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CONHECIMENTOS
E SABERES – UM ESTUDO INVESTIGATIVO DAS HABILIDADES DE LEITURA E PRODUÇÃO
TEXTUAL
Sílvia de Fátima Pilegi Rodrigues
- Grupo de Pesquisa – Políticas de formação
de professores em exercício em Mato Grosso - Universidade Federal
de Mato Grosso – UFMT/Campus de Rondonópolis
Tânia Maria Magalhães - Grupo de Pesquisa – Políticas
de formação de professores em exercício em Mato Grosso
- Centro de Formação e Atualização do Professor
– CEFAPRO
Em cada época vemos termos entrando em uso (e
caindo em desuso) no campo educacional. Construtivismo, interdisciplinaridade,
competência, professor reflexivo são alguns que figuram atualmente.
Eles expressam concepções de ensino e aprendizagem, de sujeito
a ser formado e de sociedade. Obviamente que também correspondem
a projetos políticos.
Nas escolas, nos documentos e publicações divulgadas pelo
MEC e Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC)
estão as expressões: professor competente (ainda a ser formado),
aluno competente, desenvolvimento de habilidades.
Em nosso contato com professores do Ensino Fundamental verificamos muitas
dúvidas e confusões, principalmente com a implantação
do ensino organizado em ciclos de aprendizagem, instaurando uma nova situação
com a progressão continuada (aprovação automática)
e a abolição da nota como fator para reprovação
ou não do estudante. Faz-se necessário “formar”
o aluno competente, desenvolver habilidades. Mas quais habilidades são
essas? Quais são os parâmetros utilizados – uma vez
que a nota foi abolida – para se considerar que ele é competente,
desenvolveu habilidades suficientes, construiu conhecimentos mínimos
desejáveis para que possa “progredir” para o próximo
ciclo? Estas foram algumas questões debatidas com os professores
e que motivaram o presente estudo que foi desenvolvido em Rondonópolis-MT
pelos docentes do Centro de Formação e Atualização
de Professores (CEFAPRO) no final de 2004. Um dos propósitos foi
analisar a prática pedagógica dos participantes das atividades
de formação contínua por meio da avaliação
dos alunos da 3ª fase do 1º ciclo para que o CEFAPRO possa contribuir
planejando a formação docente nas unidades escolares.
Perfil dos alunos avaliados
Objetivando verificar a aprendizagem e desenvolvimento de conhecimentos
e saberes em Língua Portuguesa, foi feito um estudo por amostragem
em que foram avaliados 202 (duzentos e dois) estudantes da 3a fase do
1o ciclo de 26 (vinte e seis) escolas da rede estadual do município
de Rondonópolis. Foram avaliados alunos de todas as turmas, excetuando
uma cuja escola estava de férias para reformar suas instalações.
Optou-se por avaliar alunos da 3a fase por estarem na última etapa
do 1o ciclo e, portanto, após no mínimo três anos
de escolaridade, espera-se que tenham desenvolvido algumas habilidades
de leitura e produção textual.
Os sujeitos avaliados são crianças na faixa etária
de 8 a 10 anos, em sua maioria pertencente às camadas populares.
Não houve um critério para escolha dos alunos. Inicialmente
as avaliadoras explicaram para eles qual era o objetivo da avaliação,
como seria feita e perguntaram quem se dispunha a participar. Como a empolgação
e disponibilidade eram grandes em todas as salas, pois todas as crianças
se dispunham a participar, e tendo em vista que a equipe era pequena e
pretendia fazer uma amostragem, foram escolhidos aleatoriamente quatro
alunos de cada sala .
Escola Ciclada em Mato Grosso
A proposta do ensino não mais dividido em séries, mas sim
em ciclos de aprendizagem, que desde a década de 80 vem sendo gradualmente
implantada em alguns estados brasileiros, visava à superação
da fragmentação dos conteúdos escolares por meio
de mudanças curriculares, na maneira de ensinar, na relação
professor-aluno, na organização dos tempos e espaços
e na forma de avaliar a aprendizagem. Entretanto, tais mudanças
(ou propostas de mudança) não resultaram em alterações
significativas e positivas no que se refere à aprendizagem, como
é possível verificar na maioria das escolas, em pesquisas
e nos exames nacionais.
