Mariella Cristiane Castelucci do Prado - Colégio
Uirapuru
Priscila Soares - Colégio Uirapuru
Tais Rocha Lino - Colégio Uirapuru
O jogo
Desde muito tempo o jogo está ligado à vida do ser humano.
Antes de Cristo os jogos já eram desenvolvidos com peças,
dados, tabuleiros, porém não incluíam regras o que
não nos permite hoje em dia jogá-los.
Houve época que os jogos apareciam como relaxamento para algumas
atividades físico-intelectuais. Até chegarem à utilização
reeducação e educação para o favorecimento
no diagnóstico de personalidade e ajustar o ensino às necessidades
infantis.
A partir do movimento da “Escola Nova”, trazido por John Dewey
(1859-1952) as preocupações com os métodos ativos
de aprendizagem ganharam força. Pesquisadores como Maria Montessori
e Decroly, Pestalozzi e Froëbel, criaram inúmeros jogos e
materiais que tinham como objetivo melhorar o ensino da matemática.
(SMOLE, 2000, P. 170)
A utilização do jogo é uma prática muito conceituada
e válida para auxílio do ensino da Matemática, pois
é um recurso que torna o processo de aprendizagem significativo
para a criança no momento em que manipula tal material.
Mas o que é jogo e como ele pode contribuir para o aprendizado
da matemática?
Falar sobre o jogo é muito complexo, pois é um tema que
engloba uma multiplicidade de significado. O jogo varia de acordo com
o contexto sócio-cultural no qual está inserido, bem como
suas variações, concepções e regras.
O jogo diferencia-se do brinquedo, pois todo jogo precisa previamente
da construção de algumas regras que são necessárias
para seu desenvolvimento. Já o brinquedo supõe uma relação
íntima com a criança, não necessitando de regras
para que ocorra o ato de brincar.
O jogo inserido como rotina em sala de aula, é um grande aliado
ao ensino da matemática, pois ele desenvolve aspectos sociais,
morais, cognitivos, políticos e emocionais, através da ação
perante o jogo a criança constrói suas próprias relações,
e hipóteses, desenvolvendo assim seu raciocínio matemático.
Através dos jogos, as crianças são levadas a tratar
noções de valores, de medidas, de números, de operações,
do espaço e do tempo, criam estratégias... Se existe uma
atividade matemática no brincar, vemos nos jogos uma trama dos
conhecimentos espontâneos e científicos que é constituída
a partir de elaborações e situações problemas
enquanto joga.
Tais situações exigem da criança situações
vivas, originais e rápidas.
Nesse processo, o planejamento, a busca por melhores jogadas, a utilização
de conhecimentos prévios e adquiridos anteriormente propiciam a
aquisição de novas idéias, conhecimentos, habilidades
e atitudes.
“O jogo infantil desempenha papel importante como motor de auto
desenvolvimento em conseqüência é um método natural
de educação e instrumento de desenvolvimento”.
(CLAPARÈD, 1956)
Para que o educador possa desenvolver sua aula com auxílio de jogo
é necessário ter esquematizado e definido algumas ações
e estratégias como: espaço físico onde jogos irão
acorrer, objetos e materiais a serem utilizados, qual o objetivo espera
que se alcance pelos jogadores, quais as possibilidades, regras, intenções
que poderão ser usadas ao compor determinado jogo e algumas observações
específicas, como o registro de ação.
Muito ouvimos falar e falamos em vincular a teoria à prática,
mas quase sempre não fazemos. Com o jogo dentre tantos recursos
didáticos ao alcance a oportunidade de deixar as aulas mais dinâmicas
e desafiadoras
O Sistema de Regras
Regras - constituem-se de relações sociais ou individuais
imposta pelo grupo e sua violação constitui uma falta. Porém,
as regras podem ser modificadas pelos participantes do jogo de acordo
com a necessidade que o grupo encontre. Dessa forma permite que sejam
criadas outras situações no mesmo jogo, quebrando os limites
impostos por certas regras.
