, potencialidades profissionais,
lideranças, e responsabilidade com a sociedade em geral”.
(ibidem, 2000, p. 46)
Outro enfoque do nosso plano de trabalho está relacionado às
resistências dos professores quanto às inovações
do processo de ensino aprendizagem principalmente, no que diz respeito
à tecnologia. Para falar das resistências apresentadas pelos
docentes no uso de tecnologias nas escolas é preciso voltar ao
passado para entendermos o presente, ou seja, como foi a formação
dos professores, os problemas que enfrentaram e porque os enfrentam.
.
A formação implica em mudanças dos professores e
das escolas, sendo que o mundo moderno está presente fora das escolas,
se ela não aderir a esta realidade fica alienada à informatização.
O computador está chegando cada vez mais nas escolas, mas não
é o suficiente, é preciso preparar os docentes para saberem
lidar com essa tecnologia em suas aulas garantindo condições
de atualizar e aprender, oferecer cursos e treinamento na escola e fora
dela.
Dos alunos que freqüentam a E.A.D, a maioria já atua como
professor e saber manipular um computador é essencial, pois além
de utilizá-lo para comunicar-se com os professores e tirarem suas
dúvidas, pesquisar na Internet e digitar os trabalhos solicitados,
precisarão estar aptos para usá-los em suas escolas, pois
o computador fará parte do dia-a-dia do professor e do aluno, saber
usá-lo é uma questão de necessidade. A máquina
não é solução para todos os problemas pedagógicos,
ela será apenas um incentivo para os educadores reverem seus métodos.
Essa resistência por parte dos professores é na verdade o
reflexo do seu passado, o despreparo, causando insegurança e medo.
Quando falamos de tecnologia muitos a entendem como instrumentos novos
que estão tomando o espaço do homem, no entanto, ela existe
desde o início da civilização. Passamos pela idade
da pedra do bronze até chegarmos ao momento atual que tem como
seu representante o computador. “Tecnologia é na verdade
produtos e equipamentos resultados de estudos, planejamentos e construções
específicas na busca de melhores formas de viver” (KENSKI,
2004 p.17).
As tecnologias como instrumentos da aprendizagem são de grande
importância, se antes o ensino era de exclusividade da escola na
qual os alunos tinham que estarem presentes todos os dias, aulas ministradas
pelo método tradicional e o ensino era determinado, ao término
os alunos se sentiam prontos para exercer uma profissão. Com as
velozes transformações tecnológicas impõem-se
outros ritmos precisando sempre estar em permanente estado de aprendizagem.
Atualmente, ensino pode ser compreendido de outra maneira, a tecnologia
é um recurso que permite que à distância obtenham-se
conhecimentos, ou seja, não existe um lugar específico para
aprendizagem. Exemplo disso são as aulas virtuais que acontecem
nos cursos de E.A.D. É uma oportunidade de levar a educação/formação
àquelas pessoas que não têm onde fazer um curso superior
ou aperfeiçoamento.
O paradigma da educação tradicional já não
satisfaz os estudantes, um novo tempo, um novo espaço e outras
maneiras de pensar e fazer são exigidos na sociedade moderna. Assim
como existe a divisão do trabalho, em físico e mental e
como conseqüência a exploração do segundo sobre
o primeiro, no ensino também existe essa separação
entre professores e alunos, os que mandam e os que obedecem sem uma interação
entre eles. “O conhecimento compartilhado pela equipe gera um novo
saber que nasce da troca do entrechoque de opiniões “(KENSKI,
2004 p.59).A partir do momento em que adotamos o uso das tecnologias,
todos os campos educacionais são afetados, necessitando urgentemente
de uma reestruturação não apenas na teoria, mas também
na percepção e ação educativa. E a autora
nos coloca que:
[...] para o desenvolvimento de uma cultura informática
é necessário à reformulação dos programas
pedagógicos, flexibilização nas estruturas do ensino,
interdisciplinaridade dos conteúdos, os relacionamentos com outras
esferas sociais e a comunidade em geral (KENSKI, 2004, p.68).