No Mato Grosso, a experiência com o ensino por ciclos iniciou a
partir de 1997 com a implantação do Ciclo Básico
de Aprendizagem (CBA) e no final de 1999 a Secretaria de Estado de Educação
de Mato Grosso propôs a implantação de ciclos de formação
para todo o Ensino Fundamental, que foi estruturado levando em consideração
as fases de desenvolvimento, conforme pode ser observado no quadro abaixo:
CICLOS |
FASES |
AGRUPAMEMTOS |
FASE DE DESENVOLVIMENTO |
I CICLO |
1ª Fase
2ª Fase
3ª Fase |
6 a 7 anos
7 a 8 anos
8 a 9 anos |
Infância |
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II CICLO |
1ª Fase
2ª Fase
3ª Fase |
9 a 10 anos
10 a 11 anos
11 a 12 anos |
Pré-adolescência |
|
III CICLO |
1ª Fase
2ª Fase
3ª Fase |
12 a 13 anos
13 a 14 anos
14 a 15 anos |
Adolescência |
Fonte: Superintendência
de Currículo e Gestão/ Assessoria de Ensino Fundamental
Definição
das habilidades e avaliação
No ensino seriado o parâmetro de avaliação (aprovação
e reprovação) é basicamente a nota. No ensino por
ciclos de aprendizagem a nota deixou de ser referência para aprovação
ou não do aluno. Nas visitas às escolas e nos diálogos
com professores e coordenadores pedagógicos verifica-se que, em
geral, nem as escolas e nem a SEDUC têm definidos critérios
e parâmetros de conhecimentos mínimos que sejam indicadores
do desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.
Dessa forma, como o CEFAPRO de Rondonópolis queria avaliar a repercussão
do seu trabalho de formação contínua na prática
docente por meio não só dos discursos de seus participantes,
mas também da aprendizagem de seus alunos, propôs-se a avaliá-los.
Entretanto, como fazê-lo se as escolas não tinham padrões
definidos? O Centro optou por estabelecer como parâmetro o desenvolvimento
de habilidades tendo como referências os PCNs, o Projeto Escola
Ciclada (SEDUC-MT) e o Programa Gestão de Aprendizagem Escolar
– Gestar (FUNDESCOLA/MEC).
Assim, mais do que avaliar conteúdos, buscou-se avaliar habilidades
básicas de leitura e produção textual. O termo habilidade
foi empregado no sentido específico de ter aptidão, conhecimento,
capacidade de saber mobilizar conhecimentos que possibilitem ao aluno
ler, interpretar e redigir com competência. O termo competência
é aqui empregado tendo como referência Rios:
A competência guarda o sentido de saber fazer bem o dever. Na verdade,
ela se refere sempre a um fazer que requer um conjunto de saberes e implica
um posicionamento diante daquilo que se apresenta como desejável
e necessário. É importante considerar-se o saber, o fazer
e o dever como elementos historicamente situados, construídos pelos
sujeitos em sua práxis. (2002, p. 167)
Vê-se muitas vezes a utilização dos termos habilidade
e competência de forma indiscriminada, confundindo-os, tomando um
pelo outro ou reduzindo o ensino exclusivamente a eles. Embora saibamos
que o ato educativo envolve outros aspectos igualmente importantes, o
presente estudo restringe-se à avaliação do desenvolvimento
das habilidades.
No processo de elaboração das avaliações,
foram feitas reuniões no CEFAPRO com os coordenadores pedagógicos
das escolas para explicar-lhes a proposta e metodologia de trabalho. Foram
escolhidos dois textos informativos cuja temática pertence ao universo
escolar infantil: “Quanto pesa sua mochila” e “Como
não ser uma mula de carga”, ambos de autoria de Ana Holanda
(em anexo).
Os alunos leram os testes e responderam sem a intervenção
de um adulto. A avaliação consistiu em 10 questões
baseadas nos dois textos: 07 delas referentes à interpretação
e 03 à produção textual. Os conhecimentos avaliados
foram:
• Prática de leitura:
? Leitura de textos informativos
? Leitura de comandos para resolução das questões
• Prática de análise lingüística:
? Identificação de informações e suportes
textuais
? Identificação dos elementos constituintes do texto
• Prática de produção textual:
? Uso de letras maiúsculas
? Emprego de pontuação no final de frases
? Argumentação
? Organização da redação de acordo com as
características textuais (lista, bilhete e dissertação)
Foram avaliadas
10 (dez) habilidades: cinco de leitura e interpretação e
cinco de produção textual. Abaixo serão detalhados
cada uma delas e o desempenho dos alunos.
