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LEJA
UM ESTUDO DE LEITURA PARA JOVENS E ADULTOS
Como educadoras e alfabetizadoras, entendemos a importância de desenvolver em sala de aula um movimento de alfabetização e letramento. Para tanto se faz necessário conhecimento. Conhecimento para compreender a importância e a função de todos os gêneros literários que circulam na esfera social. Para compreender qual a maior, ou melhor, recepção literária nas diferentes tipologias textuais do grupo no qual trabalhamos e como ampliar a receptividade de nossos alunos. Para nos desestabilizar e ampliarmos nossos olhares buscamos sistematizar um esboço de estudo a qual nos remetessem ao outro contexto, não vivenciada até aquele momento por nós . Diante de nossa inquietação realizamos nosso estudo na educação de jovens e adultos.Uma vez que o publico presente na educação de jovens e adultos são na maioria das vezes os que não tiveram sucesso na escola regular, não por incompetência sua mas por incompetência da própria escola, outros ainda não tiveram acesso a escola sendo esse um dos motivos da desigualdade social. O fato de retornarem a escola significa possibilidade de crescimento de se relacionar com outras pessoas, de sentir como alguém que esta aprendendo pela interação com o outro. Significa também expansão de sua visão da realidade, poder evoluir com outro e com o mundo sentir se sujeito, ampliando sua cidadania. Entendemos que a formação dos sujeitos também se amplia através do movimento da leitura. Desenvolvemos então este estudo para caracterizar a receptividade de leitura no grupo de jovens e adultos. A pesquisa realizou-se através de encontros regulares quinzenais em uma escola publica municipal, no espaço de sala de aula. Tendo como foco os educandos (as) do EJA (educação de jovens e adultos) do noturno. Contemplamos os elementos referentes ao processo da leitura através dos portadores de texto do gênero literário, poético, jornalístico, informativo, visual, musical... É no encontro com qualquer forma de literatura que os homens têm oportunidade de ampliar, transformar, ou enriquecer sua própria experiência de vida. Nesse sentido, a literatura apresenta-se não só como veículo de manifestação de cultura, mas também de ideologias. A literatura infantil, por iniciar o homem no mundo literário, deve ser utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência, para expansão da capacidade e interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental mostrar que a literatura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambigüidade e pluralidade.
A necessidade de ampliação deste mundo da leitura veio dos registros em pedras, árvores... Em que serviram como outra fonte de informação e conhecimento até então elaborados pela humanidade. Esses conhecimentos foram sendo modificados e até perdidos de acordo com os avanços dos diferentes povos e da interação desses povos, nessas diferentes culturas.Com todo esse movimento de leitura de mundo e de leitura da palavra escrita, havia uma outra releitura e através dela foi elaborado e escrito outros conhecimentos. Como pontua Paulo Freire ( 1992,p.86.) “Leio tanto mais e melhor quanto, interando-me da substantividade do que leio, me vou tornando capaz de re-escrever o lido, á minha maneira, e de escrever o por mim ainda não escrito”. Enfim estamos no século XXI e afirmamos, que a
leitura até hoje permanece em questão, nos inquietando com
diversas questões de cunho social e didático. Também
afirmamos que os especialistas da indústria cultural e da comunicação
de massa sabem melhor que nós educadores, articular e produzir
práticas sociais de leitura que, quem as lê, lê até