As tecnologias devem ser vistas como geradoras de oportunidades
para estarmos buscando o conhecimento, interagindo com pessoas de todos
os lugares, eliminando as barreiras existentes e melhorando a qualidade
de vida. Na sociedade em que vivemos, cada vez mais as tecnologias estão
fazendo parte de nossas vidas. Essa é uma realidade a qual não
podemos fugir. Sendo que “[...] ela invade nossas vidas e nos ajuda
a viver com as necessidades e exigências da atualidade” (ibidem,
2004, p.31).
Capisani (2000) nos chama a atenção de como as escolas estão
agindo diante dessa realidade, na interação com a tecnologia,
lembrando que podem estar contribuindo para sua alienação.
De um lado temos a chegada cada vez mais de computadores nas instituições,
de outro, a não preparação dos docentes para interagir
produtivamente no processo de construção do conhecimento.
Por essa razão, é preciso preparar os professores para saberem
lidar com esse novo recurso em sua didática.
É necessário que o curso esteja capacitando professores
com autonomia para criar e recriar recursos diferentes, estar sempre se
atualizando, estudando várias possibilidades de uso dessa nova
ferramenta como mais um recurso didático facilitador do processo
de aprendizagem.
Através da Internet os alunos comunicam-se com professores para
tirarem suas dúvidas, fazem pesquisas de vários assuntos,
trocam experiências com outras pessoas. “A educação
a distância pode e deve ser feita dentro dos padrões de uma
aprendizagem onde o aluno constrói seu conhecimento”.(BITTAR,
2000, p. 98).
Se almejarmos um país desenvolvido, é fundamental começarmos
com uma educação reformulada com professores capacitados
para acompanhar o uso de novas tecnologias na educação.
3 – DUAS REALIDADES - DOIS OLHARES
A pesquisa interdisciplinar nos ensina a gerar significados
essenciais para compreensão da sociedade que estamos inseridos,
pois está intimamente ligada a interpretação dos
fatos, dos símbolos, do subjetivo. O pesquisador deve estar atento
ao que vê e ouve, valorizar os acontecimentos, conversas informais
e as próprias impressões, podendo enriquecer o trabalho
com instrumentos como a entrevista, o questionário e a análise
de documentos. “ o trabalho interdisciplinar só começa
quando fazemos a intermediação com as infinitas possibilidades
que cada modalidade conduz, buscando aquelas que nos auxiliam atendendo
às necessidades da pesquisa”. (MELLO, 2004, p.39)
Os acontecimentos devem ser vistos por cima, para se obter uma visão
do todo. O pesquisador não deve se concentrar somente nas partes,
inter-cruzar as camadas sociais indagando o pensamento e as práticas
cotidianas são bases interdisciplinares que poderão decifrar
as significações do vivido.
A interdisciplinaridade vista sob a ótica educativa, não
significa que a escola deva cumprir somente com os requisitos de formação
intelectual, mas também com a formação social do
sujeito, e esta formação só ocorre quando o indivíduo
deixa sua singularidade e se reconhece como cidadão, parte necessária
do coletivo.
Baseando-me na leitura dos memoriais (75) dos acadêmicos da 2ª
série do curso de Pedagogia em Água Clara/MS, pude observar
uma supremacia feminina de 92%, onde 69 são mulheres e 06 são
homens, e também constatar que a maioria (44) são casados
e tem filhos.
Através dos dados de identificação foi possível
destacar os estados dos quais migraram os alunos da EAD em Água
Clara/MS: Goiás, Bahia, Minas Gerais e Moto Grosso, respectivamente
uma pessoa de cada; do Estado do Paraná 8 pessoas; de cidades interioranas
de São Paulo próximas a nossa região, migraram 9
pessoas; e do Estado de Mato Grosso do Sul compõe um total de 21
pessoas.
A minoria dos alunos não trabalham durante a semana, são
apenas estudantes (2) ou donas do lar (6), uma outra parcela de alunos
compõe um quadro considerável de 19 pessoas que atuam como
professores da Rede Municipal de Ensino. Durante a ida a campo nos dias
10 e 11/06/05 e 24 e 25/06/05 pude observar que estes que tem contato
com prática são os que mais se destacam na compreensão
das aulas e na interlocução com as disciplinas.