Habilidades
de Leitura e Interpretação:
? Habilidade
1: Localiza e identifica informações relevantes para a compreensão
do texto (gênero e tipologia textual).
Essa habilidade foi a que os alunos obtiveram melhor desempenho, pois
dos 202 avaliados, 166 conseguiram responder corretamente, o que equivale
a 82,1%. Tratava-se de uma atividade simples para crianças já
alfabetizadas: localizar e identificar os títulos dos textos.
? Habilidade
2: Identifica os indicadores de suporte, de organização
gráfica e de autoria.
Essa habilidade, como a anterior, também não exigia que
o aluno construísse o sentido do texto; somente que ele identificasse
os indicadores de suporte, de organização gráfica
e de autoria. Os alunos também apresentaram um bom desempenho,
pois 159 conseguiram realizar a tarefa solicitada, o que equivale a 78,7%
dos avaliados.
? Habilidade
3: Relaciona as características textuais do gênero ao sentido
atribuído ao texto.
Quanto à habilidade de relacionar as características textuais
do gênero ao sentido atribuído ao texto, 116 estudantes obtiveram
bom desempenho (57,4%), pois conseguiram reconhecer as características
próprias do texto informativo. Os demais assinalaram as duas outras
alternativas (poético e científico) mostrando que as questões
pertinentes à tipologia e gêneros textuais ainda não
estão claras para eles.
? Habilidade
4: Reconhece a unidade temática do texto.
No que se refere às habilidades de leitura e interpretação,
os alunos demonstraram maior dificuldade em reconhecer a unidade temática
do texto, pois somente 49 conseguiram fazê-lo, isto é, 24,2%.
Três questões (4, 9 e 11) exigiam que eles fossem capazes
de construir sentido, não bastava localizar e copiar informações.
O percentual dos que conseguiram realizar a tarefa solicitada demonstra
um despreparo das crianças para realizar tal atividade com autonomia.
Pode-se depreender do resultado acima que o trabalho de leitura e interpretação
desenvolvido nas escolas tem se restringido a exercícios de localização
e cópia de informações retiradas dos textos.
? Habilidade
5: Atribui sentido a partir da interpretação dos significados
das expressões, adequando-os ao sentido do texto.
Assim como na habilidade anterior, requeria-se do aluno leitura e construção
de sentido, e o resultado obtido – 53 alunos (26,2%) – demonstra
a dificuldade já comentada anteriormente. A despeito de se ter
buscado textos do universo escolar e uma expressão de conhecimento
popular (mula de carga), poucos conseguiram atribuir sentido a partir
da interpretação das expressões, adequando os significados
ao sentido do texto.
Habilidades
de Produção Textual:
? Habilidade
1: Atende a proposta de produção de texto, considerando
os elementos da situação comunicativa.
Essa habilidade foi avaliada nas questões 10 e 12. Os alunos deveriam
produzir dois textos: uma lista de materiais escolares que eles carregam
em suas mochilas e um bilhete alertando um colega sobre os problemas causados
pelo excesso de peso transportado em suas bolsas escolares. Apenas um
pouco mais da metade dos alunos (108, o que equivale a 53,4%) produziram
o texto considerando os elementos da situação comunicativa
(emissor, destinatário, finalidade, tipo de mensagem).
? Habilidade
2: Escreve de modo legível, mesmo trocando pares de letras com
um traço distintivo (p/b, t/d, f/v, qu/gu).
No que se refere às habilidades de produção textual,
essa foi a que os alunos obtiveram maior êxito, pois 123 alunos
(60,8%) conseguiram redigir de modo legível, embora apresentassem
problemas ortográficos e de concordância. O que revela que
a escrita está presente no cotidiano escolar, porém pouco
se considerando a sua função social. Freqüentemente
a escrita se dá por meio de cópias e exercícios de
repetição.
? Habilidade
3: Organiza idéias de acordo com as características textuais
de cada gênero.
Na elaboração da lista foi avaliado se a escrita respeitava
as marcas desse tipo de texto (listagem dos objetos separando-os por vírgula
ou outro recurso). Quanto ao bilhete, foram avaliados a argumentação,
a informatividade, a coerência e a coesão textual. Dos 202
avaliados, somente 93 alunos conseguiram realizar a tarefa, isto é,
46%.