mesmo sem querer. A palavra “CARREGO” não é por acaso, é porque através de nossas lembranças da infância, adolescência, juventude, que carregamos experiências com os livros ou leituras feitas na escola, junto trazemos muitos ranços dos quais são difíceis de nos livrarmos. Para exemplificar melhor este parágrafo trago a fala de uma das alunas no momento em que lemos a história: “Vó Nana” Em um encontro lemos a história, após a leitura fizemos um breve bate-papo, troca de idéias, mexemos num baú de lembranças... Então encerrarmos o encontro. No encontro seguinte, quando pedimos licença ao grupo para entrarmos na sala, logo uma aluna folhou seu caderno, destacou algumas páginas e pôs sobre a mesa. Após nos esclarecermos ao grupo qual seria a proposta daquela noite e antes de iniciar o desenrolar desta proposta a aluna levanta a mão e comenta: “Eu fiz um resumo da história lida no encontro anterior”nos mostrando as folhas cheias de escrita, percebeu-se que carrega com ela os ranços da escola, mesmo que tenha sido uma vivência curta.Ou então, É uma vivência recente.Esta prática ainda está empregada no espaço escolar. Um dos livros de ( PENNAC, 1998. p. 74.) ele pontua que o professor espera que eles (alunos) apresentem boas fichas de leitura sobre os livros que você (professor) lhes impõe e não que se deleitem com uma leitura que ele próprio selecionou. Através desse comentário percebeu-se que em fase adulta carrega consigo rituais ainda presente na escola. Está posto a concepção de leitura como avaliação, prática, esta que inibe, ao invés de contribuir na formação de leitores. Falamos muito, como educadores “É preciso ler! É preciso ler! E se em vez de exigir a leitura, o professor decidisse de repente partilhar sua própria felicidade de ler?” (PENNAC, 1998 pg.80). A leitura é uma janela para me conectar com o mundo, levando o indivíduo a um universo de relações. Mas o que lemos? Lemos pra que? Pra quem? O que indicamos para ser lido? Sabemos distinguir os gêneros literários? O que é literatura? Apresentamos uma variedade de tipologias textuais? Que desdobramentos eu fomento no grupo? Marisa Lajolo nos alerta que: “A literatura mudou, mudou muito. Mudou de cara, de endereço e até de família”. Você sabia educador? O saudoso Paulo Freire arrebate do outro lado que: “Ler é algo mais criador do que simplesmente ou ingenuamente passear sobre as palavras”. E agora o que você me diz? Estudos sobre a relação entre a leitura e a educação escolarizada mostram como grande parcela das nossas escolas publicas, ao invés de desenvolver e promover o gosto pela leitura, consegue exatamente o oposto, ou seja, uma aversão dos educandos por qualquer tipo de material impresso. “Recuperar na escola trazer para dentro dela o que ela se exclui por principio –O prazer – Me parece o ponto básico para o sucesso de qualquer esforço honesto de incentivo á leitura”. (João Wanderley Geraldi 2001.pg. 98). Durante este trabalho nós fomentamos nos educadores um movimento dialógico. Onde a oralidade esteve muito presente.Foram histórias e mais histórias que cada um tinha guardado dentro de si e que foram lhes proporcionado momentos para que essas histórias aflorassem, dando ainda mais vida /Histórias contadas sempre esteve presente na infância e adolescência deste grupo. Tecendo comentários de alguns recortes significativos de nosso estudo:
Antes de fazer a leitura da obra fizemos uma provocação ao grupo: questionamos o que para você é fundamental em seu dia-dia? Saúde,dinheiro,emprego,água,comida,paz,disciplina (...) Após a socialização apresentamos a obra ao grupo e nesse momento então, um aluno comentou ao outro (franzindo a testa) “uma historinha?“. Com essa fala pudemos perceber que a literatura infantil não fazia parte do repertório deste grupo. Durante a leitura da obra percebeu-se que o grupo estava 99% concentrado na leitura da história, acompanhando cada virada de página e cada ilustração mostrada. A cada espiada lançada ao grupo via-se olhares atentos, curiosos, expressões de encantamento. Parecia que cada um ali fazia parte daquela história, mostrando-se felizes durante aquele momento mágico da leitura. Notou-se também a grande concentração do grupo durante a leitura: Alguns com olhares atentos, bocas semi-abertas, risos isolados (e este não despertava nos outros nem uma mudança no olhar).