Em alguns memoriais chamou minha atenção o fato dos alunos
dizerem com muita veemência de sua prática religiosa e pude
constatar que quase 90% da classe pratica uma religião e este dado
certamente influencia no seu perfil identitário. Constatamos, portanto,
que 58 pessoas dizem ter religião e praticar sua fé. Dividem-se
entre católicos (37), evangélicos (19), e espíritas
(02), sendo que 7 pessoas diz não ter religião alguma.
A prefeitura é o órgão que abriga mais empregos na
cidade, 24 alunos estão ligados a serviços como: na área
da saúde, Câmara Municipal, secretaria escolar, entre outros.
O comércio como segunda fonte empregatícia do município
concentra 14 dos alunos.
A trajetória escolar da maioria dos alunos (40) ocorreu na cidade,
cursando o Ensino Fundamental e o Ensino Médio em escolas Públicas,
outros, fizeram Magistério e há muito tempo já lecionam,
outros, lecionavam na fazenda e depois que se mudaram para o município
pararam de trabalhar e devido à exigência de um curso superior
na área, se matricularam no curso de Pedagogia.
Com a leitura dos memoriais pude verificar que alguns alunos tinham muitas
dificuldades com escrita (ortografia), e não havia concordância
de idéias e palavras no texto. Buscando maiores informações
sobre sua formação escolar, averigüei que estes alunos
estudaram as primeiras séries do Ensino Fundamental (1ª a
4ª) na fazenda e alguns deste ficaram muito tempo sem estudar até
poder chegar à cidade para concluir o restante do Ensino fundamental
(5ª a 8ª). Dos que estudaram as séries iniciais na fazenda,
alguns fizeram o restante do Ensino Fundamental e o Ensino Médio
em escolas Públicas (4), há os que fizeram EJA (Educação
de Jovens e Adultos) (2), e que fizeram Magistério (9).
Todo este trajeto precário de escolarização prejudica
o desenvolvimento dos alunos da Educação a Distância,
pois para que o curso seja bem sucedido é necessário uma
grande parcela de empenho e colaboração por parte dos alunos.
O perfil dos acadêmicos deve ser de autonomia, curiosidade, plenos
de vontade, pois a maior parte do tempo a construção do
conhecimento se dá pelo estudo isolado, e nem todos estão
cientes de sua parcela de colaboração, não entendem
que se matricularam em curso de Educação a Distância,
semi presencial, e portanto não podem esperar somente dos professores.
Percebo que os educandos não encontram mecanismos de escape da
acomodação que a escola secular criou nos alunos durante
os anos escolares, e os que se enquadram no perfil educativo citado acima,
tem ainda maiores dificuldades de caminhar sozinhos.
Os próprios alunos reconhecem que sua má formação
anterior prejudica seu desenvolvimento intelectual, o acompanhamento das
aulas e a interpretação dos textos, como comenta a aluna
A:
“[...] também tenho um pouco de dificuldade em estar lendo
textos, não tenho habito de ler – problema que começou
desde o início do meu processo de formação escolar.
Na época eu não gostava de ler e ninguém nunca me
cobrou por isso”.
Aluna B:
“Essas dificuldades em ler e interpretar vem de uma formação
inadequada na escola de 1º e 2º grau, devido ao fato de que
meus professores não tinham a formação adequada para
ministrar as disciplinas de forma que as tornassem mais didáticas
e prazerosas.”
As dificuldades da turma em geral, são muito próximas dependem
unicamente da escola pública em nosso país. Ao entrarem
nas Universidades percebem que lhes faltam suporte para entender os conteúdos
e a dinâmica no processo de conhecimento, porém isto não
é motivo para os fazerem desistir, sua força de vontade
e ânimo em sala de aula, são exemplos de coragem e de vontade
de mudar de vida.
Os alunos se reúnem em grupos menores durante a semana no período
noturno para discutirem os textos, são estes momentos de troca,
que enriquecem o conhecimento de cada um.
Há uma média de 22 alunos que compõe uma faixa etária
entre 19 a 29 anos que encontram maior clareza e facilidade no desdobramento
das aulas - apesar de alguns não terem a prática de sala
de aula. Neste grupo, há também 4 alunos que não
concluíram, por diversos motivos, outro curso de nível superior
na UFMS e na UCDB em Campo Grande/MS.