? Habilidade
4: Segmenta o texto usando a pontuação de final de frase.
Embora os alunos conhecessem os sinais de pontuação (ponto
final, de interrogação, de exclamação), verificou-se
que eles não conseguiram fazer uso em situações em
que elaboraram seus próprios textos. Nem mesmo o ponto final foi
utilizado corretamente, tendo em vista que apenas 67 alunos (37,1%) souberam
fazê-lo adequadamente.
? Habilidade
5: Utiliza letras maiúsculas no início de frase, de nome
próprio e dos títulos.
Assim como no que se refere à pontuação, embora os
alunos muitas vezes não ignorem as regras do uso de letras maiúsculas,
somente 70 (34,6%) conseguiram empregá-las corretamente. Demonstrando
que, assim como a pontuação, as questões gramaticais
são ensinadas de forma desvinculada da produção textual.
Análise dos dados
Os alunos apresentaram melhor desempenho nas habilidades de leitura e
interpretação do que nas de produção de texto.
No quadro geral, a habilidade com índice mais alto foi a primeira
de leitura e interpretação (82,1%) – localiza e identifica
informações relevantes para a compreensão do texto.
Como já foi argumentado, ela requer basicamente as capacidades
de decodificação e codificação.
Quando foi requerido aos alunos o reconhecimento da unidade temática
do texto, eles demonstraram maior grau de dificuldade (somente 24,2% mostraram
ter desenvolvido a habilidade 4 de leitura), isto é, no momento
em que foi exigido mais do que localizar informações, as
dificuldades foram maiores. Abstrair o sentido do texto implica uma prática
de leitura para além da decodificação.
Especificamente em relação à produção
textual, os resultados alcançados pelos alunos tiveram uma percentagem
mais baixa. O melhor desempenho foi verificado na habilidade 2 (com 60,8%)
que diz respeito à escrita legível, isto é, à
capacidade de redigir de forma que o interlocutor possa compreender a
mensagem, mesmo que haja problemas de grafia, pontuação
e concordância.
Embora mais da metade dos alunos tenha conseguido produzir textos legíveis,
eles tiveram dificuldade em utilizar adequadamente sinais de pontuação
de final de frase e letras maiúsculas ao elaborar seus próprios
textos. Aparentemente, as habilidades 4 e 5 de produção
textual seriam as mais fáceis, mas foram nas quais os alunos apresentaram
pior desempenho – 37,1% e 34,6% respectivamente. Uma das conclusões
a que podemos chegar é que a leitura ocorre a despeito da escola
e o mesmo não acontece com a escrita, pois o seu locus primordial
para a maioria das crianças é o espaço escolar.
O fato é que a forma escrita de linguagem constitui hoje um aspecto
de habitus (Bourdieu, 1982) da nossa sociedade, na medida em que integra,
articula e produz um conjunto de práticas sociais, e de tal maneira
que quem lê, lê até mesmo “sem querer”.
Os estudiosos e especialistas da Indústria Cultural e da Comunicação
de Massa sabem disso mais do que os educadores (e tiram melhor proveito!).
(SMOLKA, 1989, p. 25)
Os dados coletados na amostragem feita em Rondonópolis não
diferem muito do quadro nacional, se comparados com os do SAEB (Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica)
coletados em 2003. De acordo com os dados do SAEB, o percentual de estudantes
na 4a série do Ensino Fundamental nos estágios de construção
de competências em Língua Portuguesa de 2001 e 2003 se concentram
nos níveis crítico e intermediário, como pode ser
verificado abaixo:
Percentual
de estudantes nos estágios de construção de competências
– Língua Portuguesa – 4a série – EF –
Brasil – SAEB 2001 e 2003
estágio |
2001 |
2003 |
Muito Crítico |
22,2 |
18,7 |
Crítico |
36,8 |
36,7 |
Intermediário |
36,2 |
39,7 |
Adequado |
4,9 |
4,8 |
Total |
100% |
100% |
Fonte: Inep/MEC,
2003, p. 33.
Os critérios
estabelecidos no SAEB para definir os estágios de construção
de competências e desenvolvimento de habilidades de leitura são:
? Muito Crítico – Não desenvolveram habilidades de
leitura mínimas condizentes com quatro anos de escolarização.