“A falta de limites num jogo permite que a criança tenha
um espaço de inovação e de criação,
tendo novas experiências e possibilidade de criatividade. Assim,
a brincadeira é um espaço social, uma vez que é criada
em conseqüência de uma aprendizagem social.” ( FRIEDMAN,
1992)
Existem dois tipos de regras: as regras transmitidas e
as espontâneas.
As regras transmitidas constituem-se de imposições de pressões
e tradições de sucessivas gerações. Exemplo:
bolinha de gude, cinco marias, onde supõe a ação
dos mais velhos com os mais novos, ou seja, as regras foram passadas de
uma geração para outra.
Já as regras espontâneas, têm natureza contratual e
momentânea, tornando-se reflexíveis. Tais regras podem ser
elaboradas comportando várias relações, crianças
com idades diferentes e adultos.
A teoria dos jogos com regras trata da determinação de estratégias
e de situações de equilíbrio para que os jogos ocorram.
Todo jogo começa com introdução de uma série
de regras e componentes com funções definidas e é
através delas que ocorre a sua organização.
Através das regras as crianças estabelecem uma estruturação
seqüencial onde especificam suas modalidades.
Pensando nas regras do jogo como fator importante para o desenvolvimento
do pensamento lógico, se faz necessário apresentá-las
aos jogadores antes da partida pré-estabelecendo os limites e possibilidades
de ação dos jogadores, para que eles desenvolvam habilidades
de pensamento e deduções, levantando hipóteses.
“Os jogos em grupo oferecem muitas oportunidades para elaboração
de regras, discussão de procedimentos e condutas, observações
dos efeitos de tais elementos e modificações de atitude”.
(SMOLE, 2000)
Elaboração de jogos
Quando a criança constrói seu próprio
jogo ela estabelece uma relação intensa com diversas aprendizagens.
“Elaborar jogos é uma proposta interessante de ser desenvolvida
com alunos da escola infantil, pois com atividades desse tipo eles aprendem
a fazer antecipações e planejamento, a se organizarem para
realizar ações de modo mais independente, a estarem mais
abertos às proposições e considerações
de outras pessoas, a buscar consenso, a serem exigentes, a levarem uma
tarefa até o fim, a terem confiança em si sabendo que podem
planejar e fazer algo, avaliar seu percurso entre tantas outras coisas.”
(SMOLE, 2000)
Desenvolvendo-se dessa maneira as aprendizagens vão
além do conhecimento passando pelo afeto, auto-estima e autonomia.
Quando criança esta elaborando o seu jogo, ela adquire confiança
em si mesma por se sentir segura e capaz. Criando o jogo ela sabe que
precisa ter um resultado final, portanto é necessário passar
por um teste, planejar e avaliar durante o processo.
A elaboração de jogos proporciona à criança
um contato entre a criatividade, a produção e a leitura
de textos, resolução de problemas, contagem, noção
de subtração e adição, leitura e escrita de
números.
Quando a criança está contribuindo em um
jogo, é importante que a professora observe alguns conceitos como:
? Se o jogo propõe alguma coisa interessante e desafiadora para
as crianças resolverem;
? Que o jogo seja auto-avaliado, quanto ao seu desempenho e não
o jogo e pelo jogo;
? Permitir a participação ativa de todos os jogadores do
começo ao fim.
O REGISTRO
Hoje em dia as crianças estão cada vez
mais perdendo o espaço do brincar, ou seja, a própria escola
esta perdendo este espaço para o intelectual, muitas vezes deixando
o brincar para segundo plano.
Quando você traz o jogo para a aula de matemática, você
rompe com todas as barreiras, concepções e paradigmas. Nos
jogos de matemática ou em qualquer outro jogo é importante
que se obtenha registro de diversas maneiras.