Como em Água Clara ainda há biblioteca e nem laboratório
de informática, os poucos alunos que tem internet em casa se correspondem
com a professora via e-mail e se encarregam de transmitir as orientações
aos outros colegas. Este projeto inclui uma monitora permanente para ajudar
os alunos em suas tarefas acadêmicas, porém fica a cargo
da prefeitura do município eleger a monitora e nem sempre, são
graduadas ou possuem condições de auxiliar os alunos nas
suas dúvidas.
É unânime a necessidade revelada nos memoriais de adquirirem
uma biblioteca, como relata a aluna C:
“Um de nossos problemas é de fazer nossa pesquisa por falta
de livros”
Aluna D:
“Uma de nossas principais dificuldades é a falta de livros”
Aluna E:
“O curso de Pedagogia a Distância está se tornando
cada dia mais difícil, principalmente porque não temos uma
biblioteca à altura para pesquisar e menos ainda um orientador
para fazer os trabalhos solicitados”.
Alguns alunos voltaram a estudar já com a idade avançada,
em decorrência de anos longe da escola sentem-se desatualizados,
o que os motiva principalmente, é o desejo de melhorar de vida
pela segurança financeira que o curso superior pode trazer, como
relata o aluno F:
“Estou nesta luta, diante de minhas dificuldades, mas com um intuito
transparente, de vencer na vida através desse curso de pedagogia”
Aluna G:
“Espero ter uma qualidade (financeira) de vida melhor”
A maior dificuldade revelada por quase todos os alunos é quanto
a interpretação de textos e a escrita. Esta preocupação
atinge tanto os mais jovens que estão no seu primeiro curso universitário
quanto os que ficaram muitos anos longe dos bancos escolares.
Estes problemas surgem, principalmente, devido a falta de leitura em seu
dia a dia e como acrescenta Marques “... não só das
dos livros, também das do mundo, das da vida, de nossas conversas
de uns com outros, de nossas prévias experiências, isto é,
de nossa capacidade de dizer a outrem o que aprendemos.” (MARQUES,
1997, p.112)
Alguns admitem nos seus escritos que não tem o hábito de
leitura e outros comentam que o curso lhe mostrou a importância
do ato de ler para aqueles que trabalham na área da Educação.
Aluna H:
“As dificuldades que encontro no curso de Pedagogia, primeiramente
vem da leitura e interpretação de textos, pois eu não
tinha o hábito da leitura”.
Aluna I:
“Quero adquirir o hábito de ler e aprender os conhecimentos
necessários para transmitir aos alunos contribuindo com uma cidadania
digna”.
Sendo que 39 dos 75 alunos de Água Clara/MS se preocupam com sua
qualificação profissional, relatam o medo que sentem de
não sair do curso capacitados para exercer a profissão e
assumir uma sala de aula. Eles têm procurado participar de cursos
de capacitação e palestras ligados a sua área profissional,
e também se integrar nos eventos promovido pela UFMS como a Semana
Pedagógica de 2004 em Três Lagoas/MS e a Semana Pedagógica
de 2004 em Camapuã/MS, ambas, segundo a turma, “um sucesso”.
O desejo de ampliar os conhecimentos, de investigar e conhecer, tem sido
trabalhado pela maioria dos professores que ministram aulas na EAD e baseando-me
nas leituras dos memoriais posso afirmar que os alunos (maioria) têm
se transformado visivelmente e compreendido o caminho dos conhecimentos
que segundo Gaarden vem do querer saber “[...] a resposta é
sempre um caminho que está atrás de você. Só
uma pergunta pode apontar o caminho para frente”. (GAARDEN, apud
GALLI SOARES, 2000, p.68)
As falas abaixo confirmam o colocado acima:
Aluno J:
“No início do curso fiquei muito assustado, pois mudou totalmente
a forma de se estudar, pois vindo recentemente de um terceiro colegial
com métodos e regras ultrapassadas, foi uma grande transformação.
Na escola tinha que decorar quase tudo e aqui não, temos realmente
que aprender”.