Para aflorar a imaginação,regamos este momento com a música Tocando Em Frente.Durante a socialização percebeu-se que cada um entrou profundamente em sua subjetividade, em seus textos de vida, vividos, ou aqueles que por algum motivo não viveram ou deixaram de viver.Histórias e mais histórias. Daniel Manduruku diz:”as melhores histórias moram dentro de nós.” Neste grupo a música é um portador de texto que está mais presente na vida de cada um. Porém não está presente no contexto da sala de aula. Durante a socialização surgiram muitas outras músicas, maravilhosas, como: a “lista” de Osvaldo de Montenegro, a qual muitos não a conheciam. Em quanto grupo, nos questionamos por que a mídia toca sempre as mesmas músicas e geralmente sem qualidade alguma?
CONCLUSÃO
DO ESTUDO De início houve uma certa hesitação, pois ficaram presos ao que viria depois da leitura, também percebeu-se uma inquietação do grupo em relação a literatura infantil, pois o grupo via-a como um texto somente para crianças. Mais tarde, passaram a gostar mais dos textos escritos das obras literárias, no entanto criticavam certas ilustrações.Houve salientes focos de preferências, de acordo com as subjetividades de cada um. Quando proporcionamos uma organização diferenciada ou em outro espaço físico o grupo sentia –se invadidos (desestabilizados). Na avaliação final ao serem questionados quais textos gostariam de rever ou quais se identificaram mais, ou ainda, quais gostariam de terem maior contato. Nesta avaliação apareceu gostaram de todos os tipos de textos ( literário, musical, poético, visual, jornalístico ),um aluno falou que “faltou história de amor” (romance). No decorrer do estudo, percebemos a necessidade desses educandos terem uma maior provação em torno do movimento da leitura, fomentando com isso a descoberta de seu desejo de leitor. Inicialmente existia uma certa resistência na recepção auditiva, visual das obras literárias infantis, evidenciado na fala : “UMA HISTÓRINHA’?Com a oferta constante da literatura infantil, proporcionado ao grupo, perceberam que não existe uma idade definida para esse portador de texto. Percebemos também ,que o texto ou recorte do mesmo habita e muito o cotidiano da sala, mas infelizmente são tratados como instrumentos de trabalho,para ensino de conteúdos morais ou da matéria. A educadora sempre preocupada com o conteúdo, não percebe a possibilidade da leitura como prática em si mesma. Um outro ponto que durante este estudo podemos perceber é a necessidade de discussões para que o educador tenha um outro olhar, uma outra concepção, nos fatores que envolvem o movimento da leitura. Além de nós pesquisadoras termos percebido essas necessidades elencadas acima, tivemos o depoimento de uma educadora responsável pelo grupo que desenvolvemos o estudo onde ela pontua: “Toda terça-feira, eles levam poemas pra casa, e começam a fazer esse movimento que vocês começaram a fazer. Nas obras de Tarcíla do Amaral eles estão começando a fazer outra leitura”. O que eu notei é que ouve interesse, essa mensagem que tem por traz, essas entrelinhas, que até para mim professora é difícil, é importante nós educadoras saber mais sobre isso.” Relembrando que nosso objetivo ao elaborar este estudo foi de descobrir os interesses na questão da leitura, podemos afirmar que todos os textos apresentados a esses grupos tiveram uma magnífica receptividade. Afirmamos também que enquanto fizemos este estudo nos sentimos realizadas pelos comoventes momentos com o grupo vivenciado. Finalizamos está trazendo uma fala de um educando do grupo em nosso ultimo encontro: “Eu quero agradecer á vocês, foi muito bom esse trabalho, eu nunca vou esquecer de vocês” O texto que segue abaixo foi elaborado por um educando a partir de um desdobramento fomentado no grupo.
“Se
eu tivesse tempo amaria mais (Gilmar Dos Santos) REFERÊNCIAS AZEVEDO,
Ricardo.Contos de Enganar a Morte. Ed. Ática. São Paulo.
2000. |
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