O 1º registro seria o da oralidade, ou seja, a conversa sobre o jogo.
Quando a professora tem a idéia de desenvolver uma brincadeira,
é importante que antes ela sente em círculo com as crianças
e converse sobre o que eles irão desenvolver. Assim não
serão surpreendidas no seu desenvolvimento. Nessa conversa a professora
pode estabelecer regras, espaços, limites e evolução.
Nada melhor que a sala de aula para se conversar sobre o jogo antes da
realização do mesmo. Os registros orais podem vir antes
e após os jogos.
Quando reunimos recursos da comunicação, à realização
do jogo ganha maior importância. É através desse registro
que a criança interioriza o que ficou para ela, e assim ganha uma
nova concepção daquele jogo. Através dos registros
ela perceberá conceitos matemáticos existentes nas brincadeiras
ou jogos. Esse registro evoluirá cada vez que repetido e se a comunicação
for exercitada com freqüência.
O 2º tipo de registro é o desenho. Quando a criança
tem a possibilidade de passar em desenho o que ela brincou ou jogou, consegue
estabelecer e ganhar consciência da relação que acabou
por passar despercebida, do aprender ao brincar.
Com o desenho, a aprendizagem ganha espaço e forma numa primeira
esquematização, ficando registrado interiormente.
O desenho pode ser utilizado de diversas maneiras e evoluído à
medida que se vai ganhando destaque, quando divulgado para classe.
A 3ª forma de registro é a escrita. Os registros
escritos devem ser iniciados na Educação Infantil, com textos
coletivos, onde o professor questiona a turma sobre o que colocar no texto,
de modo que ele obtenha: início, meio e fim. Esse texto pode dizer
a respeito das regras e dicas do jogo; ele pode ser feito antes, durante
ou depois do jogo.
Quando ele é retomado, o texto pode ser usufruído como um
manual do jogo. Para a criança que estiver em fase de alfabetização
esse tipo de registro pode ser proposto em pequenos grupos, servindo de
auxilio para aprendizagem. Para que a criança sinta seu registro
valorizado, é preciso que ele seja socializado e exposto para classe.
Quando a criança está jogando ela pode registrar ao mesmo
tempo, ou então, uma outra criança registra em papel. Quanto
mais o registro é feito pela criança, mais evoluído
ele se torna revelando o que foi interiorizado.
O registro também é uma forma de avaliação
do conteúdo trabalhado e permite que o professor possa observar
o que ficou mais significativo para o aluno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação do espírito lógico
é um trabalho que exige muito fôlego e se inicia na Educação
Infantil.
Este trabalho tem o objetivo de provocar a reflexão do professor
quanto à utilização de jogos como uma estratégia
didática è necessário que o mesmo perceba que deve
haver uma intencionalidade educativa, o que implica planejamento e previsão
de etapas, para alcançar objetivos predeterminados e extrair do
jogo atividades que lhe são decorrentes.
O desenvolvimento deste trabalho em forma de projeto ocorreu no colégio
Uirapuru em Sorocaba com todas as vivências registradas.
REFERÊNCIAS
KAMIL, C. A criança e o número: Implicações
educacionais da teoria de Piaget para a atuação junto a
escolares de 4 a 6 anos..- 30. ed.- Campinas : Papirus, 1990.
SMOLE, K. C. S. A matemática na educação infantil:
a Teoria das Inteligências Múltiplas na prática escolar.
Porto Alegre: Artmed, 2000.
KISHIMOTO, T. M. (Org.);. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação.
- 6. ed.- São Paulo : Cortez, 2002.
KISHIMOTO, T. M. O jogo e a Educação Infantil. São
Paulo: Pioneira, 2003.
SILVA, M. S. Clube da Matemática: Jogos Educativos. Campinas: Papirus,
2004.
FRIEDMANN, A. Brincar, Crescer e Aprender: o Resgate do Jogo Infantil.
São Paulo : Moderna, 1996.