Aluna K:
“espero aprender e compreender todas as matérias do curso
de Pedagogia. Sair profissional capacitada, não só a dar
aulas, mas ensinar meus alunos, ajudá-los, levando-os a saírem
do comodismo, tornando-os participantes dos problemas que os afetam e
criadores de condições necessárias para uma vida
digna e feliz.”
Aluna L:
“O que eu aprendi no curso e coloquei na minha vida prática:
- Leio mais e escrevo mais,
- Se informar, para atualizar.”
Diante dos relatos acima é possível apostar em uma boa formação
para os alunos, desde que, as estruturas governamentais e as parecerias
estabelecidas, concedam as condições prévias para
bom funcionamento do programa como: biblioteca, laboratório de
informática, instrutor para este laboratório e tutoria especializada.
Acrescente-se ainda é necessário que os alunos tenham plena
consciência do seu papel de co-autor, tanto em sua formação
profissional como pessoal pois, depreendemos das análises dos memoriais,
que o conhecimento só passou a habitar e fazer morada nos alunos
quando sua atitude frente a produção do conhecimento mudou,
acrescentando novos hábitos promovidos pela visão de mundo
e de vida proporcionadas pelo curso
Um outro enfoque, proporcionado pela pesquisa de campo está direcionada
ao impacto frente ao uso da tecnologia, afeta ao próprio processo
que o curso requer dos acadêmicos. Nesse sentido a análise
a seguir baseou-se na tabulação preliminar de um questionário
aplicado a uma das turmas do curso de EAD.
A tabulação de um questionário com dez (10) questões
(abertas e fechadas), aplicado nos dias 20 e 21/05/2005 à turma
do 4ª série de Camapuã nos leva a um resultado parcial,
mas com indicadores significativos para compreensão deste aspecto
da formação. Este questionário foi aplicado quando,
juntamente com minha orientadora, fui a campo a fim de colher maiores
informações, pois os memoriais desta turma (4ª série
de Pedagogia em Camapuã/MS) não estavam disponíveis
para análise até o dia da viagem.
O questionário foi aplicado a 65 alunos presentes às aulas,
sendo que na lista de matrícula constava 72. Entre os ausentes,
3 alunos desistiram e 4 deles justificaram a ausência.
A tabulação dos dados do questionário indica que
faixa etária dos educandos varia entre 21 a 57 anos, sendo que
sessenta (60) são mulheres, correspondendo a 92,30% e apenas cinco
(05) são homens correspondendo a 7,69%. Podemos constatar também
que dentre eles, trinta e um (31) são casados e tem filhos e, vinte
(20) pessoas estão solteiras.
A escolaridade inicial da maioria dos alunos ocorreu em escolas públicas
e na cidade, apenas três (3) alunos fizeram o Ensino Fundamental
(1ª a 4ª) na zona rural. Entre os alunos, 35 trabalham na área
da Educação como: professores, auxiliares na secretaria
escolar, sendo que e uma (1) aluna ocupa o cargo de diretora de uma escola
(não comenta se na Rede Estadual ou Municipal de Ensino).
A coleta de dados possibilitou o levantamento da naturalidade dos mesmos:
(55) naturais de Mato Grosso do Sul e desse total (48), na cidade de Camapuã,
somente dez (10) alunos migraram dos Estados de Goiás, São
Paulo, Paraná, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Sul.
Ao perguntar aos alunos porque escolheram o curso de pedagogia, a maior
parte (33) respondeu que é devido estarem atuando na área
da educação e por sentirem a necessidade de buscar novos
conhecimentos. E, para uma melhor prática a ser realizada em sala
de aula, viram-se na obrigação de ingressar em um curso
superior, de modo a auxiliá-los a exercer sua prática com
maior segurança.
Como afirma a aluna M:
“Porque já estou atuando na área e na nossa profissão
estamos em constante transformação e a cada dia que passa,
adquirir conhecimento é preciso”.
Outros alegam que escolheram o curso por falta de opção
e por almejar um curso de nível superior. Como afirma a aluna R:
“Sempre tive vontade de fazer um curso superior e como surgiu esta
oportunidade aqui mesmo em Camapuã, resolvi ingressar no curso”.