Não foram alfabetizados adequadamente. Não conseguem responder
os itens da prova.
? Crítico – Não são leitores competentes. Lêem
de forma ainda pouco condizente com a série, construíram
o entendimento de frases simples. São leitores ainda no nível
primário, decodificam apenas a superfície de narrativas
simples e curtas, localizando informações explícitas,
dentre outras habilidades.
? Intermediário – Começando a desenvolver as habilidades
de leitura, mais próximas do nível exigido para a série.
Inferem informações explícitas em textos mais longos;
identificam a finalidade de um texto informativo, reconhecem o tema de
um texto e a idéia principal e reconhecem os elementos que constroem
uma narrativa, tais como conflito gerador, os personagens e o desfecho
do conflito; entre outras habilidades.
? Adequado – São leitores com nível de compreensão
de textos adequados à série. São leitores com habilidades
consolidadas. Estabelecem a relação de causa e conseqüência
em textos narrativos mais longos; reconhecem o efeito de sentido decorrentes
do uso da pontuação; distinguem efeitos de humor mais sutis;
identificam a finalidade de um texto com base em pistas textuais mais
elaboradas, depreendem relação de causa e conseqüência
implícitas no texto, além de outras habilidades.
No cômputo
geral dos dados das escolas avaliadas em Rondonópolis, verifica-se
que o maior índice de desenvolvimento das habilidades de leitura
e interpretação concentram-se nas duas primeiras –
que consistem na capacidade de decodificação, identificação
e localização de informações explícitas
no texto. Quando as habilidades referiam-se à compreensão
e interpretação, à identificação da
finalidade dos textos informativos, reconhecimento do tema e os elementos
de construção textuais os índices baixaram, principalmente
nas habilidades 4 e 5 . Portanto, comparando esses dados com os do SAEB,
pode-se inferir que os alunos avaliados encontram-se nos estágios
crítico e intermediário.
No que se refere à prática da escrita, o quadro se mostra
mais alarmante. O estágio de desenvolvimento das habilidades evidenciou
que os alunos conseguem copiar, mas quando é solicitado que produzam
um texto, o que se verifica é a dificuldade de organizar idéias
e expô-las de acordo com normas básicas da escrita.
Os rendimentos dos alunos não são aqui tomados como expressão
única do desempenho de escolas e sistemas.
(...) a qualidade
da educação básica está menos referida à
existência e correspondência a padrões externamente
estabelecidos e centralmente controlados do que à escassez de políticas
públicas conjugadas e efetivas sobre o atendimento de necessidades
de grande parte da população brasileira. Essa falta determina
a escola real, cuja eficácia é cotidianamente problematizada
pelo compartilhar do “mal-estar social” comum a alunos e docentes.
(FREITAS, 2004, p. 684)
Os dados
aqui apresentados não podem ser tomados de forma isolada. Eles
dão um panorama das políticas públicas não
só no campo educacional, como também no econômico
e social. Nossas crianças carecem sim de livros, escolas de qualidade,
inclusão digital. Porém, não é somente isso.
Faltam condições mínimas que lhes assegurem mais
do que a simples sobrevivência. Faltam condições que
possibilitem cidadania efetiva, participação social, vida
plena.
Bibliografia:
FREITAS, Dirce Nei Teixeira de. Avaliação
da Educação Básica e ação normativa
federal. Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 123, set./dez. 2004, p. 663-684.
FUNDESCOLA/MEC.
Programa Gestão de Aprendizagem Escolar – Gestar. Manual
Geral. Brasília: MEC, 2002.
INEP/MEC.
Resultados do SAEB 2003. Brasília: MEC/Inep, junho de 2004. Versão
preliminar.
RIOS, Terezinha Azeredo. Competência ou competências –
o novo e o original na formação de professores. In: ROSA,
D.E.G. e SOUZA, V.C.
(orgs.). Didática e práticas de ensino: interfaces com diferentes
saberes e lugares formativos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p. 154-172.
SEF/MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC,
1997.
SMOLKA, Ana Luíza Bustamante. A atividade da leitura e o desenvolvimento
das crianças: considerações sobre a constituição
de sujeitos leitores. In: _____ et al. Leitura e desenvolvimento da linguagem.
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1989, p. 23-41.
SOARES, Magda. Português – uma proposta para o letramento.
São Paulo: Moderna. |
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