Ao perguntar se o curso atende as expectativas esperadas, todos responderam
que sim, e a maioria alegaram que o curso ampliou seus conhecimentos,
abriu novos caminhos para atuar na sala de aula além de proporcionar
uma visão mais ampla e crítica sobre a educação.
Aluna V:
“Este é um curso que nos coloca conscientes da situação
da educação e nos fortalece na busca de uma educação
de qualidade”.
Sobre as dificuldades encontradas no curso, grande parte dos alunos responderam
que estão relacionadas com leitura e interpretação
de textos, com a escrita e principalmente apresentação oral.
Como afirma a aluna T:
“Dificuldade de leitura e compreensão do texto e de registrar
minhas próprias idéias e dificuldade de apresentar em público”.
Os maiores avanços obtidos no decorrer do curso, segundo os alunos,
estão relacionados à escrita a interpretação
de textos, também quanto a apresentação de seminários
em público, e aperfeiçoamento da prática educacional
em sala de aula. Como comenta o
aluno A:
“ Aprendi a planejar melhor minhas atividades, melhorando meu trabalho
no campo da educação.”
Aluna M:
“Maior compreensão quanto a leitura, interpretação
trabalhos com projetos, olhar mais perceptivos em sala de aula”.
As questões referentes ao uso da tecnologia encontram-se em fase
de pré-teste. Observa-se pelos resultados parciais, obtidos com
33 alunos que: (26) usava o computador antes do curso, (12) usavam com
freqüência, sete (7) usam raramente e cinco (5) usam pouco
(2) não informaram. Dos alunos entrevistados, cinco (5) afirmaram
que não usa o computador, por diversos motivos: não ter
conhecimento de informática, por morar longe do centro de apoio
e não ter computador em casa, outros dois (2) alunos conheceram
a tecnologia durante o curso.
Na questão dez (10): “Se a tecnologia está sendo usada
a favor de sua educação,” 80% afirmam que a tecnologia
têm contribuído com sua formação. Exemplo disso,
recortamos a citação abaixo;
“Sim, com essa tecnologia sempre pesquiso nas áreas escolares,
para poder me informar e sempre estar atualizada, sempre leio as notícias
que acontecem no mundo assim fazemos uma interação mais
ampla e completa no dia-dia”.
Em pesquisa de campo e em conversa informal com os acadêmicos observei
um grande abismo entre o que foi respondido no questionário e o
que ocorre na prática. As propagandas e conhecimentos transmitidos
pela mídia informam os alunos sobre a importância e utilidade
da tecnologia, porém este mecanismo de auxilio ainda não
faz parte da realidade de muitos alunos.
Embora afirmem que a tecnologia é muito importante, que contribui
para a aprendizagem, não declararam que a mesma tem sido uma aliada
na sua formação, como comenta a aluna C:
“Sim, porque através da tecnologia nós temos mais
conhecimentos e desenvolvimento na aprendizagem e, um conhecimento amplo
de ensino e mais atualizado nos assuntos do dia a dia”.
O programa de Educação à Distância visa um
ensino de qualidade, através de aulas semi-presenciais e estudos
individuais, onde o aluno seja o centro do processo da própria
aprendizagem. Porém, para obter um melhor rendimento é necessário
maior demanda ao uso de pesquisa na Internet e outros recursos que a mídia
oferece. Nesta cidade em que iniciamos a investigação sobre
a influência da tecnologia, muitos alunos reclamaram da ausência
de um tutor para ajudá-los nos trabalhos e a comunicar-se com os
professores para tirarem suas dúvidas referentes aos estudos e
trabalhos que fazem parte das atividades à distância.
Depreendemos deste estudo, ainda inconcluso que, faz-se necessária
à compreensão, sobre a própria modalidade EAD, uma
vez que, cada vez mais se consolida essa modalidade de curso como alternativa
de formação. A própria transformação
na economia, de globalização e seus reflexos na educação
nos dão um parâmetro dos desafios que se apresentam neste
início de século. As pesquisas como essa que realizamos
podem contribuir no mapeamento do perfil dos acadêmicos e suas reais
necessidades para obter uma boa formação. A memória
coletiva e pessoal tem valor importantíssimo na direção
para tomada de atitude frente a estas decisões cotidianas.
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